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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Arqueologia Aula 03 Prof. Sady Pereira do Carmo Junior CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 CONVERSA INICIAL A Arqueologia surgiu a partir da curiosidade humana sobre os objetos do passado e foi se moldando de acordo com o pensamento social em voga, uma visão normalmente definida com os aspectos eurocentristas dessa relação. Como vimos também, grande parte desse pensamento foi definido entre os dois lados do Atlântico Norte, seguindo em tese, o mesmo encaminhamento das demais ciências ocidentais, uma disputa entre os estadunidenses e os europeus. Na Arqueologia, essa divisão teórica se deu praticamente entre uma metade anglo-saxônica e outra francesa, no entanto, grande parte da arqueologia praticada no mundo utiliza teorias e perspectivas da parte mais ocidental dessa dicotomia. Nesses tópicos iremos nos ater às escolas teóricas e suas tendências, assim um mesmo autor pode transcorrer em ambas as perspectivas, ultrapassando um pouco nossa divisão. Outro ponto importante é que trabalharemos no foco das ideias e não das técnicas, pois essas serão tratadas em outra aula. Assim, Conforme Gallay (1986) a Teoria Arqueológica pode ser dividida em uma Arqueologia Descritiva, uma Arqueologia dos Eventos, uma Arqueologia Antropológica e uma arqueologia dos contextos, mas optamos por dividir de acordo com a nomenclatura de escolas teóricas por tratar de conceitos mais amplos e muitas vezes desassociado de temporalidades, ou seja, vamos tratar da Escola Histórico-Culturalista, da Escola Processualista (ou nova arqueologia) e da Escola Pós-Processualista. Confira a introdução do professor Sady Pereira do Carmo Júnior sobre as Teorias da Arqueologia no material online. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 CONTEXTUALIZANDO Contextualizar uma aula de teoria não é tarefa fácil. A teoria é uma formulação científica que, cria, molda, conduz e sustenta o pensamento de uma disciplina. É o definidor da ciência. Uma ciência sem teoria, não é ciência. Sem teoria não existe Arqueologia. As teorias, principalmente nas ciências da humanidade, tendem a se alterar de maneira muito rápida e dispersa, já que autores de uma mesma geração possuem diferenças teóricas. Na arqueologia, esse padrão se segue, existem diferenças teóricas, aplicabilidades de diferentes autores que trabalham em diferentes regiões e com conhecimentos oriundos de diferentes perspectivas, no entanto algumas escolas teóricas são perceptíveis no estudo do pensamento da disciplina e isso pode ser observado nas diferentes épocas. No Brasil a arqueologia se desenvolveu tardiamente e com influência de diversos pesquisadores, oriundos de diversos locais. A arqueologia brasileira tende a ser diversificada e mista. Observe como as escolas teóricas podem ser abrangentes e complementares, procure ler artigos e identificar quais são os conceitos teóricos por de trás dos dados e interpretações. Um exemplo é a arqueóloga Betty Meggers que trabalhou muito no Brasil e coordenou o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). As pesquisas eram de forte caráter histórico-culturalista (escola teórica que tem como base a criação de quadros crono-espaciais das culturas, baseando-se em questões históricas, migração e difusão), no entanto ela foi uma das primeiras arqueólogas a tratar conceitos de adaptabilidade humana ao meio ambiente, uma teoria de cunho processualista. No material online, o professor Sady Pereira do Carmo Júnior contextualiza um pouco mais esse assunto. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 PESQUISE Arqueologia Histórico-Cultural A linha de pensamento da Arqueologia Histórico-Cultural considerava que a história cultural de cada povo somente poderia ser explicada em termos de sua própria história e não em termos de uma fórmula evolucionista. A partir de então, artefatos específicos (fósseis-guia) passam a ser utilizados como guia de culturas arqueológicas e associados a um determinado povo. A Arqueologia Histórico-Cultural, formada em um contexto amplamente caracterizado pela crescente formação dos Estados Nacionais e, portanto, pela presença de um forte e arraigado nacionalismo, é oriunda das tendências que marcaram a disciplina em fins do século XIX e início do XX, mas, desenvolvida principalmente até finais dos anos de1960-70. A arqueologia havia adentrado o século XX marcada pela influência do evolucionismo e dos avanços até então alcançados pela geologia; ainda, a classificação de materiais arqueológicos e o desenvolvimento de tipologias eram vistos como um fim em si, onde a ordenação dos artefatos em tipos levou ao reconhecimento de culturas arqueológicas, definidas pela presença (ou não) de traços comuns em um determinado tempo e espaço. Desta forma criavam-se quadros crono-espaciais e sínteses regionais das culturas pretéritas baseados em tipologias. Assim, houve a preocupação de relacionar os artefatos encontrados nos sítios arqueológicos a grupos étnicos – com o intuito de “aprender mais sobre sua história inicial e como seus ancestrais tinham vivido” (GALLAY, 1986). Para tanto era necessário definir o estilo dos artefatos no espaço e no tempo, tendo como pressuposto que ‘um conjunto de traços (cerâmicas, túmulos, habitações, etc.), regularmente associados