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1 Análise da da rigidez torsional em fundações profundas de torres eólicas – Caso de obra Maria Inês Cunha Terratek, Rio de Janeiro, Brasil, ines.cunha@terratek.com.br Nuno Silva Terratek, Rio de Janeiro, Brasil, nuno.silva@terratek.com.br Alberto Ortigão Terratek, Rio de Janeiro, Brasil, ortigão@terratek.com.br RESUMO: A energia eólica representa, hoje em dia, uma das mais promissoras fontes naturais de energia. Por ser renovável e limpa e, porque as questões climáticas atuais apelam para uma mudança de atitude, torna-se numa alternativa sustentável para a produção de energia elétrica. O Brasil vai usufruindo de um dos maiores potenciais eólicos do planeta e os parques de geradores eólicos existem já em elevado número. Estes geradores são suportados por torres assentes, em grande parte dos casos, em fundações profundas. Os projetos de fundações nestes casos devem focar-se no seu comportamento sob ações dinâmicas (cíclicas), já que o vento – principal ação sobre as torres – pode ser considerado como tal. Este artigo apresenta um estudo de fundações profundas de torres eólicas onshore. Nele são estudadas as questões dinâmicas do funcionamento das fundações profundas, nomeadamente, a importância da sua rigidez torsional (K). PALAVRAS-CHAVE: fundações profundas, torres eólicas, dinâmica, rigidez torsional, py curves, tratamento solo, sísmica. 1 INTRODUÇÃO Este artigo apresenta a revisão de projeto de fundações profundas de torres eólicas em zona litorânea entre lagos As torres eólicas são estruturas muito sensíveis e o seu comportamento dinâmico está muito dependente da resposta do solo em termos de rigidez, sobretudo nos primeiros metros de solo. A determinação do parâmetro K do solo constitui-se essencial na determinação da rigidez do solo e na previsão do comportamento da fundação sob acções cíclicas. Vale lembrar que a determinação do K é um dos assuntos mais controversos na engenharia geotécnica. Assim, o estudo das fundações deve ser desenvolvido com recurso a molas não lineares, com a sua rigidez a variar com o nível de tensões e a refletir-se na consideração dos coeficientes de mola (K), os quais variam em profundidade. A opção é usar o modelo com curvas py , já que ele reduz a rigidez torsional quando comparado com o modelo elástico linear de Winkler, normalmente usado em estruturas comuns. O valor de K deverá sempre ser superior ao valor dado pelo fabricante, de modo a garantir a segurança da estrutura. Se este valor for inferior, há que proceder a uma melhoria do solo, visto que a solução para a melhoria da rigidez torsional das torres se obtém melhorando o valor de K do solo. Este documento apresenta o estudo para cinco torres genéricas, representando as outras 35 que foram estudadas pela Terratek. 2 CARACTERÍSTICAS DO PROJETO O projeto de estaqueamento prevê fundações em estacas metálicas com perfil HP 310 x 93. As 38 estacas são encabeçadas por um bloco maciço de concreto (Figura 1) e distribuídas em planta (Figura 2) . 2 Figura 1 – Vista das estacas com bloco de coroamento Figura 2 – Planta da base do bloco e distribuição das estacas metálicas Os parâmetros adotados para o concreto do bloco de encabeçamento e para o aço das estacas estão apresentados em seguida. 