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aula 1 arquiologia

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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
1 
 
 
 
 
 
Arqueologia 
 
 
 
 
 
Aula 01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Sady Pereira do Carmo Junior 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
2 
Conversa Inicial 
Esta é a primeira aula da disciplina Arqueologia, seja bem-vindo! 
A Arqueologia é uma ciência que sempre esteve no imaginário das pessoas, 
com tons de aventura, romantismo, curiosidade e até tesouros, impulsionada no 
cinema através da sequência de filmes do personagem galã Indiana Jones, 
interpretado pelo ator Harrison Ford, em “Os caçadores da Arca perdida, Indiana 
Jones e o Templo da Perdição, Indiana Jones e a Última Cruzada e o mais 
recente Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, saga, esta, iniciada em 
1981 com direção e roteiro dos aclamados Steven Spielberg e George Lucas, 
respectivamente. Esse romantismo envolvendo a Arqueologia ainda se 
popularizou entre os jovens através dos jogos para videogame Tomb Raider, em 
1996, com adaptação ao cinema, estrelado pela Angelina Jolie como 
protagonista. 
Ademais, mesmo que grande parte dos arqueólogos tenham iniciado sua 
carreira espelhados nos filmes do herói caçador de tesouros e nazistas, suas 
aventuras hoje causam certo incomodo aos profissionais e, ao menos para 
legislação brasileira, Indiana Jones enfrentaria sérios problemas, ou seja, 
mesmo sendo um herói e influenciador de gerações, Jones não é um exemplo a 
ser seguido. Isso porque? Pois justamente os materiais arqueológicos que 
deveriam ser estudados por Indiana Jones como uma maneira de se entender 
os modos de vida do passado, e como arqueólogo e professor universitário, não 
caberia muito bem em seu currículo o termo “caçador de tesouros”. No Brasil, 
Jones seria envolvido em sérios problemas com a justiça, o Patrimônio 
arqueológico é pertencente a União. 
Mas não vamos tirar o mérito das aventuras, pois foi através delas que no 
século XIX, acompanhando a expansão europeia em busca de novos territórios, 
durante a corrida imperialista, a curiosidade sobre as populações gregas, turcas, 
egípcias, que surgiu a arqueologia, incialmente dando origem aos antiquários e 
posteriormente museus. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
3 
Contudo, a Arqueologia vai além da aventura e dos povos da história 
antiga, é um campo muito mais complexo nas diversas teorias e perspectivas 
adotadas pelos profissionais, que ao invés de saquear tesouros como no cinema, 
procuram entender as relações entre as estruturas e dinâmicas sociais através 
de todos os objetos e artefatos. 
O objetivo desta aula é elucidar de forma abrangente o que é a 
arqueologia, quais são seus principais conceitos de definição, seus objetos de 
estudo, exemplificar alguns outros modos de arqueologia e mostrar como 
funciona a legislação brasileira acerca desse tema. 
 
O vídeo do professor Sady traz sua apresentação e, também, a 
apresentação da disciplina. Confira no material on-line. 
 
Contextualizando 
 
O programa do Governo Federal de Aceleração do Crescimento, criado 
em 2007, acabou por impulsionar um crescimento de obras de infraestrutura no 
Brasil e consequentemente dos trabalhos de licenciamento ambiental e, por 
conseguinte das pesquisas arqueológicas. Assim a demanda por pesquisadores 
e mão de obra qualificada gerou um crescimento dos cursos de graduação em 
Arqueologia e colocou em evidencia a necessidade do estudo da arqueologia. 
Essa demanda, tanto profissional quanto de obras, culminou nas 
discussões sobre quem poderia ou não fazer arqueologia, em como se fazer 
arqueologia e de quanto a arqueologia deveria custar. No entanto, a arqueologia 
diferente da Engenharia, é uma ciência das humanidades, com conceitos 
subjetivos e diversas teorias que regem o pensamento sobre as populações 
pretéritas e dificilmente esses questionamentos podem ser respondidos de forma 
a agradar todos os pensadores. E é nesse contexto que podemos refletir: o que 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
4 
é, o que faz, como faz, e quem faz arqueologia? Ou seriam, arqueologias? 
E qual seria o papel do arqueólogo na sociedade? 
 
Não se preocupe, o professor Sady irá te acompanhar na descoberta das 
respostas para todas estas perguntas! Confira no material on-line. 
 
Pesquise 
A conceituação da Arqueologia 
 
Arqueologia - cujo termo é uma combinação de dois antigos vocábulos 
que se originaram do grego <arkhaios>, que denota antigo, e <logos>, que diz 
respeito à ciência, ao discurso ou ao estudo - é a ciência que estuda, investiga 
e interpreta, assim como a História e a Antropologia, as sociedades humanas no 
tempo. No entanto, diferentemente destas duas ciências, que possuem, também, 
como objeto de estudo, documentos oficiais e não oficiais, diários, relatórios, 
cartas, depoimentos orais, entre outros - a Arqueologia infere sobre o 
comportamento humano a partir de “materiais remanescentes, do que as 
pessoas fizeram e usaram, e do impacto físico de sua presença no meio 
ambiente” (TRIGGER, 2004 p. 19). A partir desta perspectiva, é possível 
observar, portanto, que a porção da totalidade material estudada pela disciplina 
não se restringe, unicamente, ao produto do trabalho humano. Além dos 
artefatos, também são estudados, por analogia, os biofatos e ecofatos, ambos 
ligados à apropriação da natureza pelos seres humanos. Desta maneira, a 
“arqueologia estuda, diretamente, a totalidade material adotada pelas 
sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e imaterial, sem 
limitações de caráter cronológico” (FUNARI, 2003 p. 15). 
Apesar de ter a Geologia e a História como suas “mães” e a Antropologia 
como “irmã”, a arqueologia é uma disciplina bem distinta, tendo suas próprias 
indagações: “[...] nossas perguntas não são as mesmas formuladas por 
 
