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RICOEUR, P. Hermeneutica e estruturalismo

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HERMENEUTICA
E ESTRUTURALISMO
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da teoria q~Junda.as_regras de leitura .em.qu~ta.~ ... Essas interpreta¢es
19Ual.meIite vaIidas 'pcrmancccm "jogos de linguagem", cujas regras podcmos
altciar arbitrariamcnte, enquanto" nao mostrarmos que ·<;ada. uma e·'fun4 •
dada Duma funcao existcncial partiCular;" ~ assim que a pskanalisc'tcrri ....
sell fundamento Duma arqueologia do sujeito, a fenomenologia do espirito
numa teleologia, a fenomenologia da religiao numa escatolog;~..
Podemos ir adiante? Podemos articular essas diferentes fun~5es.existen-
dais numa figura unitaria, como tentava Heidegger na segurida parte de
Sein und Zeit? Eis a questao que 0 presente estudo deixa sem solu~ao. Con~
tudo, se permanecc scm solu<;ao, nao edesespcrada. Na dialftica da arqueo-
logia, da teleologia e <ia escatologia, anuncia-se uma estrutura ontol6gica
capaz de congregar as interpreta<;oes discordantes no plano lingiiistico. Mas
essa figura coerente do ser que somas n6s, na qual viriam implantar-se as
interpreta<;6es rivais, nao se da em outro Iugar senao nessa dialetica das in-
terpreta<;6es. A esse r.::speito, a hermencutica e insuperiveL Somente uma
hcrmcncutica instrufda peIas figuras simb6licas pode mostrar que essas dife-
rcntes modalidades da ex:istcncia pertencem a uma unica problematica.
Porque, afinal, sao as silnbolas mais ricos que asseguram a unidade dessas
multiplas intcrprcta<;oes. Somente des sao portadores de todos os veteres,
regressivos e prospectivos, que as diversas hermencuticas dissociam. Os vcr-
d;;,deiros simboJos es:ao c~;rc;::dos de tod~s as hen~lcnc:..Jtic:l.s, da c;:.:e sc di-
rigc a cmcrgcnei:-:. de,; novJ.s s;gr;ific;l.~ijcs c da que sc d irige ;,. ri.:s'~~gcncia
das faD.t3.Sias arcaicas. E ncsse sentido que diz12ffiOS, dcsuc nossa ir::rodu<;;'io,
que a cxistcncia de que pode f.:l]:lr um:'l filosofia hcrmcncutic3. pC:':'Ylanece
scn"l;~rc um3 cx.::-:t~::c;a jntc:-p:-C:Lld~. t no t:-2.balho d~l i;-:tcrprc::l~~:: ::::·~C C:2
descu::~c 2.5 muIt:p:.:1S ~10l;~li,~1~tl:~.:l ca d~r(;n,jcncia 1.10 "s:n, Sl.:.3. (1":~:2~.J~c.:':;::l
ao dcseJo pcrccbica Duma arc;'Jcolagia do sujci,a, sua dc?cndcncia ao cspirito
perccbida em sua tclcologia, sua dependencia ao sagrado pcrcebida em sua
escatologia. ti descnvolvcndo uma arqucologia, uma !etcologia e uma escato-
lcgiaque a ref]cxao se suprime a si mesma como reflcxao.
Assim, a ontologia e a terra prometida para uma filosofia que comc9a
pcla linguagem e pcla reflcxao. Como Moiscs, porern, 0 sujeito fa]ante e
rcflctinte apenas pode percebc-la antes de morrer.
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ESTRUTURA E·HERMEN~UT.ICA·
o prcsente coI6quio tern por tema a herroeneutica e a tradi~ao. 'B sur-
preendente q~e, aquilo que e posta em questao, em ambos os tituIos, e,eerta
maneira de viver, de operar 0 tempo: tempo detransmissao. tempo de in-
terpreta~ao.
Ora, somos eta opiniao - que permanece opiniao enquanto nao <for bem
fundada - que essas duas temporalidades ap6iam-se uma sobre a outra, per-
tencem-se mutuamente. Achamos que a interpre~o possui uma hist6tia
e que esta hist6ria e urn segmento da propria tradi~ao. Nao lDterpretamos
de parte alguma, mas para explicitar, prolongar e, assim, manter viva a
propria tradit;ao na qual nos encontramos. e assirn que 0 tempo da inter-
preta:;ao percence de certa forma ao tempo do. tradit;ao. Em compensat;ao,
porem, a tradi:;ao, mesmo entendida como tr"lnsmissao de urn depositum,
permanece tradit;io marta, se nao for a interpretat;ao continua desse depo-
sito; t;ma "herar.;;a" nao 6 urn pacotc fechado que passarr.os de mao em mao
scm. :lbri-lo, mas um tesouro de ond~ sacamos com as maos replctas e que
rcnOV<1:7l0S 1'13 o~)(:raq:i0 mesma de:. saca-lo. Toda tradi:;ao vivc grayas a
intcrpreta9ao. e a este pre90 que ela dura, quer dizer, permanece viva.
Tod<>via, nao IS visivcl a pcrten~ mutua dcssas duas temporalidades:
como a interpretayao se inscreve no tempo da tradic;ao? Par que a tradi~o
so vive no e pclo tempo da intcrpreta~ao?
Es~e:J i proCUIa de uma tcrccira tcmporalidadc, de um tempo pro-
funelo, que ~(;ria iZ15Crito oa riqucza do scntido c que tornaria passive! 0 en-
lrccruz~.n~cnto J=as Liuas tcmporalidadcs. Scria como que uma carga tcm~
peral, in:::i:;lmcntc lcvada pdo advcnto do scntido. Esta carga temporal tor:-
naria pO:;~lvc1 .10 mesmo tempo a scdimcnt~o Dum depOsito e a explicitac;ao
numa i;lterprcta:;ii.o. Em suma; tornaria possivcl a Iuta dessas duas tempo-
ral;dadcs, uma que transmite, outra que renova.
r-.la.s ondc procurarmos este tempo do sentido? E, sobrctudo, como
alingi-lo?
(/ Minha hipo'ese de trabalho e a de que esta carga temporal tern alga a
\~~ com a constitui~o semantica daquilo que chamei, em minhas duas comu-
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Nao me parccc oportuno partir de 0 Pmsamento Selvagem, mas chegar
3 dc. 0 Pensamcr;[o Sd"agem reflre~cnta a ultima cl;,p3 de urn processo
gr3dativo de generali7.at;ao. No inicio, 0 cstruturalismo naG prctendc ~ef~nir
loch a constitui"ao do pensamento, mesmo no cstado sc!''':lgcm, mas dchmltar
um grupo bern dcterminado de problemas possuinuo, sc pod cmos dizcr assim,
afinidade para 0 Ira1amento estruturalista. 0 Pensamenlo Selvagem repre-
dcssc (cmpo esgotado; transforma-sc em hcran~a C em dcp6sito, ao mesmo ; "
tempo que sc r:lcionaliu. Estc proccsso c patente quand? .se compara ~os 'io
grandes simbolos bcbr~icos do pccado as COl1stru<;ocs fantastlcas da gnose c, I t
tambcm, da antil;oosc crista do pecado original, que n~o passa de um~ t .~
resposta a goose, no mesrno nive! s.::maDLlco. !!~a_~radJ<rao se esgota a~o t~!1li~ologizar ~ srm_b5'lo;_~B.Q~a.tr.aYis da lllt~rpraa~ao, que so15e~ r(~.,,~!1~ ~
"crtente dO_.~~~._P()_~g~t.1.dOao_tempo_oc_l,l':L0"'_~!cdaer, fazendo apcio,da . 'I ~
'mitologia.ao.slmbolo..e..a..su.a...rcsetlla de senfJ~o. - !~. . Mas 0 que cizermos de:se tempo fundador em rel~<;2..o ao duplo tempo l f
da tradicao e da interprctac;ao? E, sobretudo, como atlDgl-lo? !OI
Esse estudo pretende propor uma via de acesso indireta, urn atalho: II
partirei das no90es de sincronia e de diacronia oa escola est~tur~lista e~ esp:-
cialmente, oa Antropologia EstrlJ.lural de Uvi-5trauss..Minha lD:en<;~~ nao I
e, absolutamente, a de opet a hermeneutica ~o estruturahsmo, ~. hl~tonctda~ - ! .
de uma a diacroD..l a outra. estruturalismo pertence a Clencla. E nao l
vejo atualmente enioque maiS'"rigoroso e mais fecundG que 0 estru~ralismo ! f
nO nlvel de inteligcneia que ~ ~ seu. _A interpr.etayiio da s~b6Iica ?ao !I
merece ser chamada de hermeneutica senaa na medlda em que e urn segmen- I t'
to da compreensao de si mesmo e da compreensiio do ser. Fora desse trabalho . i f
de apropria¥ao do sentido, ela nada e. ~esse ~entido,. a he~meneutic:a .e urna I f:
disciplina filos6fica. Tanto 0 ~st~~ral~s~~~~a a dlstanclar, ~ O~Jctl~ar, .3 j ~
scparar da cql'aC;ic pcssoal d? pcsqu~~~~or a cstrutura de uma mstltUl~ao, oe .
urn mito, de um ri:o, quanta 0 pcnsamento hermencutico cmbrenha-se na-
qUilo que pudemos Cllamar de "0 circ1!lo hcx~encUt!co"--docorripreender e
do crcr, que 0 d~sqL!a1ifiCa c6ri16--cic~cia c 0 qllalific:l como pensamcl1to
;.ncd;tan~c. PorlJ.::'~:', do ·IJ5. lug·;'-r para sc justapor dt.;~" O1:l'1drZlS de com-
. Drccn-da. Tr:;t~,·:,c, an:es, de cncadc~-13s como ° ObJctlvO c 0 cxistcnci31
(exis;entiel) _ ou 0 e:zistenriaIJ ea berroencutica e uma fasc pria-
<;ao lio scntido, uma ctaoa entre a reflexao a ~trata c_~ rcflcx.ao concreta;
~a~~ticaeuma retomada, pela pensamento, do scntido em suspenso
n3 simbolica, s6 pode encontrar 0 trab;,lho da antropologia cstrutural como
urn :lpnio, e 050 CC1mo uma cunha. S6 nos apropriamos daquilo qu~ antes
Ir~.:i:':.:~."'''::-:)O~ ~ d:s~5.~.:~a para considcra-lo. _r;. ~O!!.siJ:E~9ao ob;CH\'J., !~-
\,<Jca a cfcjto~no5. c_o,,-ceilos de sincro~e~acronia,que prctc:mlo pralic:lr,
-;;,; c~pC;.:in;:.:i de cC:HltIDra hcnneneutica, de~rnLlnlclili:Gciaingcn lla a_!J.P_~
intcligencia amadurc;:ida, at~dadi~nada objd~i~~~
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28
nicaC5cs antcri.ores a cste mesilla col6qciot, osfmbDlo.... e que dcfini pelc podcr
do duplo scntldo. 0 simbolc, dizia, e assim constftUrdo do ponto de vista
semantieo que ele confere urn scntido mediante urn sentido; nelc, um se:'llido
primaric1, literal, mundano, frcoilentemente fisico, remcte a um scntido figu-
rado, cspiritual, frequentcmcntc existenciaI, ontologico, que de forma alguma
c dado fora dessa designacao indireta. 0 slrnbolo leva a pcmar, faz apeIo a
uma interpre~o, justamente porque ele diz mais q;;c nao diz e porque ja-
mais terminou de levar a dizer. Meu problema, atualrocntc, code extrair
o alcance temporal dessa analise semantica.. Entre 0 aerescimo de sentido
~) ~_car~~~~ral,deve haver uma rela<;ao essencial: e essa reia~~o essencial
./'. que constitui 0 desafio da presente comunic~ao.
Ainda uma precisao: chamei este estudo de 0 tempo dos simbolos, e nao
de 0 tempo dos mitos. Como disse Dum estudo precedente, de forma alguma
o mito esgota a constitui<;ao semantica do simbolo. Quero lembrar aqui as
principais raz6es pelas quais 0 mito deve estar subordinado ao simbolo.
