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Recomendações de Alimentação e Nutrição Saudável para a População Brasileira

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artigo original
Recomendações de Alimentação e Nutrição
Saudável para a População Brasileira
Rosely Sichieri
Denise C. Coitinho
Josefina B. Monteiro
Walmir F. Coutinho
Instituto de Medicina Social, UERJ -
Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (RS), Departamento de
Nutrição, UNB - Universidade
Federal de Brasília e Ministério da
Saúde (DCC), Departamento de
Nutrição e Saúde - UFV (JBM) e
Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade (WFM).
Recebido em 13/09/99
Revisado em 19/01/00
Aceito em 21/01/00
RESUMO
Apresentamos sugestões para a definição de guias alimentares para a
população brasileira, excetuando as crianças. Os principais objetivos
dessas recomedações são a manutenção de peso saudável e a pre-
venção da obesidade, das doenças cardiovasculares, do diabetes
mellitus tipo 2 e da osteoporose. As mensagens para o público têm
duas pressuposições: retomar hábitos saudáveis da dieta brasileira e
estimular o consumo de alimentação saudável ao invés de formular
proibições. As principais mensagens incluem: consumo de alimentos
variados, em 4 refeições ao dia; manutenção de um peso saudável;
aumento da atividade física diária; ingestão de arroz e feijão todos os
dias, acompanhados de legumes e vegetais folhosos; ingestão de 4 a
5 porções de frutas todos os dias; redução do açúcar; evitar uso de
refrigerantes; para lanches, comer frutas ao invés de biscoitos, bolos e
salgadinhos; comer pouco sal; usar óleos e azeite ao invés de outras
gorduras; tomar leite e comer produtos lácteos, com baixo teor de
gordura, pelo menos 3 vezes por dia. (Arq Bras Endocrinol Metab
2000;44/3: 227-32)
Unitermos: Guias de alimentação; Obesidade; Doença cardiovascular;
Osteoporose; Diabetes; Prevenção.
ABSTRACT
We present suggestions for dietary guidelines for healthy Brazilians,
excluding young children. These guidelines aim to prevent obesity, car-
diovascular diseases, type 2 diabetes mellitus and osteoporosis. The mes-
sages to the public were based on two presumptions: to get back tradi-
tional Brazilian healthy dietary patterns and to stimulate the consumption
of these foods more than to formulate prohibitions. The main messages
are: eat at least four meals a day, and do not skip meals; maintain a
healthy weight; increase daily physical activity and exercise; eat rice
and beans with vegetables everyday; eat four to five portions of fruits
everyday; reduce sugar, sweets and sodas; choose a fruit instead of
deep fried foods or sweets for snacks; use salt only in moderation; use oil
or olive oil instead of other fats; drink or eat low fat dairy products at least
three times a day. (Arq Bras Endocrinol Metab 2000;44/3: 227-32)
Keywords: Dietary guidelines; Obesity; Cardiovascular disease; Osteo-
porosis; Diabetes; Prevention.
OESTABELECIMENTO DE GUIAS DE ALIMENTAÇÃO e nutrição saudável tempor base o reconhecimento de que um nível ótimo de saúde depende
da nutrição. Com o aumento da obesidade e das doenças associadas à
obesidade, no Brasil, há que se combinar orientações para a redução das
deficiências nutricionais, ainda presentes, com orientações visando a pre-
venção das doenças crônicas não transmissíveis.
Neste cenário, as medidas preventivas ocupam
lugar de destaque, não só em função de que a pre-
venção precoce das doenças associa-se a melhor quali-
dade de vida, mas também porque, as medidas te-
rapêuticas para a obesidade, um dos principais proble-
mas nutricionais do presente, têm sido de pouca valia.
A base científica para prevenção baseia-se em
dois componentes. O primeiro seria o conhecimento
dos processos biológicos e epidemiológicos subja-
centes ao aparecimento das doenças e o segundo a efe-
tividade das intervenções (1).
