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Introdução a Filosofia

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INTRODUÇÃO A FILOSOFIA
SUMÁRIO
	CAPÍTULO I
Introdução à Filosofia ..........................................................................
CAPÍTULO II
A Teoria do Conhecimento ........................................................................
CAPÍTULO III
Escolas Filosóficas ...................................................................................
Bibliografia ............................................................................................ 
	
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CAPÍTULO I
1- INTRODUÇÃO A FILOSOFIA
A história da filosofia pode ser estudada como uma introdução à filosofia porque apresenta a origem da filosofia. Mas é objeto da história da filosofia ensinar como a filosofia apareceu no tempo.
A história da filosofia é a história do pensamento livre, concreto, ocupa-se somente consigo mesmo. Não existe nada racional que não seja resultado do pensar, não do pensar abstrato, pois este é o pensar inteligente (do pensamento), mas do pensar concreto, que é a razão.
Também aquela pergunta se há de expressar mais diretamente: Em que sentido deve ser considerada a história da razão pensante, isto é, em que acepção? E aqui podemos responder que não pode ser interpretada em nenhuma outra acepção senão no sentido do próprio pensamento. Ou podemos dizer que a própria interrogação é incorreta.
Em todas as coisas podemos perguntar por que sentido ou por que significação (acepção). Assim, numa obra de arte podemos perguntar pela significação da forma. Na linguagem pela significação da palavra. Na religião, pela significação da representação ou do culto. Em outros atos, pelo valor moral, etc.
Esta significação ou este sentido não é outra coisa senão o essencial de um objeto, e este substancial do objeto é o pensamento concreto do objeto. Temos aqui sempre duas coisas: uma exterior e outra interior, uma aparição (fenômeno) exterior que é perceptível sensivelmente (intuitiva) e uma significação que é justamente o pensamento.
Porém agora, mesmo sendo nosso objeto o mesmo pensamento, não existem aqui duas coisas, pois o pensamento é importante por si mesmo. O objeto é aqui o universal. E não podemos perguntar pela significação separável ou separado do objeto. Tampouco a história da filosofia tem alguma outra significação, alguma outra determinação além do próprio pensamento. O pensamento é aqui o mais interior, o mais alto, e por isso não se pode comprovar nenhum pensamento mais elevado.
Numa obra de arte podemos refletir, fazer considerações sobre se a forma corresponde à significação; logo, podemos situar-nos acima. A história do pensamento não pode ter nenhum outro sentido, nenhuma outra significação senão falar do próprio pensamento. A determinação que se introduz aqui, em lugar do sentido da significação, é o pensamento.
A esta determinação devemos ajuntar agora os seguintes ponto de vista (perspectivas), dos quais depende juntamente com o pensamento.
Devemos ocupar-nos com uma série de determinações do pensamento, adiantar alguns conceitos inteiramente gerais, abstrato, aos quais nos referiremos posteriormente, e mediante cuja aplicação poderemos nos aproximar mais do conceito da história da filosofia. Mas estes conceitos são aqui somente suposições. Estas não devem ser tratadas ou demonstradas, lógica, filosófica ou especulativamente. No momento bastam-nos algumas indicações históricas preliminares destes conceitos.
2-DETERMINAÇÕES PRELIMINARES
Estas determinações são: Pensamento, Conceito, Idéia ou Razão e a evolução dos mesmos.
São estas as determinações da evolução e do concreto. Produto do pensar, o pensamento em geral é o objeto da filosofia. O pensamento aparece diante de nós, imediatamente como formal, o conceito como pensamento determinado (como pensamento definido); a idéia é o pensamento na sua totalidade, o pensamento determinado em si e por si. A idéia é, em geral, o verdadeiro, e somente o verdadeiro. A natureza da idéia é desenvolver-se (evoluir).
2.1- O pensamento como conceito e idéia
a) O pensamento
Portanto, primeiro é o pensamento.
A filosofia é atividade pensante. Isto já o consideramos. O pensar é o mais íntimo de tudo, o egomonicón. O pensar do filosófico é o pensar do universal. O produto do pensar é o pensamento. Este pode ser subjetivo ou objetivo. Na consideração objetiva chamamos o pensamento de universal. O noûs de Anaxágoras é o universal. Mas sabemos que o universal se diferencia por isso do abstrato e do particular. Pois o universo é somente a forma, e a ela se opõe o particular, o conteúdo.
Se nos detivermos no pensamento como universal, não nos deteremos muito, ou teremos consciência de que o abstrato não é suficiente, não basta. Daqui, a expressão: não só pensamentos. A filosofia tem que ocupar-se com o universal, que tem seu conteúdo em si mesmo. Mas o primeiro é o universal como tal. Este é abstração. “Ser”, “essência”, “uno”, etc. são pensamentos totalmente abstratos.
O conceito
O pensamento não é nada vazio, abstrato. É determinante e precisamente determinante de si mesmo. Ou o pensamento é essencialmente concreto. A este pensamento concreto chamamos conceito.
O pensamento tem que ser um conceito. Por mais abstrato que possa ser tem que ser concreto em si, ou como o pensamento é filosófico, é concreto em si. Por uma parte, isto é exato, uma vez que se diz que a filosofia se ocupa de abstrações. Precisamente até aqui, se ocupa com pensamentos, isto é, como o chamado concreto, abstraído do sensível. Mas por outra parte, é inteiramente falso. As abstrações percebem à reflexão do entendimento, não à filosofia. E precisamente aqueles que fazem esta à filosofia são os que estão mais absortos nas determinações da reflexão, embora acreditem que estão no conteúdo mais concreto.
Refletindo sobre as coisas, têm por uma parte, somente o sensível, e por outra, o pensamento subjetivo, isto é abstrações.
Em segundo lugar está o conceito. É uma coisa diferente do pensamento puro (na vida ordinária o conceito é tomado geralmente só como um pensamento determinado).
O conceito é um saber verdadeiro, não o pensamento como puro universal. Além disso, o conceito é o pensamento, o pensamento em sua vitalidade e atividade, ou enquanto se dá a si mesmo seu próprio conteúdo.
Ou o conceito é o universal que se particulariza a si mesmo (por exemplo, o animal como mamífero, acrescenta isto à determinar-se exterior do animal).
Conceito é o pensamento, o qual, tornando-se ativo, pode determinar-se, criar, produzir. Tampouco é mera forma para seu conteúdo e se determina a forma (a determinação do mesmo ocorreu na própria história da filosofia).
O fato de ser o pensamento não já abstrato, mas determinado, ao determinar-se a si mesmo, o resumimos na palavra “concreto”. O pensamento se deu um conteúdo tornou-se concreto, isto é, se unificou ao desenvolver-se. Donde se conceberam e se uniram inseparavelmente várias determinações na unidade. Daí estas várias determinações não hão de ser separadas. As duas determinações abstratas que ele reduz à unidade são o universal e o particular. Tudo o que é realmente vivo e verdadeiro é assim um composto, tem várias determinações em si.
A atividade vivente do espírito é assim concreto. Logo a abstração do pensamento é o universal. O conceito é o determinante de si, o que se particulariza a si mesmo.
A idéia
O pensamento concreto, diretamente expresso, é o conceito e, ainda mais determinado, é a idéia. A idéia é o conceito enquanto ele se realiza. Para realizar-se deve determinar-se a si mesma, e esta determinação não é outra coisa senão ele próprio. Assim é seu conteúdo ele mesmo. Este é seu infinito relacionar-se consigo mesmo, para que ele se determine só desde si mesmo.
A idéia ou a razão também é conceito. Mas assim como o pensamento se determina como conceito, assim a razão
se determina como pensamento subjetivo.
Quando falamos de um conceito, se determina mesmo que seja abstrato. A idéia é o conceito pleno, o qual se enche consigo mesmo. Ela é o conceito que se põe a si mesmo cheio de conteúdo, que se dá sua realidade. Posso muito bem dizer “conceito (ou noção) de alguma coisa”, mas não posso dizer “idéia de alguma coisa”. Porque esta tem seu conteúdo em si mesma. A idéia é a realidade em sua verdade.
