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Teorias da Arqueologia

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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
1 
 
 
 
 
 
Arqueologia 
 
 
 
 
 
Aula 03 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Sady Pereira do Carmo Junior 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A Arqueologia surgiu a partir da curiosidade humana sobre os objetos do 
passado e foi se moldando de acordo com o pensamento social em voga, uma 
visão normalmente definida com os aspectos eurocentristas dessa relação. 
Como vimos também, grande parte desse pensamento foi definido entre os dois 
lados do Atlântico Norte, seguindo em tese, o mesmo encaminhamento das 
demais ciências ocidentais, uma disputa entre os estadunidenses e os europeus. 
Na Arqueologia, essa divisão teórica se deu praticamente entre uma 
metade anglo-saxônica e outra francesa, no entanto, grande parte da 
arqueologia praticada no mundo utiliza teorias e perspectivas da parte mais 
ocidental dessa dicotomia. Nesses tópicos iremos nos ater às escolas teóricas e 
suas tendências, assim um mesmo autor pode transcorrer em ambas as 
perspectivas, ultrapassando um pouco nossa divisão. Outro ponto importante é 
que trabalharemos no foco das ideias e não das técnicas, pois essas serão 
tratadas em outra aula. 
Assim, Conforme Gallay (1986) a Teoria Arqueológica pode ser dividida 
em uma Arqueologia Descritiva, uma Arqueologia dos Eventos, uma Arqueologia 
Antropológica e uma arqueologia dos contextos, mas optamos por dividir de 
acordo com a nomenclatura de escolas teóricas por tratar de conceitos mais 
amplos e muitas vezes desassociado de temporalidades, ou seja, vamos tratar 
da Escola Histórico-Culturalista, da Escola Processualista (ou nova 
arqueologia) e da Escola Pós-Processualista. 
 
Confira a introdução do professor Sady Pereira do Carmo Júnior 
sobre as Teorias da Arqueologia no material online. 
 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
3 
CONTEXTUALIZANDO 
Contextualizar uma aula de teoria não é tarefa fácil. A teoria é uma 
formulação científica que, cria, molda, conduz e sustenta o pensamento de uma 
disciplina. É o definidor da ciência. Uma ciência sem teoria, não é ciência. Sem 
teoria não existe Arqueologia. As teorias, principalmente nas ciências da 
humanidade, tendem a se alterar de maneira muito rápida e dispersa, já que 
autores de uma mesma geração possuem diferenças teóricas. Na arqueologia, 
esse padrão se segue, existem diferenças teóricas, aplicabilidades de diferentes 
autores que trabalham em diferentes regiões e com conhecimentos oriundos de 
diferentes perspectivas, no entanto algumas escolas teóricas são perceptíveis 
no estudo do pensamento da disciplina e isso pode ser observado nas diferentes 
épocas. 
No Brasil a arqueologia se desenvolveu tardiamente e com influência de 
diversos pesquisadores, oriundos de diversos locais. A arqueologia brasileira 
tende a ser diversificada e mista. Observe como as escolas teóricas podem ser 
abrangentes e complementares, procure ler artigos e identificar quais são os 
conceitos teóricos por de trás dos dados e interpretações. 
Um exemplo é a arqueóloga Betty Meggers que trabalhou muito no Brasil 
e coordenou o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). As 
pesquisas eram de forte caráter histórico-culturalista (escola teórica que tem 
como base a criação de quadros crono-espaciais das culturas, baseando-se em 
questões históricas, migração e difusão), no entanto ela foi uma das primeiras 
arqueólogas a tratar conceitos de adaptabilidade humana ao meio ambiente, 
uma teoria de cunho processualista. 
 
