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Avaliação do Comportamento Hidráulico e Físico-Químico de Mistura Solo-Bentonita para Uso como Barreira Selante Christopher Fonseca da Silva Escola de Engenharia de São Carlos - USP, São Carlos, Brasil, christopherfonseca@sc.usp.br Cezar Augusto Burkert Bastos Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, Brasil, cezarbastos@furg.br Edmundo Rogério Esquivel Escola de Engenharia de São Carlos - USP, São Carlos, Brasil, esquivel@sc.usp.br RESUMO: A utilização de mistura solo-bentonita compactada é conhecida por ser uma alternativa técnica e ambientalmente viável à construção de barreiras selantes em aterros sanitários, cujo intuito principal é o de assegurar proteção contínua do subsolo e aquíferos subjacentes contra a infiltração de contaminantes. O trabalho propõe avaliar a influência da adição de bentonita sódica sobre as propriedades índice, químicas e hidráulicas de um solo arenoso de comportamento laterítico da região costeira sul do estado do Rio Grande do Sul, denominado ARMAR, buscando uma alternativa de viabilizar seu emprego em obras de proteção ambiental. Para isso, são apresentados os resultados de avaliação da condutividade hidráulica, a partir de ensaios em permeâmetro de parede flexível à carga constante em amostras compactadas nas energias do Proctor normal e intermediário. São apresentadas, também, as caracterizações geotécnica e química dos materiais. Os resultados indicam que a adição de bentonita no teor de 4% habilita o emprego do solo estudado em revestimentos minerais de aterros sanitários. Constata-se, também, que o incremento na energia de compactação não assegura redução significativa na condutividade hidráulica dos materiais em estudo. PALAVRAS-CHAVE: Aterro Sanitário, Barreira Selante, Solo-Bentonita, Condutividade Hidráulica. 1 INTRODUÇÃO Questões voltadas ao gerenciamento adequado de resíduos sólidos urbanos (RSU) constituem aspectos fundamentais associados à minoração de riscos ambientais e à saúde pública. No Brasil, abordagens acerca deste tema têm ganhado importância frente à administração pública, se materializando nas recentes legislações, com destaque para a Política Nacional de Saneamento Básico (Lei n° 11.445/07) e para a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10), as quais se utilizam de instrumentos legais para orientar os municípios a cumprirem com os objetivos do gerenciamento integrado de seus resíduos. Atualmente, os aterros sanitários constituem uma das técnicas mais seguras para a disposição final e confinamento dos RSU. Sua implantação e operação devem conferir máximo controle de emissão de poluentes capazes de degradar as águas superficiais e subterrâneas, o solo e o ar. No entanto, a falta de critérios técnicos somada à desatenção de certos aspectos vinculados ao comportamento dos materiais empregados como proteção, podem trazer riscos à integridade da obra e, consequentemente, à população e ao meio ambiente. Compete ao projeto geotécnico de aterros de resíduos, estabelecer métodos construtivos que garantam sua segurança estrutural e ambiental em longo prazo, considerando as características do resíduo a ser armazenado e os condicionantes do meio físico e climatológico do local de despejo. Barreiras hidráulicas constituem elementos projetados para reduzir o transporte de poluentes produzidos pela biodegradação e lixiviação dos resíduos aterrados até o subsolo e camadas subjacentes (incluindo os aquíferos). Materiais alternativos hábeis à construção de sistemas de impermeabilização em estruturas de contenção de resíduos têm sido amplamente investigados em suas propriedades hidráulicas e mecânicas. Misturas de solo com bentonita sódica retratam este novo cenário. Esta técnica pode ser aplicada em locais de implantação de aterros sanitários deficientes em solos com baixa condutividade hidráulica. Um solo argiloso, para ser considerado adequado como barreira mineral, deve apresentar condutividade hidráulica inferior a 10 -9 m/s (Lambe, 1958; Mitchell et al., 1965). Além disso, deve atender às seguintes características (CETESB, 1993): ser classificado como CL, CH, SC ou OH, segundo Sistema Unificado de Classificação de Solos (ASTM D2487-11); apresentar uma porcentagem maior do que 30% de partículas passando pela peneira de abertura 