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Amostragem e Ensaios Laboratoriais para Avaliação de Potencial

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Amostragem e Ensaios Laboratoriais para Avaliação de Potencial 
Erosivo na Margem de Reservatório de Usina Hidroelétrica na 
Região Norte do Brasil 
 
Renato Pinto da Cunha 
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br 
 
José Eloi G. Campos 
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br 
 
RESUMO: Este artigo tem o objetivo de apresentar a experiência adquirida para identificar e 
caracterizar, de forma detalhada, os condicionantes e possíveis mecanismos relacionados aos 
processos de instabilização das encostas marginais de um reservatório de uma usina hidrelétrica 
(UHE) em construção na região Norte do país. O programa de trabalho adotado consistiu em visitas 
de campo, amostragem de solo, ensaios laboratoriais e elaboração de mapas cartográficos, que 
permitiram a determinação inicial dos graus de suscetibilidade aos processos de instabilização em 
diversos trechos e/ou setores das encostas ao longo da área de influência direta do reservatório em 
formação, ou seja, caracterizando-se assim a influência do reservatório e suas margens. Além disso, 
o programa de visitas contínuas de campo e ensaios de laboratório permitiu a proposição de 
medidas de proteção contra os eventuais processos de instabilização na área da usina, além de 
estabelecer recomendações e detalhamentos sobre tratamentos de recuperação em áreas localizadas 
de relevante suscetibilidade ou de condições críticas. Portanto, o artigo apresenta a parte inicial dos 
estudos na área em questão, focando na técnica de amostragem de solo, nos ensaios laboratoriais de 
solos e em sua discussão, que são de interesse para casos de estudo similares em outros lugares. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Amostragem, Ensaio Geotécnico, Classes de Risco, Erosão, Taludes. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A metodologia de trabalho que se refere ao 
presente artigo (e que será apresentada de forma 
parcial por falta de espaço) foi baseada na 
inspeção visual do perímetro de todas as áreas 
marginais do futuro reservatório (área de 
influência) de uma Usina Hidrelétrica da região 
norte, aqui definida como “região em estudo”. 
A ênfase do artigo se dará na metodologia de 
trabalho, seus resultados e discussão. Não 
haverá nenhum detrimento aqui pela falta de 
especificações geográficas do local em questão, 
porém a divulgação de tal informação não foi 
autorizada aos autores deste artigo. 
 Esta metodologia foi composta da retirada de 
amostras de solo e do simultâneo 
georeferenciamento dos pontos e trechos 
“típicos” onde foram observados processos de 
erodibilidade e/ou instabilizatórios instalados 
de forma local ou regional (ou com potencial de 
instalação). Além disto, foram considerados na 
metodologia o registro fotográfico e a descrição 
sumária dos pontos visitados, sua plotagem em 
planta cartográfica, e sua descrição geológica e 
pedológica, concomitantemente com a 
classificação qualitativa do risco e/ou 
susceptibilidade potencial de erosão dos solos 
dos taludes lindeiros ao futuro reservatório 
desta usina hidroelétrica (UHE). Ensaios 
laboratoriais foram também executados, o que 
permitiu a determinação dos tipos de solos e a 
elaboração dos mapas de susceptibilidade 
geotécnica. 
 De uma forma geral pode-se afirmar que os 
objetivos da inspeção de campo relacionados ao 
presente artigo foram de: 
• Verificar qualitativamente o grau de 
risco/susceptibilidade ao desenvolvimento de 
processos erosivos ao longo da região em 
estudo, em fase de construção na região norte 
do país, com base em critérios fundamentados 
na geologia, na pedologia e na geotecnia locais, 
além de outros aspectos (como efeitos 
antrópicos, uso do solo, características 
geográficas como declividade, e alguns 
aspectos subjetivos). Este grau de risco foi 
representado em um mapa de susceptibilidade 
ou potencial de risco de erosão de solo, que foi 
dividido em quatro classes, a saber: Baixo, 
Médio, Alto e Muito Alto. Estas classes (não 
apresentadas) foram definidas e fundamentadas 
em revisão bibliográfica sobre o assunto e na 
experiência dos autores deste artigo. 
Analogamente a este mapa, foi também 
confeccionado um mapa de solos ou classes 
geotécnicas, com base nas informações de 
campo e ensaios de laboratório. 
• Determinar as causas principais, e seus 
pesos relativos (em termos de importância), que 
determinam e desencadeiam os processos 
erosivos degradatórios das encostas marginais 
ao longo da região de influência direta do 
reservatório da UHE em questão. Estes fatores 
qualitativos e quantitativos foram 
posteriormente utilizados em um processo 
georeferenciado de cruzamento de informações 
que gerou o mapa de susceptibilidade de risco 
de erodibilidade, que levou em conta em sua 
confecção o cruzamento de dados das classes de 
uso de solos (resultados laboratoriais), de 
declividade, e de aspectos localizados 
(observados em visitas de campo, como 
presença de matacões, vegetação, etc.); 
• Avaliar as possíveis ações de 
minimização e/ou eliminação dos efeitos 
deletérios da erosão do solo, ações estas já 
incluídas em nas visitas periódicas na região em 
estudo, e que levam em conta o 
desenvolvimento (atenuação ou aceleração) dos 
processos erosivos. 
 Portanto, o presente artigo versará, e focará, 
na metodologia de extração de amostras de solo 
e dos respectivos resultados de ensaios 
laboratoriais de parâmetros geotécnicos, feitos 
em etapa anterior às atividades de elaboração 
das cartas geotécnicas, ensaios estes que 
levaram a um entendimento do tipo e classes de 
solo presentes na região em estudo. As 
avaliações em termos de ensaios de 
erodibilidade, colapso e caracterização do solo 
serão apresentadas, mostrando o universo de 
informação tipicamente encontrados em solos 
da região norte do Brasil – e como estes valores 
podem ser tipificados e classificados para uma 
avaliação inicial, qualitativa, da 
susceptibilidade a erosão e colapso destes 
materiais. 
 Na apresentação da tecnologia de 
amostragem, será ainda discutida, e comentada, 
uma nova metodologia de obtenção de amostras 
indeformadas de campo, que permita de forma 
corriqueira e rápida se obter amostras em locais 
de difícil acesso para os necessários ensaios de 
laboratório geotécnico requisitados em 
problemas desta envergadura, que envolvem a 
avaliação do potencial erosivo em regiões 
marginais de reservatórios de usinas 
hidrelétricas em locais de difícil acesso 
(normalmente via barcos em rios da região – 
antes da formação do lago). 
 
