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Aplicação de geossintéticos na Estrada de Ferro Carajás a partir de ensaios geotécnicos Gilberto Fernaandes Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, gilberto@em.ufop.br Livia Rodrugues Nunes de Senna Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Basil, lisenna@hotmail.com Ralph Werner Heringer Oliveira Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, rwhengenharia@gmail.com Hebert da Consolação Alves Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, hebertalvesa@yahoo.com.br Daniel Pinto Fernandes Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, danielfenandesambiental@gmail.com Ronderson Queiroz Hilário Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, rondim@gmail.com RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo precípuo apresentar o aumento da resistência do subleito do pavimento ferroviário com o emprego de geossintéticos. Nesse sentido foi realizada uma campanha de ensaios utilizando Geogauge e Viga Benkelman em um trecho experimental de 120 m na Estrada de Ferro Carajás, no município de Marabá-PA. O trecho experimental foi dividido em quatro seções de 30 metros cada, sendo a primeira chamada de seção teste onde não houve a aplicação de geossintético, com o objetivo de quantificar a perda de resistência devido ao efeito do desguarnecimento da via, nas outras seções foram utilizados três tipos de geogrelhas com o propósito de mensurar o aumento ou perda da resistência do subleito do pavimento rodoviário. Em cada trecho foram realizados ensaios de Viga Benkelman antes a após a aplicação da geogrelha referente a cada seção. A Viga Benkelman é composta, basicamente, de um braço ou haste metálica articulada e um extensômetro que mede a deflexão com precisão de centésimos de milímetro. Para gerar uma tensão de sobrecarga no subleito do pavimento ferroviário foi utilizada uma locomotiva GE C36 de 189 toneladas e 6 eixos. O Geogauge foi utilizado para medir a rigidez e a resiliência do subleito antes do desguarnecimento. Após a análise dos resultados conclui-se que a aplicação da geogrelha gerou aumento da capacidade de suporte do subleito, pois apresentou redução da deflexão nos resultados dos ensaios realizados nas seções teste. PALAVRAS-CHAVE: Deflexão, Geogauge e Viga Benkeilman, Subleito ferroviário 1 INTRODUÇÃO O Brasil vive um período de grande crescimento econômico impulsionado por vários programas de desenvolvimento que o governo tem criado como, por exemplo, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Mas, quando comparado com a média nacional de crescimento econômico, o Brasil está ainda muito distante de suas potencialidades. Enquanto o mundo acumulou uma taxa de expansão de 46% nos últimos dez anos, o Brasil registrou apenas 25% no mesmo período (IBGE,2011). As dificuldades encontradas para o maior crescimento estão diretamente ligadas a entraves internos relacionados à falta de desenvolvimento tecnológico, burocracia excessiva e principalmente infraestrutura inadequada e/ou insuficiente. Itens esses indispensáveis para um país que depende substancialmente de exportação, como o Brasil. A falta de investimentos em infraestrutura, pelo menos nas duas últimas décadas, faz com que providências imediatas devam ser tomadas, pois com o bom desempenho exportador que o país vem mostrando, é notória a necessidade de investimento urgente no setor de transportes. O modal ferroviário deveria ser o alvo de maior atenção do Governo, pois é o que apresenta um dos menores custos para o transporte de grande volume de mercadorias. No Brasil a malha férrea é pequena e concentrada em pontos isolados do extenso território nacional, os investimentos são principalmente do setor privado, e com interesse próprio. Investimentos maiores nesse modal poderiam aumentar o nível de competitividade do Brasil frente a outros países. A importância do modal ferroviário e evidenciada quando se traça um comparativo entre a malha ferroviária brasileira e a malha ferroviária de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde se percebe melhor