É pequeno o conhecimento acumulado, no
Brasil, sobre a efetividade de intervenções para prevenção
das doenças crônicas. Grande parte da experiência pre-
ventiva no Brasil tem origem na prevenção das doenças
infecciosas e das doenças carenciais, cuja prevenção tem
um caráter mais específico. Para as doenças crônicas este
quadro é muito diferente. Grande parte das chamadas
doenças crônicas, como infarto do miocárdio, diabetes,
canceres, hipertensão, apresentam-se intimamente rela-
cionadas e há uma verdadeira rede de relações das
doenças entre si, bem como dos fatores de risco a elas
associados. Assim, a hipertensão arterial associa-se ao dia-
betes tipo 2, que por sua vez associa-se à redução do
HDL colesterol e ao aumento de triglicerídios (2). O
tratamento clínico não pode ignorar estas associações, e
o mesmo deve ocorrer com os programas de prevenção.
Além destas doenças estarem associadas, os fatores de
risco para as doenças crônicas não transmissíveis ocorrem
de forma conjunta e interdependente. Deixar de fumar
associa-se a ganho de peso (3,4) e, comportamentos
como realizar atividade física de lazer e comer mais fru-
tas agrupam-se nos mesmos indivíduos (5).
Portanto, mesmo que muitos estudos epidemi-
ológicos em doenças crônicas busquem um nutriente
específico que seria o responsável pela diminuição da
incidência, e mesmo que em alguns casos este conheci-
mento possa representar, no futuro, a forma mais efeti-
va de prevenção para uma doença específica, a abor-
dagem coletiva das doenças crônicas não transmissíveis
parece ser a forma mais indicada de prevenção primária.
Assim, uma proposta de alimentação saudável,
para prevenção das doenças crônicas não transmis-
síveis, há de propor dietas que estejam ao alcance da
sociedade como um todo, e que tenham um impacto
sobre os mais importantes fatores relacionados às várias
doenças. Aumentar o consumo de frutas e verduras e
estimular o consumo de arroz e feijão são exemplos de
proposições que preenchem estes requisitos.
Recente publicação do World Cancer Research
Control (6), em conjunto com o American Institute for
Cancer Research também enfatiza uma perspectiva glo-
bal para a prevenção do câncer. Nesta publicação con-
sidera-se que modificações da dieta, em conjunto com a
abolição do tabagismo, reduziriam em dois-terços a
incidência global dos canceres. Ainda nesta publicação,
sugere-se que modificações no sentido de uma vida mais
saudável, teriam um impacto, em relação às doenças
crônicas, similar ao causado pela melhoria das condições
de saneamento, na redução de doenças infecciosas.
A mesma abordagem tem sido proposta para a
vigilância do diabetes tipo 2, com avaliação de sistemas
de doenças e não de doenças isoladas (7). Consistente
com estas observações, guias alimentares para os países
desenvolvidos, já há algum tempo, têm se voltado para
a manutenção da saúde e a redução do risco das
doenças crônicas em geral (8). Muitos países na
América Latina também desenvolveram guias (9) e
para o Brasil o Instituto Danone realizou, recente-
mente, um encontro para definição de uma alimen-
tação equilibrada para a população brasileira (10).
Também relevante no estabelecimento de
recomendações alimentares ou de guias alimentares é
como tratar assuntos conflitantes ou que causem
apreensão desnecessária na população. O consumo de
álcool, por exemplo, é considerado um fator de pro-
teção para as doenças cardiovasculares; contudo, tem
sido difícil adotarmos uma medida de saúde pública
que considerasse o consumo de álcool, dada sua reper-
cussão nas doenças por causas externas e alguns can-
ceres. Um outro exemplo é o da importância dos áci-
dos graxos trans no desenvolvimento da doença car-
diovascular e de como se transforma este conhecimen-
to em ação preventiva, sem causar na população o sen-
timento de que as medidas anteriores como, por exem-
plo, redução das gorduras saturadas de nada valem.