0,075 mm (NBR 7181/84); apresentar limite de liquidez maior ou igual a 30% (NBR 6459/84); apresentar índice de plasticidade maior ou igual a 15%; apresentar pH maior ou igual a 7. Dentro desse contexto, o objetivo principal deste trabalho é avaliar as propriedades geotécnicas de um solo arenoso de comportamento laterítico da planície costeira sul do Rio Grande do Sul, no estado natural e misturado à bentonita sódica. Para isso, foram realizados ensaios para a medida da condutividade hidráulica em permeâmetro de parede flexível, utilizando amostras compactadas nas energias do Proctor normal e intermediário. Propriedades índice e químicas dos materiais também foram analisadas. O estudo busca averiguar as propriedades do solo melhorado as quais viabilizem tecnicamente e ambientalmente seu emprego na construção de barreiras selantes em áreas de disposição de resíduos. 2 CENÁRIO DE ESTUDO O estudo de caso foi realizado no município do Rio Grande (RS) onde, desde 2009, temas relacionados a aterros sanitários têm ganhado importância, dada à elaboração de um projeto para construção de um aterro, em sistema de consórcio, firmado entre prefeitura e empresa privada. Rio Grande, município onde se situa a jazida do solo investigado, está localizado junto à planície costeira sul do Rio Grande do Sul (Fig. 1), sobre uma faixa de terras baixas, arenosas e de relevo suave ondulado a plano, chamada de cordões litorâneos. A referida jazida está situada às margens da BR-392, no trecho Pelotas-Rio Grande, na localidade de Domingos Petrolini (Fig. 2). Figura 1. Localização do município do Rio Grande (RS). Figura 2. Localização da jazida investigada. 3 MATERIAIS INVESTIGADOS Para a realização da pesquisa, foi utilizado um solo arenoso de comportamento laterítico, também conhecido como ARMAR, denominação dada pelo grupo de pesquisa Geotecnia – FURG numa contração do nome comercial da empresa mineradora que explora e comercializa este material para a indústria de fertilizantes do município do Rio Grande. Seu uso tem sido estendido a obras de aterro e rodoviárias. O solo é classificado como areno- argiloso, encontrado no horizonte B do perfil de Argissolo Vermelho-Amarelo e originário da pedogênese atuante sobre os depósitos eólicos de uma das barreiras litorâneas da planície costeira sul do Rio Grande do Sul (Bastos et al., 2008; Brasil, 1973) (Fig. 3). Seu comportamento laterítico é confirmado pela metodologia MCT, cuja classificação resulta em LA’ (solo arenoso de comportamento laterítico) (Silva et al., 2012). A bentonita utilizada na pesquisa foi a bentonita sódica, cuja principal característica é baseada em sua capacidade de expansão quando hidratada. Em suma, este fenômeno resulta da absorção de vários estratos monomoleculares de água, promovida pela presença de cátions trocáveis Na + entre as camadas do argilomineral. Esta hidratação intracristalina diminui a força atrativa entre as camadas estruturais de argila, causando sua expansão. O aditivo estudado atende comercialmente pelo nome Brasgel ® , o qual é produzidoe fornecido pela empresa Bentonit União Nordeste Ltda. Figura 3. Perfil típico de Argissolo Vermelho-Amarelo presente na jazida estudada – solo ARMAR. 4 MÉTODOS DE PESQUISA Para o desenvolvimento do estudo, foram determinados os parâmetros de compactação para o solo ARMAR, no estado puro e misturado a 4% de bentonita sódica, a partir de curvas de compactação obtidas segundo as energias equivalentes do Proctor normal e intermediário. Para ambos os materiais, determinaram-se a condutividade hidráulica e as propriedades índice e químicas. 4.1 Caracterização Geotécnica e Química Para a caracterização geotécnica dos materiais, foram realizados ensaios de determinação da massa específica dos sólidos (NBR 6508/84), de análise granulométrica (NBR 7181/84), de determinação dos limites de consistência (NBR 6459/84 e NBR 7180/84) e de determinação dos parâmetros de compactação para as energias do Proctor normal e intermediário (NBR 7182/86). A caracterização química foi conduzida junto ao Laboratório de Química do Solo da Universidade Federal de Pelotas. 