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ERA HEIAN trabalho

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INTRODUÇÃO
A era Heian (平安時代) começa quando a capital muda-se para Heian em 794, conhecida atualmente como Quioto. A era se estende por aproximadamente 400 anos, por um período de relativa paz interna, até que, em 1185, o poderoso clã Minamoto instala-se em Kamakura. 
Durante esses 400 anos, Heian foi o centro cultural e político do Japão, e mesmo sendo uma época considerada pacífica, houveram guerras pelo trono, protagonizadas principalmente entre duas famílias: Taira e Minamoto. Houve também a situação bastante incomum do poder diárquico – devido a criação do cargo jôkô – a implantação de novos sistemas de divisão de terras, a ascensão dos bushi e o crescimento e difusão do budismo.[1: Prolongamentos, como no caso de じょうこう serão representados em caracteres romanos como “ô”. (ou seja, acento circunflexo sobre a vogal prolongada).][2: Palavras não dicionarizadas para o português estarão em itálico, e em singular, assim como a palavra original em japonês, visto que as palavras que serão citadas não possuem flexão de número ou gênero.]
Ademais, na parte cultural, é o período áureo da nobreza, onde reinou com muito requinte, e a cultura aflorou de maneira mais nacionalista, e os waka, poemas tipicamente japoneses, foram amplamente produzidos, destacando a beleza da época. Além disso, a escrita também sofreu uma importante modificação: as leituras chinesas foram aos poucos sendo substituídas por leituras japonesas, além da criação do kana, após a fase de transição do man’yôgana. 
Entre ascensão da família Fujiwara até as vitórias do clã Minamoto, houve muitas personalidades de suma importância na história nipônica. Pessoas que viraram lendas por seus feitos, outros por suas ideologias. Algumas histórias heroicas como as de Yoshitsune e Benkei são até hoje narradas em teatros e kabuki. As mulheres também foram influentes nessa época, principalmente na área da literatura, onde duas grandes obras muito relevantes para a história do país foram produzidos por duas mulheres.
Heian é uma época onde os costumes em muito se diferem dos da modernidade, mas mesmo com diferenças, mostra-se uma época muito bela e evoluída no sentido do requinte, bom-gosto e beleza. 
A NOVA CAPITAL
No final da era Nara, Konin Tenno consegue afastar o monge político Dokyo, que não possuía nenhum parentesco com os clãs tradicionais. Ele foi um monge muito inteligente e sagaz, e por isso havia conquistado grande poder político, na função de sacerdote, desagradando aos Tenno. Konin tenta fortalecer o regime então vigente, o Ritsuryô – que consiste no sistema político norteado por ritsu (judiciário) e ryô (legislativo). 
O novo soberano, Kammu Tenno, sucede Konin, e procura promover uma reforma política. Para isso, ele precisaria “fugir” da influência dos templos, e então transferiu a capital para uma nova cidade chamada Heian-kyo (Metrópole da Paz), atual Quioto. Ele pretendia escolher Nagaoka, localizada na mesma província, Yamashiro, mas desistiu após a morte do presidente da comissão de construção da nova capital. 
A região é bem localizada: cercada de montanhas por três lados, é o centro de comunicações entre leste e oeste do país, e o rio Yodo, muito importante como rota rodoviária que liga várias regiões do Japão e ao exterior, ficava próximo à capital. 
Kammu Tenno, que pretendia fazer várias reformas políticas e reformistas, procura manter a ordem na distribuição de terras (Handen no Hô), apesar desse sistema estar fadado a desaparecer pela influência dos clãs e templos poderosos. Cria um novo cargo de inspetor de governadores provinciais para reforçar o poder central sobre eles, e modifica o sistema de serviço militar, que prejudicava os lavradores. A medida visava selecionar jovens de prefeitos e famílias abastadas do interior. 
O sucessor de Kammu, Saga Tenno, também promove medidas reformistas para reorganizar o sistema do Estado Ritsuryô, e por isso eles combatem a influência do budismo na política, que poderia voltar a corromper a corte, como ocorreu em Nara, visto a proteção que a coroa proporcionava aos budismo. O imperador combateu essa tendência e os novos valores religiosos. Mas a religião penetraria na política mais cedo ou mais tarde.
