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é mais freqüente em pessoas de alto padrão, habituadas a comer carne mal cozida, sendo as reinfecções sempre possíveis. Os esporocistos resistem bem nos esgotos e no meio ambiente. Eles asseguram ampla contaminação das pastagens onde os resíduos dos esgotos são por vezes empregados como adubo. As aves podem, também, disseminar mecanicamente os esporocistos. A prevenção da infecção humana consiste em só consumir carne bem cozida. Por atingir a musculatura esquelética e cardíaca dos animais, a doença é impor- tante no gado e constitui um problema para a medicina veterinária. 12 CryptosporidiumCryptosporidium e criptosporidiosee criptosporidiose Esporozoários deste gênero (classe Eucoccidiida) são encon- trados em grande número de vertebrados, sendo atualmente 22 as espécies consideradas válidas. No intestino delgado, apresen- ta-se como um esquizonte esfé- rico extracelular (com 5 a 7 µm), aderido ao epitélio ou contido em um vacúolo parasitóforo. O oocisto maduro, com 4 esporozoítas mede 4 a 5 µm (A) e é a forma infectante eliminada pelos pacientes ou animais parasitados. Cryptosporidium é um dos prin- cipais responsáveis por diarréias infantis, em crianças de 2 a 5 anos, que freqüentam creches. Cryptosporidium parvum no intestino do camundongo: A, oocisto maduro com 4 esporozoítas; B, fim da esqui- zogonia (apud Grassé – Traité de Zoologie). 13 Cryptosporidium e criptosporidiose A contaminação é de ori- gem fecal-oral, entre pessoas, ou a partir de animais. Mas também por água ou alimen- tos contaminados com os oocistos. Surtos da doença, no Brasil, têm aumentado entre crian- ças que freqüentam creches. O período de incubação é de 4 a 14 dias, com início ex- plosivo de enterocolite aguda. Porém, o quadro clínico de diarréia e cólicas é autolimi- tado, curando-se o paciente ao fim de 1 ou 2 semanas. Sua gravidade é maior quando há imunodeficiência de qualquer natureza, particu- larmente em casos de AIDS. Nestes casos o início é insidioso e se agrava progres- sivamente, com diarréia aquo- sa, cólicas, dor epigástrica, náuseas e vômitos, mal-estar e perda de peso. Há intolerância à lactose, e má absorção de gorduras. O envolvimento das vias biliares pode agravar ainda mais o quadro crônico e aumentar as dificuldades de tratamento. 14 Cryptosporidium e criptosporidiose O exame físico constata desidratação e caquexia, persistindo a sintomatologia (se o paciente não for reidra- tado) até a morte, por outras causas. Entre os indivíduos HIV- positivos com diarréia, a pre- valência desta doença está em torno de 14%, nos países desenvolvidos, e de 24% nos países subdesenvolvidos. O diagnóstico é feito com a pesquisa de oocistos nas fezes (pelos métodos de concentração e coloração), ou sorologicamente (pelas técnicas de ELISA ou IFI). Vários antibióticos têm sido ensaiados para dimi- nuir a diarréia, mas até o presente não há nenhum tratamento eficaz. Há necessidade de man- ter o paciente reidratado. 15 Cryptosporidium e criptosporidioseCryptosporidium e criptosporidiose A criptosporidiose é uma zoonose de animais domés- ticos e do gado, encontrada em todos os continentes. Mas a transmissão entre as pessoas parece ser muito importante. A prevalência é mais elevada entre os homos- sexuais aidéticos. Os indivíduos com AIDS são grandes eliminadores de oocistos. Também os bovinos são eliminadores de oocistos em grandes quantidades. Os oocistos mostram-se bastante resistentes, no meio exterior. Eles são destruídos apenas pelo formol a 10%, pela água sanitária do comércio, e pelo aqueci- mento a 65oC, durante 30 minutos. 16 Leituras complementares REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2002 [380 páginas]. REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2001 [856 páginas]. WORLD HEALTH ORGANIZATION – Basic Laboratory Methods in Medical Parasitology. Geneva, WHO, 1991. 