Quanto à base científica para propor guias ali-
mentares para a prevenção de doenças crônicas não
transmissíveis ela é bastante ampla. As doenças cardio-
vasculares declinaram de forma importante nos países
desenvolvidos decorrente de ações efetivastanto de
prevenção primária como secundária. Nos Estados
Unidos, nos últimos 30 anos houve uma redução da
mortalidade por doença coronariana da ordem de 50%,
atribuível tanto ao tratamento quanto à prevenção
primária (11). Para a América Latina como um todo, a
prevenção das doenças cardiovasculares ainda é um
desafio (12). Contudo, Lotufo & Lolio, 1996 (13),
em análise da mortalidade por doenças cardiovascu-
lares no estado de São Paulo, mostraram que a tendên-
cia ascendente da mortalidade por doenças coronaria-
nas e cerebrovasculares reverteu-se na década de 70, e
que alterações de fatores de risco importantes, como
dieta e tabagismo, estariam associados à redução da
incidência destas doenças.
Embora muitos estudos indiquem a importân-
cia de diferentes fatores da dieta como fatores de risco
para canceres e diabetes tipo 2, a prevenção dos can-
ceres e do diabetes é ainda incipiente mesmo nos paí-
ses desenvolvidos (2,1).
Por outro lado, a obesidade é uma condição
que aumenta o risco de morbidade para as principais
doenças crônicas: hipertensão, dislipidemia, diabetes,
doença coronariana, alguns tipos de câncer e colecis-
tite e, embora não se conheça uma estratégia adequa-
da de prevenção, sua prevenção e tratamento apresen-
tam-se como um dos grandes desafios deste século
(14). A importância que a obesidade vem assumindo
no Brasil (15) não pode ser ignorada e, a anunciada
epidemia de obesidade para os Estados Unidos, é fato
também no Brasil. Portanto, o estabelecimento de
dietas saudáveis deve contemplar como prioridade a
prevenção do ganho de peso. Incluir o consumo ali-
mentar e a atividade física no âmbito de comporta-
mentos para uma vida saudável é talvez a mais impor-
tante tarefa de promoção da saúde.
Do ponto de vista da alimentação saudável, su-
gere-se que as recomendações devem basear-se em ali-
mentos mais do que em nutrientes. Assim, a Organiza-
ção Mundial de Saúde, em publicação recente (9), suge-
re o estabelecimento de metas realísticas de consumo de
alimentos específicos, sendo estes alimentos identificados
em função dos nutrientes que se pretendam abranger.
No estabelecimento das recomendaçõs para a
população brasileira consideramos como relevante as
intervenções referentes a prevenção da obesidade, das
doenças cardiovasculares, câncer, diabetes tipo 2 e
osteoporose e, quanto à definição dos nutrientes,
foram incluídos aqueles cujos achados são mais consis-
tentes na literatura: consumo de gorduras, com ênfase
nas gorduras saturadas e trans, de ácido fólico, vitami-
na C e E, sódio, cálcio e no consumo de fibras.
A proposta de uma dieta para a população
brasileira tem, ainda, outros dois pressupostos: o res-
gate dos hábitos alimentares saudáveis próprios da
comida brasileira; e a identificação de alimentos, ou
grupo de alimentos, cujo consumo deva ser estimula-
do, mais do que formular proibições. O feijão é um
destes elementos de resgate, pelo seu conteúdo em
fibras, em ácido fólico e em ferro.