Em primeiro lugar, a mito e uma forma de relata: ele conta os aeontecimen-
tos do inicio e do fim num tempo fundamental - naquele tempo; - estc
tempo de referencia acrescenta uma dimensao suplementar a historicidade
de que csta encarregado 0 sentido simb6lico, devendo ser tratado como um
problema especifico. Par outro lado, 0 elo do mito com ° rita e com 0
coojunto das instituirrOes de uma sociedade particular 0 insere na trama social
e mascara, ate certo ponto, 0 potencial temporal dos s£mbolos que ele poc
em jogo. Mostraremos mais .:ldi:::1tc <l. import~ncja d'~ssa d::'Lint;:io. A me\.!
vcr, a f].;;]-50 social determinada do mito nao csgota a riqueza de sentid
do [undo simb61ico.J:lllC-.Dl!1ra.co:'~st~,1l;il.o...m.;.1lca poderi reutiJjz;lr. em ot:1ro
contex10 SOCi2!. Enfim, 0 arraDjo jitcrario do mito implica wn inieio de ra-
c~o:l21i7a<;5.o que Iimit.3. 0 r0~C!" (~:; ~~~~:fic2~::n (:0 fL:i":cc'1 Sin12J!~(:0. i{ct6r~c~~
c C'SpcculD.Cao ja come~am a fi"ar 0 fundo simboEco; nao h5. mito scm urn
inJcio de mito!ogia. Par todas cssas fazOcs - arranjo em forma de relato,
ligac;ao com 0 rito e com uma fuD~ao social determinada, racionalizac;ao
mito!"gica, - 0 mite j:i nao se en contra mais no nlve! do fundo simb61ico
c dcste tcmpo oculto que p:"ocuramos m:mifcstar. Quanto a mim, ja mostrci
i"o, tOffi:lndo 0 exemplo da simb61ica do ffi:ll. P::lfCCCU-mc ~:.:c as slmho1('~
c:1';Ol:05_.':la confissao do m~l e:;::1o rcpartidm em Ires nivcis sif'r1ifiC;lnl,£5:
n: ...cl. Si..l~lb6!lco primirio Ja sii)cir:\>.. do pec:lc!,:ua cu!ea: nfvcl mitico dm
!~;;!f1<:C~ rC~[Qc'i de ueda ou de exllio; nivc! dos do matismos milolo~icos d
boose c do"pceado on~lna. Pareccu-rnc. ao levar a cfcito csla dialetica do
simbo!o "':"':"&ascand;;;:~-;pcnas, c verdadc, nas tradis:6cs semiticas e beleni-
t.:~':. q:.1C ..J. rcscr,ra de ~cnlido d05 simbolos p:im~rios era m:lis rica que ~
(!".: oir;:bo:os mIticos e, com maior razao, que a. d:lS mitologias racionalis-
ta.>. Do simbolo ao milO e a mitc!og:a, i'~s:>r:'1CS de nm tempo oculto 11 urn
lc~"p" cs[;o:ado. Parcce, entaD, que a tr;-,d i\;~o, na rncdida mesma em que
dc-sec a rampa do simbo10 a mitologia dogmatica, situa-sc sobre 0 trajcto
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todos Os signos de uma Hngua formc.-n urn sistema: una lIngua, 56 ha dife-
ren~3s" (Cours de ling1.1istiqllc gcncrale, p. 166).
Ess2. ldeia-for.;a r..urnanda 0 segundo ~cma concernirtdo precisa.ment~ a
rcla~ao da diacronia com asincronia. Cera cfeito, 0 sist~~a das dlf.ercnc;as
s6 surge sabre um eixo das 'cocxistcncias inteira:ncnte dlstlO.t~ ?o elXO' oas
sucessoes. Nasce assim uma lingUfstica S·'lCrOD1ca, como ClcnCla dos esta-
dos em seus asp~ctos si~tematicos, distinta de uma ling~istica.di,a:ro~ica, ou
cicncias das evolus:5es, aplicada ao sistema. Como se ve, a blstona e SeClln-
daria, e figura como altera~ao do sistema. Ademais, em lingUistica, essas
altera~oes sao menos inte1igfveis que os estados de sistema: "Jamais, escreve
Saussure 0 sistema e modificado diretamente; em si mesmo, e imutavc1; so-
mente c~rtos elementos sao aHerados sem atenc;ao a solidariedade que os
liga ao tOdo" (ibid., p. 121). A bist6ria e mais respon~Y.eLpe1as desordens
que pelas mudan.;as significantes."'"'"Saussure afinna com razao: "os fatos da
serie sincronica sao rela~6es, os fatos da serie diacronica, acontecimentos no
sistema". Par conseguinte, a lingiHstica e antes de tudo sincronica, e a dia-
cronia s6 e inteligfvel enquanto comparas:ao dos estados de sistema antedores
e posteriores; a diacronia e comparativa; nisto ela depende da sincronia~
Finalmente, os acontecimentos 50 sao apreendidos qu::ndo r~alizados Dwn
sistema, isto e, ainda recebendo dele um aspccto de regulandadc; 0 fato
diacronico c a inova~ao oriunda cia palc.vra (de um so, de alguns, poueo
impoLta), mas "tornada fato de ling~agcm" (p. 140).
o problema central de nossa reflexao consistira em saber atc onde 0
modclo !in"iiistico das rclac;6cs enlre sii1cro~ diacron~:1 pode nos guiar na
COrl:'D:,cc::sio C~ hiqo:-:cid:1cC riOrr:~ ~os sfmbolos. D:;':':;:;o;;:; 1o~()~ 0 ;:'0:::0
>,-,.;~o S .r,; "It;·,,,iu·o ""~"(J'~ c,,'iverrYlQs Giant<: de uma verdadcira Ir:,di~:;C',
......... ,.... t",;l ...... ~ 1.'0' -.,_LoL •• V - ~ .. ~.
iSLo C, de uma serie de retomadas interpretantcs que nao podem mais ser
consideradas como a intcrve09ao da desordcm num estado de sistema.
Entendamo-nos bem: nao atnbuo ao estruturalismo, como alguns de
sellS crlticos, urna oposi~ao rura e simples entre diacronia e sincronia. A esse
rcspcito, Uvi-5lrauss tern raziio de opor a sellS detratorcs (Antropologie
.cfruC!lIro!e, i'p. 101. 103) 0 ;randc artigo de Jakobso:1 sabrc os Prindpio"~
de Fonologia IIis!oriea. onde 0 ;'tutor dissocia cxpressamcnte sincronia e cs-
talica. 0 Qlie jmnorta ~ a subordin3~:;o, nao a o~s:~_o.,.da_ diacronia a sin·
crania. £--CS:;-s~bo"rdJn-a9~~qt;c~C:-~s~ituir.i problema na intcligc~~!:l ~crmc­
~~. A diacronia so e significantc por sua rela9ao a sincronia, c nilo
o contrario.
Eis. porem, 0 tcrceiro principlo, que nao diz mcnos rcspcito ao nOSSO
problema da intcrprcta9ao c do tempo da interpretac;ao. Ele f~: cxtraldo
sobrctudo peIos fon61vgos, m,,5 ja esui presente na oposi9ao saussuriana entre -1
lingua c palavra: as leis lingulsticas designam l'm nivc1 incooscicnte c, n~s.!c. I
sentido, nao-reflexivo, nao-hist6rico do espirito. Esse inconsciente nao e 0 \
ioconsc~ente freudiano da pulsao, do desejo, em seu poder de simbolizac;ao; )
31
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scnta uma cspccie depassagcm limitrofe, o'c sistematiza~ao terminal que con-
vida-nos dcmasiado facilmcnte a colocar como uma falsa alternativa a es-
colha entre VarIOS modos de comprccnder, entre varias intcligibilidades. Eu
dissc que era, em, principio, a'lsurdo.' Para nao cairmos, de jato, na arma-
dilha, prccisamos tratar 0 estruturalismo como uma exp1icas:ao em primeiro
Iugar lirnitada, em scguida, pouco a pouco ampliada, seguindo 0 fio condu-
tor dos proprios problemas. A conscicncia de validade deum metodo jamais
pade scr separada da conscicncia de sellS limites_ E para fazer justis:a a este
metoda e. sobrctudo. deixar-me instruir por ele, que 0 retomarei em seu
movimcoto de extcnsao, a partir de urn nueleo indiscutivel, ao inves de
toma-Io em seu cstadio terminal, para alem de certo ponto critieo onde,
talvez, ele perea 0 sentido de seus limites.
I. 0 MODELO LlNGOlST1CO
Co11l0 se sabe, 0 eslruturalismo procede da aplicas:ao a antropologia e as
cicncias humanas em geral, de urn modelo lingilistico. Na origem do estru-
turalismo, vamos encontrar inicialmente Ferdinand de Saussure e seu CUTSO
de Lingiiistica Geral e, sobretudo, a orientas:ao profuari!ente_fono16gi.~ da
lingulstica, com Troubetskoy, Jakobson e Martinet. Com des, assistimos a
urn::. inversao das rcla~6cs entre ~istema e historia. Para 0 historicismo, com-
precndcr e cncontrar a genese, ~_f~~a, anterior, '~ fC?_ntes, 0 scntido da
evolu9ao. Com 0 estruturalismo, sao os aITanjos, as orgaDiza~6es sisteoaticas
Dum estado dado, que sao -intcIiglveis em primciro Iugar. Ferdinand de Saus-
sure comc~;J. .:1 introduzir c~ta rc~T;a\~·l:'3. distlnguiilJo n.a linguagcm a l:;;gu~
c a paiavra_ Sc cntcndcmcs por lin~Ja 0 conjunto das convcn~6cs adotadas
por urn corpo social para permitir 0 exercfcio da linguagem entre os indi-
viduos, c por 'palavra a pr6pria op~ao dos sujeitos faIant~, essa distin~ao
capital da acesso a tr~s regras cuja gencraliza~ao acompanharcmos, daqui a
pOlice, fora do dominio inicial da !.ingiiistica.
Em primciro lugar, a_td~~_m.~m3 de sistema." Separada dos suicitos fa-
::,r.:c:" ~lii},;ua_s~_ <If'rescnta como urn sistema de signo:;... Ccrtamente.
FerJ in:J.nd de Saussllre IlaO C urn fon610go. Suii·conccp<;:io do signa linguis-
lim como reta<;5.o do signific.:ulte soooro e do significado conceiLual c muito
mais scmantlca que fonol6gica. Niio obstante, 0 que lhe pareee constituir
o objcto de urna ci~ncia lingUistica i 0 sistema dos signos, oriundo da deter-
",.[nayao mlaua da c.adcia sonora do sigrdicante e da cadcia cc:::ceitua! do
s:~nific:1do_ Nessa dctermina~o redproCa. -6-qui"conLi-ni.io "saoostermos,
c~n,idcrados inclYidualmeotc, mas as distincia.sdlfcrenciais;-s1i.o -as-'difercn-
<;;;,.~de-som-e-dc~sci1tido~ as refa~oes· de -tinS-com-os -outro'S, que constitucm
o sistema do·s signos de -uma-lliig1ii:" 'Cornpreendc~sc; "entaO;-que cada ·signo
s'cja arbiL;ario;enqu.anto -rd~ iSolada de um sentido e de urn som. e que
-Lmais..JJm jnC(:!D~cjcntc.-ka.nt..i.ano-4ucfreudiano. um inconscien~9.ri~1,
combinatorio' c uma orJcm fin ita ou 0 finilismo da oHkm, mas de ~l
fOrm.2-9.~nar;.Dig~ i;:;-c'o;';cicnte kantiuDO, mas. apenas par c~usa de
SUa organizm;ao, porquc sc trata muito mnis de urn sIstema ,categonal scm
referenda a um sujcito pensame. £. p~s_o~ue_.p~struturalismo,-enquant?
filosofia. .dcscovolvC~~_JJm ~.tipo _dc-mtelectualismo fundamcnta1roente~.tl­
reflexivo antiidcali~ta, a~tifen2ill£.11Q1Qgico; da mcsma form~, ~ste cspmto
lm::o~D.IC'Ifoacscrartohom61ogo a. natureza; talvez ~Ic .a,te SCJa naturc~
Voltaremos a isso com 0 Pensat"ento Selvagem. Todavla, Ja em 1956, ref
rindo-se a regra de economia na explicac;ao de Jakobson, Uvi-Strauss es-
" crevia: "A afirmac;ao de que a explicaC;ao mais cconomica tambcm e a que
\ _ de todas as consideradas - mais se aproxima da vcrdade, repousa, emI ultima analise, sobre a identidade postulada das leis do mundo e das do
~ pensamento" (Anthropologie structurale, p. 102).
~ Este 'terceiro prindpio nao nos concerne menos que 0 segundo. porque
institui entre 0 observador e 0 sistema uma rela<;ao que e em si mesma nao
hist6rica. Compreender nao significa retomar .£._sentid.o. I?iferenteme~~e
daquilo quee afirmado por Schleiermacher em Hermeneutlk und Krltl.k
(1928), por Dilthey em grande artigo Die Entstehung der Herme~eutl~
(1900), por BuHmann em Das Problem der Hermeneutik (1950), p:oha
"clrculo hermeneutico"; nao hi historicidade da rela9ao de compreensao. ':
r;~@~_QbJ~tfy-;;, i~dep~lde·~t.edo obserya.dor~ ~ por isso que a antropologl3
estrutural is ciencia e nao filosofia.
