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Mecânica das Rochas para Recursos Naturais e Infraestrutura SBMR 2014 – Conferência Especializada ISRM 09-13 Setembro 2014 © CBMR/ABMS e ISRM, 2014 SBMR 2014 Análise de Estabilidade de Taludes Considerando a Envoltória de Ruptura de Hoek-Brown em 2D Daniel Santos de Santana Universidade Federal da Bahia, Escola Politécnica. Rua Aristides Novis, 2 – Federação. Salvador, Bahia. 40210-630. <daniel.santana.engminas@gmail.com>. Paulo Gustavo Cavalcante Lins Universidade Federal da Bahia, Escola Politécnica, DCTM. Rua Aristides Novis, 2 – Federação. Salvador, Bahia. 40210-630. (71) 3283-9847. <plins@ufba.br>. RESUMO: A análise de estabilidade de taludes é realizada de forma quantitativa principalmente pelos chamados métodos de equilíbrio limite, particularmente pelos métodos das fatias. Um dos métodos das fatias mais utilizados é o método de Bishop simplificado, a formulação original deste método considera a envoltória de ruptura de Mohr-Coulomb, que é linear. Na análise de estabilidade de taludes em rochas deve ser considerada uma envoltória de ruptura que represente bem a resistência do maciço rochoso, o critério de ruptura proposto por Hoek-Brown é o principal candidato a uma boa caracterização da resistência do maciço rochoso, sendo que a envoltória deste critério é não-linear. O trabalho descreve a implementação computacional do método das fatias com a envoltória não linear de Hoek-Brown. O programa resultante desta implementação mostrou ser capaz de reproduzir bem simulações da literatura. PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Método das fatias, Critério de Hoek-Brown. 1 INTRODUÇÃO O critério de ruptura de Hoek-Brown foi proposto por Hoek e Brown (1980a) e Hoek e Brown (1980b) em uma tentativa de prover dados de entrada para análises requeridas para o projeto de escavações subterrãneas em rocha competente. O critério foi criado a partir dos resultados de pesquisas sobre a ruptura frágil de rocha intacta conduzidas por Evert Hoek e estudos sobre o comportamento de maciços rochosos fraturados conduzidos por Edwin T. Brown. O critério parte de propriedades de rocha intacta e introduz fatores que reduzem estas propriedades com base nas caracteristicas das descontinuidades no maciço rochoso. Para ligar o critério empírico com as observações geológicas os autores utilizaram inicialmente a classificação geomecânica RMR (Hoek et al., 2002). O critério sofreu diversas atualizações, sendo que a apresentada por Hoek et al. (2002) será utilizada como referência neste trabalho. O critério de Hoek-Brown vem sendo utilizado por diversos pesquisadores na área de Mecânica das Rochas. O método simplificado de análise de estabilidade de taludes proposto por Bishop (1955) é um dos mais utilizados em aplicações práticas. O método calcula o fator de segurança para um círculo potencial de ruptura e garante o equilíbrio de momentos. O critério de ruptura utilizado na formulação de Bishop (1955) é o critério de Mohr-Coulomb. O presente trabalho descreve a implementação computacional do método de Bishop com o critério de ruptura de Hoek- Brown, que é não linear. O algorítimo utilizado nesta implementação foi modificado a partir do que foi proposto por Wyllie e Mah (2004), neste algorítimo a expressão de Hoek-Brown é linearizada e empregada nas equações das hipóteses de Bishop. SBMR 2014 2 CRITÉRIO DE HOEK-BROWN GENERALIZADO Segundo Hoek et al. (2002), o critério de Hoek- Brown generalizado é dado pela expressão: a ci bci sm ++= σ σ σσσ ' 3' 3 ' 1 (1) onde σci é a resistência a compressão simples da rocha intacta e mb é um valor reduzido da constante