 
2 AMOSTRAGEM DE SOLO 
 
A amostragem de solo local, na região em 
estudo, ou seja, ao longo dos futuros pontos de 
margem do reservatório a ser formado na região 
(por transbordamento do rio existente, na área 
de remanso, ou em novas regiões especificadas 
em projeto), foi especificada para cada classe 
“tipo” de solo pedológica e geotecnicamente 
representativo da região. Em cada um destes 
locais foi, portanto, realizada a extração de 
amostras indeformadas. 
 Para esta retirada, que visou os ensaios 
laboratoriais de geotecnia foi utilizada uma 
metodologia alternativa à tradicionalmente 
aplicada para este fim. A principal diferença em 
relação ao caso “tradicional” foi a substituição 
da caixa de madeira por uma seção de 20 cm de 
altura de tubo de PVC rígido de 200 mm de 
diâmetro, com o subsequente uso de filme 
plástico em substituição à proteção com bordos 
de parafina. Desta forma, a sequência de ações 
necessárias para a retirada da amostra incluiu: 
• Escavação de um bloco de cujo núcleo 
será retirado a amostra. Esta tarefa é realizada 
com auxílio de enxadão; 
• Lapidação da porção externa do bloco em 
formato cilíndrico. Esta etapa deve ser feita 
com uso de espátulas, facas e facões; 
• Encaixe do tubo de PVC. Pode ser 
utilizada marreta de borracha para facilitar o 
encaixe, entretanto sem uso de força excessiva;• Corte da porção basal do bloco. Pode ser 
feita com uso de cabo de aço em solos mais 
macios ou com facão (para solos mais duros); 
• Envelopamento com filme plástico. 
 A seguir ilustra-se nas Figuras 1 a 8 o 
processo passo-a-passo de retirada das amostras 
indeformadas pela nova técnica aqui 
pioneiramente testada. 
 Deve ser ressaltado que alguns cuidados 
foram especialmente observados durante este 
processo de retirada: 
• A lapidação deve ser feita com muito 
cuidado e lentamente de forma a não se quebrar 
o bloco. Nesta etapa há o risco real de se perder 
a qualidade da amostragem; 
• O recorte da base também deve ser muito 
cuidadoso sob o risco de deformar a porção 
basal da amostra e também comprometer a 
amostragem; 
• O envelopamento com filme de PVC deve 
ser com a máxima compressão possível e em 
múltiplas camadas, de forma a manter a amostra 
firme e evitar a perda da umidade natural; 
• O transporte da amostra deve ser em 
caixas de isopor com o máximo cuidado para 
evitar impactos e pequenos choques que 
também poderão comprometer a qualidade das 
análises. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Escavação do núcleo do bloco do qual será 
retirada a amostra indeformada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2. Ilustração do bloco indeformado já separado da 
matriz do perfil de solo de onde a amostra será retirada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3. Processo de lapidação do bloco utilizando o 
tubo de PVC como gabarito. Esta etapa deve ser feita 
com auxílio de pá reta, espátula e facão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4. Amostra já lapidada pronta para o encaixe do 
tubo de PVC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5. Processo de encaixe do tubo de PVC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6. Uso de marreta de borracha em golpes leves 
para facilitar o encaixe da amostra sem deixar espaços 
entre a amostra e a porção interna do tubo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7. Processo de finalização da amostragem depois 
do recorte da base. 
 
 Os resultados obtidos com a amostragem 
previamente apresentada foram plenamente 
satisfatórios, como se delineará nos resultados 
analíticos discutidos a seguir. Observa-se que, 
para cada local de amostragem (solo “tipo”) 
bastaram 2 amostras indeformadas para 
realização de todos os ensaios aqui 
preconizados. Adicionalmente a estas, sacos 
com amostra deformada de cada ponto (cerca de 
5 kg) foram também coletados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8. Envelopamento com uso de filme plástico que 
deve ser homogeneamente distribuído por toda a porção 
externa da amostra. 
 
