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Autor: Evelyn Serrato Piedade <mailto:velyn@globo.com > Tema: Literatura E.E. Calhim Manoel Abud Média: 5,33 Parnasianismo e Simbolismo O Parnasianismo O parnasianismo faz parte das Escolas Realistas, de origem francesa, que, como o Realismo e o Naturalismo, sucederam-se ao Romantismo. Os três estilos – Parnasianismo, Realismo e Naturalismo, assemelham-se, portanto, enquanto busca de superação do velho modelo romântico, que tende a privilegiar a fantasia criadora, a emoção e a subjetividade, no processo de criação artística. Tais elementos, no entanto, já não condiziam com a evolução cientificista e tecnicista que caracterizou a 2º séc. XIX, por isso as Escolas Realistas pregaram a racionalidade, a objetividade e a precisão arquitetônica como critérios fundamentais para o fazer artístico. Este fazer adquiriu, assim, um sentido mais rigoroso de trabalho intelectual, que transcende a prática romântica, essencialmente fundamentada na "inspiração", para acrescentar-lhe a "transpiração": o cuidado com a linguagem, aa preocupação com a forma, a lapidação e o refinamento do texto. Característica do Parnasianismo A busca de perfeição formal, de acordo com as regras clássicas de criação poética, fez com que os poemas parnasianos primassem pelo rigor técnico. Suas principais características são: • A preferência pelas formas poéticas fixas e regulares, como, por exemplo, o soneto, com esquemas métricos, rítmicos e rímicos sofisticados e tradicionais; • O purismo e o preciosismo vocabular e lingüístico, com o predomínio de termos eruditos, raros e visando à máxima precisão; e também de construções sintáticas e poéticas refinadas; • A tendência descritiva, buscando o máximo de objetividade na elaboração do poema e assim separando o sujeito criador do objeto criado; • O destaque ao erotismo e à sensualidade feminina; • As referencias à mitologia greco-latina; • O esteticismo, a depuração formal, o ideal da "arte pela arte"; • A visão da obra como resultado do trabalho, do esforço do artista, que se coloca como um técnico do verso perfeito. O Parnasianismo no Brasil O Parnasianismo com sua tendência acadêmica, surgiu no Brasil ligado ao processo da vida literária no país. Ao longo dessa década, uma geração de intelectuais, influenciados por filosofias materialistas, fortaleceu a oficialização do papel do escritor, em centros irradiadores das idéias modernas. Um deles era a Faculdade de Direito do Recife, liderada pelo pensador e ensaísta Tobias Barreto, que trabalhava com a cultura alemã, o direito moderno e o então chamado modernismo filosófico científico. Teóricos e críticos literários (Sílvio Romero, Araripe Junior e José Veríssimo, dentre outros), historiadores (Joaquim Nabuco e Capistrano de Abreu), o orador Rui Barbosa, escritores (Artur Azevedo, João do Rio, Coelho Neto) e, sobretudo Machado de Assis, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (1897) e seu presidente, reeleito até a morte, constituem alguns dos mais ilustres representantes dessa geração. Estudo dos principais autores e obras A famosa tríade parnasiana brasileira compõe-se dos poetas Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. Além desses nomes, devemos destacar o de Vicente de Carvalho, que ficou conhecido como o "poeta do mar", e o de Francisca Júlia, por alguns críticos considerada a voz poética parnasiana mais próxima da impassibilidade pretendida pelos defensores do estilo, conforme sugere o poema "musa impassível". Olavo Bilac (1865 - 1918) Olavo Bilac nasceu no Rio de Janeiro, aonde veio a falecer. Estudou Medicina e direito, mas não concluiu nenhum dos dois cursos. Trabalhou como jornalista, funcionário público e inspetor escolar, dedicando-se amplamente ao ensino: traduziu e escreveu versos infantis, foi autor de livros didáticos, organizou antologia escolares, fez campanhas pela instrução primária, pela cultura física, pelo serviço militar obrigatório e outras, de caráter nacionalista. Autor da letra do "Hino à Bandeira", a vida toda escreveu, em prosa e verso, para a imprensa, tendo sido um dos cronistas mais expressivos e polêmicos de seu tempo. De temperamento plástico e retórico, atingiu em suas criações alguns dos principais objetivos parnasianos: a perfeição formal, a habilidade na versificação, a linguagem pura e preciosa e o descritivismo, muitas vezes fortemente sensual. Sua poesia no entanto, "é superficial como visão do homem", possivelmente por ater- se à "camada sensorial das cores, dos sons, das combinações plásticas, fazendo as próprias idéias e sentimentos se transformarem em meras palavras bem ordenadas". Sua obra também apresenta tonalidades românticas, percebidas, por exemplo, no lirismo amoroso e sensual de alguns poemas de "Via Láctea" e de "Sarças de fogo". Por ter sido o mais popular de nossos poetas parnasianos, Bilac tornou-se um dos principais alvos da crítica dos jovens artistas que implantaram