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MANOGRAFIA AS PERSPECTIVAS NA REINSERÇÃO SOCIAL E FAMILIAR DO MENOR EM ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL AUTOR GEILDO PEREIRA QUEIROZ

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FACULDADE 2 DE JULHO 
CURSO DE DIREITO 
GEILDO PEREIRA QUEIROZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS PERSPECTIVAS NA REINSERÇÃO SOCIAL E FAMILIAR DO MENOR EM 
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NA INSTITUIÇÃO LAR VIDA NA CIDADE DE 
SALVADOR/BA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Salvador 
2014 
 
GEILDO PEREIRA QUEIROZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS PERSPECTIVAS NA REINSERÇÃO SOCIAL E FAMILIAR DO MENOR EM 
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NA INSTITUIÇÃO LAR VIDA NA CIDADE DE 
SALVADOR/BA. 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de 
Direito da Faculdade 2 de Julho 
como pré-requisito para a obtenção 
do grau de bacharel em Direito, sob 
a orientação da Profª Fabiana Neiva 
Almeida Lino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Salvador 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Q3 p Queiroz, Geíldo Pereira. 
As perspectivas na reinserção social e familiar do menor em 
acolhimento institucional na instituição lar Vida na cidade de 
Salvador/Ba. – Salvador, 2014. 
65fl. 
Orientadora: Profª. Espec. Fabiana Neiva Almeida Lino. 
 Monografia (Graduação) - Faculdade 2 de Julho, 2014. 
1. Menor 2. Situação de Abandono 3. Acolhimento Institucional 4. 
Família 5. Crianças e Adolescentes 6.Vulnerabilidade. 
I. Título. II. Lino, Fabiana Neiva Almeida III. Faculdade 2 de Julho. 
CDU: 34 
 
GEILDO PEREIRA QUEIROZ 
 
 
 
 
AS PERSPECTIVAS NA REINSERÇÃO SOCIAL E FAMILIAR DO MENOR EM 
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NA INSTITUIÇÃO LAR VIDA NA CIDADE DE 
SALVADOR/BA. 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade 2 de Julho, como pré - requisito 
para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Banca Examinadora composta pelos 
membros: 
 
 
( ) Aprovado 
Data / / 
 
 
Profª Esp. Fabiana Neiva Almeida Lino (orientadora) 
 
__________________________________________________________________________ 
Profº 
 
 
Profº 
OBS: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho de conclusão 
de curso a meu padrinho Peter 
Michael Blatz (in memorian) que 
não pôde me ver formar, a minha 
madrinha Isabel Calasans da Cruz 
Blatz, a meu pai Inácio de Queiroz 
(in memorian), a minha mãe Judite 
Nascimento Pereira que me 
concedeu o direito à vida, aos 
professores, amigos e colegas pelo 
incentivo constante e compreensão, 
o meu muito obrigado a todos. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 Após os cinco anos de faculdade, chegou o grande dia, e para agradecer o 
que me foi proporcionado, agradeço primeiramente a Deus pela vida com saúde e 
sabedoria, aos meus padrinhos Peter Blatz (In memoriam) e Isabel Calasans Blatz, 
pelo patrocino desta conquista, pelo incentivo e por todo apoio, os meus pais Inácio 
de Queiroz (In memoriam) e Judite Pereira pela minha existência. 
 A todos os funcionários da Faculdade Dois de Julho, em especial Juliana 
Pamponet, Márcia Brito e Roberto do financeiro. Aos meus queridos professores 
pela atenção e colaboração. A professora Maria das Graças Neves, pela ajuda e 
disponibilidade durante meu estagio no Núcleo de Praticas Jurídicas, em especial a 
minha orientadora professora Drª. Fabiana Neiva Almeida Lino, pela forma brilhante 
em nortear minha pesquisa acadêmica com uma dedicação singular e total empenho 
para esclarecer os meus questionamentos. Pela oportunidade que me foi concedida 
quando me tornei estagiário do Núcleo de Praticas Jurídico, pelo apoio e por todo 
ensinamento e paciência que teve comigo. 
 Agradeço também a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram 
para este momento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
 
art. artigo 
 
CC Código Civil 
 
CF Constituição Federal 
 
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do 
Adolescente 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
 
ONU Organização das Nações Unidas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
QUEIROZ, Geildo Pereira. As perspectivas na reinserção social e familiar do 
menor em acolhimento institucional na instituição Lar Vida na cidade de 
Salvador/Ba. Orientadora. Profª Fabiana Neiva Almeida Lino. Salvador: Faculdade 2 
de Julho, 2014. Monografia (Graduação em Bacharel em Direito). 
 
 
 O presente trabalho tem o objetivo de apresentar o menor em situação de 
abandono, demonstrando quais as perspectivas para o menor em acolhimento 
institucional, abordando o aspecto histórico evolutivo do menor e da família até os 
dias atuais. Falando das dificuldades pelas quais passam crianças e adolescentes 
que ficam vulneráveis diante do abandono familiar, social e governamental, 
Identificando ainda as principais causas pelas quais crianças e adolescentes são 
abandonadas pelos pais e familiares. Além disso, traça o aspecto jurídico e social do 
menor à luz da nossa Constituição Federal vigente e do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), demonstrando que a omissão e negligência dos pais, da 
sociedade e do Estado, ao fugirem de suas responsabilidades geram 
automaticamente a vulnerabilidade desses menores diante da ausência dos direitos 
garantidos na Constituição Federal e elencados no ECA. Para isto foi utilizada na 
temática pesquisada a técnica de revisão bibliográfica, metodologia qualitativa e 
entrevista na instituição Lar Vida. 
 
Palavras-chave: Menor. Situação de Abandono. Acolhimento Institucional. Família. 
Crianças e Adolescentes. Vulnerabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Queiroz, Geildo Pereira. Perspectives on social and family reintegration of the 
child in residential care institution in Home Life in Salvador / Ba. Guidance. Prof. 
Lino Almeida Fabiana Neiva. Salvador: Faculty July 2, 2014 Monograph 
(Undergraduate LL.B.). 
 
This paper aims to present the smallest in situations of abandonment, demonstrating 
that the outlook for the lowest in institutional care, addressing the evolutionary 
historical aspect of the child and the family to the present day. Speaking of the 
difficulties they are children and adolescents who are vulnerable in front of family, 
social and governmental abandonment, yet Identifying the main reasons why children 
and adolescents are abandoned by their parents and family. Moreover, traces the 
legal and social aspects of the child in light of our current Constitution and the Statute 
of the Child and Adolescent (ECA), demonstrating that the omission and neglect of 
parents, society and the state, to flee their responsibilities automatically generate the 
vulnerability of such children in the absence of the rights guaranteed in the 
Constitution and listed in the ECA. To this was used in the technique of thematic 
researched literature review, methodology and qualitative interview at the institution 
Home Life. 
 
Keywords: Minor. Situation of neglect. Institutional host. Family. Children and 
Adolescents. Vulnerability. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11 
 
CAPÍTULO I - ESCORÇO EVOLUTIVO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE.......................................................................................................15 
 
CAPÍTULO II - DOS DIREITOS E DEVERES DAS CRIANÇAS E DOS 
ADOLESCENTES E A DOUTRINA DA PROTEÇÃO 
INTEGRAL................................................................................................................ 23 
 
CAPÍTULO III - A FAMÍLIA...................................................................................... 42 
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA FAMÍLIA ........................................................... 43 
3.2 PODER FAMILIAR ............................................................................................. 52 
3.3 A PERDA DO PODER FAMILIAR ...................................................................... 53 
3.4 PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO DE FAMÍLIA E CF/88 ..................................... 54 
3.4.1 Princípio da pluralidade das entidades familiares ....................................... 54 
3.4.2 Princípio da igualdade entre o homem e a mulher ..................................... 54 
3.4.3 Princípio da igualdade substancial entre os filhos ...................................... 54 
3.4.4 Princípio da afetividade ............................................................................... 55 
3.4.5 Princípio da solidariedade familiar .............................................................. 55 
3.4.6 Princípio da função social da família ........................................................... 55 
3.4.7 Princípio da plena proteção das crianças e do adolescente ....................... 56 
3.4.8 Princípio da convivência familiar ................................................................. 56 
3.4.9 Princípio da intervenção mínima do Estado no direito de família ............... 56 
3.4.10 Princípio da dignidade da pessoa humana ............................................... 56 
3.5 PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........... 57 
3.5.1 Princípio da absoluta prioridade .................................................................. 57 
3.5.2 Princípio do melhor interesse .................................................................... 57 
3.5.3Princípio da paternidade responsável .......................................................... 58 
3.5.4 Princípio da proteção integral a criança e o adolescente ........................... 58 
 
CAPÍTULO IV - ASPECTO JURÍDICO DO MENOR ABANDONADO ................... 59 
4.1 CAUSAS DO ABANDONO................................................................................. 61 
4.2 A SITUAÇÃO DE RISCO SÓCIO JURÍDICO .................................................... 61 
4.3 ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR ............................................................. 62 
4.4 POLÍTICAS PÚBLICAS...................................................................................... 63 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 65 
 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 68 
 
ANEXO A- ENTREVISTA PSICOLOGO INSTITUIÇÃO LAR VIDA........................ 71 
 
ANEXO B- ENTREVISTA ASSISTENTE SOCIAL LAR VIDA................................. 73 
 
 
 11 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho consiste em apresentar como as crianças e os 
adolescentes ficam vulneráveis diante do abandono familiar, social e governamental, 
numa sociedade capitalista, desigual, sendo muitas vezes agressiva, fazendo com 
que crianças e adolescentes fiquem as margens da Constituição Federal, perdendo 
valores perante a sociedade. 
 
