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QUESTÕES DA V2

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1. Considere o tema do seu VT. Quais são as interfaces teóricas e práticas entre o seu tema de VT e a temática da Atuação do Psicólogo no contexto hospitalar? (2,0 pts) 
A entrada do psicólogo no hospital geralmente se justifica pela idéia de humanização da assistência em saúde. Neste sentido, parto do pressuposto de que, tanto o hospital, quanto a prática clínica, são por demais humanas, à medida que o hospital reúne uma enorme diversidade de experiências, muitas vezes extremas. Trata-se de um lugar onde nos defrontamos com a fragilidade da manutenção da vida, com a complexidade do funcionamento corporal, com a dor e com os sentimentos profundos frente às ameaças de morte e às perdas. (FERREIRA; 2004)
Os três termos que aparecem justificando a prática ou a missão do psicólogo no hospital merecem uma consideração etimológica: humanizar quer dizer tornar humano, ou seja, ganhar a qualidade de humano, de humanidade, que significa clemência, compaixão — isto é, uma prática humanitária que visa o bem-estar, o amor ao semelhante. Por assistência, encontramos o latim adsistere — estar presente, amparar, auxiliar, acompanhar. Para o termo saúde (salute), temos salvação, conservação da vida, que pode desdobrar- se em redimir ou livrar-se do sofrimento. (LIMA; 2007)
Pensando a atuação profissional frente à Intersexualidade, Santos (2003; p.29), afirma que: “a assistência aos casos de intersexo requer uma atuação desde o plano de diagnóstico e tratamento até um acompanhamento ao longo do desenvolvimento no ciclo vital, sobretudo no que diz respeito à dimensão psicossocial”.
O apoio psicológico deve se estender a toda à rede familiar, refletindo-se na aceitação e enfrentamento da criança frente à sua condição. Em relação aos pais, “o apoio psicológico auxilia-os a solidificar o gênero designado de seus bebês, evitando que tenham uma percepção ambígua (COSTA; 2012, p.29).
1.1 Como as recomendações sobre a postura profissional do psicólogo da saúde (Quadro 1 - ANEXO) podem contribuir para esclarecer o seu papel de psicólogo dentro do contexto A clinica da intersexualidade e seus desafios para os profissionais de saúde de uma instituição hospitalar ? Cite pelo menos 4 fontes, indicando as referências (NBR 6023). (3,0 pts)
Em todos os casos do psicólogo no ambiente hospitalar o profissional precisa ter clareza de expressão. De acordo com Diamond e Sigmundson (1997-b; p. 1050), em seu roteiro para procedimentos com pessoas com genitália ambígua, afirmam que “temos que ser ’autoridades’ em prover informação e aconselhamento...e não ser ‘autoritários’ nas nossas ações. Devemos permitir ao paciente pós-púbere um tempo para considerar, refletir, discutir e avaliar e, só então, ter a última palavra na modificação de sua genitália, papel de gênero e designação sexual final”.
O trabalho do psicólogo no contexto hospitalar deve ser baseado em dados de pesquisas e avaliação constante das intervenções implementadas porque segundo Dayrell (2008), a Psicologia deveria se colocar a serviço do sujeito e não da normalização. A cirurgia é um dispositivo que busca enquadrar o sujeito intersexo num dos modelos de sexo/gênero disponíveis na sociedade. A contribuição psicológica ao debate sobre a intersexualidade deveria apoiar-se em uma característica de nosso campo de saber e de atuação profissional: o acolhimento às demandas dos indivíduos intersexo e não apenas a atuação a favor da normalização.
Habilidades para relacionamento interpessoal e para o trabalho em equipe. Porque segundo Lima (2007) A atuação da psicologia frente à intersexualidade é perpassada por debates sobre a própria atuação da profissão nos espaços de saúde e em específico hospitalar. É nos hospitais que a intersexualidade é analisada e o veredicto dado através das intervenções médicas sendo que a psicologia é convocada, como em outros casos, quando existe uma necessidade de auxiliar o sujeito e/ou familiares na aceitação do tratamento.