II. A TRANSPOSrc:Jl.O DO MODELO Ll'NGD1STICO
£\1 A0<'TRO?OLOGIA ESTRlITURAL
Podemos seguir ess:! transposic;ao na obra de Uvi-Strauss, apoia!1do-n~~
nos arti"os mctodolo"icos publieados na Antropologia Esrrutural. I>,·1:luss Ja
'" '" .dissera: "scm duvida, a sociologia sena bern mais avan9ada se tlvesse pro-
cedido, em loeJa p:lrtc, imitando os linguistas" (Artigo de 1945, in Ar.thropo-
logic strl,cruralc. p. 37). ~1as is a re.... oJur;:aa fcnologi,:;a em lingliistica c;ve
Ltyj-StraU!.:i consider;:: CC!TIO a verJadeiro ponto de partIda: "Ela nao re:1O-
vou apc!1:lS a~ perspeclivas !i..'1guisticas: uma transformayao ces~a ;"mplituJc
n~o cst:i Em:I:lGJ. J. wna disciplina particular. A fanalogia n:;'o poJc deL);.a,
de Jescmpenhar. per;>ole as cii:ncias sociais. 0 mesrno pape! renov:ldor que
a fisica nuclear, por exemplo, dcscmpcnhou no con,junto OJ.:) cicncias eKatas.
Em -1,1 .. consistc csta rcyoluyao, quando tratamO$ de encua-h em SU3S
implica;;oL"S mais gcrai~? 1? 0 ilustre mestre da fanalogia, N. Trot.:hI:tskoy,
quem nos forncccra a rcsposta a esta questao. Num artiga-prograrn~ (A
Fonolonia crual. in Psychologie du larzgagc), cle reduz, em suma, 0 lDt:1odo
fonol6;;co a quatro proccdimcntos fundamer.tais: em p;i.;neiro lugar, a
fonologia passa do estudo dos fCDomenos lingiilsticos conscientes ao estudo
de ~ua ,i~fra-cstrlli~; ela serCcllsaa tiatar os termos co~()
cntidadcs indcpcndentes, tomaodo,:?O<;oo_trario, como base de sua analise
as rclaroes ':ntr~ o~ ter~os; introduz a 009ao de sisrema: "A fonologia utual
oao sc limit... a dcc1arar que os fonemas sao scmpre mernbros de urn sistema.
ela mostra sistemas fono16gicos concretos e tOrDa patente suz. cstrotur~";
enfim, visa a descoberta de leis gerais, quer encootradas por indu~ao, quer
"deduzidas logicamente, 0 que Ihes daum carater absofuto". Assim, peta
primcira vel., uma cieocia social consegue formular re1~c;5es necesswas. Tal
e 0 sentido desta ultima frase de Troubetskoy, ao passo que as regras pre-
cedcntes mostram como a lingiilstica deve se arranjar para chegar a este
resultado" (Anthropologie structurale, pp. 39-40).
Os sistemas de parentesco forneceram a Uvi-Strauss 0 primeiro analogo
rigoroso dos sistemas fonol6gicos. Sao, com efeito, sistemas estabelecidos
no es!agio inconsciente do espirito; ademais, sao sistemas nos quais os
pares de oposiC;ao e, em geral, os elementos diferenciais sao os unicos signi-
ficantes (pai-filho, tio materno e filho da irma, marido-mulher, iml1ia:irma):
por conscguinte, 0 sistema nao se situa no nlvel dos termos, mas dos paJ;cs
de relar;ao (Estamos Iembrados da solur;ao elegante e eODvincente do
problema do tiomaterno: ibid, especialmente pp. 51-52 e 56-57). Finalmente,
sao sistemas em que 0 peso da inteligibilidade esta do lado da sincronia:
sao CQQstrufdos scm referencia a hist6ria, embora comportem uma dimensao
diacr6nica, pois as cstruturas de parcntcsco ligam uma seqiie:lcia de
gera~6cs2.
Ora, 0 que autoriza essa primcira transposi~ao do r.:odelo lic~iilstico?
Essc;ocin.lmcnte isso: 0 proprio parentcsco e urn sisterr.3 de cornunicar;:ao.
t a. c''';sc titulo oue c!c is cornparavcl i Hngun.: "0 ~i~tc,",a de fl3;entc~cn
is um.::l. lin 'n. ' uageIIl universal, e outros meios
sao e aC;30 podem Ser preferidos. Do ponto e VIsta do soci610go, isso
equiv;l]e a diur que, em presenr;a de uma cultura detcrminada, coloca-se
sempre uma quesUo preliminar: sera que 0 sistema e sistematico? Tal
c;uest20. n.bsurda urimeira vista, sO 0 sena realmemc ~m relacao a J1ng~
pOlS J. !rng~ {; 0 sistema de significacaQ por exceiencia:.--ela nao }?Ode nao
s'lgil:":l=r. e 0 lodo de sua e.xistencia esti na signlficayao. Ao contra-rio, ':l.
qucs:";o devc ser cxaminada com urn rigor crescente. a -.nedida ue nos
afasl:l:Tlos C:l lln2U.l p~a encarar oulros slslemas., ue t<lmb m retcndcm a
Signi1:=r;:io, mas CUJOvalor IC ao permanece tario
?U ~'~~JdlVO: organtLacao social. aOe, etc," (11 58,),
Esse tcxto r.os prop5e, pois, ordeoar os sistemas socIals por ordem
dccr~~C<':nte, "mas com um rigor crcscente", a partir do sistema de signifi-
c~a0 por exce!cncia, a lingua. Se 0 parentesco e 0 anaJogo mais proximo,
e P'-"-iue l:, como a lingua, "urn sistema arbitrario de representa.<;Ocs, nao 0
dese!!.\'olvimento espontaneo de uma situa9ao de fato" (p- 61). Mas csta
33
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simb6lica. fazcndo sua primcira apari<;ao? Desdc que urn objcto sonora e
andogia s6 aparece se a organlzamos a partir dos caractcres que fazem dela aprccndido como ofcreeendo urn valor imcdiato, ao mesmo tempo p~ra
llma ali;ln:;:a, e nao t:m:l modalidadc biologica: as rcgras do casamento aqucle que fala e pa.a aqucle que cscuta, adqui.e uma natmcz.a contra-
"r{''pr~scnlam todas, cutros· tantos modos dcasscgurar a::i~eub"ao das ditoria, cllja l.clltraliza~ao s6 e passivel pela troca de valo~es c~~plemer:-
r;-u:hc";-s no scio 'GO grupo -sodaC quer di;,cr;- de substituir urn sistema de tares a uu~ se reduz toda a vida social" (p. 71). Nao quer Isto dlzer que 0
rcla;:6c:i co;~~glif~eas, de ~;jiem bi~16gica, P~L,j[Il .si~t~~~~..:.c::eioI6gico cstrutur;lismo sO cntra em ccna sobre 0 fundo ji constituido "cla represen-
dc-a"i{;;~;'~8~j(ssimc;;n~Tdcr;das: cSs~; rcgras fazcm do parcnteseo ta<;ao desdobrada., tambcm cIa resultante da fun~ao s~m~6lica"? Nao signifiea·:'~~Lt:.~p'ccie~ ~e_li.,gllag~rI1,.J.s~o_~,_ ~_n.!~opj~n~()_9l?'__op~r.~~§c.s_4~sti.l!a5!as._a. fazer-se ape10 <.. outra intcligcncia, visando· ao propno desdobramento, a
~5eguLiirJ~~ll!.re os indivJPuos _e os gropos, urn. certo tipo de comunica<;ao: partir do qual ha troea? Nao seria a cienci~ ob!~tiva das tr~cas urn segmento
Q.~~__ a "mcns~g~m_':. __:;eja.. aqui .constituida pela~ ..~ulheres do grupo que abstrato na comprcensao total da fun<;ao sunbolIca que sena, em seu fu,ndo,
circulam entre os dis, linhagc[l.5__ou JamHi~_u(e._.nao,_c.omo na propria compreensao semantica? Para 0 filosofo, a_ratio de ser do est~turalI.s:n0
linguagem, pelas palaYrasd~ grupo que circula~_~Etre ~~_!?~ivi~uos), em seria, pois, a de restituir essa compreensao plena, mas depolS de te~-la
nada altera a identidade do fename-no-eOnsfdera9~u~.Q.Ld.Q.4u:asos" (p- 69). destituido. objetivado. revezado pela inteligencia estrutur~l. 0 f~do seman-
Todo 0 programa de 0 Pensamento Selvagem esta. contido aqui, e 0 tico assim mediatizado pela forma cstrutural, tomar-se-Ia acesslvel a uma
proprio prindpio da generaliza<;ao ja esta posto. Limitar-me-ei a eitar 0 co~preensao roais indireta, mais segura.
texto de 1945: "Somas levados, com efeito, a indagar se diversos aspectos Deixernos a ql":stao em suspenso (ate 0 final desse estuda) eo sigamos
da vida social (ai cornpreendidos a arte e a religiao), ClljO estudo ji sabemos 0 fio das analogias e da generaliza<;ao.
que pode valer-se de metodos c de no<;6es tornados da lingiifstica. nao No inicio, as generaliza~6es de Levi-Strauss sao bastante prudentd e
consistem em fenomenos cuja natureza se assemelha a da linguagem. Como cercadas de precau<;ocs (ver, por exemplo, pp. 74-75). A analogia cstrutural ,
poderia ser verificada essa hipotese? Quando limitamos 0 exame a uma entre os outros fenomcnos sociais e a linguagem, considerada em sua
Unica sociedade. Oil quando 0 estendemos a varias, sera necessario conduzir ~strutura tonologica, c realmentc fiuito complexa. Em que sentido podemos
a analise dos divcrsos aspectos da vida social bcm profundamente, para dfz~ sua "natureza coincide com a da linguagem" (p. 71)? Nilo se
atingir urn Divcl onde se tome possivcl a passagem de um ao outro. Isto de\'e krner 0 equivoco quando os sigoos de troca nao sao elementos do
signiLca claborar uma espeeie de .c_odigo_ universal, capaz de cxprimir as discurso; assim, dir-sc-a que os homens l!.o.:am mulheres como troea_m
.1J}~mJ!ns a~ cstruluras espccfficas provcnientes d: cada.-asp.edD. palavras: a formaJiz:I.<;ao que ressaltou a homologia .dc estrutura ,.nao
/'/ 0 emT) po> I"'<',C ccdi"o dcvcra ser legitimo para cada SIstema tom<:!do semenlc ~ [eg:tir::a, mas bas'::Tl~~_~~~arec.cdo@. As COlsas se co~pdcam
. isoJbd2..m~~tc c para tnc.-~:::, qU~::l(~0 SC Ll ~r"C l.;':"ti~:'- v~· ~~_~~u~r:- con: a ~rtc e a- rc!j~i~o; ~qu:~ nao tcmos m~is ~pcn:ls ~Iuma cspecle de
Gs cm condicocs de s;:bc~ se ati:;g:"'-nos ou nao sua natureza mais profunda linguagem", como D~ caso das regras do casamento e dos sistemas de
I ': se c n<; tl' - ounao e" > lidades do mesmo t" ., (p. 71). parentes~o, mas tambem urn discurso significante edif~cad~ sobre a ba:e da
[;
E justamente na idcja de c6digo, entendido no sentido de correspon- Iinguagcm, considerada como instrumento de comUn1ca~ao; a analogJa sc
dcncia forrnaJenire estrutums esPCCificad:is;portillito-;--n-o'~se~tid()de homo- deskca para a interior mesrna da linguagcm e versa doravante sobre a
lasia cstrutural, que sc-ZO;c~n"t~-a 0 csscncial -dessa intcligcncia das_ ~strutur;).s. cstruillra dcstc au daque!e discurso particubr comparado com a est...'"lltur:l
Somentc csta compreensao di· fti;1~ao-sjinb6Ijcapodc--scr·dita-rigorosamentc ger:!] da !i"gua. Port;l.nta, :1:;0 .: certo a pri()~j que a rcb<;a~ entre ~;acronia
independentc do cbservador: ../\ linguagem C, pais, urn fenomeno social, e sincroniJ., viJida em lingiHstica geral, re]a de modo tao dorrunante a
qu:: constitui urn objcto independeDtc do observador. c para 0 qual passu;· cstrutura dos discursos particulares. As coisas ditas n;lO tem neccssariamentc
mos long~ series de cstatistic.1s~ (p. (5). Nosso problcf!:~_s~~5 0._d.e saher urna ar'luitetura scmclhante a da '.inguag:ffi, enquanto instr:um_~~t? univ~rsal
como llm~ _inteligcncia objctiva que dccodi-fiea pode revczar-se COm uma do di7.<:r. Tudo 0 que sc pod.c aflrmar e que 0 mooelo ImgmstlCO onenta
jntdi~cncia hcrmcncu~ucaccirra:-lStoc:--que-rcto.-na· para si 0 scntiJo, ~uisa para as articula<;ocs si~ilares ~s suas., isto e,. para uma .16giea de
BO me-.;mo Icmpo-qu7S"C2...-::Ipl;a-com 0 -i,cntido-quC(fcC'ifra. Uma-obser\:a:;~o oposi!l0cs c de corre~ocs, vale dlZer, enfun, para urn sIstema de difereoxas:
de Uvi-Str:luss talvc<:. nos -dL: a piSii. --0-autor nota que "0 impulso original"' "Situando-se de urn ponto de vista mais tcOrico (u:vi-Slrauss acaba de
(p. 70) de trocar mulhercs talvcz rcvele, por contra-reas:ao, sobre 0 modelo f~lar da linguagem cemo cc~di~ao diacr1bica. da cultu.a, cnquanto veicula
lingikt:::o, <,Ige da origem de to<.i<:1 lingvi<gcm: "Como no caso das mulhcrcs, a instru<;ao ou a cduca~ao), a linguagem aparece tambcm como cODdi~ao
o impulso origina.l que obrigou Qs homens a "trocar" palavras nao devc scr da cultura, na medida em que esta ultima possui uma arquitetonica similar
procurado numa rcpr~enta<;5o d;:sdobrada, eia mesma resultante da fun<;ao
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t·~,-c-o-m-p-r-e-e""n=sa"'o=;=t:~,o~~"mo, dI", quo 0 ~~tU"II,mon;ooonh'"
mais limitcs; nao e todo a pcnsamcnto que recal sob seu domlDlo, mas
um nlvel de pcns3mcnto, 0 nive! do pcnsamento selvagem. Nao obstan:c,
o leitor que passa da Amropologia Estrutural a a _Pensamcnro Selv~gem,
fica surpreso com a mudan~a de front e de tom: nao se procede malS a03
pOUCOS, do parcntesco a artc ou a rcligiao; e t~dO urn r;ivel ~e p:nsamento,
cODsiderado globalmente, que se torna 0' obJeto _de mves~lga~o; e; e~se
proprio oivel de pensamento e tido pela fa~~~ nao do~estI~da do ~co
ensamento; nao ha sclvagcns opostos a C1Vlhzados, nao ba mentalJdade
primitiva, nem pensameoto dos selvagens; nao hi mais exotismo absoluto;
para alem da "ilusiio totemica", .M ~pe?~ um_ pe?san;e~t~~<?!~~g<:.~;_~~;e.
