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Deslocamentos observados por longo período em aterro sobre solo mole reforçado com colunas de brita Sandro Salvador Sandroni, Ph.D. - ssandroni@yahoo.com.br SEA – Sandroni Engenheiros Associados, Rio de Janeiro Professor Pesquisador PUC-Rio RESUMO: A construção da estrada de contorno do Pátio +6 do Porto Sudeste, em Itaguaí, Rio de Janeiro, requereu a execução de um aterro sobre de solo mole reforçado com colunas de brita do tipo “alimentação de fundo a seco” (dry bottom feed). Houve a oportunidade de medir recalques e deslocamentos horizontais do aterro e de sua fundação por um período de cerca de dois anos e meio. O monitoramento segue sendo realizado. Os dados do presente trabalho se referem ao período entre o lançamento do aterro, em outubro de 2011, e março de 2014. O trabalho descreve a geometria e a geotecnia da obra e apresenta deslocamentos verticais e horizontais medidos. No final são feitas considerações preliminares sobre o significado dos resultados obtidos. PALAVRAS-CHAVE: Solo mole; colunas de brita; monitoramento geotécnico. 1 INTRODUÇÃO Colunas de brita são utilizadas no Brasil há mais do que 60 anos (Costa Nunes 1948). Desde então diversos trabalhos Brasileiros abordaram o assunto (Costa Nunes e outros, 1978; Machado Filho 1978; Minette e outros 1994 , para citar apenas alguns). No procedimento tradicional utiliza-se uma tubulação de aço para fazer a perfuração. A brita é colocada dentro da tubulação e, em seguida, a tubulação é extraída (com vibração para facilitar a extração do tubo e, ao mesmo tempo, adensar a brita). O avanço do furo para a coluna é feito, no procedimento tradicional, com máquinas de estacas moldadas no local (tipo Franki, por exemplo). Quanto aos deslocamentos induzidos no terreno, os procedimentos tradicionais se dividem entre os que causam pouco deslocamento (tubulação de aço cravada com ponta aberta e que vai sendo limpa na medida em que se aprofunda) e os que induzem fortes deslocamentos (tubulação de aço cravada com a ponta fechada). Mais recentemente foram introduzidas no Brasil as colunas de brita implantadas com equipamento de hélice contínua, que não necessitam tubulação de aço e não causam quase nenhum deslocamento do solo. Há pouco tempo (2008) começaram a ser utilizadas no Brasil colunas de brita implantadas por vibro-deslocamento, que não utilizam tubulação de aço nem abrem furo no terreno. Nesta técnica as colunas são construídas deslocando o terreno com a própria brita usando um vibrador. Este procedimento de construção das colunas, mencionado na literatura como “dry bottom feed”, está descrito, por exemplo, em Sondermann e Wehr (2004) e em Shu e outros (2009). Este trabalho apresenta, em caráter preliminar, o caso da estrada de contorno do pátio +6 do porto Sudeste, em Itaguaí, RJ, no qual foram medidos deslocamentos verticais (marcos de recalque) e horizontais (inclinômetros), em um local com 7 metros (em média) de solo muito mole no qual foram implantadas colunas de brita por vibro- deslocamento a seco de baixo para cima. Sobre o terreno assim melhorado, foi colocado um aterro com 4 metros (em média) de espessura. A medição dos deslocamentos verticais (no aterro) e horizontais (no pé do aterro) vem sendo realizada regularmente (leituras, tipicamente, uma vez por semana ou uma vez a cada 15 dias, com uns poucos intervalos maiores) há mais do que dois anos e segue sendo feita. Este trabalho apresenta os principais resultados do monitoramento entre o lançamento do aterro (Out/2011) e Mar/2014. Apesar da vasta bibliografia internacional que existe sobre colunas de brita implantadas por vibro-substituição, não foi possível encontrar, na breve pesquisa bibliográfica feita para o presente trabalho, nenhum escrito publicado sobre deslocamentos em prazo longo de aterro sobre solo mole tratado com este tipo de coluna. Há uma tese de doutorado (Lima, 2012) com uma detalhada investigação experimental e numérica dos deslocamentos em um carregamento experimental rápido, seguido de ruptura, do solo mole na área da CSA e há um estudo breve sobre os deslocamentos induzidos no terreno durante a execução destas colunas (Sandroni, 2012). Mas, não foi encontrado trabalho com medições de deslocamentos em prazo longo de aterro sobre solo mole tratados com colunas de brita 2 GEOMETRIA DO TRECHO E CONSTRUÇÃO DAS COLUNAS A figura 1 mostra uma seção típica com as camadas do terreno e do aterro, a posição das colunas e dos instrumentos. As colunas, com diâmetro nominal de 92 cm, tiveram distribuição quadrada e ficaram espaçadas de 140 cm (portanto, a relação entre a área de colunas e a área total foi de 32,6%). A sequência construtiva das colunas foi a seguinte (ver figura 2): 1. Lançamento de aterro de conquista com brita e geotexteis que serviu como apoio para a máquina com a qual foram construídas as colunas de brita. 