2.1 Bloco de coroamento – Concreto Resistência à compressão – fck = 30 MPa Módulo de Young – Ec = 26 GPa * Coeficiente de Poisson – μ = 0,2 Peso específico – γ = 24 kN/m3 2.2 Estaca metálica – Aço Módulo de Young– Ec = 210 GPa * Coeficiente de Poisson – μ = 0,2 *(ABNT NBR 6118) 3 CARREGAMENTO Neste estudo foram considerados os esforços transmitidos à estrutura e as cargas atuantes no bloco de fundação e nas estacas apresentados na, considerando o seguinte sistema de eixos. Figura 3 – Sistema de eixos para determinação dos esforços atuantes Foram considerados os esforços indicados em projeto relativos a duas combinações extremas de ações, dos quais resultam os valores máximos apresentados na Tabela 1. A carga nas estacas foi definida em projeto através da metodologia da Superposição e do método dos Elementos Finitos, tendo por base as combinações limite e de serviço que originam valores máximos de cargas nas estacas. Tabela 1 – Resumo das cargas mais severas dos dois modelos Estacas Cargas de Compressão (máx) [1] e de Tração (mín) [2] (kN) Externas [1] [2] 1454 -201 Médias [1] [2] 1285 0 Internas [1] [2] 1090 0,00 Adicionais [1] [2] 1216 0 4 GEOLOGIA E MODELO GEOTÉCNICO As investigações geotécnicas constaram unicamente de sondagens SPTno centro da base de cada torres. O ensaio SPT correspondente à torre considerada neste estudo, fornece os parâmetros geotécnicos apresentados em seguida, para as cinco camadas de solo identificadas: 3 Tabela 2 – Parâmetros geotécnicos para cada camada de solo Onde N = Índice de resistência à penetração. γt = Peso especifico (topo da camada). γb = Peso especifico(base da camada). Ф = Ângulo de atrito. K = Módulo inicial das curvas py. fu = Resistencia do atrito lateral médio qut = Resistencia de ponta (topo da camada). qub = Resistencia de ponta (base da camada). O movimento de solos previsto para o local leva à escavação de sensivelmente 1,50 m para implantação da base do bloco de coroamento das estacas e posterior re-aterro de 2,50 m. A utilização da viga do modelo de viga em meio elástico – modelo de Winkler, atende para as estruturas comuns, como edifícios, cargas essencialmente estáticas, ou condições geotécnicas favoráveis. No presente estudo, onde se analisam torres eólicas, ou seja, estruturas muito sensíveis a cargas cíclicas e dependentes da capacidade de resposta do solo, nomeadamente, a sua rigidez, consideramos que a utilização desde modelo é demasiado simplista, em particular, a consideração de um comportamento do solo como elástico linear. Assim, optamos por um modelo mais sofisticado conhecido na literatura com curvas py 4.1 Curvas py As curvas py são obtidas, para argilas, a partir da resistência ao cisalhamento não drenada cu e a deformação a 50% do nível máximo de tensão 50 ou, para areias, a partir do ângulo de atrito ’ e do valor inicial do módulo de elasticidade do solo Es(z). O método de resolução deve ser capaz, portanto, de resolver o problema não-linear através de técnicas iterativas. No presente estudo é utilizado o software Group na sua versão 8, usando para isso os valores k apresentados na Tabela 3. Tabela 3 – Módulo inicial K para areias (MPa/m) Densidade Relativa Pouco densa Med. densa Muito densa Areia saturada 5.5 16, 34 Areia acima do NA 7 24 60 5 PROPRIEDADES DAS ESTACAS A profundidade atingida pelas estacas varia entre 12 a 20 m e a seção corresponde ao um perfil HP 310 x 93. Na Figura 4 estão apresentadas as propriedades da seção no input do software. Figura 4 – Input do software com propriedades da seção da estaca 6 REVISÃO DOS CÁLCULOS – METODOLOGIA A revisão de cálculos debruça-se sobre a verificação da capacidade de carga, da capacidade de rigidez torsional e da deformação Aterro CompactadoAreia