O CLÃ FUJIWARA
A família Fujiwara descende de Nakatomi-no-Kamatari, que depois de seu falecimento tornou-se Fujiwara no Kamatari. Ele contribuiu com a reforma Taika, e a família tornou-se uma família poderosa, ampliando sempre seu poder, e possuindo um imenso Shôen. Este é o nome de terrenos que eram dados para famílias que utilizassem terras virgens. Essa medida era nociva ao sistema Ritsuryô, mas seu objetivo era solucionar a falta de terras públicas produtivas. Obviamente, por essa medida, o sistema Ritsuryô veio a decair, e a maior parte dos terrenos foram ocupados pelos clãs poderosos, que possuíam condições de explorar grandes áreas. Mais sobre isso será dito adiante. 
A família ampliou ainda mais seu poder, quando Fujiwara-no-Michinaga fez a proeza de casar suas cinco filhas com imperadores. Seu filho, Yoshifusa, conseguiu a qualidade de parente, e tornou-se regente do neto do imperador (sesshô) em 858. Este cargo, anteriormente, era atribuído apenas aos membros da família imperial, porém, como os Fujiwara tiveram a façanha de casar suas filhas com imperadores, Yoshifusa foi colocado na posição de avô na linha materna de Seiwa Tenno, que ocupa o trono com nove anos de idade. [3: せっしょう, em hiragana. Quando houver uma consoante oclusiva com つ, será transcrito em letras romanas com a duplicação da consoante posterior. ]
Entranhando-se mais ainda na política e conseguindo laços com a família imperial, o filho adotivo de Yoshifusa, Mototsune, ocupa a posição de Kanpaku, que equivale ao conselheiro-chefe da corte. Este era o cargo mais elevado o palácio do imperador, na época, Koko Tenno. Desde então, com pequenos intervalos, o clã Fujiwara domina o país, e todos os sessho e kanpaku descendem de Mototsune. Essas duas funções juntas, torna-se um sistema chamado sekkan.
Várias vezes a família Fujiwara foi vítima de tentativas de ser derrubada, mas todas falhavam. Clãs como Ôtomo e Tachibana são politicamente destruídas, perdendo sua posição por tentarem enfrentar a poderosa e influente família. 
Contudo, começaram disputas mesmo entre os próprios Fujiwara pelos cargos mais altos. Mesmo assim, a família não decai, ao contrário, encontra-se em seu apogeu quando Michinaga e seu filho, Yorimichi Fujiwara ocupam as posições de sekkan-ke. Michinaga consegue casar suas quatro filhas com imperadores sucessivos. “Os imperadores Goichijo (1016-36), Gosuzaku (1036-45) e Goreizei (1045-68) descendem todos do ambicioso Fujiwara. (YAMASHIRO, 1985)
Sobre o casamento e o modelo familiar da época, quando se casavam, o marido ia morar na casa da esposa, sendo cuidado pela família da mesma, inclusive seus filhos. Muitos nobres não moravam juntos. O marido possuía sua própria casa e frequentava a casa da mulher, ou de sua família. Ambos poderiam ter relação com outros parceiros, mas deviam sempre manter o respeito e consideração. 
Sugawara-no-Michizane e a extinção do Kentô-shi
Uda Tenno (887-897) tentou resistir à influência da poderosa família Fujiwara, mas acaba não conseguindo. Porém, atribui papeis importantes à Sugawara-no-Michizane, um homem de origem humilde, mas muito culto e de caráter íntegro. O tenno seguinte, Daigo, seguiu as diretrizes do tenno anterior, e nomeou Michizane udaijin (equivalente a primeiro ministro, considerado o grau máximo da hierarquia). Durante seu governo, ele sugere e efetiva a suspensão do kentô-shi, ou seja, as expedições a Tang, cuja dinastia é substituída pela Sung. A dificuldade financeira e a decadência de Tang foram os principais motivos que o levaram a tomar tal decisão. 