pensamento n~_m mes~o ean.!~!l0F ~oglca;..E};o~re-IoglcO. m,as ?.hoo:o--
logo do p_~n_s~~.~t9_.l§gi£.C!:;p..9.mologo. ~~~.~J:.l~~~_.fo.rte: suas C"assifl~~es
ramificadas, suas finas Domenclaturas sao 0 propno pensamento dassifica..
torio, mas operando, como diz Uvi~t.~au~~.:m_ou_t:0 . ~_~e!_ ~trat~g.ico. 0
o .se_~iv~C9·PcD.Sam-eIlto~selvagem e 0 ?ensamento da o:dem, m,as e~
p~Dsamento que nao,s-=-..£C_nsa. Neste ~artlcular, elc .respon~e bern as Condl·
~6es do estruturalismo evocadas aClffia: ordem mcon:clente - ordem,
cODcebida como sistema de diferen'Y3s, - ordem susceuvel de ser tratada
objetivarnente, "independentemente d,=,-obsc~.ador". Por consegui~te, so ~~
intcligiveis os arra-njos Dum _niv~~iJ?c~?SClc!!.te. Cc:::;m:cndcr nao conslste.
~r;-rctoma;:' -irltcniucscc scn:ido, c~n r~~ima=las_p~_ urn _ato rustorico de
i~tcrp~cl~s:ao que se inscreveria num~_lra~iliao_co.n~~ua. A inteJigibi~id~~e
sc prcndc ao c6digo de transforma<;ocs.ql'c-as:cgu~a._ as corrcspond~!lc!as
e ::, hor,~ologia~ c;H,c a~r::'C1jo5 per'c;lccrl~o. a OlVC;S c:s!l:::os da .rcalr-dadc
so~ial -( G-~Q;-n;7.2..:;~i,") C:~i~~~;~, r:0~ncncL:dl:;-~:'S c c~~~.ssifi.::';0,;~ Ui,.: a:11mais c de
pbntas,' ~itos cartes, etc.). Cardcterizdfci 0 m~todo com. uma ?alavra:
.,..., c uma opqao pcb sintaxe contra a scmantica. Esta escolha e perfe~tamente
/" legitima, na medida mesma em que e urn pa.ri_ roantido ,~om COerenCIa. Infe-
lizmcnte. falta uma rcflexao sobre suas condllYOeS de v:lildade, sobre a pr~o
a sc pagar par esse tipo de cnmpreensao, em suma, uma refle~ao sobre as
I;mil(;s que, no cntanro, aparcclJ. COr:l t requt:ncia nas oaras anteflorcs.
QU:L.'1to a mim, surprccndc-me que tados os cxcmp!os :ejarn to~ad~s
tk uma area geograEca, q'Jc foi a do assim chamado J,2tc,-ywmp, e Jamals
do pcnsamcnto scmilico, prc-hclcnico au indo-curopcu. E pcrgunto-me 0
(juc implica essa limitas;ao injcial do matcrial ctnogrifico e humano. Nao
s'c confcriu 0 autor a parte dcmasiado facil. ligando a SOrle do pcnsamento
sclva"cm a uma area cultural - justameotc a da "i1usao totcmica", - onde~ ; f .
os arranjos importam mais que os contcudos, onde 0 pensamento c e etl-
vamente bricolage, operando sobre urn m;J.tcrial hetc.0clito, sabre eSCOIIl-
bros de scntido? Ora, jarnais, neste livro, foi colocada a que-stao da unid~e
do pensamcnt0 mitico. A gcncraliza.;ao a todo pcnsamento sclvagem e bela
como adquirida. Ora, perguoto-me se 0 fundo mitico sabre 0 qual estamos
_ .. _- --,--....-:_--;-
.-- .---- ~""'":""-.----------;------....;;.
a da Iinguagcm. Ambas se cdificam por mcio d~ opOSlgoes c corre1a9oes,
isla e, de relaq6es !6gicas. Ta.nto que se pode considCrafaling1.i-a-gc,mcomt>
urn al~ccfce destmada a feceber as estruturas par vczcs mais complcxas,
porern, do rncsmo tipo que as was, que correspo~dem a cultura - ~carada
sob difercntes aspectos" (ibid., p. 79). Canluao, Levi-5tr:::uss cleve cO:J.cordar
que a correla~ao entre cultura e ~~~~ nao e SUTlc~~~Cm~_!}.~~...iusti(ic~Qa
-£:10 pa2cl ).JIUY.:<;rSl1Ld~_Jil}gt!a~".;.l1L..!!.a culiura;-' Ere proprio recorre a urn
tcrceiro tenno para fundar 0 paralelisrno entre as modalidades estruturais
da- linguagem e da cultura: "Nao nos lcmbramo~ suficientemente de que a
lingua e a cullura scjam duas modalidades paralclas de uma alividade mais
fundamental: pooso, aqui, neste bospede presente entre nos, se bern que
ninguem se tenha lembrado de convida-lo aoS nossos debates: o=espfrito
humana" (p. 81). Esse terceiro, assim evocado. suscita graves problemas.
A . .
porque 0 espirito compreende a esplrito, nao somente por analogia de
estrutura, mas por retamada e continua~ao dos discllrsos particulares. Ora,
nada garante que esta inteligcncia depende dos mcsmos principios que os
da fonologia. Portanto, 0 empreendimento estruturalista me pareee perfei-
tamente legitimo e ao abrigo de tada edtica. enqllanto preservar a cons-
cicncia de suas condic;6es de validade e, por eonseguinie, de seus limites.
Vma coisa e certa, em toda hip6tese: a correlac;ao deve ser proeurada, nao
"entre linguagem e atitlldes, mas entre express6es homogencas, ja formali-
7-adas, dae~da cstrutura social" (p. 82). Com esta
condi~o, mas somcntc com csta condlc;ao~abre--;e 0 camiD.l'1o a uma
antropologia eoneebida como uma teoria geral das rcla~6es, e a analise das
sociedadcs ern func;iio dos caractcrcs diferenciais, pr6prios aos sistcwas de
rcia.;6es que as dcfincm" (p_ 110).
Meu proh!cm2 sc r~cc:~-:::. c:::::'o: qual ~ 0 lu;;;.(r de llma "tcorla geral
d?s rela<;6es" numa teoria gcral do scntido3 ? Quando sc trata de arte e de
rdigilio, 0 que compreendemos quando comprecndemos a cstrutura? E como
a inteligencia da estrutura introduz a inteligencia da hermeneutica voltada
para uma rctomada das intenc;6es significantes?
n aqui que nosso problema do tempo pode fornecer uma boa pedr::!
de toque. $eguircmos 0 d~tino da. rc!~:<:;ao entre diacron ia e sincrO:1 la :lcsla
tr.msposi<;ao do modelo lingUistico e 0 confrontaTemos com aquila que,
por outro Iado, podemos saber da historicid:!de do sentido no caso de
:o;imboios para os quais dispomos de boas seqUcncias temporals.
----- _._-~- ~----.
implantados - fundo semitico (egipcio, babi16nico, aramaico, hebreu),
fundo proto-hclcnico, fundo indo-curopcu - presta-sc tao faeilmente a
mesma -opera~ao; au antes, insisto neste ponto, scguramcnte .5e presta a cla,
mas presta-se sem m!1is? Nos exemplos de 0 PCIlSamef1(O Selvag ~m, a
insignific5.ncia dos contcudos c a exuberancia dos arranjos pareccm-me cens~
tituir urn cxcmplo extrema, muito mais que um~ forma canonica. Acontcce
que uma parte da civilizas:ao, aquela justamente de que nao procede nossa
ci~'iliza\;ao, presta-se melhor que qualquer outra a aplicas:ao do metoda
~strutural transposto da lingtiistica. Mas isto nao prava que a inteligcncia das
estruturas seja igualmente esclareccdora alhures c, sobrctudo, que seja tao
auto-suficiente assim. Falei, aeima, do pres:o a pagar: cste pres:o - a
insignifid.neia dos contcudos - nao e urn prcs:o alto com os totcmismos,
como e grande a contrapartida, a saber, a alta significas:ao dos arranjos.
o pensamento dos totemistas, me parece, e justamente aqucle que apresenta
maior afinidade com 0 estruturalismo. 0 que me pergunto e se seu exemplo
C. ,. exemplar, au se nao eexcepcional4•
Ora, talvez haja outro polo do pe~samento mltieo em que a argani-
zas:ao sintatica e mais fraea, a jun~ao com 0 rito menos acentuada, a
liga~ao com as classifica96es sociais menos tenue e, em que, ao eontrario,
a riqueza scmantica possibilita retomadas hist6ricas indefinidas em contextos
sociais mais variaveis. Para esse outro polo do pensamcnto mitico, de que
darei daqui a pouco alguns exemplos tornados do mundo hebraieo, talvez a
intcligcncia cstruturaI scja menos importantc, em tedo caso mcnos cxclusiva,
e exija rnais manifestamente ser articulada sobre uma intcligcncia henne-
nbtica que sc apJiea a intcrprctar as proprios contcudos, a fim de prolon';2r
SU:i vida e de incorporar sua cficacia a rd1t.:xao filosOfica.
£ ;J.qui (Jue tomrtrcl por p~Jra de tOC;UG a q lies: ao do ;cm po que dcsc,,-
c.Jdcounossa meditas:ao: 0 Pensamcnto Selvagcm tira todas as conse-
qUcncias dos conceitos lingUfsticos de siccronia e de diacronia, e extrai dcIes
uma concc~o de conjunto d:l.S relac;oes entre estrutura c acontecimento:
:-A qucsllio ,; a de saber se ~ta rcla~io pcrmanecc jd~ntica em todo a
front do pcnsamento mi[ico. " --_____.- 'L
Uvi-Strauss 5C conter,!:! em rctom;,r uma paiavra de DO:ls: "D:riamC's
que os univenos mito16gicos sao destmados a SCfl:m desmantc1ados dcsde
que sao farm ados, para que noyos universos n~am de seus fra~mento~"
(ibid., p. 31) (esta p;J)avra ja scrvira de epigrafe a urn dos artigos reeo-
lhides na Anlhropolop,ie sfrucluralc, p. 227). :£? esta rcla<;:ao inversa entre a
solida sincroniea c a fragilidadc diacronica dos univerws mi!o!ogicos qu<:
Uvi-Strauss clucida pcl:l compara<;:ao do brico/age.
o brico:cur,difcrenlementc do engenheiro, opera ..:omum matcrial qu~
nao produziu em vj:>[a lio usc atu:lI, mas com urn repertorio iimitaJo e
bcter6clito que 0 constnngc a lrabalhar, como se diz, com meios prccario~.