A razão é o conceito dando-se realidade a si mesmo, isto é, se compõe de conceito e realidade. A alma é o conceito, que se dá realidade no corpo, na realidade. Se separarmos o conceito e realidade, o homem morrerá. Esta união não tem somente de ser concebida como unidade em geral, mas deve-se ter presente que a razão é essencialmente vitalidade, atividade.
A realidade está sempre em dependência da idéia, não existe por si. Parece ser outro conceito, outro conteúdo, mas não é nada disso. O que na realidade é de outro modo, diferente do conceito apresenta somente uma diferença que consiste apenas na forma de sua exterioridade. A realidade faz-se idêntica ao conceito. 
A idéia é justamente aquilo que nós chamamos verdade, uma grande palavra. Para o homem comum permanecerá sempre grande e encherá seu coração de contentamento.
É verdade que na época contemporânea se chegou ao resultado de que não podemos conhecer a verdade. Mas o objeto da filosofia é o pensamento concreto, e este é, em sua determinação posterior, precisamente idéia ou verdade.
Tennemann, por exemplo, um kantiano, pensa que é um disparate querer conhecer a verdade. Isto nos mostra a história da filosofia.
É inconcebível que um homem possa ocupar-se com alguma coisa, ou preocupar-se com algo, sem ter em vista uma finalidade. A história da filosofia é, então, somente uma relação de toda classe de opiniões das quais cada um afirma, falsamente, ser a verdade.
Logo, em primeiro lugar não podemos conhecer a verdade e, em segundo lugar sabemos da verdade somente por reflexão. Quando aludimos diretamente a estas determinações, avançamos em nossa representação.
As primeiras determinações que obtemos são estas: que o pensamento é concreto, que o concreto é verdade, que esta é produzida somente pelo pensar. A determinação seguinte é, pois que o espírito se desenvolve a si mesmo de si.
2.2 - A idéia como desenvolvimento.
Em primeiro lugar sucedia também que o pensamento, o pensamento livre é essencialmente concreto em si. Com isso se relaciona que o pensamento é vivente e que se move em si mesmo. A natureza infinita do espírito é o processo dele em si, não para repousar essencialmente para produzir-se e existir pela sua produção.
Podemos conceber mais exatamente este movimento como desenvolvimento. (Como evolução). O concreto, enquanto atividade, está essencialmente desenvolvendo-se. Existe uma diferença no interior e quando compreendemos diretamente a determinação das diferenças que aparecem – e em todo o processo surge necessariamente outra coisa – então se produz o movimento como evolução. Essa diferenças se destacam, ainda que nos mantenhamos somente na conhecida representação de evolução. É importante, além disso, que reflitamos sobre a representação de evolução.
Em primeiro lugar surge a pergunta: Que é evolução?
Tomamos a evolução como uma representação conhecida e cremos por isso ter evitado uma discussão sobre o assunto. Mas precisamente investigar aquilo que se supõe como conhecido o que cada um pensa que sabe já bastante, isso é o próprio da filosofia.
O que se maneja e usa sem reparo algum, com o que se opera na vida cotidiana, ela o comprova, passa através, esclarece-o como tal. Pois justamente este conhecido é o desconhecido, se não se integra filosoficamente.
Temos que pôr de manifesto também os pontos particulares que aparecem na evolução para tornar familiar a conseqüência. Mas não pode tratar-se de uma visão absoluta do conceito, posto que pertença a uma realização ulterior. Pode parecer que tais determinações não digam muito. Mas sua nulidade deveria ensinar somente a conhecer o estudo total da filosofia.
A idéia como evolução deve converter-se no que ele é. Isto parece uma contradição para o entendimento, mas precisamente a essência da filosofia consiste em resolver as contradições do entendimento.
2.3 - A evolução como concreção.
Aqui, interessa-nos diretamente o formal.
Se a evolução absoluta, a vida de Deus e do espírito é somente um processo, somente um movimento, então é somente um movimento abstrato. Entretanto este movimento universal, enquanto concreto, é uma série de formas do espírito. Esta série não deve ser representada como uma linha reta, mas como um círculo, como um regresso a si. Esse círculo tem na periferia uma grande quantidade de círculos. Uma evolução é sempre o movimento através de muitas evoluções. O todo desta série é um resultado que retrocede para si, de evoluções. E cada evolução especial é um grau de todo. Há um progresso na evolução, mas este progresso não se dirige para o infinito (abstrato) mas retrocede para si mesmo. O espírito deve conhecer-se a si mesmo, exteriorizar-se e ter-se a si mesmo por objeto, para que saiba o que é, e para que ele se produza inteiramente, se converta em objeto; que se descubra inteiramente, que desça ao mais profundo de si mesmo e o descubra.
Quanto mais alto evoluir o espírito, tanto mais profundo ele é. Então o espírito é realmente profundo não só em si. O espírito em si nem é profundo nem é elevado. O desenvolvimento é justamente um aprofundar-se do espírito em si, que manifesta sua profundidade à consciência.
O fim do espírito, se nos é permitido falar assim, é que se compreenda a si mesmo., que não se oculte a si mesmo. E o único caminho para isto é seu desenvolvimento. E a série de desenvolvimento são os graus de sua evolução.
Pode-se perguntar agora na evolução (desenvolvimento) o que se desenvolve qual é o conteúdo absoluto que se desenvolve; pois a evolução se apresenta como atividade social formal e, portanto, necessita de um substrato. Mas a atividade não tem nenhuma outra determinação senão o ato. Tampouco aquilo que se desenvolve pode ser outra coisa senão o que é a atividade. Assim, pois, é ao mesmo tempo a condição universal do conteúdo determinado. Distinguimos na evolução diferentes momentos, o em si propriamente e o por si; e o fato é agora este, conter em si estes momentos diferentes.
3- A TAREFA DA FILOSOFIA
A filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filosofia não é um conjunto de conhecimentos, um sistema inacabado, fechado em si mesmo. Ela é antes de mais nada, um modo de se colocar diante da realidade, procurando refletir sobre os acontecimentos a partir de certas posições teóricas. Essa reflexão permite ir além da pura aparência dos fenômenos, em busca de suas raízes e de sua contextualização em um horizonte amplo, que abrange os valores sociais, históricos e econômicos, políticos, éticos e estéticos. Por essa razão, ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio homem em sua vida cotidiana. Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica.
A filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida.
A filosofia incomoda porque questiona o modo de ser das pessoas, das culturas, do mundo. Questiona as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não há área em que ela não se meta, não indague, não perturbe. E, nesse sentido, a filosofia é perigosa, subversiva, pois vira a ordem estabelecida de cabeça para baixo.
Podemos, agora, perceber a razão da condenação de Sócrates na Antigüidade ou da proibição da leitura de Karl Marx no Brasil pós-64. Ambos
foram (e são, ainda) subversivos, perigosos, pois, ao indagar sobre a realidade de sua época, fizeram surgir novas possibilidades de comportamento e de relação social. Do ponto de vista do poder estabelecido, mereceram a morte e/ou o banimento de suas obras.
4- O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
A reflexão filosófica nasceu na Grécia no século VI a. C., com os filósofos que antecederam a Sócrates. A passagem da consciência mítica e religiosa para a consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esse dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega, assim como, dentro de certos limites, coexistem na nossa.
Hesíodo, no século VIII a.C., relatou o mito da origem do mundo, segundo o qual Gaia (Terra) surgiu do Caos inicial e, depois, pelo processo de separação, gerou Urano (Céu) e Pontós (Mar). Uniu-se, então, a Urano, e deu início às gerações divinas. Como se vê, no mito esses primitivos não são apenas seres da natureza, mas divindades. Alguns filósofos gregos, por sua vez, explicam que, a partir de um estado inicial de indefinição, ocorre a separação dos contrários (quente e frio, seco e úmido etc.)., que vai gerar os elementos naturais como o céu de fogo (o Sol), o ar frio, a terra seca e o mar úmido. Para eles a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união desses opostos explica os fenômenos meteóricos , as estações do ano, o nascimento e a morte de tudo o que vive.