Todavia, a família Fujiwara não aceitava o fato de um não-membro da família estar ocupando um cargo elevado. Então Michizane é vítima de uma conspiração pelos Fujiwara, e é deportado para o norte da ilha Kyushu, para o forte de Dazai, onde faleceu,
exilado. “Na época, espalhou-se a crença de que sua alma, injustiçada em vida, trouxe doenças à capital, forçando a criação de muitos templos xintoístas, a fim de acalmar a suposta fúria e deter a praga.” (KURIHARA, 2009) Atualmente ele é como um deus da sabedoria, e muitos estudantes rezam em templos para pedir a graça de Michizane para obter bons resultados em vestibulares etc. 
 
ASCENSÃO DOS GUERREIROS
Kokushi seriam os nobres governadores de províncias que deveriam cuidar das terras, ou kokugaryô, acabaram por abandonar suas tarefas por só se interessarem em questões lucrativas e pessoais. Isso trazia problemas para os que realmente cuidavam das terras (gunshi e goshi), então eles mesmos acabaram por criar sua própria força armada. Isso porque, entre os problemas, alguns lavradores tentavam escapar ao controle deles. O mesmo acontece com os shokan, pois esses donos de shôen permaneciam na capita, então os próprios chefes locais constituem forças armadas. É neste momento que surgem os bushidan, grupos de samurais ou bushi. 
Inicialmente, os bushidan se reúnem nos shôen ou nos kokugaryô, mas depois crescem, formando grandes grupos armados. Há disputas entre si, por terras e influência, e os vencedores vão ganhando destaque e força, aumentando também seu tamanho. Líderes de grandes bushidan construíram influentes famílias, e vários bushi começam a servir como guardas do palácio imperial, tornando-se saburai, e posteriormente como samurai, ou bushi.
Estes samurais, no entanto, viviam uma vida simples campestre, mas se exercitavam nas artes militares. Porém, aos poucos deixaram de as atividades agrícolas e dedicaram-se inteiramente aos deveres militares, tornando-se guerreiros profissionais. “Paulatinamente, entre senhores e seguidores (vassalos) vai se formando inquebrável laço de lealdade. Todas essas virtudes de samurai se aperfeiçoam com o correr do tempo, no calor e no perigo das batalhas frequentes.” (YAMASHIRO, 1985)
Como chefes importantes de bushidan, destacam-se as famílias Taira (Heishi) e Minamono (Genji), ambas descendendo de Tenno. A família Taira descende de Kammu Tenno, e a família Minamoto descende de Seiwa Tenno. Apesar de ambas descenderem de imperadores, essas famílias se hostilizam por muito tempo, envolvendo-se em muitos conflitos. 
INSEI 
Yorimichi Fujiwara não teve nenhum herdeiro, o que fez com que fosse substituído por Gosanjô Tenno. Este homem, não sendo um Fujiwara, adotou uma política independente do sekkan seiji, pois não pretendia que a corte continuasse sobre influência absoluta daquela família. Em 1069 decretou que os shôen fossem reorganizados, criando o Registro dos Shôen, que fazia com que todos os [4: Primeiros nomes virão, neste trabalho, primeiro que o sobrenome.]
que pertenciam esses terrenos apresentassem documentos relativos às suas terras. A família Fujiwara ficou muito desgostosa, e resistiu às novas medidas. 
Depois de quatro anos, o imperador renuncia e dá espaço ao Shirakawa Tenno, que segue as mesmas diretrizes deixadas por Gosanjô, visando recuperar o prestígio da coroa. Depois de 14 anos no poder, subitamente ele renuncia a Horikawa Tenno, que era apenas uma criança. Obviamente não fora por acaso: Shirakawa intitula-se Jôkô (Ex- imperador), inaugurando assim o regime Insei, pois o jôkô se retira para o In, que seria o palácio do ex-imperador. É, até então, uma função exclusiva, mas que perdura por quase cem anos.
