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Amostragem e Ensaios Laboratoriais para Avaliação de Potencial Erosivo na Margem de Reservatório de Usina Hidroelétrica na Região Norte do Brasil Renato Pinto da Cunha Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br José Eloi G. Campos Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br RESUMO: Este artigo tem o objetivo de apresentar a experiência adquirida para identificar e caracterizar, de forma detalhada, os condicionantes e possíveis mecanismos relacionados aos processos de instabilização das encostas marginais de um reservatório de uma usina hidrelétrica (UHE) em construção na região Norte do país. O programa de trabalho adotado consistiu em visitas de campo, amostragem de solo, ensaios laboratoriais e elaboração de mapas cartográficos, que permitiram a determinação inicial dos graus de suscetibilidade aos processos de instabilização em diversos trechos e/ou setores das encostas ao longo da área de influência direta do reservatório em formação, ou seja, caracterizando-se assim a influência do reservatório e suas margens. Além disso, o programa de visitas contínuas de campo e ensaios de laboratório permitiu a proposição de medidas de proteção contra os eventuais processos de instabilização na área da usina, além de estabelecer recomendações e detalhamentos sobre tratamentos de recuperação em áreas localizadas de relevante suscetibilidade ou de condições críticas. Portanto, o artigo apresenta a parte inicial dos estudos na área em questão, focando na técnica de amostragem de solo, nos ensaios laboratoriais de solos e em sua discussão, que são de interesse para casos de estudo similares em outros lugares. PALAVRAS-CHAVE: Amostragem, Ensaio Geotécnico, Classes de Risco, Erosão, Taludes. 1 INTRODUÇÃO A metodologia de trabalho que se refere ao presente artigo (e que será apresentada de forma parcial por falta de espaço) foi baseada na inspeção visual do perímetro de todas as áreas marginais do futuro reservatório (área de influência) de uma Usina Hidrelétrica da região norte, aqui definida como “região em estudo”. A ênfase do artigo se dará na metodologia de trabalho, seus resultados e discussão. Não haverá nenhum detrimento aqui pela falta de especificações geográficas do local em questão, porém a divulgação de tal informação não foi autorizada aos autores deste artigo. Esta metodologia foi composta da retirada de amostras de solo e do simultâneo georeferenciamento dos pontos e trechos “típicos” onde foram observados processos de erodibilidade e/ou instabilizatórios instalados de forma local ou regional (ou com potencial de instalação). Além disto, foram considerados na metodologia o registro fotográfico e a descrição sumária dos pontos visitados, sua plotagem em planta cartográfica, e sua descrição geológica e pedológica, concomitantemente com a classificação qualitativa do risco e/ou susceptibilidade potencial de erosão dos solos dos taludes lindeiros ao futuro reservatório desta usina hidroelétrica (UHE). Ensaios laboratoriais foram também executados, o que permitiu a determinação dos tipos de solos e a elaboração dos mapas de susceptibilidade geotécnica. De uma forma geral pode-se afirmar que os objetivos da inspeção de campo relacionados ao presente artigo foram de: • Verificar qualitativamente o grau de risco/susceptibilidade ao desenvolvimento de processos erosivos ao longo da região em estudo, em fase de construção na região norte do país, com base em critérios fundamentados na geologia, na pedologia e na geotecnia locais, além de outros aspectos (como efeitos antrópicos, uso do solo, características geográficas como declividade, e alguns aspectos subjetivos). Este grau de risco foi representado em um mapa de susceptibilidade ou potencial de risco de erosão de solo, que foi dividido em quatro classes, a saber: Baixo, Médio, Alto e Muito Alto. Estas classes (não apresentadas) foram definidas e fundamentadas em revisão bibliográfica sobre o assunto e na experiência dos autores deste artigo. Analogamente a este mapa, foi também confeccionado um mapa de solos ou classes geotécnicas, com base nas informações de campo e ensaios de laboratório. • Determinar as causas principais, e seus pesos relativos (em termos de importância), que determinam e desencadeiam os processos erosivos degradatórios das encostas marginais ao longo da região de influência direta do reservatório da UHE em questão. Estes fatores qualitativos e quantitativos foram posteriormente