À teogonia opôs-se a cosmologia, isto é, a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca de arché, do princípio não só material, mas também regulador da ordem do mundo. Essa busca de arché, do princípio ou fundamento das coisas transformou-se na questão central para os pré-socráticos.
As respostas à indagação sobre o princípio das coisas foram múltiplas e divergentes para Tales era a água; para Anaxímenes, o ar, para Heráclito, o fogo; e para Empédocles, ainda, os quatro elementos. Com essa diversidade de respostas, rompeu-se a concepção mítica, monolítica e dogmática, embora o conteúdo da reflexão filosófica continuasse muito semelhante ao conteúdo do mito, pois a estrutura de entendimento do mundo não apresentava mudanças significativas.
Embora os conteúdos dos dois relatos, o mítico e o filosófico, apresentem semelhança, a atitude filosófica rejeita as interferências de deuses, do sobrenatural, buscando coerência interna, definição dos conceitos, debate e discussão.
Com Socrátes, essa busca da discussão e do rigor levou à criação do chamado método socrático. 
5- O PENSAMENTO FILOSÓFICO
Quando a filosofia surgiu, entre os gregos, no século VI a.C., ela englobava tanto indagação propriamente dita quanto o que hoje chamamos de conhecimento científico. O filósofo teorizava sobre todos os assuntos, procurando responder não só ao porque das coisas, mas, também, ao como, ou seja, ao funcionamento delas. É por isso que os filósofos Euclides , Tales e Pitágoras dedicaram-se também ao estudo da geometria. Aristóteles, por sua vez, debruçou-se sobre problemas físicos e astronômicos, porque esses problemas interessavam à cultura e à sociedade de sua época.
Foi só a partir do século XVII, com Galileu e o aperfeiçoamento do método científico, fundado na observação, experimentação e matematização dos resultados que a ciência começou a se constituir como forma específica de abordagem do real e a se destacar da filosofia. Apareceram, pouco a pouco as ciências particulares, que investigam a realidade sob pontos de vista específicos: à física interessam os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; `a química, as transformações das substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os mecanismos do funcionamento da mente humana; à sociologia, à organização social etc.
A partir de então, o conhecimento foi fragmentado entre as várias ciências, pois cada uma se ocupava somente de uma pequena parte do real. As afirmações de cada uma delas são chamadas juízos de realidade, porque se referem aos fenômenos e pretendem mostrar como estes ocorrem e como se relacionam. De posse desse dados, torna-se possível prevê-los e controlá-los.
A filosofia trata dessa mesma realidade, mas, em vez de fragmentá-la em conhecimentos particulares, toma-a como totalidade de fenômenos, ou seja, considera a realidade a partir de uma visão de conjunto. Qualquer que seja o problema, a reflexão filosófica considera cada um de seus aspectos, relacionando-o ao contexto dentro do qual ele se insere e restabelecendo a integridade do universo humano. Do ponto de vista filosófico, por exemplo, é impossível considerar a inflação brasileira somente a partir de princípios econômicos. É preciso relacioná-la com interesses de classes, interesses políticos, interesses sociais. Um país economicamente estável é um país político e socialmente estável. À ciência econômica, do modo como é desenvolvida em nosso país, interessa somente verificar como a inflação funciona para poder controlá-la, sem se incomodar com os reflexos que esse controle possa ter sobre a sociedade.
É por isso que, sem desmerecer o conhecimento especializado buscado pelas várias ciências, defendemos a necessidade da reflexão filosófica, reflexão esta que faz a crítica dos fundamentos do conhecimento e da ação humanos. Cabe ao filósofo refletir sobre o que é ciência, o que é método científico, sua validade e seus limites. A ciência é realmente um conhecimento objetivo? O que é a objetividade e até ponto um sujeito histórico – o cientista – pode ser objetivo?
 
6- CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO 
O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo seus significados maios profundos.
Como isso é feito?
Em primeiro lugar, vamos estabelecer o que é a reflexão. Refletir é pensar, considerar cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete a nossa imagem, a reflexão do filósofo deixa ver, revela, mostra, traduz os valores envolvidos nos acontecimentos e nas ações humanas.
Para chegar a essa revelação, a reflexão filosófica, segundo Demerval Saviani, deve ser:
Radical – ou seja, ir até a raiz dos acontecimentos, isto é, aos seus fundamentos; a sua origem, não só cronológica mas no sentido de encontrar os valores originais que possibilitaram o fato. A reflexão filosófica portanto, é uma reflexão em profundidade. 
Rigorosa – isto e, seguir um método adequado ao objeto em estudo, com todo o rigor, colocando em questão as respostas mais superficiais, comuns à sabedoria popular e a algumas generalizações científicas apressadas.
De conjunto – como foi já dito, a filosofia não considera os problemas isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatos, fatores e valores que estão relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas tanto verticalmente, dentro do desenvolvimento histórico, quanto horizontalmente, relacionando-os a outros aspectos da situação da época.
Por isso, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas – dependendo das premissas de partidas e da situação histórica dos próprios pensadores - o processo do filosofar deverá sempre resultar em uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto.
7- CETICISMO E DOGMATISMO EM FILOSOFIA
A partir do que foi colocado, percebemos que para filosofar não podemos manter uma atitude cética nem sua contrapartida, uma atitude dogmática perante o mundo e o conhecimento humano. Se, de um lado, necessitamos de certezas, de conhecimento válido para orientar nossas ações, de outro, sabemos que essas certezas fazem parte de momentos históricos, de pontos de vista a partir dos quais analisamos o nosso estar no mundo.
O CETICISMO 
O cético, no sentido comum, é aquele que desconfia de tudo, que não acredita nas possibilidades que estão a sua frente. Por exemplo, alguns alunos, no início do segundo semestre letivo, diante do seu mal desempenho escolar, tornam-se céticos com
relação à possibilidade de aprovação e não se esforçam mais.
Do ponto de vista filosófico, porém, dá-se o nome de ceticismo à corrente de pensamento que duvida de toda e qualquer possibilidade de se chegar ao conhecimento verdadeiro.
Montaigne, filósofo francês do século XVI, partindo da idéia de que toda verdade é relativa à época, ao contexto histórico e à situação pessoal de cada um, afirma que devemos renunciar à pretensão de chegar a qualquer certeza. Não há possibilidade sequer de saber se as sensações são reais ou imaginadas. Assim sendo, devemos abster-nos de emitir qualquer juízo, uma vez que toda afirmação é passível de dúvida.
Para o cético, portanto, o sujeito é incapaz de aprender o objeto de conhecimento.
Na sua forma menos radical, o ceticismo apresenta-se como probabilidade, isto é, embora seja impossível ter a certeza de que os juízos estão de acordo com a realidade, pode-se afirmar a probabilidade de que estejam.
A atitude cética é típica das épocas de crise, quando verdades estabelecidas são destruídas sem que se tenham, ainda, propostos novos princípios sobre os quais fundamentar o conhecimento e as ações. Nesses momentos, coloca-se tudo em dúvida, examinam-se todas as certezas, opiniões e crenças, numa busca de solo seguro sobre o qual erigir uma nova construção de saber.
O DOGMATISMO 
No senso comum, o dogmático é a pessoa que acredita ter a posse da verdade e se recusa ao diálogo, não admitindo o questionamento de suas certezas. Muitas vezes, os pais são dogmáticos e recusam-se a colocar em discussão certas regras que, para eles, são as únicas verdadeiras e corretas.
Em filosofia, entretanto, dá-se o nome de dogmatismo à doutrina ou atitude que afirma, de forma absoluta, ser o homem capaz de chegar a verdade seguras exclusivamente por meio do uso da razão. Essa mesma crença cega na razão faz com que o dogmático não admita discussões.
Do ponto de vista histórico, o dogmatismo é a atitude dos primeiros filósofos, os chamados pré-socráticos, que têm como certo o poder de conhecer a realidade tal qual ela é. Os sofistas são os primeiros a problematizar a questão da verdade do conhecimento. Entretanto, é com Kant, no século XVIII, que a denominação dogmatismo passa a assumir conotação mais específica. Segundo ele, dogmatismo é toda e qualquer posição que se julgue na posse da certeza ou da verdade, antes de fazer a crítica da faculdade de conhecer. O criticismo kantiano só se define em oposição aos dois perigos inversos: o empirismo (que tem um tanto de ceticismo) e o dogmatismo.