4.2 Condutividade Hidráulica A condutividade hidráulica dos materiais pesquisados foi obtida em permeâmetro de parede flexível (Fig. 4), equipamento este que permite determinar adequadamente a condutividade hidráulica de materiais com coeficiente inferior a 10 -6 m/s, pois inibe a ocorrência de fluxo preferencial nas paredes do permeâmetro, assim como reduz o tempo de saturação da amostra, dada a possibilidade do emprego de contrapressão no corpo de prova (CP). Esta pressão de água interna é responsável por dissolver as bolhas de ar presentes nos interstícios do solo do CP, conduzindo à saturação do mesmo. A saturação é verificada por meio do parâmetro B de Skempton, cujo valor mínimo deve alcançar 0,95 (ASTM D5084, 2010; Head, 1998). O permeâmetro é composto por uma câmara triaxial, onde é posicionado o CP entre duas pedras porosas, envolto por uma membrana flexível. Após a montagem, faz-se o enchimento da câmara com água e aplica-se pressão confinante em seu interior. Ao mesmo tempo em que se aumenta a pressão na câmara em estágios, aplica-se uma pressão de água interna no CP, denominada contrapressão. A diferença entre a pressão externa e interna de água sobre o CP constitui a tensão efetiva durante o ensaio. A umidade, a massa e as dimensões dos espécimes ensaiados foram controladas, de forma a atingir um grau de compactação superior a 95% (CETESB, 1993). Para obter plena homogeneização da umidade, as amostras preparadas para a moldagem dos CPs eram mantidas em repouso, em câmara úmida, por um período mínimo de 7 dias. Na sequência, eram submetidas à compactação. 1. Pistão 8. Pedra porosa 2. Válvula para saída de ar 9. Membrana flexível 3. Câmara triaxial 10. Entrada para pressão confinante 4. Pedestal da câmara 11. Entrada para pressão de base 5. Linha de drenagem 12. Entrada para pressão de topo 6. Água 13. Entrada para medida da pressão neutra 7. O’ring 14. Transdutor de pressão Figura 4. Representação esquemática do permeâmetro de parede flexível (adaptado de Head, 1998). A saturação dos CPs foi realizada por meio da aplicação de estágios de iguais incrementos de 50 kPa de tensão confinante e contrapressão na base do CP, mantendo a tensão efetiva constante, dada uma diferença maior para a tensão externa de 10 kPa. Ao final de cada estágio, com duração de 12 horas, era verificado o parâmetro B de Skempton. Considerava-se o CP na condição saturada quando atingido um valor do parâmetro B maior ou igual a 0,95. Confirmada a saturação do CP, era iniciada a fase de determinação da condutividade hidráulica, cujas pressões de base e de topo eram ajustadas de acordo com a pressão confinante empregada ao final do estágio de saturação. O gradiente hidráulico utilizado nesta pesquisa foi de aproximadamente 20 (ASTM D5084, 2010), promovido pela diferença de 20 kPa nas pressões entre base e topo ao longo dos aproximados 10 cm de altura do CP. O volume de água percolado era medido via transdutor de deslocamento acoplado a um variador de volume. As informações eram transferidas, processadas e registradas automaticamente em intervalos pré-programados a partir de um sistema de aquisição de dados gerenciado por software de interface. Dessa maneira, era possível determinar a vazão percolada e, através da aplicação da Lei de Darcy (Eq. 1), o coeficiente de condutividade hidráulica. i.A Q k = (1) Na equação acima, k é o coeficiente de condutividade hidráulica, Q é a vazão percolada, i é o gradiente hidráulico e A é a área da seção transversal do CP. 5 RESULTADOS 5.1 Parâmetros de Compactação A Tab. 1 e a Fig. 5 apresentam, respectivamente, os parâmetros e as curvas de compactação do solo ARMAR e da mistura deste com 4% de bentonita sódica. Tabela 1. Parâmetros de compactação do solo e da mistura. Proctor normal Proctor intermediário ARMAR Mistura ARMAR Mistura wót * (%) 12,5 14,0 11,0 12,0 dmáx ** (g/cm3) 1,850 1,805 1,975 1,970 *Teor de umidade ótima; **Massa específica seca máxima. Figura 5. Curvas de compactação dos materiais segundo as energias do Proctor normal (PN) e intermediário (PI). 