 
3 ENSAIOS LABORATORIAIS 
 
Os ensaios laboratoriais foram realizados no 
Laboratório de Geotecnia da Universidade de 
Brasília, com base nas amostras indeformadas e 
deformadas retiradas em pontos “típicos” da 
pedologia local, especificados como AI-01, 
AI-02, AI-03, AI-04, AI-05 e AI-06. 
 Estes pontos são respectivamente associados 
às seguintes classes de solos sob o ponto de 
vista pedológico: 
• AI-01: Cambissolo Háplico; 
• AI-02: Nitossolo Vermelho; 
• AI-03: Saprólito Argiloso; 
• AI-04: Latossolo Vermelho; 
• AI-05: Neossolo Flúvico; 
• AI-06: Neossolo Flúvico sem plintita. 
 Todas as amostras foram preparadas e 
passaram por ensaios mais específicos, como os 
ensaios de expansibilidade, colapso e 
erodibilidade do tipo Inderbitzen, que não serão 
aqui explanados de forma detalhada podem ser 
encontrados em Araújo & Palmeira (2013). 
 Com base na caracterização granulométrica 
realizada dos solos típicos da região em estudo, 
podem ser destacados os pontos principais: 
• Todas as amostras ensaiadas têm baixa 
plasticidade e consistência dura, e possuem 
umidade natural inferior ao limite de 
plasticidade, ou seja, estão em estado semi-
sólido. Ao se avaliar o índice de atividade 
conforme proposto por Skempton (1953) para 
os materiais finos (argilas, ou siltes como 
considerado neste artigo), nota-se que se tratam 
de amostras “ativas”, portanto com grande 
possibilidade de armazenamento de água 
adsorvida na superfície de suas partículas 
minerais; 
• A maioria das amostras (exceção para os 
casos AI-01 e AI-03, respectivamente 
cambissolo háplico e saprólito argiloso) tem a 
peculiaridade de mudança de granulometria e 
da classificação unificada quando defloculadas, 
ou seja, a matriz de solo no estado natural 
possui estruturação e ligações cimentícias que 
podem ser rompidas pela presença do agente 
defloculante, dispersando as partículas minerais 
do solo e aumentando a parcela de finos. 
Observou-se que a porcentagem de argila no 
estado natural é extremamente baixa, e que a 
mesma se altera aumentando consideravelmente 
nos ensaios com defloculante (com exceção 
para o caso AI-03, saprólito argiloso); 
• Todas as amostras puderam ser 
classificadas no sistema unificado de 
classificação dos solos (SUCS), sendo que, em 
algumas, a classificação se altera conforme o 
solo se desestrutura durante o processo de 
sedimentação com agente defloculante. Com 
base nestes ensaios, os seguintes resultados 
puderam ser alcançados: 
¾ Amostra 1: AI-01: Areia siltosa ou 
mistura de areia ou silte mal graduado em 
qualquer estado; 
¾ Amostra 2: AI-02: Areia siltosa a 
mistura de areia no estado natural ou argila 
orgânica de plasticidade média no estado 
defloculado; 
¾ Amostra 3: AI-03: Silte inorgânico, 
solos siltosos ou arenosos (areias finas ou 
siltes micáceos) em qualquer estado; 
¾ Amostra 4: AI-04: Areia siltosa a 
mistura de areia no estado natural ou silte 
orgânico a argila siltosa no estado 
defloculado; 
¾ Amostra 5: AI-05: Silte inorgânico a 
areia muito fina no estado natural ou silte 
orgânico a argila siltosa no estado 
defloculado; 
¾ Amostra 6: AI-06: Silte orgânico a 
argila siltosa em qualquer estado. 
• Todas as amostras em seu estado natural 
têm classificações para materiais que são 
considerados “críticos” em relação à erosão 
superficial (nota-se que esta observação é para 
uso em revestimento de canais de terra – exceto 
caso AI-03, saprólito argiloso) segundo Wagner 
(1957); 
• Todas as amostras têm massas específicas 
dos grãos dentro das faixas comumente obtidas 
na prática (como comparação vale o valor de 
2.67 g/cm3 para o quartzo puro). Entretanto, 
nota-se um valor levemente superior para a 
amostra AI-04 (latossolo) o que pode estar 
associado ao processo de laterização e formação 
de óxidos de ferro – embora tal fato careça de 
averiguação complementar por ensaios que não 
foram previstos neste trabalho; 
• Algumas amostras têm, em seu estado 
natural, um índice de vazios inicial alto com 
simultâneo baixo grau de saturação, o que pode 
indicar solo estruturado com tendência ao 
colapso por aumento de umidade. 
 Os resultados relativos à expansibilidade e 
ao colapso das amostras ensaiadas são 
apresentados na Tabela 1, enquanto que os 
relativos aos ensaios de erodibilidade estão na 
Tabela 2. 
 Com base nestes resultados, as seguintes 
observações principais podem ser dadas: 
• Todas as amostras ensaiadas sofreram 
compressão e não são expansíveis quando 
saturadas; 
• Todas as amostras sofreram um pequeno 
grau de colapso, tendo sido observado que para 
três das amostras ensaiadas (AI-01, AI-2 e AI-
04, respectivamente Cambissolo Háplico, 
Nitossolo e Latossolo) tem-se um índice de 
colapso superior ou igual a 2% que, segundo 
Vargas (1974) indica solos “potencialmente 
colapsíveis”. Porém, destes três solos, somente 
o AI-01 (Cambissolo Háplico) foi categorizado 
como “problemático” segundo o critério de 
Jennings & Knight (1975) para solos 
efetivamente colapsíveis; 
Tabela 1. Resultados dos ensaios laboratoriais de 
expansibilidade e colapso. 
 
