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Aplicação de Vácuo em Ensaios Unidimensionais e Isotrópicos Mario R. Bonilla Correa, M.Sc. Geoprojetos Engenharia Ltda., Rio de Janeiro, Brasil, mariobonillacorrea@hotmail.com Sandro Salvador Sandroni, Ph. D. SEA – Sandro Sandroni Engenheiros Associados, Rio de Janeiro, ssandroni@yahoo.com.br Professor Pesquisador PUC-Rio RESUMO: A técnica de melhoramento de solos moles com carregamento com vácuo a cada dia está sendo mais usada em diferentes lugares do mundo, por oferecer, para alguns projetos, uma série de vantagens em relação a outras posturas de projeto para melhoramento de solos moles. Os ensaios de laboratório constituem-se em uma fonte de informações fundamental para um projeto de melhoramento de solos moles. No presente trabalho são apresentados os procedimentos e os resultados de ensaios unidimensionais (prensa de adensamento) e de ensaios isotrópicos (célula triaxial) em material remoldado durante os quais foi aplicado vácuo. Para isto foi necessário desenvolver procedimentos para a aplicação de vácuo nos ensaios. Apresentaram-se dificuldades para evitar perdas de pressão e para manter constante a pressão durante todo o ensaio. Foram testadas diferentes técnicas para superar as dificuldades, até obter um funcionamento satisfatório. Os procedimentos desenvolvidos estão descritos neste trabalho assim como alguns dos resultados com eles obtidos. No final do trabalho são feitas considerações preliminares sobre os resultados obtidos. PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento de solos moles; adensamento com vácuo; ensaios de laboratório. 1. INTRODUÇÃO Existem diferentes técnicas para o melhoramento de solos moles: • Carregamento com aterro; • Carregamento com aterro junto com uso de drenos verticais; • Colunas granulares; • Mistura com cimento seco; • Carregamento com vácuo, entre outras. O objeto deste estudo é o carregamento com vácuo cujo funcionamento é similar à técnica de sobre carregamento com aterro, como já foi estudado nos trabalhos de Chai e outros (2006), Chu e outros (2000), Indraratna e outros (2011), Tang e outros (2000), entre outros. Esta técnica proposta por W. Kjellman (1952) tem sido usada em diferentes obras ao redor do mundo principalmente em países orientais como Japão, Coreia do Sul, Malásia, Tailândia, Vietnam, China e em países europeus como França e Alemanha, como apresentado em vários trabalhos (Masse e outros, 2001; Chai e outros 2006; entre outros). Nestes países também tem sido desenvolvidas pesquisas para o estudo desta técnica em laboratórios de geotecnia como os trabalhos de Chai e outros (2009) e de Rujikaitkamjorn e outros (2008). Em obras esta técnica trabalha com o uso de drenos verticais para levar a pressão de vácuo até a camada de solo mole (por exemplo, Marques e outros, 2011). No Brasil, há uma experiência do uso desta técnica, a qual se encontra descrita no trabalho de Sandroni e outros (2012). Neste trabalho foi estudado o uso de vácuo em dois ensaios de laboratório: • Ensaio de compressão unidimensional na prensa de adensamento, com carregamento incremental; • Ensaio de compressão isotrópica na célula triaxial, com drenagem por um extremo do corpo de prova e medição de poro pressão no outro. 2. PROCEDIMENTOS PARA APLICAÇÃO DE VÁCUO Bonilla (2013) descreve todos os detalhes e procedimentos para a aplicação do vácuo no laboratório. A seguir se apresentam os mais relevantes: 2.1.No Ensaio de Compressão Unidimensional. O objetivo deste ensaio é conhecer o comportamento ao longo do tempo de um corpo de prova de solo mole, no oedômetro na prensa tipo Bishop, em um ensaio de carregamento incremental, quando submetido à aplicação de uma pressão de vácuo. Foi usada graxa de vaselina para vedar os contatos entre o cap e a parte superior do oedômetro (Ver Figura 1), evitando assim a entrada de ar no sistema e consequentemente a perda de pressão, a qual pode se detectar quando se apresenta um borbulhamento na interface ar- água (Ver Figura 1). Figura 1 - Vedação durante o estágio de aplicação do vácuo. Na Figura 2 é apresentado um esquema detalhado do oedômetro com as ligações feitas para a aplicação de vácuo. Na figura 3 se apresenta uma foto da montagem do ensaio no estágio com vácuo. Figura 2- Esquema do oedômetro utilizado e ligações para o estágio com vácuo. Figura 3 - Oedômetro pronto para o estágio de carregamento com vácuo (A: Ligação linha da pressão do vácuo, B: Ligação do manômetro digital). Foi