CAPÍTULO II
A TEORIA DO CONHECIMENTO
1- A TEORIA DO CONHECIMENTO NA ANTIGUIDADE
SÓCRATES, PATÃO E ARISTÓTELES
SÓCRATES (c.470-399 a.C.) colocou a reflexão filosófica, iniciada pelos pré-socráticos, na vida da verdade que havia sido abandonada por alguns sofistas deslumbrados pela retórica, o bem falar ou o bem expor suas opiniões. Segundo Aristóteles, ele contribuiu para a teoria do conhecimento com a definição de universal e com o uso do raciocínio indutivo 
Definir é marcar limites, é dizer o que uma coisa é, ou seja, descobrir a essência das coisas. Portanto, a procura da verdade empreendida por Sócrates está centrada no ponto de vista do ser. Voltando sua atenção para o problema do homem, Socrátes faz uma análise detalhada das qualidades individuais e das virtudes humanas, determinando e definindo essas qualidades como sendo a bondade, a justiça, a temperança, a coragem etc. Quando pergunta o que é cada uma das virtudes, está querendo defini-la, saber qual é sua essência. 
Sócrates, entretanto, não define o próprio ser humano. Por que? Porque, ao contrário da natureza, o ser humano não pode ser definido em termos de propriedades objetivas, só em termos da sua consciência. E para alcançarmos uma visão clara do seu caráter, para compreendê-lo precisamos examiná-lo, frente a frente, através do diálogo.
O método socrático, que é um método indutivo, envolve duas fases. A primeira, chamada ironia, consiste em fazer perguntas ao interlocutor que o obriguem a justificar, sempre com maior profundidade, seu ponto de vista, até que ele perceba que tipo de falha ou equívoco pode estar contido em seus argumentos. Esta é a fase destrutiva, pois leva as pessoas a admitirem a própria ignorância a respeito de um assunto. São destruídas as opiniões do senso comum e do conhecimento espontâneo, muitas vezes baseados em estereótipos e preconceitos. A segunda parte chamada maiêutica (parto), é a construção de novos conceitos baseados em argumentação racional. Assim, Socrátes, com suas perguntas, aniquila o saber constituído para, depois, ainda através de perguntas e da contraposição de idéias, reconstruí-lo a partir de uma base mais sólida e de um raciocínio coerente e rigoroso.
PLATÃO ( 428-347 a.C.), discípulo de Socrátes, dando continuidade ao processo de compreensão do real, faz distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível ou das idéias.
Remontando a questão da definição, Platão descobre que, para dizer o que uma coisa é, é necessário afirmar dois princípios fundamentais: o da identidade e o da permanência, ou seja, uma coisa é aquilo que é e não outra (identidade) e deve sempre ser do mesmo modo (permanência).
Ora, nenhum desses princípios pode-se aplicar às coisas concretas que existem no mundo sensível, pois elas são múltiplas (há muitas casas e uma casa não é igual a outra) e não permanentes (esta casa não existia há dez anos e pode deixar de existir no próximo ano). Platão pensa, então, na existência do mundo das idéias, o mundo dos seres verdadeiros, unos, idênticos a si mesmo e permanentes porque não estão sujeitos a mudanças.
O mundo sensível é acessível aos sentidos, mas, sendo o mundo da multiplicidade e do movimento, é ilusório, é sombra, é cópia do verdadeiro mundo. Acima dele, o mundo das idéias gerais e das essências imutáveis pode ser atingido através da contemplação e da depuração dos enganos e dos sentidos. O mundo dos sentidos é regido pela opinião e o mundo das idéias é regido pela ciência. Nosso espírito se eleva das coisas múltiplas e sensíveis para a idéias unas e imutáveis por meio de um movimento dialético, que consiste no vencer a crença nos dados do mundo sensível e na utilização sistemática do discurso para chegar à ordem da verdade. 
ARISTÓTELES – ( 384-322 a.C.) critica a teoria das idéias de Platão, principalmente a divisão entre o mundo sensível e um mundo inteligível. Ao retomar a problemática do conhecimento, distingue três tipos de saber.
A experiência do conhecimento sensível, dado pelo contato direto com a própria coisa, é um conhecimento que se forma por familiaridade com cada coisa, é imediato e concreto e só nos permite chegar ao conhecimento do individual. Não é transmissível; só se pode oferecer as condições para as pessoas adquiram a mesma experiência, ou tenham as mesmas sensações. Portanto, o conhecimento sensível é o conhecimento do particular.
A técnica ou o saber fazer é o conhecimento dos meios a serem usados para se chegar aos fins desejados. A técnica não é mais o conhecimento do particular, pois já encerra uma idéia das coisas, participando do universal. Uma vez que encerra uma idéia, pode ser ensinada. A técnica dá o quê é o porquê das coisas. 
A sabedoria (sofia) é o único tipo de conhecimento a determinar as causas e princípios primeiros; a única a poder dizer o quê as coisas são, por que são e demonstrá-las.
As noções universais, pertencentes ao âmbito da sabedoria, são as mais difíceis de se adquirir porque estão muito longe da sensação. Quem escolhe o saber por si mesmo escolhe a ciência dos primeiros princípios e das causas, pois é isso que dá a finalidade a todo o trabalho.
A sabedoria inclui as ciências particulares – que se circunscrevem ao estudo de um certo ser ( de um gênero), demonstrando pelo raciocínio indutivo ou dedutivo as propriedades inerentes ao gênero do qual se ocupa – e a filosofia primeira, posteriormente chamada
de metafísica, que considera o ser em geral, livre de toda determinação particular, buscando as causas e os princípios universais.
O conhecimento, para Aristóteles, é uma somatória de todos esses modos de conhecer, sem haver ruptura ou descontinuidade entre eles. Na verdade, um não invalida o outro. Ao contrário, enriquece-o e, neste ponto, contradiz Platão.
2- A CONTRIBUIÇÃO DOS FILÓSOFOS GREGOS
Os filósofos gregos deixaram um importante legado para a teoria do conhecimento, que exerceu grande influência na construção posterior do pensamento ocidental. Esses filósofos:
estabeleceram a diferença entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual;
estabeleceram a diferença entre aparência e essência;
estabeleceram a diferença entre opinião e saber;
deram as regras da lógica, ou seja, de como passar de um juízo para outro de forma coerente e correta para se chegar à verdade.
Para esses filósofos, não existe oposição entre homem e natureza. Ao contrário, ele é parte integrante da natureza, feito dos mesmos elementos, o que lhe permite conhecê-la como ela é. A inteligência humana reconhece e compreende a inteligibilidade do real.
3- A PATRÍSTICA
Os primeiros séculos da era cristã são os da constituição dos dogmas cristãos, isto é, das verdades reveladas que exigem a aceitação incondicional por parte dos fiéis. Ora, alguns desses dogmas desafiam a razão como, por exemplo, o da Trindade de Deus: Deus é, ao mesmo tempo, um só e três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A tarefa da filosofia desenvolvida pelos Padres da igreja (donde o nome Patrística) é o de encontrar justificativas racionais para as verdades reveladas, ou seja, conciliar razão e fé.
O cristianismo introduziu a noção de pecado original, em função do qual o ser humano, imperfeito, infinito e pervertido, se separa radicalmente de Deus, ser perfeito e infinito. Como, pois, a razão humana pode compreender verdade divina?
Santo Agostinho (354-430), principal representante da Patrística, retoma o pensamento platônico, adaptando-o às suas necessidades: utiliza a dicotomia (separação) entre mundo sensível e mundo das idéias, afirmando que as idéias estão na mente de Deus, como modelos exemplares a partir dos quais ele cria as coisas. Em vez de partir das coisas concretas, como Platão, Santo Agostinho parte da alma, da realidade íntima do homem, que se eleva à razão e, por fim, a Deus, que a ilumina, dando-lhe o conhecimento das verdades eternas e permitindo-lhe que pense corretamente. Desse modo, a razão fica subordinada à fé e à verdade revelada.