No material online, o professor Sady Pereira do Carmo Júnior 
contextualiza um pouco mais esse assunto. 
 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
4 
PESQUISE 
Arqueologia Histórico-Cultural 
A linha de pensamento da Arqueologia Histórico-Cultural considerava que 
a história cultural de cada povo somente poderia ser explicada em termos de sua 
própria história e não em termos de uma fórmula evolucionista. A partir de então, 
artefatos específicos (fósseis-guia) passam a ser utilizados como guia de 
culturas arqueológicas e associados a um determinado povo. A Arqueologia 
Histórico-Cultural, formada em um contexto amplamente caracterizado pela 
crescente formação dos Estados Nacionais e, portanto, pela presença de um 
forte e arraigado nacionalismo, é oriunda das tendências que marcaram a 
disciplina em fins do século XIX e início do XX, mas, desenvolvida principalmente 
até finais dos anos de1960-70. 
 A arqueologia havia adentrado o século XX marcada pela influência do 
evolucionismo e dos avanços até então alcançados pela geologia; ainda, a 
classificação de materiais arqueológicos e o desenvolvimento de tipologias eram 
vistos como um fim em si, onde a ordenação dos artefatos em tipos levou ao 
reconhecimento de culturas arqueológicas, definidas pela presença (ou não) de 
traços comuns em um determinado tempo e espaço. Desta forma criavam-se 
quadros crono-espaciais e sínteses regionais das culturas pretéritas baseados 
em tipologias. Assim, houve a preocupação de relacionar os artefatos 
encontrados nos sítios arqueológicos a grupos étnicos – com o intuito de 
“aprender mais sobre sua história inicial e como seus ancestrais tinham vivido” 
(GALLAY, 1986). 
Para tanto era necessário definir o estilo dos artefatos no 
espaço e no tempo, tendo como pressuposto que ‘um 
conjunto de traços (cerâmicas, túmulos, habitações, etc.), 
regularmente associados uns aos outros, constituem uma 
cultura pré-histórica’. Essas culturas eram consideradas 
frutos de desenvolvimentos históricos únicos, devendo, 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
5 
portanto, ser entendidas em seus próprios termos 
(SYMANSKI, 1997: 27) 
Os complexos de traços regularmente associados, que passaram a 
compor as culturas arqueológicas foram interpretados como o modo de vida de 
povos particulares, e a difusão/migração compreendidas como os principais 
agentes de mudança, responsáveis exclusivos pelo acréscimo ou apagamento 
dos traços. Desta forma, para os arqueólogos histórico-culturais, as coisas 
materiais mudam porque as pessoas mudam. A cultura material é vista, portanto, 
como um reflexo passivo da própria cultura, cabendo ao investigador retirar dos 
vestígios a poeira do tempo para que os significados aparecessem e, em 
consequência, o passado pudesse ser reconstruído (LIMA, 2011). 
Um dos principais pesquisadores dessa escola é o arqueólogo australiano 
Gordon Childe (1892-1957), que deixou uma grande marca na ciência e no 
estudo do Neolítico Europeu. Para Childe, o desenvolvimento social foi 
fortemente influenciado pelas ideias de fora, vizinhos, e, portanto, a 
disseminação de ideias é de grande importância no desenvolvimento social, em 
contrapartida com as ideias evolutivas nazistas (Kossina sd apud Trigger 2004) 
apostas pela evolução independente de cada sociedade (que se destinava a 
apoiar a supremacia da raça ariana sobre o outro). Assim, este "difusionista" 
desenvolveu sua teoria do que ele chamou de "revolução neolítica", piscando 
com a Revolução Industrial (lembre-se a sua influência política ligada ao 
marxismo), com o qual tentou explicar a mudança de sociedades pré-históricas 
de caçadores/coletores para as comunidades agrícolas que levou a um novo 
modelo de organização social: o surgimento de cidades e novas civilizações. 
Os meios interpretativos sobre o material estão enraizados nas propostas 
tipológicas de classificação do material arqueológico. Essas tipologias, graças à 
facilidade em organizaros dados arqueológicos em partes comparáveis, nos 
proporciona um instrumento de descrição, “podendo sintetizar os dados em uma 
escala regional e oferecer métodos para investigar áreas desconhecidas” 
(MELLO, 2005 p. 36). Por exemplo, um determinado artefato, como um 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
6 
machado, pode ser definido por seus atributos de forma, dimensões, matéria-
prima e decoração. Assim os machados são classificados de acordo com os 
mesmos atributos, constituindo tipos e a tipologia agrupa os artefatos a esses 
tipos. 
Desta maneira um determinado tipo é um determinante de um período e 
de um lugar específico, pois os artefatos são característicos da sociedade que 
os criou. Logo, os pesquisadores podem classificá-los de acordo com seus 
estilos, atribuindo lhes um lugar concreto dentro de uma sequência tipológica e 
assim, configurar uma relação entre as tipologias e criar os quadros crono-
espaciais. 
Um segundo conceito é a observação das características estilísticas, que 
segundo uma teoria de cunho mais voltado para as teorias evolucionistas, essa 
mudança geralmente é gradual e evolutiva. Nessa perspectiva, os artefatos 
fabricados em um mesmo local numa mesma época preservariam as mesmas 
características, enquanto que ao passar do tempo as similaridades iriam se 
alterando. O resultado é o agrupamento de artefatos similares mais próximos, 
tendo como consequência a geração de uma cronologia relativa, do mais antigo 
para o mais novo. (RENFREW; BAHN, 1991). 
 
Fonte: RENFREW; BAHN, 1991. 
 
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7 
O histórico-culturalismo deixou profundas raízes na disciplina, 
influenciando não apenas os procedimentos de coleta de dados em campo e de 
análise de laboratório, mas, principalmente, a interpretação da cultura material. 
Conforme LIMA (2011: 13-14), esta abordagem “estabeleceu como 
padrão de qualidade o recolhimento acurado do maior número possível de 
evidências materiais em campo, entendendo que, quanto mais elementos 
reunidos, melhores as possibilidades de interpretação do modo de vida de um 
grupo em estudo”; ainda, a etapa analítica, “explorou intensamente as técnicas 
para identificar, classificar e interpretar a cultura material”, de forma a colocar o 
laboratório como principal núcleo da prática arqueológica. 
O paradigma histórico-cultural aproximou a arqueologia da história em sua 
procura por particularidades; contudo, seu poder explanatório era fraco, levando 
alguns pesquisadores a considerarem uma abordagem substituta pré-literária 
para a história política e militar (SYMANSKI, 1997). Embora bem-sucedida ao 
longo de um vasto período, o paradigma acabou por produzir mais informações 
do que propriamente conhecimentos, logo inúmeras críticas acabaram por 
influenciar o surgimento de um novo paradigma: o processualismo. 
A escola Histórico-Culturalista foi um dos grandes pensamentos 
teóricos da arqueologia, hoje suas teorias são alvo de duras críticas, 
principalmente ao pensamento evolucionista que ditou o ritmo 
interpretativo. Qual foi uma das principais heranças da escola histórico-
cultural? 
A principal herança da Escola Histórico-Cultural de Arqueologia foi 
aproximar o arqueólogo do laboratório e criar as primeiras maneiras de análise 
do objeto a fim de interpretar os artefatos e compará-los com outros povos, 
criando por sua vez, mapas de dispersão e difusão. 
 