uns aos outros, constituem uma cultura pré-histórica’. Essas culturas eram consideradas frutos de desenvolvimentos históricos únicos, devendo, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 portanto, ser entendidas em seus próprios termos (SYMANSKI, 1997: 27) Os complexos de traços regularmente associados, que passaram a compor as culturas arqueológicas foram interpretados como o modo de vida de povos particulares, e a difusão/migração compreendidas como os principais agentes de mudança, responsáveis exclusivos pelo acréscimo ou apagamento dos traços. Desta forma, para os arqueólogos histórico-culturais, as coisas materiais mudam porque as pessoas mudam. A cultura material é vista, portanto, como um reflexo passivo da própria cultura, cabendo ao investigador retirar dos vestígios a poeira do tempo para que os significados aparecessem e, em consequência, o passado pudesse ser reconstruído (LIMA, 2011). Um dos principais pesquisadores dessa escola é o arqueólogo australiano Gordon Childe (1892-1957), que deixou uma grande marca na ciência e no estudo do Neolítico Europeu. Para Childe, o desenvolvimento social foi fortemente influenciado pelas ideias de fora, vizinhos, e, portanto, a disseminação de ideias é de grande importância no desenvolvimento social, em contrapartida com as ideias evolutivas nazistas (Kossina sd apud Trigger 2004) apostas pela evolução independente de cada sociedade (que se destinava a apoiar a supremacia da raça ariana sobre o outro). Assim, este "difusionista" desenvolveu sua teoria do que ele chamou de "revolução neolítica", piscando com a Revolução Industrial (lembre-se a sua influência política ligada ao marxismo), com o qual tentou explicar a mudança de sociedades pré-históricas de caçadores/coletores para as comunidades agrícolas que levou a um novo modelo de organização social: o surgimento de cidades e novas civilizações. Os meios interpretativos sobre o material estão enraizados nas propostas tipológicas de classificação do material arqueológico. Essas tipologias, graças à facilidade em organizaros dados arqueológicos em partes comparáveis, nos proporciona um instrumento de descrição, “podendo sintetizar os dados em uma escala regional e oferecer métodos para investigar áreas desconhecidas” (MELLO, 2005 p. 36). Por exemplo, um determinado artefato, como um CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 machado, pode ser definido por seus atributos de forma, dimensões, matéria- prima e decoração. Assim os machados são classificados de acordo com os mesmos atributos, constituindo tipos e a tipologia agrupa os artefatos a esses tipos. Desta maneira um determinado tipo é um determinante de um período e de um lugar específico, pois os artefatos são característicos da sociedade que os criou. Logo, os pesquisadores podem classificá-los de acordo com seus estilos, atribuindo lhes um lugar concreto dentro de uma sequência tipológica e assim, configurar uma relação entre as tipologias e criar os quadros crono- espaciais. Um segundo conceito é a observação das características estilísticas, que segundo uma teoria de cunho mais voltado para as teorias evolucionistas, essa mudança geralmente é gradual e evolutiva. Nessa perspectiva, os artefatos fabricados em um mesmo local numa mesma época preservariam as mesmas características, enquanto que ao passar do tempo as similaridades iriam se alterando. O resultado é o agrupamento de artefatos similares mais próximos, tendo como consequência a geração de uma cronologia relativa, do mais antigo para o mais novo. (RENFREW; BAHN, 1991). Fonte: RENFREW; BAHN, 1991. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 O histórico-culturalismo deixou profundas raízes na disciplina, influenciando não apenas os procedimentos de coleta de dados em campo e de análise de laboratório, mas, principalmente, a interpretação da cultura material. Conforme LIMA (2011: 13-14), esta abordagem “estabeleceu como padrão de qualidade o recolhimento acurado do maior número possível de evidências materiais em campo, entendendo que, quanto mais elementos reunidos, melhores as possibilidades de interpretação do modo de vida de um grupo em estudo”; ainda, a etapa analítica, “explorou intensamente as técnicas para identificar, classificar e interpretar a cultura material”, de forma a colocar o laboratório como principal núcleo da prática arqueológica. O paradigma histórico-cultural aproximou a arqueologia da história em sua procura por particularidades; contudo, seu poder explanatório era fraco, levando alguns pesquisadores a considerarem uma abordagem substituta pré-literária para a história política e militar (SYMANSKI, 1997). Embora bem-sucedida ao longo de um vasto período, o paradigma acabou por produzir mais informações do que propriamente conhecimentos, logo inúmeras críticas acabaram por influenciar o surgimento de um novo paradigma: o processualismo. A escola Histórico-Culturalista foi um dos grandes pensamentos teóricos da arqueologia, hoje suas teorias são alvo de duras críticas, principalmente ao pensamento evolucionista que ditou o ritmo interpretativo. Qual foi uma das principais heranças da escola histórico- cultural? A principal herança da Escola Histórico-Cultural de Arqueologia foi aproximar o arqueólogo do laboratório e criar as primeiras maneiras de análise do objeto a fim de interpretar os artefatos e compará-los com outros povos, criando por sua vez, mapas de dispersão e difusão. No material online, o professor Sady Pereira do Carmo Júnior explica mais sobre a Arqueologia Histórico-Cultural. Não perca! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Arqueologia Processual A arqueologia processual, também amplamente conhecida como New Archaeology, desde a década de 1960, tem sido um importante enfoque teórico e metodológico para a disciplina. Seu principal argumento fixa-se na ideia de que a compreensão das causas da mudança cultural (ou seja, do processo) nos mais distintos contextos culturais e meio-ambientais deveria ser o principal (e mais importante) objetivo da arqueologia. Embora seu impacto tenha sido especialmente sentido na prática arqueológica dos Estados Unidos e, em geral, na América Latina, sua influência se difundiu em vários cantos do globo. Em sua base original, a New Archaeology surgiu como uma forma de questionamento e, sobretudo, de alternativa ao paradigma até então dominante: o enfoque histórico-cultural, vastamente aceito entre os profissionais da arqueologia até meados do século XX. Alguns arqueólogos, insatisfeitos com vários pontos praticados pelo histórico-culturalismo (principalmente em relação às sequências arqueológicas, às suas formas de classificação, à grande ênfase histórico-descritiva e ao difusionismo) percebiam que a grande atenção conferida às classificações espaciais e temporais estava fazendo com que a compreensão dos povos antigos e de suas atividades fosse cada vez mais esquecida, e que as “culturas” às quais tanto se referiam eram, tão somente, uma espécie de esboço, sendo pouco ilustrativas acerca do real funcionamento das culturas do passado. Um nítido exemplo deste novo pensamento foi exposto, já em 1948, por Walter W. Taylor, que afirmou que os pesquisadores deveriam empregar seus esforços nas análises artefatuais não para simplesmente classificá-los no espaço e no tempo, mas para desvelar as funções dos materiais estudados. Outros investigadores defenderam que os arqueólogos deviam, também, prestar mais atenção nas interações entre as culturas do passado e no meio ambiente, enquanto outros propuseram uma maior atenção ao desenvolvimento evolutivo das culturas. Os arqueólogos processuais afirmavam, ainda, que o arqueólogo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 deveria entender que o principal não era produzir descrições, mas encontrar explicações que necessitariam estar apoiadas em uma clara compreensão do registro arqueológico. Dentre os principais pontos chave da New Archaeology, quatro tiveram maior destaque. Recusa dos conceitos de cultura: como compreendido pela “Arqueologia Tradicional”, difusão e migração, adotando o adaptacionismo como conceito elementar para explicar as variações ocorridas na sociedade. A mudança cultural seria, aqui, um resultado de fatores internos, ou seja, “respostas adaptativas a alterações ocorridas no meio ambiente ou nos sistemas culturais adjacentes e competidores” (TRIGGER, 2004). Ênfase na interpretação da cultura como parte de um sistema conformado pela estreita conjunção de vários aspectos: políticos, sociais, econômicos, tecnológicos e ideológicos. Para a New Archaeology, “a cultura constitui um sistema integrado, feito de diferentes subsistemas (...) e o vestígio arqueológico tem que ser olhado como um produto de uma variedade de processos do passado em vez de simplesmente um reflexo das normas ideacionais” (JONES, 1997 apud SCHIAVETTO,2003). Importância da ecologia cultural e a necessidade de olhar a interação entre cultura e meio ambiente através de um viés sistêmico, colocando em evidência, sobretudo, a relação existente entre tecnologia e meio ambiente. Busca pelas regularidades no desenvolvimento da complexidade cultural. A apreensão e compreensão das regularidades nos processos de mudanças culturais foi uma das maiores bandeiras levantadas pela arqueologia processual. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 O principal anseio da arqueologia processual era, por meio da escavação de artefatos do passado, vislumbrar sistemas sociais e, especialmente, resgatar a filosofia do povoque deixou seus resquícios materiais. Assim, os arqueólogos processuais buscavam sempre tentar deduzir como os artefatos funcionavam no contexto do sítio arqueológico, evidenciando, concomitantemente, o sistema social (SCHIAVETTO, 2003). A arqueologia processual valoriza o tempo e as mudanças culturais, tendo como objetivo principal, compreender quais são as causas das mudanças culturais (processo cultural) nos contextos culturais e ambientais em transformação. Lewis Binford, como um dos percussores, é também um dos pesquisadores com maior destaque nessa Nova Arqueologia. Para ele a cultura deveria ser analisada de forma sistêmica e processual na qual o processo se refere às relações dinâmicas de causas e efeitos que operam entre os componentes do sistema e o meio ambiente (BINFORD, 1968, p. 269). A Arqueologia Processual surge por meio da observação dos registros arqueológicos como uma série de explicações e leis gerais sobre o funcionamento do comportamento cultural humano, diante das condições e eventos do passado e do meio ambiente, dado a sua aproximação com as ciências naturais e com a antropologia, em especial a antropologia Física, sobre adaptabilidade humana. A Arqueologia Processual busca entender e explicar o sistema que está por trás dos indivíduos e materiais de uma cultura. Esse sistema é constituído por partes que se interagem e que estão em constante relação com o meio ambiente natural. A estratégia é isolar cada sistema e estudar cada uma de suas variáveis separadamente. O objetivo final é a reconstituição completa do padrão de articulação, ao longo de todos os sistemas relatados (FLANERY, 1973, p 105, tradução nossa). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Assim sendo, a arqueologia processual buscava compreender quais os mecanismos que regulam essas variáveis, entendendo a Cultura como um extrassomático de adaptação humana ao meio ambiente. O sistema cultural deve ser visto num contexto adaptativo tanto social como ambiental; não como o resultado de influências, estímulos, ou até mesmo migrações entre unidades geograficamente distintas (BINFORD, 1962). A origem desse pensamento é relacionada ao neoevolucionismo, uma corrente teórica da arqueologia que na década de 1960, ao contrário do evolucionismo do século XIX entendia o desenvolvimento cultural de forma gradual. Dessa forma as culturas se desenvolveriam a partir de um centro de origem e se tornariam mais complexas com o passar do tempo. A ideia é procurar explicar a cultura de acordo com a energia disponível por indivíduo, assim a cultura evolui na medida em que a quantidade de energia utilizada aumenta. (TRIGGER, 2004, p. 283). As técnicas seguiriam uma evolução progressiva resultante da eficiência da aplicação da energia ao trabalho. Seus principais pesquisadores são os antropólogos culturais Julian Steward e Leslie White (TRIGGER, 2004, p. 283). A abordagem processual tem como característica investigativa (e deixou como herança na arqueologia, a interdisciplinaridade com outras ciências, como a biologia, a zoologia, a física, a estatística e a geografia. Além de trazer para a arqueologia anglo-saxã a experimentação em arqueologia e a observação de grupos étnicos afim de criar analogias sobre as populações do passado. Os pressupostos da New Archaeology tiveram seu grande apogeu entre as décadas de 1960 e 1970. O alvorecer dos anos 80 foi acompanhado pelo início das críticas à corrente, que seguiram com a intenção de quebrar a hegemonia teórica do funcionalismo e do positivismo arraigada aos métodos arqueológicos. Neste cenário crítico, muitos estudiosos argumentaram que a arqueologia não poderia ter pretensões de ser neutra e objetiva, que sua teoria preteria as buscas de padrões universais e deixava de lado questões como religiosidade, ideologia e outras manifestações da cultura e, principalmente, que CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 o estudo da adaptação, da subsistência e do impacto ecológico nas sociedades não deveria ter tanta prioridade nos estudos arqueológicos. Cite o principal marco de mudança teórica adotado pela Nova Arqueologia na década de 1960. O principal paradigma de mudança é o caráter cientificista adotado pelos pesquisadores, introduzindo pela primeira vez, métodos estatísticos e problemáticas hipotético-dedutivas. Quer entender mais os principais aspectos da Arqueologia Processual. Assista à explicação do professor Sady Pereira do Carmo Júnior no material online. Arqueologia Pós-Processual A Arqueologia Pós-Processual teve seu início como uma forma de resposta aos diversos problemas identificados na arqueologia processual. Suas críticas se centravam, especialmente, na atenção prestada pelos processualistas nas tecnologias adaptativas, na adoção da antropologia como principal aliada da disciplina (colocando em xeque o contexto histórico na arqueologia) e à restritiva definição da arqueologia como ciência positiva (ou seja, objetiva e neutra). As críticas fizeram sentir seus impactos, primeiramente, na Grã-Bretanha e na Escandinávia, logo se difundido para os quatro cantos do mundo. Os principais argumentos apontados pela crítica pós-processual se referiam aos significados do simbolismo, à história e aos enfoques críticos. Nos anos sessenta e setenta, a arqueologia processual havia proposto que a cultura material deveria ser estudada em termos de processo adaptativo a longo prazo; parecia, assim não se ter em conta a ampla importância da dimensão simbólica da cultura material sobre a compreensão que os atores sociais teriam do mundo que os cercava. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Os arqueólogos pós-processuais, seguindo o trabalho de antropólogos como BORDIEU (1977), TURNER (1969) e SAHLINS (1977) afirmariam, portanto, que a cultura material teria de fato um significado, pois “por detrás de toda a espécie de produção material humana, há algo mais do que a funcionalidade da existência dos objetos” (SCHIAVETTO, 2003: 41). Um dos principais representantes desse movimento é o arqueólogo britânico Ian Hodder. De acordo com Hodder a arqueologia processual é, quase por definição, uma arqueologia funcionalista, posto que a noção de sistema está fortemente ligada ao conceito de função. Hodder observa que, para os processualistas, todos os aspectos da cultura têm propósitos utilitários, em termos dos quais eles podem ser explicados (HODDER, 1992:96 [1982]). Visite o site sobre as escavações de Hodder na Turquia clicando no link a seguir. http://www.catalhoyuk.com/ Para Hodder, esse tipo de