Esse sistema consiste no jôkô governar sem ser imperador. O tenno fica encarregado de funções cerimoniais enquanto este cuida dos negócios políticos efetivos. Dessa maneira, abrem-se caminhos para outras famílias na corte que não os Fujiwara. “Esta duplicidade de governo traz como consequência maior confusão na área política.” YAMASHIRO, 1985). Os jôkô que formaram efetivamente o Insei, são todos budistas, tornando-se Hô (imperador monge), construindo diversos templos, o que aumentou os gastos da coroa, resultando em corrupção de instituições paralelas e subornos. 
Famílias Taira e Minamoto
Gosanjô contou com o apoio da família Minamoto, que se tornava cada vez mais influente, porque o jôkô confiou ao clã combater os povos de ezo, também conhecidos como ainu, na modernidade. A família Minamoto pediu ajuda aos guerreiros da região leste, e conseguiu criar laços de lealdade com estes. Porém, visando contes o poder dos Minamoto, Gosanjô contratou os serviços do clã Taira, outro grupo poderoso de samurais. Ambos lutaram ao lado do imperador. 
Revoltas Hôgen e Heiji
Em 1156, ocorre o que se chama da rebelião de Hôgen, entre o tenno e o jôkô pelo controle do país. Isso ocorre quando Toba-hoo falece e Sutoku jôkô assume e provoca uma rebelião contra o imperador Goshirakawa. Este, por sua vez, convoca Yoshitomo Minamoto e Kiyomori Taira, assim, vencendo a rebelião de Hôgen. Desde essa época, os clãs Taira e Minamoto tornam-se rivais.
Pouco tempo depois, em 1159, Yoshitomo Minamoto alia-se a Nobuyori Fujiwara, que tem estreita relação com o atual jôkô. Eles invadem o palácio e matam Michinori Fujiwara, aliado de Kiyomori Taira, e chegam a ocupar o palácio. Porém, Kiyomori consegue dominá-los. Foi a primeira batalha que colocou os dois clãs um de frente para o outro. A vitória foi da família Taira, e este ocorrido foi chamado de revolta de Heiji.
Depois da revolta, os Minamoto dispersaram-se, mas teriam sua revanche. Kiyomori Taira agora era considerado um herói da corte, e depois tornou-se dajô-daijin (Ministro-presidente). Ele faz muitas mudanças, e muitos homens do clã Taira passam a ocupar cargos importantes. Por essa razão, muitos começam a tentar derrubá-los, mas sem sucesso. Porém, um grande rival dos Minamoto aparece: Yoritomo, e juntamente com ele, muitos outros Minamoto se unem novamente para derrubar os Taira, e conseguem. Yoritomo, principalmente com ajuda de seu irmão Yoshitsune, conseguem expulsar os Taira da corte em Heian. Os Taira acabam morrendo na batalha naval conhecida como Dan-no-Ura. Essa batalha, como já mencionado, representa o fim do clã Taira.
Figuras Importantes
A história de Yoritomo, seu irmão Yoshitsune, seu fiel súdito Benkei e a amada de Yoshitsune, Shizuka Gozen é conhecida pelos japoneses pelo seu final trágico. Esses últimos três personagens são muito queridos por eles, pois todos mostram grande lealdade aos seus ideais, mesmo perante às dificuldades. 
Yoshitsune, quando soube que seu irmão havia iniciado um movimento pela queda do clã Taira, resolveu unir-se a ele. Conseguiu grandes feitos a favor do irmão, porém, este, cego de inveja e se sentindo ameaçado, mandou mata-lo. Ele se refugiou na casa de um velho amigo, Fujiwara-no-Hidehira, e também foi protegido por seu fiel companheiro Benkei, que possuía força descomunal e era chamado de Oniwaka (jovem demônio) quando criança. Há várias versões de suas façanhas representadas em peças de Kabuki, Noh etc. “Na batalha de Koromo-gawa, Benkei, Benkei postou-se em pé sobre a ponte, apoiando-se em seu cajado de ferro e impedindo o avanço inimigo, servindo-se de escudo para proteger Yoshitsune, tornando-se alvo de flechas inimigas.” (KURIHARA, 2009).
