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Guilherme Aparecido da Rocha Direito Trabalhista e Tributário 030303 Sumário CAPÍTULO 3 – Noções Gerais de Direito Tributário ............................................................05 Princípios tributários .......................................................................................................08 Espécies de tributos e competência tributária .....................................................................12 Legislação tributária .......................................................................................................18 5353 Capítulo 3 Introdução O Direito Tributário é o ramo do Direito que regula as relações de tributação, ou seja, a forma como os cidadãos transferirão parte de suas riquezas para o Estado. A tributação é uma atividade essencial, porque viabiliza a vida em sociedade e constitui, além de um dever, um direito. Nesse contexto, apresentaremos a necessidade de tributar do Estado. Aliás, você já parou para pensar sobre a razão da tributação? Por que exatamente entregar parte das nossas riquezas ao Estado é um direito e um dever? Você analisará essas questões e, na sequência, reconhecerá as funções dos tributos. Será que o tributo serve apenas para abastecer os cofres do Estado, ou tem outras finalidades? Também abordaremos os princípios que regem a tributação, ou seja, a legalidade, a irretro- atividade, a anterioridade, a noventena, a capacidade contributiva, a vedação ao confisco, a liberdade de tráfego e a uniformidade territorial. Você sabe dizer se o poder de tributar do Estado tem limites, ou é ilimitado? Veremos também a distinção entre imposto e tributo, bem como taxas, contribuições de melho- ria, empréstimos compulsórios e contribuições sociais. Além disso, estudaremos as competências tributárias, a fim de identificar quais tributos podem ser instituídos pelos entes federativos. Por fim, estudaremos as peculiaridades da legislação tributária, compreendendo a abrangência da expressão, bem como reconhecendo exceções aos princípios da legalidade, da anterioridade e da noventena. 3.1 A necessidade de tributar do Estado Nesta seção, estudaremos a necessidade de tributar do Estado, buscando desmistificar suas razões e entender como essa atividade funciona no Brasil, país com elevada carga tributária. Posteriormente, veremos as funções dos tributos, oportunidade em que reconheceremos que eles não se prestam apenas à arrecadação de dinheiro para os cofres públicos. Entenda, desde já, que o Direito Tributário é um ramo autônomo do Direito cuja importância tem a mesma razão da relevância da tributação para o Estado. 3.1.1 As razões da tributação A tributação é uma necessidade do Estado. Trata-se, na verdade, da principal fonte de receita do poder público, que a utiliza para manter sua estrutura administrativa e para prestar os serviços públicos à sociedade. Utilizamos a palavra “principal”, certo? Bem, se trata da principal porque os tributos não são a única fonte de receita do Estado. Existem outras, como a exploração da atividade econômica, que é feita de maneira excepcional. Noções Gerais de Direito Tributário 54 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário Considere o seguinte: a estrutura da administração pública, mantida por meio das receitas tributárias, vai desde a eventual locação de prédios, até a aquisição de materiais e o pagamento de pessoal. Todos os servidores públicos recebem seus rendimentos a partir dos valores pagos pela sociedade como tributos. Segundo Regina Helena Costa (2015), “na contemporânea concepção de Estado, a tributação constitui autêntico poder-dever, cujo exercício traduz-se no emprego de instrumentos que lhe pos- sibilitem a obtenção dos recursos necessários ao desempenho de suas atividades”. A tributação, no entanto, não é uma atividade restrita à idade contemporânea. Ela é feita há milênios. A Bíblia, por exemplo, relata a tributação como uma atividade comum à época. Hugo de Brito Machado é um dos principais tributaristas do Brasil. É professor de Direi- to Tributário da Universidade Federal do Ceará, doutor em Direito Tributário e advoga- do. Foi juiz federal durante 23 anos. VOCÊ O CONHECE? Vemos diariamente que, sempre que o tema é posto em pauta, o cidadão brasileiro costuma ter muitas reclamações a apresentar. Parte delas decorre da alta carga de tributos impostos à sociedade de modo geral e do baixo retorno que os cidadãos recebem, isto é, falta investimento em infraestrutura, em educação e saúde públicas etc. Nesse contexto, precisamos ressaltar que o Brasil é, de fato, um país com elevada carga tributária. Figura 1 – O Brasil é um país com elevada carga tributária. Fonte: Shutterstock, 2015 A insatisfação popular, porém, não decorre precisamente da quantidade de tributos pagos, mas da falta de devolução dos valores pagos em serviços públicos efetivos e em uma administração eficaz. Muitos tributos são vinculados a serviços públicos, isso é verdade, enquanto outros não o são, conforme estudaremos mais adiante. 