AmostraExpansão 
Deformação 
Acumulada 
(%) 
Índice 
de 
Colapso 
(%) 
 
Gravidade 
ao Colapso 
1 -0.014 8.78 Problemático 
2 -0.008 2.83 Moderado 
3 -0.008 0.07 Sem 
Problema 
4 -0.017 2.04 Moderado 
5 -0.003 1.07 Moderado 
6 -0.008 1.21 Moderado 
Observações: 
1. A deformação acumulada se dá em relação à altura 
inicial da amostra após imersão em água, por 72hs. 
Valores negativos significam compressão; 
2. O índice de colapso foi definido no Relatório dos 
Ensaios de Laboratório da UnB e segue a formulação de 
Vargas (1974); 
3. A gravidade ao colapso segue o critério de Jennings e 
Knight (1975). 
 
Tabela 2. Resultados dos ensaios laboratoriais de 
erodibilidade (Inderbitzen) 
 
Amostra 
Taxa de 
Erodibilidade 
K 
(g/cm2/min/Pa) 
Taxa de 
Erosão 
acumulada 
(10 min) 
(g/cm2/min) 
Perda de 
Solo 
 
(g/m2) 
1 0.0031 0.012 120 
2 0.0024 0.008 80 
3 0.0139 0.051 510 
4 0.0044 0.015 150 
5 0.0900 0.280 2800 
6 0.0770 0.239 2390 
Observações: 
1. O ensaio de Inderbitzen simulou uma chuva média de 
120 mm/h sobre uma superfície de solo na umidade 
natural inclinada de cerca de 15 graus em relação à 
horizontal – chuva crítica para a região em estudo; 
2. A taxa de erodibilidade representa o gradiente da perda 
de solo em relação às tensões hidráulicas aplicadas. 
segundo Bastos (1999). Esta taxa é calculada com a 
tensão hidráulica cisalhante crítica (τhcrit em Pa) que 
corresponde ao valor máximo de τh para erosão nula 
através de um gráfico de τh por taxa de erosão que 
representa a equação de Du Boys. Entretanto, este cálculo 
foi aqui simplificado dividindo-se diretamente a taxa de 
erosão acumulada (g/cm2/min) relativa a perda de solo no 
ensaio após 10 minutos pelo valor de τh obtido 
pontualmente para a vazão (constante) aplicada – visto 
que não foi possível se realizar ensaios com distintas 
vazões (como recomenda Bastos, 1999) para obter τhcrit; 
3. A perda de solo por área (1 m2) é aproximada. e 
representaria a perda hipotética em massa seca de 
material caso todas as condicionantes anteriores, relativas 
às especificações dos ensaios e aos solos ensaiados, se 
mantivessem em campo. Esta perda seria acumulada para 
10 minutos de chuva. 
• As amostras com um índice de colapso 
superior ou igual a 2% (AI-01, AI-02 e AI-04) 
também foram as que apresentaram índices de 
vazio iniciais altos (superior a 
aproximadamente 0,7) e baixos graus de 
saturação (o menor foi para a amostra AI-01 de 
∼30%). Tais aspectos também corroboram para 
o fato de que estes solos têm potencial para a 
quebra da estrutura por colapso quando 
umedecidos e carregados verticalmente, visto 
possuírem grandes vazios em sua matriz 
original preenchidos basicamente por ar; 
• Todas as amostras sofreram algum grau 
de perda de solo durante o ensaio realizado. 
Levando em conta o critério proposto por 
Bastos (1999) para direta definição do grau (ou 
severidade) de erodibilidade de amostras de 
solo ensaiadas por este mesmo método, nota-se 
que das seis amostras, a metade foi classificada 
como sendo de “mediano” nível de 
erodibilidade (0.001<K<0.1 g/cm2/min/Pa) 
enquanto a outra metade teve a classificação de 
“alto” nível de erodibilidade (K>0.1 
g/cm2/min/Pa); 
• As amostras que foram classificadas com 
alto nível de erodibilidade são as relativas as 
amostras AI-03, AI-05 e AI-06, 
