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FEDERALISMO FISCAL, EFICIÊNCIA E EQUIDADE: UMA PROPOSTA DE REFORMA TRIBUTÁRIA • Fernando de Holanda Barbosa (coordenador) • Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa • Carlos Eduardo G. Cavalcanti • Carlos Roberto Lavalle da Silva • João Ricardo Motta • Maria Liz de Medeiros Roarelli Capítulo 1 O Pacto Federativo 1. Introdução A organização político-administrativa do Brasil, de acordo com as Constituições brasileiras desde a proclamação da República, é uma federação de estados autônomos. Durante o Império, o Brasil foi um estado unitário. Estas duas formas de organização, federação e estado unitário, são os dois modelos que prevalecem na maioria dos países do mundo. No regime federalista a estrutura do governo é descentralizada enquanto no sistema unitário o governo é centralizado. Na prática, mesmo nos países que adotam uma forma unitária, existe um certo grau de descentralização na estrutura do governo. Este capítulo tem como objetivo analisar a evolução do federalismo fiscal no Brasil, procurando investigar como a estrutura de governo influenciou a distribuição das competências do sistema tributário, a origem e as funções do sistema de contribuições sociais, e o papel das transferências intergovernamentais de recursos entre as várias esferas de governo, no equilíbrio financeiro das mesmas. A próxima seção deste capítulo apresenta uma revisão sumária de alguns temas da literatura que trata do federalismo fiscal, como a distribuição das competências tributárias entre os vários níveis de governo e a questão de harmonização versus concorrência de impostos entre os membros de uma federação. A terceira seção descreve a evolução do sistema tributário brasileiro; a quarta trata das contribuições sociais que existem em nosso sistema tributário e a quinta seção é dedicada ao sistema de transferências intergovernamentais entre os três níveis de governo, a união, os estados e os municípios. 2. Federalismo Fiscal A organização federalista de governo é em geral defendida a partir de pelo menos um dos três princípios: i) alocação eficiente dos recursos nacionais, ii) aumento da participação política da sociedade e iii) proteção das liberdades básicas e dos direitos individuais dos cidadãos. A alocação eficiente dos recursos seria obtida pela descentralização da produção dos bens e serviços públicos nos diferentes níveis de governo. A existência de várias esferas de governo propicia uma maior participação política da sociedade, através da escolha dos seus representantes nos poderes legislativo e executivo locais. Num sistema em que o poder não é centralizado há um maior grau de proteção as liberdades básicas e aos direitos individuais dos cidadãos. No sistema federalista de governo existem três decisões a serem tomadas sobre suas instituições. Em primeiro lugar o número de níveis de governo na federação, em segundo lugar a representação destes níveis no governo central, e por último a distribuição das competências políticas entre os níveis verticais de governo. A Constituição do Brasil dispõe sobre estas questões, especificando os níveis, a representividade e as competências, e no quarto parágrafo do Artigo 60 estabelece que não será objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir a forma federativa do estado. Num livro clássico sobre federalismo fiscal, Oates (1972) contrapõe ao estado unitário um estado anárquico, que seria um estado completamente descentralizado, e usa o 2 termo federalismo num sentido mais amplo, para designar aquelas formas de organização que representam um meio termo entre os dois extremos, a anarquia e o centralismo unitário. No sentido de Oates mesmo os estados unitários existentes podem ser considerados formas de organização de um sistema federalista. A definição de uma organização federal de governo, segundo Oates [(1972) p.17], é a seguinte: “É um setor público com níveis decisórios tanto centralizados como descentralizados, nos quais as escolhas feitas a cada nível, relativas a provisão de serviços públicos, são determinadas em grande parte pela demanda destes serviços por parte dos residentes( e talvez de outros que aí desenvolvem suas atividades) das respectivas jurisdições.” Isto é, a característica básica de um regime federalista é a preferência por uma estrutura de governo a mais descentralizada possível que seja capaz de internalizar todas externalidades econômicas que existam na produção de bens e serviços públicos. Entretanto, existem várias formas de federalismo, de acordo com o arranjo institucional que determina o tipo de relacionamento entre os membros da federação na decisão das políticas conduzidas pelo governo central. No federalismo econômico, defendido por Oates, a constituição prescreve que as políticas do governo central sejam decididas por um presidente “planejador” eleito ou designado pelos membros da federação. No regime federalista cooperativo, a restrição constitucional especifica que as políticas do governo central sejam decididas de forma unânime pelos representantes eleitos de cada membro da federação, concedendo a cada membro um poder de veto no processo de decisão política. No federalismo democrático as políticas do governo central são estabelecidas a partir da maioria simples dos representantes eleitos dos membros da federação. A distribuição das responsabilidades pela provisão dos bens públicos depende do tipo de federalismo, com uma grande centralização no federalismo econômico. No regime cooperativo cada membro dispõe de um grande poder de decisão, que pode transferir para o governo central, se for desejável para o aumento de bem estar dos seus cidadãos. No regime democrático procura-se um equilíbrio entre os ganhos de eficiência na provisão dos bens e serviços públicos pelo governo central e as perdas de eficiência que pode resultar de uma descentralização excessiva levada a cabo pelo órgão legislativo. O federalismo brasileiro caracterizou-se no passado por uma concentração excessiva no poder central, tornando o nosso regime mais próximo do federalismo econômico em virtude do poder exercido pelo Presidente da República. Desde o início da década dos 80 o Brasil entrou numa época de mudanças institucionais, que se acelerou na década dos 90, e que certamente ainda continuará nos próximos anos. O regime federalista brasileiro está, portanto, em processo de mutação, com a transferência de responsabilidades da união para os estados e municípios. Nestas circunstâncias é bastante difícil projetar o nível de despesas de cada nível de governo, e calcular a carga tributária necessária para equilibrar as finanças de cada uma das esferas de governo: da união, dos estados e dos municípios. Uma proposta de reforma tributária que se preocupe com a questão do federalismo tem que ser bastante flexível para acomodar as possíveis transformações nas atribuições de responsabilidades que possam vir a ocorrer nos próximos anos. A Distribuição das Competências Tributárias Um problema normativo importante num país com organização federativa é a distribuição das competências tributárias entre os vários níveis de governo. A primeira questão que tem de ser tratada é a escolha do critério para esta distribuição. A teoria econômica da taxação ótima supõe que o objetivo da sociedade é o bem estar dos seus cidadãos. Portanto, a distribuição das competências deve ser feita de tal modo que o bem 3 estar da sociedade como um todo seja maximizado. O arranjo institucional que permitiria cada membro da federação escolher livremente seus tributos não seria a solução adequada para a sociedade, porque daria margem a uma série de efeitos negativos provenientes de impostos ineficientes e injustos, que redundaria em perda de bem estar para a coletividade. As principais conclusões da teoria da taxação ótima sobre a distribuição das competências tributárias, sumariadas por Mcluren (1983), que podem servirde guia para o desenho de um sistema tributário de um país organizado sob a forma de federação, são as seguintes: i) impostos sobre fatores de produção com grande mobilidade são mais adequados para o governo central, enquanto impostos sobre fatores sem mobilidade são apropriados para os governos locais; ii) impostos cobrados com base na residência ou no destino, tais como impostos de renda da pessoa física, de vendas a varejo, de valor adicionado do tipo consumo, são mais adequados para níveis subnacionais de governo, enquanto impostos cobrados com base na origem, tais como impostos de renda da pessoa jurídica e valor adicionado do tipo renda, são apropriados para o governo central; iii) impostos sobre recursos naturais, mesmo que cobrados na origem, devem ser de competência federal; iv) a capacidade fiscal pode ter uma distribuição bastante desigual entre os governos subnacionais, havendo necessidade de mecanismos de equalização horizontal, em geral implementado através do governo central; v) a receita tributária de vários governos subnacionais pode ser insuficiente para cobrir os seus gastos, enquanto o governo federal pode ser capaz de arrecadar mais do que precisa, havendo necessidade de um processo de transferência de recursos vertical. Harmonização versus Concorrência Tributária Num sistema federalista de governo uma questão importante no desenho de um sistema tributário é a escolha entre harmonização de impostos e concorrência tributária. O argumento geralmente usado para defender a harmonização baseia-se no fato de que este procedimento reduz as distorções econômicas. Todavia, é provável que exista na sociedade distorções políticas que também devam ser levadas em consideração. A teoria da escolha pública supõe que os políticos podem ter seus próprios objetivos, como implementar sua ideologia e não a de seus eleitores, obter prestígio ou mesmo querer ganhos materiais, que podem levá-los a dissociar o governo da sociedade. Quando os políticos seguem seus próprios objetivos, ao invés de agirem como representantes dos seus eleitores, existe uma distorção política na sociedade. Esta distorção sempre existe em qualquer ditadura, mas ela também ocorre nas democracias. Os políticos, nestas circunstâncias, preferem impostos uniformes nas várias unidades da federação, porque desta maneira os indivíduos e as empresas não têm a possibilidade de migrarem de uma região para outra em busca de menores impostos. A concorrência tributária seria, então, um mecanismo de corrigir a distorção política, e cada unidade da federação deveria ter a liberdade de fixar os impostos de acordo com as preferências dos seus cidadãos. O conflito entre harmonização e concorrência tributária não pode, portanto, ser resolvido no plano técnico, pois privilegiar a distorção econômica preferindo harmonização de impostos, significa optar pela distorção política, permitindo o divórcio dos políticos da vontade de seus eleitores. A conclusão da análise deste tema é de que na prática é necessário uma solução de compromisso no desenho de um sistema tributário de um país organizado sob a forma federativa, procurando-se um certo grau de harmonização mas também aceitando-se um pouco de concorrência tributária. 