55 3.1.2 As funções dos tributos Os tributos são utilizados para abastecer os cofres públicos e, como você viu, constituem a princi- pal fonte de receita do Estado. Durante a atividade de arrecadação, no entanto, a administração pública utiliza os tributos com diferentes finalidades. Basicamente, eles podem ser classificados, quanto à função que apresentam, em: a) fiscais; b) extrafiscais; c) parafiscais. Saiba que tributos com efeitos fiscais são aqueles cujo principal objetivo é a obtenção de receitas para a manutenção do Estado ou a prestação dos serviços públicos. O imposto sobre a renda, por exemplo, é um tributo com efeito fiscal, pois seu principal objetivo é obter receitas para o Estado. Na verdade, o imposto sobre a renda é a maior fonte de receitas tributárias do Brasil. Tributos com efeitos extrafiscais são aqueles cujo principal objetivo é a intervenção no domínio econômico. Isso não significa que o Estado não queira ou não precise arrecadar receitas com a cobrança desses tributos; significa apenas que esse não é seu objetivo principal. Os impostos de importação e de exportação são exemplos de tributos com finalidade precipuamente extrafiscal. A modificação das alíquotas desses tributos pode facilitar ou dificultar importações e exporta- ções, o que é feito em função das necessidades do cenário econômico. Tributos parafiscais, por sua vez, são aqueles que têm por finalidade principal a arrecadação de receitas para entidades específicas. Nesse caso, o dinheiro arrecadado não vai para os cofres do Estado, nem interfere na ordem econômica; é destinado a entidades que exercem atividades que não são próprias do Estado. Por exemplo: as contribuições pagas para entidades de classe são tributos parafiscais, pois as receitas arrecadadas servem à sua manutenção. 3.1.3 O Direito Tributário Diante da relevância da tributação para o Estado, é natural que exista um ramo do Direito cujo foco seja, exatamente, o estudo de todas as relações jurídicas estabelecidas entre a administra- ção pública e os contribuintes. Temos, dessa forma, o Direito Tributário como um ramo do Direito Público, cujo foco recai sobre os direitos e deveres dos contribuintes, sobre as espécies tributá- rias, os limites das competências, as formas de constituição dos créditos tributários, os benefícios fiscais, os métodos de cobrança, entre outros. Por ser um ramo autônomo, ele tem princípios próprios, que lhe fundamentam a existência e que amparam a construção e a interpretação das normas tributárias brasileiras. Esse é o tema do próximo capítulo. NÃO DEIXE DE VER... O filme “A Firma” (com Tom Cruise) retrata a história de um jovem advogado, com carreira em ascensão, quando descobre uma séria de irregularidades na empresa em que trabalha.O filme aborda vários aspectos que podem ser bem aproveitados, como questões éticas e de clima organizacional. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=fIqIWvOTiuA>. 56 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário 3.2 Princípios tributários Nesta seção, você estudará os princípios tributários: da legalidade, da irretroatividade, da an- terioridade, da noventena, da capacidade contributiva, da vedação ao confisco, da liberdade de tráfego e da uniformidade territorial. Fique atento, pois você estudará isoladamente cada um deles, reconhecendo importantes limitações do poder de tributar do Estado e, consequentemente, aspectos de proteção aos contribuintes. 3.2.1 Estrutura principiológica brasileira Os princípios são as bases do sistema jurídico, ou seja, todas as leis são construídas e devem ser interpretadas com base neles. Pondere desta forma: os princípios são como os alicerces de uma construção, que lhe dão sustentáculo para suportar as tribulações. Basicamente, podemos resumir os princípios do Direito Tributário conforme a ilustra a Figura 2. Princípios do Direito Tributário Legalidade Irretroatividade Anterioridade Noventena Capacidade Contributiva Vedação ao con�sco Liverdade de Tráfego Uniformidade Territorial Figura 2 – São os princípios do Direito Tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Na sequência, você estudará individualmente cada um deles. 57 3.2.2 Princípio da legalidade O primeiro princípio do Direito Tributário, previsto no artigo 150, inciso I da Constituição Fede- ral de 1988 (CF/88) é o da legalidade. A razão é evidente: diante do impacto que os tributos exercem sobre a sociedade, não podem ser alterados ao livre arbítrio do poder público. Não é possível admitir a criação ou a majoração de um tributo do “dia para a noite”, por meio de atos normativos que só dependam da assinatura de um prefeito ou de um secretário, por exemplo; se assim o fosse, o país não teria segurança jurídica. Veja a previsão constitucional do princípio da legalidade: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça (BRASIL, 1988). Para que um tributo possa ser exigido ou majorado pelo poder público, portanto, deve existir, previamente, uma lei que autorize a cobrança. Sem ela, grave bem: qualquer cobrança será nula. Essa regra, contudo, não é absoluta, e existem exceções, que você conhecerá durante o estudo do item 3.5.1. 