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5 
profissionais das geociências. Do mesmo modo, as perguntas feitas por 
antropólogos sociais e etnólogos são distintas das nossas. Arqueologia é 
simplesmente Arqueologia” (ARAÚJO, 2001 p. 64). 
Por muito tempo, a Arqueologia, ao contrário de ser observada como uma 
disciplina em si mesma, foi tratada, por muitos pesquisadores, como uma 
ferramenta auxiliar das investigações antropológicas e históricas que visava, 
sobretudo, corroborar hipóteses e afirmações encontradas em outras 
documentações. Neste sentido, conforme Pedro Paulo Funari (2003, p. 15): 
 
...é comum, lendo-se textos de historiadores, deparar-se com 
expressões como “contando-se apenas com informações 
arqueológicas, muito pouco podemos saber sobre...” ou com 
afirmações do tipo “quando se tem em mãos registros escritos ou orais, 
não há o que acrescentar de significativo com a pesquisa dos 
elementos materiais...”. 
 
Nesta abordagem, a atuação da disciplina se restringiria a apenas práticas 
de campo, onde o arqueólogo faria o trabalho braçal – que produziria os “fatos” 
arqueológicos – enquanto o historiador, o antropólogo ou o sociólogo 
interpretaria os “fatos”, transformando-os em encadeamentos diacrônicos – no 
caso da história – ou sincrônicos – no caso da antropologia e da sociologia. 
Atualmente, apesar de ainda existirem estudiosos que observem a disciplina sob 
esta óptica, prolifera-se uma nova visão, considerando-a uma disciplina 
independente, porém, intimamente relacionada com a história e com outras 
ciências sociais, ou seja, não como uma ciência simplesmente auxiliar de 
qualquer disciplina, mas uma ciência própria que busca pontes de diálogo com 
diferentes saberes. 
A Arqueologia,apesar de sua independência e particularidades, não deixa 
de ser uma ciência social, no sentido que procura explicar o que aconteceu a um 
grupo específico de seres humanos em algum momento do passado e fazer 
generalizações a respeito das mudanças culturais (TRIGGER, 2004). Seu 
objetivo, dentro de suas próprias limitações, é inferir acerca das práticas sociais, 
dos modos de vida, das dinâmicas sociais, da economia, da estrutura, da 
 
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6 
religião, da história e das relações do homem com o meio ambiente e a 
paisagem. Assim, procura observar todos os aspectos da cultura através dos 
vestígios materiais deixados pelas sociedades, enfatizando as informações 
oriundas de todo o universo social, tecnológico, econômico e simbólico. 
Exemplificando fica bem mais fácil de entender os conceitos que 
acabamos de ler. Confira! 
 
 
 
Para compreender os contextos de determinada manifestação cultural 
estabelecida em um determinado tempo e lugar, a arqueologia envolve três 
dimensões de pesquisa em constante sinergia: o tempo, o espaço e os vestígios 
materiais. Assim, os objetos - ou seus fragmentos - encontrados, ao serem 
estudados a partir de seus contextos arqueológicos, podem revelar inúmeras 
informações capazes de produzir conhecimento sobre as relações e as 
mudanças sociais de uma sociedade em um dado período de sua história. 
A Arqueologia lida com os vestígios arqueológicos como sua unidade 
mínima de estudo, mas esses vestígios fora de contexto não nos dizem muito 
sobre a população que os produziu. O Contexto para arqueologia consiste na 
relação entre as informações. Seria a base de comparação entre os dados, seja 
na sincronia, na relação entre os objetos e fatos num mesmo tempo, nas 
 
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7 
associações entre os mesmos, ou seja, na relação entre os vestígios na 
diacronia, na relação do passar do tempo, na percepção das mudanças culturais 
ao longo do tempo. O contexto pode ser associação entre diversos temas, 
objetos, observações e simbolismos. 
 
Na videoaula a seguir, o professor Sady irá apresentar detalhadamente 
todos os assuntos abordados até aqui. Disponível no material on-line. 
 
O Arqueólogo e sua base de estudo 
 
O trabalho do arqueólogo, diferentemente do que a muito tempo vem 
sendo estereotipado em produções cinematográficas, não se reduz à escavação 
de sítios arqueológicos, muitas vezes estampados como antigos monumentos – 
referentes a alguma pessoa ilustre do passado – repletos de relíquias e 
incontáveis tesouros. Existem várias etapas de pesquisa, cujos métodos e 
análises dos dados devem estar harmonizados entre si e com seu objeto de 
investigação; ainda, o planejamento da pesquisa de campo, os procedimentos 
analíticos e as perspectivas interpretativas devem refletir os objetivos do 
pesquisador, assim como sua concepção da natureza do dado arqueológico 
(REDMAN, 1972). 
Atualmente, no Brasil, o arqueólogo trabalha seguindo cinco etapas 
essenciais. 
a) Planejamento; b) Levantamento; c) Registro e Escavação; d) 
Laboratório; e) Resultados. 
Na primeira etapa, são definidas as regiões a serem pesquisadas (área 
de estudo), os objetivos do trabalho e, também, as técnicas e metodologias a 
serem aplicadas - que podem variar conforme o tipo de investigação e suas 
 