A necessidade da revelação e da intermediação de Deus para que o homem possa conhecer indica que aquela harmonia entre natureza e homem, postulado pela filosofia grega, desapareceu. O homem, sem fé, sem a iluminação divina, está condenado ao erro e à ilusão; o conhecimento da verdade só se dá por meio da fé que ilumina o intelecto e guia a vontade, de modo que a razão chegue ao conhecimento do que está ao seu alcance e a alma receba a revelação do que não está ao alcance da razão.
4- A ESCOLÁSTICA
Durante quatro séculos, do V ao IX, praticamente não há filosofia, com a exceção de alguns enciclopedistas influenciados pelas obras dos Padres da Igreja. Outros pensadores se dedicam a salvar o que resta da cultura da Antigüidade das invasões bárbaras que afligem a Europa, compilando os textos do melhor jeito possível.
A partir do século IX, surgem as escolas que cultivam o saber teológico e filosófico, inserido num trabalho cooperativo coletivo. O ensino se faz por meio da leitura e comentário dos textos de teólogos e filosóficos, relacionando problemas, argumentos e soluções. As sínteses doutrinais do final da Idade Média são chamadas de sumas e a mais famosa dentre elas é a suma Teológica de Santo Tomás de Aquino. 
A filosofia continua mantendo relação com a religião: são ainda os problemas teológicos que levam as questões filosóficas.
No período pré-otimista, o principal problema tratado é o dos universais, isto é, do valor dos conceitos, das idéias para o conhecimento. Constitui-se em uma retomada do problema da unidade e da multiplicidade. São três as soluções oferecidas:
Realismo transcendente – o universal, ou idéia de uma realidade, tem existência fora da mente e do objeto (existe antes das coisas). Esta é a posição platônica, incorporada pelos primeiros pensadores escolásticos. A forma branda do realismo é o realismo moderado, para o qual o universal tem uma realidade objetiva, fora da mente, mas é imanente nos objetos singulares do qual é existência, forma ou princípio ativo (existe no objeto). Corresponde à posição aristotélica, que será a adotada por Santo Tomás.
Norminalismo – o universal não tem existência objetiva, só nominal, ou seja, existe só como nome do objeto, como palavra (existe depois da coisa).
Conceptualismo – o universal é o conceito, entidade mental, sem existência objetiva. Esta seria uma posição que se poderia considerar intermediária entre as duas primeiras.
Santo Tomás de Aquino, no séc. XIII, adapta a filosofia de Aristóteles ao pensamento cristão da Escolástica. Admite o conhecimento sensível e intelectual, sendo que o intelectual pressupõe o sensível. O objeto, que está fora de nós, deixa uma impressão ou uma forma na nossa alma, que é chamada conhecimento sensível. O conhecimento intelectual abstrai (separa, isola) as suas características individuais, para considerar apenas o que é comum, e assim elabora o conceito, o julgamento, o raciocínio. O nosso intelecto é capaz de conhecer as coisas e não as idéias sobre as coisas. Por isso mesmo, dentro dessa concepção realista, a verdade lógica está na adequação entre a coisa e o intelecto.
A respeito das relações das relações entre filosofia e teologia, entre razão e revelação, Santo Tomás distingue essas duas ordens de conhecimento, afirmando que a filosofia é conhecimento e demonstração racionais, que parte de princípios evidentes e chega a conclusões inteligíveis; e a teologia é fundada sobre a revelação divina, da qual não se pode duvidar. São, portanto, ordens diferentes do saber. Entretanto, a relação continua sendo o critério de verdade; se houver contradição entre revelação e filosofia ,esta será falsa, fruto de uma razão que perdeu o caminho. Caberá ao filósofo reencontrar o caminho racional para chegar à verdade.
Enfim, vê-se que a filosofia cristã desenvolveu-se durante a Idade Média e seu principal objetivo era reconciliar a fé, a verdade revelada por Deus, com a razão humana. A reflexão filosófica era alimentada pelos problemas teológicos. Mesmo assim, o problema do um e do múltiplo, ou seja, da unidade dada pelo conceito e da multiplicidade das coisas reais, continua sendo discutido, levando à questão dos universais. Durante esse período, embora a harmonia entre natureza e ser humano tenha sido quebrada, não se coloca em dúvida a possibilidade do conhecimento.
5- A TEORIA DO CONHECIMENTO NA IDADE MODERNA
Como vimos na Antigüidade até o início do Renascimento, embora tenham surgido várias teorias a respeito de como se efetua o conhecimento, não há discordância sobre a possibilidade de o homem conhecer o real. Do ponto de vista epistemológico, esta é a posição realista, em que os objetos correspondem plenamente ao conteúdo da percepção. 
O Renascimento, entretanto, vai trazer grandes modificações, dentre as quais vale destacar:
a separação entre fé e razão, que leva ao desenvolvimento do método científico para o estudo das ciências naturais;
o antropocentrismo, que estabelece a razão humana como fundamento do saber;
o interesse pelo saber ativo, em oposição ao saber contemplativo, que leva à transformação da natureza e ao desenvolvimento das técnicas.
No rastro dessas mudanças, os pensadores do século XVII abordam a temática do conhecimento de modo inteiramente novo, colocando em questão a própria possibilidade do conhecimento. Não se trata mais de saber qual é o objeto conhecido.
Deve-se, agora, indagar sobre o sujeito do conhecimento: Quais as possibilidades de engano e acerto? Quais os métodos que podemos utilizar para garantir que o conhecimento seja verdadeiro?
As respostas a essas indagações dão origem a duas correntes filosóficas diametralmente opostas, a saber, o racionalismo e o empirismo. 
5.1- O RACIONALISMO
O principal representante do racionalismo no século XVII é o francês René Descartes, que, descontentes com os erros e ilusões dos sentidos, procura o fundamento do verdadeiro conhecimento. Estabelece a dúvida como método de pensamento rigoroso: duvida de tudo que lhe chega através dos sentidos, duvida de todas as idéias da tradição que se apresentam como verdadeiras. Á medida que dúvida, porém, descobre que mantém a capacidade de pensar. Por essa via, estabelece a primeira verdade que não poder ser colocada em dúvida: se duvido, penso; se penso, existo – embora esse existir não seja físico. Existo como ser pensante (sujeito ou consciência) que é capaz de duvidar. Descartes formula esta descoberta em uma frase que se tornou muito conhecida: Penso, logo existo.
A partir dessa primeira verdade intuída, isto é, concebida “por um espírito puro e atento, tão fácil e distinta, que nenhuma dúvida resta sobre o que compreendemos”, Descartes diferencia dois tipos de idéias: algumas claras e distintas, outras confusas e duvidosas. Afirma, então, que as idéias claras e distintas, que são idéias gerais, não derivam do particular, mas já se encontram no espírito, como instrumentos com que Deus nos dotou para fundamentar a apreensão de outras verdades. Essas são as idéias inatas, que não estão sujeitas a erro e que são o fundamento d toda ciência. Para conhecê-las basta que nos voltemos para nós mesmos, por meio da reflexão.
Dentre as idéias inatas, encontramos as de um Deus Perfeito e Infinito (substância infinita), da substância pensante e da matéria extensa. 
O ponto de partida de Descartes é, pois, o pensamento, abstraindo toda e qualquer relação entre este e a realidade. Como passar, porém, do pensamento para a substância extensa, ou seja, a matéria dos corpos?
Exatamente porque pensamos, podemos pensar a idéia de infinito, ou seja, de Deus, com todos os seus atributos, dentre os quais está a perfeição. Ora, para ser perfeito, Deus deve existir. Da idéia de Deus, passamos a poder afirmar sua existência como ser. Continuando o raciocínio, esse ser perfeito não nos engana e, se nos faz ter idéia sobre o mundo exterior, inclusive sobre nossos corpos, é porque criou esse mesmo mundo exterior e sensível. Assim, a partir de uma idéia inata, podemos deduzir a idéia da existência da matéria dos corpos, ou seja, da matéria extensa.