do material mi, e é dado por: − − = D GSI mm ib 1428 100 exp (2) s e a são constantes para o maciço rochoso dadas pelas seguintes relações: − − = D GSI s 39 100 exp (3) ( )32015 6 1 2 1 −− −+= eea GSI (4) D é um fator que depende do grau de perturbação que o maciço rochoso foi submetido devido ao dano causado pelo desmonte e relaxação de tensões. O parâmetro D varia de 0 para maciços não pertubados até 1 para maciços muito pertubados. Hoek et al. (2002) apresentam orientações para seleção do parâmetro D. O parâmetro GSI (Geological Strength Index) foi propostos em trabalhos anteriores de Hoek e seus colegas em substituição ao RMR para relacionar o critério de ruptura com as observações geológicas de campo. Hoek et al. (2002) listam diversos trabalhos onde o GSI foi estabelecido, sendo também o GSI adaptado para maciços muito brandos. A resistência a compressão simples do maciço rochoso é obtida fazendo '3σ =0 na equação (1), fornecendo: a cic s⋅= σσ (5) A resistência a tração é obtida fazendo '1σ = ' 3σ = tσ na equação (1), fornecendo: b ci t m sσ σ = (6) Hoek et al. (2002) apresentam relações entre as tensões normal e cisalhante com as tensões principais, dadas pelas expressões: 1 1 22 '3 ' 1 ' 3 ' 1 ' 3 ' 1 ' 3 ' 1' n + − ⋅ − − + = σσ σσσσσσ σ dd dd (7) ( ) 1'3 ' 1 ' 3 ' 1' 3 ' 1 + −= σσ σσ σστ dd dd (8) onde: ( ) 1'3'3'1 1 −++= acibb smamdd σσσσ (9) 3 CRITÉRIO DE MOHR-COULOMB Hoek et al. (2002) sustentam que muitos programas geotécnicos são escritos ainda em termos do critério de ruptura de Mohr- Coulomb, e é necessário determinar ângulos de atrito e coesões equivalentes para o maciço rochoso e uma faixa de tensões. Hoek et al. (2002) realizaram isto ajustando uma relação linear média a curva gerada pela solução da equação (1) para a faixa de tensões definida por tσ < 3σ < ' 3maxσ , como ilustrado na Figura 1. O processo de ajuste envolveu o balanceamento de áreas acima e abaixo do gráfico de Mohr-Coulomb. Os resultados são apresentados nas seguintes expressões para o ângulo de atrito 'φ e a coesão c’: ( ) ( )( ) ( ) ++++ + = − − − 1 ' 3 1 ' 31' 6212 6 sin a nbb a nbb msamaa msam σ σφ (10) SBMR 2014 ( ) ( )[ ]( ) ( )( ) ( )( )( )( ) ++ + +⋅++ +−++ = − − aa msam aa msmasa c a nbb a nbnbci 21 6121 121 1 ' 3 1 ' 3 ' 3' σ σσσ (11) onde: ci n σ σ σ ' max3 3 = (12) Figura 1. Relações entre as tensões principais maior e menor para o cirtério de Hoek-Brown e critério de Mohr- Coulomb equivalente (Hoek et al., 2002). Hoek et al. (2002) destacam que o valor de ' 3maxσ , o valor do limite superior da tensão confinante sob a qual a relação entre o critério de Hoek-Brown e o critério de Mohr-Coulomb é considerada, deve ser determinado para cada caso individual. Orientações sobre a seleção de valores para taludes são expostas no item 5. A resistência ao cisalhamento de Mohr- Coulomb τ, para uma dada tensão normal é encontrada substituindo os valores de 'φ e c’na equação: '' tanφστ += c (13) O gráfico equivalente, em termos de tensões principais maior e menor, é definida por: ' 3' ' ' '' ' 1 sin1 sin1 sin1 cos2 σφ φ φ φ σ − + + − = c (14) 4 RESISTÊNCIA DO MACIÇO ROCHOSO Hoek et al. (2002) destacam o conceito de resistência do maciço rochoso, esta resistência pode ser determinada a partir da relaçãode com os parâmetros de Mohr-Coulomb pela expressão: ' '' ' sin1 cos2 φ φ σ − = c cm (15) com 'φ e c’ determinados para uma faixa de tensões de tσ < ' 3σ < 4ciσ , obtendo: ( )( )( ) ( )( )aa smsmasm a bbb cicm ++ +−−+ = − 212 484 1 ' σσ (16) 5 DETERMINAÇÃO DE '3MAXσ Hoek et al. (2002) apresentam uma discussão sobre a determinação de valores apropriados de ' 3maxσ para uso nas equações (10) e (11) dependendo da aplicação específica. Para estudos de taludes o fator de segurança calculado e a forma e localização da superfície de ruptura devem ser equivalentes. Estudos para taludes, utilizando o método de Bishop, para superfícies de ruptura circulares, para um amplo leque de geometrias de taludes e SBMR 2014 propriedades do maciço rochoso, levaram a equação: 91,0 ' ' ' max3 72,0 − = H cm cm γ σ σ σ (17) onde H é a altura do talude. 