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intencionalidades. Tendo-se em vista que todos os sítios arqueológicos são 
protegidos por lei (Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961) e que somente 
arqueólogos capacitados devem gerir os trabalhos arqueológicos, é necessário, 
já nesta fase, encaminhar ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
(IPHAN) um pedido de autorização de pesquisa. Logo em seguida, já com a 
autorização concedida, coloca-se em prática a segunda etapa, que corresponde 
aos trabalhos de busca e levantamentos de sítios arqueológicos por meio de 
técnicas próprias da Arqueologia, como vistorias, caminhamentos sistemáticos, 
perfurações no solo (sondagens), utilização de aparelhos geofísicos, entre 
outros; esta etapa abrange, ainda, o estudo de características ambientais, pois 
estas podem apontar locais favoráveis à localização de sítios arqueológicos, 
como grutas ou solos de tons mais escuros. 
Após os sítios arqueológicos serem encontrados e a coleta de 
informações geo-ambientais reunidas, a terceira etapa entra em cena: a do 
registro e da escavação. A escavação possibilita o registro e a coleta de artefatos 
e estruturas arqueológicas, a análise dos solos e das camadas sedimentares, a 
identificação de áreas e conjuntos, a disposição espacial e temporal, entre 
outros. Ainda, são realizados estudos do próprio local onde se insere o sítio 
arqueológico e de seu entorno, abrangendo investigações relacionadas a 
aspectos ambientais e culturais, uso atual do solo, geologia e geografia. 
Todo material oriundo das escavações passa pela quarta etapa: a de 
Laboratório. É, neste momento, que todo o material coletado passa por 
atividades de higienização, arrolamento - ou triagem, ou seja, separação por 
tipos ou classes -, numeração, remontagem - colagem de peças que foram 
localizadas fragmentadas -, acondicionamento e conservação; em seguida, são 
realizadas as análises dos materiais, estudando-se e colocando-se em evidência 
a frequência dos tipos, as técnicas empregadas desde a obtenção da matéria-
prima até os usos o descarte, os aspecto de produção, as datações obtidas, as 
relações espaciais dos elementos na área do sítio, etc. Ainda, através da análise 
 
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9 
de amostras de solos e sedimentos, pode-se inferir acerca das mudanças 
paleoambientais desencadeadas no período das pretéritas ocupações humanas, 
como a elevação do nível do mar e as formas pelas quais se apresentavam os 
biomas antigos. 
Ao final de todo o trabalho são obtidos os resultados da pesquisa, última 
etapa de desenvolvimento do trabalho do arqueólogo. É, aqui, que todos os 
dados e informações levantadas, coletadas e refletidas são reunidas com o 
intuito de cumprir os objetivos propostos para a pesquisa, responder às diversas 
indagações científicas e, sobretudo, gerar novos conhecimentos. Nesta fase, 
portanto, teoria e prática se fundirão, permitindo estabelecer hipóteses e realizar 
inferências sobre os mais distintos aspectos das sociedades do passado. 
Os trabalhos arqueológicos são desenvolvidos em dois principais campos 
de atuação: um inserido no âmbito acadêmico e científico, e outro, em espaços 
ligados mais diretamente ao mercado. Conforme Funari (2003, p. 114): 
 
“...a atuação acadêmica constitui um campo privilegiado, pois na 
pesquisa o arqueólogo pode dedicar-se, de forma integral, à 
investigação científica. Na graduação e pós-graduação, pode atuar o 
arqueólogo, em particular, nos cursos de história, ciências sociais, 
geografia, biologia, arquitetura, para citar apenas os mais usuais. No 
Brasil, desde há alguns anos, tem-se buscado a especialização do 
corpo docente dos cursos universitários, de modo que as disciplinas 
sejam ministradas por especialistas dos temas abordados em sala de 
aula. ” 
 
No segundo campo - denominado, por muitos, de arqueologia de contrato, 
por contrato, de empreendimentos ou preventiva – o profissional atua, sobretudo, 
no licenciamento ambiental de diversos empreendimentos, tais como 
construções de barragens, estradas, linhas de transmissão e, até mesmo, no 
caso de cidades, construção de edifícios. Em todas estas situações, a legislação 
vigente prevê a contratação de arqueólogos para a elaboraçãode pesquisas 
referentes à existência de sítios arqueológicos nas áreas de abrangência do 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
10 
empreendimento e para as definições dos impactos das obras em relação ao 
patrimônio cultural, diagnosticando-o e prognosticando-o com uma variada série 
de atividades, incluindo-se levantamentos mais aprofundados e escavações 
emergenciais. Este tipo de arqueologia, muitas vezes desenvolvida com 
cronogramas extremamente apertados, é uma das principais maneiras – se não 
a mais importante – de proteger o patrimônio arqueológico, cuja destruição seria 
inexorável, devido ao rápido e constante desenvolvimento econômico. 
 