Este .. repert6rio e constituldo dos residuos de constru~es e de destrui~5es
38
fl
"
antcriores; representa 0 estado contingcntc da instrumentalidade em detcr-
m~nado momento. 0 bricolcur opera com signos ja usados, que descmpenh:l.ffi
o papd de prc-constrangimento rc1ativamente as ~.ovas recr,;:!nizz;5es. Como
a bricolage,o mito "se dirige a uma coles:ao de residuos de obrz5 humanas,
ista e, a urn subconjunto da cultura" (p. 29). Em termos de acontccimento
c de cstrutura, de diacronia e de sineronia, 0 pensamento mItica cl~bora
estrutura com reslduos ou escombros de acontecimentas; 2.0 construir seus
palacios com os c$combros do discurso social anterior, fornece um modelo
inverso ao da ciencia, que da forma de acontccimento novo a suas estru·
turas: "0 pensamento mftieo, este bricolcur, elabora estruturas agcndando
elementos, ou antes, residuos de aeontecimentos, enquanto que a eiencia,
"em marcha" peIo simples fato de instaurar-se, eria, sob forma de aeontc-
cimentos, seus meios e seus resultados, gra~as a5 estruturas que fabrica sem
trcgua e que sao suas hip6teses e suas teorias" (p. 33).
Certamente, Levi-Strauss s6 opae mito e eicncia para aproxima-los,
porque, diz ele, "ambas as demarches sao igualmentc validas": ·wO pensa-
menta mitieo nao e somente' 0 pnsioneiro de acontecimentos e de expe-
ricneias que ele disp5e e redispoe incansave1mente para descobrir odes um
scntido; tambcm e libertador, pelo protesto que eleva contra 0 nao-sentido;
com 0 qual a eieneia se resignara, inicialmente, a transigir" (p. 33). Aeon-
teee:, porern, que a se::1tido csta do lado do ;).rran;o 2.tu.:l, d:: s:::~;o;:i::L t
po~ issa que cssas so:icdadcs sao t':;o vulncravcis <J() :JCOr.:CC1::J.C'.O. Como
em linguistica, 0 acontccimento desempenha 0 paye! de :lmc:lS::l. em todo
C<J';(J, de ineumooo, e semprc. de simples -trrrcrfercneia co,;::::;::;.:o (:c.ssim.
os :,am~\,:'nos dcmograficos - gucrras, epidcmias - ~~C J.::cr.:r.. a ordcm
c~~~::'-":';!~'c:~!:~): ··i\S cst:t:t:.ri"'::S s;nc:-J.~ic~s das s:s!C-:71'::'':; .:.!::G:; ~-:::~:::~-::-.~:: (s50)
cxtrcm<lmente vulncraveis aos efcitos da diacronia" (p. 90). A Uis:abilidadc
dn mito torna-se, assim, urn sinal do primado cIa sineronia. E: po:- isso que
o pretenso totemismo e uma gramatica dcstinada a dctericrar-se ern le:tico"
(p. 307) ... "como u;n palacio tr:lnsport:Jdo por urn rio. :I c!:l5~ific:l950
tcnde a se desmantclar e SU2S partes sc agcnciam en trc si de forma difc-
re~ [e c;ue a pretcndi da pcl0 arquirc! 0, soh 0 feito das COITcnt~s e ~as aguas
mortas, do; obstJculos c dos cstrcitos. Por ca!1sc:..n.lintc~'1o tot~a.......a.
flln~ao__ prima_!p!=.!'itavelmcnte sobre a ~l~'~;~-O prob:em~- q!..:~ de n;io
CCS'>QU de colocar aosteomos-C"o-d~ rclayao entre a cs::-ulur", e a acontcci-
menta. E a grande Ii95:0 do. totcmismo 6 que a -forma da estru:Clra, por
Veles, pode sobrcviver, quando a propria cstrutura sucumbe no 2~nteci·
m'~n,o" Cp. 307). . .
A pr6pria hist6ria mltica esta a servi~o Jcssa luta da estrutura contra
o c.contcC'imento, e repre5cnta um esfor90 das sociedades Fa!":'! anul?'" a ul;1io
perturbadora dos fatores historicos; representa uma tatica de anula<;ao
do historico, de amortecimento do acontecimental; assim, ao iazer da
hist6ria e de seu modclo intemporal reflexos rcciprocos, ao colocar 0
39
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c urn querigma, 0 an6ncio da gcsta de Jave, constitulda' por um
feixe de acontecimcnlos. Trata-sc de urna Heilgeschichte. A primcira seqUen-
cia e fornceida em seguida: liberta~ao do Egilo, passagcm do Mar Vermeiho,
reve1a~ao do Sinai. erranciano deserto, realiza~'10 da promcssa da Terra,
etc. 0 segundo polo organizador se estabelece em torno do tcma do Ungido
de Israel c da. missao davldica. _Enrirn, instaura-seum tercciro p610 de
sentido, depois da cati;strofe: a destrui~ao ai aparece como acontecimento
fundamental, aberto a alteroativa nao reso1vida da promessa e da amea~a.
o metoda de compreensao aplid.vel a este feixe acontecimental CODsiste em
restituir 0 trabalho intelectual, oriundo dessa f6 hist6rica e desdobrado
nwn contexta confessional, freqiientemente hfnico, sempre cultural. Gerhard
von Rad diz muho bem: "Enquanto a hist6ria critica tende a reencontrar
o minimo verificavel". "uma pintura querigmatica tende para um m.iximo
teo16gico", Ora, foi justamente urn trabalho intelectuaI que presidiu a esta
elabora~lio das tradi~oes e culminou no que agora chamamos de a Escritura.
Gerhard von Rad mostra como, a partir de uma confissao m1n4na, consti-
tuiu-se urn espa<;0 de gravitac;ao para tradi90es esparsas, pertencendo a fontes
diferentes, tr2.nsmitidas por gropos. das tribos ou dos distintos dis. Assim,
a Saga de Abraao, a de Jac6. a de Jose, pertencendo a ciclos originariament~
diferentes. foram de ceria forma aspiradas e tragadas pe10 Dueleo primitivo
c1a confissao de fe celebrando a ac;ao hist6rica de Jave. Como se ve, podemos
[alar aqui de urn primado da historia. e isto em mUltiplos sentidos. NuI:i.
primcire scntido, urn senlido fundador, pais toda~ as rclac;Oes de Jave com
Israel sao significadas por e em aconte_c;iweotos sem nenbum trac;o de
teologia espcculati";:J. - mas tambcm nos dais outres scntidos de que falax-os
no inicio. 0 trabalhc teo!6gico sobre esses acontccimcntos e realmente :lIT.2.
hi~tori;;. crJcnau:::.. u:na tradi~5.o interprctai1te. A rcintcrprctac;ao, para c;::.<.l"
gcraqao, do fundo de tradi<;oes, confere a esta compreensao da Imt6ria urn
carater historico, e suscita um deseuvolvimento que possui uma unidade.
significante impassivel deser projetada-num-sistema. Estamos diante de u-::~
interprcta<;ao historica do hist6rico. 0 fato mesmo de as fc::~cs serem justa-
pastas, as pJ.rclhas man~idas, as conlradi<;:6cs ';s~;::!c:1ad:!s, possui urn sentido
prOlc:nc:v: :l lradit;ao se cor:; .... ~ :. ~i m·srr.;c ?Ol adic;:oes, e sao tais adic;:6cs
que constituem urn.:.: Jialetica tcol6gica.
Or:<, C intcrt:ssante noLar que foi pOl' esle trabalho de reinterpreta;:5.CI
oe SU.1S pr0prias tradi<;6cs que Israel se conferiu uma identidade que c,
em si rnesm:J., historica: a· critica mostra que provavelmentc nao houvc
unidadc de Israel antes do reagrupamento dC's cl~s numa especie de anfic-
,junia posterior a instala<;ao. Foi intcrpretando historicamente sua historia.
claborando-a como uma tradi<;-av viva, que Israel se projetou no passado
como urn unico povo a quem aconteceu, como a uma tot.alidarle indivisiycl..
a liberta<;ao do Egito, a revelac;ao do Sinai, a aventura do deserto e 0 dam
da Terra Prametida. 0 Un.ico principio tcol6gico para 0 qual tende todo 0
IV. LThITTES DO ESTRUTURALISMO?
ancestral fora da bist6ria, e ao fazcr da hist6ria uma COplU do ancestral, a
"diacronia, de cerra fo:rna domcsticada, cob.bora com a sincronia scm 0
risco de surgirem entre clas noyos conflitos" (p. 313). Ainda e a funt;ao
do ritual articular estc passado fora do tempo" com 0 ritmo da vida e das
csta;;6es, c com 0 encadcafficnto das gcra<;5es. Os ritos "sc pronunclam sabre
a diacronia, mas 0 fazem ainda em tcrmos de sincronia, pois 0 ~'.mplcs
fato de celebra-Ios equivale a converter 0 passade em prescntc" (p. 315).
B nesta perspeetiva que Levi-Strauss interpreta os "churinga" - esscs
objetes de pedra au de madeira au esses amuletos representando 0 corpo
do ancestral - como a atesta<;ao do "ser diacronico da diacronia no seio
da pr6pria sincronia" (p. 315). Descobre neles 0 mesmo sabor de histori-
cidade que em nossos arquivos: ser encamada da acontecimentalidade his-
t6ria pura reve1ada no corac;ao do pensam~nto c1assificat6rio. Desta f~rma
a pr6pria historicidade mftica se ve inserida no tTabalbo da racionalidade;
"Os pavos ditos primitivossouberam elaborar metodas racionais para inserir,
sob seu duplo aspecto de contingencia 16gica e de turbulencia afetiva a
m:acionali.dade n~ racion~d~de. Portanto, os sistemas classificat6rios per-
IDltem a mtegra9ao da hist6na,' mesmo e sobretudo a que se poderia crer
rcbelde ao sistema" (p. 323).
~~~
I:
'I~~Ia... ·:.r..··
';I.o..•• ~ .,.
~~
b±j~1 ! Foi de prop6si:o que segui a scrie das transposi90eS, na obra de Levi-
'.'. Str:;uss. do modelo Ilnglifstico :lIe 5ua ultima generaliza<;ao em 0 Pensa.
f.-;" i mento Scl~'agem. A cc::sci,:ncia de validade de urn metoda, dizia no inicio,
:o.~--,~ ..~ ~ C i:;sci1:trti~.·cl da consc:~Dc~~ tic .:::::;us E:nitcs. T~is li~itcs me p3.rcccm sc:-k·~·l
...:.'!...-:-: ~ de dais upos: de urn bdo, Cicio que a passagem ao pensamento selvagem c~§:! f~ita em favor de urn excmplo demasiado favoravcl que talvez seja cxcep-
: J;4·f clOnal; do outro, a passagem de uma cicncia estrutural a uma filosofia cstru-
I
E.·.. j.·.~.'! turalista p:lrece·me poueo satisfat6ria c mesmo poueo coerente. Em ultima
.;~~ r instlincia, C$sas duas passagens, ao acumular seus deitos, conferem ao livre
'. ~...::4.'...:.1 urn orater p:nticu!ar, scdutor e provocanle, que 0 distingue dos prcccdentc~.~ V":'" 1! 0 C!:ernplo modelo? Perguntava·me aeima. Ao mesmo tempo que
I I...~...~.. i 0 P~nmmauo Sdvag~m de Uvi·Str~uss. cu lia 0 extruordirdrjo l:~Ta de~I G:rba.rd VOn Rzd cc:1s:lgraco a Tcologia das Tradit;Ocs hist6ricas de Israel,
I :i!.c;: prtmelro volume de um;1 Tcologia do Antigo Testamento (Muniquc, 1957).
j ,,"".'":~ . EocontraIuo-nDS, aqui, diante de uma concc~ao tcol6r:ica CX<!::,:acnte ioversa
;;..7" . a do totemismo. e que, por ser invcrs:l. su.::;e:c urn; rclar-~o inversa entr..::~., d' ~~~-L':'. .}~::,:_o_~~•.7..:~nCJo.nia. e caleca de moJo rnais urgcnle 0 problema da re1a~;;:o
::S:':':::.: .:;t~ !.nte.ll geoe12 e-.'nllurai e inteligencia hermeneutica.If . 0.,"0 " d~"',':o p.~ • 'omp"m,'o do n'kko d, "ntido do Anti,o
.;; ~ . . r~tam~~to~ N~o~ s~o nomenclaturas, classifica~es,mas acontecimeotos fun-t ~ :~~ ..~~ore:~:;~e n?s .::~ltamos a teologia do Hexateuco, 0 conteudo significante
1st~-_--. -4Q
"
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- - ~ --- -'- ~-'~ -- _..~~-.;....-,.---
,
43
c;ldeia d~s rcintcrpretd~fic~ rnhinicas e cristol6gicas. aparccc imcdi:ltamcntc
que CSS3S retamadas repre$ent8m 0 contrario do bricolagc. Nao podcmos
mais falar de utiliza\(30 dos restos em estruturas cuj;), sintaxc impo~tava
mais que a semantica, nus da utiliza\(ao de urn acrescimo, 0 qual ordena,
como urn) d029aa primeira de sentido, as intcnc;:oes relificadoras de car~tcr
propria:ncntc teo16gico e filos6fico que se aplicam sabre, este fundo slmb6-'
lico. Nessas seqiiencias ordcnadas a partir de um feue de acantecimentos
signifieantcs, e 0 acresdmo inicial de sentido que motiva tradic;:ao e inter-
pretar;ao. E por isso que devemos falar, neste caso. de regula9ao semantica
pelo conteudo e naa somente de regula<;ao estrutural, como no caso do
totemisma. A explicac;:ao estruturalista triunfa na sincronia ("a sistema e
dado na sinZr'!':1I~_-:.-;'/':_ii."~~.~ee-sE~~~gi:,p. 89LJ, £o~- est!1-~~~ ,.cI~e-eta­
esta a yO,n,tade cam ~~ ~ocied~de_s..e~ que a sincronia e for~e e a diacronia
perturbadora, como em lingUistica.