A falta de cuidado familiar, o abandono por parte do estado que se preocupa 
apenas em observar o que lhe é interessante esquecendo o que esta expressa na 
Constituição Federal deixando de lado os princípios básicos da proteção ao menor. 
 
É lícito verberar que a transferência de valores e responsabilidades através 
de uma inversão por parte dos pais (família), da sociedade e do Estado em desfavor 
de crianças e adolescentes, as quais por diversos motivos, seja financeiro, familiar 
ou social, acabam desviando suas condutas. 
 
O objetivo geral deste trabalho é demonstrar o aspecto jurídico e social do 
menor à luz da Constituição Federal brasileira vigente e do Estatuto da Criança e do 
Adolescente demonstrando que a omissão e negligência dos pais, da sociedade e 
do Estado, ao fugirem de suas responsabilidades geram automaticamente a 
vulnerabilidade desses menores diante da ausência dos direitos garantidos 
elencados no Estatuto da Criança e adolescente (ECA). 
 
Além disso, objetiva-se identificar as principais causas pelas quais crianças e 
adolescentes são abandonadas pelos pais e familiares, em instituições públicas de 
apoio e amparo ao menor e ao Estado. Mostrar o fato jurídico atual com base no 
Estatuto da Criança e do Adolescente e A Constituição Federal fazendo um escorço 
evolutivo da proteção do menor desde o primeiro momento que se começa a discutir 
sua proteção no âmbito internacional pela Organização das Nações Unidas (ONU) e 
no âmbito nacional com nascimento do Código de Menores. Para isto será utilizando 
neste trabalho monográfico a metodologia de pesquisas bibliográficas, doutrinarias, 
jurisprudencial e entrevista institucional, no qual serão confrontadas ideias com o 
 12 
propósito de desenvolver o trabalho com base em casos concretos discutindo 
possíveis soluções para o problema. 
 
Com esse trabalho busca-se avaliar a família e seu aspecto histórico na 
criação dos filhos, a perda do poder familiar, identificar as principais causas do 
abandono do menor, enumerar soluções práticas para o problema, discutir a 
omissão do Estado, das autoridades e órgãos competentes diante do caso, fazer 
uma análise crítica de quais são as perspectivas na reinserção social familiar do 
menor abandonado em instituição de acolhimento. 
 
Vale trazer à liça a proteção do Estado, ponto principal de apoio para que 
essas crianças se desenvolvam bem, fazendo um levantamento histórico desde o 
antigo código de menores até os dias atuais mostrando as principais mudanças que 
ocorreram ao longo do tempo, e como foi determinante a Constituição Federal 
brasileira de 1988. 
 
Também, faz-se necessário falar acerca da maior proteção constitucional 
conferida à criança e o ao adolescente e a proteção dada família na Constituição 
Federal de 1988 e dos direitos consagrados no Estado da Criança e do Adolescente. 
Analisar os direitos e deveres de crianças e adolescentes, a busca do convívio 
harmonioso para o bom desenvolvimento social, a proteção doutrinaria dada ao 
menor, no qual o Estado que tem o dever de desenvolver e aplicar políticas públicas, 
garantir direitos básicos como educação e saúde de qualidade, segurança pública. 
 
O trabalho está estruturado em capítulos que atendem às finalidades abaixo 
delineadas. 
 
No primeiro capítulo, intitulado de Escorço evolutivo do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, é apresentada uma análise do tratamento dispensado à população 
infanto-juvenil brasileira ao longo da história desde o Código de menores ao ECA. 
Esse capítulo pretende estabelecer um substrato teórico que permita uma análise 
crítica que proponha uma reflexão acerca do menor em acolhimento institucional. 
 
 13 
O segundo capítulo, que se refere aos direitos e deveres dos adolescentes e 
a doutrina da proteção integral, pretende mostrar que é dever assegurar, com 
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes a vida, a saúde, a 
alimentação, a educação, ao esporte, ao lazer, a profissionalização, a cultura, á 
dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e comunitária 
independentemente da idade de cada um como fonte garantidora da preservação da 
dignidade humana para crianças e adolescentes. 
 
O terceirocapítulo tratará da família e seus aspectos históricos, o poder 
familiar, a perda do poder familiar e a principiologia do poder familiar, que pretende 
tratar da família em sentido amplo como sendo todos os indivíduos que estiverem 
ligados pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade, chegando a incluir 
estranhos. Ainda neste capitulo, constará um histórico da família desde a família 
clássica até a família moderna falando das principais mudanças e transformações 
que sofreu a família ao longo do tempo, discutindo o poder familiar como o conjunto 
de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos 
menores e da sua transformação ao longo dos anos e dos princípios constitucionais 
no que se refere à família. 
 
Este capítulo, ainda, versará a respeito dos princípios inerentes à criança e o 
adolescente previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Constituição 
Federal de 1988, são eles: princípio da prioridade Absoluta, princípio do Melhor 
Interesse, princípio da paternidade responsável e o princípio da proteção integral a 
criança e o Adolescente. 
 
Como resposta da consciência humana a necessidade especial de proteção 
da infância e juventude, fase da vida em que o ser humano não desfruta ainda de 
plena capacidade jurídica para atuar e necessita de outras pessoas por intermédio 
de quem possa exercer seus direitos, formou-se todo um corpus juris de direitos 
humanos das crianças e dos adolescentes, cujo caráter é garantista, surgindo assim 
uma gama de princípios. 
 
O quarto capítulo visa mostrar o aspecto jurídico do menor abandonado, as 
causas do abandono, a situação de risco sócio jurídico, a atuação do conselho 
 14 
tutelar e as políticas públicas. Neste capítulo busca-se mostrar a gravidade do 
problema do menor em Instituição de acolhimento, em especial na Instituição Lar 
Vida, mostrando a situação sócio jurídica desses menores ao ser abandonados pela 
família, sociedade e o Estado. Desta forma, este capítulo pretende mostrar os 
principais fatores para o crescimento deste índice, as dificuldades na busca de 
soluções para o problema e como atua o Conselho Tutelar no amparo desses 
indivíduos e quais são as políticas públicas que estão em vigor na tentativa de trazer 
a eles uma vida mais justa. 
 
Ainda neste capítulo, serão discutidos temas referentes à questão do menor 
abandonado em instituição de acolhimento, o papel da família na sua reinserção 
social, fazendo uma análise crítica do assunto aqui abordado identificando as 
perspectivas do menor em acolhimento institucional e mostrar as formas de apoio 
que é prestado às instituições de acolhimento pelo poder público, enumerando as 
garantias da criança e do adolescente definidas na legislação brasileira. 
 
Através de estudos mais acurados acerca da temática pesquisada foi 
estabelecida a técnica de pesquisa de revisão bibliográfica, metodologia qualitativa e 
entrevista, sobre a qual é estabelecida a interpretação das informações obtidas 
pelas fontes. Procura-se observar o drama familiar social desses menores, 
apresentando quais são as perspectivas desses jovens na reinserção social e 
familiar ao deixarem a instituição de acolhimento Institucional, e quais são as 
políticas públicas que estão voltadas para esses indivíduos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
CAPÍTULO I 
ESCORÇO EVOLUTIVO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 A humanidade nunca se importou com obrigações e regras de respeito mútuo, 
e não seria diferente quando o assunto fosse criança ou adolescente, que sempre 
foram tratados como coisas insignificantes, utilizadas para satisfação pessoal do 
poder. 
 
 Entre quase todos os povos antigos, tanto do Ocidente como do Oriente, os 
filhos, durante a menoridade, não eram considerados sujeitos de direito, porém 
servos da autoridade paterna. 
 
