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Análise de Parâmetros Hidráulicos Aplicados ao Projeto de Sistema de Cobertura de Aterro Sanitário Composto por Mistura de Solo Tropical e RCD Mônica Carolina Ciríaco Dias Universidade Federal de Goiás, Goiânia GO, Brasil, mony.carolina@gmail.com Márcia Maria dos Anjos Mascarenha Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, marciamascarenha@gmail.com André Luís Brasil Cavalcante Universidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil, abrasil@unb.br Carlos Alejandro García López Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, carlosalejandrogarcialopez@gmail.com RESUMO: Nos últimos anos, a sociedade vem se preocupando com os problemas relacionados à disposição de resíduos de construção e demolição, uma vez que o crescimento acentuado da geração destes e sua concentração espacial devido à urbanização diminuem as chances de assimilação dos resíduos pelo meio ambiente. Uma alternativa eficaz para diminuir o problema da disposição de resíduo de construção e demolição (RCD), seria a reciclagem ou a reutilização desse material. Dessa forma, este trabalho apresenta uma análise dos parâmetros hidráulicos do solo, RCD e mistura, aplicados à projeto de sistema de cobertura de aterro sanitário. Para isso será analisados o solo, o RCD e uma mistura deste material com solo tropical na proporção de 50%. O estudo de uma mistura com esta composição é devido aos resultados obtidos por Barros (2005), que evidenciam que o RCD puro possui permeabilidade no limite do aceitável para camada de proteção. Para atingir o objetivo proposto, foram realizados ensaios de caracterização, de compactação, de permeabilidade obtendo o coeficiente de permeabilidade destes materiais, o ensaio de permeabilidade com carregamento feito durante o ensaio de adensamento e os ensaios de sucção realizados por meio do método do papel filtro, gerando as curvas de retenção de água desses materiais. Dessa forma, os resultados dos ensaios mencionados acima mostraram que os três materiais podem ser utilizados em sistema de cobertura como camada de cobertura, e nenhum deles apresentou viabilidade técnica para o uso como barreira hidráulica. PALAVRAS-CHAVE: Sistema de Cobertura, RCD, Condutividade Hidráulica. 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a sociedade vem se preocupando com os problemas relacionados à disposição de resíduos de construção e demolição, uma vez que o crescimento acentuado da geração destes e sua concentração espacial devido à urbanização diminuem as chances de assimilação dos resíduos pelo meio ambiente. Uma alternativa eficaz para diminuir o problema da disposição de resíduo de construção e demolição (RCD), seria a reciclagem ou a reutilização desse material. No Brasil, desde a década de 80 existem pesquisas desenvolvidas utilizando resíduos da construção, sendo a maioria em obras de pavimentação, onde o uso desses materiais é promissor e tecnologicamente adequado. (RIBEIRO, 2006); OLIVEIRA, 2007; RESPLANDES, 2007 e QUINTANILHA, 2008). Atualmente existem várias aplicações para a reutilização do RCD e algumas delas já estão bem difundidas tais como, a utilização na confecção de blocos de concreto, argamassa para revestimentos e na produção de concretos magros sem fins estruturais (LEVY, 1997; LEITE, 2001 e SANTANA, 2001). Os primeiros trabalhos sobre o uso de RCD para camada de cobertura de aterro sanitário foram as pesquisas de Barros (2005), que evidenciam que os finos do RCD possui permeabilidade no limite do aceitável para camada de proteção e Affonso (2005), que verificou que a parte grossa do RCD pode ser usado como uma camada drenante. Dessa forma, o uso de RCD em sistema de cobertura de um aterro sanitário pode ser uma alternativa à disposição destes materiais. Neste caso o conhecimento dos parâmetros hidráulicos destes materiais é essencial, visto que o sistema de cobertura deve ser projetado de forma a minimizar a infiltração. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é a análise dos parâmetros hidráulicos do solo, RCD e mistura (composta de 50% de RCD) aplicado a projeto de sistema de cobertura de aterro sanitário. Como Barros (2005) verificou que o RCD puro possui permeabilidade no limite do aceitável para camada de cobertura, decidiu-se analisar neste trabalho uma mistura deste material com solo tropical na proporção de 50% de cada material. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Materias Utilizados O solo estudado nesta pesquisa é natural da cidade de Aparecida de Goiânia-GO - Brasil, município pertecente a região metropolitana de Goiânia, e o local da coleta foi na Avenida Brasília, Setor Vila Brasília. As amostras deformadas foram coletadas em sacos em um único dia à profundidade média de 0,50 cm da superfície. O solo utilizado apresenta uma coloração avermelhada originada pelos processos pedológicos onde destaca-se um elevado intemperismo químico na região, o qual faz que o solo tenha elevados índices de minerais ricos em ferros e aluminios. O resíduo da construção e demolição estudado é oriundo da cidade de Goiânia e Aparecida de Goiânia-GO - Brasil, sendo transformado em agregado reciclado miúdo através do processo de britagem em uma usina particular de reciclagem. Após passar pelo processo de beneficiamento, o RCD foi transportado para o laboratório, onde passou pelo processo de peneiramento, sendo utilizada nos ensaios a fração fina passante na peneira 4,8 mm. E em seguida foi armazenada e identificada em sacos plásticos para efetivação dos ensaios. A composição dos resíduos foi determinado visualmente, observando-se a presença de 4 tipos de materiais: alvenaria, concreto, argamassa e cerâmica, com predominância dos dois ultimos. Conforme comentado anteriormente, além desses materiais foi preparada uma mistura constituída de 50% de massa seca do solo tropical e 50% de massa seca do RCD para execução dos ensaios laboratoriais. Os valores da massa específica dos grãos e dos limites de consistência e classificação de cada material são apresentados na Tabela 1. As curvas granulométricas estão apresentadas na Figura 1. Vale ressaltar que, além das curvas dos três materiais, nesta figura também é apresentada uma curva teórica da mistura, considerando-se que a mesma é composta de 50% de cada material. Tabela 1- Índices físicos do Solo, RCD e Mistura. Indices Físicos Solo RCD Mistura wL (%) 37 32 34 wP (%) 25 21 24 IP (%) 11 10 10 ρ (g/cm³) 2,79 2,78 2,75 Clasificação dos Materiais ML SM SM Figura 1 – Curva granulométrica do Solo, RCD e Mistura. A partir dos resultados dos índices físicos apresentados na Tabela 1, pode-se observar que o aumento do teor de RCD reduz os valores dos limites de liquedez e plasticidade, mas praticamente não altera o valor de índice de plasticidade. Em relação à massa específica dos grãos, verifica-se que a mesma teve a variabilidade dentro do que se espera do ensaio. A partir das curvas granulométricas apresentadas nas Figuras 1 observa-se que a porcentagem de 50 % de cada material não ocorreu de forma homogênea, visto que a curva granulométrica da mistura apresenta-se deslocada da curva teórica. A partir dos resultados dos índices físicos que constam na Tabela 1 e da curva granulométrica da Figura 1, os materiais foram classificados segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUSC). Dessa forma, o solo é silte de baixa compressibilidade (ML)e o RCD e a mistura são areias siltosas (SM). A Figura 02 apresenta as curvas de compactação dos materiais compactados na Energia Porctor Normal. Os resultados mostram que a adição de solo ao RCD diminui o peso específico seco máximo e aumenta o teor de umidade ótima, sendo esses resultados coerentes com o comportamento esperado destes materiais. Figura 2 – Curvas de compactação do Solo, RCD e Mistura. 