6 ANÁLISE DE ESTABILIDADE A equação do método simplificado de Bishop (1955) pode ser encontrada reescrita em Wyllie e Mah (2004). As convenções utilizadas por Wyllie e Mah (2004) para uma fatia estão representadas na Figura 2, e para o problema como um todo na Figura 3. Figura 2. Esforços em uma fatia segundo as convenções utilizadas por Wyllie & Mah (2004). Na formulação apresentada por Wyllie e Mah (2004) a tensão normal na base da fatia para o método de Fellenius é dada por: wwbr hh γψγσ −= 2' cos (18) Para o método de Bishop a expressão é: ( ) ( )FS FSchh bi biwwr ψφ ψγγ σ tantan1 tan ' ' ' + −− = (19) A expressão para o fator de segurança é: ( )( ) ∑ ∑ +∆ ∆+ = Rzxh xc FS wbr bii αγψγ ψφσ 2 2 1 ''' sin costan (20) Figura 3. Método de Bishop simplificado para uma superfície de ruptura circular com resistência definida por um critério de ruptura não linear, segundo Wyllie e Mah (2004). 6.1 Algorítmo Utilizado Um procedimento para cálculo do fator de segurança com o método simplificado de Bishop é apresentado por Wyllie e Mah (2004). Este algorítmo foi implementado em um programa Fortran e é apresentado a seguir, com as pequenas modificações com que foi implementado: 1) Calcular a tensão normal efetiva σ‘ atuando na base de cada fatia por meio da equação de Fellenius, equação (18). 2) Utilizando os valores de σ‘, calcular 'φ e c’ para cada fatia pelas equações (10) e (11). 3) Substituir estes valores de 'φ e c’ na equação do fator de segurança, equação (20), para obter a primeira estimativa do fator de segurança. 4) Utilizar esta estimativa do fator de segurança para calcular um novo valor SBMR 2014 de σ‘ na base de cada fatia, utilizando a equação de Bishop, equação (19). 5) Com base nestes novos valores de σ‘, calcular novos valores para 'φ e c’. 6) Calcular um novo fator de segurança para os novos valores de 'φ e c’. 7) Se a diferença entre o primeiro e o segundo fator de segurança for maior que 0,001, retorne ao passo 4 e repita a análise, utilizando o segundo fator de segurança como entrada. Repita este procedimento até que a diferença entre fatores de segurança sucessivos seja inferior a 0,001. Segundo Wyllie e Mah (2004) cerca de dez iterações serão necessárias para que a tolerancia requerida seja alcançada no cálculo do fator de segurança. 7 TESTES DO PROGRAMA Para testar o programa implementado foi selecionado um caso analisado por Hammah et al. (2005). O exemplo é um talude de 10 metros de altura, com uma inclinação de 45º, em um maciço rochoso homogêneo. Os parâmetros do critério de ruptura de Hoek-Brown generalizado, utilizados por Hammah et al. (2005), estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Propriedades do maciço rochoso do exemplo estudado por Hammah et al. (2005). Propriedade Valor Módulo de Young, E (MPa) 5000 Coeficiente de Poisson, ν 0,3 Peso específico, γ (MN/m3) 0,025 Resist. a compressão simples, σci (MPa) 30 GSI 5 Parâmetro da rocha intacta, mi 2 Fator de pertubação, D 0 Parâmetro mb 0,067 Parâmetro s 2,5E-5 Parâmetro a 0,619 Hammah et al. (2005) realizaram análises com métodos de equilíbrio limite convencionais e realizaram a determinação do fator de segurança com análises por elementos finitos com a técnia de redução da resistência