3.2.3 Princípio da irretroatividade O princípio da irretroatividade complementa a proteção aos contribuintes conferida pelo princí- pio da legalidade. Além de ter que ser previsto em lei, não se admite que a lei tenha efeitos re- troativos, ou seja, que permita a cobrança por fato gerador praticado antes do início da vigência que institua ou aumente o tributo. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado (BRASIL, 1988). O que é fato gerador? É o fato praticado pelo contribuinte, que lhe gera o dever de pagar o tributo. Obter renda, por exemplo, é o fato gerador do imposto sobre a renda. Ser proprietário de um imóvel na cidade, por outro lado, é o fato gerador do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). A lei descreve uma situação, que, se for praticada pelo contribuinte, o tornará devedor tributário; essa situação pra- ticada pelo contribuinte é o fato gerador. NÓS QUEREMOS SABER! Dessa forma, entenda que, se uma lei criar um tributo hoje, não pode ensejar nenhum dever tri- butário por fatos geradores praticados ontem. Esse é o princípio da irretroatividade, que protege o contribuinte da voracidade fiscal do Estado. 58 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário 3.2.4 Princípio da anterioridade O princípio da anterioridade agrega proteção ao contribuinte, somando-se aos dois princípios anteriores. Isso porque, embora os dois últimos sejam importantes, não bastam à segurança jurí- dica. Por exemplo: se for publicada uma lei hoje, instituindo um tributo para ser cobrado a partir de amanhã, ela seria perfeitamente válida se só houvesse a proteção dos princípios da legalida- de e da irretroatividade. Mas isso não basta, pois um tributo instituído ou aumentado hoje não pode ser imediatamente cobrado: deve haver um prazo de adaptação. A previsão constitucional do princípio da anterioridade está abaixo disposta. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: [...] b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou (BRASIL, 1988). Então, se for publicada uma lei instituindo ou aumentando um tributo em 2015, ele somente po- derá ser cobrado em 2016. Contudo, aqui também existem exceções, as quais você conhecerá durante o estudo do item 3.5.2. O que é exercício financeiro? Exercício financeiro compreende o período de 1º de janei- ro a 31 de dezembro. No Brasil, o exercício financeiro coincide com o ano civil, o que facilita a compreensão, por parte da sociedade em geral. Por exemplo: em 2016, você deve apresentar a declaração de imposto sobre a renda relativa ao exercício financeiro de 2015, ou seja, relativa ao período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2015. NÓS QUEREMOS SABER! O princípio da anterioridade da lei tributária, além de constituir limitação ao poder impositivo do Estado, representa um dos direitos fundamentais mais importantes outor- gados pela Carta da República ao universo dos contribuintes. [...] O respeito incondicional aos princípios constitucionais evidencia-se como dever in- derrogável do poder público. A ofensa do Estado a esses valores, que desempenham, enquanto categorias fundamentais que são, um papel subordinante na própria configu- ração dos direitos individuais ou coletivos, introduz um perigoso fator de desequilíbrio sistêmico e rompe, por completo, a harmonia que deve presidir as relações sempre tão estruturalmente desiguais entre as pessoas e o Poder. Não posso desconhecer [...] que os princípios constitucionais tributários, sobre repre- sentarem importante conquista político-jurídica dos contribuintes, constituem expressão fundamental dos direitos outorgados, pelo ordenamento positivo, aos sujeitos passivos das obrigações fiscais. Desde que existem para impor limitações ao poder de tributar, esses postulados têm por destinatário exclusivo o poder estatal, que se submete, quais- quer que sejam os contribuintes, à imperatividade de suas restrições. Trecho do voto do Ministro Celso de Mello na ADIN n. 939-7, rel. Min. Sydney Sanches, j. 15-12-1993, STF. NÃO DEIXE DE LER... 59 3.2.5 Princípio da noventena Embora todos os princípios estudados revelem uma inegável proteção do constituinte em relação aos contribuintes, a experiência mostrou que eles ainda são insuficientes à segurança jurídica. Imagine uma lei que instituísse ou aumentasse um tributo em 31 de dezembro, ela teoricamente poderia obedecer aos princípios da legalidade, da irretroatividade e da anterioridade e, ainda assim, ferir a segurança jurídica, certo? Veja: o tributo viria por meio de lei, se referiria apenas a fatos geradores futuros, e seria cobrado apenas no ano seguinte. Ocorre que o ano seguinte coincidiria com o dia seguinte. O constituinte impediu tal cenário quando alterou a Constituição (por meio da Emenda Constitucional n.º 42/2003) para inserir um novo princípio tributário: a noventena.Confira: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: [...] c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b (BRASIL, 1988). Além de somente poder cobrar o tributo no ano posterior ao da publicação da lei que o insti- tuiu ou aumentou, o poder público tem, portanto, que observar um intervalo de 90 dias entre a publicação (da lei) e a efetiva cobrança. Esse princípio impede a publicação da lei em 31 de dezembro e a cobrança imediata, no dia seguinte. Caso uma lei seja publicada em 31 dezembro, o tributo somente poderá ser cobrado no início de abril do ano seguinte. Tanto o princípio da noventena como o da anterioridade são considerados direitos fundamentais da pessoa humana, o que impede que sejam suprimidos da Constituição Federal. Contudo, aqui também existem exceções, as quais você conhecerá durante o estudo do item 3.5.2. 