utilizados em um processo georeferenciado de cruzamento de informações que gerou o mapa de susceptibilidade de risco de erodibilidade, que levou em conta em sua confecção o cruzamento de dados das classes de uso de solos (resultados laboratoriais), de declividade, e de aspectos localizados (observados em visitas de campo, como presença de matacões, vegetação, etc.); • Avaliar as possíveis ações de minimização e/ou eliminação dos efeitos deletérios da erosão do solo, ações estas já incluídas em nas visitas periódicas na região em estudo, e que levam em conta o desenvolvimento (atenuação ou aceleração) dos processos erosivos. Portanto, o presente artigo versará, e focará, na metodologia de extração de amostras de solo e dos respectivos resultados de ensaios laboratoriais de parâmetros geotécnicos, feitos em etapa anterior às atividades de elaboração das cartas geotécnicas, ensaios estes que levaram a um entendimento do tipo e classes de solo presentes na região em estudo. As avaliações em termos de ensaios de erodibilidade, colapso e caracterização do solo serão apresentadas, mostrando o universo de informação tipicamente encontrados em solos da região norte do Brasil – e como estes valores podem ser tipificados e classificados para uma avaliação inicial, qualitativa, da susceptibilidade a erosão e colapso destes materiais. Na apresentação da tecnologia de amostragem, será ainda discutida, e comentada, uma nova metodologia de obtenção de amostras indeformadas de campo, que permita de forma corriqueira e rápida se obter amostras em locais de difícil acesso para os necessários ensaios de laboratório geotécnico requisitados em problemas desta envergadura, que envolvem a avaliação do potencial erosivo em regiões marginais de reservatórios de usinas hidrelétricas em locais de difícil acesso (normalmente via barcos em rios da região – antes da formação do lago). 2 AMOSTRAGEM DE SOLO A amostragem de solo local, na região em estudo, ou seja, ao longo dos futuros pontos de margem do reservatório a ser formado na região (por transbordamento do rio existente, na área de remanso, ou em novas regiões especificadas em projeto), foi especificada para cada classe “tipo” de solo pedológica e geotecnicamente representativo da região. Em cada um destes locais foi, portanto, realizada a extração de amostras indeformadas. Para esta retirada, que visou os ensaios laboratoriais de geotecnia foi utilizada uma metodologia alternativa à tradicionalmente aplicada para este fim. A principal diferença em relação ao caso “tradicional” foi a substituição da caixa de madeira por uma seção de 20 cm de altura de tubo de PVC rígido de 200 mm de diâmetro, com o subsequente uso de filme plástico em substituição à proteção com bordos de parafina. Desta forma, a sequência de ações necessárias para a retirada da amostra incluiu: • Escavação de um bloco de cujo núcleo será retirado a amostra. Esta tarefa é realizada com auxílio de enxadão; • Lapidação da porção externa do bloco em formato cilíndrico. Esta etapa deve ser feita com uso de espátulas, facas e facões; • Encaixe do tubo de PVC. Pode ser utilizada marreta de borracha para facilitar o encaixe, entretanto sem uso de força excessiva;• Corte da porção basal do bloco. Pode ser feita com uso de cabo de aço em solos mais macios ou com facão (para solos mais duros); • Envelopamento com filme plástico. A seguir ilustra-se nas Figuras 1 a 8 o processo passo-a-passo de retirada das amostras indeformadas pela nova técnica aqui pioneiramente testada. Deve ser ressaltado que alguns cuidados foram especialmente observados durante este processo de retirada: • A lapidação deve ser feita com muito cuidado e lentamente de forma a não se quebrar o bloco. Nesta etapa há o risco real de se perder a qualidade da amostragem; • O recorte da base também deve ser muito cuidadoso sob o risco de deformar a porção basal da amostra e também comprometer a amostragem; • O envelopamento com filme de PVC deve ser com a máxima compressão possível e em múltiplas camadas, de forma a manter a amostra firme e evitar a perda da umidade natural; • O transporte da amostra deve ser em caixas de isopor com o máximo cuidado para evitar impactos e pequenos choques que também poderão comprometer a qualidade das análises. Figura 1. Escavação do núcleo do bloco do qual será retirada a amostra indeformada. Figura 2. Ilustração do bloco indeformado já separado da matriz do perfil de solo de onde a amostra será retirada. Figura 3. Processo