O que é um sítio arqueológico? O que são vestígios? 
Para melhor compreender o ofício do arqueólogo e seus objetos de 
pesquisa – ou seja, fontes para análise – é necessário ter em mente dois 
conceitos de essencial relevância: sítio arqueológico e vestígios. Confira o 
exemplo. 
Exemplo de sítio arqueológico: em linhas gerais, é um local no qual 
seres humanos que viveram anteriormente a nós – seja em um passado 
muitíssimo remoto ou mais recente – deixaram, tanto de forma direta quanto 
indireta, algum testemunho ou evidência de suas atividades: uma pintura em 
algum abrigo-sob-rocha, uma ferramenta produzida em pedra, uma fogueira, 
uma sepultura, as ruínas de uma redução jesuítica, entre muitos outros 
elementos. Desta forma, um sítio arqueológico pode ser definido, portanto, como 
um conjunto de vestígios arqueológicos identificados em uma espacialidade que 
remete, necessariamente, a um momento cronológico-cultural específico. 
 
Mas, o que são vestígios? Confira o exemplo. 
Exemplo de vestígios arqueológicos: também amplamente definidos 
como cultura material, seriam os elementos materiais ou as influências sobre o 
 
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11 
meio ambiente oriundos de um contexto cultural pretérito. Enquadram-se, aqui, 
os artefatos – ou seja, objetos feitos, modificados e utilizados pelos homens – e 
os ecofatos – restos orgânicos e meio-ambientais não artefatuais que incluem 
ossos de animais e restos de plantas, assim como solos e sedimentos –, que 
podem revelar, na mesma medida que os artefatos, muitos aspectos das 
atividades humanas do passado. Alguns simples fragmentos de cerâmica, por 
exemplo, podem muito dizer a respeito sobre o homem de tempos pretéritos e 
ser objeto de várias linhas de investigação: sua argila pode ser analisada para 
se obter uma data para o objeto e, até mesmo, para o local onde foi encontrado 
e, ainda, seu local de origem – concedendo-nos dados sobre o alcance e o 
contato do grupo humano que a fabricou; se existir alguma decoração na 
superfície dos fragmentos, pode-se ser revelada alguma informação acerca das 
antigas crenças; a análise da forma e dos resíduos que ali tenham permanecido 
podem trazer à tona um peculiar quadro sobre sua utilização, assim como a dieta 
alimentar de uma determinada população. 
Os vestígios mais antigos são os que se encontram nas camadas mais 
profundas do solo (normalmente), pois à medida que o tempo avança, novas 
camadas de sedimentos se formam e novos vestígios caem, fazendo com que o 
sítio vá apresentando uma maior espessura de camadas arqueológicas (um 
sambaqui, sítio arqueológico encontrado no litoral, por exemplo, é formado por 
camadas arqueológicas produzidas durante séculos de ocupação, formando 
grandes colinas de moluscos). Quando o arqueólogo inicia seus trabalhos: os 
vestígios vão sendo escavados dos mais recentes para os mais antigos. 
Podem ser considerados vestígios arqueológicos uma série de matérias, 
desde que tenham sobrevivido ao tempo ou deixado marcas de sua existência, 
como buracos de estaca de habitações, pinturas rupestres, rochas lascadas, 
polidas, vasilhames cerâmicos (inteiros ou quebrados), sepultamentos, 
fogueiras, contas, adornos, restos alimentares, material construtivo, habitações 
entre outros. 
 
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O vídeo do professor do professor Sady traz mais informações. Confira no 
material on-line. 
 
As Diversas Arqueologias 
 
A Arqueologia como uma disciplina única e distinta, mas incrivelmente 
multidisciplinar e interdisciplinar, acaba por criar particularidades únicas para 
criação de subdisciplinas, em contato com outras ciências (das humanidades ou 
exatas) ou com técnicas especificas cria-se novas perspectivas e campos de 
trabalho e pesquisa, assim como a Etnoarqueologia, Geoarqueologia, 
Arqueometria ou Arqueologia subaquática. 
 
Que tal conhecer cada uma delas? 
 
Para começar vamos conhecer a Etnoarqueologia: 
A etnoarqueologia, em linhas gerais, é o estudo tanto do uso e do 
significado atual dos artefatos, edifícios e estruturas das sociedades vivas como 
da forma em que estes objetos materiais se converteram em parte do registro 
arqueológico – ou seja, o que lhes aconteceu quando se tornaram desfeitos, 
derrubados ou abandonados. Este ramo da arqueologia é, portanto, uma forma 
de aproximação indireta entre passado e presente, auxiliando na compreensão 
das sociedades pretéritas por meio de comparações. Conforme Lewis Binford 
(1983, p.34), um de seus principais expoentes, 
 
“... o objetivo da investigação em <etno-arqueologia> é, 
evidentemente, procurar definir as variáveis que condicionam a 
formação do registro arqueológico. Estando num sítio e observando as 
várias atividades dos que aí vivem, o arqueólogo espera conseguir 
reconhecer alguns padrões arqueologicamente observáveis, sabendo 
à partida quais as atividades que produziram esse resultado”. 
 
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13 
Por meio de perspectiva, 
 
Se fosse possível demonstrar, a partir de casos etnográficos, que 
certos tipos de padrões espaciais não são senão uma consequência 
mecânica dos corpos humanos, teríamos então uma base fazer 
inferências sobre o passado – pelo menos no que respeita às épocas 
em que os nossos antepassados já tinham um tipo físico essencial 
idêntico ao nosso. A relação entre o corpo humano e os padrões 
espaciais funcionaria assim, neste campo de investigação, como um 
<objeto eterno> [...], dado poder ser considerada como uniforme, não 
como tendo variado entre o passado e o presente (BINFORD, 1983, p. 
180). 
 
