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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Arqueologia Aula 01 Prof. Sady Pereira do Carmo Junior CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Esta é a primeira aula da disciplina Arqueologia, seja bem-vindo! A Arqueologia é uma ciência que sempre esteve no imaginário das pessoas, com tons de aventura, romantismo, curiosidade e até tesouros, impulsionada no cinema através da sequência de filmes do personagem galã Indiana Jones, interpretado pelo ator Harrison Ford, em “Os caçadores da Arca perdida, Indiana Jones e o Templo da Perdição, Indiana Jones e a Última Cruzada e o mais recente Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, saga, esta, iniciada em 1981 com direção e roteiro dos aclamados Steven Spielberg e George Lucas, respectivamente. Esse romantismo envolvendo a Arqueologia ainda se popularizou entre os jovens através dos jogos para videogame Tomb Raider, em 1996, com adaptação ao cinema, estrelado pela Angelina Jolie como protagonista. Ademais, mesmo que grande parte dos arqueólogos tenham iniciado sua carreira espelhados nos filmes do herói caçador de tesouros e nazistas, suas aventuras hoje causam certo incomodo aos profissionais e, ao menos para legislação brasileira, Indiana Jones enfrentaria sérios problemas, ou seja, mesmo sendo um herói e influenciador de gerações, Jones não é um exemplo a ser seguido. Isso porque? Pois justamente os materiais arqueológicos que deveriam ser estudados por Indiana Jones como uma maneira de se entender os modos de vida do passado, e como arqueólogo e professor universitário, não caberia muito bem em seu currículo o termo “caçador de tesouros”. No Brasil, Jones seria envolvido em sérios problemas com a justiça, o Patrimônio arqueológico é pertencente a União. Mas não vamos tirar o mérito das aventuras, pois foi através delas que no século XIX, acompanhando a expansão europeia em busca de novos territórios, durante a corrida imperialista, a curiosidade sobre as populações gregas, turcas, egípcias, que surgiu a arqueologia, incialmente dando origem aos antiquários e posteriormente museus. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Contudo, a Arqueologia vai além da aventura e dos povos da história antiga, é um campo muito mais complexo nas diversas teorias e perspectivas adotadas pelos profissionais, que ao invés de saquear tesouros como no cinema, procuram entender as relações entre as estruturas e dinâmicas sociais através de todos os objetos e artefatos. O objetivo desta aula é elucidar de forma abrangente o que é a arqueologia, quais são seus principais conceitos de definição, seus objetos de estudo, exemplificar alguns outros modos de arqueologia e mostrar como funciona a legislação brasileira acerca desse tema. O vídeo do professor Sady traz sua apresentação e, também, a apresentação da disciplina. Confira no material on-line. Contextualizando O programa do Governo Federal de Aceleração do Crescimento, criado em 2007, acabou por impulsionar um crescimento de obras de infraestrutura no Brasil e consequentemente dos trabalhos de licenciamento ambiental e, por conseguinte das pesquisas arqueológicas. Assim a demanda por pesquisadores e mão de obra qualificada gerou um crescimento dos cursos de graduação em Arqueologia e colocou em evidencia a necessidade do estudo da arqueologia. Essa demanda, tanto profissional quanto de obras, culminou nas discussões sobre quem poderia ou não fazer arqueologia, em como se fazer arqueologia e de quanto a arqueologia deveria custar. No entanto, a arqueologia diferente da Engenharia, é uma ciência das humanidades, com conceitos subjetivos e diversas teorias que regem o pensamento sobre as populações pretéritas e dificilmente esses questionamentos podem ser respondidos de forma a agradar todos os pensadores. E é nesse contexto que podemos refletir: o que CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 é, o que faz, como faz, e quem faz arqueologia? Ou seriam, arqueologias? E qual seria o papel do arqueólogo na sociedade? Não se preocupe, o professor Sady irá te acompanhar na descoberta das respostas para todas estas perguntas! Confira no material on-line. Pesquise A conceituação da Arqueologia Arqueologia - cujo termo é uma combinação de dois antigos vocábulos que se originaram do grego <arkhaios>, que denota antigo, e <logos>, que diz respeito à ciência, ao discurso ou ao estudo - é a ciência que estuda, investiga e interpreta, assim como a História e a Antropologia, as sociedades humanas no tempo. No entanto, diferentemente destas duas ciências, que possuem, também, como objeto de estudo, documentos oficiais e não oficiais, diários, relatórios, cartas, depoimentos orais, entre outros - a Arqueologia infere sobre o comportamento humano a partir de “materiais remanescentes, do que as pessoas fizeram e usaram, e do impacto físico de sua presença no meio ambiente” (TRIGGER, 2004 p. 19). A partir desta perspectiva, é possível observar, portanto, que a porção da totalidade material estudada pela disciplina não se restringe, unicamente, ao produto do trabalho humano. Além dos artefatos, também são estudados, por analogia, os biofatos e ecofatos, ambos ligados à apropriação da natureza pelos seres humanos. Desta maneira, a “arqueologia