No material online, o professor Sady Pereira do Carmo Júnior 
explica mais sobre a Arqueologia Histórico-Cultural. Não perca! 
 
 
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8 
Arqueologia Processual 
A arqueologia processual, também amplamente conhecida como New 
Archaeology, desde a década de 1960, tem sido um importante enfoque teórico 
e metodológico para a disciplina. Seu principal argumento fixa-se na ideia de que 
a compreensão das causas da mudança cultural (ou seja, do processo) nos mais 
distintos contextos culturais e meio-ambientais deveria ser o principal (e mais 
importante) objetivo da arqueologia. Embora seu impacto tenha sido 
especialmente sentido na prática arqueológica dos Estados Unidos e, em geral, 
na América Latina, sua influência se difundiu em vários cantos do globo. Em sua 
base original, a New Archaeology surgiu como uma forma de questionamento e, 
sobretudo, de alternativa ao paradigma até então dominante: o enfoque 
histórico-cultural, vastamente aceito entre os profissionais da arqueologia até 
meados do século XX. 
Alguns arqueólogos, insatisfeitos com vários pontos praticados pelo 
histórico-culturalismo (principalmente em relação às sequências arqueológicas, 
às suas formas de classificação, à grande ênfase histórico-descritiva e ao 
difusionismo) percebiam que a grande atenção conferida às classificações 
espaciais e temporais estava fazendo com que a compreensão dos povos 
antigos e de suas atividades fosse cada vez mais esquecida, e que as “culturas” 
às quais tanto se referiam eram, tão somente, uma espécie de esboço, sendo 
pouco ilustrativas acerca do real funcionamento das culturas do passado. 
Um nítido exemplo deste novo pensamento foi exposto, já em 1948, por 
Walter W. Taylor, que afirmou que os pesquisadores deveriam empregar seus 
esforços nas análises artefatuais não para simplesmente classificá-los no 
espaço e no tempo, mas para desvelar as funções dos materiais estudados. 
Outros investigadores defenderam que os arqueólogos deviam, também, prestar 
mais atenção nas interações entre as culturas do passado e no meio ambiente, 
enquanto outros propuseram uma maior atenção ao desenvolvimento evolutivo 
das culturas. Os arqueólogos processuais afirmavam, ainda, que o arqueólogo 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
9 
deveria entender que o principal não era produzir descrições, mas encontrar 
explicações que necessitariam estar apoiadas em uma clara compreensão do 
registro arqueológico. 
Dentre os principais pontos chave da New Archaeology, quatro tiveram 
maior destaque. 
 Recusa dos conceitos de cultura: como compreendido pela 
“Arqueologia Tradicional”, difusão e migração, adotando o 
adaptacionismo como conceito elementar para explicar as variações 
ocorridas na sociedade. A mudança cultural seria, aqui, um resultado 
de fatores internos, ou seja, “respostas adaptativas a alterações 
ocorridas no meio ambiente ou nos sistemas culturais adjacentes e 
competidores” (TRIGGER, 2004). 
 Ênfase na interpretação da cultura como parte de um sistema 
conformado pela estreita conjunção de vários aspectos: políticos, 
sociais, econômicos, tecnológicos e ideológicos. Para a New 
Archaeology, “a cultura constitui um sistema integrado, feito de 
diferentes subsistemas (...) e o vestígio arqueológico tem que ser 
olhado como um produto de uma variedade de processos do passado 
em vez de simplesmente um reflexo das normas ideacionais” (JONES, 
1997 apud SCHIAVETTO,2003). 
 Importância da ecologia cultural e a necessidade de olhar a interação 
entre cultura e meio ambiente através de um viés sistêmico, colocando 
em evidência, sobretudo, a relação existente entre tecnologia e meio 
ambiente. 
 Busca pelas regularidades no desenvolvimento da complexidade 
cultural. A apreensão e compreensão das regularidades nos processos 
de mudanças culturais foi uma das maiores bandeiras levantadas pela 
arqueologia processual. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
10 
O principal anseio da arqueologia processual era, por meio da escavação 
de artefatos do passado, vislumbrar sistemas sociais e, especialmente, resgatar 
a filosofia do povoque deixou seus resquícios materiais. Assim, os arqueólogos 
processuais buscavam sempre tentar deduzir como os artefatos funcionavam no 
contexto do sítio arqueológico, evidenciando, concomitantemente, o sistema 
social (SCHIAVETTO, 2003). 
A arqueologia processual valoriza o tempo e as mudanças culturais, tendo 
como objetivo principal, compreender quais são as causas das mudanças 
culturais (processo cultural) nos contextos culturais e ambientais em 
transformação. 
Lewis Binford, como um dos percussores, é também um dos 
pesquisadores com maior destaque nessa Nova Arqueologia. Para ele a cultura 
deveria ser analisada de forma sistêmica e processual na qual o processo se 
refere às relações dinâmicas de causas e efeitos que operam entre os 
componentes do sistema e o meio ambiente (BINFORD, 1968, p. 269). 
A Arqueologia Processual surge por meio da observação dos registros 
arqueológicos como uma série de explicações e leis gerais sobre o 
funcionamento do comportamento cultural humano, diante das condições e 
eventos do passado e do meio ambiente, dado a sua aproximação com as 
ciências naturais e com a antropologia, em especial a antropologia Física, sobre 
adaptabilidade humana. 
A Arqueologia Processual busca entender e explicar o 
sistema que está por trás dos indivíduos e materiais de 
uma cultura. Esse sistema é constituído por partes que se 
interagem e que estão em constante relação com o meio 
ambiente natural. A estratégia é isolar cada sistema e 
estudar cada uma de suas variáveis separadamente. O 
objetivo final é a reconstituição completa do padrão de 
articulação, ao longo de todos os sistemas relatados 
(FLANERY, 1973, p 105, tradução nossa). 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
11 
Assim sendo, a arqueologia processual buscava compreender quais os 
mecanismos que regulam essas variáveis, entendendo a Cultura como um 
extrassomático de adaptação humana ao meio ambiente. O sistema cultural 
deve ser visto num contexto adaptativo tanto social como ambiental; não como 
o resultado de influências, estímulos, ou até mesmo migrações entre unidades 
geograficamente distintas (BINFORD, 1962). 
A origem desse pensamento é relacionada ao neoevolucionismo, uma 
corrente teórica da arqueologia que na década de 1960, ao contrário do 
evolucionismo do século XIX entendia o desenvolvimento cultural de forma 
gradual. Dessa forma as culturas se desenvolveriam a partir de um centro de 
origem e se tornariam mais complexas com o passar do tempo. A ideia é procurar 
explicar a cultura de acordo com a energia disponível por indivíduo, assim a 
cultura evolui na medida em que a quantidade de energia utilizada aumenta. 
(TRIGGER, 2004, p. 283). 
As técnicas seguiriam uma evolução progressiva resultante da eficiência 
da aplicação da energia ao trabalho. Seus principais pesquisadores são os 
antropólogos culturais Julian Steward e Leslie White (TRIGGER, 2004, p. 283). 
A abordagem processual tem como característica investigativa (e deixou 
como herança na arqueologia, a interdisciplinaridade com outras ciências, como 
a biologia, a zoologia, a física, a estatística e a geografia. Além de trazer para a 
arqueologia anglo-saxã a experimentação em arqueologia e a observação de 
grupos étnicos afim de criar analogias sobre as populações do passado. 
Os pressupostos da New Archaeology tiveram seu grande apogeu entre 
as décadas de 1960 e 1970. O alvorecer dos anos 80 foi acompanhado pelo 
início das críticas à corrente, que seguiram com a intenção de quebrar a 
hegemonia teórica do funcionalismo e do positivismo arraigada aos métodos 
arqueológicos. Neste cenário crítico, muitos estudiosos argumentaram que a 
arqueologia não poderia ter pretensões de ser neutra e objetiva, que sua teoria 
preteria as buscas de padrões universais e deixava de lado questões como 
religiosidade, ideologia e outras manifestações da cultura e, principalmente, que 
 