2.2. Metodologia de ensaio Para a realização dos ensaios hidráulicos (permeabilidade e papel filtro), as amostras foram compactadas na Energia Proctor Nomal, na umidade ótima e seu respectivo peso específico aparente seco obtido a partir das curvas de compactação apresentadas na Figura 2. Os ensaios de permeabilidade foram executados com o objetivo de obter o coeficiente de permeabilidade destes materiais, sendo que essa informação é importante para prever a quantidade de água percolada pela cobertura, que resultará na produção de chorume. O procedimento de ensaio foi regido pela NBR 14545 (ABNT, 2000). Também foi executado o ensaio de adensamento com determinação de permeabilidade de acordo com a NBR 12007 (ABNT, 1990), para obter a permeabilidade de cada material em diferentes carregamentos. A execução do ensaio de papel-filtro foi realizada com base no proposto por Marinho (1994), empregando-se papel-filtro Whatman nº 42. Este ensaio tem a finalidade de obter a curva de retenção que permite determinar a capacidade de armazenamento de água do material e prever a permeabilidade não saturada. Os ensaios foram executados em trajetórias de umedecimento, na qual os corpos de provas moldados na umidade ótima foram secos ao ar até a umidade higroscópica e, a partir desta umidade, foi adicionada água nos corpos de prova para se atingir vários níveis de umidade até a máxima saturação possível. Após o corpo de prova atingir a umidade desejada, três papéis filtro foram colocados em contato com esse, para a determinação da sucção matricial. Então, as amostras devidamente seladas foram guardadas por 15 dias para a ocorrência de equilíbrio de sucção entre o papel filtro e o material ensaiado. Ao fim do período de equilíbrio, realizaram-se as medidas da massa úmida do papel-filtro central de cada montagem. Os mesmos foram secos em estufa a 115ºC por 24 h, e tiveram suas massas aferidas, para determinação da umidade gravimétrica. Nesse procedimento, o manuseio do papel-filtro de cada montagem ocorreu em até 8 s. Ao término do ensaio, foram realizados ensaios de balança hidrotática nos corpos de prova para a obtenção dos índices de vazios, segundo a NBR 10838 (ABNT,1988). Ao final foram determinadas a umidade das amostras. 3. RESULTADOS Nos itens que seguem são apresentados os resultados e as análises dos ensaios de permeabilidade, adensamento e papel filtro. 3.1 Permeabilidade Na Tabela 2 são apresentados os valores do coeficiente de permeabilidade de cada material. Analisando os dados da Tabela 2, pode-se definir se os valores obtidos de permeabilidade são aceitáveis para algumas das camadas que constituem o sistema de cobertura de um aterro sanitário. Tabela 2 - Valores de permeabilidade dos materiais. Material k (cm/s) Solo 5,98x10 -6 RCD 2,79x10 -5 Mistura 8,69x10 -6 Segundo Koerne e Daniel (1997), a condutividade hidráulica máxima de uma camada de cobertura 10 -5 cm/s e de uma barreira hidraúlica é 10 -7 cm/s. Portanto, vemos que o solo e mistura atende aos requisitos de permeabilidade propostos para a camada superior da cobertura, mas não atendem para a barreira hidráulica, devido principalmente ao arranjo granulométrico que possui estes materiais. E a permeabilidade do RCD não atende o requisito para ser utilizado em nenhuma dessas camadas. Na Figura 3 é apresentada a variação da permeabilidade com o carregamento, obtidos por meio do ensaio de adensamento, onde verifica-se uma redução nos valores de permeabilidade com o carregamento. No entanto, devido aos níveis de carregamento a que são submetidas essas camadas, esta redução não foi suficiente para viabilizar o uso destes materiais em outra camada. Figura 3 – Valores da permeabilidade do Solo, RCD e Mistura com carregamento. 3.2 Curvas de retenção Por meio do ensaio pelo método do papel filtro pode-se medir a sucção matricial do solo, RCD e mistura e traçar a curva de retenção de água. Para a representação matemática dos dados experimentais da curva de retenção utilizou-se a equação proposta por Durner (1994). Esse autor modificou a expressão para a curva característica de Van Genuchten (1980), a fim de estendê-la a curvas bimodais, típicas dos solos tropicais. As Figuras 4, 5 e 6 apresentam os resultados deste ensaio e as respectivas curvas de ajuste. Figura 4 - Curva de retenção de água do Solo Figura 5 - Curva de retenção de água do