Shizuka Gozen, uma jovem dançarina de estilo tradicional shirabyôshi, apaixonou-se por Yoshitsune, e ele por ela, sendo transformada em sua concubina. Porém, quando foi perseguido pelo irmão, Shizuka foi levada para Kamakura para ser interrogada junto de sua mãe sobre o paradeiro de seu amado. Ela se negou, além de provocar a ira de Yoritomo, ao dançar e entoar o famoso poema que falava de sua paixão por Yoshitsune. Ela permaneceu tempo o suficiente em Kamakura para dar a luz ao filho de Yoshitsune, mas este foi morto por Yoritomo. Depois, Shizuka voltou para Heian, e faleceu com pouco mais de 20 anos. 
Yoshitsune, que estava refugiado na casa de seu amigo, foi assassinado pelo filho deste, Fujiwara-no-Yasuhira, pois este temia a represália de Yoritomo. Posteriormente, ele e seu clã são destruídos pelo mesmo. 
INFLUÊNCIA DO BUDISMO
Depois que Michizane conseguiu
cancelar o kentô-shi, pode-se dizer que houve a nacionalização da cultura. Não foi diferente no caso do budismo, onde ele se desenvolveu excepcionalmente na era Heian. 
Mesmo que o Japão tivesse outras crenças outrora, o budismo foi bem recebido e difundido pela nobreza. Para eles, possuía um embasamento teórico, era mais racional, além de ter sido sedimentado pelo brilhante príncipe Shôtoku. O que ajudou o budismo a ser difundido pelo Japão de modo mais geral, foi o surgimento de famílias influentes e poderosas no interior. Com essa difusão, também alastra-se a ideia de que os deuses do shintoísmo e Buda são, na verdade, o mesmo. “Segundo essa teoria, a própria deusa do Sol, Amaterasu Omikami e os deuses do shintoísmo não passam de Buda transfigurado.” (YAMASHIRO, 1985)
Dentro do budismo existem várias seitas, e na era Heian, surgiram duas muito importantes, dentre várias outras: as seitas Tendai e Shingon. Essas duas são genuinamente nacionais. Todavia, as seitas foram criadas por dois homens que viajaram à China para colher conhecimento, quando as missões à Tang ainda não haviam sio suspensas. Eram eles o monge Saichô, que fundou a seita Tendai, e o monge Kûkai, que fundou a Shingon. Ambas tinham muita influência no meio aristocrático, e também tiveram o seu auge. Shingon (Palavra Verdadeira) era a que a família imperial tinha preferência, por suas características imediatistas e de proteção às coisas terrenas. Já a seita Tendai teve um favoritismo pelo lado dos intelectuais, pois pregava a igualdade entre todos os homens. 
De qualquer maneira, ambos – Saichô e Kûkai – dedicaram suas vidas a manter a glória e a ordem da nobreza da corte, e ambos receberam o título de Daishi (Grande Mestre), até então inédito. 
As seitas Tendai e Shingon foram as mais famosas e influentes na era Heian, mas também houve uma, que não chega a ser propriamente uma seita, fundada pelo monge Hônen e pregada pelo monge Kûya, já no fim da era Heian: era a seita Jôdo. Ele pregava entre o povo de Quito, a salvação pelo nenbutsu (oração budista), invocando o Buda Amidabutsu, e desta forma, conseguiu muitos seguidores. Também que o povo procurasse encontrar a paz espiritual, e a salvação no mundo da Terra Pura (Jôdo). Ela foi fundada em 1175, e foram, nesta época, criados muitos templos suntuosos na tentativa de recriar o gokuraku (paraíso dos budistas). 