respectivamente o Saprólito Argiloso e o 
Neossolo Flúvico com e sem plintita. 
Curiosamente nenhuma destas amostras é 
classificada como potencialmente erodível 
através do critério (indireto) de erodibilidade 
proposto por Bastos (1999), em que ambas as 
condições de IP < 10% e % passante na peneira 
#200 < 55% devem ser atendidas 
simultaneamente – o que indica a necessidade 
de maiores estudos para a definição de um 
critério empírico confiável de avaliação indireta 
da erodibilidade; 
• Das três amostras com alto nível de 
erodibilidade pelo critério de avaliação (direta) 
de Bastos (1999), duas apresentam sensível 
diferença em relação à terceira, ou seja, as 
amostras de Neossolo Flúvico (AI-05, AI-06) 
podem, de maneira aproximada, perder em 
campo mais de 2 kg de material por m2 de área 
se as condições simuladas no teste se aplicarem 
in situ. Este valor é aproximadamente 4x maior 
que a perda de solo acumulada do saprólito 
argiloso (AI-03) nas mesmas condições. Este 
último solo, entretanto, tem uma taxa de erosão 
acumulada em 10 minutos aproximadamente 5x 
maior que a taxa das amostras classificadas 
como de mediano nível de erodibilidade (AI-01, 
AI-02, AI-04). 
 Portanto, de maneira geral, podem ser 
apresentados alguns comentários genéricos 
sobre o provável comportamento dos materiais 
pedogenéticos típicos existentes na região em 
estudo, quando em contato com fluxo contínuo, 
variável ou concentrado de água: 
• Estes solos têm grande capacidade de 
absorção de água em seus poros ou ao longo da 
superfície aparente de suas partículas minerais 
em sua condição atual, natural ou in situ, porém 
podem sofrer processos erosivos (ou são 
susceptíveis à erodibilidade em maior ou menor 
grau) com certa facilidade por suas 
características naturais de granulometria, donde 
se nota uma elevada parcela de material 
granular de baixa plasticidade e pouco coesivo, 
duro (friável) e, em geral, mal graduado. Esta 
observação vale para todos os solos estudados; 
• Estes solos têm também a possibilidade 
de desestruturação e mudança de estrutura, com 
perda de ligações cimentíceas, quando 
submetidos ao contato com água na presença de 
elementos químicos, tóxicos ou poluentes, em 
fenômeno similar ao processo de defloculação 
simulado em laboratório. Tal ocorrência pode 
eventualmente instabilizar, colapsar em maior 
ou menor grau e facilitar o fenômeno erosivo no 
material terroso quando este estiver, 
simultaneamente, submetido a fluxos 
concentrados de água. Vale para todos os solos 
estudados, com exceção do saprólito argiloso; 
• Os materiais pedogenéticos típicos do 
Cambissolo Háplico, do Nitossolo Vermelho e 
do Latossolo Vermelho, respectivamente 
relativo às amostras AI-01, AI-02 e AI-04, e 
respectivamente relativos a materiais 
geotécnicos caracterizados por areias siltosas a 
misturas de areia no estado natural, são os que 
mais poderão apresentar fenômenos geotécnicos 
relativos ao colapso da estrutura terrosa, 
especialmente se inundados sob carregamento 
(de um estado inicial relativo à umidade natural 
de campo). Embora o índice de colapso não seja 
alto para estes solos, ele se situa em faixas 
superiores a 2% o que pode inviabilizar o uso 
de fundações do tipo sapatas ou baldrames 
superficiais para pequenas habitações nesta 
região - fato que necessita de maiores estudos 