o Modernismo no Brasil, nas duas primeiras décadas do século XX. Alberto de Oliveira (1859 - 1937) Nasceu em Palmital de Saquarema, rio de Janeiro. Considerado o poeta parnasiano mais disciplinado, mais apegado às regras e às características específicas do estilo, estreou com Canções românticas, livro romântico que antecipa sua adesão ao Parnasianismo. Depois publicou Meridionais e Versos e rimas, estes já claramente parnasianos. Raimundo Correia (1860 - 1911) Autor de uma poesia filosofante, pessimista, que tem por tema fundamental a passagem do tempo, a transitoriedade da vida. "No entanto, esse aspecto é nele muito desigual, com um peso negativo de falsa profundidade, na linha sentenciosa habitual aos parnasianos. O melhor da sua obra está em algumas peças em que traduziu o mais profundo desencanto, seja do ângulo subjetivo, seja do ângulo exterior, ou em certos poemas nutridos de uma percepção fina e encantadora da natureza, aliada à mais efetiva magia versificatória..." Sinfonias constituem o livro com o qual se firmou como poeta parnasiano, realizando a poesia descritiva típica desse estilo, também presente em Versos e versões e Aleluias. O Simbolismo O Simbolismo, movimento essencialmente poético do fim do século XIX, representa uma ruptura artística radical com a mentalidade cultural do Realismo-Naturalismo, buscando fundamentalmente retomar o primado das dimensões não-racionais da existência. Para tanto, redescobre e redimensiona a subjetividade, o sentimento, a imaginação, a espiritualidade; busca desvendar o subconsciente e o inconsciente nas relações misteriosas e transcendentes do sujeito humano consigo próprio e com o mundo. Numa visão mais ampla, tanto no campo da filosofia e das ciências da natureza quanto no campo das ciências humanas, a desconstrução das teorias racionalistas faz-se notar, seja por meio da física relativista de Einstein, da psicologia do inconsciente de Freud ou das tórias filosóficas de Schopenhauer e de Friedrich Nietzsche. Assim, o surgimento desse estilo por um lado reflete a grande crise dos valores racionalistas da civilização burguesa, no contexto da virada do século XIX para o século XX, e por outro inicia a criação de novas propostas estéticas precursoras da arte da modernidade. Principais características do Simbolismo A estética simbolista oficializou-se em 1886, com a publicação do manifesto literário do movimento, escrito por Jean Moréas. Nessa ocasião, o termo Simbolismo substituiu a expressão Decadentismo, utilizada para nomear as tendências poéticas antipositivas, antinaturalistas e anticientificas, embora a chamada estética decadente ou decadentista, em muitos aspectos próximos do Simbolismo, continuasse a ter vida própria. Com o Simbolismo, inicia-se um novocampo na imaginação poética: as dimensões da psique humana explorada pelos românticos - a sensibilidade, a imaginação criadora, intuição, o sentimento; numa palavra, a subjetividade – ampliam-se com a exploração das imagens subconscientes e inconscientes, que serão a matéria-prima do Surrealismo, movimento artístico de vanguarda, desenvolvido a partir da 2º década do século XX. Então, as palavras poéticas transformam-se em símbolos de vivencias místicas e sensoriais indizíveis, intraduzíveis, mas passíveis de ser evocadas, sugeridas, aludidas, por meio de metáforas, analogias e sinestesias: correspondências secretas entre os sentidos, harmonias entre sons, perfumes e cores, tudo convergido para o ritmo, para a musicalidade do verso. De um modo geral, os poetas simbolistas acreditam no desregramento dos sentidos e da sexualidade, na liberação da percepção e das emoções, nos delírios e alucinações que libertam a imaginação das amarras institucionais, medíocres e pragmáticas. Para eles a poesia é um ritual mágico, uma combinação alquímica de palavras reveladoras de outras dimensões da existência; é música das palavras, ou, na expressão Paul Valéry, "simbiose do som e do sentido", feita de ritmo, harmonia combinações sônica, onomatopéias. No entanto, os poetas simbolistas sentem-se porta-vozes de multidões inteiras, alienadas de seu eu-profundo, o qual procuram resgatar numa espécie de estado de transe mediúnico, místico e metafísico. Tanto pela ruptura com a mentalidade burguesa quanto pelo desenvolvimento de novos horizontes expressivos da linguagem, cuja raiz está na "paixão pelo efeito estético" que herdou do Parnasianismo o Simbolismo anuncia e antecipa a revolução modernista da poesia, constituindo, como já afirmamos, uma estética fundadora e fecundadora da Modernidade literária: a produção artística do século XX. O Simbolismo em Portugal Com a publicação de Oaristos, de Eugenio de Castro, em 1890, inicia-se oficialmente o Simbolismo português, durando até 1915, época do surgimento da geração Orpheu, que desencadeia a revolução modernista no país, em muitos aspectos baseada nas conquistas da nova estética. Conhecidos como adeptos do Nefelibatismo (espécie de adaptação portuguesa do Decadentismo e do Simbolismo francês), e, portanto como nefelibatas (pessoas que andam com a cabeça nas nuvens), os poetas simbolistas portugueses vivenciam um momento múltiplo e vário, de intensa agitação social, política, cultural e artística. Com o episódio do Ultimatum inglês, aceleram-se as manifestações nacionalistas e republicanas, que culminarão com a proclamação da República, em 1910. Portanto, os principais autores desse estilo em Portugal seguem linhas diversas, que vão do esteticismo de Eugênio de Castro ao nacionalismo de Antônio Nobre e outros, até atingirem maioridade estilística com Camilo Pessanha: o mais importante poeta simbolista português. Estudo dos principais autores e obras Além de Raul Brandão, um dos raros escritores de prosa simbolista, na verdade prosa poética, representada pela trilogia que compreende as obras A farsa, Os pobres e Húmus,Eugênio de Castro, Antônio Nobre e Camilo Pessanha são os poetas mais expressivos deste estilo em Portugal. Camilo Pessanha (1867-1926) Autor de apenas um livro, Clepsidra, publicado em 1922, Camilo Pessanha exerceu grande influência, particularmente na geração de Orpheu, que iniciou o Modernismo em Portugal. Considerado um poeta de leitura pouco acessível para o grande público, um criador que inspirou outros criadores, passou grande parte da vida em Macau (China), onde conheceu o ópio e conviveu com a poesia chinesa, de que foi tradutor para o português. Os poemas de Camilo Pessanha caracterizam-se por um forte poder de sugestão e ritmo, apresentando imagens estranhas, insólitas, não lineares, isto é, repletas de rupturas e cores – elementos tipicamente simbolistas. Neles predomina o tema do estranhamento entre o eu e o corpo; o eu e a existência e o mundo, cujos elementos mais familiares ao mesmo tempo tornam-se esquivos, perante uma sensibilidade poética fina e sutil, mas na qual não se encontram os derramamentos emocionais, a subjetividade egocêntrica. O Simbolismo no Brasil Iniciado oficialmente em 1893, com a publicação de Missal (prosa poética) e Broquéis, de Cruz e Souza, considerado o maior representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de Guimarães, o Simbolismo brasileiro, segundo alguns autores, não foi tão relevante quanto o europeu. Em outras palavras, não conseguiu substituir os cânones da literatura oficial, predominantemente realista e parnasiana. Esse fenômeno não é difícil de entender: a ênfase no primitivo e no inconsciente desta poesia, seu caráter universalizante e ao mesmo tempo intimista, não respondiam às questões nacionais. Por outro lado, entretanto, pelas mesmas características mencionadas, as manifestações simbolistas no Brasil, especialmente no Sul, terra de Cruz e Souza, possuem uma aura de "seita", com verdadeiras sociedades secretas cujos ritos, jargões e nomes sugerem os traços essenciais do movimento (por exemplo: "Romeiros da Estrada de São Tiago", "Magnificentes da palavra de escrita", etc). Estudo dos principais autores e obras João da Cruz e Souza (1861-1898) Conhecido como o "Cisne Negro" de nosso simbolismo, seu "arcanjo rebelde", seu "esteta sofredor", seu "divino mestre" procurou na arte a transfiguração da dor de viver e de enfrentar os duros problemas decorrentes da discriminação racial e social. Era negro e filho de escravos. Nasceu em Desterro (antiga Florianópolis), e faleceu aos 37 anos, devido à doença que lhe marcou a vida – a tuberculose. Foi jornalista de segunda categoria, e, enquanto poeta, permaneceu incompreendido pela crítica, só tendo seu valor reconhecido após a morte. Com o passar do tempo, foi considerado como o grande mestre de nosso Simbolismo, pela dimensão cósmica de sua obra, pela presença de pobres e deserdados, pela grandeza da visão transcendental com que procura poeticamente redimir as limitações da condição humana, transfigurando para uma dimensão metafísica a Dor, a Morte, o Mistério, o Inferno, alguns dos grandes temas aos quais se dedicou. Alphonsus de Guimarães (1870-1921) Este, o pseudônimo literário de Afonso Henriques da Costa Guimarães, nascido de uma família de intelectuais de Ouro Preto e que veio a falecer na cidade mineira de Mariana. Alphonsus de Guimarães é um poeta requintado, cuja produção foi marcada, em grande parte, pela morte prematura da amada – Constância -, musa inspiradora de um lirismo com fortes traços religiosos e caracterizados por uma musicalidade erudita. Considerada como uma espécie de "Anjo, imagem mediadora entre divindade e o homem que por ela supera o seu medo do cosmos e seu horror ao pecado", Constância constituiu o fio condutor das visões oníricas, do tom elegíaco, das imagens ancestrais, individuais e coletivas, que perpassam toda a obra do poeta. BIBLIOGRAFIA Livro: Novas Palavras Autor: Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite; Severino Antônio Editora: FTD S.A. (1997)
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