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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
(FURTO, ESTELIONATO E APROPRIAÇÃO INDÉBITA)
1) “A” e “B”, objetivando viajar, dirigem-se a uma agência de turismo situada em Porto Alegre e, lá, adquirem pacotes de 15 dias para a Europa. Para tanto, pagam os referidos pacotes mediante cartão de crédito. Um dos funcionários da loja (“C”), entretanto, ‘clona’ os cartões de crédito de ambos, utilizando-os para o pagamento de duas contas (uma, no valor de R$ 748,00 e outra, no valor de R$ 1.476,00) e para a compra de roupas no valor de R$ 2.758,00. Alertados pelo banco, “A” e “B” conseguem impedir que as faturas sejam pagas na data do vencimento, obstando o pagamento aos estabelecimentos onde tais cartões foram apresentados. Com base nisso, dê, justificadamente, o enquadramento jurídico-penal do fato.
Há alguma divergência jurisprudencial quanto à incidência do delito de furto no que se refere, por si só, à subtração de dados de cartão de crédito. Algumas decisões entendem que os dados do cartão caracterizam objeto material do furto; outras, entendem que o uso desses dados é que tipificará uma lesão patrimonial. Para o primeiro entendimento, o enunciado descreveria, num primeiro momento, um furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II) praticado por “C” contra “A” e “B”; para o segundo entendimento, aqui não teríamos delito ainda, ao passo que, como “A” e “B” conseguiram bloquear o uso do cartão, o caso seria de tentativa de furto qualificado (art. 155, § 4º, II, c/c art. 14, II). Haveria, entretanto, as demais lesões patrimoniais. No que se refere à compra das roupas, “C” consegue obtê-las em prejuízo do comerciante, que as entrega na crença de que receberia o pagamento devido. Aqui, o crime é de estelionato (art. 171). Quanto às duas faturas, tendo em vista que os débitos foram estornados, o estelionato seria tentado (art. 171, c/c art. 14, II).
2) Após um incêndio verificado num armazém de alimentos na Zona Norte de Porto Alegre, diversos moradores da região (dentre eles, “A”, “B” e “C”), no mesmo momento, decidem saquear diversos gêneros alimentícios lá depositados. A polícia é chamada e, chegando ao local, efetua a prisão de “A” e “B”, que tentavam subtrair sacos de arroz e feijão, sendo que “C” consegue implementar fuga. Momentos após, e já de posse de mandados de busca e apreensão, os policiais recuperam aproximadamente 20kg de alimentos, subtraídos do armazém, que estavam estocados na residência de “C”.
O enunciado descreve um concurso de pessoas, haja vista haver o liame subjetivo, a identidade de infração penal e a relevância causal das condutas de “A”, “B” e “C”. Nesse caso, consumando-se para um, consuma-se para todos. Temos, pois, um furto qualificado consumado (art. 155, § 4º, IV).
3) “A” e “B”, munidos de identificações falsas de oficiais de justiça e de mandados de busca e apreensão inexistentes, dirigem-se ao estabelecimento comercial de “C” e, diante deste, a pretexto de estarem cumprindo ordem judicial, simulam a apreensão de dois veículos. Diante do ocorrido, “C” procura seu advogado que, após peticionar em juízo solicitando a substituição dos veículos por outros bens em garantia, descobre ter sido enganado por ambos. Após lograrem êxito na empreitada criminosa, “A” e “B”, agora falsificando os documentos dos veículos, vendem-nos a “D” e “E”. Analise a tipificação jurídico-penal do fato.
o enunciado descreve três lesões: uma, contra “C”; outras duas contra “D” e “E”. No primeiro caso, temos um delito de furto qualificado pela fraude (art. 155, § 4º, II). Isso porque “C”, quando disponibiliza os veículos aos supostos oficiais de justiça, não transfere a propriedade dos bens, mas sim, apenas, a detenção. O estelionato pressupõe que a vítima transfira a propriedade do bem com consciência de que ele não mais integra o seu patrimônio, o que inocorre no caso narrado. Em relação a “D” e “E”, temos dois delitos de estelionato (art. 171), pois ambos pagam pelos veículos na crença de que o negócio seja legítimo. A falsificação dos documentos, como se esgota no estelionato, fica neste absorvida (Súmula 17 do STJ).