4 3. Evolução do Sistema Tributário Brasileiro O sistema tributário brasileiro foi reformado em duas oportunidades em período recente, a primeira na década de 60 e a segunda na década dos 80. A Tabela 3.1 descreve as principais características dos sistemas tributários da Constituição de 1946, da Reforma de 1966 e da Constituição de 1988. A reforma de 1966, que entrou em vigor em 1967, acabou com o imposto de vendas e consignações(IVC), um imposto em cascata que incidia sobre o faturamento, e em seu lugar colocou o imposto sobre circulação de mercadorias(ICM), um imposto do tipo valor adicionado. O imposto federal de consumo foi transformado num imposto do tipo valor adicionado, o imposto sobre produtos industrializados(IPI). A reforma de 1966 extinguiu também impostos anacrônicos, como o imposto do selo, e passou para a órbita federal impostos de política econômica, como os impostos que incidem sobre o comércio exterior. Esta reforma criou os impostos únicos sobre combustíveis, minerais, eletricidade e telecomunicações, que tinham como objetivo financiar investimentos na infra-estrutura do país. No início da década dos 70, no Governo Médici, começou-se o desmonte da reforma de 1966 quando o imposto sobre o faturamento das empresas foi recriado com a contribuição do PIS; daí por diante várias distorções foram introduzidas desfigurando o sistema tributário de 1966. A segunda reforma tributária foi feita com a Constituição de 1988. Esta reforma alargou a base do ICM, transformando-o no imposto sobre circulação de mercadorias e serviços(ICMS), e extinguiu os diversos impostos únicos. A Constituição de 1988 criou o imposto sobre grandes fortunas, que até hoje não foi implementado, e permitiu que contribuições para a seguridade social tivessem como fato gerador o faturamento das empresas. Um fato marcante desta reforma foi a falta de equilíbrio no trato da questão federativa, pois aumentou-se a transferência de recursos para os estados e municípios, sem contrapartida na diminuição dos gastos da união porque não transferiu-se encargos, contribuindo para agravar o problema do déficit público. Todavia, o lado positivo da reforma da Constituição de 1988 foi a descentralização do federalismo fiscal brasileiro, que já vinha ocorrendo desde o início da década dos 80 como uma reação a centralização verificada no regime militar de 1964. O desequilíbrio financeiro criado pela reforma de 1988 deve ser corrigido por uma nova reforma tributária que tenha como um dos objetivos conceder maior autonomia fiscal aos estados e aos municípios, e torná-los financeiramente independentes do governo federal. O Brasil, na verdade, nunca funcionou na prática como um regime federalista pois a união sempre exerceu um grande poder sobre os estados e os municípios das principais capitais. A reação da sociedade brasileira nos últimos anos indica que há um desejo de mudar este arranjo institucional, através de um sistema fiscal que permita uma relação de poder menos assimétrica. Esta evolução, entretanto, não pode deixar de lado a própria experiência acumulada no passado e as tendências implícitas na configuração do sistema tributário brasileiro. A distribuição dos impostos no regime federalista brasileiro, de acordo com as Constituições e as Emendas Constitucionais aprovadas no período pós guerra, trilhou o caminho da especialização, procurando dotar cada nível de governo com competência sobre uma base tributária. O imposto de renda foi atribuído ao governo federal; o principal imposto sobre propriedade, o imposto sobre propriedade territorial e urbana, foi destinado aos municípios; o imposto sobre consumo foi dividido entre as três esferas de governo, mas aos estados sempre coube a parte mais importante deste tipo de imposto. Todavia, esta distribuição nunca foi capaz de prover recursos para que houvesse um equilíbrio nos orçamentos de cada nível de governo, havendo necessidade da criação de mecanismos de transferências de recursos intergovernamentais, tanto horizontalmente entre mesmos níveis de governo, como verticalmente entre esferas diferentes, como será 5 descrito mais adiante. A conclusão que se chega analisando nossa história é que as três principais bases tributárias foram, de modo geral, distribuídas da seguinte forma: a renda para o governo federal, o consumo para os estados e a propriedade para os municípios, permitindo-se de alguma forma a complementação de receita tributária de um nível de governo com base tributária de outro. Esta é uma tendência que será preservada na proposta de reforma tributária que será apresentada no último capítulo deste trabalho. Tabela 3.1 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Constituiçãode 1946 e Emenda Constitucional Emenda Constitucional nº 18 da 1965 Constituição de 1988 nº 5 da 1961 (vigência a partir de janeiro de 1967) (vigência a partir de março 1989) 1. Federais 1. Federais 1. Federais 1.1.Imposto de Importação 1.1.Imposto de Importação 1.1. Imposto de Importação 1.2.Imposto de Consumo 1.2. Imposto sobre Produtos Industrializados 1.2. Imposto Sobre Produtos Industrializados _ 1.3.Impostos Únicos 1.3. Impostos Únicos _ 1.4.Imposto de Renda 1.4. Imposto de Renda 1.3. Imposto de Renda 1.5.Imposto Sobre Transferência de Fundos para o Exterior 1.6.Imposto Sobre Negócios de Sua Economia _ 1.7.Impostos Extraordinários 1.5. Impostos Extraordinários 1.4. Impostos Extraordinários 1.8.Impostos Especiais 1.6. Imposto Sobre Exportação 1.5. Imposto Sobre Exportação 1.7. Imposto sobre Transporte e Comunicação 1.8. Imposto sobre Operações Financeiras 1.6. Imposto sobre Operações Financeiras 1.9 Imposto Territorial Rural 1.7. Imposto Territorial Rural 1.8. Imposto sobre Patrimônio 2. Estaduais 2. Estaduais 2. Estaduais 2.1.Imposto sobre Vendas e Consignações 2.1. Imposto sobre Circulação de Mercadorias 2.1. Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços 2.2.Imposto sobre Transmissão Causa-Mortis 2.2. Imposto de Transmissão de Bens Intervivos e Causa-Mortis 2.2.Imposto de Transmissão Causa-Mortis e Doação 2.3.Imposto sobre Exportação _ 2.4.Imposto sobre Atos Regulados _ por Lei Estadual _ 2.5.Impostos Especiais 2.3.Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores 2.4. Adicional de Imposto de Renda sobre Rendas de Capital 3. Municipal 3. Municipal 3. Municipal 3.1.Imposto Territorial Rural _ _ 3.2.Imposto de Transmissão Intervivos _ 3.1.Imposto de Transmissão Intervivos 3.3.Imposto Predial e Territorial Urbano 3.1.Imposto Predial e Territorial Urbano 3.2.Imposto Predial e Territorial Urbano 3.4.Imposto de Indústria e Profissões 3.2.Imposto sobre Serviços 3.3.Imposto sobre Serviços 3.5.Imposto de Licença _ 3.6.Imposto sobre Diversões Públicas _ 3.7.Imposto sobre Atos de Sua Economia _ 7 4. As Contribuições Sociais no Brasil O Artigo 167 da Constituição de 1988 veda a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, exceto aquela estabelecida no Artigo 212 que obriga a União a aplicar, anualmente, nunca menos de dezoito por cento da sua receita tributária líquida na manutenção e desenvolvimento do ensino, e os Estados e Municípios a aplicarem vinte e cinco por cento, no mínimo, de sua receita, incluindo-se as transferências recebidas, em educação. As contribuições sociais são na verdade impostos vinculados a órgãos, fundos ou despesas específicas, como veremos a seguir. Contribuições de Empregados e Empregadores para a Previdência Social A contribuição social mais importante em termos de receita no Brasil é a contribuição para a previdência social, paga tanto pelos empregados como pelos empregadores. A base de cálculo dessas contribuições é a folha de pagamento. Os empregados pagam de acordo com seu salário de contribuição, em faixas que correspondem a três alíquotas: 8, 9 e 10%. Para as empresas a contribuição é fixada em 20% sobre o total da remuneração paga a todos empregados e avulsos, incluindo-se os autônomos e os sócios ou administradores da empresa. O décimo terceiro salário também faz parte da base de cálculo da contribuição. No caso de contribuintes rurais o recolhimento é baseado no valor da produção comercializada, com uma alíquota de 2,2%. Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) A contribuição para o financiamento da seguridade social é devida pelas pessoas jurídicas ou a elas equiparadas pela legislação do imposto de renda. A COFINS tem uma alíquota de 2% que incide sobre o faturamento mensal, isto é, sobre a receita bruta mensal das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços, e de serviços de qualquer natureza. Estão isentas da contribuição as sociedades cooperativas, sociedades civis sem fins lucrativos e entidades beneficientes de assistência social, que cumpram os requisitos estipulados em lei. A venda de mercadorias ou serviços destinados ao exterior está isenta da COFINS. As instituições financeiras são isentas desta contribuição, mas pagam uma alíquota maior na contribuição social sobre o lucro líquido. Contribuição para o PIS/PASEP O Programa de Integração Social(PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público(PASEP) foram criados em 1970, e como seus nomes indicam eles tinham como objetivo criar um mecanismo de formação de patrimônio individual para os trabalhadores dos setores privado e público. Os dois programas eram na verdade um mecanismo de poupança compulsória para o financiamento do processo de industrialização, com os recursos do Fundo PIS/PASEP sendo administrados pelo BNDES. O programa PIS/PASEP instituiu a concessão de um salário mínimo aos participantes cadastrados há pelo menos cinco anos e que recebessem salário igual ou inferior a cinco vezes o salário mínimo. A Constituição de 1988 mudou o sentido social do Fundo PIS/PASEP, transformando-o em um fundo contábil de caráter coletivo, eliminou as contas individuais para a formação de patrimônio, mas preservou aquelas que haviam sido formadas no passado. Os recursos do PIS/PASEP integram a receita do FAT, que é utilizada para o custeio do programa de seguro desemprego e do abono salarial. A Constituição de 1988 8 estabeleceu que 40%, no mínimo, da arrecadação da contribuição do PIS/PASEP é destinada ao financiamento dos programas de desenvolvimento econômico através do BNDES. A contribuição mensal do PIS/PASEP é feita de acordo com alíquotas e bases de cálculo que variam de acordo com o tipo de contribuinte. A União, os estados, o Distrito Federal, e os municípios contribuem com 1% das receitas correntes efetivamente arrecadadas e das transferências correntes e de capital recebidas de outras entidades da Administração Pública. As autarquias, inclusive as de regime especial, e entidades criadas por lei federal com atribuições de fiscalização do exercício de profissões liberais, contribuem com 0,65% das receitas orçamentárias. As empresas públicas, sociedades de economia mista e respectivas subsidiárias, e quaisquer outras sociedades controladas direta ou indiretamente pelo poder público, são tributadas em 0,65% da receita operacional bruta e das transferências correntes e de capital recebidas. As sociedades cooperativas, condomínios, demais entidades sem fins lucrativos, entidades fechadas de previdência privada e as instituições de assistência social contribuem com 1% sobre o total da folha de pagamento dos empregados. As demais pessoas jurídicas de direito privado não mencionadas anteriormente, bem como aquelas equiparadas pela legislação do imposto de renda, pagam uma contribuição de 0,65% da receita operacional bruta. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das Empresas A Constituição de 1988 estabeleceu no Artigo 195 que a seguridade social será financiada por contribuições sociais dos trabalhadores; dos empregadores, incidentes sobre a folha dos salários, o faturamento e o lucro, além de recursos provenientes dos orçamentos dos vários níveis de governo e das contribuições sobre a receita de concurso de prognósticos. A contribuição social sobre o lucro líquido das pessoas jurídicas domiciliadas no país e as que lhe são equiparadas pela legislação tributária, tem como base de cálculo o valor do resultado do exercício, encerrado em 31 de dezembro de cada ano, antes da provisão do imposto de renda, ajustado para isentar os investimentos em bens de capital e as exportações. O ajuste é obtido adicionando-se os seguintes valores: i) o resultado negativo da avaliação de investimentos pelo valor do patrimônio líquido; ii) a reserva de reavaliação, baixada durante o período-base, cuja contrapartida não tenha sido computada no resultado do exercício; iii) ovalor das provisões não-dedutíveis na determinação do lucro real, exceto provisão para o imposto de renda. Da base de cálculo exclui-se os seguintes valores: i) o resultado positivo da avaliação de investimentos pelo valor do patrimônio líquido; ii) o lucro decorrente de exportações derivadas; iii) os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisição; iv) o valor corrigido monetariamente das provisões adicionais na forma do primeiro item, que tenham sido baixadas no curso do período base. A alíquota da contribuição das pessoas jurídicas sujeitas à escrituração contábil é igual a 10% e as instituições financeiras têm uma alíquota de 23%, em virtude de serem isentas da COFINS. A administração e fiscalização dessa contribuição é feita pela Secretaria de Receita Federal, a arrecadação é transferida para o Tesouro Nacional, e dúvidas relativas à sua jurisprudência seguem a legislação do imposto de renda da pessoa jurídica. 9 Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF) A CPMF foi inspirada no Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF), instituído pela Emenda Constitucional nº 03/93, com alíquota de 0,25%. A vigência do imposto foi contestada, todavia, no momento de sua criação, pois feria o princípio da anterioridade, o que postergou a sua cobrança para o ano de 1994. A introdução de uma nova base (as transações financeiras), a agilidade de sua cobrança e a dificuldade de sonegação tornaram atrativa a permanência de um tributo desta natureza, o que atrelado à pressões por mais recursos feitas pelo Ministério da Saúde, levaram o governo a recriar, sob a roupagem de uma nove contribuição, o antigo imposto, agora destinado exclusivamente para o financiamento e o custeio da Saúde.1 A CPMF foi estabelecida pela Lei nº 9.311, de 24 de outubro de 1996, com alíquota de 0,20% e prazo de duração previsto para 13 meses.2 Todavia, as dificuldades de caixa do governo federal obrigaram-no a prorrogar o tempo de permanência da contribuição por mais 24 meses, a contar de 23 de janeiro de 1997, através da Lei nº 9.539, de 12 de dezembro de 1997. A primeira lei acima citada estabelece o fato gerador, as bases de cálculo e os contribuintes do tributo, que estão sinteticamente apresentados no Quadro I. Ademais, para evitar a incidência tributária sobre determinadas operações historicamente livres de qualquer tipo de obrigação, bem como para não infringir regras básicas do federalismo fiscal brasileiro, a lei nº 9.311/96 prevê a isenção da CPMF para as transações efetuadas nas contas da União, dos Estados e dos Municípios, e de suas autarquias e fundações, para os saques feitos nas contas do FGTS, do PIS/PASEP e para os recebimentos do seguro- desemprego; nos lançamentos errados e respectivo estorno e para o pagamento da própria contribuição, e , por fim, no caso de movimentação financeira ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira das entidades beneficentes de assistência social. Na linha de preocupação observada nos casos de isenção da contribuição, o governo federal procurou minimizar as resistências a este tributo e angariar apoio junto ao Congresso Nacional, estabelecendo redução nas alíquotas constantes da tabela de contribuição para a Previdência Social, incidente até três salários mínimos, em pontos percentuais proporcionais ao valor da contribuição devida até o limite da compensação. Para os valores de benefícios de prestação continuada e única e os proventos de inativos, de pensionistas e demais beneficiários, não excedentes a dez salários mínimos, a solução encontrada e aplicada pela lei foi o acréscimo de percentual proporcional ao valor da contribuição devida até o limite de compensação. Em determinados casos, não há isenção da contribuição, mas a lei prevê alíquota reduzida a zero, com a finalidade de evitar problemas operacionais e jurídicos. O principal caso enquadrado nesta situação circunscreve-se aos lançamentos feitos entre contas de um mesmo titular. Por fim caberia destacar que em novembro de 1998, o agravamento do déficit público em um momento de conturbação do cenário externo forçou o governo federal preparar e apresentar para discussão no Congresso Nacional, um pacote de medidas fiscais denominado de Programa de estabilidade Fiscal. No arcabouço do projeto, consta a decisão de elevar a alíquota da CPMF de 0,20% para 0,38% em 1999 e para 0,30% nos 1 A CPMF foi integralmente destinada ao Fundo Nacional da Saúde (FNS). 2 Conforme definição inscrita na própria lei, a movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira é entendida como qualquer operação liquidada ou lançamento realizado por instituições financeiras, que representem circulação escritural ou física de moeda, e de que resulte ou não transfer6encia de titularidade dos mesmos valores, créditos e direitos. 