em virtude de outros aspectos não considerados 
ou conhecidos (eventual subida do nível de 
água, taxas de pressão admissível das fundações 
projetadas, cotas de assentamento destas, 
rigidez das estruturas e seus materiais típicos 
constituintes). De todos os solos analisados, o 
Cambissolo Háplico é o que tem o maior índice 
de colapso e ao que mais cuidado se sugere 
tomar, visto ser o único classificado como 
“problemático” sob o ponto de vista de 
gravidade geotécnica ao colapso, segundo 
critérios da literatura e dados dos ensaios; 
• Os materiais pedogenéticos típicos do 
saprólito argiloso e dos neossolos flúvicos, 
respectivamente relativos às amostras AI-03, 
AI-05 e AI-06, e respectivamente relativos a 
materiais geotécnicos caracterizados por siltes 
inorgânicos/orgânicos a areias finas, ou argilas 
siltosas, ou misturas de siltes e areias no estado 
natural, são os que mais poderão apresentar 
fenômenos geotécnicos relativos à erodibilidade 
da camada superficial terrosa por ação 
pluviométrica (não se considerou neste artigo o 
efeito superposto, e agravante, de erosão por 
ação de variaçãode maré, de arraste fluvial ou 
de impacto de ondas). Todos os solos avaliados 
estão sujeitos ao efeito de perda de solo por 
erosão, porém em diferentes níveis ou taxas 
(sendo o nitossolo háplico o de maior 
resistência erosiva). Devem, portanto, ter a 
devida proteção superficial adequada para 
mitigação ou eliminação destes problemas. Dos 
solos estudados, entretanto, os neossolos 
flúvicos e o saprólito argiloso foram os que se 
classificaram como sendo de um alto nível de 
erodibilidade segundo critérios da literatura (os 
outros se classificam como de mediana 
erodibilidade). Destes em particular, os 
neossolos apresentaram a maior perda de solo 
por área superficial de terreno, indicando que as 
margens de reservatório da região em estudo 
em que há a presença destes corpos geotécnicos 
em particular estarão sujeitas a acentuados 
processos erosivos (e o consequente 
assoreamento do reservatório) se nenhuma 
proteção natural (ou artificial) seja 
implementada. Esta proteção deverá ter a 
função de impedir que tais margens e/ou áreas 
desprotegidas fiquem livremente à mercê das 
intempéries naturais, ou à mercê das futuras 
particularidades do regime hidráulico do lago 
ao redor das margens do reservatório; 
• Observa-se ainda que a cobertura vegetal 
e/ou proteção superficial dos materiais 
ensaiados e solos existentes na região em 
estudo de uma UHE é fundamental à sua boa 
preservação e performance durante a vida útil 
do Reservatório, fato este direta ou 
indiretamente já observado ao longo das visitas 
de campo ao local (por falta de espaço, não 
serão aqui comentadas), donde se percebe 
claramente que processos erosivos e de 
instabilidade de talude superficial estão sempre 
associados aos trechos em que há a presença de 
atividade antrópica (pastoril ou agronômica). 
Exceções existem com poucos ou limitados 
trechos onde há o natural rolamento de blocos, 
fraturamento e desplacamento da rocha local, 
porém tais processos não se caracterizam como 
a principal preocupação de risco geotécnico da 
área em estudo. Atenção também deverá ser 
dada ao caso de futuros assentamentos em áreas 
potencialmente colapsíveis, que venham a ser 
submetidos a um aumento do nível freático. 
 