estuda, diretamente, a totalidade material adotada pelas sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e imaterial, sem limitações de caráter cronológico” (FUNARI, 2003 p. 15). Apesar de ter a Geologia e a História como suas “mães” e a Antropologia como “irmã”, a arqueologia é uma disciplina bem distinta, tendo suas próprias indagações: “[...] nossas perguntas não são as mesmas formuladas por CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 profissionais das geociências. Do mesmo modo, as perguntas feitas por antropólogos sociais e etnólogos são distintas das nossas. Arqueologia é simplesmente Arqueologia” (ARAÚJO, 2001 p. 64). Por muito tempo, a Arqueologia, ao contrário de ser observada como uma disciplina em si mesma, foi tratada, por muitos pesquisadores, como uma ferramenta auxiliar das investigações antropológicas e históricas que visava, sobretudo, corroborar hipóteses e afirmações encontradas em outras documentações. Neste sentido, conforme Pedro Paulo Funari (2003, p. 15): ...é comum, lendo-se textos de historiadores, deparar-se com expressões como “contando-se apenas com informações arqueológicas, muito pouco podemos saber sobre...” ou com afirmações do tipo “quando se tem em mãos registros escritos ou orais, não há o que acrescentar de significativo com a pesquisa dos elementos materiais...”. Nesta abordagem, a atuação da disciplina se restringiria a apenas práticas de campo, onde o arqueólogo faria o trabalho braçal – que produziria os “fatos” arqueológicos – enquanto o historiador, o antropólogo ou o sociólogo interpretaria os “fatos”, transformando-os em encadeamentos diacrônicos – no caso da história – ou sincrônicos – no caso da antropologia e da sociologia. Atualmente, apesar de ainda existirem estudiosos que observem a disciplina sob esta óptica, prolifera-se uma nova visão, considerando-a uma disciplina independente, porém, intimamente relacionada com a história e com outras ciências sociais, ou seja, não como uma ciência simplesmente auxiliar de qualquer disciplina, mas uma ciência própria que busca pontes de diálogo com diferentes saberes. A Arqueologia,apesar de sua independência e particularidades, não deixa de ser uma ciência social, no sentido que procura explicar o que aconteceu a um grupo específico de seres humanos em algum momento do passado e fazer generalizações a respeito das mudanças culturais (TRIGGER, 2004). Seu objetivo, dentro de suas próprias limitações, é inferir acerca das práticas sociais, dos modos de vida, das dinâmicas sociais, da economia, da estrutura, da CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 religião, da história e das relações do homem com o meio ambiente e a paisagem. Assim, procura observar todos os aspectos da cultura através dos vestígios materiais deixados pelas sociedades, enfatizando as informações oriundas de todo o universo social, tecnológico, econômico e simbólico. Exemplificando fica bem mais fácil de entender os conceitos que acabamos de ler. Confira! Para compreender os contextos de determinada manifestação cultural estabelecida em um determinado tempo e lugar, a arqueologia envolve três dimensões de pesquisa em constante sinergia: o tempo, o espaço e os vestígios materiais. Assim, os objetos - ou seus fragmentos - encontrados, ao serem estudados a partir de seus contextos arqueológicos, podem revelar inúmeras informações capazes de produzir conhecimento sobre as relações e as mudanças sociais de uma sociedade em um dado período de sua história. A Arqueologia lida com os vestígios arqueológicos como sua unidade mínima de estudo, mas esses vestígios fora de contexto não nos dizem muito sobre a população que os produziu. O Contexto para arqueologia consiste na relação entre as informações. Seria a base de comparação entre os dados, seja na sincronia, na relação entre os objetos e fatos num mesmo tempo, nas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 associações entre os mesmos, ou seja, na relação entre os vestígios na diacronia, na relação do passar do tempo, na percepção das mudanças culturais ao longo do tempo. O contexto pode ser associação entre diversos temas, objetos, observações e simbolismos. Na videoaula a seguir, o professor Sady irá apresentar detalhadamente todos os assuntos abordados até aqui. Disponível no material on-line. O Arqueólogo e sua base de estudo O trabalho do arqueólogo, diferentemente do que a muito tempo vem sendo estereotipado em produções cinematográficas, não se reduz à escavação de sítios arqueológicos, muitas vezes estampados como antigos monumentos – referentes a alguma pessoa ilustre do passado – repletos de relíquias e incontáveis tesouros. Existem várias etapas de pesquisa, cujos métodos e análises dos dados devem estar harmonizados entre si e com seu objeto de investigação; ainda, o planejamento da pesquisa de campo, os procedimentos analíticos e as perspectivas interpretativas devem refletir os objetivos do pesquisador, assim como sua concepção da natureza do dado arqueológico (REDMAN, 1972). Atualmente, no Brasil, o arqueólogo trabalha seguindo cinco etapas essenciais. a) Planejamento; b) Levantamento; c) Registro e Escavação; d) Laboratório; e) Resultados. Na primeira etapa, são definidas as regiões a serem pesquisadas (área de estudo), os objetivos do trabalho e, também, as técnicas