O psicólogo deve respeitar a hierarquia da instituição, mas nunca deixar de olhar o paciente como sua principal função. Segundo Ferreira (2004), a intersexualidade se caracteriza historicamente como algo a ser corrigido, contudo, os corpos não se conformam totalmente à norma que lhe é imposta, cabendo à psicologia a constante averiguação e produção de subjetividades dentro do esperado heteronormativo.
2) Considere o tema de VT que você já trabalhou. ILUSTRE criticamente duas experiências: 
a) um relato que demonstre a presença da humanização na gestão dos sistemas de saúde e seus serviços e; (2,0 pts) 
Saímos do consultório médico e fomos logo marcar a consulta com a psicóloga do Centro de Referência. A consulta foi marcada para a semana seguinte.
No dia da consulta, não sabíamos o que falar porque a psicóloga, diferente dos outros médicos, não pediu para ver o bebê sem a fralda. Naquele consultório não havia muita gente. Era somente a psicóloga para conversar conosco. Até nos mostrou cadeira para sentarmos.
Falei para doutora que meu marido estava muito nervoso porque ele registrou o nenê e viu que poderia não ser um menino.
Eu estava menos abalada que João sentia que era uma menina, já via pelo jeitinho dela.	
Olhando nos nossos olhos a psicólogo perguntou como a gente se sentia.
Falei que me sentia mais calma, sabia que os problemas ainda existiam, mas agora, finalmente eu conseguia organizar melhor as ideias.
João disse que antes estava bastante nervoso, com as mãos tremendo. Falou que desde que o bebê nasceu ele não parava de se preocupar, nem relaxava. Eu mesma já tinha feito muito chá para meu marido dormir.
A psicóloga também perguntou como a gente se sentia com o nascimento de nosso bebê.
João disse que estava bastante chocado com a notícia. Nunca soube que nasciam crianças com “dois sexos” como a nossa. Parecia menino, mas também parecia menina, e depois os exames mostraram útero e ovário. Meu marido perguntou á psicólogo se isso era comum. 
A psicóloga, percebendo a aflição de João, falou:
— Na verdade não é tão raro como pensamos. Aqui neste serviço temos inscritos mais ou menos 600 pessoas nesta condição.
— Tudo isso! João e eu falamos surpresos.
— Todas estas pessoas nasceram como “dois sexo”?
A psicóloga explicou pra gente que nenhuma pessoa nasce com dois sexos, como eu e João pensávamos.
— na verdade os órgãos sexuais ou reprodutivos podem ser diferentes do comum, mas o sexo da criança é um só. Cada pessoa tem um sexo só, mas os corpos são muito diversos, não é mesmo? Seria muito monótono se todos nós fôssemos iguais em tudo na personalidade, nos corpos...
— É verdade. Nossa criança é diferente, mas é normal!
— Linda e feliz
b) uma experiência que demonstre a falta de humanização na área da saúde e além do seu relato proponha um projeto piloto de melhorias apoiado no significado de humanização que poderia auxiliar na resolução das questões levantadas. (3,0 pts)
A falta de humanização será relatada na consulta com a psicóloga integrante da equipe multidisciplinar de um hospital de Brasília, paciente foi levado pela mãe aos 12 anos, tinha nome de menina, mas o paciente não tinha certeza do gênero que queria.
“Ela pensava que eu ia ser mulher. Ela fala que “queria ver essa mulherona que você vai se tornar.” Ai eu falei assim para ela “não sei!” e ela “eu sei que é isso”. Ai eu falei, “não sei não, acho que não”. (...)