A ideia de se observar sociedades vivas como uma forma de apoio à 
interpretação do passado não é nova, muito menos recente. No final do século 
XIX, vários arqueólogos europeus se inspiraram, muitas vezes, em trabalhos 
produzidos por etnógrafos junto a sociedades da África ou da Austrália; mas os 
então nomeados “paralelos etnográficos” que resultaram dessas investidas – 
onde os arqueólogos simplesmente vinculavam, por meio de restritas analogias, 
as sociedades do passado com as do presente – tenderam mais sufocar do que 
a promover o novo conceito. Nos Estados Unidos, os arqueólogos entraram em 
embate, desde cedo, com a realidade viva das complexas sociedades 
ameríndias da região, levando-os a refletir com mais ênfase no modo como se 
poderia utilizar a etnografia como uma forma de apoio à interpretação 
arqueológica. A autêntica etnoarqueologia, desta forma, é uma criação recente 
dos últimos 45 ou 50 anos; a grande diferença é que, agora, são os próprios 
arqueólogos – em lugar dos etnógrafos e antropólogos – que produzem suas 
próprias investigações das sociedades vivas (RENFREW & BAHN, 1993). 
A segunda técnica que estudaremos é a Arqueologia Subaquática que 
muitas vezes é confundida como um ramo do mergulho – e, desta forma, 
considerada uma atividade praticada por destemidos e aventureirosmergulhadores – atua da mesma forma que sua contrapartida terrestre, 
 
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14 
buscando estudar as sociedades pretéritas por meio da análise e interpretação 
de seus vestígios materiais; para tanto, utilizada os mesmos princípios, 
conceitos, terminologias e métodos e técnicas da arqueologia praticada em 
superfície. Assim, não se trata de uma outra ciência, mas de uma especialidade 
arqueológica onde uma das principais obrigações do arqueólogo é possuir 
conhecimentos acerca do mergulho autônomo (RAMBELLI, 2004). 
A Arqueologia Subaquática teve seu primeiro grande impulso durante o 
inverno de 1853-54, momento em que o baixo nível da água nos lagos suíços 
trouxe à tona uma grande quantidade de postes de madeira, cerâmicas e outros 
vestígios. Desde então, centenas de trabalhos foram desenvolvidos, englobando 
uma ampla variedade de assentamentos, entre os quais se incluem poços, 
cavidades inundadas – como, por exemplo, o grande poço de sacrifícios de 
Chichén Itza, no México –, assentamentos lacustres submergidos e, sobretudo, 
assentamentos marinhos – que abarcam desde naufrágios até portos e cidades 
afundadas – exemplificada nos testemunhos de Port Royal (Jamaica) que, 
devido a grandes abalos sísmicos, foi quase totalmente tomada pelo mar em 07 
de junho de 1962. Com os recentes desenvolvimentos tecnológicos, 
principalmente a criação de submarinos em miniaturas e equipamentos 
autônomos de mergulho que permitem uma maior permanência do 
arqueólogo/mergulhador debaixo d’água e um maior alcance de profundidade, a 
arqueologia subaquática tem revelado em vários lugares do mundo novos 
descobrimentos, trazendo à tona importantíssimas histórias acerca do 
vastíssimo passado humano. 
Agora, estudaremos a Geoarqueologia que é um ramo que utiliza 
métodos e conceitos oriundos das geociências aplicados à pesquisa 
arqueológica com vistas à solução de problemas arqueológicos. Mais 
especificamente, a geoarqueologia utiliza técnicas e conhecimentos da 
geomorfologia (o estudo da origem das formas da terra), pedologia (estudo da 
formação do solo e sua morfologia), da estratigrafia (estudo das sequências e 
correlações de sedimentos e solos) e da geocronologia (estudo do tempo na 
 
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15 
sequência estratigráfica) para investigar e interpretar os sedimentos, os solos e 
as formas geológicas em sítios arqueológicos. 
Este ramo da arqueologia não é apenas essencial para a identificação de 
microambientes e macroambientes e para a análise de modelos topográficos e, 
mais indiretamente, climas, biomas e grupos humanos; é importante, 
principalmente, para a identificação de processos – periódicos ou não – que 
afetam os meios físicos, biológicos e culturais de variadas escalas espaciais e 
temporais. A geoarqueologia pode, também, contribuir para a caracterização do 
meio ambiente e de comunidades homogêneas graças a suas perspectivas 
espaciais e temporais flexíveis, sendo sumamente decisiva quando se trata de 
estabelecer modelos de interação entre o homem e o ambiente. 
A Arqueologia, como qualquer ciência humana, procura responder uma 
série de problemas e questionamentos. Fazem parte, deste conglomerado de 
reflexões, inúmeras perguntas: “Do que falamos? ”; “Onde se encontrou/foi 
encontrado? ”; “Em que situação foi localizado? ”; “O que significa? ”; 
“Quem produziu? ”; “Quando? ”; “Para que servia? ”. 
Quando colocamos em pauta e tratamos de responder a estas questões, 
utilizamos por fim, como principal ferramenta a Arqueologia Experimental. 
Arqueologia Experimental é o ramo da disciplina arqueológica que 
consiste em descobrir, através de experimentações e práticas, a utilidade e os 
modos de elaboração de objetos arqueológicos – que podem incluir desde a 
reprodução de uma ponta de projétil até a construção de edifícios e estruturas – 
com o intuito de conhecer e aprofundar os saberes sobre as características 
culturais de uma determinada sociedade. 
Um dos primeiros projetos na área da Arqueologia Experimental com 
registros documentais foi desenvolvido na Dinamarca em inícios do século XX, 
concentrando-se, principalmente, na agricultura pré-histórica. Com objetivos 
puramente científicos, os focos das experiências se voltaram não apenas para 
 