O desenvolvimento de guias para o Brasil é tam-
bém resposta ao crescente interesse do público em geral,
dos profissionais de saúde e dos planejadores em saúde,
em relação ao papel da dieta na promoção da saúde e
prevenção das doenças crônicas. Propomos que seja cria-
da uma dinâmica nacional de discussão de estratégias a
serem implementadas nesta área e que estas se dêem de
forma contínua e integrada, com a participação dos
membros da sociedade civil, das universidades, dos
serviços e da imprensa. Estas recomendações visariam
atender, conforme sugerido por Barata & Barreto, 1996
(16), as necessidades como expressão das potencialidades
humanas e não aquelas redefinidas e priorizadas pela
ótica exclusiva do serviço de saúde. Fomentar atividades
de informação ao consumidor e estabelecer especificação
para rotulagem pelo Ministério da Saúde seriam metas
importantes dentro desta ótica.
PESO SAUDÁVEL
As controvérsias sobre o peso adequado para adultos e
idosos, com uma conduta mais frouxa de controle de
peso para os idosos, embora não completamente supe-
radas, parecem tender para o ideal de manter-se magro
na vida adulta. Manter um peso corporal adequado e
não ganhar peso durante a vida adulta parece associar-se
a menor mortalidade e maior bem estar (17).
Os exercícios/atividade física devem ser alta-
mente estimulados, pois aumentam a mobilidade e
consequentemente a qualidade de vida. Parece haver
boas razões para encorajar exercícios regulares e
pequena perda de peso, mesmo entre pessoas mais ve-
lhas com sobrepeso, com vistas a sua longevidade e
qualidade de vida (18,19).
As mulheres na pós menopausa parecem ser um
grupo particularmente vulnerável ao aumento de peso,
deposição abdominal de gordura e grande dificuldade
para perder peso (20). Os resultados de uma recente
meta-análise, com mulheres na pré menopausa, sub-
metidas a dietas com restrição relativamente severa
(800 a 1200kcal/dia), por pelo menos 10 semanas,
mostraram que, embora a taxa de metabolismo basal
em obesas diminua significativamente, tanto com dieta
hipocalórica quanto com dieta associada com progra-
ma de exercício, a redução da taxa de metabolismo é
menor na presença do exercício (21).
Adolescentes são particularmente influenciáveis
em seu estilo de vida e deveriam ser prioritariamente
contemplados em programas de saúde coletiva. Vários
estudos indicam que a manutenção de um peso con-
siderado adequado entre meninas adolescentes se faz
através de práticas alimentares inadequadas, como
omitir refeições, e que o consumo de nutrientes como
cálcio e ferro é inadequado neste grupo (22).
Para adultos considera-se como peso saudável,
o peso relativo, avaliado pelo índice de massa corporal
(IMC= peso em kg/altura2 em m) de até 24,9 (23).
Para adolescentes sugere-se também a utilização do
IMC, contudo os pontos de corte adequados são ainda
objeto de discussão (24).
MACRONUTRIENTES
A definição dos macronutrientes em sociedades onde a
prevalência de obesidade é importante, passa necessaria-
mente pela provisão de energia e sua capacidade de acu-
mular-se como tecido adiposo. Há na literatura uma
importante discussão sobre se existe uma associação
entre consumo de gordura e obesidade (25), ou se o que
realmente importa são as calorias consumidas (26). Dado
que optar pela vertente de que as calorias totais são o
principal fator associado à obesidade, não impede que no
futuro se agregue a idéia de que a gordura tem um papel
especial, propõem-se que as guias devem indicar clara-
mente que o importante é a redução do consumo calóri-
co total, principalmente dos itens de alta densidade
calórica como doces, refrigerantes, tortas, etc.
Acumulam-se também evidências de que a subs-
tituição das gorduras por carboidratos refinados, como
tem ocorrido em grande parte dos produtos industria-
lizados, nas versões light e diet, pode aumentar o risco
para a doença coronariana. Assim, os guias não deveri-
am sugerir a substituição de gordura por carboidrato
(27). As gorduras líquidas com óleo de soja, canola,
girassol, etc. são os melhores substitutos para as gor-
duras com ácidos graxos trans e as saturadas. Para os
carboidratos, a opção preferencial deve ser para os car-
boidratos com alto teor de fibras.