2. Introdução vertical, no terreno, de um vibrador com um tubo lateral para despejo de brita com uma caçamba de alimentação superior. A máquina que introduz o vibrador no terreno exerce carga axial e a vibração auxilia na penetração. Em atendimento a um critério previamente fixado, o vibrador atravessou o aterro e a camada mole e penetrou na camada subjacente (argila arenosa rija) até que a energia aplicada (refletida na amperagem que passa pelo vibrador, lida continuamente pelo operador da máquina) atingisse um valor pré- estipulado (o qual, segundo a experiência da empresa executora das colunas, seria equivalente a um terreno com SPT por volta de 8). 3. Atingida a profundidade almejada, inicia-se um processo de sobe e desce do vibrador a cada intervalo de profundidade. Quando sobe, a brita é solta pelo tubo de despejo e, quando desce, a brita é empurrada lateralmente e compactada por vibração. O procedimento continua no mesmo intervalo até obter a amperagem almejada no circuito elétrico do vibrador (e, supostamente, uma adequada compactação da brita). Em seguida, passa-se para o intervalo acima e, assim, sucessivamente, até à superfície. A altura do intervalo (que depende do material que está sendo atravessado e da habilidade do operador da máquina) fica tipicamente entre 0,50 m e 1,00 m. A construção do aterro, com espessura média aproximada igual a 4 m, foi feita com solo silto- argiloso, residual de gnaisse das proximidades e seguiu os procedimentos normais de compactação em atendimento às especificações de projeto (GC igual ou maior que 98%). Figura 1 – Seção típica (dimensões em metros) Figura 2 – Máquina utilizada e procedimento para implantação das colunas de brita As colunas foram executadas em meados de 2011 e o aterro foi construído no início de outubro de 2011. Entre o final de outubro e o início de dezembro de 2011 foi construída a superestrutura viária. Fotos da obra em construção e pronta estão nas figuras 3 a 5. Figura 3 – Foto da obra durante a construção – Aterro de conquista pronto - Instalando as colunas Figura 4 – Foto da obra durante a construção – Aterro pronto, proteção do talude em andamento Figura 5 – Foto da obra pronta 4 – INSTRUMENTAÇÃO E RESULTADOS DO MONITORAMENTO Foram utilizados perfilômetros e marcos superficiais para observar os deslocamentos verticais (recalques) e inclinômetros para observar os deslocamentos horizontais. A posição dos instrumentos emplanta está esquematicamente indicada na figura 6. Figura 6 – Planta esquemática com a posição dos instrumentos. (Escalas diferentes na vertical e na horizontal) Os perfilômetros tiveram vida breve (de 3 e 13 de outubro de 2011): da construção do aterro até a implantação do acabamento do talude, quando foram destruídos. A partir de 7 dezembro de 2011 os recalques em quinze pontos do meio-fio da rodovia (denominados PR1 a PR15) passaram a ser acompanhados com nível ótico. Em março de 2012 foram iniciadas as leituras de inclinometria em duas verticais, denominadas IN1 e IN2, posicionadas no pé do aterro, com 23,5 m de profundidade. Na mesma ocasião foram iniciadas leituras de recalques em oito novos pontos (21 a 24 e 31 a 34). O monitoramento dos deslocamentos verticais e horizontais continua sendo realizado. Neste trabalho são apresentados apenas os resultados de uma seção onde se encontram o marco PR10 e o inclinômetro IN2. Os recalques observados ao longo do tempo na posição da PR10 estão mostrados na figura 7. Entre 13 de outubro de 2011 e 7 de dezembro de 2011 não houve medição de recalques. Nesse período os recalques na posição da PR10 foram interpolados por tentativas, definindo-se que 11,2 cm deveriam ser somados ao recalque medido com o perfilômetro PF2 (4,8 cm). Os deslocamentos horizontais em direção ao mangue no inclinômetro IN2 (mesma seção que a PR10) no período entre sua instalação (março 2012) e março de 2014 estão lançados contra a profundidade na figura 8. A