Acho que ela pensava que eu ia ser menina também pelas coisas que eu falava, que eu gostava de fazer. Ela perguntava se eu tinha namorado. Eu sempre falei “eu não penso em namorar cedo” e realmente foi o que aconteceu Só que ela fazia umas perguntas que, naquela época de criança, claro, como o nome tava escrito Bahiana, é claro que eu queria ter tudo o que menina tinha, né. Também acho que é por isso que ela achava que eu tinha vontade. Até mesmo quando eu comecei a tomar os hormônios ela falou “agora é que vai dar tudo certo, você só precisa ter calma.” (...) Naquela época eu não me achava normal pelo nome estar Bahiana e não ter nada. Então era isso
que eu tentava falar para ela. Meu nome era Bahiana, com 12 anos não tinha seio, não tinha nada, não tinha nenhuma transformação. Como cabeça assim, eu falava “eu quero ter, se eu sou isso, eu quero ter isso. Eu quero me ajustar.” Ela sempre afirmava, “com os hormônios e cirurgia você vai se ajustar.”
No plano assistencial, freqüentemente percebida como uma doença grave e incorrigível mesmo diante das crescentes possibilidades de intervenção, a condição intersexual tem um significado essencialmente negativo para a família e para o sujeito, provavelmente suscitado pelas inúmeras dificuldades enfrentadas ao longo da sua existência.
Nesses casos, o enfrentamento poderia ser compreendido semelhantemente às demais cronicidades em saúde (diabetes, hipertensão, lesão medular). No entanto, a intersexualidade se caracteriza, principalmente, como uma condição, transcendendo a associação com ‘doença’. Compreender a intersexualidade por esse outro ângulo concede uma conotação favorável à adaptação integral do indivíduo e sua inserção social e faz perceber mais claramente as mudanças que ainda se fazem necessárias na esfera da atuação profissional em saúde.
Esta questão ainda é bem complexa, por falta de abordagem, trabalhos e discussão. O projeto iniciaria ainda na graduação, trabalharia para inserção de uma disciplina que abordaria a questão de gênero, não somente as questões do intersexo, mas também as questões das cirurgias de resignação sexual, as questões das travestis e todo o contexto do transexuais. Desta forma os novos profissionais seriam um pouco mais preparados para entender este universo tão complexo e dotado de preconceitos. Um universo muito distante das academias e que precisam muito ser explorado, trabalhado e principalmente compreendido. 
A falta de uma reflexão sobre os processos de sexualidade e gênero apresenta impactos na atuação profissional diante da intersexualidade. No campo da saúde, a profissão é posta de frente com uma demanda de diversos profissionais e o olhar crítico e a base teórica sobre o tema fazem falta. (DAYRELL, 2008)
Trabalhando em uma equipe multidisciplinar que atende as questões de gênero, o primeiro projeto seria a criação de um grupo de estudo, visando a discussão do assunto e revendo os casos que já aconteceram, estudando o que foi realizado e como poderia melhorar aquele atendimento. Desta forma os profissionais ficariam mais próximos, melhoraria a interação e o conhecimento da equipe, facilitando desta forma o diagnostico e o tratamento. 
Outro ponto muito importante para ser trabalhado como profissional desta equipe e o acompanhamento dos casos acorridos e o fortalecimento da rede é de suma importância que os pacientes e familiares sejam acompanhados pela rede de apoio, e nas pesquisas recente tem demonstrado que estas pessoas não estão sendo acompanhados.
Referências:
DAYRELL, Vívian de Moura. Gênero, Intersexualidade e clínica. Brasília. 2008. Disponível em:< http://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/2620/2/20361160.pdf.> Acesso em: 10 de set 2017
DIAMOND, M; SIGMUNDSON, H. K. Gestão da intersexualidade: diretrizes para lidar com pessoas com genitália ambígua. . Archieve of Pediatric and Adolescent Medicine, 151, 1997-b, pp. 1046-1050. 
FERREIRA, Ademir Pacelli. O Lugar do Psicólogo e da Saúde no Hospital Geral. Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 6, p. 93-98, ago./dez. 2004. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/interagir/article/view/21364/15486>. Acesso em: 15 set. 2017.
LIMA, Shirley Acioly Monteiro de. Intersexo e Identidade: História de um corpo reconstruído. 2007. 110. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.
SANTOS, Moara de Medeiros Rocha. A clínica da intersexualidade e seus desafios para
os profissionais de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, vol. 23, nº. 3,
Setembro/2003.

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