distribuição da malha, que abrange todo o território do país. A privatização de serviços de transporte no Brasil proporcionou um impacto substancial no setor durante os últimos anos. No caso do transporte ferroviário, as realizações de destaque incluem o desmanche das onerosas organizações que operavam e administravam o sistema e os ganhos significativos de produtividade e avanço tecnológico obtidos pelas concessionárias privadas. Exemplo de concessão é a Estrada de Ferro Carajás (EFC), obtida pela Companhia Vale do Rio Doce em 27/06/97, sob contrato firmado com a União, a concessão da exploração dos serviços de transporte ferroviário de cargas e passageiros. A outorga dessa concessão foi efetivada pelo Decreto Presidencial de 27/06/97, publicado no Diário Oficial da União de 28/06/97. A Estrada de Ferro Carajás (EFC) é operada pela Vale S.A. Possui cinco estações, dez paradas e percorre ao todo 892 km ligando os municípios de São Luís, Santa Inês, Açailândia, Marabá e Parauapebas. É especializada no transporte de minérios, que correm das minas da Serra dos Carajás em Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá, até os portos de São Luís. Apesar dos problemas enfrentados pelo transporte de passageiros de longa distância no Brasil, este sistema transporta atualmente cerca de 1.500 usuários/dia. Figura 1 – Estrada de Ferro Carajás (fonte: ANTT) 2 OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é demonstrar o aumento da resistência do subleito do pavimento ferroviário com a utilização de geossintéticos através dos ensaios de Viga Benkelman e Geogauge realizados em seções teste na EFC utilizando três tipos diferentes de Geogrelhas Evidenciando assim a importância de investimento no desenvolvimento de tecnologias aplicadas ao setor ferroviário para que o Brasil apresente melhor desempenho no mercado mundial. 3 METODOLOGIA Para o estudo foram utilizadas quatro seções teste de 30m cada, nomeadas como seção 01, 02, 03 e 04. O geotêxtil utilizado em cada uma delas assim como o esquema de implantação estão ilustrados na Tabela 1 e na Figura 2. As seções foram implantadas no Km 798+450 e a Seção 01 foi implantada sem uso de Geotêxtil, pois ela foi selecionada para ser a seção “controle”, sendo a base comparativa na análise dos resultados dos ensaios realizados. Tabela 01 – Geotêxteis aplicados em cada seção teste Secão Geotêxtil Utilizado Secão 1 Sem geotêxtil Seção 2 Duogrid 80/80 Secão 3 Fortrac 80/80 Secão 4 Formit 30/30 Figura 2 – Esquema de implantação das seções teste na Ferrovia dos Carajás. A metodologia de ensaios realizada foi baseada na medição de parâmetros de rigidez e deformação antes e após a aplicação das geogrelhas na via onde as seções teste foram implantadas. Para análise da rigidez da via utilizou-se o equipamento portátil da marca “GeoGauge H4140” fabricado pela Humboldt Scientific Inc., que possibilita a determinação dinâmica do módulo de elasticidade do material in situ, assim como a resistência da camada para deflexão (rigidez da camada). A rigidez e o módulo de Young do solo são determinados em função de uma força constante vibratória aplicada na superfície do solo e da sua respectiva deflexão em um espaço de tempo de 75 segundos. O aparelho possui 25 tipos defaixas de frequência de vibração, variando de 100 a 196 Hz. Os ensaios seguiram os procedimentos recomendados pela norma D 6758 da ASTM. A Os ensaios com a Viga Benkelman possibilitaram a análise das deformações elásticas nas seções teste da via permanente produzidas por uma locomotiva teste GE C36 de 189t e eixos simples de rodas duplas posicionada com seu eixo de ré sobre a ponta onde será realizada a primeira leitura. A viga Benkelman é composta, basicamente, de um braço ou haste metálica articulada e apoiada em um suporte também metálico, dotado de três pés, sendo um deles regulável. Um extensômetro com precisão de centésimos de milímetro é fixado ao suporte e apoiado em uma das bordas da haste. O ponto de articulação divide a haste em duas partes proporcionais. O ensaio é realizado enquanto a locomotiva se desloca a 0,5 Km/h e as leituras da deflexão são feitas pelo extensômetro instalado na viga a intervalos regulares de deslocamento do veiculo ferroviário, até que o peso da locomotiva não exerça mais influência sobre a via e as deflexões sejam nulas. O processo é repetido no mínimo três vezes em cada sentido (MA-PA e PA-MA). Dessa forma obtém-se a linha de influencia de deformação da seção, conhecida como bacia de deflexão. 