Sci muito bern que 0 estruturalismo nao esm desguamecido diante desse
problema, e admito que, Use a orienta~ao estrutural rcsiste :to choque,
dispoe, a cada aoalo, de varios meios para restabclecer urn slstcma, se nao
identico ao sistema anterior, pelo menoS! formalmente do mesmo tipo".
Encontramos em la Pensee sauvage exemplos de tal persisH~ncja ou preser-
vac;:ao do sistema: "Supanda-se urn momento inicial (cuja n~ao c intcira-
mente teorica) em que 0 conjunto dos sistemas tenha sido exatamcntc
iljustildo. l'<~c' conjunto rc~;i6 a tad:!. mudan<;,a 2fc~~'1do inicialmcntc um:l.
de SU:lS p riC'S como unn maquina a feedback: su~j\.:gad;), (nos dois senti-
<los do tC~f'~0) por sua harmonia anterior, -el'::!' orientara 0 6rg5.0 desregulado
'le) ~~'illi"',, cc tIm equilibria q<le sera, pclo mcno<. ',):T! c'olrromisso ent,c
" (":','0 ;,r::"o <.: ;l dcsC'~Jcm introduzida de fora" (:r'i,'f. p. 9'2). Assim,
:> rC'.:":l!l:~~·:i.,' l'strun:r:l! cst;/. mUlto mais perto do ~,,;:ome;1o de incrcia que
d:J reinterpreta<;50 viva que nos parece caracterizar a verdadeira tradir;ao.
t porque a rcgula<;,ao semaraica procede do excessa do potencial de sentido'
sabre sell usa c sua funyao na interior do sistema dado na sincronia, q::e
o tempo Deullo uos simbolos pode ser pvrtador da durla hisloricidade da
tr:"J!<.::io ql:C tr;,mS:TI!le e scdimcnta a interprc:~~;jo. ~ da interprcta<;:io que
c:r;lrdC:lll c rc:nova a tradi,,;iQ,
S~ n()'~a hipvlcse e vcrdadeira, persistcnci:.c d:;s c5truluras e sobrc-
,L'\crmin,,<;::f' oos conteC:cos seriam duas condi<;ocs disli:11:J.~ da di:.ccronia_
l'odenlOs no, per!'untar sc nao C a combina~:io, em graus difcn:ntcs e talvez
em propon;:ocs inYcr~, dciSa.s duas condi<;6es gerais. que possibilita a socic-
dades particulares - segundo uma abscrva<;5:o do proprio Levi-Strauss -
"Ldaborarem urn esquema unico perrnitindo-Ihes integrar 0 ponto de vista da
cstrulura e c do :J.contccimcnto" (p. 95). ~1Js cssa ;r:tc,;r:lq5(;, q:.::zr:Co e feit3.
como dissemos acima, sabre 0 m'Jde1o de uma mj-quina a feedback. nao
passa justamente de urn ~'compromisso entre a estado antigo e a desordem
introduzida de fara" (p. 92). A tradi~ao prometida a durac;:aa c capaz de
._---~_._._.
---. . ---_. - .
a ""ii'~;z:~ • X:-=-:;:-~~-:- ~_~;-:_ ~
1 ~~I<'::::~b~~ij~:~-,.~. __~ ·~..."""'l·;';' ~.';;.'« ..,!:,' ::. ...:0:....,.. ~/ ••
~ )$:-t.. .~.~. ,- .'. "-- r---~_ g.' -~ ·~~,~X':: ';e~~~mento d~ Israel e entao: havia Israel, 0 povo de Deus, que semprc age
~,_ t/ 1 CO~O uma unldade e que Deus trata como urna tlnido.dc. ?\1as csta icJcntidJ.dc
, if.'. e jinseparavc1 de uma busca ilimitada de um sentido da. historia c na
. ~j b~t.6ria:· "B Israel, sobre 0 qual as aprcsenta<;ocs da historia do Antigo
f"'i' restamento tanto tern a dizcr, que :C:lstitui 0 objcto da fc e 0 objcto de
L, ; uma hist6ria construfda pcla fe" (ibid., p. 118).
~ , ! Encadciam-sc, assim, as tres historiciclades: ap6s ados acontecimentoslEi ,. ;fundadores, ou tempo oculto - ap6s a da interpreta9ao viva pclos escritorcs
~~ i sag~ados, ~ue ~o~stitui a tradiflio. - eis agora a historicidade da compre-tii~' " ensao, a hlstoncldade da hermeneutica. Gerhard von Rad utiliza 0 terma
i Entfaltung, "desdobramento", para designar a tarefa de uma teolagia do
j Antigo Testamento que r~peita ° triplice caniter hist6rico da heilige Ges-t chichte ~~vel das. ac.ontecimentos fundadores), das Ueberlieferungen (rnvel
i das u:ad:~es constitulDte~)t enfim, da identidade de Israel (nfvel da tradi~ao
constltqtda). Esta teologla deve respeitar a preeminCDcia do acontecimento
I sobre 0 sistema: "0 pensamento hebraico e pensado nas tradi~5es hist6ricas'I sua ~reocupa~~a prin~i~al esta. na combi.na~ao adequada das tradi~6es e e~
~ t ' :.ua mte.rpreta~ao teologlca; neste pracesso, 0 reagrupamento hist6rico sempre
~. i 1 predomlDa sabre 0 reagrupamento inte1ectual e teologico" (p. 116). Gerhard~.',.'_'§_:,_,:,.,.< I i von Rad pade concluir seu capitulo rnetodol6gico nesses termos: "Seria11. I fatal. p:u:a ,n.ossa compreensao do testemunho de Israel, se 0 organizassemas
!7~;; i desde 0 lillC10 sobre a base de categorias teol6gicas que, embora correntes
["'f l entre nos, nada tern a ver com ~s c~:cgor;:ls baseadas nas quais brael se
bbi i autarizou a ordenar seu proprio pcnsamenta teoI6gico". Par isso "reeontar"tJ ! - ~'iedererzahlen - pcrm:lnecc a m::.:s kgitl.nn form:l do discu~so sabre 0
~''':: Antlgo ~csta~lent.o. 0 Entjaltur.(} do he,meneuta is a r.:peti~ao Jc EntjallUr;g
i- ,_-. oi que prCSIGIU a clJ.:or2.~~o dz:s t!"~di~6:-s ::0 :~::.CO ~~f~:~i:o.
IS'? I :. 0 que rcsulla disso p2ra 2.S rcbcces entre diacronia c sm'croni','a':' "rna
•
".. r.f1 , 1COl5a me surpreendeucom os grandes· simbolos do pensamento hebraico'-'que
'.,:'." -, 1pUdc estudar na Simb61ica do Mal e com os mitos - o~ da cria~ao e d3
...... G:.Jcda, por ex I cli!'• .,~.~j., ''''''' em? 0 - e lcados sab,c a pnmcira c<lIDada simb61ica: esses~ _ ,~slm~los e cs~cs mitos nao esgata..'7l SCl!S sentidos em arr:lnjos ham610gos dc
2.rraoJ05 so~[a)s. Estou mcsmo cOrlver.c;''':o do contr~~:o. D:£o quc 0 metodon1 \ ,cstrutural Dao csgota scu scntido, porque scu scntido ,: uma rescrva de seolielo
i~':.';;'_'.'#.;.~-'.'.'.,ltI.~ , ;rranta para a r~tiH~~ao em Oulras cstruluras. Paderao me dizcr: c justa.f1.; .m~ntc esta Teutlllu~o que constitui 0 bricula;:;e. Dc forma alguma: acbncoll!"l!! 0p"ra com esco- b . b' I •¥...i" '. <>. m ros, no ncu.age, c a cstrutura que salva 0 aCOD-teclmenlo: 0 e:;C0x.n?TO desempcnha ° papcl de prc-<cnstr:mgimento, de men-;,. - :'l ,_agem prc.-transmlluja· possui • ; .~ . I ' ' ,. .. __ 'I " , ...ThrCla t:c urn pre-sIgnificado: a reutlhzarao
I;.'lt"t.:t_ Ides slffibolos blblicos r ~ .,.~! ' , ~ . em no~sa ",rca cultural rcpousJ, pela contrano, sobre
, uma nqueza sem=tlca sobrc UI:l ,. - - "~,!'j I .,. • . acrCSClmo 00 SignifIcado que passibilita
';;;",c ...~~. i novas mter:Preta~ocs. Se coosidcramos dcstc ponto 'ue Vl.'la .. ,-
'- ' "dii I s a SequencIa
---_~_ -~r::tm:- .I"'_~ "Iato. b-b'Oni,,,, do d,uvio. polo diluvio bihlio<> • po"
~~-- ....~.,- _..: .'_.-'--'
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No modelo querigmitlco, scm duvid~ a explica;:ao cstrutural e escla~
recedora como tr~Dtarci mostrar para concluir. Mas cia represcnt:J. uma
cam ada 'cxprcssiv~ de segundo grau, subordinllda ao acre:cimo de, sentido
do fundo simb6lico: assim, 0 mito adfunico e segundo relat~vamcnte a c1abo-
ra~iio das exprcss6cs simb6licas ~o pure e do impuro, .da ~rraneia. e do
exilio, constitufdas ao alvei da experiencia cultural e penlten:lal; ~ n~u~za
. desse fundo simbolico s6 aparece na diacroniaj 0 ponto de vista slDcro~ICO
s6 atinge, pois, do mito, sua func;ao social atual, mais ciu ~~~os comparavel
ao operador totemieo, que ha pouco assegurava a convertJbllt~ade das .me,?-
sagens pertinentes a cada nlveI da vida de cultura. e gar~ntta a ~~dla~ao
entre natureza e cultura. Sem d{ivida. 0 estruturaltsmo aloda e valtdo (e
quase tudo resta a fazer para comprovar sua fecundidade em .nossas a~~as
culturais; a esle respeito, e bastante promissor 0 exemplo do mlto de ~dl~
na Anthropologie structurale, pp. 235-243). Mas enquanto .a expltca~ao
estrutural parece mais ou menos sem vestigio qu.ando a sincronta ~r~dorr:lna
sobre a diacronia, eia fomeee apenas uma especle de esqueleto, cUJO carater
abstrato e manifesto, quando se trata de urn conteudo sobredeterminado,
que nao cessa de fazer pensar e que s6 se ~xplicita n_a cODtinua;a_o das
retomadas que !he conferem ao mesmo tempo mterprcta<;ao e renovas:ao.
Gostaria de dizer agora algumas palavras sobre a segunda passagem
em ultima inst5.ncia. cvocada mais aeima, de uma ci~;-:cia es,rutur:ll a urn:>
filosofia estruturalista. Quanto mais a antropologia cstrutural ;TIC parece
conyinccnte, cnquanto se comprcendc a si ?1<:.:~ma C('ir-O a cxtcns.'.iO,...ctapa
por ct<lpa. de uma explicac,:iio bern sucedida, inicia:;:~cn!c (:[";1 l:,,~ubllca.