Devemos notar, entretanto, que a razão não afeta nem é afetada pelos objetos. A razão só lida com as representações, isto é, com as imagens mentais, idéias ou conceitos que correspondem aos objetos exteriores. 
É nesse ponto que se coloca, com maior nitidez, a necessidade do método para garantir que a representação corresponda ao objeto representado. O método deve garantir que:
as coisas sejam representadas corretamente, sem risco de erro;
haja controle de todas as etapas das operações intelectuais;
haja possibilidades de serem feitas deduções que levem ao progresso do conhecimento.
A questão do método de pensamento torna-se crucial para o conhecimento filosófico a partir do século XVII. O método é o ideal matemático, não porque lide com números ou grandezas matemáticas, mas porque visa o conhecimento completo, perfeito e inteiramente racional.
5.2- O EMPIRISMO
Em reação ao racionalismo cartesiano, principalmente à teoria das idéias inatas, John Locke escreve, em 1690, o Ensaio sobre o entendimento humano, no qual defende que todas as idéias têm origem na experiência sensível. É a partir dos dados da experiência que, por abstração, o entendimento, ou intelecto, produz idéias. A razão humana é vista como uma folha em branco sobre a qual os objetos vão deixar sua impressão sensível que será elaborada, através de certos procedimentos mentais, em idéias particulares e idéias gerais.
Entretanto, o mecanismo íntimo do real ultrapassa os limites de toda experiência possível, isto é, podemos observar os fenômenos, mas não suas causas ou suas relações.
Para Lock, todas as nossas idéias provêm de duas fontes: a sensação e a reflexão. A sensação apreende impressões vindas do mundo externo. A reflexão é o ato pelo qual o espírito conhece suas próprias operações.
As idéias podem ser simples e complexas. As idéias simples são aquelas que se impõem à consciência na experiência sensível e são irredutíveis à análise. Ao correlacionar idéias simples, o espírito constitui as idéias complexas.
David Hume, filósofo escocês, leva mais adiante o empirismo de Lock, afirmando que as relações são exteriores aos seus termos. Explicando, as relações não são observáveis, portanto não estão nos objetos. Elas são modos que a natureza tem de passar de um termo a outro, de uma idéia particular a outra. E esses modos são frutos do hábito ou da crença.
Por exemplo, tendo observado a água ferver a 100º C, podemos dizer que toda água sempre ferve a 100º C. Ou, vendo o Sol nascer todos os dias assumimos que amanhã ele também nascerá. O que observamos, no entanto, é uma seqüência de eventos, sem nexo causal. O que nos faz ultrapassar o dado e afirmar mais do que pode ser alcançado pela experiência é o hábito criado através da observância de casos semehantes, a partir do que imaginamos que este caso se comporte da mesma forma que os outros.
Assim, a única base para as idéias ditas gerais é a crença, que, do ponto de vista do entendimento, faz uma extensão ilegítima do conceito.
5.3- O CRITICISMO KANTIANO 
Influenciado pela leitura de Hume, em especial pelas críticas que este faz ao dogmatismo racionalista, Kant (1724-1804) tenta encontrar uma solução que supere a dicotomia representada pelo ceticismo empírico e pelo racionalismo.
Tendo como pressuposto o ideal iluminista da razão autônoma capaz de construir conhecimento, Kant vê a necessidade de proceder à análise crítica da própria razão como meio de estabelecer seus limites suas possibilidades. Podemos sintetizar o problema kantiano na seguinte pergunta: é possível conhecer o ser em si, o supra-sensível ou meta-físico através de procedimentos rigorosos da razão? Por seres metafísicos ele entende Deus, a liberdade e a imortalidade. 
O primeiro passo para obter a resposta é fazer a crítica da razão pura. Em suas palavras, a crítica é um “convite feito a razão para empreender de novo a mais difícil das tarefas, o conhecimento de si mesma, e para instituir o tribunal que a garanta nas suas pretensões legítimas e que possa, em contrapartida, condenar todas as usurpações sem fundamento”.
Para empreender essa tarefa, kant propõe o “método transcendental”, - método analítico com o qual empreenderá a decomposição e o exame das condições de conhecimento e dos fundamentos da ciência e da experiência em geral.
Feita a reflexão crítica, chega à conclusão de que há duas fontes de conhecimento: a sensibilidade, que nos dá os objetos, e o entendimento que pensa esses objetos. Só pela conjugação das duas fontes é possível ter a experiência do real.
É a partir desses dados que Kant faz a revolução na teoria do conhecimento: em vez de admitir que nosso conhecimento se regula pelo objeto, inverte a hipótese: são os objetos que devem regular-se pelo nosso modo de conhecer. O sujeito cognoscente tem formas (ou modos próprios) a partir das quais recebe os objetos.
As formas ou conceitos a priori (anteriores à experiência) são as condições universais e necessárias para o aparecimento de qualquer coisa à percepção humana e para que esse aparecimento se torne progressivamente mais inteligível ao entendimento. Assim, as formas são constitutivas de toda nossa experiência de mundo, de todo nosso conhecimento. Isto quer dizer que não somos folhas em branco, sobre
as quais os objetos deixam suas impressões, mas, como sujeitos do conhecimento, ajudamos a construí-lo, colaboramos com nosso modo de perceber e entender o mundo. Como conseqüência, só conhecemos os fenômenos enquanto se relacionam a nós, sujeitos, e não à realidade em si, tal qual é, independentemente da relação de conhecimento.
As formas a priori dividem-se em: 
. formas a priori da sensibilidade – espaço e tempo;
. formas a priori do entendimento puro – formas relacionais como causa e efeito, substância e atributo.
Exemplificando: a nossa percepção dos objetos sensíveis sempre os relaciona a um espaço, isto é, esses objetos se posicionam mais para a frente ou mais para trás, mais ao alto ou mais abaixo, à direita ou à esquerda de outros objetos que tomamos com referência. Também classificamos essa percepção como anterior, posterior ou simultânea a outras. Essa atividade relacional só é possível através das formas a priori da sensibilidade.
Do mesmo modo, relacionamos algumas percepções sucessivas como pertencendo à categoria de causa e efeito.
A experiência, portanto, é uma unidade sintética, ou seja, não é só a combinação de matéria ( “aquilo que no fenômeno correspondente à sensação”) e forma ( “aquilo que faz com que a diversidade do fenômeno seja ordenada na intuição, através de certas relações”), mas, também, a combinação das formas da intuição e do entendimento e suas relações funcionais.
Com isso, Kant conclui pela impossibilidade do conhecimento através do uso puramente especulativo da razão. A razão especulativa, entretanto, embora não possa conhecer o ser em si, abstrato, que não se oferece à experiência e aos sentidos, pode pensá-lo e coloca problemas que só serão resolvidos no âmbito da razão prática, isto é, no campo da ação e da moral. Ou seja, embora Deus, a liberdade e a imortalidade não possam ser conhecidos ( agnosticismo) por não terem uma matéria que se ofereça à experiência sensível, nem por isso têm sua existência negada. Se o conhecimento não nos leva até eles, devemos encontrar uma outra via de acesso, uma vez que a liberdade, por exemplo, é o fundamento da vida moral.
5.4- A HERANÇA ILUMINISTA
Esse impulso crítico nascido com a Ilustração, cujos principais representantes, na França, foram Diderot e Voltaire e, na Alemanha, Kant, não se esgotou com ela.
Devemos, neste ponto, diferenciar o conceito de Ilustração e Iluminismo. Dá-se o nome de ilustração às idéias que floresceram no século XVIII: defesa da ciência e da racionalidade crítica contra a fé, a superstição e o dogma religioso; defesa das liberdades individuais e dos direitos do cidadão contra o autoritarismo e o abuso do poder, e cujo principal representante foi Kant. O Iluminismo, considerado como tendência intelectual não-limitada a nenhuma época, combate o mito e o poder a partir da razão. Entendido dessa forma, o Iluminismo apresenta-se como processo que coloca a razão sempre a serviço da crítica do presente, de suas estruturas e realizações históricas.