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12 
o estudo da adaptação, da subsistência e do impacto ecológico nas sociedades 
não deveria ter tanta prioridade nos estudos arqueológicos. 
Cite o principal marco de mudança teórica adotado pela Nova 
Arqueologia na década de 1960. 
O principal paradigma de mudança é o caráter cientificista adotado pelos 
pesquisadores, introduzindo pela primeira vez, métodos estatísticos e 
problemáticas hipotético-dedutivas. 
 
Quer entender mais os principais aspectos da Arqueologia 
Processual. Assista à explicação do professor Sady Pereira do Carmo 
Júnior no material online. 
 
Arqueologia Pós-Processual 
 
A Arqueologia Pós-Processual teve seu início como uma forma de 
resposta aos diversos problemas identificados na arqueologia processual. Suas 
críticas se centravam, especialmente, na atenção prestada pelos processualistas 
nas tecnologias adaptativas, na adoção da antropologia como principal aliada da 
disciplina (colocando em xeque o contexto histórico na arqueologia) e à restritiva 
definição da arqueologia como ciência positiva (ou seja, objetiva e neutra). As 
críticas fizeram sentir seus impactos, primeiramente, na Grã-Bretanha e na 
Escandinávia, logo se difundido para os quatro cantos do mundo. 
Os principais argumentos apontados pela crítica pós-processual se 
referiam aos significados do simbolismo, à história e aos enfoques críticos. Nos 
anos sessenta e setenta, a arqueologia processual havia proposto que a cultura 
material deveria ser estudada em termos de processo adaptativo a longo prazo; 
parecia, assim não se ter em conta a ampla importância da dimensão simbólica 
da cultura material sobre a compreensão que os atores sociais teriam do mundo 
que os cercava. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
13 
Os arqueólogos pós-processuais, seguindo o trabalho de antropólogos 
como BORDIEU (1977), TURNER (1969) e SAHLINS (1977) afirmariam, 
portanto, que a cultura material teria de fato um significado, pois “por detrás de 
toda a espécie de produção material humana, há algo mais do que a 
funcionalidade da existência dos objetos” (SCHIAVETTO, 2003: 41). 
Um dos principais representantes desse movimento é o arqueólogo 
britânico Ian Hodder. De acordo com Hodder a arqueologia processual é, quase 
por definição, uma arqueologia funcionalista, posto que a noção de sistema está 
fortemente ligada ao conceito de função. Hodder observa que, para os 
processualistas, todos os aspectos da cultura têm propósitos utilitários, em 
termos dos quais eles podem ser explicados (HODDER, 1992:96 [1982]). 
Visite o site sobre as escavações de Hodder na Turquia clicando no link a 
seguir. 
http://www.catalhoyuk.com/ 
 