e metodologias a serem aplicadas - que podem variar conforme o tipo de investigação e suas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 intencionalidades. Tendo-se em vista que todos os sítios arqueológicos são protegidos por lei (Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961) e que somente arqueólogos capacitados devem gerir os trabalhos arqueológicos, é necessário, já nesta fase, encaminhar ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) um pedido de autorização de pesquisa. Logo em seguida, já com a autorização concedida, coloca-se em prática a segunda etapa, que corresponde aos trabalhos de busca e levantamentos de sítios arqueológicos por meio de técnicas próprias da Arqueologia, como vistorias, caminhamentos sistemáticos, perfurações no solo (sondagens), utilização de aparelhos geofísicos, entre outros; esta etapa abrange, ainda, o estudo de características ambientais, pois estas podem apontar locais favoráveis à localização de sítios arqueológicos, como grutas ou solos de tons mais escuros. Após os sítios arqueológicos serem encontrados e a coleta de informações geo-ambientais reunidas, a terceira etapa entra em cena: a do registro e da escavação. A escavação possibilita o registro e a coleta de artefatos e estruturas arqueológicas, a análise dos solos e das camadas sedimentares, a identificação de áreas e conjuntos, a disposição espacial e temporal, entre outros. Ainda, são realizados estudos do próprio local onde se insere o sítio arqueológico e de seu entorno, abrangendo investigações relacionadas a aspectos ambientais e culturais, uso atual do solo, geologia e geografia. Todo material oriundo das escavações passa pela quarta etapa: a de Laboratório. É, neste momento, que todo o material coletado passa por atividades de higienização, arrolamento - ou triagem, ou seja, separação por tipos ou classes -, numeração, remontagem - colagem de peças que foram localizadas fragmentadas -, acondicionamento e conservação; em seguida, são realizadas as análises dos materiais, estudando-se e colocando-se em evidência a frequência dos tipos, as técnicas empregadas desde a obtenção da matéria- prima até os usos o descarte, os aspecto de produção, as datações obtidas, as relações espaciais dos elementos na área do sítio, etc. Ainda, através da análise CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 de amostras de solos e sedimentos, pode-se inferir acerca das mudanças paleoambientais desencadeadas no período das pretéritas ocupações humanas, como a elevação do nível do mar e as formas pelas quais se apresentavam os biomas antigos. Ao final de todo o trabalho são obtidos os resultados da pesquisa, última etapa de desenvolvimento do trabalho do arqueólogo. É, aqui, que todos os dados e informações levantadas, coletadas e refletidas são reunidas com o intuito de cumprir os objetivos propostos para a pesquisa, responder às diversas indagações científicas e, sobretudo, gerar novos conhecimentos. Nesta fase, portanto, teoria e prática se fundirão, permitindo estabelecer hipóteses e realizar inferências sobre os mais distintos aspectos das sociedades do passado. Os trabalhos arqueológicos são desenvolvidos em dois principais campos de atuação: um inserido no âmbito acadêmico e científico, e outro, em espaços ligados mais diretamente ao mercado. Conforme Funari (2003, p. 114): “...a atuação acadêmica constitui um campo privilegiado, pois na pesquisa o arqueólogo pode dedicar-se, de forma integral, à investigação científica. Na graduação e pós-graduação, pode atuar o arqueólogo, em particular, nos cursos de história, ciências sociais, geografia, biologia, arquitetura, para citar apenas os mais usuais. No Brasil, desde há alguns anos, tem-se buscado a especialização do corpo docente dos cursos universitários, de modo que as disciplinas sejam ministradas por especialistas dos temas abordados em sala de aula. ” No segundo campo - denominado, por muitos, de arqueologia de contrato, por contrato, de empreendimentos ou preventiva – o profissional atua, sobretudo, no licenciamento ambiental de diversos empreendimentos, tais como construções de barragens, estradas, linhas de transmissão e, até mesmo, no caso de cidades, construção de edifícios. Em todas estas situações, a legislação vigente prevê a contratação de arqueólogos para a elaboraçãode pesquisas referentes à existência de sítios arqueológicos nas áreas de abrangência do CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 empreendimento e para as definições dos impactos das obras em relação ao patrimônio cultural, diagnosticando-o e prognosticando-o com uma variada série de atividades, incluindo-se levantamentos mais aprofundados e escavações emergenciais. Este tipo de arqueologia, muitas vezes desenvolvida com cronogramas extremamente apertados, é uma das principais maneiras – se não a mais importante – de proteger o patrimônio arqueológico, cuja destruição seria inexorável, devido ao rápido e constante desenvolvimento econômico. O que é um sítio arqueológico? O que são vestígios? Para melhor compreender o ofício do arqueólogo e seus objetos de pesquisa – ou seja, fontes para análise – é necessário ter em mente dois conceitos de essencial relevância: sítio arqueológico e vestígios. Confira o exemplo. Exemplo de sítio arqueológico: em linhas