de lapidação do bloco utilizando o tubo de PVC como gabarito. Esta etapa deve ser feita com auxílio de pá reta, espátula e facão. Figura 4. Amostra já lapidada pronta para o encaixe do tubo de PVC. Figura 5. Processo de encaixe do tubo de PVC. Figura 6. Uso de marreta de borracha em golpes leves para facilitar o encaixe da amostra sem deixar espaços entre a amostra e a porção interna do tubo. Figura 7. Processo de finalização da amostragem depois do recorte da base. Os resultados obtidos com a amostragem previamente apresentada foram plenamente satisfatórios, como se delineará nos resultados analíticos discutidos a seguir. Observa-se que, para cada local de amostragem (solo “tipo”) bastaram 2 amostras indeformadas para realização de todos os ensaios aqui preconizados. Adicionalmente a estas, sacos com amostra deformada de cada ponto (cerca de 5 kg) foram também coletados. Figura 8. Envelopamento com uso de filme plástico que deve ser homogeneamente distribuído por toda a porção externa da amostra. 3 ENSAIOS LABORATORIAIS Os ensaios laboratoriais foram realizados no Laboratório de Geotecnia da Universidade de Brasília, com base nas amostras indeformadas e deformadas retiradas em pontos “típicos” da pedologia local, especificados como AI-01, AI-02, AI-03, AI-04, AI-05 e AI-06. Estes pontos são respectivamente associados às seguintes classes de solos sob o ponto de vista pedológico: • AI-01: Cambissolo Háplico; • AI-02: Nitossolo Vermelho; • AI-03: Saprólito Argiloso; • AI-04: Latossolo Vermelho; • AI-05: Neossolo Flúvico; • AI-06: Neossolo Flúvico sem plintita. Todas as amostras foram preparadas e passaram por ensaios mais específicos, como os ensaios de expansibilidade, colapso e erodibilidade do tipo Inderbitzen, que não serão aqui explanados de forma detalhada podem ser encontrados em Araújo & Palmeira (2013). Com base na caracterização granulométrica realizada dos solos típicos da região em estudo, podem ser destacados os pontos principais: • Todas as amostras ensaiadas têm baixa plasticidade e consistência dura, e possuem umidade natural inferior ao limite de plasticidade, ou seja, estão em estado semi- sólido. Ao se avaliar o índice de atividade conforme proposto por Skempton (1953) para os materiais finos (argilas, ou siltes como considerado neste artigo), nota-se que se tratam de amostras “ativas”, portanto com grande possibilidade de armazenamento de água adsorvida na superfície de suas partículas minerais; • A maioria das amostras (exceção para os casos AI-01 e AI-03, respectivamente cambissolo háplico e saprólito argiloso) tem a peculiaridade de mudança de granulometria e da classificação unificada quando defloculadas, ou seja, a matriz de solo no estado natural possui estruturação e ligações cimentícias que podem ser rompidas pela presença do agente defloculante, dispersando as partículas minerais do solo e aumentando a parcela de finos. Observou-se que a porcentagem de argila no estado natural é extremamente baixa, e que a mesma se altera aumentando consideravelmente nos ensaios com defloculante (com exceção para o caso AI-03, saprólito argiloso); • Todas as amostras puderam ser classificadas no sistema unificado de classificação dos solos (SUCS), sendo que, em algumas, a classificação se altera conforme o solo se desestrutura durante o processo de sedimentação com agente defloculante. Com base nestes ensaios, os seguintes resultados puderam ser alcançados: ¾ Amostra 1: AI-01: Areia siltosa ou mistura de areia ou silte mal graduado em qualquer estado; ¾ Amostra 2: AI-02: Areia siltosa a mistura de areia no estado natural ou argila orgânica de plasticidade média no estado defloculado; ¾ Amostra 3: AI-03: Silte inorgânico, solos siltosos ou arenosos (areias finas ou siltes micáceos) em qualquer estado; ¾ Amostra 4: AI-04: Areia siltosa a mistura de areia no estado natural ou silte orgânico a argila siltosa no estado defloculado; ¾ Amostra 5: AI-05: Silte inorgânico a areia muito fina no estado natural ou silte orgânico a argila siltosa no estado defloculado; ¾ Amostra 6: AI-06: Silte orgânico a argila siltosa em qualquer estado. • Todas as amostras em seu estado natural têm classificações para materiais que são considerados “críticos” em relação à erosão superficial (nota-se que esta observação é para uso em revestimento de canais de terra – exceto caso AI-03, saprólito argiloso) segundo Wagner (1957); • Todas as amostras têm massas específicas dos grãos dentro das faixas comumente obtidas na prática (como