Para Hodder, esse tipo de pensamento dicotômico entre cultura e 
adaptação da arqueologia processualista acabou por bloquear o 
desenvolvimento da arqueologia, pois as culturas, além de funções, atividades e 
necessidades, apresentam uma estrutura que deve ser entendida por seus 
próprios meios. Ou seja, existe um relacionamento direto entre o comportamento 
e a cultura material com diversas redes de significado que os arqueólogos devem 
interpretar. 
Os itens materiais adquirem significados simbólicos que irão variar de 
acordo com o contexto cultural no qual se encontram. Para poder compreender 
tais significados os arqueólogos são obrigados a examinar o contexto histórico 
específico de cada cultura, assim, há uma reaproximação da arqueologia com a 
história (HODDER, 1986). 
Em relação à história, abandonada pela arqueologia processual em 
detrimento da antropologia, o pós-processualismo, traz novamente à tona 
problemas que foram discutidos pela geração mais antiga de arqueólogoshistórico-culturalistas. Os pesquisadores passam a salientar a grande 
 
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14 
importância do contexto histórico, pregando a necessidade de seu retorno aos 
estudos arqueológicos. 
Desta maneira, embora seja possível afirmar que certas tecnologias 
permitem o uso do meio ambiente de forma universal, o significado simbólico é 
– ao menos em parte – arbitrário, ou seja, é determinado por um contexto 
histórico concreto, estando definido por relações humanas específicas em 
circunstâncias concretas. Assim, a arqueologia seria particularmente apta a 
contribuir para uma história de longa duração, permitindo a possibilidade de se 
alcançar o nível estrutural de uma sociedade, bem como a compreensão de seus 
processos de manutenção e transformação cultural (SYMANSKI, 1997). 
Uma crítica adicional colocada pelos pós-processuais à New Archaeology 
refere-se à sua maneira de enxergar a cultura material como passiva, sendo 
entendida, portanto, como uma ferramenta para responder ao meio ambiente. 
Os seres humanos também apareciam sem rosto e personalidade, respondendo 
de maneira passiva às exigências do mundo que lhes rodeava. Em contrapartida 
a estas ideias, para o pós-processualismo, a cultura material se comporta de 
forma ativa, pois é utilizada e manipulada por seres humanos para levar a cabo 
diversas mudanças sociais e transformar as ideologias por meio das quais se 
interpretava o mundo (HODDER, 1982; MILLER & TILLEY, 1984). Ainda, 
acompanhando as ideias expressas por BORDIEU (1977), os seres humanos 
deixaram de ser observados como simples fantoches com comportamentos 
dirigidos para ser considerados seres capazes de analisar e transformar o mundo 
que lhes rodeava. 
O passado, para os pós-processuais, não pode ser totalmente 
apreendido, ficando sujeito a diversas interpretações que não excluem a 
influência de nosso presente: “o passado, então, já passou; ele não pode ser 
recapturado em si, revivido como objeto. Ele somente existe agora em sua 
conexão com o presente, na prática presente de interpretação” (SHANKS & 
TILLEY, 1987 apud SCHIAVETTO, 2003: 42). 
 
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O pós-processualismo, desta forma, admite o caráter discursivo da 
arqueologia como ciência, discurso este construído sob uma óptica que pretende 
ser interdisciplinar. Esta pluralidade, muitas vezes, consiste na possibilidade de 
coexistência de abordagens muitas vezes observadas como contraditórias. 
No pós-processualismo, não se trata de preterir correntes teóricas 
apontando-as como ultrapassadas, mas, sim, de repensá-las em outros 
contextos e abordá-las criticamente, fazendo da arqueologia um exercício auto-
reflexivo e voltado para questões sociais” (SCHIAVETTO, 2003: 42) 
A abordagem pós-processual está mais sujeita à crítica do que o viés 
histórico-cultural e processual. Isto se deve ao fato dela partir de bases idealistas 
para refletir sobre os vestígios materiais do passado, levando, desta maneira, a 
interpretações fortemente subjetivas que a colocam, conforme seus críticos mais 
radicais, fora do contexto da ciência. Por outro lado, muitos estudiosos a 
consideram uma perspectiva viável para contextos históricos, tendo-se em vista 
o auxílio proporcionado pelos registros escritos na reconstituição do passado 
(SYMANSKI, 1997). 
Esta abordagem parte da noção que toda a cultura material possui uma 
dimensão simbólica e seu significado depende, portanto, do contexto cultural no 
qual se encontram. A compreensão de uma determinada decoração cerâmica, 
das formas das casas, etc., implica na investigação das regras ou significados 
“ocultos” (estruturas de significado) por detrás dos aspectos técnicos e 
funcionais. Considera ainda, que as próprias explicações arqueológicas variam 
conforme o contexto histórico e social do pesquisador. 
Surgida como uma crítica à arqueologia dogmática e cientificista, a escola 
pós-processualista, possui como base a interpretação do simbolismo na cultura 
material. Esta Escola Teórica rejeita qualquer relação direta e universal entre 
comportamento humano e cultura material, já que as “coisas” estão carregadas 
de significados próprios e que afetam quaisquer explicações meramente 
funcionais (ex. para tal forma, tal função). Assim, toda a cultura material possui 
 