3.2.6 Princípio da capacidade contributiva O princípio da capacidade contributiva está diretamente relacionado à questão de justiça fiscal. Antes de aprofundar a questão, vejamos a previsão constitucional: Art. 145. [...] § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte (BRASIL, 1988). A distribuição da renda ocorre, entre outras formas, a partir da aplicação de cargas tributárias diferentes: maiores para quem tem condições econômicas mais elevadas; e menores para quem não apresenta boas condições econômicas. 3.2.7 Princípio da vedação ao confisco Os tributos são indispensáveis à manutenção do Estado e constituem um dever inerente à vida em sociedade. No entanto, lembre-se de que eles não podem ser tão elevados ao ponto de gerarem o confisco dos bens ou das rendas dos contribuintes. Veja o dispositivo constitucional que prevê o princípio da proibição do confisco. 60 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] IV - utilizar tributo com efeito de confisco (BRASIL, 1988). O IPTU fixado a uma alíquota de 20% sobre o valor do imóvel, por exemplo, é confiscatório, porque resultará na perda da propriedade em um curto período de tempo. 3.2.8 Princípio da liberdade de tráfego O direito à liberdade de ir e vir está no rol de direitos fundamentais da pessoa humana. Para assegurar que ele não sofreria restrições em função da tributação, o constituinte previu o seguinte princípio: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público (BRASIL, 1988). O pedágio, como você já deve ter percebido, consta como expressa ressalva ao princípio da liberdade de tráfego. 3.2.9 Princípio da uniformidade territorial O princípio da uniformidade territorial é voltado exclusivamente à União, ou seja, ao Governo Federal. Art. 151. É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País (BRASIL, 1988). A tributação tem que ser igual para os contribuintes, independente da localização. Essa regra, no entanto, admite exceção quando tiver por objetivo promover o equilíbrio no desenvolvimento das diferentes regiões do país, como o que verificamos na Zona Franca de Manaus, por exemplo. 3.3 Espécies de tributos e competência tributária Nas próximas páginas, você estudará as espécies de tributos e a competência tributária, a partir da identificação do conceito de tributo e da abrangência da expressão. Investigaremos também o conceito das demais espécies tributárias: os impostos, as taxas, as contribuições de melhoria, os empréstimos compulsórios e as contribuições sociais. Outro ponto abordado será a competência tributária. Identificaremos quais tributos cada ente federativo pode instituir, com ênfase para a competência em matéria de impostos, além dos prin- cipais aspectos da imunidade tributária. 61 3.3.1 Conceito e espécies de tributos Ao falar em tributo, é fundamental que você possa distingui-lo de imposto. Popularmente, toda cobrança feita pelo Estado aos contribuintes acaba sendo chamada de “imposto”, nomenclatura que está incorreta. Saiba que imposto é apenas uma das espécies tributárias, ao lado da qual temos outras quatro, cada uma com características próprias, que discutiremos a seguir. Antes, porém, é preciso indagar: você sabe o que é tributo? Seu conceito está previsto no Código Tributário Nacional: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada (BRASIL, 1966). Em outras palavras, tributo é a prestação obrigatória, em dinheiro, criada por lei e cobrada pela administração pública. Não o confunda com multa, pois tributo não é sanção, não é penalidade. Trata-se um dever inerente à vida em sociedade. É também um direito que permite a participação de todos na manutenção do Estado e na prestação dos serviços públicos. Tributo é uma expressão genérica que compreende cinco espécies, conforme ilustra a Figura 3: Espécies de Tributos Impostos Taxas Contribuições de melhoria Empréstimos compulsórios Contribuições sociais Figura 3 - São cinco as espécies tributárias. Fonte: elaborado pelo autor. Os impostos são apenas uma, entre as cinco espécies de tributos. Assim como o conceito de tributo, o de imposto também está previsto no Código Tributário Nacional: Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte (BRASIL, 1966). Conforme a previsão legal, perceba que o imposto é um tributo cuja receita não está vinculada a nenhuma atividade do Estado diretamente relacionada ao contribuinte. O imposto, portanto, não enseja o direito do contribuinte a este ou àquele serviço público. 