gerais, é um local no qual seres humanos que viveram anteriormente a nós – seja em um passado muitíssimo remoto ou mais recente – deixaram, tanto de forma direta quanto indireta, algum testemunho ou evidência de suas atividades: uma pintura em algum abrigo-sob-rocha, uma ferramenta produzida em pedra, uma fogueira, uma sepultura, as ruínas de uma redução jesuítica, entre muitos outros elementos. Desta forma, um sítio arqueológico pode ser definido, portanto, como um conjunto de vestígios arqueológicos identificados em uma espacialidade que remete, necessariamente, a um momento cronológico-cultural específico. Mas, o que são vestígios? Confira o exemplo. Exemplo de vestígios arqueológicos: também amplamente definidos como cultura material, seriam os elementos materiais ou as influências sobre o CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 meio ambiente oriundos de um contexto cultural pretérito. Enquadram-se, aqui, os artefatos – ou seja, objetos feitos, modificados e utilizados pelos homens – e os ecofatos – restos orgânicos e meio-ambientais não artefatuais que incluem ossos de animais e restos de plantas, assim como solos e sedimentos –, que podem revelar, na mesma medida que os artefatos, muitos aspectos das atividades humanas do passado. Alguns simples fragmentos de cerâmica, por exemplo, podem muito dizer a respeito sobre o homem de tempos pretéritos e ser objeto de várias linhas de investigação: sua argila pode ser analisada para se obter uma data para o objeto e, até mesmo, para o local onde foi encontrado e, ainda, seu local de origem – concedendo-nos dados sobre o alcance e o contato do grupo humano que a fabricou; se existir alguma decoração na superfície dos fragmentos, pode-se ser revelada alguma informação acerca das antigas crenças; a análise da forma e dos resíduos que ali tenham permanecido podem trazer à tona um peculiar quadro sobre sua utilização, assim como a dieta alimentar de uma determinada população. Os vestígios mais antigos são os que se encontram nas camadas mais profundas do solo (normalmente), pois à medida que o tempo avança, novas camadas de sedimentos se formam e novos vestígios caem, fazendo com que o sítio vá apresentando uma maior espessura de camadas arqueológicas (um sambaqui, sítio arqueológico encontrado no litoral, por exemplo, é formado por camadas arqueológicas produzidas durante séculos de ocupação, formando grandes colinas de moluscos). Quando o arqueólogo inicia seus trabalhos: os vestígios vão sendo escavados dos mais recentes para os mais antigos. Podem ser considerados vestígios arqueológicos uma série de matérias, desde que tenham sobrevivido ao tempo ou deixado marcas de sua existência, como buracos de estaca de habitações, pinturas rupestres, rochas lascadas, polidas, vasilhames cerâmicos (inteiros ou quebrados), sepultamentos, fogueiras, contas, adornos, restos alimentares, material construtivo, habitações entre outros. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 O vídeo do professor do professor Sady traz mais informações. Confira no material on-line. As Diversas Arqueologias A Arqueologia como uma disciplina única e distinta, mas incrivelmente multidisciplinar e interdisciplinar, acaba por criar particularidades únicas para criação de subdisciplinas, em contato com outras ciências (das humanidades ou exatas) ou com técnicas especificas cria-se novas perspectivas e campos de trabalho e pesquisa, assim como a Etnoarqueologia, Geoarqueologia, Arqueometria ou Arqueologia subaquática. Que tal conhecer cada uma delas? Para começar vamos conhecer a Etnoarqueologia: A etnoarqueologia, em linhas gerais, é o estudo tanto do uso e do significado atual dos artefatos, edifícios e estruturas das sociedades vivas como da forma em que estes objetos materiais se converteram em parte do registro arqueológico – ou seja, o que lhes aconteceu quando se tornaram desfeitos, derrubados ou abandonados. Este ramo da arqueologia é, portanto, uma forma de aproximação indireta entre passado e presente, auxiliando na compreensão das sociedades pretéritas por meio de comparações. Conforme Lewis Binford (1983, p.34), um de seus principais expoentes, “... o objetivo da investigação em <etno-arqueologia> é, evidentemente, procurar definir as variáveis que condicionam a formação do registro arqueológico. Estando num sítio e observando as várias atividades dos que aí vivem, o arqueólogo espera conseguir reconhecer alguns padrões arqueologicamente observáveis, sabendo à partida quais as atividades que produziram esse resultado”. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Por meio de perspectiva, Se fosse possível demonstrar, a partir de casos etnográficos, que certos tipos de padrões espaciais não são senão uma consequência mecânica dos corpos humanos, teríamos então uma base fazer inferências sobre o passado – pelo menos no que respeita às épocas em que os nossos antepassados já tinham um tipo físico essencial idêntico ao nosso. A relação entre o corpo humano e os padrões espaciais funcionaria assim, neste campo de investigação, como um <objeto eterno> [...], dado poder ser considerada como uniforme, não como tendo variado entre o passado e o presente (BINFORD, 1983, p. 180). A ideia de se observar sociedades vivas como uma forma de apoio à interpretação do passado não é nova, muito menos recente. No final do século XIX, vários arqueólogos europeus se inspiraram, muitas vezes, em trabalhos produzidos por etnógrafos junto a sociedades da África ou da Austrália; mas os então nomeados “paralelos etnográficos” que resultaram dessas investidas – onde os arqueólogos simplesmente vinculavam, por meio de restritas analogias, as sociedades do passado com as do presente – tenderam mais sufocar do que a promover o novo conceito. Nos Estados Unidos, os arqueólogos entraram em embate, desde cedo, com a realidade viva das complexas sociedades ameríndias da região, levando-os a refletir com mais ênfase no modo como se poderia utilizar a etnografia como uma forma de apoio à interpretação arqueológica. A autêntica etnoarqueologia, desta forma, é uma criação recente dos últimos 45 ou 50 anos; a grande diferença é que, agora, são os próprios arqueólogos – em lugar dos etnógrafos e antropólogos – que produzem suas próprias investigações das sociedades vivas (RENFREW & BAHN, 1993). A segunda técnica que estudaremos é a Arqueologia Subaquática que muitas vezes é confundida como um ramo do mergulho – e, desta forma, considerada uma atividade praticada por destemidos e aventureirosmergulhadores – atua da mesma forma que sua contrapartida terrestre, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 buscando estudar as sociedades pretéritas por meio da análise e interpretação de seus vestígios materiais; para tanto, utilizada os mesmos princípios, conceitos, terminologias e métodos e técnicas da arqueologia praticada em superfície. Assim, não se trata de uma outra ciência, mas de uma especialidade arqueológica onde uma das principais obrigações do arqueólogo é possuir conhecimentos acerca do mergulho autônomo (RAMBELLI, 2004). A Arqueologia Subaquática teve seu primeiro grande impulso durante o inverno de 1853-54, momento em que o baixo nível da água nos lagos suíços trouxe à tona uma grande quantidade de postes de madeira, cerâmicas e outros vestígios. Desde então, centenas de trabalhos foram desenvolvidos, englobando uma ampla variedade de assentamentos, entre os quais se incluem poços, cavidades inundadas – como, por exemplo, o grande poço de sacrifícios de Chichén Itza, no México –, assentamentos lacustres submergidos e, sobretudo, assentamentos marinhos – que abarcam desde naufrágios até portos e cidades afundadas – exemplificada nos testemunhos de Port Royal (Jamaica) que, devido a grandes abalos sísmicos, foi quase totalmente tomada pelo mar em 07 de junho de 1962. Com os recentes desenvolvimentos tecnológicos, principalmente a criação de submarinos em miniaturas e equipamentos autônomos de mergulho que permitem uma maior permanência do arqueólogo/mergulhador debaixo d’água e um maior alcance de profundidade, a arqueologia subaquática tem revelado em vários lugares do mundo novos descobrimentos, trazendo à tona importantíssimas histórias acerca do vastíssimo passado humano. Agora, estudaremos a Geoarqueologia que é um ramo que utiliza métodos e conceitos oriundos das geociências aplicados à pesquisa arqueológica com vistas à solução de problemas arqueológicos. Mais especificamente, a geoarqueologia utiliza técnicas e conhecimentos da geomorfologia (o estudo da origem das formas da terra), pedologia (estudo da formação do solo e sua morfologia), da estratigrafia (estudo das sequências e correlações de sedimentos e solos) e da geocronologia (estudo do tempo na CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 sequência estratigráfica) para investigar e interpretar os sedimentos, os solos e as formas geológicas em sítios arqueológicos. Este ramo da arqueologia não é apenas essencial para a identificação de microambientes e macroambientes e para a análise de modelos topográficos e, mais indiretamente, climas, biomas e grupos humanos; é importante, principalmente, para a identificação de processos – periódicos ou não – que afetam os meios físicos, biológicos e culturais de variadas escalas espaciais e temporais. A geoarqueologia pode, também, contribuir para a caracterização do meio ambiente e de comunidades homogêneas graças a suas perspectivas espaciais e temporais flexíveis, sendo sumamente decisiva quando se trata de estabelecer modelos de interação entre o homem e o ambiente. A Arqueologia, como qualquer ciência humana, procura responder uma série de problemas e questionamentos. Fazem parte, deste conglomerado de reflexões, inúmeras perguntas: “Do que falamos? ”; “Onde se encontrou/foi encontrado? ”; “Em que situação foi localizado? ”; “O que significa? ”; “Quem produziu? ”; “Quando? ”; “Para que servia? ”. Quando colocamos em pauta e tratamos de responder a estas questões, utilizamos por fim, como principal ferramenta a Arqueologia Experimental. Arqueologia Experimental é o ramo da disciplina arqueológica que consiste em descobrir, através de experimentações e práticas, a utilidade e os modos de elaboração de objetos arqueológicos – que podem incluir desde a reprodução de uma ponta de projétil até a construção de edifícios e estruturas – com o intuito de conhecer e aprofundar os saberes sobre as características culturais de uma determinada sociedade. Um dos primeiros projetos na área da Arqueologia Experimental com registros documentais foi desenvolvido na Dinamarca em inícios do século