Pavilhão da Fênix
Um monge famoso chamado Gen-shin, da seita Tendai, escreveu Ojo-Yoshû (Essência da Salvação), que estabelecia regras para se entrar no paraíso budista. E por influência desta seita, Michinaga Fujiwara, conhecido por sua extravagância e ostentação, criou o Hojô-ji. E seu filho, Yorimichi fez erguer o Byôdôin no ano de 1053. O primeiro templo desaparece com o tempo, mas o Pavilhão Fênix do Byôdôin ainda se mantem. “Longos corredores se estendem para a direita e esquerda, e o conjunto da edificação lembra uma fênix de asas abertas cortando o espaço.” (YAMASHIRO, 1985)
A BELEZA CULTURAL DA ERA HEIAN
A era Heian é conhecida pela sua beleza cultural estonteante. Esta beleza, predominante da aristocracia, não possuía divisão de sexos, sendo as mulheres também grandes participadoras da evolução cultural da época. O período que vai do século X ao XII denomina-se época da cultura Fujiwara, afinal, eles detinham praticamente todo o poder. Nesta época, desenvolveu-se o Yamato-e e makie, o kana, peça muito importante da produção de grandes obras literárias e sua difusão. Ademais, há a produção de waka, além das construções de muito bom-gosto, tendo as suas estruturas chamadas de shinden-zukuri. Isto, é claro, somado às vestimentas maravilhosas da aristocracia, peça fundamental da cultura Heian.
Aristocracia
A aristocracia vive um ótimo momento na era Heian, mais especificamente, enquanto a família Fujiwara mantem o poder. Não apenas pelas artes, mas as vestimentas também demonstram o requinte da época. Os homens da nobreza vestiam roupas de seda chamadas sokutai, e algo como um chapéu chamado kanmuri. As ricas mulheres vestiam quimonos simples, porém em ocasiões festivas e outros eventos, usavam o juni-hitoe, o quimono de 12 camadas. Além disso, seus cabelos eram sempre longos, com o intuito de misturar-se ao juni-hitoe. As vestimentas também não apresentam mais características chinesas, como observou-se na era anterior. 
Havia vários cerimoniais na corte, com verdadeiros banquetes, e também festas anuais (nenjû gyôji), todas regulamentadas, e também troca de presentes. A música e a dança embelezavam a corte e os templos, como disse Will Durant, em seu livro Nossa Herança Cultural. Ele também assemelhou a classe de Heian com Paris e Versalhes. Chamando-a de “Paris e Versalhes do Japão”. 
Escritoras e literatura
Certamente, o fato que mais demonstra a nacionalização da cultura no Japão é o desenvolvimento do kana. Sabe-se que o man’yôgana veio do kanji, e que era a leitura japonesa no ideograma chinês, e também aproveitando a própria leitura chinesa. Essa mistura, na era Heian, desenvolveu-se para o que chamamos de kana, que é a escrita propriamente japonesa, usando os kanjis com a leitura também japonesa (apesar de ainda manter a leitura chinesa para outros fins. 
O hiragana é o kanji simplificado de forma cursiva, que surgiu com o tempo, adquirindo características próprias. A criação do katakana também é a partir do kanji, porém a partir de partes específicas, e por essa razão, seus traços são mais retos e rígidos. O uso desses dois silabários consolidou-se a partir do século X, de acordo com o livro Breve História do Japão. Antes disso, os japoneses utilizavam os kanji e precisavam aprender chinês para escrever. 
No entanto, essa “nacionalização” da escrita permitiu que muitos autores começassem a produzir obras que eram mais acessíveis à população em geral, que não tinha acesso à educação da língua chinesa. Todavia, antes do kana se estabelecer de fato, esse tipo de escrita não era totalmente bem vista pela aristocracia. Mesmo assim, com a difusão dos kana a produção de waka aumenta. Essa modalidade poética exclusivamente japonesa era toda escrita em chinês. Na era Heian publicam-se coletâneas de waka, como exemplo, o Kôkin-Waka-Shu (Coletânea de Poemas Antigos e Modernos). 
Também surgem as primeiras obras em japonês de ficção, como o Taketori Monogatari (Histórias do Cortador de Bambu) e Ise Monogatari. Surge então duas grandes representantes da arte da literatura, cujas obras são clássicos até hoje: Murasaki Shikibu e Sei-Shonagon. Estas duas mulheres da aristocracia, sendo a primeira da ilustre família Fujiwara, produziram obras que revelaram a vida da corte com requinte e beleza, com o dom da escrita, utilizando-se do kana e não apenas do kanji. Murasaki Shikibu produziu Genji Monogatari, um romance que trata de maneira real os personagens da época. 