10 anos de 2000 e 2001. tal medida já foi aprovada na Câmara e em primeiro turno no Senado federal, o que sinaliza a certeza de sua aprovação. Quadro I Principais Características Legais da CPMF Fato Gerador Base de Cálculo Contribuintes I- Lançamento a débito, por instituição financeira, em contas correntes, em contas correntes de empréstimos, em contas de depósito de poupança, de depósito judicial e de depósitos em consignação de pagamentos. II- Lançamento a crédito, por instituição financeira, em contas correntes que apresentem saldo negativo, até o limite de valor da redução do saldo devedor. III- Liquidação ou pagamento, por instituição financeira, de quaisquer créditos, direitos ou valores, por conta e ordem de terceiros, que não tenham sido creditados, em nome do beneficiário, nas contas referidas nos itens anteriores. IV- Liquidação de operação contratada nos mercados organizados de liquidação futura; V- Lançamento, e qualquer outra forma de movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira, não relacionados nos itens anteriores efetuados pelos bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira comercial e caixas econômicas. VI- Qualquer outra movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira que, por sua finalidade, reuna características que permita presumir a existência de sistema organizado para efetivá-la, produza os mesmos efeitos previstos nos itens anteriores. O valor do lançamento e de qualquer outra forma de movimentação ou transmissão. O valor do lançamento e de qualquer outra forma de movimentação ou transmissão. O valor da liquidação ou do pagamento. O valor do lançamento e de qualquer outra fonte de movimentação ou transmissão. O resultado, se negativo, da soma algébrica dos ajustes diários, ocorridos no período compreendido entre a contratação inicial e a liquidação do contrato. O valor da movimentação ou da transmissão, com base nos registros contábeis das instituições.. Os titulares das contas. Os titulares das contas. O próprio beneficiário da transação. As instituições que realizarem operação desta natureza. Os comitentes das operações citadas. Aqueles que realizarem a movimentação ou a transmissão. 5. Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (SIMPLES) O SIMPLES foi criado pela Lei nº 9.317, de 05 de dezembro de 1996, com o objetivo de atender a uma antiga reivindicação do setor produtivo nacional: a simplificação tributária. Desse modo, facultou-se às micro e pequenas empresas o direito de pagar mensalmente e de forma unificada, após inscrição na Secretaria da Receita 11 Federal, os seguintes impostos e contribuições: IRPJ, PIS/PASEP, CSLL, COFINS, IPI e as Contribuições dos Empregados para a Seguridade Social. 3 Está prevista também na lei a possibilidade de serem incluídosno pagamento integrado o ICMS e o ISS, desde que a unidade federada ou o município estabeleça convênio com a União com esta finalidade. Sabe-se, no entanto, que estados e municípios evitaram aderir ao SIMPLES federal por razões de natureza financeira, preferindo instituir legislações próprias para simplificar os tributos pagos por micro e pequenas empresas. O valor devido mensalmente pela microempresa ou empresa de pequeno porte, inscritas no SIMPLES, é determinado mediante aplicação sobre a receita bruta mensal dos percentuais relacionados no Quadro II, em conformidade com a existência ou não de convênios entre a União e os governos estaduais e municipais. Vale ressaltar que a alíquota federal é acrescida de 0,5% no caso de empresas que são contribuintes do IPI. Em convênio com os estados, a lei determina que alíquota federal seja acrescida, em se tratando de microempresas, em 0,1% no caso de contribuintes exclusivos do ICMS e em 0,5% quando as empresas forem contribuintes do ICMS e de ISS. Se a empresa estiver inserida na categoria de pequeno porte, a alíquota federal é majorada em 2,5% no primeiro caso e em 2,0% no segundo. Os convênios municipais implicam em um acréscimo de 1% na alíquota básica das microempresas quando estas forem contribuintes exclusivas do ISS e de 0,5% quando recolhem tanto o ISS quanto o ICMS. Para as empresas de pequeno porte, o aumento é de 2,5% e 0,5%, respectivamente. A composição/partilha das alíquotas federais, por faixa de rendimento e tipo de tributo, está também apresentada na lei e descrita no Quadro III . 3 A lei define microempresa como sendo a pessoa jurídica que tenha auferido, no exercício fiscal do ano, receita bruta igual ou inferior a R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) e inferior a R$ 720.000,00 (setecentos e vinte mil reais). O limite inferior foi recentemente alterado para R$ 1,2 milhão (um milhão e duzentos mil reais). 12 Quadro II Alíquotas do Simples para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte Categorias Faixas de Rendimento AlíquotasFederais Em Convênio Estadual Em Convênio Municipal Não contribuinte do IPI Contribuinte do IPI Contribuinte apenas do ICMS Contribuinte do ICMS e do ISS Contribuinte apenas do ICMS Contribuinte do ICMS e do ISS MICROEMPRESA Até R$ 60.000,00 De R$ 60.000,01 a R$ 90.000,00 De 90.000,01 a R$ 120.000,00 3,0% 4,0% 5,0% 3,5% 4,5% 5,5% 4 a 4,5% 5 a 5,5% 6 a 6,5% 3,5 a 4% 4,5 a 5,0% 5,5 a 6,0% 4 a 4,5% 5 a 5,5% 6 a 6,5% 3,3 a 4,0% 4,5 a 5,0% 5,5 a 6,0% EMPRESA DE PEQUENO PORTE Até R$ 240.000,00 De R$ 240.000,01 a R$ 360.000,00 De 360.000,01 a R$ 480.000,00 De 480.000,01 a R$ 600.000,00 De R$ 600.000,01 a R$ 720.000,00 5,4% 5,8% 6,2% 6,6% 7,0% 5,9% 6,3% 6,7% 7,1% 7,5% 7,9 a 8,4% 8,3 a 8,8% 8,7 a 9,2% 9,1 a 9,6% 9,5 a 10,0% 7,4 a 7,9% 7,8 a 8,3% 8,2 a 8,7% 8,6 a 9,1% 9,0 a 9,5% 7,9 a 8,4% 8,3 a 8,8% 8,7 a 9,2% 9,1 a 9,6% 9,5 a10,0% 5,9 a 6,4% 6,3 a 6,8% 6,7 a 7,2% 7,1 a 7,6% 7,5 a 8,0% Fonte: Elaboração própria 13 Quadro III Composição da Partilha, por Tipo de Tributo, das Alíquotas Federais Categoria Faixa de rendimento Alíquota Partilha Microempresa Até 60.000,00 3% o% de IRPJ 0% de PIS/PASEP 1,2% de Contrib. Previdenciária 1,8% de COFINS De 60.000,00 a R$ 90.000,01 4% 0% de IRPJ 0% de PIS/PASEP 0,4% de CSLL 1,6% de Contrib.Previdenciária 2,0 de COFINS De 90.000,01 a R$ 120.000,00 5% 0% de IRPJ 0% de PIS/PASEP 1,0 de CSLL 2,0 de COFINS 2,0 de Contrib.Previdenciária Empresa de Pequeno Porte Até 240.000,00 5,4% 0,13% de IRPJ 0,13% de PIS/PASEP 1,0 de CSLL 2,0% de COFINS De R$ 240.000,00 a R$ 360.000,00 5,8% 0,26% de IRPJ 0,26% de PIS/PASEP 1,0% de CSLL 2,0% de COFINS 2,14% de Contrib.Previdenciária De R$ 48.000,01 a R$ 600.000,00 6,6% 0,52% de IRPJ 0,52% de PIS/PASEP 1,0% de CSLL 2,0% de COFINS 2,56% de Contrib.Previdenciária De R$ 600.000,00 a R$ 720.000,00 7,0% 0,65% de IRPJ 0,65% de PIS/PASEP 1,0% de CSLL 2,0% de COFINS 2,7% de Contrib.Previdenciária Fonte: Elaboração própria Está impedida de aderir ao SIMPLES a pessoa jurídica que, na condição de microempresa ou empresa de pequeno porte, tenha auferido receita bruta superior a R$ 120.000,00 e R$ 720.000,00 respectivamente, no ano calendário anterior. Além desta, está obstruída legalmente a participação de instituição financeira de qualquer tipo, de empresa de compra e venda, locação e administração, loteamento, incorporação e construção de imóveis; de empresas que tenha sócio estrangeiro residente no exterior; de filial, sucursal e agência de representação no País de pessoa jurídica com sede no exterior; de empresa constituída, sob qualquer forma, de cujo capital participe a Administração Pública, direta ou indireta, federal, estadual e municipal; de empresa cujo titular ou sócio participe com mais 10% do capital de outra empresa, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite 14 de R$ 120.000,00; de empresa que tenha como sócio outra empresa jurídica, de empresa cuja receita decorrente de venda de bens importados seja superiora 50% de sua receita bruta total; de empresa que realize operações relativas a importação de produtos estrangeiros, armazenamento e depósito de produtos de terceiros, propaganda e publicidade; “factoring” e prestação de serviços de vigilância, limpeza, conservação e locação de mão-de-obra. As empresas que prestam serviços profissionais de qualquer natureza e aquelas que apresentam débito (próprio ou do titular) inscrito na Dívida Ativa da União estão igualmente impossibilitadas de participar deste programa. O pagamento unificado de impostos e contribuições, devidos pelas empresas inscritas no SIMPLES, é feito de forma centralizada, até o décimo dia do mês, subseqüentemente àquele em que houver sido auferida a receita bruta. Em caso de atraso no pagamento, as empresas estão sujeitas a multa de 2% e juros diários, podendo inclusive ser inscrito o débito na Dívida da União. 6. As Transferências Intergovernamentais no Federalismo Brasileiro As transferências intergovernamentais são transferências de recursos entre as várias esferas de governo, sejam no mesmo nível num processo horizontal ou entre níveis diferentes numa escala vertical. Os objetivos dessas transferências podem ser os mais diversos, baseados em argumentos econômicos do tipo equidade e eficiência, ou em considerações de ordem política, como centralização ou descentralização do poder político. Existem várias formas de transferências de recursos entre as esferas de governo. Elas podem ser agrupadas de diferentes maneiras: quanto à legislação, quanto ao tipo de fonte de recursos e quanto ao destino. A classificação quanto à legislação que deu origem as transferências é uma das mais usadas em virtude do seu grau de utilização na administração pública e pela simplicidade de seu entendimento. As transferências intergovernamentais podem ser classificadas, de acordo com a legislação, em três tipos: i) constitucionais, ii) legais e iii) conveniadas. As transferências constitucionais são aquelas estabelecidas pelos artigos 157, 158 e 159 da Constituição Federal, e elas determinam a participação dos estados e municípios na receita tributária da união e a participação dos municípios na receita tributária dos estados. As transferências legais são estabelecidas por lei, em alguns casos previstas na própria Constituição, mas não se constituem em partilha de receita tributária. As transferências conveniadas são feitas por meio de convênios, não dependem de lei específica, mas devem constar da lei do orçamento geral da união. Este tipo de transferência intergovernamental destina-se a projetos municipais para obras de esgoto e saneamento básico, em conformidadecom o que é estabelecido no convênio. Não existe, a priori, finalidade específica e a