XX, concentrando-se, principalmente, na agricultura pré-histórica. Com objetivos puramente científicos, os focos das experiências se voltaram não apenas para CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 questões relacionadas à produção das espécies cultivadas, mas também – e sobretudo – para o uso de ferramentas do período Neolítico. Os estudiosos pretendiam, com seus estudos, estabelecer hipóteses sobre as técnicas de cultivo e sobre o uso de diferentes tipos de ferramentas. Um interessante exemplo da aplicabilidade da Arqueologia Experimental é o aterro construído em Overton Down, no Sul da Inglaterra, na década de 1960. Este empreendimento consiste em um grande aterro de argila e turfa com 21 metros de longitude, 7 metros de largura e 2 metros de altura, com um fosso paralelo. A intenção do experimento = levado a cabo até hoje – é não apenas estabelecer os modos como se alteram o montículo e o fosso com o transcorrer dos anos, mas também o que acontece com os materiais – como a cerâmica, o couro e os tecidos – que foram enterrados no interior da experimentação na década de 1960. Para a inferência de hipóteses e resultados, tem sido realizada seções estratigráficas no aterro e no fosso que seguem intervalos de 2, 4, 8, 16, 32, 64 e 128 anos; no tempo real, correspondem aos anos de 1962, 1964, 1968, 1976, 1992, 2024 e 2088. Os resultados da pesquisa, até o momento, revelaram- se de grande interesse. Na década de 60, o montículo perdeu 25 centímetros de altura e o fosso foi obstruído com sedimentos com muita rapidez; contudo, desde meados da década de 70 a estrutura se mostrou estável. Em relação aos vestígios materiais enterrados, as provas realizadas quatro anos após o início do experimento revelaram que a cerâmica permaneceu inalterada e o couro foi muito pouco afetado, enquanto os tecidos já se encontravam em processo de debilitação e descoloração (RENFREW & BAHN, 1993). E o professor Sady, o que será que ele tem a falar sobre estas técnicas? Confira no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Legislação Brasileira No dia 30 de novembro de 1937, sob o governo fortemente nacionalista e conservador de Getúlio Vargas, foi promulgado o Decreto-Lei nº 25, com o intuito de instituir e organizar elementos para a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, constituído, conforme seu artigo 1°, pelo “conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico”. Este Decreto-Lei, associado à criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – criado pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937 – foi o resultado das constantes preocupações de Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Cultura, em proteger o patrimônio histórico e artístico brasileiro. Através de seus esforços, pela primeira vez foi instituída uma política cultural oficial para o Brasil e, desde então, “a proteção aos bens culturais passou a fazer parte do sistema jurídico brasileiro, tento sido a partir daí sempre aprimorada” (SOUZA FILHO, 1999 p. 60). Esta lei, com ênfase no tombamento de bens culturais, foi caracterizada, principalmente, por seu alto teor de organização da proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Após a Segunda Guerra Mundial,iniciou-se, de fato, a pesquisa universitária no país, graças, sobretudo, às ações do intelectual Paulo Duarte e de seus contatos com Paul Rivet, diretor do Museu do Homem de Paris. Fundador da Comissão de Pré-História da USP – depois transformada no Instituto de Pré-História –, trouxe para o Brasil os franceses Joseph Emperaire e Annette Laming-Emperaire, iniciando a formação dos primeiros arqueólogos acadêmicos brasileiros. Foi, neste positivo contexto de desenvolvimento das pesquisas arqueológicas nacionais, que ocorreu um dos saltos normativos mais importantes em nossa legislação. Confira! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Por iniciativa direta de Paulo Duarte ocorreu a publicação da Lei n° 3.924, de 26 de julho de 1961. Esta foi a primeira lei federal de proteção ao patrimônio arqueológico, ampliando a preservação destes bens à medida em que coloca, sob a guarda do poder público, “os monumentos arqueológicos ou pré-históricos e todos os elementos neles existentes” (SOUZA FILHO, 1999 p. 70). Foram considerados monumentos arqueológicos, neste documento (Art. 2º): a) As jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos de cultura dos paleoameríndios do Brasil, tais como sambaquis, montes artificiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer outras não especificadas aqui, mas de significado idêntico a juízo da autoridade competente. b) Os sítios nos quais se encontram vestígios positivos de ocupação pelos paleoameríndios tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha; c) Os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, "estações" e "cerâmicos", nos quais se encontram vestígios humanos de interesse arqueológico ou paleoetnográfico; d) As inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios. Qualquer ato que importasse na destruição ou na mutilação dos citados monumentos tornava-se crime contra o Patrimônio Nacional e, como tal, punível a partir das disposições existentes nas leis penais. Esta lei atua, ainda hoje, como o principal instrumento legal de preservação dos vestígios