4) A concessionária Vera Cruz Ltda contrata empresa de transporte a fim de entregar um veículo novo adquirido por comprador residente no interior do Estado. “A”, funcionário do almoxarifado da transportadora, fica sabendo do negócio e decide dirigir-se à concessionária para, apresentando-se como responsável pelo transporte do veículo, apropriar-se deste e não entregá-lo ao seu legítimo dono. Considerando que o gerente da concessionária entrega o veículo a “A”, crendo ser ele o responsável pelo transporte, responda, fundamentadamente, por qual o delito “A” poderá responder.
“A” pratica furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II). O caso não é de estelionato porque o ardil não tem por propósito a transferência da propriedade para “A”, mas sim a diminuição da vigilância sobre o objeto.
5) “A”, cansado dos latidos do cachorro de “B”, seu vizinho, decide resolver sua “dor-de-cabeça”, mediante a seguinte conduta: com um pedaço de carne, atrai o cachorro de “B” para dentro de seu automóvel, vindo a conduzi-lo até uma estrada distante e, ato contínuo, liberta o animal, a fim de não mais retornar à casa de “B”. Dê o enquadramento jurídico-penal do fato, considerando-se que o bichano não mais é recuperado.
A resposta irá depender do entendimento do alcance da elementar subjetiva “para si ou para outrem”, descrita no art. 155. É inquestionável que o animal seja objeto de furto. No entanto, a libertação do bichano na estrada distante faz discutível que a subtração tenha ocorrido para outrem. Se se compreender que o abandono do animal, associado à possibilidade de alguém vir a encontrá-lo, satisfaça a elementar, então estaremos diante de furto. Do contrário, o fato será atípico.
6) “A”, com o auxílio de “B”, desenvolve programa de computador (“trojan”), enviando-o por e-mail a milhares de pessoas, dissimulando o arquivo como se fossem fotos eróticas. Cerca de 40 pessoas, levadas a erro, tentam acessar tais arquivos, ignorando tratar-se de programa que, após capturar as senhas obtidas no computador do destinatário, enviam-nas a um endereço eletrônico determinado. De posse dessas senhas, “A” acessa as contas correntes dos usuários e efetua pagamento de títulos de terceiros, que, em troca, lhe pagavam metade do valor constante no título. Diante da narrativa fática, responda:
a) por qual(is) crime(s) respondem “A” e “B”?
b) por qual(is) crime(s) responderão os terceiros que, conscientemente do ilícito perpetrado por “A” e “B”, efetuam o pagamento das contas?
(a) furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II). Com efeito, o objeto material do delito recai sobre o numerário de cada conta corrente que acaba sendo debitado. Os correntistas não Transferem esse numerário a “A” e “B”. Consequentemente, são subtraídos valores dos correntistas. Teremos 40 delitos;
(b) os terceiros, estando conscientes de que colaboram para a conduta de “A” e “B”, praticarão os mesmos delitos, em concurso de pessoas.
7) Frentistas da garagem XYZ, situada no centro de Porto Alegre, estavam utilizando, em proveito próprio, os veículos dos clientes que lhes dispunham para estacionamento. Após o uso, os veículos eram restituídos no mesmo estado em que se encontravam. Dê o enquadramento jurídico-penal desse fato.
Fato atípico, pois se trata de furto de uso.
8) “A” empresta seu carro a “B”, recebendo, em contra-prestação, o valor de R$ 200,00 mensais. Antes de o contrato vencer, e em razão de “B” não estar pagando as parcelas a que estava obrigado, “A” decide, pelas próprias mãos, recuperar o automóvel, dirigindo-se à casa de “B”, durante a madrugada para, fazendo uso da chave reserva, subtrair o veículo.
Como o veículo pertence a “A”, a impossível falar-se em furto. A solução do caso é dada pelo delito de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345).
9) “A”, advogada especializada em direito do trabalho, representa “S” num processo trabalhista movido por esta contra seu empregador, buscando o pagamento de horas-extras e férias pendentes.