fonte de recursos não é fixada em lei. Estas transferências conveniadas são também conhecidas como transferências voluntárias. A Constituição de 1988 estabelece cinco tipos de transferências intergovernamentais da união para os estados e quatro tipos da união para os municípios. As transferências da união para os estados são as seguintes: a) 21,5% da arrecadação dos impostos de renda(IR) e sobre produtos industrializados(IPI) pertence aos estados, e estes recursos formam o Fundo de Participação dos Estados(FPE) ou Cota-parte do FPE; b) 10% da arrecadação do IPI é destinado aos estados exportadores, proporcionalmente as suas exportações de produtos industrializados, através do Fundo do IPI-exportação ou Cota-parte do IPI exportação; c) 30% da arrecadação do imposto sobre operações financeiras referente ao ouro (IOF-ouro); d) 20% da arrecadação de quaisquer novos 15 impostos criados após a Constituição de 1988, em virtude da competência residual da união. As transferências intergovernamentais constitucionais da união para os municípios são as seguintes: a) 22,5% da arrecadação dos impostos de renda e sobre produtos industrializados pertence aos municípios, através do Fundo de Participação dos Municípios(FPM) ou Cota-parte do FPM; b) 70% da arrecadação do imposto sobre operações financeiras referente ao ouro(IOF-ouro); c) 50% da arrecadação do imposto territorial rural. As transferências constitucionais dos estados para os municípios, de acordo com a Constituição de 1988, são as seguintes: a) 25% da arrecadação do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços(ICMS); b) 50% da arrecadação do imposto sobre a propriedade de veículos automotores(IPVA) e c)25% da transferência que o estado receber da Cota-parte do IPI-exportação. A Constituição de 1988 estabelece ainda que o imposto de renda retido na fonte dos funcionários públicos dos estados , do Distrito Federal, e dos municípios, é receita tributária de cada um destes entes da federação. Antes da Constituição de 1988, isto é, em 1987, 33% dos recursos líquidos dos impostos sobre produtos industrializados e renda eram destinados aos fundos de participação, sendo 14% para o FPE, 17% para o FPM, e 2% ao fundo especial distribuído aos estados. A antiga constituição estabelecia também as seguintes transferências: i) cota- parte do imposto único sobre energia elétrica(IUEE); ii) cota-parte do imposto único sobre lubrificantes líquidos e gasosos(IULCLG) e adicional; iii) cota-parte do imposto único sobre minerais(IUM); iv) cota-parte do imposto sobre transporte(IST). A cota-parte do IUEE correspondia a 60% dos valores líquidos deste imposto, e sua distribuição obedecia a coeficientes estabelecidos pelo Departamento Nacional de Energia Elétrica. A cota-parte do IULCLG correspondia a 56% dos valores líquidos deste imposto único, enquanto o adicional era igual a 12%, e sua distribuição obedecia a coeficientes estabelecidos pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem(DNER). A cota-parte do IUM era equivalente a 90% dos valores líquidos deste imposto e sua distribuição era feita de acordo com a arrecadação da respectiva unidade da federação. A cota-parte do IST correspondia a 50% dos valores líquidos do IST, e sua distribuição era feita de acordo com critérios definidos pelo DNER Em 1996 começou a vigorar outro tipo de transferência constitucional: a Transferência Financeira aos Estados da Lei Complementar nº 87, conhecida como Lei Kandir e aprovada pelo Congresso em 13/09/96. Esta transferência é um ressarcimento da união aos estados em decorrência da desoneração do ICMS dos produtos semi-elaborados destinados a exportação. Em1998 foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério(FUNDEF), um fundo constitucional baseado no artigo 60 das disposições constitucionais transitórias e regulamentado pela lei nº 9496, aprovada pelo Congresso em 1996. As transferências para o ressarcimento das perdas do ICMS dos estados exportadores e aquelas para o FUNDEF são tipicamente constitucionais, mas existem dúvidas quanto a propriedade de classificá-las dessa maneira. Em primeiro lugar, porque essas transferências não refletem exatamente partilha de receita tributária. Em segundo lugar, porque há uma vinculação de gasto para a educação no caso do FUNDEF. O argumento favorável para incluí-los na classificação de transferências constitucionais baseia-se no fato de que há uma partilha implícita ou derivada de receita tributária. No caso do ressarcimento do ICMS há um repasse de perdas, isto é, uma partilha ao reverso. 16 No caso do FUNDEF a repartição de receita ocorre na medida em que todas as fontes do FUNDEF têm origem no ICMS ou nos fundos de participação. As transferências intergovernamentais classificadas como legais são transferências que têm finalidade específica, como é o caso do salário educação e dos fundos constitucionais. A Constituição estabelece que toda a arrecadação da contribuição do salário educação tem de ser destinada ao ensino fundamental. Os fundos constitucionais são formados com recursos provenientes de 3% da arrecadação dos impostos de renda e sobre produtos industrializados, e estes fundos têm como objetivo financiar programas no setor produtivo. Existem três fundos constitucionais. O Fundo da Região Nordeste(FNE) fica com 1,8% desta receita tributária, ao Fundo da Região Norte(FNO) cabe 0,6% e o Fundo da Região Centro-Oeste também recebe 0,6% da arrecadação dos dois tributos. Os recursos são transferidos diretamente para os bancos regionais que administram estes fundos: o Banco do Nordeste do Brasil, o Banco da Amazônia e o Banco do Centro-Oeste. Fundo de Participação dos Estados O total de recursos do Fundo de Participação dos Estados(FPE) é obtido multiplicando-se uma alíquota de 21,5% sobre a receita total do imposto de renda e do imposto sobre produtos industrializados, líquidas de: a) incentivos fiscais( FINAM, FINOR e FUNRES); b) restituições; c) retificações; d) 100% do imposto de renda retido na fonte dos servidores da união e e) 5,6% do total calculado com base nos itens anteriores para compor o Fundo de Estabilização Fiscal(FEF). Esta última dedução corresponde ao limite estimado do aumento dos impostos de renda e sobre produtos industrializados decorrentes das medidas fiscais, inclusive aumento de alíquotas quando da criação do Fundo Social de Emergência(FSE) em 1994. No caso da dedução do imposto de renda retida na fonte dos funcionários da união, ela somente foi estabelecida com a criação do FSE em 1994, e seu sucedâneo o FEF, a partir de 1995. Os coeficientes individuais da participação de cada estado no FPE foi estabelecido pelo anexo da Lei Complementar nº 62,de 28/12/89. Para obter-se o valor do fundo devido a cada estado multiplica-se o seu coeficiente pelo valor total do FPE calculado de acordo com o especificado acima. A Lei Complementar nº 62 estabelece que 85% do FPE é destinado aos estados das regiões norte, nordeste e centro-oeste, e 15% deste fundo é distribuído para os estados das regiões sudeste e sul. A Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério da Fazenda, informa o Banco do Brasil o valor total do FPE, e com base nesta informação este banco aplica a tabela de coeficientes e calcula o valor a ser distribuído para cada estado. Fundo de Participação dos Municípios O Fundo de Participação dos Municípios( FPM) é obtido aplicando-se uma alíquota de 22,5% a mesma base que serve de cálculo para o fundo de participação dos estados. Este percentual somente passou a vigorar em 1993, sendo que anteriormente pelo Ato das Disposições Constitucionais Transitórias os percentuais, tanto do FPM como do FPE, foram modificados ao longo do tempo como mostra a Tabela 5.1. A Constituição de 1988, portanto, aumentou substancialmente a proporção dosimpostos de renda e sobre produtos industrializados destinada aos fundos de participação dos estados e municípios. O Código Tributário Nacional (Lei nº 5172, de 25 de outubro de 1966) estabelece a seguinte distribuição do FPM: i) 10% são para os municípios das capitais dos estados; ii) 86,4% para os demais municípios e iii) o restante 3,6% para os municípios do interior com mais de 156.216 habitantes, conforme o Decreto-Lei nº 1881, de 27/08/81. 17 Tabela 5.1 Proporção do Imposto (IR + IPI) Para os Fundos de Participação Anos Coeficientes (%) FPM FPE 1997/1998(*) 17,0 14,0 1988 20,0 18,0 1989 20,5 19,0 1990 21,0 19,5 1991 21,5 20,0 1992 22,0 20,5 1993 22,5 21,5 (*) até outubro Uma vez aplicado o percentual correspondente ao seu respectivo estado, cada município recebe sua cota do FPM de acordo com o quociente entre o seu coeficiente individual e o somatório dos coeficientes individuais dos municípios do estado. Cada estado tem uma participação diferente no FPM. Esta participação é definida pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A divisão do FPM entre os vários estados é a seguinte: i) 35,3% são destinados aos municípios da região nordeste; ii) 31,2% para os municípios da região sudeste e iii) 33,5% aos municípios das regiões norte, centro-oeste e sul. Os coeficientes individuais de cada município são estabelecidos pelo TCU, que toma como parâmetros o número de habitantes fornecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com base no censo demográfico, e o disposto no Decreto Lei nº 1881. Os municípios com até 10.188 habitantes têm um coeficiente mínimo de 0,6. Para municípios com mais de 10.188 habitantes e menos de 156.216 habitantes foram definidas dezesseis faixas populacionais, cabendo a cada uma delas um coeficiente individual. Para todos municípios do interior com mais de 156.216 habitantes foi determinado um coeficiente igual a 4,0. Os municípios do interior com mais de 156.216 habitantes além da quota