62 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário Os impostos são previstos pela Constituição Federal, que outorgou competências a cada um dos entes federativos brasileiros (União, estados, Distrito Federal e municípios). Está na Constituição, por exemplo, a autorização para que a União cobre o imposto sobre a renda e para que o Estado possa cobrar o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Essa determinação de competência não pode ser violada, ou seja, o Estado não pode tributar a renda das pessoas, porque não foi autorizado a isso. Esse é um assunto que discutiremos no item 3.4.2. Taxas, ao contrário, são tributos vinculados, ou seja, a receita recebida pelo Estado está “amar- rada” com a atividade que motivou a sua cobrança. O dinheiro que o poder público arrecada com a taxa de coleta de lixo, por exemplo, somente pode ser utilizado para o custeio dessaativi- dade. As taxas podem ser cobradas nos termos do artigo 145, inciso II, da Constituição Federal. Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: [...] II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição (BRASIL, 1988). Duas são as situações que autorizam a cobrança das taxas: o exercício do poder de polícia e os serviços públicos. O conceito de poder de polícia está previsto no artigo 77 do Código Tributário Nacional: Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição (BRASIL, 1966). Quando um fiscal de posturas do município atua fiscalizando estabelecimentos comerciais, lem- bre-se de que ele está exercendo o poder de polícia. Em decorrência disso, o município pode cobrar uma taxa dos estabelecimentos fiscalizados. Esse tributo, portanto, não se confunde com os impostos. Por outro lado, as contribuições de melhoria também são tributos vinculados. Nesse caso, não vinculados a um serviço público, nem ao exercício do poder de polícia (como as taxas), mas à realização de uma obra pública da qual decorra valorização imobiliária para o contribuinte. Imagine a seguinte situação: se a prefeitura de determinado município realizar a construção de um parque, e dessa obra decorrer valorização imobiliária para os imóveis da região, ela poderá instituir a contribuição de melhoria, dividindo o custo da obra entre os munícipes beneficiados pela valorização dos respectivos imóveis. Nesse caso, a cobrança pela contribuição de melhoria nunca pode ser superior ao valor da valorização imobiliária. O montante arrecadado também não pode superar o custo total da obra, pois, como mencionado, a contribuição de melhoria é um tributo vinculado. A dissertação de mestrado de Luiz Fernando Rodriguez Júnior, intitulada “Contribuição de Melhoria: dos antecedentes históricos ao modelo de aplicação prática”. O autor faz uma abordagem completa e aprofundada sobre esse importante tributo brasileiro. Dispo- nível em: <http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/2345/1/000385314- -Texto%2BParcial-0.pdf>. NÃO DEIXE DE LER... 63 Empréstimos compulsórios, por sua vez, são tributos com uma característica diferente. Você sabe que o valor que paga a título de impostos, taxas ou contribuições de melhoria não são devolvidos, ao menos não em espécie. Nos empréstimos compulsórios, ocorre essa devolução em espécie: por isso o nome de “empréstimo”. Não se trata de um empréstimo voluntário, que você tem a opção de conceder ou não, mas obrigatório, ou seja, “compulsório”. Os emprésti- mos compulsórios somente podem ser instituídos em duas situações, previstas no artigo 148 da Constituição Federal. Confira quais são elas: Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, “b”. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição (BRASIL, 1988). Contribuição social é uma espécie tributária da qual derivam três subespécies: a) contribuições sociais propriamente ditas; b) contribuições de intervenção no domínio econômico; c) contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas. As contribuições sociais propriamente ditas são aquelas cuja receita é vinculada à seguridade social. O valor que você tem descontado mensalmente no seu holerite, destinado ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), é uma contribuição social, que serve ao custeio dos serviços prestados por meio do sistema brasileiro de seguridade social, como aposentadorias, pensões etc. As Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) são tributos com função extra- fiscal, que visam a interferir na ordem econômica, estimulando determinados setores. Uma das contribuições mais conhecidas desta categoria é a CIDE-Combustíveis, que você paga todas as vezes que abastece seu veículo. As contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas são aquelas cobradas por categorias específicas, que servem à manutenção das suas atividades, como o valor pago a título de anuidade para órgão de classe, por exemplo. No contexto das contribuições, faz-se importante ressaltar que, recentemente (em 2002, mais especificamente), a Constituição Federal foi alterada para inclusão de uma nova contribuição: a Contribuição de Iluminação Pública (CIP). Trata-se da contribuição para o custeio da iluminação pública, de competência dos municípios e do Distrito Federal. O valor arrecadado é vinculado aos serviços de manutenção da iluminação pública e não pode ser utilizado para outras atividades. 