Segundo o filósofo brasileiro Rouanet, “a Ilustração foi, apesar de tudo, a proposta mais generosa de emancipação jamais oferecida ao gênero humano. Ela acenou ao homem com a possibilidade de construir racionalmente o seu destino, livre da tirania e da superstição. Propôs ideais de paz e tolerância, que até hoje não se realizaram. Mostrou o caminho para que nos libertássemos do reino da necessidade, através do desenvolvimento das forças produtivas. Seu ideal de ciência era o de um saber posto a serviço do homem, e não o de um saber cego, seguindo uma lógica desvinculada de fins humanos. Sua moral era livre e visava uma liberdade concreta, valorizando, como nenhum outro período, a vida das paixões e pregando uma ordem em que o cidadão não fosse oprimido pelo Estado, o fiel não fosse oprimido pela religião e a mulher não fosse oprimida pelo homem. Sua doutrina nos direitos humanos era abstrata, mas por isso mesmo universal, transcendendo os limites do tempo e do espaço, suscetível de apropriações sempre novas, e gerando continuamente novos objetivos políticos”.
A tarefa iniciada por Kant, de superação da incapacidade humana de se servir do seu próprio entendimento e ousar servir-se da própria razão, não poderá jamais ser completada. É tarefa que precisa ser refeita a cada momento, a partir das duas condições necessárias: o exercício da razão crítica e da crítica racional. 
5.5- A CRISE DA RAZÃO
No final do século XX, estamos testemunhando o despertar de um movimento irracionalista que critica o uso da razão como arma do poder e agente da repressão, em vez de ser instrumento da liberdade humana como proclamado pelo Iluminismo do século XVIII.
 Seguindo esta corrente, vemos florescer o individualismo exacerbado, o narcisismo, o vale-tudo, a des-razão que leva ao aniquilamento de todos os princípios e valores.
Mas será que podemos atribuir a culpa pelos descaminhos ao uso da razão e de critica devem ser reexaminados.
Quando falamos em razão, não mais acreditamos ingenuamente que só, pelo fato de sermos humano, sejamos automaticamente racionais. Devemos, a partir dos estudos de Marx e Freud, admitir que a razão pode também ser deturpadora e pervertida, ou seja, admitir que tanto a ideologia (ou falsa consciência) quanto os impulsos do inconsciente são responsáveis por distorções que colocam a razão a serviço da mentira e do poder.
Exemplificando, quando a racionalidade assume as vestes da razão de Estado ou de razão econômica, estamos lidando com uma visão parcial e instrumental da razão que tenta adequar meios a fins. É a razão que observa e normaliza, razão que calcula, classifica e domina, em função de interesse de classe e não dos interesses da sociedade como um todo. E, se o poder oprime fala em nome da racionalidade para combatê-lo parece necessário constatar a própria razão. 
Esse tipo de racionalidade deve ser contestado, mas não por meio do irracionalismo e, sim, pela atividade critica da razão mais completa e mais rica, que dialoga e se exerce na intersubjetividade.
5.6- O NOVO ILUMINISMO
Para Jürgen Habermas, filósofo contemporâneo, o paradigma da consciência encontra-se esgotado e deve ser substituído pelo paradigma da compreensão mútua entre os sujeitos capazes de falar e agir. Esse paradigma tem por base a atitude perfomativa dos participantes da interação que coordenam seus planos de ação, por meio de um acordo entre si, sobre qualquer coisa no mundo.
O exercício da razão plena, ou seja, aquela que reúne exigências da verdade proporcional, justeza normativa (razão prática ou moral), veracidade subjetiva e coerência estética, é a tarefa do novo Iluminismo, que deve mostrar aos defensores do irracionalismo que a critica não-racional leva ao conformismo, uma vez que, sem o trabalho conceitual, não há como sair da facticidade, ou seja, do vivido.
Assim, a nova razão crítica precisa:
fazer a critica dos limites internos e externos da razão, consciente de sua vulnerabilidade ao irracional;
estabelecer os princípios éticos que fundamentam sua função normativa;
vincular essa construção a raízes sociais contemporâneas, submetendo-a à prova de realidade. Esse solo social aparece no processo comunicativo, dentro do qual os sujeitos propõem e criticam argumentos, criticam as motivações subjacentes e desenvolvem as capacidades humanas de saber, de busca da verdade, da justiça e da autonomia.
CAPÍTULO III
I- ESCOLAS FILOSÓFICAS
1- ESCOLA JÔNICA
Fundador: TALES DE MILETO (624-562 a.C..)
Doutrinas principais: A pesquisa desta escola, que foi a mais antiga escola grega de filosofia e que surgiu em Mileto aproximadamente no VI século a.C., está destinada a dar expressão filosófica ao problema da existência de uma causa suprema de tudo. O princípio aparece, portanto, caracterizado geralmente por um elemento natural ou material: água, ar fogo...
Maiores expoentes:
Tales de Mileto, que coloca a água como princípio do qual procedeu todas as coisas,
todas as coisas, por condensação ou rarefação.
Anaximandro de Mileto, matemático e astrônomo que vai além de Tales e coloca como princípio primeiro algo de indeterminado (apeiron). Seu eterno movimento determina na matéria, por separação, os opostos .
Anaxímenes de Mileto, discípulo de Anaximandro, que coloca o princípio primeiro no ar, eterno e em contínuo movimento. 
 2- ESCOLA DE ELÉIA
Fundador: PARMÊNIDES
Doutrinas principais: Segundo Parmênides, a única realidade é o ser; nenhuma outra realidade é possível, nem o vir-a-ser, como afirmava Heráclito. De fato, uma coisa é ou não é. Se é, não pode vir a ser, porque do nada não se pode extrair senão o nada. De tal modo era ressaltada a correlação entre o ser e o pensamento.
Maiores expoentes:
Parmênides de Eléia, colônia grega da Lucânia, escreveu o poema “Da Natureza”. 
Zenão de Eléia (século V a.C.), escreveu o poema “Sobre a Natureza”. A doutrina do “é” parmenídico transforma-se na de uma realidade que não pode ser múltipla e apresenta-se como o “uno” absoluto.
3- ESCOLA ATOMÍSTICA 
Fundador: DEMÓCRITO (460-370 a.C., aproximadamente)
Doutrinas principais: Demócrito sustenta tanto a imutabilidade do ser quanto a realidade do vir-a-ser. O ser é constituído por átomos, que são partículas indivisíveis e imutáveis, mergulhadas no vazio. Do movimento dos átomos derivam todas as coisas, segundo um determinismo mecânico. Estas partículas não possuem nenhuma qualidade, exceto a impenetrabilidade; diferem entre si apenas pela figura e dimensões. A alma humana é constituída por átomos leves e sutis, de caráter ígneo.
4- ESCOLA SOFISTA
Fundador: PROTÁGORAS (480 a 410 a.C., aproximadamente.)
Doutrinas principais: Os sofistas levantaram pela primeira vez a questão de se o homem tinha ou não a capacidade de conhecer íntima natureza das coisas e a lei moral absoluta. Sua resposta foi a de que o homem não as pode conhecer, porque a realidade e a lei natural estão acima da capacidade cognoscitiva do homem. Portanto, tudo aquilo que o homem conhece em filosofia e em ética é de sua própria elaboração. Daí a famosa expressão dos sofistas: “o homem é a medida de todas as coisas”. Com efeito, não é possível um conhecimento verdadeiro, mas apenas provável; não há uma lei moral absoluta, mas somente leis convencionais. Nesta dimensão empírica do conhecimento humano, o prazer se coloca como a única meta para o homem.
Maiores expoentes:
Protágoras, que sustenta não haver nenhum verdade absoluta. O homem interpreta a seu modo e a seu interesse os dados da sensação. O sábio, ou seja, o sofista, com a arte da persuasão faz com que apareçam melhores não as opiniões mais verdadeiras, mas as mais vantajosas. Protágoras ensina uma moral convencional, mas não arbitrária, baseada nos princípios divinos do respeito e de justiça que Zeus comunicou a todos os homens.