parte correspondente ao seu coeficiente relativo aplicado sobre os 86,4% do FPM, recebem também uma quota parte calculada pelo seu coeficiente relativo aplicado sobre 3,6% do FPM, como manda o Decreto-Lei nº 1881.Os municípios das capitais recebem a parcela referente à aplicação do coeficiente relativo, calculado especialmente para as capitais, sobre o valor correspondente a 10% do FPM. O coeficiente individual relativo é o coeficiente individual dividido pelo somatório dos coeficientes individuais de todas as capitais. Fundo do IPI-Exportação O Fundo do IPI-Exportação é formado com 10% da arrecadação do IPI, levando-se em conta as mesmas deduções do cálculo do FPE. Os recursos deste fundo são distribuídos proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados de cada estado. A Secretaria do Tesouro Nacional envia os valores globais ao Banco do Brasil, que aplica os percentuais de cada estado. Os estados transferem 25% do valor recebido através deste fundo aos seus municípios. Esta transferência obedece os mesmos critérios da distribuição do ICMS aos municípios, ambas determinadas pela Constituição Federal, nos incisos I e II do parágrafo 18 único da artigo 158 e parágrafo 3 do artigo 159. Isto é: i) três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações realizadas em seus territórios; e ii) até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual. As Transferências Intergovernamentais no Período 1987/1997 A Tabela 5.2 apresenta a evolução das transferências intergovernamentais constitucionais no Brasil no período 1987/1997. As transferências da União como proporção de sua receita total, incluindo-se aí tanto as receitas dos tributos quanto aquelas provenientes das contribuições, foi igual a 21,62% em 1987. Esta proporção diminuiu para 19,68% em 1988 e atingiu 15,96% em 1993. Em 1994 ela atingiu o seu ponto mais baixo e nos anos seguintes ela mantém-se relativamente estável, próxima aos 16%. As transferências dos estados para os municípios mantém-se praticamente constante ao longo do período 1987/1997, em torno de 25% de sua receita tributária. Levando-se em conta também os recursos que os municípios obtêm do FPM, eles recebem ao redor de 80% dos recursos das transferências intergovernamentais. A conclusão que se chega com estes números é que para a maioria dos municípios brasileiros as transferências constitucionais têm uma importância fundamental no orçamento da prefeitura. Tabela 5.2 As Transferências Intergovernamentais em 1000 de moeda da época UNIDADES DA FEDERAÇÃO 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 A- RECEITAS DA UNIÃO 971.517.880 7.656.669.781 110.621.503 5.427.311.422 22.926.876.434 256.583.297.093 6.300.983.956 59.062.938 107.656.639 136.144.368 155.194.894 REC.TRIBUT 866.788.000 6.503.470.000 82.128.000 2.576.761.000 10.410.299.000 119.521.558.000 2.849.447.000 27.822.000 50.467.606 56.814.561 62.310.307 REC.CONTRIB. 104.729.880 1.153.199.781 28.493.503 2.850.550.422 12.516.577.434 137.061.739.093 3.451.536.956 31.240.938 57.189.033 79.329.807 92.884.587 B- TRANSF. DA UNIÃO 210.038.271 1.499.311.980 20.747.967 894.442.679 3.828.840.918 41.649.399.931 1.005.921.664 8.399.411 17.142.823 22.037.605 24.695.950 PARA ESTADOS 110.905.294 720.797.674 9.632.423 441.177.050 1.946.526.356 21.040.697.864 513.224.440 4.293.915 8.720.693 10.893.302 12.609.759 FPE 74.104.126 543.096.000 9.239.761 385.411.842 1.682.402.095 18.356.513.629 449.127.583 3.746.718 7.721.808 8.735.979 9.763.221 IPI-EXP 0 0 0 55.765.208 264.124.261 2.684.184.235 64.096.857 547.197 998.885 1.140.305 1.242.338 DEMAIS 36.801.168 177.701.674 392.662 0 0 0 0 0 0 1.017.018 1.604.201 PARA MUNICÍPIOS 99.132.977 778.514.306 11.115.543 453.265.629 1.882.314.563 20.608.702.067 492.697.223 4.105.496 8.422.130 11.144.303 12.086.191 FPM 89.987.770 712.526.000 10.977.497 453.247.041 1.780.373.367 19.699.859.207 470.091.920 3.920.984 8.080.962 9.142.304 10.307.694 IPI-EXP 0 0 0 18.588 88.041.420 894.728.078 21.365.619 182.399 332.962 380.102 414.113 DEMAIS 9.145.207 65.988.306 138.046 0 13.899.775 14.114.781 1.239.684 2.112 8.207 1.621.897 1.364.385 C- B/A % 21,62% 19,58% 18,76% 16,48% 16,70% 16,23% 15,96% 14,22% 15,92% 16,19% 15,91% C.1-PARA ESTADOS 11,42% 9,41% 8,71% 8,13% 8,49% 8,20% 8,15% 7,27% 8,10% 8,00% 8,13% FPE 7,63% 7,09% 8,35% 7,10% 7,34% 7,15% 7,13% 6,34% 7,17% 6,42% 6,29% IPI-EXP 0,00% 0,00% 0,00% 1,03% 1,15% 1,05% 1,02% 0,93% 0,93% 0,84% 0,80% DEMAIS 3,79% 2,32% 0,35% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,75% 1,03% C.2-PARA MUNICÍPIOS 10,20% 10,17% 10,05% 8,35% 8,21% 8,03% 7,82% 6,95% 7,82% 8,19% 7,79% FPM 9,26% 9,31% 9,92% 8,35% 7,77% 7,68% 7,46% 6,64% 7,51% 6,72% 6,64% IPI-EXP 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,38% 0,35% 0,34% 0,31% 0,31% 0,28% 0,27% DEMAIS 0,94% 0,86% 0,12% 0,00% 0,06% 0,01% 0,02% 0,00% 0,01% 1,19% 0,88% D-(FPM+FPE+ IPI-EXP)% 16,89% 16,40% 18,28% 16,48% 16,64% 16,23% 15,94% 14,22% 15,92% 14,25% 14,00% E-REC. TRIB. DOS ESTADOS 622.827.173 4.430.322.495 78.207.285 2.476.605.648 11.408.958.399 116.452.555.667 2.387.896.046 26.099.027 49.891.190 59.914.089 63.077.759 F- TRANSF.DOS ESTADOS 153.785.167 1.093.234.344 19.477.183 607.633.849 2.788.026.364 28.762.177.033 595.268.106 6.698.958 13.000.587 15.415.538 16.391.575 PARA MUNICÍPIOS 153.785.167 1.093.234.344 19.477.183 607.633.849 2.788.026.364 28.762.177.033 595.268.106 6.698.958 13.000.587 15.415.538 16.391.575 COTA-PARTE ICMS 148.450.705 1.068.545.352 19.206.663 593.273.240 2.669.701.740 27.703.319.509 574.925.351 6.404.053 11.783.831 13.896.255 14.497.026 IPVA 5.334.462 24.688.992 270.521 14.360.608 118.324.624 1.058.857.524 20.342.755 294.905 1.216.756 1.519.283 1.894.550 G- F/E% 24,69% 24,68% 24,90% 24,53% 24,44% 24,70% 24,93% 25,67% 26,06% 25,73% 25,99% H- REC.TOTAL (A+E) 1.594.345.053 12.086.992.276188.828.788 7.903.917.070 34.335.834.833 373.035.852.760 8.688.880.002 85.161.965 157.547.830 196.058.457 218.272.653 I- TRANSF. TOTAL \1 46,31% 44,26% 43,66% 41,02% 41,14% 40,93% 40,89% 39,89% 41,98% 41,92% 41,90% I.1-PARA ESTADOS (C.1) 11,42% 9,41% 8,71% 8,13% 8,49% 8,20% 8,15% 7,27% 8,10% 8,00% 8,13% I.2-PARA MUNICÍPIOS C.2+G) 34,90% 34,84% 34,95% 32,89% 32,65% 32,73% 32,75% 32,62% 33,88% 33,92% 33,77% \1- Supondo que haja unificação das receitas tributárias dos estados, com as receitas tributárias e de contribuições da União, conforme letra H, da tabela acima. Capítulo 2 Sistemas Federativos 1. Introdução A primeira questão importante no desenho de um sistema tributário é a escolha das bases dos impostos a serem cobrados da sociedade. Os sistemas tributários modernos usam, em geral, três bases: a renda, o consumo e a propriedade, ou alguma variante dos mesmos. Os conceitos que correspondem, na prática, a cada uma dessas entidades depende da legislação tributária, e nem sempre é possível, seja em virtude de razões técnicas ou mesmo políticas, estabelecer uma relação exata entre a definição da teoria econômica e a contrapartida empírica usada para a cobrança do imposto. A receita de cada tributo, desprezando-se a sonegação fiscal, é determinada por dois parâmetros, a base do imposto e a sua alíquota. As alíquotas dos impostos são escolhidas a partir de considerações de ordem econômica, como eficiência e equidade, levando-se em conta o objetivo da receita tributária desejada. A segunda questão importante num sistema tributário é a distribuição das competências tributárias entre os vários níveis de governo, podendo haver especialização ou sobreposição de impostos, harmonização ou competição tributária, autonomia ou centralização na cobrança de tributos, participação ou transferência discricionária de receita tributária. A teoria econômica não tem uma fórmula fechada para resolver estas duas questões fundamentais, pois não existe um único modelo de sistema tributário. Cada país tem suas características e peculiaridades, apresentando traços comuns mas também diferenças marcantes. A experiência de diversos países em matéria tributária é, portanto, uma fonte importante de informações para analisar possíveis alternativas de reforma tributária. Este capítulo tem como objetivo apresentar uma descrição dos sistemas tributários de quatro países, os Estados Unidos, o Japão, o Reino Unido e a Alemanha. Este último e os Estados Unidos têm uma organização federativa, enquanto o Japão e o Reino Unido adotam um regime unitário. Apesar das diferenças geográficas, étnicas e culturais eles têm em comum elevado grau de desenvolvimento econômico e social, um objetivo que pretende-se alcançar no nosso país, e têm sistemas tributários modernos que podem servir de referência para as transformações que são necessárias no sistema tributário brasileiro. 