pensamento dicotômico entre cultura e adaptação da arqueologia processualista acabou por bloquear o desenvolvimento da arqueologia, pois as culturas, além de funções, atividades e necessidades, apresentam uma estrutura que deve ser entendida por seus próprios meios. Ou seja, existe um relacionamento direto entre o comportamento e a cultura material com diversas redes de significado que os arqueólogos devem interpretar. Os itens materiais adquirem significados simbólicos que irão variar de acordo com o contexto cultural no qual se encontram. Para poder compreender tais significados os arqueólogos são obrigados a examinar o contexto histórico específico de cada cultura, assim, há uma reaproximação da arqueologia com a história (HODDER, 1986). Em relação à história, abandonada pela arqueologia processual em detrimento da antropologia, o pós-processualismo, traz novamente à tona problemas que foram discutidos pela geração mais antiga de arqueólogoshistórico-culturalistas. Os pesquisadores passam a salientar a grande CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 importância do contexto histórico, pregando a necessidade de seu retorno aos estudos arqueológicos. Desta maneira, embora seja possível afirmar que certas tecnologias permitem o uso do meio ambiente de forma universal, o significado simbólico é – ao menos em parte – arbitrário, ou seja, é determinado por um contexto histórico concreto, estando definido por relações humanas específicas em circunstâncias concretas. Assim, a arqueologia seria particularmente apta a contribuir para uma história de longa duração, permitindo a possibilidade de se alcançar o nível estrutural de uma sociedade, bem como a compreensão de seus processos de manutenção e transformação cultural (SYMANSKI, 1997). Uma crítica adicional colocada pelos pós-processuais à New Archaeology refere-se à sua maneira de enxergar a cultura material como passiva, sendo entendida, portanto, como uma ferramenta para responder ao meio ambiente. Os seres humanos também apareciam sem rosto e personalidade, respondendo de maneira passiva às exigências do mundo que lhes rodeava. Em contrapartida a estas ideias, para o pós-processualismo, a cultura material se comporta de forma ativa, pois é utilizada e manipulada por seres humanos para levar a cabo diversas mudanças sociais e transformar as ideologias por meio das quais se interpretava o mundo (HODDER, 1982; MILLER & TILLEY, 1984). Ainda, acompanhando as ideias expressas por BORDIEU (1977), os seres humanos deixaram de ser observados como simples fantoches com comportamentos dirigidos para ser considerados seres capazes de analisar e transformar o mundo que lhes rodeava. O passado, para os pós-processuais, não pode ser totalmente apreendido, ficando sujeito a diversas interpretações que não excluem a influência de nosso presente: “o passado, então, já passou; ele não pode ser recapturado em si, revivido como objeto. Ele somente existe agora em sua conexão com o presente, na prática presente de interpretação” (SHANKS & TILLEY, 1987 apud SCHIAVETTO, 2003: 42). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 O pós-processualismo, desta forma, admite o caráter discursivo da arqueologia como ciência, discurso este construído sob uma óptica que pretende ser interdisciplinar. Esta pluralidade, muitas vezes, consiste na possibilidade de coexistência de abordagens muitas vezes observadas como contraditórias. No pós-processualismo, não se trata de preterir correntes teóricas apontando-as como ultrapassadas, mas, sim, de repensá-las em outros contextos e abordá-las criticamente, fazendo da arqueologia um exercício auto- reflexivo e voltado para questões sociais” (SCHIAVETTO, 2003: 42) A abordagem pós-processual está mais sujeita à crítica do que o viés histórico-cultural e processual. Isto se deve ao fato dela partir de bases idealistas para refletir sobre os vestígios materiais do passado, levando, desta maneira, a interpretações fortemente subjetivas que a colocam, conforme seus críticos mais radicais, fora do contexto da ciência. Por outro lado, muitos estudiosos a consideram uma perspectiva viável para contextos históricos, tendo-se em vista o auxílio proporcionado pelos registros escritos na reconstituição do passado (SYMANSKI, 1997). Esta abordagem parte da noção que toda a cultura material possui uma dimensão simbólica e seu significado depende, portanto, do contexto cultural no qual se encontram. A compreensão de uma determinada decoração cerâmica, das formas das casas, etc., implica na investigação das regras ou significados “ocultos” (estruturas de significado) por detrás dos aspectos técnicos e funcionais. Considera ainda, que as próprias explicações arqueológicas variam conforme o contexto histórico e social do pesquisador. Surgida como uma crítica à arqueologia dogmática e cientificista, a escola pós-processualista, possui como base a interpretação do simbolismo na cultura material. Esta Escola Teórica rejeita qualquer relação direta e universal entre comportamento humano e cultura material, já que as “coisas” estão carregadas de significados próprios e que afetam quaisquer explicações meramente funcionais (ex. para tal forma, tal função). Assim, toda a cultura material possui CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 uma dimensão simbólica (inclusive no “lixo” ou nos objetos