1,55 1,60 1,65 1,70 1,75 1,80 1,85 1,90 1,95 2,00 6 8 10 12 14 16 18 20 M as sa e sp ec íf ic a se ca (g /c m ³) Teor de umidade (%) ARMAR (PN) Mistura (PN) ARMAR (PI) Mistura (PI) A partir dos resultados expressos, percebe-se que a adição de 4% de bentonita sódica promove um aumento no teor de umidade ótima do solo ARMAR. Consequência disso deriva-se à forte presença de cátions trocáveis Na + disponíveis no argilomineral utilizado na pesquisa (bentonita), os quais estimulam a entrada de moléculas de água entre as camadas de argila durante a fase de homogeneização da umidade da mistura. Constata-se, também, uma tendência de redução da massa específica seca máxima conforme aumento no teor de aditivo, devido não só à elevação da umidade ótima, mas também à textura do solo estudado vir se tornando gradualmente mais fina. 5.2 Condutividade Hidráulica dos Materiais Para o solo ARMAR na condição natural e misturado a 4% de aditivo, compactados em ambas as energias de compactação supracitadas, foram realizados três ensaios de determinação da condutividade hidráulica. Os valores médios, referidos à água na temperatura de 20°C (k20), são apresentados na Tab. 2. Tabela 2. Condutividade hidráulica média dos materiais em função da energia de compactação. Proctor normal Proctor intermediário ARMAR Mistura ARMAR Mistura k20 (m/s) 4,3.10 -9 2,2.10 -10 3,4.10 -9 2,8.10 -10 Com base nestes resultados, verifica-se uma diminuição da condutividade hidráulica do solo quando acrescidos 4% de bentonita sódica. Este comportamento era esperado, visto a influência do comportamento expansivo do aditivo sobre o preenchimento dos vazios do solo quando submetido à hidratação. Os resultados revelam, também, que incorporando um teor mínimo de 4% de bentonita sódica no solo ARMAR, é possível alcançar a condutividade hidráulica máxima exigida em projetos de barreiras minerais voltados a obras de contenção de resíduos, os quais prevêm estanqueidade do sistema quando empregados materiais com coeficientes inferioresa 10 -9 m/s. Além disso, constata-se que não houve variação significativa na condutividade hidráulica do solo quando se passa a utilizar maior energia de compactação (Proctor normal para Proctor intermediário). Presume-se que o solo, enquanto submetido a quaisquer das energias supracitadas, consegue atingir um estado de densificação que o torna pouco suscetível ao fluxo de água. 5.3 Caracterização Geotécnica e Química As Tabelas 3 e 4 apresentam, respectivamente, os resultados da caracterização geotécnica e química do solo ARMAR, da mistura e da bentonita sódica utilizada na pesquisa e a Fig. 6 mostra suas curvas granulométricas. Tabela 3. Caracterização geotécnica dos solos estudados. Propriedades índice ARMAR Mistura Bentonita * assa específica dos sólidos (g/cm3) 2,634 2,659 2,830 Areia grossa (%) 10 8 0 Areia média (%) 55 54 0 Areia fina (%) 7 8 0 Silte (%) 5 6 25 Argila (%) 23 24 75 Limite de liquidez (%) 28 33 458 Limite de plasticidade (%) 14 16 55 Índice de plasticidade (%) 14 17 403 Índice de atividade de Skempton 0,61 0,71 5,37 Classificação Unificada (SUCS) SC SC --- *Camargo (2012). Tabela 4. Caracterização química dos espécimes. Propriedades químicas (cmolc/kg) ARMAR Mistura Bentonita Cálcio 2,2 4,0 6,0 Magnésio 2,0 3,0 5,7 Potássio 0,2 0,2 0,3 Sódio 0,1 2,4 57,7 Alumínio 0,1 0,0 0,3 pH em água 5,4 7,5 10,0 Figura 6. Curva granulométrica do solo e da mistura. Analisando os resultados de caracterização geotécnica apresentados, percebe-se que o acréscimo de 4% de bentonita não proporciona mudança significativa na distribuição granulométrica do solo ARMAR. Destaca-se a forte presença da fração argila junto ao solo arenoso, correspondendo a 23%. Isto explica, em parte, a baixa condutividade hidráulica apresentada pelo solo na condição natural. De acordo com a classificação atual da ABNT, tanto o solo quanto a mistura se enquadram como areia argilosa. Além disso, com a adição de 4% de aditivo, verifica-se um aumento tímido da plasticidade encontrada para o solo na condição natural, cujo índice aumenta de 14% para 17%, lhe conferindo alta plasticidade. Constata-se, também, que o acréscimo de aditivo promove um aumento da massa específica dos sólidos do solo, passando de 2,634 para 2,659 g/cm³. Atribui-se este comportamento ao fato de a densidade das partículas sólidas da bentonita (2,830 g/cm³) ser maior que a do solo natural (2,634 g/cm³). Segundo classificação pelo Sistema Unificado, ambos os materiais classificam-se como SC (areia argilosa). Os argilominerais presentes, segundo o índice de atividade de Skempton, manifestam-se inativos, mesmo após o acréscimo de 4% de aditivo, passando de 0,61 para 0,71 e indicando o predomínio de caulinita na composição mineral do solo. Além disso, os resultados mostram que a bentonita