2. Sistema Tributário dos Estados Unidos A estrutura federativa dos Estados Unidos é definida por sistemas independentes de governos federal e estaduais. A Constituição norte-americana delimita os poderes do governo federal, permitindo uma relativa autonomia dos estados. A décima emenda da Constituição determina que os poderes não delegados especificamente ao governo federal, nem por ela negados aos estados, são reservados a estes. Neste contexto, as unidades da federação possuem ampla liberdade com relação aos seus sistemas tributários. O poder de tributar é especificado de forma independente para os governos federal e estadual. Os estados podem implementar uma diversidade de impostos, com liberdade de instituição de base e alíquota, desde que não haja conflito com algumas provisões constitucionais. Os poderes de tributar dos governos locais, municípios e condados, estão vinculados aos estados. Uma característica importante no sistema tributário americano é 21 que mais de uma esfera de governo pode utilizar a mesma base de tributação como, por exemplo, ocorre em relação ao imposto de renda. A maior parte dos governos estaduais arrecada impostos sobre a renda, mas é um imposto sobre o consumo, representado pelo imposto sobre vendas a varejo, a principal fonte de receita das unidades da federação. Impostos seletivos, que incidem sobre a venda de determinadas mercadorias, como gasolina, cigarros e bebidas alcóolicas, também são arrecadados por todos os estados. Os municípios e condados dependem, basicamente, do imposto sobre a propriedade. No ano de 1996, a receia tributária global dos Estados Unidos foi de 2,3 trilhões de dólares, representando uma participação no PIB de 30,4%, com 19,4% de arrecadação do governo federal e 11% dos governos estaduais e locais. A arrecadação dos estados e municípios foi de $820 bilhões de dólares.1 Governo Federal O imposto de renda, de pessoa física e de pessoa jurídica, e as contribuições de seguridade social são as principais fontes de receita do governo federal. A não ser pelos impostos seletivos, o governo federal não arrecada imposto sobre o consumo. Ao contrário dos outros países analisados, não existe um imposto sobre valor adicionado nos Estados Unidos. O total da arrecadação tributária do governo federal foi de $1,5 trilhões de dólares no ano fiscal de 1996.2 A participação relativa do imposto de renda da pessoa física e das contribuições de seguridade social na arrecadação total foi de 80,3%. A arrecadação do imposto de renda da pessoa física produziu cerca de quatro vezes mais receita do que o imposto de renda das empresas (45,2% e 11,8%, respectivamente). Percebe-se claramente que os impostos diretos representam uma grande parcela no total da receita tributária. Segundo estimativas feitas pelo governo federal, tal característica não deve modificar-se nos próximos anos.3 As estimativas são de que a participação relativa do imposto de renda da pessoa física seja de 44,1%, em 1998, e 44,3% no ano de 2002. Quanto aos im postos de renda de pessoa jurídica, as estimativas são de que sua participação seja em torno dos 12% no mesmo período. A participação relativa das contribuições de seguridade social na carga tributária total também não deve sofrer muita alteração, ou seja, deve permanecer em torno dos 35%. O imposto seletivo tem uma importância ínfima no total arrecadado pelo governo federal, representando apenas 3,7%, em 1996. O restante da receita foi proveniente de outros tributos como os impostos sobre herança e doações e tarifas alfandegárias, com 4,2% de participação no total da arrecadação.4 Governos Estaduais e Locais A estrutura tributária é bastante diferenciada entre os cinquenta estados americanos. No ano de 1996, o imposto sobre consumo, de vendas a varejo e seletivos, foi a principal fonte de receita na maior parte dos governos estaduais (trinta e quatro estados), 1 Fonte: Historical Tables, Budget of the United States Government, Fiscal year 1998; tabela 15.1, pág 260. 2 O ano fiscal, para o governo federal, inicia-se em primeiro de outubro e termina em trinta de setembro subsequente. 3The Budget for Fiscal Year 1998. 4 Fonte: Historical Tables, Budget of the United States Government, Fiscal year 1998; tabelas 2.1 e 2.3,p. 28 e 29. 22 sendo que o imposto sobre vendas a varejo foi a maior fonte de arrecadação para dezenove unidades da federação. Em seis estados - Flórida, Nevada, Dacota do Sul, Tennessee, Texas e Washington - a participação deste imposto na arrecadação foi superior a 50%. Somente cinco estados da federação não arrecadam este tipo de imposto. Com relação ao consumo, os estados de Alasca, Delaware, Montana, Oregon e New Hampshire arrecadam somente imposto seletivo, sendo que para o último estado este imposto foi a maior fonte de arrecadação, com 51,2% de participação do total da receita tributária do imposto sobre consumo. O imposto de renda, da pessoa física e dapessoa jurídica, foi a maior fonte de arrecadação em treze estados. A arrecadação deste imposto representou mais da metade do total da receita tributária dos estados de Colorado, Indiana, Massachussetts, Nova York, Oregon e Virginia. Sete estados - Alasca, Flórida, Dacota do Sul, Nevada, Texas, Washington, e Wyoming - não arrecadam imposto de renda da pessoa física, sendo que os quatro últimos também não arrecadam imposto de renda da pessoa jurídica. Os estados do Alasca, Montana e Wyoming apresentam uma característica peculiar, pois os impostos sobre consumo e sobre a renda não são suas principais fontes de arrecadação. O estado do Texas, onde não há tributação sobre a renda, depende basicamente do imposto sobre vendas, com participação de 50,9% da arrecadação total do estado. O mesmo ocorre com o estado da Flórida, onde só se tributa a renda das empresas. Neste estado, a participação dos impostos sobre vendas e seletivos no total da arrecadação representa 58% e 19%, respectivamente. A maior fonte de arrecadação tributária do estado de Massachussets é o imposto de renda da pessoa física, com cerca de 54% da receita tributária. O estado da Califórnia apresenta uma estrutura mais equilibrada, com uma participação de 46% do imposto de renda e cerca de 42% do imposto sobre o consumo, isto é, dos impostos de vendas e seletivos. Os governos locais dependem fortemente do imposto sobre a propriedade. Alguns municípios e distritos também arrecadam imposto de renda. Administração Tributária A administração tributária dos Estados Unidos é descentralizada. Cada esfera de governo, federal, estadual e local, têm poderes de administração e arrecadação tributária. Tal fato gera ampla autonomia fiscal aos estados. Contudo, este sistema de independência de administração tributária aumenta os custos para o cumprimento de obrigações fiscais dos contribuintes e os custos administrativos para os governos. Os contribuintes têm que preencher duas declarações de imposto de renda, estadual e federal, e as isenções, deduções e alíquotas variam entre estados e o governo federal. E, além disso, as empresas que realizam atividades interestaduais estão sujeitas a uma enorme quantidade de declarações. Com relação ao imposto de renda, há uma coordenação administrativa entre o governo federal e os estados. A legislação federal permite que as declarações de imposto de renda do contribuinte sejam divulgadas para as agências tributárias estaduais. Esta troca de informações é realizada por acordos formais entre os estados e o Serviço de Receita Federal. Este órgão, subordinado ao Departamento do Tesouro americano, é responsável pela administração e por fazer cumprir a legislação tributária federal. Vários métodos modernos de coleta de impostos, que não são usados pelo Serviço de Receita Federal, são utilizados pelos estados. Muitas vezes, as agências tributárias 23 estaduais contratam empresas privadas para coleta de impostos dos contribuintes inadimplentes. 5 Imposto de Renda Federal da Pessoa Física O imposto de renda federal da pessoa física para cidadãos americanos e residentes tem como base os rendimentos provenientes do trabalho, do capital, do aluguel e de pensão judicial. A renda tributável é obtida pela diferença entre renda bruta e uma série de deduções. Entende-se por renda bruta a soma de salários, juros e dividendos recebidos, lucros, aluguel recebido, ganhos líquidos com alienação de ativos, seguro-desemprego e pensão alimentícia recebida. Os juros de títulos da dívida pública estaduais e municipais, a maior parte dos benefícios de seguridade social e alguns benefícios suplementares, conhecidos como fringe benefits, pagos pelo empregador não estão sujeitos à taxação. A renda bruta ajustada é obtida através da dedução da renda bruta de despesas relacionadas com a atividade econômica, despesas incorridas na percepção de renda não proveniente de negócios, contribuições para determinados planos de poupança isentos de taxação, algumas despesas relacionadas com o trabalho, e pensão alimentícia paga. A legislação permite que sejam feitas mais uma série de deduções da renda bruta ajustada. Entre as principais estão as seguintes: despesas médicas, quando superior a 7,5% da renda bruta ajustada; impostos locais e estaduais que não seja imposto sobre vendas; contribuições de caridade; juros pagos sobre certos tipos de obrigações, como hipoteca e juros sobre investimentos; perdas em acidente ou roubo, quando for maior do que $100 e superior a 10% da renda bruta ajustada. Uma dedução padronizada pode ser utilizada como alternativa para simplificar a declaração do imposto para a maioria dos contribuintes. O valor desta dedução é determinado de acordo com o tipo de declaração feita. Existem quatro tipos de declaração que variam de acordo com o estado civil e familiar do contribuinte: solteiro, casado com declaração conjunta, casado com declaração separada e chefe de família.6 Para o ano de 1997, as deduções padronizadas foram de $4.150, para o contribuinte solteiro, e $6.900 quando casado com declaração conjunta. Deduções maiores são concedidas para os contribuintes acima de 65 anos e para os cegos. A legislação ainda permite uma isenção pessoal, para o próprio contribuinte, e para dependentes. Em 1997, o valor da isenção era de $2.650 por pessoa. O benefício desta isenção é reduzido, de forma gradativa, quando a renda tributável excede um determinado limite, que varia de acordo com a categoria do contribuinte. As alíquotas marginais do imposto de renda da pessoa física são progressivas e variam de 15% a 39,6%. A tabela 2.1 mostra as classes de renda e as alíquotas para o contribuinte solteiro e para o casado com declaração conjunta. 5 Ver: Stotsky, Janet G. e Sunley, Emil M. (1997),p361-362 e Vehorn, Charles L. e Ahmad, E. (1997),p122- 123 6 O termo chefe de família refere-se ao contribuinte que não seja casado e seja responsável por arcar com mais da metade dos custos de sua residência, em que um parente esteja residindo por mais de 6 meses. 