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16 
questões relacionadas à produção das espécies cultivadas, mas também – e 
sobretudo – para o uso de ferramentas do período Neolítico. Os estudiosos 
pretendiam, com seus estudos, estabelecer hipóteses sobre as técnicas de 
cultivo e sobre o uso de diferentes tipos de ferramentas. 
Um interessante exemplo da aplicabilidade da Arqueologia Experimental 
é o aterro construído em Overton Down, no Sul da Inglaterra, na década de 1960. 
Este empreendimento consiste em um grande aterro de argila e turfa com 21 
metros de longitude, 7 metros de largura e 2 metros de altura, com um fosso 
paralelo. A intenção do experimento = levado a cabo até hoje – é não apenas 
estabelecer os modos como se alteram o montículo e o fosso com o transcorrer 
dos anos, mas também o que acontece com os materiais – como a cerâmica, o 
couro e os tecidos – que foram enterrados no interior da experimentação na 
década de 1960. Para a inferência de hipóteses e resultados, tem sido realizada 
seções estratigráficas no aterro e no fosso que seguem intervalos de 2, 4, 8, 16, 
32, 64 e 128 anos; no tempo real, correspondem aos anos de 1962, 1964, 1968, 
1976, 1992, 2024 e 2088. Os resultados da pesquisa, até o momento, revelaram-
se de grande interesse. Na década de 60, o montículo perdeu 25 centímetros de 
altura e o fosso foi obstruído com sedimentos com muita rapidez; contudo, desde 
meados da década de 70 a estrutura se mostrou estável. Em relação aos 
vestígios materiais enterrados, as provas realizadas quatro anos após o início do 
experimento revelaram que a cerâmica permaneceu inalterada e o couro foi 
muito pouco afetado, enquanto os tecidos já se encontravam em processo de 
debilitação e descoloração (RENFREW & BAHN, 1993). 
 
E o professor Sady, o que será que ele tem a falar sobre estas técnicas? 
Confira no material on-line. 
 
 
 
 
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Legislação Brasileira 
 
No dia 30 de novembro de 1937, sob o governo fortemente nacionalista e 
conservador de Getúlio Vargas, foi promulgado o Decreto-Lei nº 25, com o intuito 
de instituir e organizar elementos para a proteção do patrimônio histórico e 
artístico nacional, constituído, conforme seu artigo 1°, pelo “conjunto de bens 
móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse 
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer 
por seu excepcional valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico”. 
Este Decreto-Lei, associado à criação do Serviço do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional – criado pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937 – foi o 
resultado das constantes preocupações de Gustavo Capanema, Ministro da 
Educação e Cultura, em proteger o patrimônio histórico e artístico brasileiro. 
Através de seus esforços, pela primeira vez foi instituída uma política cultural 
oficial para o Brasil e, desde então, “a proteção aos bens culturais passou a fazer 
parte do sistema jurídico brasileiro, tento sido a partir daí sempre aprimorada” 
(SOUZA FILHO, 1999 p. 60). 
Esta lei, com ênfase no tombamento de bens culturais, foi caracterizada, 
principalmente, por seu alto teor de organização da proteção do patrimônio 
histórico e artístico nacional. 
Após a Segunda Guerra Mundial,iniciou-se, de fato, a pesquisa 
universitária no país, graças, sobretudo, às ações do intelectual Paulo Duarte e 
de seus contatos com Paul Rivet, diretor do Museu do Homem de Paris. 
Fundador da Comissão de Pré-História da USP – depois transformada no 
Instituto de Pré-História –, trouxe para o Brasil os franceses Joseph Emperaire e 
Annette Laming-Emperaire, iniciando a formação dos primeiros arqueólogos 
acadêmicos brasileiros. Foi, neste positivo contexto de desenvolvimento das 
pesquisas arqueológicas nacionais, que ocorreu um dos saltos normativos mais 
importantes em nossa legislação. Confira! 
 
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Por iniciativa direta de Paulo Duarte ocorreu a publicação da Lei n° 3.924, 
de 26 de julho de 1961. 
Esta foi a primeira lei federal de proteção ao patrimônio arqueológico, 
ampliando a preservação destes bens à medida em que coloca, sob a guarda do 
poder público, “os monumentos arqueológicos ou pré-históricos e todos os 
elementos neles existentes” (SOUZA FILHO, 1999 p. 70). Foram considerados 
monumentos arqueológicos, neste documento (Art. 2º): 
a) As jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem 
testemunhos de cultura dos paleoameríndios do Brasil, tais como sambaquis, 
montes artificiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e 
quaisquer outras não especificadas aqui, mas de significado idêntico a juízo da 
autoridade competente. 
b) Os sítios nos quais se encontram vestígios positivos de ocupação pelos 
paleoameríndios tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha; 
c) Os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso 
prolongado ou de aldeamento, "estações" e "cerâmicos", nos quais se encontram 
vestígios humanos de interesse arqueológico ou paleoetnográfico; 
d) As inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimentos de 
utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios. 
Qualquer ato que importasse na destruição ou na mutilação dos citados 
monumentos tornava-se crime contra o Patrimônio Nacional e, como tal, punível 
a partir das disposições existentes nas leis penais. Esta lei atua, ainda hoje, 
como o principal instrumento legal de preservação dos vestígios arqueológicos. 
Também conhecida como “Lei dos Sambaquis”, a referida Lei redobra sua 
ênfase sobre este tipo de sítio arqueológico, grande alvo, na época, de atividades 
econômicas predadoras e destrutivas, especialmente das caieiras, que 
recolhiam as concas dos sambaquis para utilizá-las na pavimentação de 
estradas e na construção civil: 
São proibidos em todo o território nacional, o aproveitamento econômico, 
a destruição ou mutilação, para qualquer fim, das jazidas arqueológicas ou pré-
 