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16 
uma dimensão simbólica (inclusive no “lixo” ou nos objetos descartados, etc.), e 
que irá variar de acordo com o contexto cultural no qual se encontram. 
Seriam então, essas estruturas de significado que deveriam ser 
interpretadas pelos arqueólogos, pois os objetos são testemunhos de um 
sistema de crenças num sentido amplo. A compreensão de uma determinada 
decoração cerâmica, das formas das casas, etc., implica na investigação das 
regras ou significados “ocultos” por detrás dos aspectos técnicos e funcionais. 
Por sua vez, a cultura material é vista como ativamente manipulada pelas 
pessoas, não sendo um reflexo passivo de um conjunto de normas culturais. 
Ian Hoder (1987) refere-se aos arqueólogos pós-processuais 
(contextuais, pós-positivistas) de “arqueo-historiadores” contextuais em 
contrapartida aos arqueólogos-antropólogos da New Archaeology. 
Baseado nas informações dadas, por que Hodder utilizaria esse termo? 
Hodder criou o termo a partir da constatação que, com a arqueologia pós-
processual/contextual, ocorreu um retorno total à história e à discussão de 
problemas de caráter histórico. Onde é possível verificar que determinadas 
tecnologias são parte de vários ambientes e que o significado simbólico é 
determinado por contexto histórico, a partir de eventos de longa duração. 
 
No material online, o professor Sady Pereira do Carmo Júnior fala 
mais sobre a Arqueologia Pós-Processual. Confira! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 A Arqueologia Brasileira 
A Arqueologia Brasileira é de certa forma uma híbrida de diversas 
influências e de diversos atores, como o Dinamarquês Peter Lund (1801- 1880) 
conhecido como o pai da paleontologia brasileira, que escavou diversas grutas 
em Lagoa Santa, interior de Minas Gerais e, assim como os dinamarqueses, 
defende a ideia de que foram os humanos que originaram os famosos 
sambaquis. 
Após o Lund, podemos citar o Alagoano, Diretor do Museu Nacional, 
Ladislau Neto (1838- 1894) que enviou equipes a fim de se recuperar objetos 
dos sambaquis que estavam em eminente destruição, confirmando cada vez 
mais essa origem humana e não natural para esses montes de conchas 
encontrados no litoral (PROUS, 1992). 
Caso esteja com dúvida sobre o que são os sambaquis. Clique no link a 
seguir. 
 
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-sao-sambaquis 
 
Até D. Pedro II participou efetivamente desse período, enriquecendo o 
Museu Nacional com material das primeiras escavações pré-históricas no mundo 
e com coleções de diversos lugares; e até observou a retirada de esqueletos de 
um “casqueiro”. Nessa época, logo após o fim do Império, existiam três 
instituições que tratavam de arqueologia, o Museu Nacional e o Museu Paulista, 
enquanto Emilio Goeldi reorganizava o Museu Paraense (PROUS, 1992). 
 As instituições capitaneavam a discussão mais importante no momento, 
a origem artificial ou natural desses concheiros-sambaquis. O Alemão Hermann 
von Lhering (1850 - 1930), diretor do Museu Paulista, confiante da superioridade 
germânica, não aceitava as evidências apresentadas pelo Museu Nacional, mas 
realizava testes experimentais com machados pedra para cortar árvores, 
avaliandoas técnicas e os resultados. Aliás, nota-se também uma rixa entre a 
instituição da corrente naturalista dos sambaquis em São Paulo e a instituição 
 
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imperialista e artificialista no Rio de Janeiro. No entanto, até meados da década 
de 1940, ainda eram discutidas as origens dos sambaquis (PROUS, 1992). 
Já na Amazônia, Emilio Goeldi escava a necrópole de Cunani e K. Rath, 
um sítio na ilha de Marajó, mostrando suas belíssimas cerâmicas encontradas. 
Em 1885, Ladislau Neto com o egiptólogo e americanista Paul L’Epine, 
publicaram quadros comparativos entre a decoração dessas cerâmicas e os 
objetos arqueológicos egípcios, chineses, mexicanos e indianos. (PROUS, 1992) 
Infelizmente, a arqueologia brasileira não progrediu no período entre 
guerras e acabou caindo em pesquisas isoladas até a década de 1950. Segundo 
Prous, esse período é demarcado por diversos amadores, construindo um 
período formativo moderno, que se estende até 1965. Um período que demarcou 
um embate entre “profissionais” e “amadores”, como o caso do alemão 
Guilherme Tiburcius, um artesão de Curitiba interessado no passado e nas 
antiguidades indígenas. 
Tiburcius, em parceria com o geólogo, geógrafo, geomorfólogo, 
engenheiro químico, João José Bigarella, reuniu uma extensa coleção de 
esqueletos e artefatos de sambaquis do litoral norte de Santa Catarina e do 
Litoral Paranaense, além de artefatos e peças do planalto paranaense. Muitos 
dos Sítios escavados por Tiburcius não existem mais e as únicas informações 
são as coletadas por ele. Seu Acervo hoje encontra-se no Museu Arqueológico 
de Sambaqui de Joinville (MASJ). 
Por volta dos anos 50, uma tríade de personalidades de pesquisadores 
surgiu em prol do patrimônio arqueológico. L. de Castro Faria, do Museu 
Nacional, José Loureiro Fernandes da Universidade do Paraná (criador do 
Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas e do Museu de Arqueologia e Artes 
Populares, hoje Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR) e Paulo Duarte, 
político do Estado de São Paulo, diretor do Musée de L’Homme, de Paris – da 
comissão de Pré-História. 
 