arqueológicos. Também conhecida como “Lei dos Sambaquis”, a referida Lei redobra sua ênfase sobre este tipo de sítio arqueológico, grande alvo, na época, de atividades econômicas predadoras e destrutivas, especialmente das caieiras, que recolhiam as concas dos sambaquis para utilizá-las na pavimentação de estradas e na construção civil: São proibidos em todo o território nacional, o aproveitamento econômico, a destruição ou mutilação, para qualquer fim, das jazidas arqueológicas ou pré- CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 históricas conhecidas como sambaquis, casqueiros, concheiros, birbigueiras ou sernambis, e bem assim dos sítios, inscrições e objetos enumerados nas alíneas b, c, e d [...] antes de erem devidamente pesquisados, respeitadas as concessões anteriores e não caducas. As escavações arqueológicas também sofreram um importante impacto: a partir de então, somente pessoas com autorização prévia da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional teriam o direito de realizarem as atividades, respeitando o proprietário ou o possuidor do solo. Ainda, uma vez que a “posse e a salvaguarda dos bens de natureza arqueológica ou pré-histórica constituem, em princípio, direito imanente ao Estado” (Art. 17º), as descobertas fortuitas de qualquer elemento de interesse arqueológico deveriam, a partir de então, ser comunicadas à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ou aos órgãos oficiais autorizados, fosse pelo autor do achado ou pelo proprietário do local (Art. 18º). Após a Lei 3.924, novas questões referentes ao Patrimônio Arqueológico foram publicadas na Constituição Federal de 1988, tendo-se destaque, aí, o Artigo 216. Conforme abaixo: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, [assim como] os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Esta nova Constituição, visando “proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos” (Art. 20º), segundo Souza Filho (1999, p. 65). [...] foi muito mais profunda que todas as outras e dispensou uma seção inteira aos bens culturais e à cultura. O texto dos constituintes de 1988 traz algumas novidades em relação à trajetória constitucional brasileira, que se CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 resumem num conteúdo de valor cultural que busca a identidade nacional. Assim [...], o Brasil passou a reconhecer, a proteger e enaltecer a diversidade cultural, os valores indígenas, afro-brasileiros e de outros grupos étnicos. [...] A cultura protegida é a praticada, criada e representativa das mais diversas camadas da população, o que, em termos sociológicos, é o povo. No mesmo ano em que foi promulgada a Constituição, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional publicou, no Diário Oficial da União, a Portaria nº 07, de 01 de dezembro, com o intuito de regulamentar os pedidos de permissão e autorização de pesquisa, assim como as comunicações quando do desenvolvimento de trabalhos de campo e escavações arqueológicas em todo o território nacional. Esta Portaria entrava, desta forma, em consonância com a legislações relacionadas ao meio ambiente, dentre as quais a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que introduziu a avaliação ambiental no Brasil com o objetivo de preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade humana (Art. 2º). Foram instituídos, como instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, bem como o licenciamento e a revisão de atividades potencial ou efetivamente poluidoras; além disso, com a Lei, foram motivadas a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que efetivou, com sua Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986, a Avaliação de Impacto Ambiental diante da “necessidade de se estabelecerem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para o uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente”. Conforme a Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem- estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais (Art. 1º, incisos I a V). A partir de então, o licenciamento de atividades que modificassem o meio ambiente – como, por exemplo, construção de linhas de transmissão e de hidrelétricas – dependeria da elaboração de um estudo de impacto ambiental (EIA) e seu respectivo relatório (RIMA). No rol de atividades,foram incluídos, como presente no Art. 6º, o meio socioeconômico – o uso e ocupação do solo, os usos da água e a socioeconômica, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos. Posteriormente, com a publicação da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), “a arqueologia ganhou como um todo um grande aliado, com repercussões no aumento de trabalho para a arqueologia de contrato” (CALDARELLI; SANTOS, 1999-2000 p. 56). A partir de sua publicação, de depredação, destruição e deterioração contra o patrimônio cultural começaram a sofrer sanções penais e administrativas, com pagamento de multas e até mesmo reclusão. No ano de 2002, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – antigo SPHAN – publicou uma nova portaria: a n°230/02. Surgida da necessidade de compatibilizar os procedimentos de pesquisa arqueológica com as etapas do licenciamento ambiental, definiu diferentes escopos para os projetos de pesquisas arqueológicas, cujos formatos se atrelaram às respectivas