med. Compacta Areia Compacta Areia Compacta Areia muito Compacta N 10 9 26 36 48 e (m) 2,5 6 6 6 9 γt (kN/m³) 8 9 9 9 9 γb (kN/m³) 8 9 9 9 9 Ф (º) 30 30 33 35 43 k (kN/m³) 5430 16300 33900 33900 33900 fu (kN/m²) 1 38 113 156 208 qut (kN/m²) 1 2290 7510 15020 18560 qub (kN/m²) 1 6050 13770 16890 20860 4 máxima da base. 6.1 Sistema de eixos Group 8 Figura 5 – Sistema de eixos Group 8 6.2 Verificação à rigidez torsional 6.2.1 Rigidez Estática Com a análise dos resultados obtidos com o software Group 8, foi verificada a rigidez torsional da fundação. A rigidez torsional em x (kx) é obtida pela relação entre o momento torsor e a rotação torsional: kx = Mx Rx Onde: kx é a rigidez torsional em (N.m/rad) Mx é o momento torsor em N.m Rx é a rotação torsional em rad Na Tabela 4 estão apresentados os resultados obtidos através do software para momento torsor, rotação torsional e respectiva rigidez. Como se pode constatar os valores de kx encontrados são sempre inferiores ao valor mínimo definido pelo fabricante de 3,0E+11 (N.m/rad). Tabela 4 – Valores de rigidez rotacional (5 blocos tipo para o setor considerado) Bloco Momento torsor Rotação torsional Rigidez torsional (kN.m) (rad) (N.m/rad) 1 2471 6,40678E-05 3,85685E+10 2 2471 6,40419E-05 3,85841E+10 3 2471 6,40912E-05 3,85544E+10 4 2471 6,41728E-05 3,85054E+10 5 2471 6,41245E-05 3,85344E+10 6.2.2 Rigidez Dinâmica Existem diversas técnicas que tentam correlacionar a rigidez estática do solo com a rigidez dinâmica a partir de correlações de campo que tentam comparar ambos os valores. Assim considerando o estudo desenvolvido por Wichtmann & Triantafyllidis (2009) , onde são apresentados diversas correlações entre propriedades estáticas e dindinâmicas solo, vamos analisar o comparativo para o Módulo de corte. Assim considerando a seguinte granulometria para diversos tipos de areias, temos: Figura 6 - Granulometria Assim, a correlação mais usual para a determinação do modulo de Young, E0, nos solos Brasileiros pode ser estimada a partir de: 𝐸0 = 4 × 𝑁𝑆𝑃𝑇 𝐸0 = 4 × 10 = 40 MPa Assim o modulo de deformabilidade, E50, para uma tensão a 50% da máxima, temos: 𝐸50 = 𝐸0(1 − 0,90 × 0,50) 𝐸50 = 40(1 − 0,90 × 0,50) = 22 MPa 5 Figura 7 – Correlação para “small-strain dynamic modulus” Considerando que para distorções inferiores a 10-5 o modulo de corte máximo é igual ao modulo dinâmico, Gmax = Gdyn, de acordo com a Figura 7: 𝐺𝑚𝑎𝑥 = 4,5 × 𝐸50 𝐺𝑚𝑎𝑥 = 4,5 × 22 = 100 MPa Assim a partir do valor referido podemos retirar o valor K inicial de arranque das curvas py. Figura 8 – correlação das py curves “static”e “dynamic” Para os parâmetros anteriores obtemos aproximadamente uma rigidez torsional: 𝑘𝜃,𝑑𝑦𝑛 = 𝑀 𝑅 = 2471000 0,000029 = 8,5 × 1010 ≈ 2 × 𝑘𝜃,𝑠𝑡 < min 3 × 10 11 Ou seja não cumpre o mínimo estabelecido para a resposta do solo para ações dinâmicas de acordo com o documento técnico de manufatura das Torres Eólicas. 6.3 Máxima deformação da base Feita a verificação das deformações máximas da base para o carregamento máximo, constatou-se que as maiores rotações eram segundo o eixo y. Obtiveram-se os resultados apresentados na Tabela 5. Sendo que a inclinação admissível da base é 3 mm/m, ou seja, Radm=0,003 rad (ou seja, αadm=0,172º), está verificada positivamente a máxima deformação, pois os valores obtidos são inferiores ao valor admissível. Tabela 5 – Valores de deformação segundo eixo y – Blocos 1 a 5 do setor considerado Bloco Deformação máx. em y Deformação máx. em y Deformação admissível (3mm/m) (rad) (°) (°) 1 