 O regime era comum a diversos povos, oriundo das civilizações primitivas. O 
pai tinha o terrível jus vitae necis sobre seu filho não emancipado, podendo aliená-lo 
e, nos tempos mais recuados, até matá-lo. O filho “pertencia” ao pater, palavra esta 
que, segundo alguns romanistas, significava muito mais poder que paternidade 
propriamente dita, no sentido atual de relação parental e afetuosa de família. Vivia 
sob o poder absoluto do seu senhor, o chefe do clã, pontífice e autoridade única no 
interior do lar, como coisa de sua propriedade, sendo assim objeto do Direito e 
nunca sujeito de Direito. 
 
Entre os hebreus, a disponibilidade dos filhos chegava aos extremos, como o 
estado d´alma de Abraão, no transe místico, imaginando dar cumprimento exato à 
ordem divina, com a imolação de seu pequenino filho Isaac. 
 
Em Esparta, na antiga Grécia, a criança era objeto de Direito Estatal, no 
interesse da política preparatória dos recursos humanos para a formação dos seus 
contingentes guerreiros, com a seleção precoce dos fisicamente mais aptos. Assim 
teria legitimidade o sacrifício do infante portador de deficiência, com malformações 
congênitas ou doente, jogado nos despenhadeiros, considerado um peso morto na 
geografia humana daquela cidade-estado. 
 
 16 
 No código de Manu1, legislação indiana criada por volta de 1500 a.C., o filho 
de um brâmane com uma mulher de baixa categoria era chamado cadáver vivo. 
 
 O código de Hamurabi2 cuidava de vários aspectos das questões 
relacionadas ao tema. Cominava a pena de morte para o homem livre que roubasse 
um filho menor de outro homem livre. Em outro dispositivo da lei favorecia com 
indenização o filho de menor idade impossibilitado de assumir os negócios no lugar 
do pai feito prisioneiro de guerra. 
 
 Na evolução do Direito romano passou-se ao abrandamento consequente à 
distinção entre menores impúberes e menores púberes, equivalente, mais ou 
menos, aos institutos da incapacidade absoluta e incapacidade relativa do Direito 
Civil moderno. 
 
 O Direito medieval atenuou um pouco mais a severidade de tratamento das 
pessoas de idade mais tenra, sob a influência do estoicismo e posteriormente do 
cristianismo, sem descurar, porém, o filial dever de respeito e temor reverencial à 
autoridade paterna. 
 
 O Direito canônico manteve o princípio reverencial com preceito religioso 
(provindo do mandamento “Honrarás pai e mãe”), que tinha a mais profunda 
repercussão na educação doméstica cristã, em geral, e entre os católicos, em 
particular, pelas razões óbvias de serem os infantes mentalidades em 
desenvolvimento, impregnadas de submissão piedosa. 
 
 Pregava assim o apóstolo Paulo inspirado na doutrina básica desenvolvida 
pelos doutores da Igreja. Estes, ao longo do tempo, pouco a pouco foram 
influenciando os costumes e direcionando o direito no sentido de suavizar o jugo 
parental e proteger o ser humano mais frágil da relação comunitária, a começar pela 
 
1
 O Código de Manu (do sânscrito,"Manu Smriti") é parte de uma coleção de livros bramânicos, 
enfeixados em quatro compêndios: o Mahabharata, o Ramayana, os Puranas e as Leis Escritas de 
Manu. Inscrito em sânscrito, constitui-se na legislação do mundo indiano e estabelece o sistema de 
castas na sociedade Hindu. 
 
2
 O Código de Hamurabi, representa um conjunto de leis escritas, sendo um dos exemplos mais bem 
preservados desse tipo de texto oriundo da Mesopotâmia. 
 17 
proibição de expor menino batizado, depois quaisquer crianças, dentre outras 
normas de conduta decretadas em diversos concílios3, tais como os do século V, em 
Vaison4, e do século VI, em Agde5. A proibição de abandonara prole passou a ser 
sempre punida pela Igreja, como nas decretais de Gregório IX, com penas corporais 
e espirituais e com perda do poder paternal, penas que passaram a ser aplicadas 
também pelos tribunais leigos a partir dos séculos XIV e XV, “salvo em caso de 
calamidade pública”. O filho permanecia em estado de incapacidade civil em 
qualquer idade, enquanto estivesse na casa paterna, sustentado pelo chefe da 
família. 
 
 De certo ponto em diante da marcha da História, passou-se, ao critério 
biológico para fixação da maioridade civil. Na maior parte dos povos europeus, a 
idade de 25 anos foi tomada como parâmetro. Eram, entretanto, a partir do século 
XVI, considerados com capacidade núbil as mulheres aos 12 anos de idade e os 
homens aos 15 anos. 
 
 O tratamento diferenciado dos filhos no casamento, os legitimados, decorria 
do status privilegiado estabelecido no Direito Canônico ao proclamar como um dos 
seus sacramentos o matrimônio, que fundava a família legítima, a instituição por 
excelência da sociedade guiada pela Igreja Católica Apostólica Romana. 
 
 As Ordenações do Reino, que tiveram larga aplicação no Brasil colônia, 
refletiam as regras do Concílio de Trento, de 1563, com relação aos filhos então 
anatematizados como espúrios: os adulterinos, incestuosos e sacrílegos. Fingiu-se 
ignorar a existência da filiação extramatrimonial que os juristas chamavam “natural”, 
gerada por solteiros ou viúvos livres para o casamento. Filhos que ficaram à margem 
do Direito, por muito tempo, para não escandalizar a sociedade piedosa que ditava 
regras de conduta inflexíveis em termos de moral familiar. Consagravam no Direito 
luso-brasileiro os velhos princípios de autoridade paterna, embora, evidentemente, 
 
3
 O concílio é uma reunião de autoridades eclesiásticas com o objetivo de discutir e deliberar sobre 
questões pastorais, de doutrina, fé e costumes. 
4
 O Vaison é uma comunidade pertencente ao departamento de Vaucluse na região de Provence-
Alpes-Côte d'Azur, no sudeste da França. 
5
 Agde é uma comuna francesa de 19 988 (1999) do departamento de Hérault, na região Languedoc-
Roussillon, situada à beira do mar Mediterrâneo, na desembocadura do rio Hérault. 
 
 18 
não mais como o Direito romano em que a relação pai/filho era de caráter religioso e 
de natureza a sedimentar a força política do clã em torno do chefe incontestável. 
 
 A passagem da Idade Média para a Moderna trouxe uma transição na 
proteção ao menor, o cunho possessivo, repressivo e de pura intervenção baseada 
em leis religiosas foi cedendo a um modelo de responsabilidades aos pais no 
tocante a educação de seus filhos, imposição de deveres para com a prole, na 
questão de moradia, saúde e alimentação, estabelecendo punições aos exageros na 
correção corporal para pais e tutores. 
 
 A evolução da sociedade levou a mudança normativa de vários povos, 
tratando com maior interesse os direitos do menor enquanto pessoa em peculiar 
estado de desenvolvimento. Os abusos de violência física e sexual, principalmente 
doméstica, passou a inquietar a sociedade que via a necessidade de criação de 
tribunais especiais para julgamento de fatos relacionados ao menor. 
 
 A partir de então, em diversos países, surgiram os Juizados Juvenis, como 
nos Estados Unidos por volta de 1870, quando foi criada a primeira Corte Juvenil, 
para que se desse tratamento diferenciado a conduta de crianças acusadas de 
crime, as quais antigamente eram julgadas pelo mesmo tribunal dos adultos. Em 
outros países, como Inglaterra no ano de 1905, Alemanha em 1908, Portugal em 
1911, Argentina 1921, e no Brasil em 1923, aparecem os até então inexistentes 
Tribunais de Menores. 
 
 Em 1924, a Liga das Nações6 em Genebra marca uma nova fase aos Direitos 
da Infância e da Juventude, recomendando aos estados filiados uma legislação 
específica para as crianças e adolescentes. A partir deste momento, o leque 
internacional se abriu. A pressão internacional conduzia os países a se adequarem 
às novas perspectivas mundiais como ocorreu na IX Conferência Internacional 
Americana de Bogotá, em 1948, atentando para a obrigação de auxiliar, alimentar, 
educar e amparar os filhos de menor idade, e em 1950 a Convenção de Roma, 
 
6
 A Liga das Nações foi uma organização internacional, idealizada em 28 de abril de 1919, em 
Versalhes, nos subúrbios de Paris, onde as potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial se 
reuniram para negociar um acordo de paz. Sua última reunião ocorreu em abril de 1946. 
 19 
deliberando que a privação de liberdade de um menor somente seria admitida se 
tivesse por objetivo a educação. 
 