3.3.2 Competência tributária A competência tributária é a outorga de autorização, pela Constituição, aos entes federativos, para que instituam determinados tributos. Só se admite a cobrança deste ou daquele tributo se houver prévia autorização constitucional para isso. No que tange às taxas e às contribuições de melhoria, a Constituição permitiu que todos os entes federativos as instituam, de acordo com suas respectivas áreas de atuação. Por exemplo: o muni- cípio pode cobrar taxas por serviços que presta em âmbito local, enquanto a União pode cobrar taxas por serviços que sejam prestados por ela, em âmbito nacional. 64 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário Nesse contexto, saiba que os empréstimos compulsórios somente podem ser instituídos pela União, ou seja, nenhum outro ente federativo tem competência para fazê-lo. As contribuições sociais, como regra, também só podem ser instituídas pela União. Mas existem duas exceções: a) as contribuições previdenciárias, que podem ser instituídas pelos estados ou pelos municípios, quando contarem com regime próprio de previdência; b) a contribuição para o custeio da iluminação pública, que é de competência dos municípios e do Distrito Federal. Quanto aos impostos, a Constituição foi taxativa: indicou quais são e quem tem competência sobre cada um deles. Os municípios têm competência para instituir e cobrar impostos sobre: a) propriedade predial e territorial urbana (IPTU); b) transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos à sua aquisição – (ITBI); c) serviços de qualquer natureza (ISS). Os estados têm competência para instituir e cobrar impostos sobre: a) transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos (ITCMD); b) operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior (ICMS); c) propriedade de veículos automotores (IPVA). O Distrito Federal pode instituir e cobrar seis impostos: os três de competência municipal e os três de competência estadual (IPTU, ITBI, ISS, IPVA, ICMS e ITCMD). Já a União é o ente federativo com maior competência tributária sobre impostos. Ela pode instituir e cobrar impostos sobre: a) importação de produtos estrangeiros (II); b) exportação de produtos nacionais ou nacionalizados (IE);c) renda e proventos de qualquer natureza (IR); d) produtos industrializados (IPI); e) operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF); f) propriedade territorial rural (ITR); g) grandes fortunas (IGF); h) impostos extraordinários, na iminência ou no caso de guerra externa; i) impostos residuais, ou seja, novos impostos. Observe que a União, portanto, além dos impostos já previstos pela Constituição Federal, pode criar novos impostos. 65 3.3.3 Imunidade tributária Saiba que existem alguns casos em que os entes federativos (União, estados, Distrito Federal e municípios) não podem exercer a competência tributária que lhes fora outorgada pela Constitui- ção Federal. Trata-se, aqui, das hipóteses de imunidade. A imunidade tributária é a vedação constitucional da tributação. Nesses casos, não se admite instituir determinado tributo, por força de expressa previsão da Constituição. Não há hipótese de imunidade que não esteja prevista na Constituição. Os casos são taxativos, e as principais hipóteses estão previstas no artigo 150, inciso VI: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser (BRASIL, 1988). Nessas situações, portanto, não são devidos os impostos. Veja, porém, que está prevista a imu- nidade para os impostos, não para os demais tributos. CASO A igreja “X”, do município de Tributalândia, tem dois imóveis. Um deles é utilizado para a reali- zação das cerimônias religiosas. O outro é um estacionamento particular, que atende clientes em geral, cujos recursos financeiros são revertidos em benefício da igreja. Nesse caso, o município pode cobrar o IPTU do imóvel onde a igreja realiza suas cerimônias? A resposta é negativa. Nesse caso, há uma imunidade tributária, o que impede a tributação. O constituinte protegeu a liberdade religiosa, facilitando seu desfrute. E no caso do outro imóvel (o estacionamento que a igreja utiliza para obter renda e custear suas finalidades)? A solução é a mesma, ou seja, há imunidade tributária. Isso porque a renda obtida com o estacionamento é utilizada nas finalida- des da igreja. Se não fosse, poderia haver a tributação pelo IPTU. Nesse caso, a justificativa é a mesma, ou seja, proteger a liberdade religiosa. O artigo “Imunidade sobre os templos de qualquer culto: alcance e finalidade” for- nece um importante complemento de estudo. É de autoria de Juliene Falcão Peixoto. Disponível em: <http://www.cpgls.ucg.br/7mostra/Artigos/SOCIAIS%20APLICADAS/ IMUNIDADE%20SOBRE%20OS%20TEMPLOS%20DE%20QUALQUER%20CULTO%20 ALCANCE%20E%20FINALIDADE.pdf>. NÃO DEIXE DE LER... 66 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário 3.4 Legislação tributária A partir de agora, você estudará as regras sobre a legislação tributária, nos termos do Código Tributário Nacional. Iniciaremos identificando a generalidade da expressão “legislação”, cada uma das espécies que a integram, e as exceções ao princípio da legalidade, cuja existência men- cionamos anteriormente. Você conhecerá também as regras sobre a vigência e a aplicação da legislação tributária, opor- tunidade em que conhecerá as exceções aos princípios da anterioridade e da noventena. Por fim, examinaremos as características especiais da interpretação e da integração da legislação tributária. 