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Os três pesquisadores, além das escavações em sambaquis do litoral, 
encabeçaram e conseguiram promulgar uma legislação sobre a proteção dos 
bens arqueológicos (que vimos na primeira aula). Eles também incentivaram a 
realização de cursos e estágios de formação, onde os profissionais brasileiros 
iriam aprender e receber orientação com pesquisadores estrangeiros. 
Os convidados franceses Joseph Emperaire e sua esposa mme. Annette 
Laming-Emperaire escavaram sítios no Interior do Paraná e em sambaquis do 
litoral do Paraná e São Paulo, dessas pesquisas originou-se as primeiras 
datações por rádio carbono no Brasil, as primeiras escavações no estilo Sítio-
Escola e a publicação de um guia para análise do material lítico na América do 
Sul. Discípulas de mme. Laming-Emperaire, Luciana Pallestrini e Niede Guidon, 
foram no início dos anos de 1960 estudar na França, com teses de doutorado 
voltadas para pré-história brasileira. Ambas as pesquisadores perpetuaram parte 
do que se chama de linha francesa na arqueologia brasileira. 
Após vários outros pesquisadores, de menor (Adam Orssich, A. Bryan) ou 
de maior influência como o estadunidense Wesley Hurt, que escavou sambaquis 
do litoral do Paraná e Santa Catarina e na região de Lagoa Santa em Minas 
Gerais e o espanhol Valentin Calderón com escavações no recôncavo baiano, 
um outro casal, desta vez vindo dos Estados Unidos, Clifford Evans e Betty 
Meggers, escavaram a foz do rio Amazonas entre os anos de 1949 e 1950. Seus 
grandes feitos nesse período estão relativos a interpretação da cerâmica e na 
antiguidade da cerâmica. Em 1964 eles orientaram um seminário sobre sítios 
cerâmicos, explicando o método Ford, que chamou bastante a atenção. 
“Podemos considerar que, desde 1964-1966, a maior parte 
dos trabalhos sobre material lítico inspirou-se na orientação 
dos Emperaire, enquanto aqueles que se referem a 
cerâmica obedecem as normas elaboradas pelos Evans.” 
(PROUS, 1992:14) 
 
 
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A arqueologia no Brasil se deve a esses casais, franceses ou norte-
americanos, que a convite de brasileiros obstinados se tornaram parceiros de 
todo o pioneirismo da arqueologia moderna no Brasil. Devemos a eles nossa 
formação e vocação. E foi nesse momento que a arqueologia acabou se 
dividindo em duas frentes, acolhendo as abordagens francesas e americanas. 
 
O PRONAPA 
 Como consequência do seminário aplicado por Clifford Evans e Betty 
Meggers, foi elaborado um grande projeto de Arqueologia que abarcaria grande 
parte do território brasileiro. Reuniu-se vários pesquisadores isolados do Sul e 
Nordeste com o Museu Paraense Emilio Goeldi, o Instituto do Patrimônio 
Histórico Nacional e a Smithsonian Intitution. O Projeto foi nomeado Programa 
Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). 
O principal objetivo do PRONAPA era compreender rapidamente a pré-
história brasileira por meio de uma metodologia unificada. Nela, foram utilizadas 
abordagens de surveys (prospecções sistemáticas) em vários territórios, 
também foram realizadas escavações por amostragem em pequenas e poucas 
sondagens (normalmente 1m x 1m), por meio do método Ford (repassado por 
Evans e Meggers) que estabeleceu as tradições e fases arqueológicas das 
principais (e diversas) regiões ecológicas do Brasil. 
Como escolha metodológica, optou-se pela não evidenciação de 
contextos arqueológicos e a negação da necessidade científica de evidenciar as 
estruturas arqueológicas dos sítios selecionados para serem escavados. Nesse 
sentido criou-se um mapa de dispersão de cultura de material (alguns autores 
associavam à grupos étnicos ou a culturas) no território nacional. 
Essas "tradições" e "fases" são unidades descritas por um conjunto de 
características em função da presença de determinadas categorias de artefatos 
considerados diagnósticos, em que a relação morfologia-função foi priorizada no 
intuito de defini-los em categorias de tipos. Esses artefatos passaram a funcionar 
na pesquisa arqueológica brasileira como fósseis-guias, ou seja, determinados 
 
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tipos artefatuais associados a uma cultura específica. A criação de um tipo é 
baseada num conjunto de atributos ou num conjunto de objetos, visando à 
comparação com outros conjuntos, independente da coincidência ou não com 
os tipos originalmente delineados. (HILBERT, 2005). 
O conceito de tradição, como originalmente definido pelo PRONAPA 
(CHMYZ, 1966, p. 20), subentende tratar-se de “grupos de elementos ou 
técnicas que se distribuem com persistência temporal”. Mas infelizmente a 
análise do material não seguia atributos técnicos e sim morfológicos. 
Outra categoria analítica para definição de fases e tradições era a 
seriação, um método de observação da frequência de determinados tipos em 
várias épocas, criando modelos de moda. Apesar de usarem ideias da 
Arqueologia Processualista fundamentando-se no conceito de Ecologia Cultural 
(de que as culturas e as sociedades representam as adaptações a um 
ecossistema, gerando determinismos ecológicos), o maior legado é difusionista, 
um conceito histórico-culturalista que implicou em quadros crono-espaciais da 
pré-história brasileira em que determinadas tradições arqueológicas estão 
implícitas em determinados ambientes produzindo determinados artefatos. 
Os dados arqueológicos obtidos em cinco anos de pesquisas foram publicadosem “Publicações Avulsas do Museu Emilio Goeldi” em forma de cinco relatórios 
(PRONAPA, Relatórios n 1, 2, 3, 4 e 5). 
 