apresenta um índice de atividade coloidal típico de solos ativos (5,37), confirmando, assim, seu caráter expansivo. Com base na análise química, verifica-se certa presença de elementos químicos trocáveis na composição do solo ARMAR, provenientes dos processos de transformação pelo intemperismo físico e químico. A caracterização química também confirma a natureza sódica do aditivo. Com a adição de 4% deste, o solo passa também a assumir caráter sódico. Segundo critérios adotados pela EMBRAPA (2006), o solo na condição natural é considerado moderadamente ácido. No entanto, quando adicionados 4% de bentonita, este passa a ser considerado moderadamente alcalino, visto o elevado pH apresentado pelo aditivo fortemente alcalino. 5.4 Viabilização de emprego da mistura em barreiras selantes Solos utilizados como barreiras de proteção em aterros de resíduos devem apresentar determinadas características que assegurem a estanqueidade da estrutura. Desta forma, na Tab. 5, comparam-se as características da mistura solo-bentonita com os requisitos propostos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB, 1993), de maneira a averiguar possibilidade de emprego do solo melhorado em barreiras minerais. Tabela 5. Comparação entre as características sugeridas pela CETESB e as encontradas para a mistura. Características Mistura Requisitos CETESB Classificação Unificada (SUCS) SC CL, CH, SC ou OH Solo que passa pela peneira 0,075 mm (%) 30,5 > 30 Limite de liquidez (%) 33 ≥ 30 Índice de plasticidade (%) 17 ≥ 15 pH 7,5 ≥ 7 Condutividade hidráulica (m/s) PN 2,2.10 -10 < 1.10 -9 PI 2,8.10 -10 Diante dos resultados apresentados, constata-se que a mistura atende a todos os requisitos estabelecidos pela CETESB, estando, desta forma, apta a atuar como barreira selante em aterros sanitários. 6 CONCLUSÕES Este trabalho propôs avaliar a influência da adição de 4% de bentonita sódica sobre as 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,001 0,01 0,1 1 10 P o rc en ta g em q u e p as sa ( % ) Diâmetro dos grãos (mm) ARMAR Mistura propriedades físico-químicas e hidráulicas de um solo arenoso de comportamento laterítico do litoral sul do Rio Grande do Sul, buscando, desta forma, uma alternativa de viabilizar seu emprego em obras de proteção ambiental. Com o escopo de atingir tais objetivos, primeiramente foram realizados ensaios de compactação, utilizando as energias do Proctor normal e intermediário, e de determinação da condutividade hidráulica do solo e da mistura. Constatou-se que o acréscimo de 4% de aditivo provoca não só um aumento no teor de umidade ótima e correspondente redução da massa específica seca máxima, mas também uma diminuição da condutividade hidráulica do solo, possibilitando o seu emprego para aplicação prevista. Além disso, verificou-se a baixa influência da aplicação de maiores energias de compactação sobre o comportamento hidráulico do solo puro e melhorado. Encontrado o teor de aditivo que assegura um bom desempenho do solo em barreiras de proteção, foi então realizada a caracterização físico-química deste e da mistura. A partir da caracterização geotécnica, concluiu-se que o acréscimo de 4% de aditivo não proporciona mudanças significativas nas propriedades índice convencionais do solo arenoso estudado. Já a caracterização química mostrou que quando o solo é misturado a 4% de bentonita, este passa de moderadamente ácido à moderadamente alcalino, assim como passa a assumir caráter sódico. Com base nos critérios estabelecidos pela CETESB, foi possível constatar que a mistura composta por solo ARMAR e 4% de bentonita sódica possui características apropriadas para a utilização em revestimentos minerais. AGRADECIMENTOS Os autores da pesquisa agradecem ao Laboratório de Geotecnia e Concreto da EE- FURG e ao Departamento de Geotecnia da EESC-USP pela infraestrutura proporcionada, às empresas Areia do Mar Comércio de Aterros Ltda. e Bentonit União Nordeste Ltda. pelo solo e aditivo fornecidos, ao Laboratório de Química do Solo da UFPel pelas análises químicas e a FAPERGS e CAPES pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS American Society for Testing and Materials - ASTM. D2487: Standard practice for classification of soils for engineering purposes (Unified Soil Classification System). 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