comparação vale o valor de 2.67 g/cm3 para o quartzo puro). Entretanto, nota-se um valor levemente superior para a amostra AI-04 (latossolo) o que pode estar associado ao processo de laterização e formação de óxidos de ferro – embora tal fato careça de averiguação complementar por ensaios que não foram previstos neste trabalho; • Algumas amostras têm, em seu estado natural, um índice de vazios inicial alto com simultâneo baixo grau de saturação, o que pode indicar solo estruturado com tendência ao colapso por aumento de umidade. Os resultados relativos à expansibilidade e ao colapso das amostras ensaiadas são apresentados na Tabela 1, enquanto que os relativos aos ensaios de erodibilidade estão na Tabela 2. Com base nestes resultados, as seguintes observações principais podem ser dadas: • Todas as amostras ensaiadas sofreram compressão e não são expansíveis quando saturadas; • Todas as amostras sofreram um pequeno grau de colapso, tendo sido observado que para três das amostras ensaiadas (AI-01, AI-2 e AI- 04, respectivamente Cambissolo Háplico, Nitossolo e Latossolo) tem-se um índice de colapso superior ou igual a 2% que, segundo Vargas (1974) indica solos “potencialmente colapsíveis”. Porém, destes três solos, somente o AI-01 (Cambissolo Háplico) foi categorizado como “problemático” segundo o critério de Jennings & Knight (1975) para solos efetivamente colapsíveis; Tabela 1. Resultados dos ensaios laboratoriais de expansibilidade e colapso. AmostraExpansão Deformação Acumulada (%) Índice de Colapso (%) Gravidade ao Colapso 1 -0.014 8.78 Problemático 2 -0.008 2.83 Moderado 3 -0.008 0.07 Sem Problema 4 -0.017 2.04 Moderado 5 -0.003 1.07 Moderado 6 -0.008 1.21 Moderado Observações: 1. A deformação acumulada se dá em relação à altura inicial da amostra após imersão em água, por 72hs. Valores negativos significam compressão; 2. O índice de colapso foi definido no Relatório dos Ensaios de Laboratório da UnB e segue a formulação de Vargas (1974); 3. A gravidade ao colapso segue o critério de Jennings e Knight (1975). Tabela 2. Resultados dos ensaios laboratoriais de erodibilidade (Inderbitzen) Amostra Taxa de Erodibilidade K (g/cm2/min/Pa) Taxa de Erosão acumulada (10 min) (g/cm2/min) Perda de Solo (g/m2) 1 0.0031 0.012 120 2 0.0024 0.008 80 3 0.0139 0.051 510 4 0.0044 0.015 150 5 0.0900 0.280 2800 6 0.0770 0.239 2390 Observações: 1. O ensaio de Inderbitzen simulou uma chuva média de 120 mm/h sobre uma superfície de solo na umidade natural inclinada de cerca de 15 graus em relação à horizontal – chuva crítica para a região em estudo; 2. A taxa de erodibilidade representa o gradiente da perda de solo em relação às tensões hidráulicas aplicadas. segundo Bastos (1999). Esta taxa é calculada com a tensão hidráulica cisalhante crítica (τhcrit em Pa) que corresponde ao valor máximo de τh para erosão nula através de um gráfico de τh por taxa de erosão que representa a equação de Du Boys. Entretanto, este cálculo foi aqui simplificado dividindo-se diretamente a taxa de erosão acumulada (g/cm2/min) relativa a perda de solo no ensaio após 10 minutos pelo valor de τh obtido pontualmente para a vazão (constante) aplicada – visto que não foi possível se realizar ensaios com distintas vazões (como recomenda Bastos, 1999) para obter τhcrit; 3. A perda de solo por área (1 m2) é aproximada. e representaria a perda hipotética em massa seca de material caso todas as condicionantes anteriores, relativas às especificações dos ensaios e aos solos ensaiados, se mantivessem em campo. Esta perda seria acumulada para 10 minutos de chuva. • As amostras com um índice de colapso superior ou igual a 2% (AI-01, AI-02 e AI-04) também foram as que apresentaram índices de vazio iniciais altos (superior a aproximadamente 0,7) e baixos graus de saturação (o menor foi para a amostra AI-01 de ∼30%). Tais aspectos também corroboram para o fato de que estes solos têm potencial para a quebra da estrutura por colapso quando umedecidos e carregados verticalmente, visto possuírem grandes vazios em sua matriz original preenchidos basicamente por ar; • Todas as amostras sofreram algum grau de perda de solo durante o ensaio realizado. Levando em conta o critério proposto por Bastos (1999) para direta definição do grau (ou severidade) de erodibilidade de amostras de solo ensaiadas por este mesmo método, nota-se que das seis amostras, a metade foi classificada como sendo de “mediano” nível de erodibilidade (0.001<K<0.1 g/cm2/min/Pa) enquanto a outra metade teve a