1,207E-03 0,069 0,172 2 1,253E-03 0,072 0,172 3 1,666E-03 0,096 0,172 4 1,034E-03 0,059 0,172 5 1,116E-03 0,064 0,172 7 RESULTADOS A Figura 9 mostra claramente a redução da rigidez (tangente da curva) com o aumento do nível de carga. Figura 9 – Relação entre a resistência do solo e a respectiva deformada em diferentes níveis de profundidade A consideração das curvas py reduz a rigidez torsional quando comparada com o valor de K para o modelo elástico linear de Winkler; Essa redução conduz a valores inferiores ao mínimo especificado pelo fabricante de 3x1011 Nm/rad; 6 Figura 10 – Relação entre o torque e a rotação que esse torque inuz às estacas As estacas de fundação proporcionam uma suficiente rigidez vertical de modo a que a rotação máxima admissível de 3 mm/m seja verificada; O recalque máximo obtido ocorrido em uma determinada estaca cravada foi de 15 mm; Figura 11 – Relação entre as cargas aplicadas e as deformações por ela originadas Em relação à capacidade de carga e considerando a dispersão de resultados para valores de capacidade de carga de estacas por métodos distintos, consideramos que a diferença de 8% entre os resultados do projeto e da revisão Terratek aceitável; O efeito de grupo vertical e horizontal, em função do espaçamento projetado, é irrelevante. Esforços Os esforços estruturais são em regra geral baixos, sendo a capacidade de carga o fator que condiciona o número de estacas. Figura 12 – Evolução do momento resultante em profundidade Figura 13 – Evolução da tensão de cizalhamento em profundidade 8 CONCLUSÕES Da análise efetuada é de salientar que: Este estudo adotou ações cíclicas com a aplicação de 10000 ciclos; As estruturas sensíveis como as torres eólicas, onde o seu comportamento dinâmico está muito dependente da resposta do solo em termos de rigidez, podem ser analisadas com molas não lineares py, com a sua rigidez a variar com o nível de tensões; A camada de solo argiloso inicial é escavada pelo que a degradação da rigidez do solo para cargas cíclicas torna- se menos relevante; Os requisitos de rigidez torsional (ao longo do eixo da torre) previstos pelo fabricante das torres eólicas exigem uma fundação adequada com rigidez suficiente. Isso é difícil atender com fundações profundas com estacas de 7 pequeno diâmetro, como neste caso analisado. As alternativas são aumentar o diâmetro ou melhorar a rigidez do terreno com tratamento. REFERÊNCIAS ABNT NBR 08681 – Ações e segurança nas estruturas- Procedimento. ABNT NBR 6118 – Projeto e execução de obras de concreto armado. ABNT NBR 6122 – Projeto e execução de fundações. ABNT NBR 8800 – Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. ABNT NBR 15421 – Projeto de estruturas resistentes a sismos. Monteiro, P. F. (2000) Capacidade de carga de estacas, critério estático, Sefe IV, São Paulo. Reese,L C; Wang, S T; Vasquez, L (2006) “Computer Program Group Version 7.0 – Analysis of a group of piles subjected to axial and lateral loading (Technical manual)”; Ensoft, Inc.; Texas; February 2006 Reese, L C; Wang, S T; Arrellaga, J A.; Hendrix, J; Vasquez, L (2010); “Computer Program Group Version 8.0 – Analysis of a group of piles subjected tovertical and lateral loading (User’s manual)”; Ensoft, Inc.; Texas; August 2010 Wichtmann T & Triantafyllidis, T (2009).; “Influence of the Grain-Size Distribution Curve of Quartz Sand on the Small Strain Shear Modulus Gmax”; Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering; 2009
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