feito um ensaio, com somente dois estágios, o primeiro com 3,75kPa de tensão usando pesos e o segundo estágio com vácuo de -80kPa. Neste ensaio foi observada a separação do corpo de prova do anel de confinamento (esta situação também foi observada no trabalho de Chai e outros, 2007) e a formação de trincas no corpo de prova, ver Figura 4. A causa disso é que a pressão de vácuo é maior do que as tensões iniciais. Poe este motivo, nos ensaios unidimensionais adiante apresentados, o vácuo foi aplicado em estágio no qual a tensão horizontal era maior do que ele. Figura 4 - Foto de amostra trincada e afastada do anel de confinamento, depois de ser submetida a uma pressão de vácuo bem maior que a tensão por carga vertical. 2.2. No Ensaio de Compressão Isotrópica. Este ensaio de adensamento isotrópico é feito com drenagem por um dos extremos do corpo de prova (neste trabalho pela base) e medição de poro pressão no outro extremo. O objetivo deste ensaio é conhecer a variação da poro pressão ao longo do tempo em corpos de prova de diferentes alturas, durante um processo de adensamento produzido pela ação conjunta de carregamento por tensão de confinamento triaxial e vácuo aplicado em um dos extremos do corpo de prova. Foram feitos ensaios com corpos de prova de diferentes alturas (3,0; 4,5; e 6,0cm). Na Figura 5 se apresenta um esquema com a descrição das etapas do ensaio. Figura 5 – Etapas do procedimento do ensaio isotrópico. Na figura 6 se apresenta o esquema da montagem do ensaio na célula triaxial. 2.3. Sistema de Aplicação de Vácuo O vácuo, no campo, é aplicado em um tanque fechado que contém uma interface ar-água (água na parte inferior do tanque e ar na parte superior). Uma bomba de vácuo é ligada na parte superior (ar) assim a pressão de vácuo é transmitida à água da parte inferior a qual é ligada aos drenos verticais (dependendo da técnica usada pode ser a través de tubos ou com o uso de membrana), cravados na camada de argila mole. No laboratório foi usada uma interface ar-água em um tanque com dimensões apropriadas para a realização dos ensaios, ver Figura 7. u Drenagem pressão atm (0 kPa) u Drenagem pressão vácuo (-80kPa) Etapa 1 ∆σc = 200kPa Não drenado Ensaio Sem Vácuo Ensaio Com Vácuo Etapa 2 Drenagem Figura 6 - Esquema montagem do ensaio na célula triaxial Figura 7 - Ligações no tanque da interface ar-água 1. Ligação linha da pressão do vácuo 2. Ligação do manômetro digital 3. Interface ar-água 4. Base pantográfica para nivelar a interface ar-água. Foi usada uma bomba de vácuo de anel líquido, refrigerada com água com um motor de 1,5HP, trifásico a 220V. Com este tipo de bomba refrigerada à água é possível manter a pressão de vácuo durante os prolongados tempos que os ensaios precisam sem parar e mantendo a pressão constante. Por ser refrigerada com água precisa de um fornecimento constante de água fresca (temperatura entre 15 e 35ºC). Para conseguir isso foi montado um trocador de calor. 3. CAMPANHA DE ENSAIOS 3.1. Ensaios Realizados a) Ensaios de Compressão Unidimensional Foram realizadoscom as tensões mostradas na Tabela 1 dois ensaios o V-10 com vácuo aplicado no estágio 7 e o V-11 sem vácuo. Nota-se que no início do estágio 7 a tensão efetiva vertical é 160 kPa e a tensão horizontal (estimada) é igual ou maior do que o vácuo aplicado (80 kPa). MVV 2 4 5 6 1 7 3 3 8 109 11 Tabela 1 - Tensões nos ensaios unidimensionais. b) Ensaios de Compressão Isotrópica. Foram realizados sete ensaios desse tipo como mostra a Tabela 2. Tabela 2 - Ensaios de compressão isotrópica 3.2. Material Usado O material usado é proveniente de um depósito de solos muito moles da Barra da Tijuca, que pertence a uma planície costeira do Rio de Janeiro (RJ), conhecida como Baixada de Jacarepaguá. O material foi retirado na profundidade de 12,70m em uma campanha de extração de amostras feita em junho de 2009, para o projeto de um aterro rodoviário. Este material é o mesmo que foi utilizado na tese de Teixeira (2012). O material foi remoldado com adição de água até se obter uma massa homogênea e de consistência apropriada para preparar corpos de prova. A caracterização deste material se apresenta na Tabela 3: Tabela 3 - Caracterização do material ensaiado. 