classificação de “alto” nível de erodibilidade (K>0.1 g/cm2/min/Pa); • As amostras que foram classificadas com alto nível de erodibilidade são as relativas as amostras AI-03, AI-05 e AI-06, respectivamente o Saprólito Argiloso e o Neossolo Flúvico com e sem plintita. Curiosamente nenhuma destas amostras é classificada como potencialmente erodível através do critério (indireto) de erodibilidade proposto por Bastos (1999), em que ambas as condições de IP < 10% e % passante na peneira #200 < 55% devem ser atendidas simultaneamente – o que indica a necessidade de maiores estudos para a definição de um critério empírico confiável de avaliação indireta da erodibilidade; • Das três amostras com alto nível de erodibilidade pelo critério de avaliação (direta) de Bastos (1999), duas apresentam sensível diferença em relação à terceira, ou seja, as amostras de Neossolo Flúvico (AI-05, AI-06) podem, de maneira aproximada, perder em campo mais de 2 kg de material por m2 de área se as condições simuladas no teste se aplicarem in situ. Este valor é aproximadamente 4x maior que a perda de solo acumulada do saprólito argiloso (AI-03) nas mesmas condições. Este último solo, entretanto, tem uma taxa de erosão acumulada em 10 minutos aproximadamente 5x maior que a taxa das amostras classificadas como de mediano nível de erodibilidade (AI-01, AI-02, AI-04). Portanto, de maneira geral, podem ser apresentados alguns comentários genéricos sobre o provável comportamento dos materiais pedogenéticos típicos existentes na região em estudo, quando em contato com fluxo contínuo, variável ou concentrado de água: • Estes solos têm grande capacidade de absorção de água em seus poros ou ao longo da superfície aparente de suas partículas minerais em sua condição atual, natural ou in situ, porém podem sofrer processos erosivos (ou são susceptíveis à erodibilidade em maior ou menor grau) com certa facilidade por suas características naturais de granulometria, donde se nota uma elevada parcela de material granular de baixa plasticidade e pouco coesivo, duro (friável) e, em geral, mal graduado. Esta observação vale para todos os solos estudados; • Estes solos têm também a possibilidade de desestruturação e mudança de estrutura, com perda de ligações cimentíceas, quando submetidos ao contato com água na presença de elementos químicos, tóxicos ou poluentes, em fenômeno similar ao processo de defloculação simulado em laboratório. Tal ocorrência pode eventualmente instabilizar, colapsar em maior ou menor grau e facilitar o fenômeno erosivo no material terroso quando este estiver, simultaneamente, submetido a fluxos concentrados de água. Vale para todos os solos estudados, com exceção do saprólito argiloso; • Os materiais pedogenéticos típicos do Cambissolo Háplico, do Nitossolo Vermelho e do Latossolo Vermelho, respectivamente relativo às amostras AI-01, AI-02 e AI-04, e respectivamente relativos a materiais geotécnicos caracterizados por areias siltosas a misturas de areia no estado natural, são os que mais poderão apresentar fenômenos geotécnicos relativos ao colapso da estrutura terrosa, especialmente se inundados sob carregamento (de um estado inicial relativo à umidade natural de campo). Embora o índice de colapso não seja alto para estes solos, ele se situa em faixas superiores a 2% o que pode inviabilizar o uso de fundações do tipo sapatas ou baldrames superficiais para pequenas habitações nesta região - fato que necessita de maiores estudos em virtude de outros aspectos não considerados ou conhecidos (eventual subida do nível de água, taxas de pressão admissível das fundações projetadas, cotas de assentamento destas, rigidez das estruturas e seus materiais típicos constituintes). De todos os solos analisados, o Cambissolo Háplico é o que tem o maior índice de colapso e ao que mais cuidado se sugere tomar, visto ser o único classificado como “problemático” sob o ponto de vista de gravidade geotécnica ao colapso, segundo critérios da literatura e dados dos ensaios; • Os materiais pedogenéticos típicos do saprólito argiloso e dos neossolos flúvicos, respectivamente relativos às amostras AI-03, AI-05 e AI-06, e respectivamente relativos a materiais geotécnicos caracterizados por siltes inorgânicos/orgânicos a areias finas, ou argilas siltosas, ou misturas de siltes e areias no estado natural, são os que mais poderão apresentar fenômenos geotécnicos relativos à erodibilidade da camada superficial terrosa por ação pluviométrica (não se considerou neste