.. " J''Z ~. 's ' .. ~·Jn·"'" 0 n",1dcpo's rr"C s's'Cr:1~S d'" p~rcn'c,:o en.lm, c~ a \<;. ,,,c1,, .h,,· u~_ .'·c·.
das ~fi;i~~d~'s-c~~ 0 ~o;elo ;i."1gi,i·[stico, em todas as ;.Jrm:::s cia v:j:~ SGci:Ji.
tanto mais ela me-parece suspeita quando se erige cm filos()fia. ~o meu
cntender. uma ordem--.posta.-eoIDO-inconsciente nao pode scr senao uma
ctara ahstratamente separada de uma intcligcncia dc. s.l po:, ::i. A or~~~,
cm si, C ° pensamento no exterior dele mesmo. Scm duvlda, nao <: prOlhluo
sonh:lrmos que urn cJia possamos transferir sobre can0cs pcrfurJdos. toda a
ducumcnl:l~5.o disponivel a respeito das sociedades ;,u,a :.': I:!:las. c: ";(:l11on,-
lrar, com a ajuda de urn computaJor, que 0 conju~;w de sU:!.S c'trutur:ts
ctno.ccorromicas, sociais e religiosas, asscmc1hc-sc a um VaSI,) gruro Jc
tramform:l~6cs" (p. 117). Nao, "nao c proibido" termos esse so!"!ho. Con-
t:J.nto que 0 pcnsamcnto nao' se alicne na obje.tivid~;jc desses c6Jig~s.. ~c
a dccodifica~ao nao c a et3pa objetiva da decifra~ao e csla urn cPISOdlO
e.xistenticl _ au existential! - da compreensao de si c do ser, 0 penS3mcnto
estrutural permanccc urn pcnsamento que nao se pens:l. E~ contr<lpartiJa.
dcpcnde de uma filosofia reflexiva comprc.endcr.sc " ,I m<=sr;;:;, C.Ji.,.u
hermeneutica, a fim de criar a estrutura de acolhida para U::J,3 antr(lP.ologl.;!
cstrutural. A esse respcito, a fuo<;;5.o da hermeneutica ~ a de fazer comcu.lIr
a compreensiio do outro - e de seus signos em multiplas culturas com
.,
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I
,
I
"f
..
reinearnar"~e em cstruturas difcrcntes depcndc mais, me p:\fcce, da sobre-
dctermina<;;30 dos conteudos que da pc.-sisteneia das cstruturas.
Esta diseussao nos ]eYJJ...JLQ,ucstion<l,u....s.uficicncia do modelo lingU:stieo
c 0 aJeance do subrnodclo ctnologico tornado de -;~'[;'o do sistema de
GcrlOmtn<l\iocs e dc cIas~llIeas:ocs corrtumcnlc cnamaao de totcmieo. Esse
submodclo ctnol6gleo possui, com 0 precedente, uma refa<;;iio de eonveniencia
privilcgiada: c a mesma cxigcncia de distancia difcrencial que as habita. 0
que 0 estruturalismo extrai, de ambas as partes, "sao c6digos..apto:i.-a
vcicularem mensageoLh:a.n5PP.r!f.Y.~s_~!!l._..~~~~_ ~.e_ outrqs__c_o4igQ.L!=..Jl.
cxpnmrrem em seu sist~mll......QL61?dQ._~_p1~.Q.:S.a~s..r~ebidas.. pelo .c:a.lla,Lde
c argos aifereote~:';' (p. 101). Mas se e verdade, como confessa por vezes
i'auro--r,que, "mesmo no estado de vestigio, tuda 0 que poderia evocar 0
totemismo parece surpreendentemente ausente da area das grandcs civiliza-U. <;;5es da Europa e da Asia" (p. 308), temos' 0 direito, sob pena de cainnos
ij..... Duma "ilusao totemica" de novo tipo, de identificar, com 0 pensamento
~it selvagem em geral, um tipo que 56 e exemplar porque possui uma posi~ao
iiii" extrema Duma cadeia de tipos miticos, que tambem seria preciso compreender
1l~; I por sua Dutra e~tremidade? De born grado pensaria que, na historia dan,~..,·.,·l humanidade, a sobreviveocia excepcional do querigma judaico, em sellS
~ . contextos socio-culturais indefinidamente renovados, representa 0 outro polo,
~.~~ t::>mbcm ele exemplar, porquc extremo, do pcnsamcnto mitiCD.£~.": ! Nesta cadeia de tipos, assim recuperados par seus dois polos, a tempo-
~J i rolidadc - a da tradi~fio e a d:l intcrprcta\(ao - pcssui urn cariter difcrente,
r". ..~:; 1 segundo a sincronia prcdo[";1i~1C sabre :1 diocron:.::l, ou 0 contrJ.rio: r:uma
,~.: l' ~ c;~trc:1~id~(;c, :l do ~:pa ~u:~·:-::~~:...(.), tC.:""::l'':;S U~:l tcm;:'0;2.Ed:J.~~~·':: {rJ'::·:E·J.d~:.. q'llC:
t.:•..;,."~.",,., j verifica ':Jastantc bem a formula de Boas: "diriamos que os universos mito-i~ 16gicos sao destinados a ser desmantelados logo que sc formam, para que;~ novos universos n~ de seus fragmentos" (citado na p. 31). Na outra
~ ~ c:':tremidade, a do tipo querigmitico, e uma tempora!idadc rcgulada pcla
ij;'} ~ rl'tomada continua do sentido numa tradi,;ao intcrprctante.
~.;.~.
,.<' , Sc 6 assi:n., sera que oodcmos continuar ~ [ajar de mito scm corrermos
f"'* i () risco de equivoco? Podc"mC's concordar que, no modelo totcmico, once as~ ~ c~:ru!uras importam mais que os contcudos, ~~it;- tcnde a idcntificar-sc
t~ J~ c~:,m urn "o['era<..lor", com-urn -"C3dig~;;-r~~I~~~"~__um_ sistema de tr;~~f~!:
f~ . ~~~~~~'!l_~t§traus~ _0 j~fin,:; "0 sistema mi~ieo e_as ..!:.~prcsc!1-~ ! It:lilJ'CS que de leva a efci!o scrvem, poi:;, para cs~bclecer rela<;6cs de
~:. ~ hOffio!ogia entre as condiioesnaturalS c-as c'co'di~0cs sociais ou~ mais
t;;;I i ex:ltamentc, para definir uma lei de equi';~en~ia-e~ltr~ contr~tC$ significa-
l!SI! • ti\'o: ~uc se s~tuam em virios planas gcogrifico, meteorol6gico, zool6gico,
1'-":'51; hbotar:!C~'-teC!llC:O'_' cco:,omico, social, ritu:ll, religiOSO" filosofico" CP,' 123).A func;ao do DlItO, aSSI!Il c:xposta em termos de estrutura, aparcee na sincro-.. -:~ . nia; "::~:":s?lid~_. ~incronica ~ 0 inverso - da fragi·lid-a."de diacr6nica-q~-;­'"... ':Jembrava a' f6rmula de Boas.,.., ~ ~ .. -=-.:-~._=- .._~~- ~~ ~.~---~_.-.:
=-!i ~-_~~. 4(-·"
~
1-~tZi::~~,-~_....,..."",..,,,.,,,,",--C-,,"""",~-=--=-.,.,""_-'o--~,---'-~~~
~
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, :
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~ .
~ :
47
Todavia. em Qutros momentos, 0 aulor nos convida a "reconhecec,
10 sistema das cspecies naiurais e DO dos objclos manufaturados, dois con-
iuntos mediadoresie que se serve 0 horoem para supeI'aI' a oposic;ao entre.
natuI'czac cultura-~,~ensa-Ios=~mototalidadc·~{p. 169). Sustcnta que as
-:struturas sao anteriores as pra,ticas. mas concorda que a praxis e anteri~r
as estruturas. PoTtanto. estas se reve1am superestrutui'<o~ dessa praxis que,
para Uvi-Strauss e Sartre, "constitui para as cicndas do homem a totali-
t:ade fundamental" (p. 173 5). Ha. por conseguinte, em 0 Pensame1'to
'ie!vagcm, stem do esboc;a de urn transcendentalisrno scm sujeito, a esboc;o
je 'uma filosofia em que a estrutura descmpenha a papel de mediador,
intercalada "entre praxis e pnllicas" (p. 173). Mas ele nia pode se deter
aqui. sob pena de conceder a Sartre tudo 0 que lhe recusou, recusando-lhe
sociologizar 0 Cogito (p. 330). Esta sequencia: praxis-estrutura-pra:ica.s,
permite, pelo menos, que se seja estruturalista em etnalogia e marxista em
filosofia. Mas que marxismo?
Hi., realmente. em 0 Pensamento Se/vagem, 0 esb~o de uma filosofia
bastante diferente, em que a ordem e a ordem das coisas e coisa; uma medi-
ta~ao sobre a D~ao de "especie" leva naturalmente a isso: a especie -
a das classifica~6es de vegetais e de animais - nao possui uma "objetivi-
dade presumid:J.·'? "A diversidadc das espccies fomece ao J:.omcm a mais
intuitiva imagcm de que elc dispoc, e conslitui a mais Cire~3. manifestai;ao
que conscgue percebcr da descontinuidade ultima do real: ela e a expressio
sensivcl de uma codifiC:l<;ao objctiva" (p. 13.D.: Com cfeito, 0 priviicgio cia
r'lo<;:5.o de cspceic code "fornceer urn modo de aprccn,jo scr:slvcl oc u:na
.combinatoria objetivamcme dada oa natureza e que a atividade do cspirito,
bern como a _pr6p!i~_ vi~a .s()~ial, apenas tomam-Ihe~de' em~m':stimo para
aplica-Io a criayao.de. nov~taxinomias" (p,_l~l),
Talvez a simples considera~o eta nOyao de estrutura ~os irnpc~a de
uitrapassar uma "reciprocidade de perspectivas em que 0 homcm c 0 mundo
rctletem urn no oulro" (p. 294).(Ao quc parecc, C entao que, por urn
cc>up de force :njustifiQdo que, ap6s tcr levado 0 con!rapcso do lado do
primado Ja praxis <obre as media<;6es estruturais, parnffio-lo no outro pOlo e
dccbramos que "0 objdivo ultimo das ciencias bumanas nao code cc~s[i.
wir 0 homcm, mas 0 de dissolve-Io ..., (de) reintegrar a'cultura na
natureza c, final mente. a vida no conjunto de suas condi~oes psicoqufmicas"j
(pp. 326-327). "Como tambcm 0 espirito euma coisa, 0 funcionamcnto dessa
coisa nos instrui sobre a natureza das coisas: ate mesma a refle;l:.ao pura
resume-sc numa interioriza~ do cosmos" (p. 328, nota), As ultimas
paginas do livro deixam cutender que e do lade "de urn universo da infor-
ma:;:ao, onde novamente reinam as leis do pensamento sc!vagcm" (p. 354),
que se deveria procurar 0 princlpio de urn funcionamento do esp[rito como
coisa.
!
'" compreensiio do si e do sCr. A objctividade cstrutural pode, entao,
aparcccr COITIO urn momento abstrato - e validarnente abstrato - da apro-
pria<;8o c do conhecimento pela qual a reflcxao abstra13 se torna reflexao
concret:1- Em ultima instancia, cssa apropria9ao e esse conhecimento consis-
lirillm numa rccapitula<;ao total de todos os conleudos significantes num
saber de si e do scr, como lentou Hegel, Duma logica que seria ados con-
teudos, nao a das sintaxes. e. evidente que nao podemos produzir seoaa
fwgmentos, sabidamente parciais, dessa el(cgese de si e do ser. Contudo,
a intcligcncia estrutmal nao c menos parcial em seu estagio atual; adcmais ,
cla e abstrata, no sentido em que nao procede de uma' recapitula9ao do
significado, mas em que s6 atinge seu "nivel 16gico" "pOT empobrecimento
semantico" (p. 140).
Por falta dessa estrutura de acolhida, que pessoalmente concebo como
articulaC;ao mutua da reflexao e da hermeneutica, a filosofia estruturalista
me parece condenada a oscilar entre vanos esbO\ios de filosofias. Dir-se-ia
por vezes urn kaotismo Sem sujeito transcendental, ate mesmo urn fOffDa-
lismo absoluto, que fundaria a correlac;ao da natureza e da cullura. Essa
filosofia e motivada pela eonsidera~ao da dualidade dos "modclos vcrda-
deiros da diversidadc caner-cIa: 0 primeiro, no plano da natureza, coda
dive:-sidadc das cspecies; 0 0;,11ro, no plano da cullura, c forneddo peln
diversid::.dc d<ls fun<;6cs" (p. 164). 0 pri.'1clpio das transformac;6cs pode,
entao, ser proeurado Duma combinatoria, numa orccm fioita ou DtL-:l
finitis:no da crC:cm. mais fu;:odarr:cntal que eada um dos modc1os, Tudo 0
q u . 6 d:' ~ , "t 1 • •• .'c ," ua c.cCl!0S'Ja !nCOilsclcnll: que, embor:: hist6rie:l, CSC<1r~ C"!11rk -
t:.tmc:)~ c :,. histur,a human:l" (p. 333) vai ncste scntido, Essa filosofi;:: seria
a absoiutiz3<;ao do modclo lingi.iistico, daodo continuidade a sua gradativa
gencraliz.a<;ao. ":\ !fogua, decIara 0 autor, nao reside, nem n~ razao ~mali­
tica das antiga~ gramiticas. nem na dial5tica constitufda da lingi.ifstica
estruturaJ, nem t.:lmpouco na dialctica constituintc da praxis individual eon-
front::J:: com " rr:itico-incrtc, pois todas as tr~s a s\.lpocm, ;\ l:n"iifstic2.
coloca-;lOs diante tic urn ser dialetico c tot;J!izante. mas exterior (ou in-faior)
?1 comcicnci:! c i ventaCe:. Toezlizzu;5.o na" ref]cxiva, .1 Ilngu:J. cum:! T:J.zao
h llm:!na qu~ h:m sU:J.s raz.6c~ e que 0 homcm nao conhccc" (334), :'1as 0
que (; a lingu:!. ~cn:io uma abstra<;ao do ser falante? Objeta-se, aq'.li, que
"seu .discurw jam'lis resultou nem t2mpouco rcsultara. de uma to:aEzac;;io
c~n~,c:(;n [c tbs leis lingUi~ticas" (p. 334). Retrucaremos a res posta que nie
~ao leis Ii nzUisticas que procuramos totalizar para :lOS co:nprcendcr a nos
~esm0" m~s 0 senlido das palawas, relativamentc ao qual :l.S leis lingLifsli=
sao a medla~:Jo imtrumcntal p:ifa sempre ioconscicnte. Procuro compre-
ender-me retomando 0 scntido das palavras de. todos os homens. I:. neste
plano 5uc 0 tempo oculto se torna historicidade da tradi~o e da inter-
P!eta~o.