O processo, ao final, é julgado procedente, ocasião em que a parte vencida é condenada a pagar à reclamante o valor de R$ 12.348,00, fazendo o depósito judicial nos termos da sentença. Em 13.10.2006, de posse de procuração com poderes para tanto, Dra. “A” saca o dinheiro, mas, em razão da mudança do endereço de sua cliente, não a localiza para informar que o dinheiro estaria à sua disposição. Após dois meses, “S” procura a advogada para perguntar sobre o andamento do processo, ocasião em que lhe é informado o ganho da causa, sendo-lhe repassado o valor de R$ 7.348,00. “S”, dias após, em consulta ao site da Justiça do Trabalho, descobre ter sido enganada por sua advogada (porque não teria repassado o valor total da condenação), fazendo registro de ocorrência policial contra ela. Com base no fato narrado - e partindo da premissa de que “A”, em 23.11.2006, teria decidido utilizar R$ 5.000,00 para pagar as prestações atrasadas do seu veículo - aponte, de forma fundamentada, o eventual enquadramento jurídico-penal da conduta de “A”.
O enunciado descreve um dolo posterior à apreensão da res, ou seja, “A” decide lesar o patrimônio alheio após deter os valores de boa-fé. Nesse caso, estamos diante de delito de apropriação indébita majorada (art. 168, § 1º, III).
10) “A”, objetivando ganhar “dinheiro fácil” e após ter acesso ao cadastro de diversos titulares de linhas telefônicas da Brasil Telecom, envia boletos falsificados para o pagamento dos custos do uso do telefone, sendo que, no código de barras, o valor pago acabaria sendo remetido para a conta corrente de um laranja seu. Uma vez elucidado o engodo, a polícia identifica, em Porto Alegre, 326 lesados, sendo que o valor total do prejuízo atinge mais de R$ 100 mil. Dê o enquadramento jurídico-penal da conduta de “A”, apontando, inclusive, a modalidade de concurso de crimes.
O objeto material do delito são os valores pagos por cada titular. Estes valores são transferidos voluntariamente pelas vítimas. Consequentemente, estamos diante de concurso formal (art. 70) com desígnios autônomos na prática de 326 crimes de estelionato (art. 171).
11) “A”, filho de uma família abastada, decide fazer uma viagem à Europa, mas, em razão da falta de dinheiro, opta por enganar seu próprio pai. Para tanto, e contando com a colaboração de “B” e “C”, simula o próprio seqüestro, onde, supostamente, estaria sendo exigido o valor de R$ 300.000,00 de resgate. O plano obtém êxito, sendo que, do dinheiro pago, “A” fica com metade, sendo a outra metade dividida com os seus comparsas. Três dias antes de embarcar à Europa, contudo, seus pais descobrem o ardil, exigindo a devolução do dinheiro, sob pena de o fato ser levado a conhecimento da autoridade policial. Tendo em vista que “A” já havia dado a metade do dinheiro para “B” e “C”, decide oferecer a estes a transferência da casa de praia da família, avaliada em R$ 1 milhão, pelos R$ 150.000,00 que haviam obtido com a simulação do seqüestro. “B” e “C”, acreditando estarem fazendo o “negócio da China”, aceitam a proposta, sendo que “A”, para tanto, falsifica uma procuração por instrumento público com poderes específicos para a venda daquele imóvel. De posse dos R$ 300.000,00, “A” devolve o dinheiro à sua família, mas um grampo telefônico revela toda a falcatrua.
São duas as lesões. Num primeiro momento, “A”, “B” e “C” praticam crime de estelionato, no que se refere aos R$ 300 mil. Só “B” e “C” podem ser punidos, a teor do que dispõe o art. 181, II, do CP. Num segundo momento, “B” e “C” são vítimas de delito de estelionato praticado por “A”. A falsificação, porque não se esgota no estelionato, não é absorvida.
12) “A”, presidente da cooperativa “X”, determina a venda de 20.000kg de soja armazenados naquele estabelecimento, conscientemente de que tal produto pertencia a agricultores da região, que os haviam dado em garantia ao Banco do Brasil, em contratos de financiamento agrícola. “B” e “C”, agricultores da região, descobrem a fraude e, aproveitando-se da vulnerabilidade a que estava sujeito o presidente, exigem deste a liberação e venda, em proveito próprio, de algumas sacas de soja que também haviam sido dadas em garantia, pelos próprios “B” e “C”, ao Banco do Brasil. Dê o enquadramento jurídico-penal das condutas, justificando a resposta.