3.4.1 A legislação tributária Você já ouviu falar da diferença entre lei e legislação? Saiba que a primeira é apenas uma es- pécie integrante da última. Legislação, portanto, é um gênero que compreende várias espécies, entre as quais estão: a) as leis; b) os tratados e convenções internacionais; c) os decretos; d) as normas complementares. Figura 4 – O conhecimento sobre a legislação tributária é fundamental para que possamos compreender a sua organização. Fonte: Shutterstock, 2015. 67 Você já aprendeu que os tributos só podem ser criados ou aumentados por meio de lei, certo? Mas lembre-se de que existem exceções, e agora é o momento de conhecê-las. Por previsão expressa da Constituição Federal, os seguintes tributos podem ter suas alíquotas alteradas por Decreto do Presidente da República: a) o Imposto de Importação (II); b) o Imposto de Exportação (IE); c) o Imposto sobre Produtos ndustrializados (IPI); d) o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF), ou relativo a títulos ou valores mobiliários. Todos esses impostos são extrafiscais, ou seja, têm como principal finalidade a intervenção no domínio econômico e não a arrecadação fiscal propriamente dita. Para que possam ser utiliza- dos para essa finalidade, porém, precisam de mecanismos que viabilizem alterações rápidas. Por exemplo: se a China começa a enviar uma quantidade muito grande de calçados para o Brasil, com preços muito baixos, o governo precisa elevar rapidamente a alíquota do Imposto de Im- portação dos calçados, pois, com isso, elevará o preço do produto chinês, o que permitirá que o equivalente da indústria nacional tenha condições de competição no mercado. Para isso, porém, a modificação da alíquota tem que ser rápida, não podendo estar sujeita ao processo legislativo, que é naturalmente demorado. Enquanto a lei é utilizada para a instituição e a majoração dos tributos, os demais atos normati- vos (que você conheceu acima) são utilizados para questões secundárias da arrecadação tributá- ria, como a fixação de prazos, de condições e de requisitos das declarações etc. 3.4.2 A vigência e a aplicação da legislação tributária Lembre-se sempre de que a vigência da legislação tributária é restrita ao limite territorial da en- tidade federativa competente para o respectivo tributo. No caso de tributos federais, a lei que os instituir ou aumentar valerá para todo o país, já no caso de tributos estaduais ou municipais, a vigência das respectivas leis alcançará somente o território dos próprios estados ou municípios. Quanto ao início da vigência, é importante ressaltar que, como regra, toda lei que institua ou aumente um tributo só poderá ser aplicada: a) no exercício financeiro (ou seja, no ano) seguinte ao da sua publicação; b) após o decurso de 90 dias da sua publicação. Mas fique atento, pois aqui também existem exceções. Segundo a Constituição Federal, não se sujeitam ao princípio da anterioridade: a) os empréstimos compulsórios; b) o II; c) o IE; d) o IPI; e) o IOF; 68 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário f) os impostos extraordinários; g) as contribuições para a seguridade sociais; h) a majoração das alíquotas do ICMS, em alguns casos; i) a majoração das alíquotas do CIDE, em alguns casos. Por sua vez, não se sujeitam ao princípio da noventena: a) os empréstimos compulsórios; b) o II; c) o IE; d) o IR; e) o IOF; f) os impostos extraordinários; g) a fixação da base de cálculo do IPVA; h) a fixação da base de cálculo do IPTU. O que é base de cálculo? É a razão econômica sobre a qual se aplica a alíquota, para fins de obtenção doquatum a pagar do tributo. E o que é alíquota? É o percentual que incide sobre a base de cálculo, par fins de obtenção do valor devido. A base de cálculo do IPTU, por exemplo, é o valor venal do imóvel (SABBAG, 2010, p. 964). Para calcular o montante devido a título deste tributo, basta aplicar a alíquota (1%, por exemplo), sobre a base de cálculo. NÓS QUEREMOS SABER! Portanto, são exceções simultâneas aos princípios da anterioridade e ao da noventena: a) os empréstimos compulsórios; b) o II; c) o IE; d) o IOF; e) os impostos extraordinários; No caso do II, do IE e do IOF, como você já deve ter percebido, são impostos estratégicos e com função extrafiscal. Precisam de mecanismos que viabilizem uma modificação rápida das suas regras, para que o governo possa proteger a economia brasileira de modificações decorrentes do mercado externo, ou, ainda, de problemas internos. 69 Já em relação aos empréstimos compulsórios e aos impostos extraordinários, a justificativa de- corre da situação de emergência. No caso de uma guerra, por exemplo, o governo precisará de recursos imediatamente, não podendo se sujeitar a um lento processo legislativo. 