 Em 1959, a Declaração Universal dos Direitos das Crianças traz em seu 
preâmbulo que a criança tenha uma infância feliz e possa gozar, em seu próprio 
benefício e no da sociedade, os direitos e as liberdades enunciadas apelando para 
pais, homens, mulheres, organizações voluntárias, autoridades locais, governos 
nacionais, para reconhecimento dos direitos elencados na declaração e adotem 
medidas legislativas para fazer cumprir os princípios consignados na Declaração. 
 
 Na América Latina, o Pacto de São José da Costa Rica, no ano de 1996, 
estabeleceu na convenção Americana sobre Direitos Humanos, um tratamento 
jurídico diferenciado para a menoridade, inserido no artigo 19 com a seguinte 
redação: “Toda criança tem direito às medidas de proteção que sua condição de 
menor requerer, por parte da família, da sociedade e do Estado”. A convenção de 
Roma, 04 de novembro de 1950, deliberou que a privação da liberdade de um 
menor somente será admitida se tiver por objetivo educá-lo. 
 
 A vertente de preocupação sensibilizava cada vez mais os países europeus, 
diante da situação vexatória e desesperadora de crianças e adolescentes no mundo, 
as quais estavam desprovidas do mínimo de direitos humanos. Assim, em 1979, foi 
proclamado o Ano Internacional da Criança, e através da própria ONU elaborou-se a 
Convenção dos Direitos das Crianças, subscrita apenas em 1989, após a instituição 
das Regras Mínimas de Beijing (Assembléia Geral das Nações Unidas, Pequim em 
1985). Em que todo o universo histórico foi acompanhado pelo Brasil, que aderiu na 
esfera legislativa e política as disposições externas, entretanto não conseguiu a nível 
real legitimar e executar os direitos da criança e do adolescente dentro da 
sociedade. 
 
 A Convenção Americana sobre Direitos Humanos7, ou Pacto de San José da 
Costa Rica, de 1969, aprovada no Brasil pelo decreto Legislativo nº 27, de 1992, e 
promulgada pelo Decreto Executivo nº 678, de 1992, exigiu respeito à vida humana 
 
7
 A Convenção Americana de Direitos Humanos também chamada de Pacto de San José da Costa 
Rica é um tratado internacional entre os países-membros da Organização dos Estados Americanos. 
 20 
desde o memento da concepção, recomendando tratamento judicial especializado 
em face da menoridade, declarando que as medidas de proteção a que têm direito 
as crianças e os adolescentes são deveres da família, da sociedade e do estado, 
princípio que o Brasil inseriu na sua Constituição de 1988. 
 
 A Convenção Internacional sobre o Consentimento para o casamento, Idade 
Mínima para o Casamento e Registro de Casamento, aprovada pela Assembléia 
Geral da ONU, de 10 de dezembro de 1962, teve aprovação no Brasil pelo Decreto-
Lei nº 659, de 30 de junho de 1969, e promulgação pelo Decreto executivo nº 
66.605, de 20 de maio de 1970. Resguardandoa liberdade individual e a Integridade 
física e psicológica das crianças. O Direito Internacional já vinha servindo de 
parâmetro ao legislador brasileiro, no tratamento da população infanto-juvenil, desde 
os tempos da Liga das Nações Unidas8. 
 
 Da Declaração de 1924, resultou o conhecido Código Mello Mattos, baixado 
com o Decreto nº 17943-A, de 12 de outubro de 1927, o primeiro Código de Menores 
do Brasil e também o pioneiro na América Latina. Foi um avanço para a época, com 
tratamento diferenciado sob a influência da filosofia do amparo ao menor 
abandonado. Seguiu-se a lei nº 6.97, de 10 de outubro de 1979, o Código de 
Menores que elegeu como escopo o cuidado com o menor em situação irregular, no 
qual criança e adolescente era vista como objeto de direito. 
 
 Faz-se necessário destacar que o cenário político e social nacional, do início 
do século XX, era bastante conturbado, passando a ser preocupante a situação da 
criminalidade juvenil. Nesse contexto nasce a primeira codificação exclusivamente 
voltada para tratar dos interesses das crianças e adolescente, o Código de Menores, 
sancionado em 1927, o chamado “Código Mello Mattos”, em homenagem ao autor 
do projeto. 
 
 Nessa fase o Estado assume a responsabilidade legal pela tutela da criança 
órfã e abandonada. A criança desamparada, nesse período, fica institucionalizada, e 
 
8
 A Organização das Nações Unidas, também conhecida pela sigla ONU, é uma organização 
internacional formada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e o 
desenvolvimento mundial. 
 21 
recebe orientação e oportunidade para trabalhar. Destaca-se que a primeira 
codificação voltada para os menores tornou-se um marco referencial, cumprindo 
papel histórico. 
 
 Ocorre a conscientização quanto à gravidade das precárias condições de 
sobrevivência das crianças pobres, que nessa época preponderava epidemias, 
superstição materna e o pátrio poder impermeável às orientações quanto às 
providências básicas de saúde e higiene. Era elevada a taxa de mortalidade infantil. 
No caso dos "expostos", entregues as Santas Casas de Misericórdia, o índice 
chegava a 70%. 
 
 Para o Código de Menores a criança merecedora de tutela do Estado era o 
"menor em situação irregular". Este conceito vem a superar, naquele momento 
histórico, a dicotomia entre menor abandonado e menor delinquente, numa tentativa 
de ampliar e melhor explicar as situações que dependiam da intervenção do Estado. 
 
 O Poder Judiciário cria e regulamenta o Juizado de Menores e todas suas 
instituições auxiliares. O Estado assume o protagonismo como responsável legal 
pela tutela da criança órfã e abandonada. A criança desamparada, nesta fase, fica 
institucionalizada, e recebe orientação e oportunidade para trabalhar. Instituía-se, 
assim, a legislação, primeira estrutura de proteção aos menores com a definição 
ideal para os Juizados e Conselhos de Assistência, trazendo clara a primeira 
orientação para que a questão fosse tratada sob enfoque multidisciplinar. 
 
 Todavia, com o passar dos anos, o Código de Menores, em determinado 
momento, tornara-se insuficiente, frente à realidade modificada. Na transição entre 
uma e outra realidade, sob novos mecanismos de atenção ao problema da criança, 
destaca-se a atuação dos Juízes de Menores. 
Em seguida, com o processo de redemocratização, promulga-se a tão 
sonhada Constituição Cidadã de 19889, com significativos avanços. Nesse contexto 
privilegiado surge o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
 
9 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, também conhecida como Constituição 
Cidadã foi promulgada em 5 de outubro de 1988, é a lei fundamental e suprema do Brasil, servindo 
 22 
 
 A nova realidade social e democrática alterava o direito posto. Por isso, torna-
se impossível a comparação, fora de contexto, entre dois diplomas que refletem 
suas épocas. Pode-se dizer que os méritos do ECA não apagam o brilho da obra de 
Mello Mattos, tendo em vista que um preparou o caminho para o outro. 
 
 Assim sendo, ambos os diplomas, estão absolutamente vinculados aos 
avanços possíveis em seus respectivos períodos históricos. Não seria possível 
crianças e adolescentes sujeitos de direito, aptos à reivindicação e garantia, sem a 
anterior definição das obrigações sócio-estatais em favor do menor. 
 
 A Constituição Federal de 1988 adotou a doutrina da proteção integral e, 
consequentemente, o Estatuto da Criança e do Adolescente adveio regulamentando 
os princípios e as normas da Carta Magna, que foi a mais explícita e a mais 
abrangente nas disposições sobre a infância e a juventude em geral. 
 
O ECA estabeleceu regras sobre o trabalho, profissionalização, capacidade 
eleitoral ativa, assistência social, seguridade social, educação, programação de 
radio e televisão, múnus públicos de proteção integral, o dever do Estado, garantias 
democráticas processuais, incentivo oficial a guarda, prevenção contra 
entorpecentes, defesa contra abuso sexual, estímulo a adoção, isonomia filial. 
Instituiu-se cabalmente de forma definitiva a política nacional de proteção integral da 
criança e do adolescente do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
de parâmetro de validade a todas as demais espécies normativas, situando-se no topo do 
ordenamento jurídico 
 
 23 
CAPÍTULO II 
 
DOS DIREITOS E DEVERES DOS ADOLESCENTES E A DOUTRINA DA 
PROTEÇÃO INTEGRAL 
 
 Nos primórdios da humanidade, surgiu Código de Hamurabi, o primeiro 
código de leis que se tem notícia, escrito aproximadamente em 1700 a.C 
possivelmente pelo rei Hamurabi. O Código de Hamurabi foi encontrado em 1901 na 
região da antiga Mesopotâmia10. O código em comento foi o primeiro a destinar 
proteção ao menor, quando disponibiliza nove artigos, dentre os 282 que os 
compõem, para tratar da adoção. 
 