Entre os alimentos da dieta brasileira com maior
teor de fibra incluem-se farinha de mandioca, feijão,
ervilha, milho, amendoim, jiló, pinhão, batata doce,
batata baroa, cará e taioba (28).
MICRONUTRIENTES
Reconhecendo a importância de algumas vitaminas e
minerais na prevenção de doenças crônicas, a Nation-
al Academy of Science, dos Estados Unidos, em con-
traste com práticas passadas, está considerando a pos-
sibilidade de ingestão acima das recomendações para
alguns micronutrientes que possam estar associados à
redução das doenças crônicas. E necessário, contudo,
que se conheça bem a segurança da ingestão de altas
doses de nutrientes(29).
ÁCIDO FÓLICO
A ingestão suficiente de ácido fólico antes da con-
cepção e muito no início da gravidez diminui o risco
de defeitos no tubos neurais: espinha bífida, anence-
falia, e encefalocele. Suplementação com ácido fólico
diminui este risco de 50 a 75%. Adicionalmente, vários
estudos apontam para o papel protetor do ácido fóli-
co, via redução dos níveis de homocisteína, na doença
cardiovascular (30). Nos Estados Unidos, a suplemen-
tação já esta ocorrendo para este nutriente, e é interes-
sante notar que é praticamente impossível atingir,
nesta população, os níveis adequados de ingestão de
400mg, somente através da dieta. No Brasil, se a dieta
tradicional com feijão - que é uma das principais fontes
em nosso meio de ácido fólico -, fosse a base da ali-
mentação e considerando-se que o conteúdo de ácido
fólico do feijão preto cozido é de 256mg (31), seria
possível atingir as recomendações só com a dieta.
Resta saber o quanto é destruído no processo de
cocção caseira, visto que de 50 a 90% do ácido fólico
pode ser destruído no processamento (32).
Existem evidências de que a combinação de
ácido fólico com vitamina B12 resulte em reduções
ainda maiores nos níveis de homocisteína sérica (30).
VITAMINA E
Resultados de várias pesquisas estudando o efeito da vi-
tamina E sobre as doenças do coração mostraram efeitos
protetores associados com ingestão acima das da RDA.
Evidências epidemiológicas indicam uma forte relação
dose-resposta entre a diminuição do risco de doenças de
coração e o aumento da ingestão de vitamina E na dieta
e através de suplementos. Uma proteção significativa
começa com ingestão diária de 67mg de alfa tocoferol. A
oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL)
diminui significantemente em indivíduos que receberam
quantidade acima de 400UI, mas não em indivíduos que
receberam quantidade menores do que 200UI. Ensaio
controlado, duplo cego, mostrou uma significante
diminuição de infarto do miocárdio não fatal em sujeitos
que consumiam vitamina E como suplemento (29).
VITAMINA C
A vitamina C inibe a síntese química de nitrosaminas (a
maioria delas é cancerígena), importante fator de risco
para câncer do estômago. A inibição ocorre no conteú-
do gástrico, mas a inibição não é completa até que a
ingestão atinja cerca de 1.000mg. Estudos epidemi-
ológicos e ensaios clínicos sugerem que uma ingestão de
vitamina C muito maior do que a recomendação de 60 a
90mg, pode reduzir o risco de doenças crônicas como
problemas cardíacos e câncer, especialmente quando
combinados com alta ingestão de vitamina E (29).
Levine et al., 1999 (33) e recente revisão sobre vitamina
C (34) sugerem a ingestão de 200mg/dia, o equivalente
a ingestão de cinco porções de frutas e vegetais.
SÓDIO
Embora existam controvérsias sobre o papel do sal na
gênese da hipertensão arterial, não parece haver risco em
se reduzir o consumo para 110 máximo 3.000mg de sódio
ou 7,5g de sal para a população sem hipertensão, e para
2.300mg de sódio ou 6g de sal para os hipertensos (35).