descartados, etc.), e que irá variar de acordo com o contexto cultural no qual se encontram. Seriam então, essas estruturas de significado que deveriam ser interpretadas pelos arqueólogos, pois os objetos são testemunhos de um sistema de crenças num sentido amplo. A compreensão de uma determinada decoração cerâmica, das formas das casas, etc., implica na investigação das regras ou significados “ocultos” por detrás dos aspectos técnicos e funcionais. Por sua vez, a cultura material é vista como ativamente manipulada pelas pessoas, não sendo um reflexo passivo de um conjunto de normas culturais. Ian Hoder (1987) refere-se aos arqueólogos pós-processuais (contextuais, pós-positivistas) de “arqueo-historiadores” contextuais em contrapartida aos arqueólogos-antropólogos da New Archaeology. Baseado nas informações dadas, por que Hodder utilizaria esse termo? Hodder criou o termo a partir da constatação que, com a arqueologia pós- processual/contextual, ocorreu um retorno total à história e à discussão de problemas de caráter histórico. Onde é possível verificar que determinadas tecnologias são parte de vários ambientes e que o significado simbólico é determinado por contexto histórico, a partir de eventos de longa duração. No material online, o professor Sady Pereira do Carmo Júnior fala mais sobre a Arqueologia Pós-Processual. Confira! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 A Arqueologia Brasileira A Arqueologia Brasileira é de certa forma uma híbrida de diversas influências e de diversos atores, como o Dinamarquês Peter Lund (1801- 1880) conhecido como o pai da paleontologia brasileira, que escavou diversas grutas em Lagoa Santa, interior de Minas Gerais e, assim como os dinamarqueses, defende a ideia de que foram os humanos que originaram os famosos sambaquis. Após o Lund, podemos citar o Alagoano, Diretor do Museu Nacional, Ladislau Neto (1838- 1894) que enviou equipes a fim de se recuperar objetos dos sambaquis que estavam em eminente destruição, confirmando cada vez mais essa origem humana e não natural para esses montes de conchas encontrados no litoral (PROUS, 1992). Caso esteja com dúvida sobre o que são os sambaquis. Clique no link a seguir. http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-sao-sambaquis Até D. Pedro II participou efetivamente desse período, enriquecendo o Museu Nacional com material das primeiras escavações pré-históricas no mundo e com coleções de diversos lugares; e até observou a retirada de esqueletos de um “casqueiro”. Nessa época, logo após o fim do Império, existiam três instituições que tratavam de arqueologia, o Museu Nacional e o Museu Paulista, enquanto Emilio Goeldi reorganizava o Museu Paraense (PROUS, 1992). As instituições capitaneavam a discussão mais importante no momento, a origem artificial ou natural desses concheiros-sambaquis. O Alemão Hermann von Lhering (1850 - 1930), diretor do Museu Paulista, confiante da superioridade germânica, não aceitava as evidências apresentadas pelo Museu Nacional, mas realizava testes experimentais com machados pedra para cortar árvores, avaliandoas técnicas e os resultados. Aliás, nota-se também uma rixa entre a instituição da corrente naturalista dos sambaquis em São Paulo e a instituição CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 imperialista e artificialista no Rio de Janeiro. No entanto, até meados da década de 1940, ainda eram discutidas as origens dos sambaquis (PROUS, 1992). Já na Amazônia, Emilio Goeldi escava a necrópole de Cunani e K. Rath, um sítio na ilha de Marajó, mostrando suas belíssimas cerâmicas encontradas. Em 1885, Ladislau Neto com o egiptólogo e americanista Paul L’Epine, publicaram quadros comparativos entre a decoração dessas cerâmicas e os objetos arqueológicos egípcios, chineses, mexicanos e indianos. (PROUS, 1992) Infelizmente, a arqueologia brasileira não progrediu no período entre guerras e acabou caindo em pesquisas isoladas até a década de 1950. Segundo Prous, esse período é demarcado por diversos amadores, construindo um período formativo moderno, que se estende até 1965. Um período que demarcou um embate entre “profissionais” e “amadores”, como o caso do alemão Guilherme Tiburcius, um artesão de Curitiba interessado no passado e nas antiguidades indígenas. Tiburcius, em parceria com o geólogo, geógrafo, geomorfólogo, engenheiro químico, João José Bigarella, reuniu uma extensa coleção de esqueletos e artefatos de sambaquis do litoral norte de Santa Catarina e do Litoral Paranaense, além de artefatos e peças do planalto paranaense. Muitos dos Sítios escavados por Tiburcius não existem mais e as únicas informações são as coletadas por ele. Seu Acervo hoje encontra-se no Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville (MASJ). Por volta dos anos 50, uma tríade de personalidades de pesquisadores surgiu em prol do patrimônio arqueológico. L. de Castro Faria, do Museu Nacional, José Loureiro Fernandes da Universidade do Paraná (criador do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas e do Museu de Arqueologia e Artes Populares, hoje Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR) e Paulo Duarte, político do Estado de São Paulo, diretor do Musée de L’Homme, de Paris – da comissão de Pré-História. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Os três pesquisadores, além das escavações em sambaquis do litoral, encabeçaram e conseguiram promulgar uma legislação sobre a proteção dos bens arqueológicos (que vimos na primeira aula). Eles também incentivaram a realização de cursos e estágios de formação, onde os profissionais brasileiros iriam aprender e receber orientação com pesquisadores estrangeiros. Os convidados franceses Joseph Emperaire e sua esposa mme. Annette Laming-Emperaire escavaram sítios no Interior do Paraná e em sambaquis do litoral do Paraná e São Paulo, dessas pesquisas originou-se as primeiras datações por rádio carbono no Brasil, as primeiras escavações no estilo Sítio- Escola e a publicação de um guia para análise do material lítico na América do Sul. Discípulas de mme. Laming-Emperaire, Luciana Pallestrini e Niede Guidon, foram no início dos anos de 1960 estudar na França, com teses de doutorado voltadas para pré-história brasileira. Ambas as pesquisadores perpetuaram parte do que se chama de linha francesa na arqueologia brasileira. Após vários outros pesquisadores, de menor (Adam Orssich, A. Bryan) ou de maior influência como o estadunidense Wesley Hurt, que escavou sambaquis do litoral do Paraná e Santa Catarina e na região de Lagoa Santa em Minas Gerais e o espanhol Valentin Calderón com escavações no recôncavo baiano, um outro casal, desta vez vindo dos Estados Unidos, Clifford Evans e Betty Meggers, escavaram a foz do rio Amazonas entre os anos de 1949 e 1950. Seus grandes feitos nesse período estão relativos a interpretação da cerâmica e na antiguidade da cerâmica. Em 1964 eles orientaram um seminário sobre sítios cerâmicos, explicando o método Ford, que chamou bastante a atenção. “Podemos considerar que, desde 1964-1966, a maior parte dos trabalhos sobre material lítico inspirou-se na orientação dos Emperaire, enquanto aqueles que se referem a cerâmica obedecem as normas elaboradas pelos Evans.” (PROUS, 1992:14) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 A arqueologia no Brasil se deve a esses casais, franceses ou norte- americanos, que a convite de brasileiros obstinados se tornaram parceiros de todo o pioneirismo da arqueologia moderna no Brasil. Devemos a eles nossa formação e vocação. E foi nesse momento que a arqueologia acabou se dividindo em duas frentes, acolhendo as abordagens francesas e americanas. O PRONAPA Como consequência do seminário aplicado por Clifford Evans e Betty Meggers, foi elaborado um grande projeto de Arqueologia que abarcaria grande parte do território brasileiro. Reuniu-se vários pesquisadores isolados do Sul e Nordeste com o Museu Paraense Emilio Goeldi, o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional e a Smithsonian Intitution. O Projeto foi nomeado Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). O principal objetivo do PRONAPA era compreender rapidamente a pré- história brasileira por meio de uma metodologia unificada. Nela, foram utilizadas abordagens de surveys (prospecções sistemáticas) em vários territórios, também foram realizadas escavações por amostragem em pequenas e poucas sondagens (normalmente 1m x 1m), por meio do método Ford (repassado por Evans e Meggers) que estabeleceu as tradições e fases arqueológicas das principais (e diversas) regiões ecológicas do Brasil. Como escolha metodológica, optou-se pela não evidenciação de contextos arqueológicos e a negação da necessidade científica de evidenciar as estruturas arqueológicas dos sítios selecionados para serem escavados. Nesse sentido criou-se um mapa de dispersão de cultura de material (alguns autores associavam à grupos étnicos ou a culturas) no território nacional. Essas "tradições" e "fases" são unidades descritas por um conjunto de características em função da presença de determinadas categorias de artefatos considerados diagnósticos, em que a relação morfologia-função foi priorizada no intuito de defini-los em categorias de tipos. Esses artefatos passaram a funcionar na pesquisa arqueológica brasileira como fósseis-guias, ou seja, determinados CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 tipos artefatuais associados a uma cultura específica. A criação de um tipo é baseada num conjunto de atributos ou num conjunto de objetos, visando à comparação com outros conjuntos, independente da coincidência ou não com os tipos originalmente delineados. (HILBERT, 2005). O conceito de tradição, como originalmente definido pelo PRONAPA (CHMYZ, 1966, p. 20), subentende tratar-se de “grupos de elementos ou técnicas que se distribuem com persistência temporal”. Mas infelizmente a análise do material não seguia atributos técnicos e sim morfológicos. Outra categoria analítica para definição de fases e tradições era a seriação, um método de observação da frequência de determinados tipos em várias épocas, criando modelos de moda. Apesar de usarem ideias da Arqueologia Processualista fundamentando-se no conceito de Ecologia Cultural (de que as culturas e as sociedades representam as adaptações a um ecossistema, gerando determinismos ecológicos), o maior legado é difusionista, um conceito histórico-culturalista que implicou em quadros crono-espaciais da pré-história brasileira em que determinadas tradições arqueológicas estão implícitas em determinados ambientes produzindo determinados artefatos. Os dados arqueológicos obtidos em cinco anos de pesquisas foram publicadosem “Publicações Avulsas do Museu Emilio Goeldi” em forma de cinco relatórios (PRONAPA, Relatórios n 1, 2, 3, 4 e 5). As influências francesas O que se convencionou em chamar de missões franco-brasileiras foram as atividades lideradas por alguns pesquisadores alunos da mme. Annette Laming-Emperaire, que por sua vez foi aluna do etnólogo e arqueólogo francês André Leroi-Gourhan, que possuía uma arqueologia etnográfica-estruturalista baseada no método de escavações etnográficas, que correspondiam a uma abordagem de “superfícies amplas”, na “técnica de decapagens por níveis naturais” e no registro topográfico, visando uma tridimensionalidade do sítio. Uma perspectiva voltada para questões intra-sítio. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Várias Instituições como o Museu Nacional, o Museu Paulista, O Instituto de Pré-história da USP e o Museu de Arqueologia da UFSC, por meio de seus pesquisadores não adotaram a perspectiva pronapiana e optaram pelos métodos de maior detalhe dos sítios, em detrimento das prospecções e análises rápidas. Essa perspectiva ficou conhecida no Brasil pelas pesquisas de Luciana Pallestrini, no rio Paranapanema em São Paulo, mas contou com diversos outros pesquisadores, como André Prous (Minas Gerais), M. Andreatta (Paraná e Goiás), D. Uchoa (São Paulo), M. Beltrão (Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo) e N. Guidon (Piauí). Todos esses pesquisadores foram alunos e formaram alunos nessa metodologia de escavação. Essa metodologia permite uma visão mais rica dos fatos arqueológicos, dos eventos e das interpretações do sítio, mas em detrimento das prospecções extensas, que identificamos rapidamente em diversos sítios no país. Podemos observar por meio desse histórico da Arqueologia no Brasil, que a influência externa foi direta, e depois trocada por seguidores brasileiros. Hoje a arqueologia nacional possui uma grande influência das duas metodologias, ambas carregam as qualidades e continuam a propagar seus defeitos. Para saber mais da história da Mme. Annette Laming Emperaire, assista ao vídeo indicado a seguir. https://www.youtube.com/watch?v=-xHxa01R2vE Uma crítica que podemos fazer aos métodos pronapianos é relativo à definição de tradições e fases arqueológicas baseadas em apenas elementos culturais específicos, como a forma de uma ponta de flecha ou a decoração de uma cerâmica. Qual outra crítica podemos tecer sobre os métodos aplicados por essa empreitada? O método pronapiano optou pela não evidenciação de contextos arqueológicos e a negação da necessidade científica de evidenciar as estruturas arqueológicas dos sítios selecionados para serem escavados. Como esse método arqueológico foi utilizado no Brasil, criou-se um mapa de dispersão de cultura material no território nacional.” CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Quer saber mais sobre a arqueologia brasileira? O professor Sady Pereira do Carmo Júnior fala mais sobre ela no material online. TROCANDO IDEIAS Vários autores discordam e aprovam determinadas teorias ou a aplicação das mesmas, discutem métodos e criam técnicas, mas é com base no debate e na leitura de estudos de caso e na pesquisa que conseguimos observar as diferenças arqueológicas e propor novas perspectivas. Por isso, procure em artigos e teses de doutorado de instituições como o MAE-USP ou o Museu Nacional-UFRJ as diferentes perspectivas teóricas tratadas nessa rota. NA PRÁTICA A história da disciplina passou por diversas mudanças desde a sua formação, intercalando conceitos advindos de outras áreas e as modificando e adaptando aos contextos arqueológicos, ajudando a arqueologia a se tornar uma ciência única, que por meio dos vestígios materiais tenta criar um passado. Artigos de teoria arqueológica são facilmente encontrados na internet, e uma tabela de Bruce G. Trigger resume muito bem a história do pensamento arqueológico. Acesse-o clicando no link a seguir. http://ccdd.uninter.com/dev/designer/dilmar/ccdd_grad/historia/arqueolog ia/a3/includes/pdf/arqueologico.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 SÍNTESE A história da arqueologia passou por diversas mudanças desde a sua formação, intercalando conceitos advindos de outras áreas e os modificando e adaptando aos contextos arqueológicos, ajudando a arqueologia a se tornar uma ciência única, que por meio dos vestígios materiais tenta criar um passado. A história da disciplina perpassa várias ideias de como interpretar o registro e foca ora em abordagens históricas ora sincrônicas, mas hoje podemos observar uma mescla de todas as principais abordagens teóricas em um mesmo estudo, observando as diretrizes analíticas dos vestígios feitas pelos histórico- culturalistas, observando as influências do meio e do comportamento técnico, assim com os arqueólogos da nova arqueologia, e configurando perspectivas culturais e simbólicas aventadas pelos seguidores do Ian Hodder. Assista às considerações finais do professor Sady Pereira do Carmo Júnior sobre os temas abordados nesta rota no material online. Referências BINFORD L.R. New Perspectives in Archaeology (1968) BINFORD, L. R. (1962). "Archaeology as Anthropology". American Antiquity 28 (2): 217–225 BORDIEU, P. Outline of a Theory of Practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1977. CHMYZ, I. Terminologia Arqueológica Brasileira para a Cerâmica: manuais de arqueologia. 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