Sei Shonagon foi uma contemporânea de Murasaki, e produziu uma bela obra chamada makura no shôshi (Histórias de Travesseiro), que são também crônicas da vida da classe aristocrática. “Estas mulheres dispunham de um método mais livre de expressão.” Disse Nyozekan Hasegawa, no livro Educational and Cultural Background of the Japanese People. Essas mulheres eram comparadas aos intelectuais de hoje. Na época, as mulheres da corte eram estimuladas a escreverem em diários, e para expressar seus sentimentos e a realidade da corte, eram mais confortável usar a escrita criada pelo seu país. Os homens não possuíam essa mesma liberdade. Estavam mais presos aos clássicos chineses. 
Sei Shonagon e Murasaki Shikibu partilhavam uma rivalidade, devido as personalidades díspares. Sei Shonagon possuía gênio forte, e gostava de exibir seu talento, enquanto Murasaki Shikibu era recatada e retraída. Isso fez com que escrevesse críticas severas à Shonagon em seu diário. 
Shinden-zukuri
Não apenas na literatura, mas a arquitetura de Heian também floresceu, personalizando o bom gosto e a harmonia. Um tipo de construção que se tornou comum entre a corte, foi o estilo shinden-zukuri, que consistia
em construções em formas retangulares, ligadas por longos corredores. Havia um jardim panorâmico do lado sul, que era onde o sol batia, e continha um pequeno lago com um pequena ilha no meio, ligada às margens por uma ponte, uma na frente e outra atrás. No próprio palácio imperial adotou-se o mesmo estilo de construção. 
Não se deve esquecer que todo este refinamento é característico apenas da nobreza. Os pobres, ou não tão ricos, construíam suas casas de maneira muito mais humilde, e cobertas de palha. 
Yamato-e
É o tipo percursor da pintura japonesa, e tem início nesta época. Na corte e nas casas dos aristocratas, há belas pinturas monocromáticas pintadas nos fusuma (portas corrediças) ou em quadros pendurados. Também colocavam quadros em biombos dos palácios. Os quadros eram sobretudo sobre animais, a natureza em geral e objetos japoneses. 
CONCLUSÃO
A era Heian foi uma bela época, caracterizada pela mudança da capital para o que hoje é chamada de Quioto, é cheia de belezas e costumes únicos e encantadores. Apesar disso, como sempre, há a disputa de poder entre famílias, sobretudo da família Fujiwara, que ascende desde o começo da era e permanece poderosa até o fim, mesmo sem todo o prestígio. Há o fim do sistema ritsuryô, devido ao poder da aristocracia que dominava cada vez mais terras, e agora havia o domínio dos shôen, no qual os lavradores penaram. Muitos personagens importantes para a história do Japão estão presentes, como Yoshitsune e Benkei, que tiveram finais trágicos que até hoje são contados em peças de Kabuki etc. Na era Heian surgiu os primeiros bushidan, que deram origem à poderosas famílias e aos samurais. Há a marcante disputa entre os Taira e os Minamoto, que no final, foi vencida pelo segundo, que é responsável pelo começo de uma nova era, a era Kamakura, onde instala-se o bakufu. 
Por fim, com a ação de Michizane, um político e intelectual brilhante, vítima de conspiração pela família Fujiwara, conseguiu cancelar as expedições à Tang, e com isso a cultura propriamente nipônica foi desenvolvida. Não sendo apenas belo e harmonioso, mas também imponente, foi construído o pavilhão Fênix, demonstrando o poder do clã Fujiwara, que mantem-se até hoje, mesmo centenas de anos depois. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KURIHARA, Akiko. Breve História do Japão. São Paulo: International Press Brasil, 2009.
YAMASHIRO, José. História da Cultura Japonesa. São Paulo: Ed IBRASA, 1985
http://senhorahistoria.blogspot.com.br - acessado em 12/09/2014

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