ao cisalhamento (RRS). Na técnica de redução da resistência ao cisalhamento com elementos finitos são realizadas várias análises, em cada análise os parâmetros de resistência são divididos por um valor, o valor que leva o deslocamento de um ponto de controle a uma variação muito grande define o fator de segurança. A Figura 4 mostra os contornos de máxima deformação cisalhante para o talude na análise que define a ruptura, os contornos revelam o mecanismo de ruptura previsto pela técnica da reduçaõ da resistência ao cisalhamento. Os fatores de segurança obtidos por Hammah et al. (2005) são apresentados na Tabela 2. Os resultados são para análises com a envoltória de Mohr-Coulomb equivalente, utilizando as equações (17), (10) e (11), além de análises com o critério de ruptura de Hoek-Brown generalizado diretamente. Figura 4. Contornos de máxima deformação cisalhante na ruptura para o talude (Hammah et al., 2005). Tabela 2. Fatores de segurança obtidos por Hammah et al. (2005). Método Fator de Segurança EF Técnica RRS Hoek-Brown Generalizado 1,15 Mohr-Coulomb equivalente 1,15 Equilibrio limite Bishop simplificado 1,153 Método de Spencer 1,152 O mesmo exemplo foi analisado com o programa desenvolvido para este trabalho. Para análises com a envoltória de Mohr-Coulomb equivalente as equações (17), (10) e (11) forneceram '3maxσ = 0,189MPa, 'φ = 20,89º e c’ = 0,02MPa. O fator de segurança obtido com estes parâmetros foi de 1,164. Isto significa um erro de 1% em relação ao resultado obtido pelo método de Bishop simplificado por Hammah et SBMR 2014 al. (2005). O programa convergiu após três iterações. Esta análise serve para confirmar também que a equação (20) foi implementada de forma adequada. Na análise com o critério de Hoek-Brown generalizado o fator de segurança obtido foi de 1,126, o que significa um erro de -2,3% em relação ao resultado obtido pelo método de Bishop simplificado por Hammah et al. (2005). O programa convergiu após seis iterações. 8 CONCLUSÕES O trabalho descreve a implementação computacional do método simplificado de Bishop com a envoltória não linear de Hoek- Brown. A implementação foi feita com um algorítmo que lineariza a envoltória de Hoek- Brown e de forma iterativa resolve a formulação do método de Bishop simplificado. A implementação realizada foi testada com resultados comparados com dados da literatura e o erro encontrado foi inferior a 3%. Uma crítica deve ser feita ao algorítmo implementado. A linearização da equação de Hoek-Brown é feita para um intervalo de tensões secantes a envoltória não linear. Sugere- se para estudos futuros que seja implementado uma linearização tangente a envoltória não linear, e a posição da tangente seja definida pela tensão normal a base da fatia. REFERÊNCIAS Bishop, A.W. (1955) The use of the slip circle in the stability analysis of slopes. Géotechnique, v.5, n.1, p.7-17. Hammah, R.E.; Yacoub, T.E.; Corkum, B.C. e Curran, J.H. (2005). The Shear Strength Reduction Method for the Generalized Hoek-Brown Criterion. 40th U.S. Symposium on Rock Mechanics.Anchorage, Alaska. Hoek, E. e Brown, E.T. (1980a). Empirical strength criterion for rock masses. Journal of Geotechnical Engineering Division, ASCE, v.106, No. GT9, p.1013-1035. Hoek, E. e Brown, E.T. (1980b) Underground Excavations in Rock. Institution of Mining and Metallurgy, London, UK. Hoek, E.; Carranza-Torres, C. e Corkum, B. (2002). Hoek-Brown criterion – 2002 edition. 5th North American Rock Mechanics Symposium. Toronto, Canada. Vol. 1, p.267-273. Wyllie, D.C. e Mah, C.W. (2004). Rock slope engineering. Spon Press, London.. 431p.
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