46
'.,
1
I
I
'I
I
~j' i~ I~f I
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..... : ~~.:.o.":
~~ '-'~-'",,:"~'~
j',
j!
49
ao esquema explicativo, no qual a sincroriia constitui sistema e em -·ue a_::-
diacronia constitui problem. crvarel os lermes de historieidad~.....:-~­
historiciqadc _dg. __tradi!;~() _ ~_Jlj~_tor:~cidade.__.da__ !!J~crpr~Ja.~a() __-::-:_p!l-~~l12da~:.';.
eornprecnsao t~!l.cIQ coI!s~icQ~ill,:j_rn-plfcit~_ou· explici_~?-!D.~n_te,__~_~~ ~o, -
~minho -cta: compreerisao.--fiIosOfica de-si e-d~·-ser.-Neste~entido,omito·ae~
tdipo depende clil compreens30 1Iermeneutiea quando e compreendido-e
rctomado - ji par urn S6focles - a titulo de -primeira solic~ao de
sentido, em vista de uma meditayao sobre 0 reconbecimento de si, -sobre
a luta pela verdade e pelo "saber tra-gico".
2. A articulacao dessas duas inteligencias coloca roais problemas que
sua distin~ao. A questlio e demasiado nova para que possamos ir aJem de
propositos explorat6rios. A expli~ao estrutural. perguntar.::mos iniciaJ·
mente, pede ser separada de tada compreensao hermeneutica? Sem dU~
eia 0 pode tanto mais quanto a fuo.,;:ao do mito esgot~-se no estabelecI-
mento de rela~oes de homologia entre contrastes significativos, situados erft.
vanos pIanos da natureza e da cultura. Mas entao, seri que a compreensao
hermeneutica DaO se refugi.ou na propria constitu~ao do campo semaotico
onde se exercem as rel~es de homologia? Estamos lembradosda importante
observ~o de Uvi-Strauss concernente a "represen~ao desdobrada resul-
tando da fun~ao simb6lica fazcndo sua primeira apari~ao". A "natureza
l;ontr::.ditOria" desse signa s6 podcria ser neutrafizada, diTIa ele, "par esta troca
de valores comp1cmcntarcs, a que toda a vida social se reduz" (Anthropo-
[O"ie structurale, p. 71). Vejo nessa obscrvz9ao a iodica9ao de urn caminhoo . •
~ ser scguido, em vista de uma articula9aO que de forma alguma sena um.
c::!ctismo entre hermeneutic::. c estruturCl!i::ffiO. Entcndo que 0 desdobra-
mento de que se trata--aqui C 0- que-eugendra a fungao do signo cm geral,
e nae 0 duplo sentido do sfmbolo, tal como 0 entendemos. Mas 0 que ~
verdadeiro do signo__eIn_s.c.u_sentido. PriInario.----ainda· 6 pmis- verdadeiro· do
duplo sentido dos sfmbolos. A inteHgeoeia desse d1lplo sentido, inteligencia
esscncialffiente berr:L1encutica, sempre e pressuposta peIa inteligencia das
"trocas de va!o:cs complcmentares" lcvada a efeito pelo cstruturalismo.
Lm e;.;.ame cuidadoso de 0 Pensamento Selvagem sugere quo podemos
scmpre procurar, baseando-nos em homologias de estrutura, analogias semin-
tic:i..'i que tornam comparaveis os difercntcs niveis de realidade euja conver-
!ibilidade e assegurada pelo "cOdigo"_ 0 "c6digo" sUpOe uma correspondCocia,
urn:> afinidadc de conteudos, vale dizer; uma cifray306• Assim, na interpre-
t:1;;;;O dos ritos da ca~a as aguias, entre os Hidatsa (ibid., pp. 66-72). a
constituic;ao do par alLO--baixo, a partir do qual sao formadas todas as
distaocias c a distancia maxima cntr~ 0 ca9ador e sua ca~a, s6 forneee
uma tipologia mltica sob a eondi9ao de uma intelige.ncia implicita da
sobrecarga de sentido do alto e do baix.o. Estou de acordo que, nos sistemas
aqui cstudados, esta afinidade dos eonteudos e de certa forma residual;
V. HERM:EN£UTICA E ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL
P2.ra conduir, vou retomar a questao inicia!: em que as considera90es
estruturais constituem atualmente a ctapa necessaria de toda inleligencia
hennencutica? Mais gcralmcnte, como se articu!am hermeneutiea_ ~_~st~_­
turalismo?
Tais sao as iilosofi~s estruluralislas entre as quais a clcncia cstrutural
d~:pcnnile que se escolha[Sera que DaO rcspeilarfamos igllalmcnlC 0 cnsino
da liogi.iistica. sc considerassemos a lingua c todas as media~Qcs ~ que s:~c
de modelo como 0 inconscicnle instrumental mediante 0 qual urn sUJCJto
falante se :;-opOe_8.comprecndcr 0 scr, os ~ercs ~ cle mcsrrro? ;r
1. Gostaria inicialmente de dissipar urn mal-entendido que a discussao
anterior pode alimentar. Ao sugcrir que os tipos miticos formam uma cadcia
cujo tipo "totemico" seria apenas uma extremidade e 0 lipo "qucrigmatico"
a outra extremidadc, pare~o ler voItado a minha dedara9ao inicial, segundo
a qual a antropologia estrutural P. uma disciP!~~cj~ntifica_e-A...helJl1encutica
urn:! disciplina filos6fiea; ·N~;;--e nad~ disso. Distinguir dois submodelos,
oao significa dizer que urn dcpende apenas do estruturalismo e que 0 outro
seria dirctamente me~ecedor de uma hcrmencutica nao cstrutural; significa
dizcr SOffi\:nte que 0 SUbr.lOdclo totcmico toleTa melhor uma explieac;ao
es,~~al ~~rma.n.CCc scm-rddug,-_~p-orque. c.,_ ~ntre tc:>.~os as tlPOS
-ITi7[icos, aquc1e que tern mais aficic!:lJc com 0 maJdo linguistico inicial,
:lO-_p:!.Ssorql?c~_-~o tipo qucrjgm~tico, a CXr:i~9fio es(rutuf21 -~ q~~~1 ~li5s,
IJ;.[ maioria dos cases, pcrmanece por ser c!aborada - remete mo.is manifcs-
lamente a outra inteligcncia do sentido. Mas as duas maneiras de compre-
cnder nao sao especies, opostas .no mcsmo iJ.lvel, no interior do genera corown
da compreensao. E por isso que nao requerem nenhum ecletismo metodo-
logico_ Portanto, antes de lcnlar algumas observal;oes explorat6rias conccr-
nindo sua articulac;ao, prclendo ressalt.:u pela UltL-na vcz seu desoivc1amento.
A c;-:.plica?o c:&truturaJ versa: 1) sobre urn sistema inconsciente; 2) que e
comtituido por djferenxas~~~~i~~rdi~~~(as-_sige1fi~~is};-~L
indcpendcntemcntc do o~ervadorI A intcrprctal;ao de urn seotido transmitido
comistc; 1) na rctornada cooseiente;i)QeuITl"funuo_ s~~llcO s~~edc~
terminaJo; 3) por urn in~erpretc qu_c se situa n0f!.l.~~_c~ scmanti=o
que aauilo que compn::cndt:__c,_assim, DO "circulo beflI!en~t,!~ic;:o".
- .E por -isSo que as duas maoeiras de fner surgir 0 tcmpo nao se
en~niranl ~~_ mesmo Dive!; foi ~penas por uma prcocupac;ao didatica
provis6ria__qu~ falamos de prioridade da diacrecia sobre a sincronia. Para
dizer a _vetdide, devemos reservar as expres:s5es de diacronia e de sincrenia
_._-----_ .. -.- --
.:.,..-. -. __ -1.-.'.-,-';"':";' ~;. _
.............. -.----..._-- -- ., ..
r-"_~_,.,:,:",, •• 1'"."~-
, .....
" .... - .. " .M""'''' ._ ~ .
.~1~:l~i~F~~~~-----
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• i:. '.r~ ,
51..... . :
~! ..
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c_. ...
talidade simb6lica" (cap. VII), na origem cia "tcolof:ia simb61ica" (cap. VIII).
Ora, 0 que faz manlerel1l,se juntos os aspectos multiplos c cxuberantcs dessa
Hlcntalidade? Ess:J.s pessoas do sccul0 XII "nao confundiaffi, diz 0 imtor, nem
os pIanos nemos objetos, mas sc bcneficiavam, ncsscs diversosplanos, de,
urn denominador COllum no jogo sutil das analogias, segundoamisteriosa-
rela~ao do mundo flsieo e do mundo sagrado" (ibid., p. 160)[ Esse problema
do "deoominador comum" e ine1utive1, se levarmos em conta que urn sfm- .
bolo separado nao possui sentido; ou antes, urn simbolo separado possui de4
mais senlido; a polissemia e sua lei: "0 fogo aqucce, iiumina, purifica, quei-
rna, regenera, eonsome; signifiea tanto a concupisccncia qua;lto 0 Espirito
Santo" (p. 184).)-£ numa eeQD_omia. de_c_onjlJnto que_.os va\Qg~~_d.ifer~l;l£i_ai~
se manifestam e que a polissemi~_~~ .reJ'rime. Foi nesta procura de uma
"coerencia mistica daeconomia" (p. 184) que os simbolistas da IdadeMedi",
se empenharam. Na natureza, tudo e simbolo. scm duvida, mas para urn
bomem da Idadc Media, a natureza so fala quando ;::.·..:iaoa par uma .tipo-
logia hist6riea, institUlda 00 eonfronto dco Liuis Testarnentos. 0 "espelho".
(speculum) cia natureza so se tOrTia "livro" em contato com 0 Livro, isto e,'
com urna exco;esc institufda numa comunidade regulada. Assim, 0 simbo10'
so ::;:j,-;"aliza numa ~~?no~ia~".?Yn:.a.disp~~a!io,nUr:!!_':.. ord.o:. Foi com esta
condi~ao que Hugo de Saint-Victor pode defini·lo assim: "symbolum est
collatio, id cot coap/olio, visibilium formarwn ad dcmons,rationem rei invi-
sibilis proposi/amm". Que cssa "demonstra9ao" seja incompatlve1 com uma
logica das proposiNcs, que supoe conceitos definidos (isto e, envoltos por
U:l1 co;1torno iloclo01a! C U:1iVOC0), portanto. r:0.~Jcsque slgnificam algo .por-
(i~!C ~:·2ni::'-:::::1 !i.'l ~~ c~~::.~!. i:,lu !l:1o constj(uI_~l1~i r.()S~O ['~·obl~ma. 0 que
constitui probkma c que c somcnte numa eco!"10mia de conjunto que essa
collatio et coaplalio pode eomprcender-se como re!a95.0 e pretender ao nive!
de demonstratio. Vou ao cncontro, qui, cia tese (je Edmond Ortigues emI: Diseours et fe Srmbofe: "Urn mesma tcrmo_p.9sk ser im:Htinario se 0 con- <.
sldcI~mo~~t~oJutam~Il1~,,-tJT!.~olLc~~e_o s~mpreendemos como valor dife4
renci..a1'-30r~el;)tiv,?_~~outros _termos que -° limilam rcciprocamente" (ibid:.
p. 194). "Quando nos aproximamos '-da imagin3~50-material, a fun~1io dife-
rencial diminui. tenJcmos para equiva!C:neias; qu:~ndo nos aproximamos dos
elementos formadores da socicdaJe, a fun<;:ao difcrcncial aumcnta, tendemos
para va!cncias distintivas" (p. 197). A esle rcspcito, 0 lapidario e 0 bestiario
da Jdadc Media cstao muito pert~ da imagcm; c justamente por isso que
des vfio ao encontro, par scu pulo imaginativo, de l1m fundo imagistieo in-
difcrcnciaJo, yuc taJltO pode Ser crctense quanto assirio e que parcce alter4
nadamente ex.ubcrante em suas varia~6es e estercolipado em sua conccp<;ao.
Mas s" cste lapiJario e cstc bcstiario

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