 O Código de Hamurabi estabeleceu do artigo 185 ao artigo 193; 
 
185. Se um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho, 
criando-o, este filho crescido não poderá ser reclamado por outrem. 
186. Se um homem adotar uma criança e esta criança ferir seu pai ou mãe 
adotivos, então esta criança adotada deverá ser devolvida à casa de seu 
pai. 
187. O filho de uma concubina a serviço do palácio ou de uma hierodula 
não pode ser pedido de volta. 
188. Se um artesão estiver criando uma criança e ensinar a ela sua 
habilitação, a criança não poderá ser devolvida. 
189. Se ele não tiver ensinado à criança sua arte, o filho adotado poderá 
retornar à casa de seu pai. 
190. Se um homem não sustentar a criança que adotou como filho e criá-lo 
com outras crianças, então o filho adotivo pode retornar à casa de seu pai. 
191. Se um homem, que tenha adotado e criado um filho, fundado um lar e 
tido filhos, desejar desistir de seu filho adotivo, este filho não deve 
simplesmente desistir de seus direitos. Seu pai adotivo deve dar-lhe parte 
da legitima, e só então o filho adotivo poderá partir, se quiser. Ele não deve 
dar, porém, campo. Jardim ou casa a este filho. 
192. Se o filho de uma amante ou prostituta disser ao seu pai ou mãe 
adotivos: “Você não é meu pai ou minha mãe”, ele devera Ter sua língua 
cortada. 
193. Se o filho de uma amante ou prostituta desejar a casa de seu pai, e 
desertar a casa de seu pai e mãe adotivos, indo para casa de seu pai, então 
o filho deverá ter seu olho arrancado. 
 (www.angelfire.com/me/babiloniabrasil/hamur.html>.Acesso 15 de maio, 
2014) 
 
 Outra legislação antiga foi o Código de Manu que foi escrito 
aproximadamente, no ano 1000 a.C em sânscrito na Índia. O Código de Manu na 
 
10
 Mesopotâmia é a denominação de um planalto de origem vulcânica localizado no Oriente Médio, 
delimitado entre os vales dos rios Tigre e Eufrates, ocupado pelo atual território do Iraque e terras 
próximas. 
 24 
Lei IX, X, estabelecia que aquele a quem a natureza não deu filhos poderia adotar 
um para que as cerimônias fúnebres não cessem.” 
 
 A grande maioria dos povos antigos não considerava crianças e adolescentes 
como sujeitos de direito, e sim servos da autoridade paterna. A família da época 
tinha o filho na posição instrumental que era subordinado ao poder paterno. O filho 
quase não tinha nenhum direito e somente deveres com seu pai. 
 
 Entre as civilizações antigas, Inca11, Maia12, Minoans13, Tribos Indígenas 
brasileiras, a disponibilidade dos filhos chegava ao extremo, com uso destes para 
rituais de sacrifício religioso. O sacrifício de crianças era comum para algumas 
religiões, em um tempo no qual as pessoas ainda não eram “civilizadas” e não 
entendiam as manifestações naturais e científicas, a religião esboçava seus 
primeiros passos, interpretando tudo a partir da interferência divina. 
 
 Os argumentos que justicavam os sacrifícios de crianças e adolescentes eram 
muitos. Como por exemplo: o sacrifício para sustento e manutenção do poder divino, 
que diminuiria caso ele não acontecesse; as oferendas safrificais eram utilizadas 
para realizar uma troca com os deuses, que prometem favores aos humanos em 
retribuição pelos sacrifícios; a vida e o sangue das vítimas dos sacrifícios suscitam 
algum poder sobrenatural, que agrada aos deuses; a vítima do sacrifício é oferecida 
como bode expiatório, um alvo para a ira divina, que de outra maneira recairia sobre 
todas as pessoas. 
 
 Coisas sacrificadas geralmente se tornam parte da renda da organização 
religiosa; torna-se a base da economia para sustentar os sacerdotes e os templos. 
 
 Na passagem bíblica em Jeremias 7:30-31, Deus condena o sacrifício de 
crianças: “Fizeram os filhos de Judá o que é mal aos meus olhos. Ergueram o lugar 
 
11
 O Imperio Inca constituia uma entidade política soberana que emergiu das civilizações andinas 
antes da conquista pelos espanhóis. O Império Inca era uma colcha de retalhos de línguas, culturas e 
povos. 
12
 A civilização Maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita 
(único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o 
idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo. 
13 Minoans foi uma civilização da Idade do Bronze do Egeu, que surgiu na ilha de Creta e floresceu 
aproximadamente no século 27 aC até o século 15 aC. 
 25 
alto de Tofet14, no vale de Ben-Erom para lá queimarem seus filhos e filhas, não lhes 
havendo eu ordenado tal coisa que nem me passava pela mente.” 
 
 O pai tinha “jus vitae necis” sobre o filho não emancipado, ou seja, o “direito 
de vida e de morte” sobre o filho. Ele podia aliená-lo, vendê-lo como escravo ou até 
matá-lo, entregá-lo como indenização. O filho pertencia ao pater, que para alguns 
romanistas era muito mais poder que paternidade, no sentido atual parental de 
família. O pai tinha o poder absoluto sobre o filho, ele era a autoridade única do lar e 
este indivíduo que se encontrava sobre seu domínio era tratado como coisa de sua 
propriedade sendo assim considerado objeto do Direito. Esse sistema regimental era 
comum a vários povos advindos das civilizações primitivas no século IV. 
 
 O pátrio poder era o que predominava na época garantindo ao pai que era o 
líder da família o absoluto poder sobre o filho. Este regime foi concebido e oriundo 
do direito romano, sua denominação vem do pátria potestas, que significa poder 
absoluto do pai sobre seu filho. Para esse regime jurídico ter se sustentado foi 
grande a influência das crenças religiosas. 
 
 No âmbito patrimonial o filho nada possuía, pois ele não era considerado 
sujeito de Direito, tudo que ele adquiria pertencia ao pai, apenas as dívidas 
contraídas por ele não pertenciam ao pai, sendo elas se caso existissem de 
responsabilidade exclusiva do filho. 
 
 Os filhos do pater poderiam ser tanto filhos biológicos, como irmãos, 
sobrinhos e filhos e adotivos. Na Roma Antiga, o conjunto familiar era tido como uma 
unidade jurídica e econômica subordinada a uma pessoa, dotada de um elevado 
grau de autoridade sobre todos os membros do conjunto familiar que era o pai. 
 
 A palavra “família” é de origem latina (que é etimológicamente é "família" na 
língua portuguesa), significava originalmente o conjunto dos famuli (servos e 
 
14
 Tofet significa Lugar de chama. Situava-se no Vale de Hinom ao Sudoeste e ao Sul da antiga 
Jerusalém. Ali, segundo relatos bíblicos, faziam-se rituais de sacrifício humano dedicados aos deuses 
locais. Entre esses rituais estava o de sacrificar crianças fazendo com que estas passassem pelo 
fogo em oferta a Moloque , antigo Deus adorado pelos povos que habitavam a península arábica e a 
região do Oriente Médio. 
 26 
escravos) vivendo debaixo de um mesmo teto. No contexto da época a família era 
considerada a unidade social básica, ainda mais relevante que a gens (clã, casta, 
grupo de famílias). 
 
 O pater familias era o chefe e a única pessoa dotada de capacidade legal, ou 
sui iuris para cuidar da sua prole. As mulheres não podiam celebrar contratos 
válidos, nem possuir propriedade. Todos os bens e contratos eram propriedade do 
pater. Somente um cidadão romano, dotado de estatos civis, podia ser um pater 
familias. Só podia existir um detentor de tal estatuto dentro de cada conjunto familiar. 
Até mesmo os homens adultos estavam sobre a autoridade do pater enquanto este 
vivesse, e não podiam adquirir os direitos de pater familias até à sua morte. 
 
 Com a evolução do Direito romano houve um pequeno avanço no que diz 
respeito a proteção dos menores com a distinção entre menores impuberes e 
menores puberes, sendo esta distinção mais ou menos, equivalente aos institutos da 
incapacidade absoluta e incapacidade relativa do Direito Civil moderno. A lei das XII 
Tábuas “suavizava” as penas cruéis quando o autor do crime de furto, fosse o menor 
impubere, e igualmente quanto a crime de dano. 
 
 A Revolução Francesa ocorrida em 1789 a 1799 foi um acontecimento que 
mudou o contexto político e social da França e também de todo continente europeu 
na época com a quebra da monarquia absolutista, acabando com os privilégios 
feudais, aristocráticos e religiosos, criando os princípios de “Liberté, Égalité, 
Fraternité”, ou seja, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Neste periodo histórico é 
instituido a igualdade filial entre os filhos legítimos e ilegítimos, naturais e espúrios, 
com os mesmos direitos. Foi uma grande mudança, pois era proclamado a proteção 
aos menores. Grande parte dos direitos adiquiridos foram restringidos com o Código 
Civil de Napoleão que restringia os direitos dos bastados de terem o reconhecimento 
da paternidade. 
 