 
4 CONCLUSÕES 
 
Este artigo demonstrou como se pode, de forma 
geral, tratar o problema de avaliação do risco 
geotécnico na área de influência de um 
reservatório de usina hidrelétrica em 
construção, no que tange aos processos de 
erodibilidade das margens lindeiras deste 
reservatório. Através do uso de ensaios 
geotécnicos de laboratório, de visitas periódicas 
de campo, e de informações usualmente 
existentes neste tipo de atividade (mapas 
geológicos, pedológicos, topográficos, efeitos 
antrópicos), é possível se definir e categorizar 
classes de risco – que poderão indicar no campo 
futuras regiões susceptíveis a danos erosivos. 
 O artigo transpassa parte da experiência dos 
autores na extração in loco de amostras e nos 
ensaios geotécnicos e sua interpretação, dados 
passíveis de serem encontradas nestes solos. 
Conclui-se, portanto, que tal experiência poderá 
ser de utilidade como um guia inicial de 
procedimentos aos profissionais que 
desenvolvem atividades desta natureza. 
 A técnica proposta para retirada de amostras 
inderformadas de solos se mostra eficiente, 
mais fácil, rápida e de menor custo quando 
comparada à metodologia tradicional de 
obtenção de blocos não deformados com uso de 
parafina e demais procedimentos tradicionais. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Se agradece a Empresa Ambiental Tecnologia 
pela cessão de dados e total apoio prestado. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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