RCD. Figura 6 - Curva de retenção de água da Mistura. Analisando os gráficos, observamos que a curva de retenção do solo e da mistura é bimodal, típico de solos tropicais. Segundo CAMAPUM DE CARVALHO; LEROUEIL (2000) a existência de micro e macroporos resultam numa curva de retenção bimodal, com dois valores de entrada de ar, um na micro e outra na macroestrutura. E o RCD apresentou uma curva monomodal, o que é característico deste material. A partir da curva de retenção é possível determinar a umidade gravímetrica da capacidade de campo, que é a umidade referente a um teor de sucção de 33 kPa. De posse desses valores, pode-se calcular os valores da umidade gravimétrica da capacidade de campo (θCC), obtendo-se a máxima capacidade de armazenamento (WSmáx) do material por meio da Equação 1. Vale ressaltar que para estes cálculos considerou-se uma altura de raiz (Hraiz) de 40 cm. WSmáx = θcc Hraiz (1) A Tabela 3 apresenta a capacidade de armazenamento de água máxima de cada material. Observa-se que a mistura obteve ligeiramente uma maior capacidade de armazenamento em relação aos outros dois materiais. Tabela 3 – Valores da capacidade de armazenamento de água máxima dos materiais. Material WSmáx (mm) Solo 112 RCD 114 Mistura 116 4 CONCLUSÃO Conclui-se que o Solo e a Mistura atendem aos requisitos de permeabilidade propostos para a camada superior da cobertura, mas não atendem para a barreira hidráulica, devido principalmente ao arranjo granulométrico que possui estes materiais. E a permeabilidade do RCD não atende o requisito para ser utilizado em nenhuma dessas camadas. A permeabilidade do solo, da mistura e do RCD reduz com o carregamento. No entanto, esta redução não é suficiente para viabilizar o uso destes materiais na barreira hidáulica. AGRADECIMENTOS Agradecimento ao CNPq pela bolsa de pesquisa da primeira autora e a FAPEG pelo financiamento da pesquisa. REFERÊNCIAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1988). NBR 10838 - Solo – Determinação da massa específica aparente de amostras indeformadas, com emprego da balança hidrostática. Rio de Janeiro. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2000). NBR 14545 - Solo - Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos à carga variável. Rio de Janeiro. Affonso, F. J. A. (2005) Caracterização deAgregados Reciclados de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) Para Uso em Camadas Drenantes de Aterros de Resíduos Sólidos. Tese de Doutorado. Programa Federal do Rio de Janeiro, 160p. Barros, M.C. (2005). Avaliação de um resíduo da construção civil beneficiado como material alternativo para sistema de cobertura. Dissertação (Mestrado), COPPE, PUC, Rio de Janeiro, RJ. 96 p. Camapum de Carvalho, J. & Leroueil, S. (2000) Modelo de normalização da curva característica. In: 32ª REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO, Brasília, ABPV, p. 175-183. Durner, W. (1994). Hydraulic conductivity estimation for soils with heterogeneous pore structure. 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(2007) Indicadores de potencialidades e desempenho de agregados de resíduos sólidos da construção civil em pavimentos flexíveis. Tese (Doutorado em Geotecnia) - Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade Federal de Brasília, Brasília. 167p. Pinto, C. Souza. (2000). Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 aulas. São Paulo: Oficina de Textos. Quintanilha, F. S. (2008). Avaliação de utilização e desempenho de resíduos de construção e demolição em bases e sub-bases de pavimentos flexíveis. Dissertação (Mestrado em Engenharia do Meio Ambiente). Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás. Goiânia. 114p. Resplandes, H. M. S. (2007). Estudo Ambiental e Mecânico da Aplicação do Agregado Reciclado na Estrutura de Pavimentos Flexíveis. Dissertação (Mestrado em Engenharia do Meio Ambiente). Universidade Federal de Goiás. Goiânia. 283p. Ribeiro, F. (2006) Estudo da Aplicação do Agregado Reciclado da Base de um Pavimento Flexível. 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