24 Tabela 2.1 Alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Física (1997) Renda Tributável Anual - U$ (solteiro) Renda Tributável Anual - U$ (casado, declaração conjunta) Alíquotas (% ) até 24.650 até 41.200 15 24.650 a 59.750 41.200 a 99.600 28 59.750 a 124.650 99.600 a 151.750 31 124.650 a 271.050 151.750 a 271.050 36 acima de 271.050 acima de 271.050 39,6 Fonte: Serviço de Receita Federal dos Estados Unidos. Créditos tributários são disponíveis para certas atividades de investimento, para contribuintes de baixa renda e para despesas com filhos. O sistema de tributação da renda é universal, ou seja, tributa-se a renda de origem doméstica ou externa. Há, portanto, um crédito com relação aos impostos pagos sobre a fonte de renda externa. Os impostos de renda federais são arrecadados em bases correntes, ou seja, são pagos à medida em que os rendimentos e ganhos de capital são recebidos. A maior parte da arrecadação do imposto de renda federal de pessoa física é por retenção na fonte pagadora(salários e algumas pensões e seguro-desemprego, quando solicitado pelo contribuinte). Caso o total do imposto retido na fonte seja inferior a 90% do total do imposto devido na declaração anual, a legislação obriga o contribuinte utilizar o método de pagamento por estimativa de imposto. O contribuinte deve estimar sua renda tributável total, o imposto devido, incluindo os rendimentos não retidos na fonte (pensão alimentícia, juros e dividendos, aluguel, ganhos de capital, etc) e fazer os pagamentos parcelados, em quatro meses do ano. A legislação permite um tratamento preferencial e várias deduções especiais para certos tipos de rendimentos. O imposto mínimo alternativo foi criado para reduzir estes benefícios do contribuinte que tenha muito pouco ounenhum ônus tributário. O imposto mínimo alternativo é uma forma de assegurar que todos os contribuintes paguem um nível mínimo de imposto. O pagamento do imposto deve ser feito quando a renda tributável mínima alternativa, renda tributável sujeita às alíquotas regulares mais alguns ajustes, for superior a um nível de isenção, de $33.750 para solteiro, $45.000 para casado com declaração conjunta, e $22.500 para casado com declaração separada. Uma alíquota de 26% incide sobre a diferença entre a renda tributável mínima alternativa e o nível de isenção. Se a renda tributável mínima alternativa for superior a $175.000, ou de $87.500 se casal com declaração separada, a alíquota é de 28%. Toda a descrição acima refere-se ao imposto de renda federal de pessoa física para o cidadão americano e residente. Para fins tributários, cidadão estrangeiro é tratado como 25 residente se for permanente com a condição legal de imigrante(green card holder) ou se sua presença no país for de pelo menos cento e oitenta e três dias em três anos.7 Para os estrangeiros não-residentes, o imposto de renda federal é tributado da mesma forma que as sociedades anônimas estrangeiras. Vale observar que o cidadão estrangeiro, no seu primeiro ou último ano nos Estados Unidos, pode ser taxado parcialmente como residente e parcialmente como não residente. Imposto de Renda Federal da Pessoa Jurídica As entidades tributáveis do imposto de renda de pessoa jurídica são as sociedades anônimas, ou empresas a elas equiparadas pela legislação americana. A maior parte das grandes empresas americanas assume esta forma de organização. Como entidades jurídicas distintas de seus acionistas, tais empresas possuem amplas vantagens na obtenção de recursos financeiros. Uma das características principais é quanto à responsabilidade limitada das dívidas e obrigações da empresa, ou seja, os acionistas ficam limitados ao montante investido em ações. Além do imposto de renda da pessoa jurídica, os acionistas ainda pagam imposto de renda da pessoa física sobre os dividendos distribuídos. Esta forma de tributação das empresas é chamada de sistema clássico, ou de entidades separadas. O imposto incide sobre os lucros, sendo que os dividendos recebidos pelos acionistas também são tributados, sem levar em conta o imposto já pago pela empresa. Em suma, há uma bitributação da renda das empresas: primeiro, sobre a empresa e, no caso dos resultados distribuídos, sobre os acionistas. Sociedades por quotas não são consideradas contribuintes do imposto de renda de pessoa jurídica.8 A legislação adota o sistema de tributação universal para o imposto de renda das pessoas jurídicas, ou seja, é tributada a renda da empresa tanto de fonte doméstica assim como a renda auferida por empresas americanas localizadas no exterior. A legislação permite um crédito pelo imposto pago sobre a renda tributável de fonte externa. Para fins tributários, define-se renda bruta como aquela proveniente de atividades econômicas, ganhos de transações com propriedade, juros, aluguéis, royalties, dividendos, entre outros. As deduções permitidas pela legislação são diversas. Várias são os critérios e maiores ainda as especificidades adotadas não só para as deduções como também em toda legislação do imposto de renda da pessoa jurídica. Cabe aqui apenas descrever os aspectos principais do sistema tributário das empresas. Geralmente, as deduções concedidas pela legislação referem-se à despesas necessárias para auferição de renda. Entre as principais, destacam-se depreciação de ativos, de máquinas, equipamentos e propriedades, impostos estaduais e municipais, como imposto sobre propriedade e impostos de renda, despesas com aluguel e juros, que não sejam de títulos municipais. Uma série de regras e limitações se aplica a cada dedução. Outros tipos de dedução possíveis são aquelas referentes a gastos com pesquisa, custo com propaganda, com gratificações ao trabalhador, e com contribuições de caridade. A legislação permite que uma sociedade anônima americana tenha direito de dedução especial da renda bruta pelos dividendos recebidos de uma empresa doméstica. A dedução é de 70% dos dividendos recebidos, e quando a sociedade anônima detém de 20% 7 É o chamado teste da presença efeiva : se o número de dias que o contribuinte estiver no país for superior à soma do número de dias no ano corrente (superior a 31 dias) mais 1/3 e 1/6 dos dias dos dois anos precedentes for igual ou superior a 183 dias, o estrangeiro é considerado residente. 8 Estas empresas são classificadas em dois tipos: sociedade geral e sociedade limitada. No primeiro tipo, cada sócio é reponsável por todas as dívidas da sociedade e quanto ao segundo tipo, exige-se que pelo menos um sócio seja responsável por toda a dívida da empresa. Neste caso, responsabilidade dos outros sócios limitados fica comumente restrita à contribuição de cada um para a sociedade. Embora não sejam entidades tributáveis, os sócios pagam imposto de renda de pessoa física quando os resultados são distribuídos. 26 a 80% do capital de outra sociedade a dedução é de 80%. E, no caso de empresas afiliadas, a dedução é de 100%. A estrutura de alíquotas do imposto de renda da pessoa jurídica é mostrada na Tabela 2.2. Uma sobretaxa de 5% é imposta na renda tributável entre $100.000 e $335.000 dólares. Neste caso, a alíquota incidente é de 39%. O objetivo desta sobretaxa é reduzir de forma proporcional, para as empresas com renda tributável acima de $100.000 dólares, os benefícios concedidos para as empresas que estão sujeitas a alíquotas mais baixas (inferior a 34%). Quando a renda tributável exceder $15 milhões aplica-se uma sobretaxa de 3% da renda tributável acima deste valor ou $300.000, escolhendo-se o menor entre os dois valores. Tabela 2.2 Alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (1997) Renda Tributável Anual - U$ Alíquotas ( % ) até 50.000 15 50.001 a 75.000 25 75.001 a 10milhões 34 acima de 10 milhões 35 Fonte: KPMG As sociedades anônimas, da mesma forma que as pessoas físicas, também podem ter que pagar o imposto mínimo alternativo, caso este venha a ser maior do que o imposto devido calculado pelas alíquotas acima. A renda tributável mínima alternativa exige que as empresas e os indivíduos adicionem alguns benefícios de depreciação acelerada e outros mecanismos de redução de impostos ao rendimento tributável declarado. Se a renda tributável mínima for superior a $40.000, a alíquota incidente sobre a diferença é de 20%. Este nível de isenção é reduzido por 25% do valor excedente da renda tributável mínima a $150.000, sendo que o nível de isenção é zero se a renda tributável mínima for superior a $310.000. As empresas são obrigadas a realizar pagamento por estimativa de imposto, antes da declaração anual, se o total da dívida tributária for superior a $500 dólares no ano. Uma multa sobre renda tributável acumulada, a renda tributável da empresa mais alguns ajustes especiais, é imposta para a empresa que acumular lucros com o propósito de evitar os impostos sobre dividendos. A alíquota do imposto é de 39,6% e, geralmente, as empresas podem reter até $250.000 para não incorrer nesta penalidade. O sistema de tributação é diferente entre as empresas domésticas e as estrangeiras. Considera-se empresa doméstica aquela organizada ou criada sob a legislação americana, ou qualquer estado e Distrito de Colúmbia. Para fins tributários, a sede ou principal lugar de administração não é o que determina a residência da empresa. O sistema de tributação das empresas estrangeiras depende da realização de atividades econômicas no país, e do tipo e conexão da renda com estas atividades. Se a renda for efetivamente conectada com 27 atividades econômicas no país, a taxação é feita com base nas alíquotas progressivas do imposto de renda
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