4. RESULTADOS 4.1. Ensaios de Compressão Unidimensional A Figura 8 apresenta uma comparação das curvas de porcentagem de deformação vs. raiz quadrada de tempo, obtidas no estágio 7 feito com vácuo no ensaio V-10 e sem vácuo no ensaio V-11. A curva com vácuo apresenta porcentagens de deformação inferiores às da curva sem vácuo até que as duas chegam a um ponto no qual os recalques são similares para o mesmo tempo. Na fase de compressão secundária as duas curvas apresentam uma inclinação bastante similar. Figura 8 - Comparação das curvas, % deformação vs. raiz do tempo, no estágio 7 dos ensaios V-10. e V-11. Durante a realização da pesquisa foi questionado se, neste ensaio, o processo de adensamento sob vácuo acompanharia a curva teórica unidimensional ou a isotrópica A Figura 9 apresenta uma comparação entre a curva de adensamento do estágio 7 com vácuo e as curvas teóricas unidimensional e isotrópica. Como se vê o comportamento com vácuo é regido pela curva de adensamento unidimensional. 50 55 60 65 70 75 80 85 900% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 V á c u o ( k P a ) % ∆ h / h 0 √t (seg) Ensaio V-10 Ensaio V-11 Vácuo, Ensaio V-10 Figura 9 - Curva U(%) vs. Tv, do estágio 7 com vácuo, do ensaio V-10. A Figura 10 apresenta as curvas de e vs. log σ’v obtidas nos ensaios V-10 (com vácuo) e V- .11 (sem vácuo). Pode-se notar a semelhança dos dois ensaios no estágio 7, indicando comportamento praticamente igual para o carregamento convencional e para o carregamento com vácuo. Figura 10 - Comparação curvas e vs. log σ’v obtidas nos ensaios V-10. e V-11. 4.2. Ensaios de Compressão Isotrópica. A Figura 11 apresenta uma comparação entre a curva de adensamento do ensaio 3BJ e as curvas teóricas, unidimensional e isotrópica. Pode se observar que o comportamento com uso de vácuo neste ensaio é regido pela curva de adensamento isotrópico. Nos outros ensaios feitos com vácuo e sem vácuo foi observado o mesmo comportamento. Figura 11 - Curva U(%) vs. Tv. do ensaio 3BJ. A Figura 12, apresenta um gráfico com as curvas de poro pressão vs. tempo obtidas nos ensaios 5BJ, 6BJ e 7BJ. Pode-se observar que no começo as curvas são bastante parecidas. Depois a curva sem vácuo começa a estabilizar-se enquanto a curva do ensaio com vácuo continua descendo até que se estabiliza em uma pressão de-44kPa. A comparação destas curvas nos outros ensaios tem o mesmo comportamento. O ensaio 7BJ foi feito em uma primeira etapa com uma tensão de confinamento de 200kPa sem vácuo. Depois que a poro pressão se estabilizou em 6kPa aplicou-se uma pressão de vácuo de -80kPa até a poro pressão se estabilizou em -42kPa. A curva da primeira etapa é bastante similar à curva obtida no ensaio 5BJ e toda a curva obtida pelas duas etapas chega a uma pressão de estabilização bastante similar a obtida no ensaio 6BJ. Figura 12 - Comparação curvas de poro pressão vs. tempo obtidas nos ensaios 5BJ, 6BJ e 7BJ. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 U ( % ) Tv Teórica de A. Unidimensional Teórica de A. Isotrópico Estágio 7, Ensaio V-10 Com Vácuo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 1 10 100 1.000 Ín d ic e d e v á zí o s (e ) log σ'v (kPa) ENSAIO V-10, COM VÁCUO ENSAIO V-11, SEM VÁCUO 0% 20% 40% 60% 80% 100% 0,010 0,100 1,000 10,000 U ( % ) Tv Teórica de A. Unidimensional Teórica de A. Isotrópico Ensaio 3BJ Cv = 2.70x10-04 cm2/s 70 75 80 85 90 95 -50 -25 0 25 50 75 100 125 150 175 200 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 V á c u o ( k P a ) P o ro p re ss sã o ( k P a) tempo (hora) Ensaio 5BJ, Sem Vácuo Ensaio 6BJ, Com Vácuo Ensaio 7BJ, Inicia Sem Vácuo e Depóis Com Vácuo Vácuo Ensaio 6BJ Vácuo Ensaio 7BJ 5. CONCLUSÕES Neste artigo são apresentados procedimentos para a aplicação de vácuo em ensaios unidimensionais e isotrópicos. Foi comprovado, experimentalmente, que a aplicação de vácuo gera um processo de adensamento igual ao gerado por um carregamento. A aplicação de uma pressão de vácuo maior que a tensão de confinamento gera trincas no corpo de prova, e no caso do ensaio de compressão unidimensional, faz que o corpo de prova se afaste do anel de confinamento. A aplicação de vácuo no ensaio de compressão unidimensional gera um processo de adensamento regido pela curva de adensamento unidimensional. No caso do ensaio isotrópico o processo de adensamento é regido pela curva de adensamento isotrópico. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a empresa Tecnogeo pela doação da bomba de vácuo que foi usada na realização dos ensaios. Ao professor José Araruna da PUC-Rio por diversas sugestões sobre a realização dos ensaios. Ao professor Edgar Odebrecht da Geoforma pela obtenção das amostras Shelby. REFERÊNCIAS Bonilla, M. 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