artigo o efeito superposto, e agravante, de erosão por ação de variaçãode maré, de arraste fluvial ou de impacto de ondas). Todos os solos avaliados estão sujeitos ao efeito de perda de solo por erosão, porém em diferentes níveis ou taxas (sendo o nitossolo háplico o de maior resistência erosiva). Devem, portanto, ter a devida proteção superficial adequada para mitigação ou eliminação destes problemas. Dos solos estudados, entretanto, os neossolos flúvicos e o saprólito argiloso foram os que se classificaram como sendo de um alto nível de erodibilidade segundo critérios da literatura (os outros se classificam como de mediana erodibilidade). Destes em particular, os neossolos apresentaram a maior perda de solo por área superficial de terreno, indicando que as margens de reservatório da região em estudo em que há a presença destes corpos geotécnicos em particular estarão sujeitas a acentuados processos erosivos (e o consequente assoreamento do reservatório) se nenhuma proteção natural (ou artificial) seja implementada. Esta proteção deverá ter a função de impedir que tais margens e/ou áreas desprotegidas fiquem livremente à mercê das intempéries naturais, ou à mercê das futuras particularidades do regime hidráulico do lago ao redor das margens do reservatório; • Observa-se ainda que a cobertura vegetal e/ou proteção superficial dos materiais ensaiados e solos existentes na região em estudo de uma UHE é fundamental à sua boa preservação e performance durante a vida útil do Reservatório, fato este direta ou indiretamente já observado ao longo das visitas de campo ao local (por falta de espaço, não serão aqui comentadas), donde se percebe claramente que processos erosivos e de instabilidade de talude superficial estão sempre associados aos trechos em que há a presença de atividade antrópica (pastoril ou agronômica). Exceções existem com poucos ou limitados trechos onde há o natural rolamento de blocos, fraturamento e desplacamento da rocha local, porém tais processos não se caracterizam como a principal preocupação de risco geotécnico da área em estudo. Atenção também deverá ser dada ao caso de futuros assentamentos em áreas potencialmente colapsíveis, que venham a ser submetidos a um aumento do nível freático. 4 CONCLUSÕES Este artigo demonstrou como se pode, de forma geral, tratar o problema de avaliação do risco geotécnico na área de influência de um reservatório de usina hidrelétrica em construção, no que tange aos processos de erodibilidade das margens lindeiras deste reservatório. Através do uso de ensaios geotécnicos de laboratório, de visitas periódicas de campo, e de informações usualmente existentes neste tipo de atividade (mapas geológicos, pedológicos, topográficos, efeitos antrópicos), é possível se definir e categorizar classes de risco – que poderão indicar no campo futuras regiões susceptíveis a danos erosivos. O artigo transpassa parte da experiência dos autores na extração in loco de amostras e nos ensaios geotécnicos e sua interpretação, dados passíveis de serem encontradas nestes solos. Conclui-se, portanto, que tal experiência poderá ser de utilidade como um guia inicial de procedimentos aos profissionais que desenvolvem atividades desta natureza. A técnica proposta para retirada de amostras inderformadas de solos se mostra eficiente, mais fácil, rápida e de menor custo quando comparada à metodologia tradicional de obtenção de blocos não deformados com uso de parafina e demais procedimentos tradicionais. AGRADECIMENTOS Se agradece a Empresa Ambiental Tecnologia pela cessão de dados e total apoio prestado. REFERÊNCIAS Araújo, G.L.S. & Palmeira, E.M. (2013). Apresentação de resultados de ensaios de laboratório de mecânica dos solos. Relatório Técnico, UnB, 29 p. Bastos, C.A.B. (1999). Estudo geotécnico sobre a erodibilidade de solos residuais não saturados. Tese de Doutorado, UFRGS, 303 p. Ingold, T.S. e Miller, K.S. (1983). Drained Axisymmetric Loading of Reinforced Clay, Journal of Geot. Engineering, ASCE, Vol. 109, p. 883-898. Jennings, J.E. & Knight, K. (1975). A guide to construction on or with materials exhibiting additional settlement due to collapse of grain structure. Proc. 6th African Conf. Soil Mech.& Found. Eng., pp. 99-105. Leshchinsky, D. e Perry, E.B. (1987) A Design Procedure for Geotextile Reinforced Walls, Geosynthetics'87, New Orleans, V.l, pp.95-107. Pes, K.A.D., Seidel, A.M., Santos, L.M., Campos, J.E.G. e Cunha, R.P. (2005). 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