As influências francesas 
O que se convencionou em chamar de missões franco-brasileiras foram 
as atividades lideradas por alguns pesquisadores alunos da mme. Annette 
Laming-Emperaire, que por sua vez foi aluna do etnólogo e arqueólogo francês 
André Leroi-Gourhan, que possuía uma arqueologia etnográfica-estruturalista 
baseada no método de escavações etnográficas, que correspondiam a uma 
abordagem de “superfícies amplas”, na “técnica de decapagens por níveis 
naturais” e no registro topográfico, visando uma tridimensionalidade do sítio. 
Uma perspectiva voltada para questões intra-sítio. 
 
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Várias Instituições como o Museu Nacional, o Museu Paulista, O Instituto 
de Pré-história da USP e o Museu de Arqueologia da UFSC, por meio de seus 
pesquisadores não adotaram a perspectiva pronapiana e optaram pelos métodos 
de maior detalhe dos sítios, em detrimento das prospecções e análises rápidas. 
Essa perspectiva ficou conhecida no Brasil pelas pesquisas de Luciana 
Pallestrini, no rio Paranapanema em São Paulo, mas contou com diversos outros 
pesquisadores, como André Prous (Minas Gerais), M. Andreatta (Paraná e 
Goiás), D. Uchoa (São Paulo), M. Beltrão (Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo) e 
N. Guidon (Piauí). Todos esses pesquisadores foram alunos e formaram alunos 
nessa metodologia de escavação. Essa metodologia permite uma visão mais rica 
dos fatos arqueológicos, dos eventos e das interpretações do sítio, mas em 
detrimento das prospecções extensas, que identificamos rapidamente em 
diversos sítios no país. 
Podemos observar por meio desse histórico da Arqueologia no Brasil, que 
a influência externa foi direta, e depois trocada por seguidores brasileiros. Hoje 
a arqueologia nacional possui uma grande influência das duas metodologias, 
ambas carregam as qualidades e continuam a propagar seus defeitos. 
Para saber mais da história da Mme. Annette Laming Emperaire, assista 
ao vídeo indicado a seguir. 
https://www.youtube.com/watch?v=-xHxa01R2vE 
 
Uma crítica que podemos fazer aos métodos pronapianos é relativo à 
definição de tradições e fases arqueológicas baseadas em apenas elementos 
culturais específicos, como a forma de uma ponta de flecha ou a decoração de 
uma cerâmica. Qual outra crítica podemos tecer sobre os métodos 
aplicados por essa empreitada? 
O método pronapiano optou pela não evidenciação de contextos 
arqueológicos e a negação da necessidade científica de evidenciar as estruturas 
arqueológicas dos sítios selecionados para serem escavados. Como esse 
método arqueológico foi utilizado no Brasil, criou-se um mapa de dispersão de 
cultura material no território nacional.” 
 
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Quer saber mais sobre a arqueologia brasileira? O professor Sady 
Pereira do Carmo Júnior fala mais sobre ela no material online. 
 
TROCANDO IDEIAS 
Vários autores discordam e aprovam determinadas teorias ou a aplicação 
das mesmas, discutem métodos e criam técnicas, mas é com base no debate e 
na leitura de estudos de caso e na pesquisa que conseguimos observar as 
diferenças arqueológicas e propor novas perspectivas. Por isso, procure em 
artigos e teses de doutorado de instituições como o MAE-USP ou o Museu 
Nacional-UFRJ as diferentes perspectivas teóricas tratadas nessa rota. 
 
NA PRÁTICA 
 
A história da disciplina passou por diversas mudanças desde a sua 
formação, intercalando conceitos advindos de outras áreas e as modificando e 
adaptando aos contextos arqueológicos, ajudando a arqueologia a se tornar uma 
ciência única, que por meio dos vestígios materiais tenta criar um passado. 
Artigos de teoria arqueológica são facilmente encontrados na internet, e 
uma tabela de Bruce G. Trigger resume muito bem a história do pensamento 
arqueológico. Acesse-o clicando no link a seguir. 
http://ccdd.uninter.com/dev/designer/dilmar/ccdd_grad/historia/arqueolog
ia/a3/includes/pdf/arqueologico.pdf 
 
 
 
 
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SÍNTESE 
A história da arqueologia passou por diversas mudanças desde a sua 
formação, intercalando conceitos advindos de outras áreas e os modificando e 
adaptando aos contextos arqueológicos, ajudando a arqueologia a se tornar uma 
ciência única, que por meio dos vestígios materiais tenta criar um passado. 
A história da disciplina perpassa várias ideias de como interpretar o 
registro e foca ora em abordagens históricas ora sincrônicas, mas hoje podemos 
observar uma mescla de todas as principais abordagens teóricas em um mesmo 
estudo, observando as diretrizes analíticas dos vestígios feitas pelos histórico-
culturalistas, observando as influências do meio e do comportamento técnico, 
assim com os arqueólogos da nova arqueologia, e configurando perspectivas 
culturais e simbólicas aventadas pelos seguidores do Ian Hodder. 
Assista às considerações finais do professor Sady Pereira do 
Carmo Júnior sobre os temas abordados nesta rota no material online. 
Referências 
 
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BINFORD, L. R. (1962). "Archaeology as Anthropology". American Antiquity 
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HILBERT, K. P. Arqueologia Pré-histórica no Sul do Brasil. 2005. 
 
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TRIGGER, B. História do Pensamento Arqueológico. Tradução Ordep 
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