licenças ambientais: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO). Em 2015, diante da atual necessidade de atualizar determinados aspectos da legislação referente ao patrimônio cultural em processos de licenciamento ambiental, fui publicada, pelo IPHAN, a Instrução Normativa nº001/2015, que estabelece os procedimentos administrativos a serem observados pelo próprio Instituto quando instado a se manifestar nos processos de licenciamentos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 ambientais nos âmbitos municipal, estadual e federal, assim como guiar os pesquisadores em relação às suas atividades. Com sua publicação, a Portaria n° 230/02 foi revogada. É importante ressaltar que, apesar da revogação, existe um período de transição em que seus dispositivos ainda permanecem válidos, envolvendo, sobretudo, os processos de licenciamento ambiental cujos Termos de Referência foram emitidos em data anterior à publicação da Instrução Normativa. Na sequência, o professor Sady continuará falando sobre legislação brasileira. Confira no material on-line. TROCANDO IDEIAS O Instituto Histórico e Artístico Nacional publicou no Diário Oficial a sua Instrução Normativa 01/2015, que informa sobre os procedimentos que os arqueólogos e empresas (de arqueologia ou engenharia) deveram seguir ao realizar uma pesquisa arqueológica. Parte comunidade de Arqueólogos, através da Sociedade de Arqueologia Brasileira, que atuou como mediadora, expôs as críticas e sugestões ao IPHAN sobre essa normativa. Procure no site do IPHAN (http://portal.iphan.gov.br/) e no Site da SAB (http://www.sabnet.com.br/) documentos sobre esse embate, e procure observar quais são os objetivos e propostas de ambos os lados. Após, acesse o fórum que está disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem, deixe a sua opinião e veja também o que os seus colegas responderam. Participe! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Na Prática Um sítio arqueológico do tipo sambaqui será escavado por uma equipe de arqueólogos. Sabemos que os sítios arqueológicos são formados por uma infinidade de tipos de vestígios resultado da ação humana como, por exemplo: na preparação de alimentos, nos rituais funerários, nas moradias, na construção de fogueiras, entre outros. Os arqueólogos só conseguem inferir sobre as ações realizadas nestes espaços quando observa e analisa os vestígios deixados por estas populações: material lítico, lascados e polidos, material malacológico (conchas), sepultamentos humanos e vestígios faunísticos, bem como, observando as alterações na paisagem onde estão localizados os sítios arqueológicos. Baseados então como coordenadores do projeto, uma equipe multidisciplinar precisa ser montada. Quais são os especialistas chamados para ajudar a entender essa população construtora de sambaquis? Essa é uma boa oportunidade para você fazer uma pesquisa e testar os seus conhecimentos. Além de perceber se necessita estudar mais. Aproveite! Síntese Sabemos que a Arqueologia é a ciência que estuda o passado através dos vestígios materiais em contexto, com objetivo maior de interpretar os modos de vida de uma (ou várias) populações, sejam elas passadas ou não. Sabemos também que a é possui como objeto o entendimento das culturas pretéritas através do estudo minucioso dos vestígios materiais. Mas não apenas dos vestígios isoladamente e sim os contextos envolvidos dentro do sítio arqueológico. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 A Arqueologia ainda lida com diversas teorias e especificidades próprias, contudo os conhecimentos adquiridos por outros conhecimentos não só são bem-vindos como são essenciais, pois na essência da ciência arqueológica, a interdisciplinaridade é parte do conhecimento arqueológico. Conhecimento esse, que é destrutivo e não renovável, que deve ser guardado por leis rigorosas de proteção ao patrimônio e graças a um grupo de arqueólogos, na década de 1960 promoveram a primeira lei que rege sobre a proteção dos sítios ou jazidas, termo utilizado na época. Antes de finalizar essa aula, confira o vídeo com as considerações finais do professor Sady! Disponível no material on-line. Referências ARAÚJO, A. Teoria e método em Arqueologia Regional: um estudo de caso no Alto Paranapanema, Estado de São Paulo. Tese (Doutorado em Arqueologia.) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. BINFORD, L. Em busca do passado. A descodificação do registro arqueológico. Portugal: Publicações Europa-América, 1983. FUNARI, P. P. A. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003. RENFREW, C.; BAHN, P. Arqueologia. Teorias, Métodos y Práctica. Madrid: Ediciones Akal, 1993. RAMBELLI, G. Arqueologia Até Debaixo D'água. São Paulo: Maranta, 2004. CALDARELLI, S. B.; SANTOS, M. C. M. M. Arqueologia de contrato no Brasil. In: Revista USP, São Paulo, n. 44, p.52-73, dez. / fev. 1999-2000 SOUZA FILHO, C; F. M. Bens Culturais e proteção Jurídica. Porto Alegre: Unidade Editoral Porto Alegre, 1999. TRIGGER, B. História do Pensamento Arqueológico. Tradução Ordep Trindade Serra. São Paulo: Odysseus Editora Ltda, 2004. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 Redman, C. Multistage fieldwork and analytical techniques. American Antiquity n. 38, 1973, p. 61-79.
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