 Nos séculos XVIII e XIX surgiam os direitos da criança e do adolescente e 
também a luta pela sua efetivação. Neste contexto jurídico a melhor forma da 
constituição de família. Deste modo, o filho é qualificado pela noção de lealdade e 
inocência, que passa a ser moldadode acordo com sua classe social. O indivíduo 
 27 
que não possuía família era taxado de “menor”, que para a época era tido na 
situação de delinquência e abandono, conceituado assim pela sociedade capitalista 
urbana. 
 
 Ainda no século XIX nasce o controle social, característica das sociedades 
liberais, e a expressão infância vai adquirindo o conceito de proteção, conferindo aos 
pais uma maior responsabilidade com os filhos. 
 
 Durante a Revolução Industrial propiciada no século XVIII entre os anos de 
1780 a 1840, crianças e adolescentes foram muito exploradas com o trabalho infantil 
no interior das fábricas da Inglaterra. Cerca de 60% dos trabalhadores nas fábricas 
têxteis da Inglaterra e Escócia eram crianças e adolescentes. Esse fato se justifica 
porque a resistência deles ao trabalho era quase nula, eram mais fieis ao seu patrão 
e a mão de obra era mais barata. 
 
 Como era de se esperar essa prática trouxe enormes prejuízos ao 
desenvolvimento físico e psicológico e também enorme dano à saúde dessas 
pessoas que se encontravam em fase de desenvolvimento. 
 
 Os menores eram submetidos a trabalhos desumanos, muitas vezes em 
ambientes extremamente hostis e as atividades consumiam longos períodos diários. 
A partir do dado momento nasce à preocupação do Estado em garantir ainda de 
maneira tímida a proteção das crianças e adolescente que eram submetidas ao 
trabalho considerado desumano. 
 
 Uma grande parte da doutrina aponta que o início da legislação tutelar do 
menor se deu na Inglaterra, com o Ato da Moral e da Saúde de 1802, que reduziu a 
jornada de trabalho em 12 horas e proibiu o trabalho noturno do menor nas oficinas 
dos povoados, proteção essa mais tarde estendida às cidades, em 1819, com a Lei, 
que limitou a idade mínima para o trabalho em 9 anos. 
 
 Durante a Primeira Guerra Mundial ocorrida na Europa de 1914 a 1918, foi 
grande o número de crianças e adolescentes recrutados e levados à guerra na falta 
de adultos. Entende- se que durante o período que durou a guerra quase nenhum 
 28 
direito era respeitado, muito menos os pertencentes à criança e o adolescente, e 
com isso quase famílias inteiras eram dizimadas. 
 
 Terminada a Primeira Guerra Mundial é criada em 1919 pela Liga das Nações 
o Comitê de Proteção da Infância. A existência desse Comitê faz com que os 
Estados não sejam os únicos soberanos em matéria dos direitos da criança. 
 No ano de 1923 Eglantyne Jebb cidadã inglesa fundadora da Savethe 
Children, formula junto com a União Internacional de Auxílio à Criança a Declaração 
de Genebra sobre os Direitos da Criança, conhecida por Declaração de Genebra. 
Passado um ano, a Liga das Nações adota a Declaração de Genebra 
recomendando aos estados filiados cuidados legislativos próprios, destinados a 
beneficiar crianças e adolescentes. 
 
 Já no ano de 1927, durante o IV Congresso Pan-americano da Criança, dez 
países americanos (Argentina, Bolívia, Brasil, Cuba, Chile, Equador, Estados 
Unidos, Peru, Uruguai e Venezuela) subscrevem a ata de fundação do Instituto 
Interamericano da Criança (IIN Instituto Interamericano Del Niño, atualmente 
vinculado à OEA e estendido à adolescência), organismo destinado à promoção do 
bem estar da infância e da maternidade na região. 
 
 Precisamente no ano de 1939 começou a Segunda Guerra Mundial e em 
quase todas as guerras há relatos da utilização de crianças e adolescentes como 
soldados, e na Segunda Guerra mundial que durou até 1945, não foi diferente. Foi a 
partir da Segunda Guerra Mundial que estes indivíduos passaram a desempenhar 
um papel diferente em momentos distintos da Guerra. Na Rússia todas as crianças a 
partir dos 11 anos de idade já podiam servir ao exército, entretanto há relatos de 
crianças ainda mais novas nas linhas de frente do exército. Na Alemanha, quando 
seu poder combativo já tinha se exaurido, couberam às crianças e aos adolescentes 
a defesa de Berlim, tanto que a última aparição oficial de Hitler se deu na entrega de 
medalhas para esses jovens soldados. 
 
 Durante o Holocausto ocorrido em 1939 início da Segunda Guerra Mundial e 
que terminou 1945 com o fim da guerra, aproximadamente 1,5 milhão de crianças 
foram mortas pelos alemães Nazistas. Sendo aproximadamente um milhão delas 
 29 
judias, e dezenas de milhares de ciganos, além de crianças alemãs com deficiências 
físicas ou mentais que viviam em instituições, crianças polonesas, e crianças que 
moravam na parte ocupada da União Soviética. 
 
 Neste período da história da humanidade todos os direitos concernentes ao 
ser humano estavam sendo violados com tamanha atrocidade. Estando as crianças 
em situação de vulnerabilidade, elas eram a arrancadas a força do seio de seus pais 
e levadas para o campo de concentração onde eram mortas, pois os nazistas 
defendiam o assassinato de crianças de grupos “indesejáveis” ou “perigosos”, de 
acordo com a sua visão ideológica, tanto como parte da “luta racial” quanto como 
medidas de segurança preventiva. 
 
 Os alemães e seus colaboradores matavam crianças por estas duas razões e 
também como retaliação aos ataques, reais ou inventados, dos partisans. As 
chances de sobrevivência imediata dos adolescentes, judeus e de não-judeu, entre 
13 e 18 anos eram maiores, já que podiam ser enviados para o trabalho escravo. 
 
 Em 1945, os países tomam consciência das tragédias e atrocidades vividas 
durante a 2ª Guerra Mundial, o que os levou a criar a Organização das Nações 
Unidas (ONU) em prol de estabelecer e manter a paz e a proteção integral dos 
Direirtos Humanos incluindo os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. 
 
 No periodo compreendido no ano de 1946 o Conselho Econômico e Social 
das Nações Unidas recomenda a adoção da Declaração de Genebra. Logo após a II 
Guerra Mundial um movimento internacional se manifesta a favor da criação do 
Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância UNICEF. 
 
 Foi por meio da Carta das Nações Unidas, de 20 de Junho de 1945, que os 
povos apresentam a sua preocupação em preservar as gerações futuras do flagelo 
da guerra e proclamam a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade da 
pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, a garantia de 
direitos das crianças e adolescentes. 
 
 30 
 Em 1948 a Assembléia Geral das Nações Unidas proclama a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos. Na Declaração os direitos e liberdades das 
crianças e adolescentes estão implicitamente incluídos. 
 
 A Declaração Universal dos Direitos Humanos recomendou a fixação da idade 
mínima legal para a capacidade núbil, o consentimento dos pais ou responsáveis 
para o casamento de menores, a livre e consciente manifestação da vontade dos 
nubentes de quaisquer condições, a liberdade da iniciativa matrimonial aos homens 
e mulheres com a finalidade de coibir abusos em detrimento da inexperiência, 
ingenuidade e fragilidade das pessoas em fase de desenvolvimento. (TAVARES, 
2001, pg 56) 
 
 A Convenção de Roma de 1950 definiu que privação da liberdade de um 
menor somente será admitida se tiver por objetivo educá-lo. A criação das Nações 
Unidas simboliza a necessidade de um mundo de tolerância, de paz, de 
solidariedade entre as nações. Assim são tutelados os direitos de proteção a 
humanidade e a garantia que tais direitos seriam reconhecidos e respeitados por 
todos o povos. O desejo de fazer avançar o progresso social e económico de todos 
os povos. 
 
 A criança deve estar plenamente preparada para uma vida independente na 
sociedade e deve ser educada de acordo com os ideais proclamadosna Carta das 
Nações Unidas, especialmente com espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, 
igualdade e solidariedade. 
 
 Em 20 de novembro de 1989 é criada a Convenção Internacional sobre os 
Direitos da Criança pela Assembléia Geral das Nações Unidas através da 
Resolução 44/25. É um tratado que visa à proteção de crianças e adolescentes de 
todo o mundo. 
 