17 ToxoplasmoseToxoplasmoseToxoplasmoseToxoplasmose 18 Toxoplasma gondii e Toxoplasma gondii e toxoplasmose toxoplasmose Toxoplasma gondii é um esporozoário que infecta grande número de vertebra- dos de sangue quente, inclusive o homem. Invade as células do hos- pedeiro, onde se multiplica. Nos adultos causa infec- ção crônica assintomática, que pode atingir 15 a 60% ou mais da população. Mas também pode gerar um quadro agudo febril, com linfadenopatia. Nas crianças, produz uma infecção subaguda com encefalopatia e coriorretinite que nos casos congênitos é particularmente grave. Os imunodeprimidos com sorologia positiva desenvol- vem uma encefalite. 19 O O Toxoplasma gondiiToxoplasma gondii Ci, citóstoma; Co, conóide; Fc, fibras do conóide; G, aparelho de Golgi; M, mitocôndria; Me, mem- brana externa; Mi, membrana interna; N, núcleo; R, roptrias, Re, retículo endoplásmico. Parasito endocelular obrigatório, o T. gondii invade de preferência as células do sistema fagocítico mono- nuclear, os leucócitos e as células parenquimatosas. Endocitado, ele permanece no vacúolo parasitóforo sem ser digerido e aí se multiplica por um processo de brotamento interno ou endogenia (A a E). 20 O Toxoplasma gondii Toxoplasma gondii (flecha) no interior de um vacúolo do macró- fago; Co, conóide. (Foto de Regina Milder). O ciclo dos parasitos faz-se com uma fase sexuada na mucosa intestinal dos hos- pedeiros definitivos (gatos, p. ex.) e outra assexuada nos hospedeiros intermediários. Mas também em outros tecidos dos hospedeiros definitivos. Em um organismo não-imune, dentro do vacúolo parasitóforo, a multiplicação é rápida e forma pseudocistos cheios de parasitos - os taquizoítas - que acabam por romper a célula e vão invadir outras células. Após o desenvolvi- mento da imunidade, a multiplicação torna- se muito lenta e os parasitos - bradizoítas - acumulam-se em cis- tos cada vez maiores, característicos da fa- se crônica da infec- ção. Cisto com bradizoítas. 21 Infecção por Toxoplasma gondii T. gondii só é cultivável em meios celulares e, no laboratório, é mantido em camundongos. Tanto os esporocistos eliminados pelos gatos como os taquizoítas e bradizoítas encontrados nos tecidos são infectantes. Mas o poder infectante varia com as fontes de infecção, exigindo por vezes “repiques cegos” para adaptá-los a determinado hospedeiro. Os ciclos de transmissão incluem: A, gatos, onde ocorre a fase sexuada dos toxo- plasmas; B, oocistos por eles eliminados com as fezes, que poluem o solo; C, os roedores, o gado (D) e outros animais que se infectam no pasto; E, gente que come carne mal cozida de animais infectados. As crianças (F) infectam-se brincando na areia poluída por fezes de gatos. A transmissão congênita (G) ocorre em animais, tal como na espécie humana. 22 Infecção por Toxoplasma gondiiInfecção por Toxoplasma gondii Com linhagens virulentas de T. gondii, os parasitos invadem principalmente os macrófagos e leucócitos, sendo logo encon- tráveis em todos os tecidos do organismo. Dezenas de taquizoítas acu- mulam-se no interior de cada célula, formando um pseudo- cisto que acaba por romper-se e disseminar os toxoplasmas para invasão de novas células. O resultado pode ser fatal em poucos dias. Com linhagens não-virulentas, inoculadas em animais, formam- se pseudocistos pequenos na primeira semana cujo número passa a decrescer, desapare- cendo após duas semanas. Mas, no cérebro e outros órgãos, alguns parasitos se multiplicam cercados por uma membrana cística. Normalmente, os cistos não se rompem, nem produzem reação em torno. Em todas as espécies de hospedeiros desenvolve-se certo grau de imunidade nas reinocu-