4 RESULTADOS DOS ENSAIOS Foram analisados primeiramente os resultados do ensaio com o Geogauge no lastro da via antes do desguarnecimento do mesmo e os resultados encontrados são apresentados na Tabela 2. Tabela 2 – Resultados do ensaio de Geogauge no lastro da via antes do desguarnecimento. Medidas com GeoGauge na plataforma antes do desguarnecimento Área Geogrelha Frequência Desvio Padrão Rigidez (MN/m) E (MPa) Seção 01 24,86 1,93 7,86 68,24 Seção 02 23,14 1,87 8,06 69,91 Seção 03 24,48 1,17 8,68 75,29 Seção 04 28,2 2,66 7,08 61,45 Também foram analisados os resultados do ensaio de Geogauge na plataforma da via ferroviária enquanto o desguarnecimento era realizado. Dessa forma pode-se analisar a situação da infraestrutura da plataforma da seção estudada. Os resultados são apresentados na Tabela 3 abaixo. Tabela 3 – Resultados do ensaio de Geogauge na plataforma da via após o desguarnecimento. Medidas com GeoGauge na platafoma após o desguarnecimento Área Geogrelh a Frequênci a Desvio Padrão Rigidez (MN/m) E (MPa) Seção 01 13,3 1,43 12,6 110,01 Seção 02 25,78 1,1 13,5 113,17 Seção 03 22,49 1,35 10.79 93,26 Seção 04 13,97 1,29 4,53 39,28 Após análise dos resultados apresentados nas Tabelas 2 e 3 pode-se observar que a camada de lastro apresenta maior índice de vazios e, consequentemente, menor rigidez. Nota-se também que os valores de E encontrados para o sublastro (após o desguarnecimento) comprovam as boas condições do pavimento, exceto na seção 04. Ao analisarmos os ensaios de Geogauge nessa seção podemos afirmar que esta é uma seção crítica. Isso e outros fatores tais como desuniformidade da grelha e condições diferentes durante a realização de ensaio podem ter falseado o resultado. A próxima etapa consistiu na análise das deflexões apresentadas pelo ensaio de Viga Benkelman. Este foi realizado em cada uma das quatro secoes teste antes e após a aplicação da geogrelha para quantificar o ganho ou perda de resistência da seção após a aplicação do geotêxtil. Mas é importante ressaltar que para a colocação do geotêxtil foi necessário realizar o desguarnecimento do lastro. Tal procedimento reduz a contaminação do mesmo, recuperando assim, as características físico-mecânicas de elasticidade e suporte do lastro ferroviário. Porém, logo após o desguarnecimento o lastro não está acomodado, possui elevado índice de vazios e nao apresenta embricamento perfeito entre os grãos, tornando-o mais flexível. Portanto o ensaio de Viga Benkelman realizado logo após o desguarnecimento mostra resultados elevados de deflexão, como apresentado na Figura 2 abaixo. Figura 2 – Análise do efeito do desguarnecimento na Seção 01 (vazia). A Seção 01 foi arbitrada seção controle, ela serviu como modelo para a análise dos resultados obtidos nas seções 02, 03 e 04. A partir dela pudemos estimar Δ, que representa a variação de deflexão causada pelo desguarnecimento e seus valores são apresentados nas Tabelas 4 e 5. A diferença entre a deflexão da seção 01 antes e após o desguarnecimento será descontada na análise das outras seções para indicar a projeção da deflexão que encontraríamos caso as grelhas tivessem sido aplicadas e já tivesse ocorrido a cimentação do lastro Tabela 4 – Valores de deflexão do ensaio de Viga Benkelman na Seção 01 (vazia) antes e após o desguarnecimento do lastro da via. Secçao Vazia Distância (cm) Deflexão (cm) Antes Depois ∆ 350 0 0 0 325 0,01 0,02 0,01 300 0,02 0,07 0,05 275 0,03 0,15 0,12 250 0,06 0,23 0,17 225 0,1 0,3 0,2 200 0,12 0,37 0,25 175 0,14 0,44 0,3 150 0,15 0,5 0,35 Tabela 5 – Valores de deflexão do ensaio de Viga Benkelman na Seção 01 (vazia) antes e após o desguarnecimento do lastro da via. Secçao Vazia Distância (cm) Deflexão (cm) Antes Depois ∆ 125 0,16 0,56 0,4 100 0,17 0,63 0,46 75 0,18 0,7 0,52 50 0,19 0,75 0,56 25 0,21 0,79 0,58 0 0,23 0,82 0,59 A tabela resumo com os valores de deflexão encontrados em cada seção teste antes e após a aplicação do geotextil são apresentadas na Tabela 6 abaixo. Tabela 6 – Resumo dos valores de deflexão do ensaio de Viga Benkelman nas seções 02, 03 e 04 antes e após o desguarnecimento do lastro da via. LEITURAS DO ENSAIO COM A VIGA BENKELMAN ANTES E DEPOIS DA APLICAÇÃO DAS GEOGRELHAS Geogralha DUOGRID Geogelha FORTRAC Geogrelha FORMIT Distância (cm) Deflexão (cm) Deflexão Deflexão Antes Depois Antes Depois Antes Depois 350 0,08 0,014 0 0 0,02 0 325 0,13 0,019 0 0,01 0,02 0,011 300 0,19 0,02 0 0,01 0,02 0,015 275 0,23 0,02 0,01 0,012 0,03 0,016 250 0,29 0,01 0,03 0,02 0,03 0,021 225 0,32 0,03 0,05 0,39 0,03 0,021 200 0,38 0,09 0,11 0,055 0,03 0,021 175 0,43 0,13 0,19 0,078 0,03 0,021 150 0,47 0,19 0,28 0,097 0,03 0,014 125 0,51 0,28 0,34 0,132 0,07 0,01 100 0,59 0,345 0,42 0,156 0,07 0,04 75 0,65 0,425 0,57 0,194 0,1 0,03 50 0,71 0,53 0,66 0,207 0,12 0,16 25 0,76 0,63 0,72 0,215 0,13 0,18 0 0,84 0,74 0,79 0,223 0,15 0,22 Os gráficos apresentando a projeção de deflexão são apresentados abaixo (projeção pois esses valores não foram obtidos em ensaios de campo, eles foram deduzidos admitindo que o comportamento das seções 02, 03 e 04 foram análogos ao da seção 01 quando analisado o comportamento da deflexão da plataforma antes e após o desguarnecimento ser realizado). Figura 3 – Análise das deflexões na Seção 02. Figura 4 – Análise das deflexões na Seção 03. Figura 5 - Análise das deflexões na Seção 04. 5 CONCLUSÃO Analisando os valores encontrados nos ensaios de Geogauge realizados na plataforma e representados nas Tabelas 02 e 03, nota-se que ocorreram pequenas variações dos valores medidos, demonstrando assim, alterações relativas do comportamento estrutural da via, que podem ser decorrentes de um ou mais dos seguintes fatores: degradação decorrente do uso, deficiência dos dispositivos de drenagens, heterogeneidade dos materiais, deficiência no processo decompactação da estabilização granulométrica da camada de subleito, entre outros. As Figuras 3, 4 e 5 mostram que a aplicação do geotêxtil nas seções 02 e 03 provocou uma diminuição da deflexão medida no ensaio de Viga Benkelman, sendo que na seção 03 essa diminuição foi mais acentuada. Já a seção 04 não apresentou redução da deflexão, mas mesmo assim, foi a seção que apresentou menores valores de deflexão (0,22 cm). Os valores finais de deflexão das seções 02 e 03 foram os que apresentaram os melhores resultados. Conclui-se com este estudo que a aplicação de geogrelhas em plataformas ferroviárias pode sim ser uma solução para casos de deflexão exagerada e más condições do subleito da via. Fica destacado a importância de prosseguir com a pesquisa para analisar esses resultados em longo prazo. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Universidade Federal de Ouro Preto e o Laboratório de Ferrovias e Asfalto pela oportunidade; a Huesker e a Vale pelo apoio. REFERÊNCIAS Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) American Society for Testing and Materials. ASTM D6758 – 08. Método de Teste Padrão para Rigidez de medição e Modulus Aparente do Solo e Solo Aggregate-in-loco pela Electro-Mechanical Método. American Association of State Highway and Transportation Officials (AASHTO). Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5564: Via férrea Lastro Padrão: Especificação. Rio de Janeiro, 2011. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2011 Rodrigues, R.M. (1994) Um Modelo para Análise Estrutural de Vias Permanentes Ferroviárias sobre Lastro. Anais do X COBRAMSEF, Volume 3, pp.755-762, Foz do Iguaçu. Selig, E. T. E Waters.; J. M. (1994) Track geotechnology and substructure management. 1 ed. London: Thomas Telford Services Ltd, 750 p. Setti, J.R.A. e Sória, M.H. (2008) Como Preparar um Trabalho para a Apresentação no Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes. Página Internet www.anpet.org.br.
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