A Convenção da ONU sobre os direitos das crianças em seu artigo primeiro 
dispõe que é criança todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não 
ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada 
antes. 
 31 
 
Em relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu artigo 2º, dispõe 
que se considera criança, a pessoa até doze anos de idade incompletos e se 
considera adolescente a pessoa até dezoito anos de idade incompletos. 
 
A Organização Mundial da Saúde, define adolescente como o indivíduo que 
se encontra entre os dez e vinte anos de idade. Com isso essa fase caracteriza-se 
por alterações em diversos níveis, físico, mental e social, no qual representa para o 
indivíduo um processo de comportamento e privilégios típicos da infância e a 
aquisição de características e competências que o capacitem a assumir os deveres 
e papéis sociais. 
 
 A Declaração Internacional sobre os Direitos da Criança, garante todos os 
direitos especiais que o menor precisa, em virtude de sua condição de indivíduo que 
não possui maturidade física e mental, suficiente para viver por conta própria e a 
ele é prestado dos os cuidados especiais, inclusive a devida proteção legal, tanto 
antes quanto após seu nascimento. 
 
 Um dos primeiros direitos do ser humano é o de ter assegurada sua 
identidade. É neste sentido que a Convenção prevê o direito da criança de ser 
registrada imediatamente após seu nascimento, garantindo, assim, seu direito ao 
nome e à nacionalidade. 
 
Os estados membros, ao aderirem à Convenção, comprometem-se a 
respeitar a identidade, a nacionalidade e as relações familiares de suas crianças, 
fornecendo-lhes assistência e proteção apropriadas de modo que sua identidade 
seja prontamente restabelecida em face de qualquer privação ilegal desta. 
 
Os mesmos deverão, ainda, zelar para que a criança não seja separada da 
família, salvo nos casos de interesse maior do infante e de acordo com a legislação 
vigente de cada país e respeitando o procedimento judicial específico, tais como a 
suspensão ou perda do pátrio poder. 
 
 32 
Na Convenção é estabelecido que são direitos fundamentais da criança, à 
integridade física e moral, à privacidade e à honra, à imagem, à igualdade, à 
liberdade, o direito de expressão, de manifestação de pensamento, sem distinção de 
qualquer natureza (raça, cor, sexo, língua, religião, convicções filosóficas ou 
políticas origem étnica ou social etc.), estabelecendo diretrizes para adoção e 
efetivação de medidas que garantam estes direitos por parte dos estados 
convencionados, objetivando garantir a proteção das crianças de qualquer forma de 
discriminação ou punição injusta. 
 
A Constituição Federal brasileira, assim como a maioria das constituições 
dos países ocidentais identificados com o constitucionalismo 
contemporâneo, reconhece a especificidade dos diferentes sujeitos de 
direitos e entre os principais objetivos desses países, está a redução de 
desigualdades, mas, sobretudo, o respeito à equidade ou às diferenças que 
constituem a realidade social, enquanto expressão de origem, raça, sexo, 
cor e idade. Assim, o projeto de sociedade expresso na Constituição 
brasileira afirma a opção por um Estado Democrático de Direito de caráter 
horizontalizado, com ênfase na redução de desigualdades, desde o 
reconhecimento das diferenças e especificidades. (COSTA, 2012, p.128) 
 
 
No que diz respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes, a CF/88 
buscou sua fundamentação no princípio da Dignidade da Pessoa Humana, 
incorporando também diretrizes dos Direitos Humanos no plano internacional, 
especificamente, seguindo os caminhos traçados na elaboração da Convenção 
Internacional dos Direitos da Criança. 
 
Já a partir do início da década de oitenta do século passado, começou a 
difundir na America Latina a discussão da Convenção Internacional dos Direitos da 
Criança. Foi observada, a atuação e a influência dos movimentos sociais 
emergentes na construção de textos jurídicos da área dos direitos da infância. Na 
situação específica do Brasil, o movimento coincidiu com os debates que 
antecederam a convocação da Assembléia Nacional constituinte e que prosseguiram 
durante a elaboração da Constituição. Assim, a situação das crianças dos 
adolescentes foi um dos temas das lutas populares por assegurar a positivação de 
direitos. 
 
 Toda essa mudança legislativa somente pode ser compreendida desde a 
perspectiva história, na medida em que representou a superação de um modelo de 
 33 
tratamento jurídico da infância e juventude, que já vigorava há cerca de um século 
na maioria dos países ocidentais. Trata-se das legislações de menores, 
fundamentadas na doutrina da situação irregular, como ficou conhecida na América 
Latina, que se caracterizava pela legitimação jurídica da intervenção estatal. 
 
 O enfoque principal da Doutrina da Proteção estava em legitimar a potencial 
atuação judicial indiscriminada sobre os adolescentes em situação de dificuldade. 
Tendo como foco o “menor em situação irregular”, deixava de considerar as 
deficiências das políticas sociais, optando-se por soluções individuais que 
privilegiavam a institucionalização. Em nome dessa compreensão individualista, 
biologista, o Juiz aplicava a lei de menores sempre a partir de uma justificação 
positiva, a qual transitava entre o dilema de satisfazer um discurso assistencialista e 
uma necessidade de controle social. 
 
Antes da promulgação do ECA, crianças e adolescentes eram considerados 
como objetos de proteção, tratados a partir de sua incapacidade. As leis não eram 
para toda infância e adolescência, mas para uma categoria específica denominada 
de menores. Para designá-los eram utilizadas figuras jurídicas em aberto, como 
menores em situação irregular, em perigo moral ou material, em situação de risco, 
ou em circunstâncias especialmente difíceis. 
 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, seguida pela edição da 
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e Adolescente), foi um 
marco legal no que se refere à proteção dos direitos das crianças e dos 
adolescentes no plano interno brasileiro, já que antes do novo regramento 
constitucional não existia garantia de direitos as crianças e adolescentes no âmbito 
constitucional e estava em vigor no Brasil a Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979 
(Código de Menores), em que os menores eram considerados pessoas em situação 
irregular e objeto de direitos. 
 
 O novo instituto jurídico declara o menor como pessoa em desenvolvimento e 
por tanto sujeito de direitos. O menor não pode de maneira em hipótese alguma ser 
tratado como objeto, de maneira desprezível. 
 
 34 
O artigo 5º do ECA estabelece que não é admitido tratamento negligente a 
criança e o adolescente, o que pode resultar a os pais a perda do pátrio poder sobre 
o filho ou seja a retirada deste do seio familiar. Sendo inadmissível qualquer forma 
de discriminação, seja ela praticada pelo Poder Público ou pela sociedade. 
 
A exploração, a violência, a crueldade e a opressão em relação ao menor 
podem tipificar uma conduta delituosa. (art. 225 a 234 do ECA). 
 
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criançae o 
adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação 
penal. 
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte 
Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código 
de Processo Penal. 
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada. 
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento 
de atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades 
desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como 
de fornecer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, 
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do parto e do 
desenvolvimento do neonato: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. Se o crime é culposo: 
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. 
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de 
atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a 
parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos exames 
referidos no art. 10 desta Lei: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. Se o crime é culposo: 
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. 
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à 
sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo 
ordem escrita da autoridade judiciária competente: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão 
sem observância das formalidades legais. 
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança 
ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária 
competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou 
vigilância a vexame ou a constrangimento: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos.: 
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a 
imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento 
da ilegalidade da apreensão: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
(www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 18 de maio, 
2014,) 
 
 
 35 
Ao contrário do estabelecido na vigência do Código de Menores, o novo 
regramento, inaugurado com a Carta da República de 1988, garantiu às crianças e 
adolescentes a prioridade absoluta, bem como a proteção integral, ressaltando a 
condição de sujeitos de direitos e a necessidade de defesa diferenciada em razão da 
condição peculiar de desenvolvimento, o que representou uma radical mudança no 
que se refere á proteção dos seus direitos. 
 
A partir da entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente o que 
se pode observa é uma mudança de paradigma, já que sob o manto do Código de 
Menores, o Juiz de Menores, exercia de forma centralizada as funções 
administrativas e jurisdicionais com o fim de aplicar o código aos menores, muitas 
vezes sem limites e invadindo a esfera de atuação privada dos pais, o que terminava 
por prejudicar a educação dos menores que não encontravam limite no próprio seio 
familiar. 
 
Com a atuação do Juiz de menores, a responsabilidade da família ficava de 
lado, já que a mesma era transferida para a autoridade judiciária, que no exercício 
da sua atividade jurisdicional acabava invadindo a esfera de atuação de outros 
poderes, como o poder da família sobre os menores, por exemplo, ao editar normas 
estabelecendo horários máximos de permanência dos menores nas ruas, através 
das portarias que disciplinavam o toque de recolher, em evidente afronta ao 
exercício do poder familiar, eis que os próprios pais são as autoridades responsáveis 
por disciplinar o horário de permanência dos filhos nas ruas. 
 