Num primeiro momento, “A” pratica apropriação indébita majorada (art. 168, § 1º, III). O mesmo delito é repetido num segundo momento, porém, desta feita, em coautoria com “B” e “C”.
13) Os carrinhos de uma montanha-russa de um parque de diversões de Porto Alegre descarrilam quando o brinquedo estava em movimento. No momento do acidente, 14 pessoas estavam nos carrinhos, despencando de uma altura de mais de 10 metros. Do ocorrido, 10 pessoas resultam que lesões corporais leves (escoriações e hematomas), 2 pessoas sofrem fraturas ósseas gravíssimas (com necessidade de intervenção cirúrgica e imobilização por diversos meses), 1 vítima resulta com traumatismo craniano com perigo de vida e 1 vítima (uma criança de 12 anos) vem a falecer. Após concluída a investigação, descobre-se que a causa do acidente foi a corrosão de uma peça que sustentava os carrinhos no trilho, circunstância esta desconhecida por “A”, dono do parque. Também resta esclarecido que não havia sido feita a manutenção semestral do brinquedo. Analise, justificadamente, o enquadramento jurídico-penal do fato.
Trata-se de 14 lesões corporais culposas (art. 129, §§ 6º e 7º). Não incidem os §§ 1º e 2º do art. 129 no § 6º.
14) “A”, carteiro da empresa Correios, ao realizar entregas de Sedex com sua motocicleta, vem a se envolver em acidente de trânsito. Com a colisão, o baú da motocicleta se abre, espalhando diversas caixas de Sedex pelo chão. “B”, “C” e “D”, pedestres que estavam passando pelo local, apropriam-se dos objetos. Percebendo a aproximação da autoridade policial, os três tentam sair em disparada. A polícia consegue capturar “C” e “D” no local, com as caixas em suas mochilas. “D”, no entanto, consegue fugir. Dê o enquadramento jurídico-penal do fato, considerando que “C” e “D” eram menores de 18 anos.
No caso, os requisitos do concurso de agentes estão presentes. Assim, consumando-se para um, consuma-se para todos. O caso é de furto qualificado (art. 155, § 4º, IV) consumado.
15) A”, esposa de “B”, indignada com a descoberta de que o marido a estava traindo, decide vingar-se dele. Após alguns dias insinuando-se para “C”, gerente do banco de “B”, ambos iniciam um caso amoroso. Passados alguns meses de romance, “C” resgata o saldo de aproximadamente R$ 1 milhão que “B” possuía em seu plano de previdência privada, transferindo o valor para a conta de “A”. Obtido o proveito, “A” saca o dinheiro e não disponibiliza a metade a “C”, descumprindo o acordo entre ambos. Analise o enquadramento jurídico-penal do fato.
O crime é de furto mediante concurso de pessoas (art. 155, § 4º, IV) praticado por “A” e “C”. Contudo, “A”, por ser esposa de “B”, não será punida (art. 181, I).
16) “A”, acessando o site Mercado Livre, simula estar interessado na compra de um lap-top oferecido à venda por “B”, que reside na mesma cidade de “A”. Fazendo uso de um recibo de DOC eletrônico falsificado, “A” dirige-se à residência de “B” a fim de levar consigo o computador. Após mostrar e entregar o recibo com a suposta transferência, o notebook é disponibilizado a “A”. No dia seguinte, “A”, sem testar a máquina, telefona para “B” e exige deste R$ 500 para devolver o equipamento. Na ocasião, “B”, muito embora já consciente de ter sido vítima de um golpe, zomba da inusitada exigência feita por “A”, porquanto o equipamento por ele vendido era inútil para uso. Diante da narrativa fática, analise o eventual enquadramento jurídico-penal do fato.
Trata-se de estelionato bilateral, tratado pela doutrina como fato atípico. “A” e “B” tentam dar, reciprocamente, golpes um no outro. Como não há lesão patrimonial alguma no caso narrado, o fato é atípico.

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