O consumo diário per capita do ENDEF- Estudo
Nacional sobre Despesa Familiar, 1974, foi de 12g de sal
e em pesquisa recente no município do Rio de Janeiro, a
estimativa de consumo foi também de 12g, com base na
quantidade de sal adquirida mensalmente (15).
Redução do consumo de sal requer grande redu-
ção do consumo de alimentos processados com alta
quantidade de sódio como chips, defumados e enlatados,
bem como evitar adicionar sal aos alimentos já preparados
(36). Produtos enlatados têm até 20 vezes mais sal do que
o produto natural. O processamento dos enlatados pode,
contudo, ser feito com menor teor de sódio, estratégia
que deveria ser estimulada pelo Ministério da Saúde, bem
como a rotulagem dos produtos em relação ao sal.
CÁLCIO
Estimular um adequado consumo de cálcio parece ser
uma importante estratégia de prevenção em relação à
osteoporose, sendo que a maximização do pico de massa
óssea parece ser fundamental. Estima-se que mais de 51%
do pico de massa óssea seja acumulado durante a puber-
dade nas mulheres. Jackman, 1997 (37), concluiu que
95% da quantidade total de mineral do osso deposita-se
entre os 18 e os 22 anos, com o cálcio da dieta sendo
muito importante na otimização do pico de massa óssea.
Ensaios controlados randomizados de suplementação de
cálcio, em crianças e adolescentes, mostraram que o
aumento da ingestão de cálcio aumenta o acréscimo de
cálcio no osso. O Food and Drug Administration dos
Estados Unidos autorizou, inclusive, esta propaganda
nos rótulos dos produtos com cálcio. Os alimentos
fontes de cálcio são também fonte de colesterol e gor-
duras saturadas, e devem, portanto, ser considerados em
conjunto na elaboração dos guias.
DEZ PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO
ADEQUADA
Visando a manutenção de peso saudável e a prevenção
de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes tipo
2 e osteoporose, recomedamos:
1. Consuma alimentos variados, em 4 refeições ao
dia. Pular refeições não emagrece e prejudica a
saúde;
2. Mantenha um peso saudável e evite ganhar peso
após os 20 anos. Evite também o aumento da
cintura;
3. Faça atividade física todos os dias. Inclua na sua
rotina andar a pé, subir escada, jogar bola,
dançar, passear e outras atividades;
4. Coma arroz e feijão todos os dias acompa-
nhados de legumes e vegetais folhosos;
5. Coma 4 a 5 porções de frutas, todos os dias, na
forma natural;
6. Reduza o açúcar. Evite tomar refrigerantes.
7. Para lanches coma frutas ao invés de biscoitos,
bolos e salgadinhos;
8. Coma pouco sal. Evite alimentos enlatados e
produtos como salame, mortadela e presunto,
que contêm muito sal. Evite adicionar sal à
comida já preparada. Aumente o uso de alho,
salsinha e cebolinha. Alimentos ingeridos na sua
forma natural como feijão, arroz, frutas, grãos e
verduras têm pouquíssimo sal;
9. Use óleos e azeite no preparo de bolos, tortas e
refeições;
10. Tome leite e coma produtos lácteos com baixo
teor de gordura, pelo menos 3 vezes por dia.
Componentes da alimentação adequada por
grupos de alimentos:
Este tipo de dieta, com 3 porções de feijão, 6
porções de arroz, 3 porções de verduras, 4 frutas e 3
porções de leite eqüivale a 1.710kcal, 12,7g de fibras,
2.300mg de sódio, 15g de ferro, 322mg de ácido fóli-
co, 232mg de vitamina C e 1.100mg de cálcio.
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Endereço para correspondência:
Rosely Sichieri
Instituto de Medicina Social - UERJ
Av. São Francisco Xavier 524, 7o andar
20551-030 Rio de Janeiro, RJ
Fax: (21)264-1142
e-mail: sichieri@uerj.br

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