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históricas conhecidas como sambaquis, casqueiros, concheiros, birbigueiras ou 
sernambis, e bem assim dos sítios, inscrições e objetos enumerados nas alíneas 
b, c, e d [...] antes de erem devidamente pesquisados, respeitadas as 
concessões anteriores e não caducas. 
As escavações arqueológicas também sofreram um importante impacto: 
a partir de então, somente pessoas com autorização prévia da Diretoria do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional teriam o direito de realizarem as 
atividades, respeitando o proprietário ou o possuidor do solo. Ainda, uma vez 
que a “posse e a salvaguarda dos bens de natureza arqueológica ou pré-histórica 
constituem, em princípio, direito imanente ao Estado” (Art. 17º), as descobertas 
fortuitas de qualquer elemento de interesse arqueológico deveriam, a partir de 
então, ser comunicadas à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
ou aos órgãos oficiais autorizados, fosse pelo autor do achado ou pelo 
proprietário do local (Art. 18º). 
Após a Lei 3.924, novas questões referentes ao Patrimônio Arqueológico 
foram publicadas na Constituição Federal de 1988, tendo-se destaque, aí, o 
Artigo 216. Conforme abaixo: 
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e 
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à 
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade 
brasileira, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, [assim como] os 
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, 
paleontológico, ecológico e científico. 
Esta nova Constituição, visando “proteger os documentos, as obras e 
outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens 
naturais notáveis e os sítios arqueológicos” (Art. 20º), segundo Souza Filho 
(1999, p. 65). 
[...] foi muito mais profunda que todas as outras e dispensou uma seção 
inteira aos bens culturais e à cultura. O texto dos constituintes de 1988 traz 
algumas novidades em relação à trajetória constitucional brasileira, que se 
 
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resumem num conteúdo de valor cultural que busca a identidade nacional. Assim 
[...], o Brasil passou a reconhecer, a proteger e enaltecer a diversidade cultural, 
os valores indígenas, afro-brasileiros e de outros grupos étnicos. [...] A cultura 
protegida é a praticada, criada e representativa das mais diversas camadas da 
população, o que, em termos sociológicos, é o povo. 
No mesmo ano em que foi promulgada a Constituição, o Serviço do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional publicou, no Diário Oficial da União, a 
Portaria nº 07, de 01 de dezembro, com o intuito de regulamentar os pedidos de 
permissão e autorização de pesquisa, assim como as comunicações quando do 
desenvolvimento de trabalhos de campo e escavações arqueológicas em todo o 
território nacional. Esta Portaria entrava, desta forma, em consonância com a 
legislações relacionadas ao meio ambiente, dentre as quais a Lei 6.938, de 31 
de agosto de 1981, que introduziu a avaliação ambiental no Brasil com o objetivo 
de preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental propícia à vida, 
visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos 
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade humana (Art. 2º). 
Foram instituídos, como instrumentos da Política Nacional do Meio 
Ambiente, o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, bem 
como o licenciamento e a revisão de atividades potencial ou efetivamente 
poluidoras; além disso, com a Lei, foram motivadas a criação do Conselho 
Nacional do Meio Ambiente (Conama), que efetivou, com sua Resolução nº 001, 
de 23 de janeiro de 1986, a Avaliação de Impacto Ambiental diante da 
“necessidade de se estabelecerem as definições, as responsabilidades, os 
critérios básicos e as diretrizes gerais para o uso e implementação da Avaliação 
de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio 
Ambiente”. Conforme a Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer 
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, 
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades 
humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-
estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições 
 
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estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais 
(Art. 1º, incisos I a V). 
A partir de então, o licenciamento de atividades que modificassem o meio 
ambiente – como, por exemplo, construção de linhas de transmissão e de 
hidrelétricas – dependeria da elaboração de um estudo de impacto ambiental 
(EIA) e seu respectivo relatório (RIMA). No rol de atividades,foram incluídos, 
como presente no Art. 6º, o meio socioeconômico – o uso e ocupação do solo, 
os usos da água e a socioeconômica, destacando os sítios e monumentos 
arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência 
entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura 
desses recursos. 
Posteriormente, com a publicação da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes 
Ambientais), “a arqueologia ganhou como um todo um grande aliado, com 
repercussões no aumento de trabalho para a arqueologia de contrato” 
(CALDARELLI; SANTOS, 1999-2000 p. 56). A partir de sua publicação, de 
depredação, destruição e deterioração contra o patrimônio cultural começaram 
a sofrer sanções penais e administrativas, com pagamento de multas e até 
mesmo reclusão. 
No ano de 2002, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – 
antigo SPHAN – publicou uma nova portaria: a n°230/02. Surgida da 
necessidade de compatibilizar os procedimentos de pesquisa arqueológica com 
as etapas do licenciamento ambiental, definiu diferentes escopos para os 
projetos de pesquisas arqueológicas, cujos formatos se atrelaram às respectivas 
licenças ambientais: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença 
de Operação (LO). 
Em 2015, diante da atual necessidade de atualizar determinados aspectos 
da legislação referente ao patrimônio cultural em processos de licenciamento 
ambiental, fui publicada, pelo IPHAN, a Instrução Normativa nº001/2015, que 
estabelece os procedimentos administrativos a serem observados pelo próprio 
Instituto quando instado a se manifestar nos processos de licenciamentos 
 