3.4.3 A interpretação e a integração da legislação tributária O processo de interpretação e integração da legislação tributária brasileira demanda atenção especial, porque tem regras específicas, que diferem das regras gerais. Por exemplo: no caso de lacuna da legislação tributária, como deve ser feita a integração da legislação? O artigo 108 do Código Tributário Nacional fornece a resposta, indicando a ordem de utilização dos mecanismos de integração: Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I - a analogia; II - os princípios gerais de direito tributário; III - os princípios gerais de direito público; IV - a equidade (BRASIL, 1966). A analogia é o emprego de uma norma passível de utilização para solução de um conflito se- melhante, mas não idêntico. Por exemplo: quando uma declaração não é exigida de quem não seja pessoa jurídica, os órgãos (que são entes sem personalidade jurídica) não estão obrigados a fornecê-las. Para que sejam obrigados, deve existir expressa previsão legal. Um exemplo de mais fácil visualização: os dependentes para fins previdenciários, perante o INSS, eram apenas os cônjuges, mas por analogia o Poder Judiciário reconheceu que os conviventes, ou seja, aqueles que vivem em união estável, também poderiam ser assim considerados. Os princípios gerais de direito tributário são as bases que orientam a construção e a aplicação das normas de Direito Tributário, como os princípios da legalidade, da anterioridade etc. Os princípios gerais de direito público são os que orientam a administração pública, como o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, que permite que interesses mera- mente privados sejam colocados em segundo plano, face ao interesse da coletividade. Ao exercer a tributação, na verdade, o Estado age em nome desse princípio. A equidade é um mecanismo de integração legislativa que permite a solução de um problema ou de um conflito a partir da utilização de ideais de justiça, que, entre outros objetivos, visa a reduzir as desigualdades sociais. É importante ressaltar, contudo, que o uso da analogia no Direito Tributário não pode resultar na exigência de tributo não previsto em lei, em razão do princípio da legalidade. Por outro lado, o emprego da equidade não pode resultar na dispensa do pagamento de tributo devido. Especifi- camente no que se refere à interpretação da legislação tributária, veja o artigo 111 do Código Tributário Nacional: Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção; III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias (BRASIL, 1966). Portanto, as hipóteses não comportam interpretação extensiva, nem restritiva. Em resumo, com- preenda da seguinte forma: se a situação que você busca está literalmente descrita na legislação, você está enquadrado naquela situação (de obtenção de uma isenção, por exemplo). Do contrá- rio, não busque por hipóteses “semelhantes”, pois você não obterá sucesso perante a autoridade tributária. 70 Laureate- International Universities Direito Trabalhista e Tributário Mas não é toda a legislação tributária que deve ser interpretada literalmente. Nesse sentido, temos o artigo 112 do Código Tributário Nacional: Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto: I - à capitulação legal do fato; II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação (BRASIL, 1966). Nesses casos, portanto, a interpretação é feita da maneira mais favorável ao acusado, especial- mente se houver dúvida sobre algum dos elementos indicados pelos incisos do artigo 112. Aqui, utilizou-se a mesma regra aplicada ao direito penal, a qual viabiliza a interpretação mais favorável ao réu. O motivo é que, em ambos os casos, a pessoa está diante da aplicação de penalidades. 7171 Síntese • Neste capítulo, você pôde reconhecer as razões que levam o Estado a tributar: a manutenção das suas atividades administrativas e a prestação dos serviços públicos; • Conheceu as funções dos tributos: fiscal, extrafiscal ou parafiscal; • Identificou o Direito Tributário como um ramo do Direito Público; • Estudou os princípios do Direito Tributário: da legalidade, da irretroatividade, da anterioridade, da noventena, da capacidade contributiva, da vedação ao confisco, da liberdade de tráfego e da uniformidade territorial; • Aprendeu o conceito e a abrangência da expressão tributo, e estudou cada uma das suas espécies; • Estudou as competências tributárias, identificando quais tributos podem ser instituídos pelos entes federativos; • Conheceu as principais características das imunidades tributárias; • Estudou a legislação tributária, que abrange as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares; • Compreendeu as regras sobre a vigência e a aplicação da legislação tributária, oportunidade em que identificou exceções aos princípios da anterioridade e da noventena; • Conheceu as peculiaridades da interpretação e da aplicação da legislação tributária. 72 Laureate- International Universities Referências BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompila- do.htm>. Acesso em: 28 mar. 2015. BRASIL. Presidência da República. Lei n.º 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 28 mar. 2015. COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário: Constituição e Código Tributário Nacio- nal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
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