A doutrina da situação irregular, vigente no Código de Menores de 1979, não 
estabelecia direitos, era restritiva aos filhos das famílias pobres. A principal 
característica da citada doutrina era o tratamento dos menores como objetos de 
direitos, prevalecendo à segregação dos menores abandonados em internatos e dos 
envolvidos em práticas de atos ilícitos em casas de detenção mantidas pela FEBEM. 
 
A inauguração da doutrina da proteção integral rompe um paradigma com a 
garantia de direitos fundamentais às crianças e adolescentes e divisão de 
responsabilidades entre a família, a sociedade e o Estado, nos termos do art. 227 da 
Carta da República. Assim, é importante destacar que o referido dispositivo 
 36 
constitucional enfatizou a fundamentalidade dos direitos da criança e do 
adolescente, cabendo com isso ao Estatuto da Criança e Adolescente a 
incumbência de sistematizar a doutrina da proteção integral. 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da 
criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades 
não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos 
seguintes preceitos: I - aplicação de percentual dos recursos públicos 
destinados à saúde na assistência materno-infantil; 
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para 
as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como 
de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, 
mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do 
acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos 
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. 
§ 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos 
edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a 
fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. 
§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: 
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o 
disposto no art. 7º, XXXIII; 
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; 
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; 
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato 
infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por 
profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; 
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à 
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de 
qualquer medida privativa da liberdade; 
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos 
fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de 
guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; 
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao 
adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. 
§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual 
da criança e do adolescente. 
§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que 
estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de 
estrangeiros. 
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, 
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação. 
§ 7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á 
em consideraçãoo disposto no art. 204. 
§ 8º A lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular os 
direitos dos jovens; 
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à 
articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas 
públicas.(www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> 
Acesso em 18 de maio, 2014). 
 
 37 
 
No Direito brasileiro a maioridade civil é atingida aos 18 anos de idade e do 
mesmo modo a maioridade penal. Sem embargo, a cidadania poderá ser exercitada 
a partir dos 16 anos, com o direito facultativo ao voto, sendo este obrigatório a partir 
dos 18 anos. Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente divide a infância 
em duas fases, considerando criança a pessoa de até 12 anos de idade incompletos 
e adolescentes aquela entre 12 e 18 anos de idade incompletos. 
 
A Convenção Internacional dos Direitos da Criança estabelece, que os 
Estados membros deverão tomar todas as medidas administrativas, legislativas para 
a implementação dos direitos reconhecidos na Convenção, e, especialmente com 
relação aos direitos econômicos, sociais e culturais, retrata-se as medidas no 
alcance máximo de seus recursos disponíveis e, quando necessário, no âmbito da 
cooperação internacional. 
 
Os referidos direitos fundamentais, arrolados no artigo 5º da Constituição 
Cidadã, de 1988, são especificamente atribuídos à criança e ao adolescente 
no artigo 227 dessa Lei Maior, atribuindo a família, a sociedade e ao Estado 
a responsabilidade pelo bem estar dos infantes. Estes princípios, irradiados 
por toda a Convenção, refletem-se igualmente nas disposições preliminares 
contidas no Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990. 
(www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/direitos/tratado11.htm
> Acesso em 8 junho, 2014). 
 
A partir do advento da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, 
caracterizou-se uma nova fase dos direitos da criança e do adolescente. No caso 
brasileiro, essa nova etapa expressou-se através da Constituição Federal e, em 
1990, no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, bem como, no mesmo 
ano confirmou-se com a ratificação da Convenção Internacional pelo Congresso 
Nacional. Tratava-se da consolidação na legislação internacional, com influência 
gradativa nas Constituições de vários países, da Doutrina das Nações Unidas de 
Proteção Integral à Criança. 
 
A Doutrina da Proteção Integral considera-se como a base valorativa que 
fundamenta os direitos da infância e da juventude. Como parte do reconhecimento 
normativo de uma condição especial, ou peculiar, das pessoas desse grupo etário 
(zero a 18 anos), que devem ser respeitadas enquanto sujeitos de direitos. Crianças 
 38 
e adolescentes, a partir de então, ainda que no texto normativo, foram reconhecidos 
em sua dignidade, pessoas em desenvolvimento, que necessitam de especial 
proteção e garantia dos seus direitos por parte dos adultos: Estado, família e 
sociedade. 
 
A proteção integral é a responsabilização do adulto pelo cuidado e garantia de 
condições para que crianças e adolescentes possam exercer sua cidadania, com 
dignidade. Crianças e adolescentes, titulares de direitos, são consideras sujeitos 
autônomos, mas com exercício de suas capacidades limitadas em face de sua etapa 
de vida. Titulares de direitos e também de obrigações ou responsabilidades, as 
quais são graduais na medida de seu estagio de desenvolvimento. 
 
A Doutrina da Proteção Integral tem nesses pressupostos, seus fundamentos 
e é composta de princípios jurídicos positivados na Convenção Internacional e na 
Constituição Federal. Entre os principais princípios destacam-se os princípios da 
prioridade absoluta; princípio do melhor interesse; princípio da brevidade 
excepcionalidade; princípio da condição peculiar de desenvolvimento; e princípio da 
livre manifestação, ou direito de ser ouvido. 
 
Na presente Doutrina encontra-se presentes nos seguintes documentos e 
tratados internacionais: Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, de 
1989; Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração dos Direitos dos 
Menores, Regras de Beijing, de 1985; Regras das Nações Unidas a Proteção dos 
Menores Privados de Liberdade, de 1990; Diretrizes de Riad, de 1990; Regras 
Mínimas das Nações Unidas para a elaboração de Medidas Não Privativas de 
Liberdade e Regras de Tóquio, também de 1990. 
 
O conjunto de documentos internacionais superou, portanto, no âmbito 
normativo, a antiga concepção tutelar, trazendo a criança e o adolescente para a 
condição de sujeitos de direitos perante o Estado e a sociedade; estabelecendo a 
esses, por conseguinte, obrigações e limites de intervenção. A positivação de 
direitos destinados ao público infanto-juvenil, em consonância com a base 
doutrinaria, tem especial significado na medida em que rompeu com o tratamento 
jurídico destinado a esse público, até então: “direito do menor”. 
 39 
 
Logo, a Doutrina da Proteção Integral, tem significado e sentido 
contextualizado e deve ser entendida como proteção especial aos direitos 
da pessoa em desenvolvimento, e não das pessoas em si. Caso contrário, 
continuar-se-ia a considerar a pessoa como se objeto fosse, o que fez parte 
da tradição histórica do tratamento de crianças e adolescentes pela 
sociedade e pelo Estado. “Lo que se protege son precisamente derechos y 
no directamente a la persona, pues de esta última forma pasa a ser Ella el 
objeto protegido”.(COSTA, 2012, p.133) 
 
Nesse Contexto, as alterações normativas no plano internacional, com forte 
influenciam nos Estados nacionais, em especial no caso brasileiro, significaram um 
importante avanço. De outra parte, tal compreensão histórica e contextualizada 
ajuda no entendimento acerca das razões pelas quais, no contexto de complexidade 
dos dias de hoje, ainda se observam intervenções sobre a vida de crianças e 
adolescentes como se estivesse vigente a “situação irregular”. 
 
Trata-se da predominância de uma cultura que faz parte da “epiderme 
ideológica”, que perpassava o conteúdo de tais leis, sendo superadas no plano 
internacional e constitucional da maioria dos Estados nacionais democrático, e que, 
no entanto, continua presente na “epiderme” institucional e judicial, ao menos no 
caso brasileiro, em muitos momentos e circunstancias. Nesse plano, subliminar, 
situa-se em alguma medida, a dificuldade de reconhecimento, em especial do 
público de adolescentes, como sujeitos de direitos. 
 
A Constituição brasileira estabelece, portanto, como sistema máximo de 
garantias, direitos individuais e sociais, dos quais são titulares todas as crianças e 
adolescentes, independente de sua situação social, pessoal ou mesmo de sua 
conduta a Doutrina da Proteção Integral. 
 
O artigo 3º do ECA declara que a criança e o adolescente gozam de todos os 
direitos fundamentais da pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral. 
 
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais 
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata 
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as 
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, 
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
(www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 18 de maio, 
2014). 
 40 
QUADRO COMPARATIVO ENTRE O CÓDIGO DE MENORES E O 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 
Base Doutrinária 
O Código de menores tratava o 
menor em pé de igualdade com os 
outros sujeitos infratores, inclusive os 
maiores. 
O Estatuto da Criança e do 
adolescente passou consagrar

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