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ambientais nos âmbitos municipal, estadual e federal, assim como guiar os 
pesquisadores em relação às suas atividades. Com sua publicação, a Portaria 
n° 230/02 foi revogada. 
É importante ressaltar que, apesar da revogação, existe um período de 
transição em que seus dispositivos ainda permanecem válidos, envolvendo, 
sobretudo, os processos de licenciamento ambiental cujos Termos de 
Referência foram emitidos em data anterior à publicação da Instrução Normativa. 
 
Na sequência, o professor Sady continuará falando sobre legislação 
brasileira. Confira no material on-line. 
 
TROCANDO IDEIAS 
 
O Instituto Histórico e Artístico Nacional publicou no Diário Oficial a sua 
Instrução Normativa 01/2015, que informa sobre os procedimentos que os 
arqueólogos e empresas (de arqueologia ou engenharia) deveram seguir ao 
realizar uma pesquisa arqueológica. Parte comunidade de Arqueólogos, através 
da Sociedade de Arqueologia Brasileira, que atuou como mediadora, expôs as 
críticas e sugestões ao IPHAN sobre essa normativa. Procure no site do IPHAN 
(http://portal.iphan.gov.br/) e no Site da SAB (http://www.sabnet.com.br/) 
documentos sobre esse embate, e procure observar quais são os objetivos e 
propostas de ambos os lados. 
Após, acesse o fórum que está disponível no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, deixe a sua opinião e veja também o que os seus colegas 
responderam. Participe! 
 
 
 
 
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Na Prática 
 
Um sítio arqueológico do tipo sambaqui será escavado por uma equipe de 
arqueólogos. 
Sabemos que os sítios arqueológicos são formados por uma infinidade de 
tipos de vestígios resultado da ação humana como, por exemplo: na preparação 
de alimentos, nos rituais funerários, nas moradias, na construção de fogueiras, 
entre outros. 
Os arqueólogos só conseguem inferir sobre as ações realizadas nestes 
espaços quando observa e analisa os vestígios deixados por estas populações: 
material lítico, lascados e polidos, material malacológico (conchas), 
sepultamentos humanos e vestígios faunísticos, bem como, observando as 
alterações na paisagem onde estão localizados os sítios arqueológicos. 
Baseados então como coordenadores do projeto, uma equipe 
multidisciplinar precisa ser montada. Quais são os especialistas chamados para 
ajudar a entender essa população construtora de sambaquis? 
 
Essa é uma boa oportunidade para você fazer uma pesquisa e testar os 
seus conhecimentos. Além de perceber se necessita estudar mais. Aproveite! 
 
Síntese 
 
Sabemos que a Arqueologia é a ciência que estuda o passado através 
dos vestígios materiais em contexto, com objetivo maior de interpretar os modos 
de vida de uma (ou várias) populações, sejam elas passadas ou não. 
Sabemos também que a é possui como objeto o entendimento das 
culturas pretéritas através do estudo minucioso dos vestígios materiais. Mas não 
apenas dos vestígios isoladamente e sim os contextos envolvidos dentro do sítio 
arqueológico. 
 
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A Arqueologia ainda lida com diversas teorias e especificidades próprias, 
contudo os conhecimentos adquiridos por outros conhecimentos não só são 
bem-vindos como são essenciais, pois na essência da ciência arqueológica, a 
interdisciplinaridade é parte do conhecimento arqueológico. 
Conhecimento esse, que é destrutivo e não renovável, que deve ser 
guardado por leis rigorosas de proteção ao patrimônio e graças a um grupo de 
arqueólogos, na década de 1960 promoveram a primeira lei que rege sobre a 
proteção dos sítios ou jazidas, termo utilizado na época. 
 
Antes de finalizar essa aula, confira o vídeo com as considerações finais 
do professor Sady! Disponível no material on-line. 
 
Referências 
ARAÚJO, A. Teoria e método em Arqueologia Regional: um estudo de caso 
no Alto Paranapanema, Estado de São Paulo. Tese (Doutorado em 
Arqueologia.) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. 
 
BINFORD, L. Em busca do passado. A descodificação do registro 
arqueológico. Portugal: Publicações Europa-América, 1983. 
 
FUNARI, P. P. A. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003. 
RENFREW, C.; BAHN, P. Arqueologia. Teorias, Métodos y Práctica. Madrid: 
Ediciones Akal, 1993. 
 
RAMBELLI, G. Arqueologia Até Debaixo D'água. São Paulo: Maranta, 2004. 
CALDARELLI, S. B.; SANTOS, M. C. M. M. Arqueologia de contrato no Brasil. 
In: Revista USP, São Paulo, n. 44, p.52-73, dez. / fev. 1999-2000 
SOUZA FILHO, C; F. M. Bens Culturais e proteção Jurídica. Porto Alegre: 
Unidade Editoral Porto Alegre, 1999. 
TRIGGER, B. História do Pensamento Arqueológico. Tradução Ordep 
Trindade Serra. São Paulo: Odysseus Editora Ltda, 2004. 
 
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Redman, C. Multistage fieldwork and analytical techniques. American 
Antiquity n. 38, 1973, p. 61-79.

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