evolução com o tempo do deslocamento horizontal (no sentido do mangue = direção “A+” do inclinômetro) em três profundidades do tubo do inclinômetro IN2 está na figura 9. Figura 7 – Evolução dos recalques na PR10 Figura 8 – Deslocamentos horizontais x profundidade na direção A+ do inclinômetro IN2 Figura 9 – Evolução dos deslocamentos horizontais na direção A+ do inclinômetro IN2 5 – COMENTÁRIOS As colunas reduziram muito o recalque: o recalque estimado sem colunas seria da ordem de 115 cm; com as colunas, ficou em 32 cm. A relação entre recalque sem colunas e recalque com colunas (115/32 = 3.6) está lançada contra a relação de áreas (32,6%) no gráfico da figura 10 que reúne critérios de estimativa de recalques de aterros sobre solos moles tratados com colunas de brita (Priebe, 1985; Raithel e outros, 2004). Como se vê há boa coincidência entre os resultados deste caso e as curvas do gráfico. Figura 10 – Inserção do caso em foco na experiência mundial Os deslocamentos seguiram ocorrendo por longo tempo. Os recalques parecem ter cessado por volta de agosto a outubro de 2013 (recalque de 32 cm, depois de quase dois anos de deformação), como se vê na figura 7. Os deslocamentos horizontais também tenderam a cessar (no final de 2013 como mostra a figura 9), exceto próximo à superfície na posição do inclinômetro, provavelmente devido a continuação do espraiamento sob o peso do aterro de conquista, onde não há colunas de brita (ver figura 1). Para concluir, cabe uma especulação sobre o lento processo de transferência de cargas entre as colunas e o solo mole. A maior rigidez das colunas faz com que o aterro arqueie, aumentando a carga nas colunas. Perante o aumento de carga, as colunas cedem (alargam na parte superior do solo mole). Com a cedência das colunas o solo mole é carregado e, portanto, recalca (lentamente) o que volta a aumentar a carga nas colunas. Este processo é contínuo e só cessa quando as pressões no solo mole e nas colunas (diferentes) se estabilizam. O tempo para que isto ocorra é ditado pela velocidade de adensamento do solo mole e, provavelmente, pela evolução de sua compressão secundária. AGRADECIMENTOS São devidos justos agradecimentos à Construtora ARG na pessoa do Engenheiro Paulo Fogaça, chefe de obras da ARG no Porto Sudeste, que viabilizou a condução do estudo dando apoio para as equipes de medição e, à Geoprojetos Engenharia que, mesmo depois de cessado seu contrato de monitoramento do Porto Sudeste, segue fazendo as leituras de inclinômetros e recalques com equipes que trabalham em obras próximas. REFERÊNCIAS Carter, J.P, Randolph, M.F e Wroth, C.P. (1979) “Some aspects of the performance of open and closed-ended piles”, Proc. Int. Conf. Num. Methods in Offshore piling, ICE, Londres, pgs 165-170. Costa Nunes, A.J. (1948) “The foundations of the OCB9 tank at Alemoa-Santos – Brasil”, 2nd International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering, Rotterdam, Vol. 4, pgs 31-40. Costa Nunes, A.J., Trindade, S.S.M. e Drigenberg, G.E. (1978) “Reforço de solos de argila mole com estacas de brita Métodos simples preliminares”, 6º Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, vol. 3, pgs 81-96. Lima, B. (2012) “Estudo do uso de colunas de brita em solos muito moles”, Tese Doutorado COPPE. Machado Filho, O.V.B. (1978) “Estudo das fundações de dois aterros experimentais sobre argila mole no município de Itaguaí-RJ”, Tese de Mestrado, PUCRJ. Minette, E., Lima, D.C. de, Barbosa, P.C.A. e Silva, C.H.C. (1994) “Granular piles on soft soils: an in situ application”, Solos e Rochas, Vol. 17, No. 1, pgs 57- 63. Priebe H.J. (1985) “Die Bemessung von Rüttelstopf verdichtungen, Bautechnik, Vol. 72, No. 3. Raithel, M., Küster, V. e Lindmark, A (2004) “Geotextile encased columns – a foundation system for Earth structures”, Nordic Geotechnical Meeting, Suécia. Sandroni, S.S. (2012) “Deslocamentos Causados por Colunas de Brita em Aterro sobre Argila Mole, Instaladas por Vibro-substituição“, 13º Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, Porto de Galinhas, PE. Shu, J., Varaskin, S., Klotz, U. e Mengé, P. (2009) “Construction processes”, 17th International Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Alexandria, pgs 3006-3135. Sondermann, W. e Wehr, W. (2004) “Deep vibro techniques”, Capítulo 2 do livro “Ground Improvement, 2ª Edição”, pgs 57-92.
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