Górgias (484-375 a. C.), que avança o relativismo de Protágoras em direção ao ceticismo mais radical. Sua filosofia sustenta que o ser não existe; uma coisa é o pensar, outra coisa é o ser; a palavra dita é outra que a coisa significada. Conclusão: é preciso persuadir os homens de probabilidade daquilo que aparece.
5- ESCOLA SOCRÁTICA
Fundador: SOCRÁTES (469-399 a.C.)
Doutrinas principais: A convicção fundamental de Socrátes é que são dados valores absolutos, na ordem gnosiológica na metafísica e na ética. Nisto ele se opõe aos sofistas, os quais sustentavam que tudo é relativo: as opiniões mudam de indivíduo para indivíduo, os costumes de cidade para cidade, de povo para povo. Ao contrário, segundo Socrátes, existem princípios absolutos, verdades eternas, leis morais imutáveis e iguais para todos. A seu ver, a vida humana merece e deve ser vivida em obediência a tais valores éticos e metafísicos, embora isto possa exigir enormes sacrifícios, pois o homem está destinado a alcançar sua plena realização somente depois da morte, no momento em que a alma se liberta do peso do corpo.
Maiores expoentes:
Antístenes, que exacerba o ascetismo de Socrátes exigindo um total desprendimento dos bens materiais e a absoluta independência dos acontecimentos deste mundo. Foi através dele que a escola cínica seguiu seu caminho.
Aristipo, que acentua de tal modo a ausência de valores no que concerne ao mundo material, ao corpo, à paixões, aos prazeres sensíveis, a ponto de considerar que é indiferente ocupar-se deles e consenti-los. Ele foi o chefe da escola cirenaica.
Euclides de Mégara, o mais fiel discípulo de Socrátes: considera o bem como a única realidade e que a felicidade consiste na prática da virtude. É o fundador da escola megárica.
Platão, certamente o máximo expoente do socratismo, mas que com sua genialidade confere-lhe uma estrutura filosófica mais sólida e principalmente original, dando origem a uma das orientações mais significativas da história da filosofia.
6- ESCOLA PLATÔNICA
Fundador: PLATÃO (427-347 a.C)
Doutrinas principais: A característica dominante do pensamento platônico é o dualismo. Platão considera o mundo material como um mundo decaído e alienado, uma reprodução imperfeita, uma imitação mal feita, uma participação limitada de um mundo ideal, perfeito, eterno incorruptível, divino, o mundo das Idéias. Esse dualismo reflete-se em todos os setores da filosofia: na lógica, onde segue-se o procedimento dialético; na gnosiologia, que desvaloriza o conhecimento sensitivo, reduzindo-o à função de reavivar a lembrança das idéias (teoria da reminiscência); na psicologia, com a identificação do homem a uma só alma, espiritual e imortal, considerando o corpo uma prisão e um obstáculo às atividades da alma, na ética, onde se ordena um rígido controle ou antes a completa supressão dos instintos e das paixões, que torna possível a separação da alma da prisão do corpo, e a contemplação das Idéias; na estética, com desvalorização da comédia, da tragédia e das artes figurativas, pois não favorecem a elevação do espírito; na política, com a divisão da sociedade em classes e a atribuição do governo ao filósofo-rei.
Maiores expoentes:
O platonismo constitui o veio máximo da história da filosofia; teve válidos representantes em todas as épocas: na época helenística com a Antiga e a Nova Academia e com o Neoplatonismo (Plotino); na patrística (com Clemente de Alexandria, Orígenes, Basílio, Agostinho, Pseudo-Dionísio, Boécio); na escolástica (com santo Anselmo, são Boaventura, Niculau de Cusa); na idade moderna (com Descartes, Malebranche, Vico, Leibntz, Schelling e Hegel).
7- ESCOLA ARISTOTÉLICA 
Fundador: ARISTÓTELES DE ESTAGIRA (384-322 a.C.)
Doutrinas principais: A visão filosófica de Aristóteles caracteriza-se pelo esforço em captar a realidade de modo unitário (contra o dualismo de Platão) e, ao mesmo tempo pela tentativa de restituir as causas últimas de tudo aquilo que é mutável e contingente a um princípio único transcendente. Com tal propósito, Aristóteles postula quatro causas fundamentais: a matéria e a forma (para explicar a estrutura intrínseca das realidades corpóreas), o agente e a finalidade (para explicar a origem das coisas e seu dinamismo). Vale-se desses princípios para resolver todos os grandes problemas: problema cosmológico (composição hilemórfica de todas as coisas, ou seja, todas elas são constituídas de matéria e forma as quais se encontram na relação de potência e ato; teleologia: o dinamismo das coisas e o seu devir são provocados pelo Primeiro Motor Imóvel, o que é seu fim último); problema antropológico (o homem não é apenas alma, como afirmava Platão, mas é o resultado da união substancial de alma e corpo, a primeira concebida como forma e o segundo como matéria; entretanto a alma compreende um elemento espiritual, divino e imortal); problema gnosiológico (o conhecimento intelectivo funda-se no sensitivo, enquanto as idéias são extraídas das sensações por meio do procedimento abstrativo); problema metafísico (a metafísica é o saber mais importante e
elevado, pois estuda o ser em si mesmo e tem em vista a descoberta das causas últimas das coisas); problema ético (a perfeita felicidade e a plena realização do próprio ser pelo homem não pode consistir só na contemplação das Idéias, mas exige também uma adequada satisfação dos sentidos, pois o homem é essencialmente constituído de corpo além do espírito); problema teológico (existe um Ser supremo, que é a causa última de todo devir na qualidade de Motor Imóvel).
Maiores expoentes:
A escola fundada por Aristóteles (chamada também peripatética pois Aristóteles ensinava caminhando), num primeiro momento não teve nenhum expoente importante e assim o pensamento do mestre caiu logo no esquecimento. Reaparece, entretanto, durante a Idade Média, primeiro no mundo árabe e depois no mundo cristão. Do encontro do pensamento Aristotélico com o islâmico resulta a escolástica árabe (Avicena e Averróis); do encontro com o cristianismo surge a grande escolástica católica (Alberto Magno, Tomás de Aquino, Roger Bacon, Duns Scoto, Occam). Também no Renascimento ( com Pomponazzi e Telésio) e no início da época moderna (com Locke) esta escola continua a ter representantes válidos.
8- ESCOLA ESTÓICA 
 
Fundador: ZENÃO (336-274 a.C)
Doutrinas fundamentais: O estoicismo é principalmente uma doutrina moral, que faz consistir a felicidade e, portanto, o fim último do homem na prática da virtude e na recusa de qualquer concessão aos sentimentos e às paixões. Porém compreende também algumas importantes doutrinas sobre o conhecimento e a estrutura do cosmos. Quanto ao problema gnosiológico, os estóicos se afastam tanto de Platão quanto de Aristóteles pelo modo de conceber a verdade. Enquanto para Platão e Aristóteles esta consiste especialmente na correspondência perfeita entre a representação mental e a situação real das coisas, para Zenão e seus discípulos está na total compreensão, ou catalepsia, do objeto, pelo qual a mente fica obrigada ao consentimento. No que concerne ao problema cosmológico, o mundo, segundo os estóicos, é constituído por dois elementos primordiais: a matéria e o Logos. A primeira, sendo indefinida e inerte, representa o princípio passivo; o segundo, sendo animado e pleno de energia, representa o princípio ativo. 
Expoentes principais:
O estoicismo é o movimento filosófico mais original do período helenístico e, ao mesmo tempo, é também aquele que perdurou por mais tempo: fundado no fim do século IV a.C., continua a florescer até além do século III d.C. Outros expoentes desta escola (chama-se estóica porque as lições eram dadas sob os pórticos, stoà, de Atenas) são Crispino, Epícteto, Sêneca e Marco Aurélio.
9- ESCOLA EPICURISTA 
 
Fundador: EPICURO DE SAMOS (341-260 a.C)
Doutrinas fundamentais: Ante os grandes problemas filosóficos, o epicurismo assume uma posição de nítido contraste com o estoicismo, refutando-lhe o rigorismo ético e o espiritualismo antropológico e metafísico. O epicurismo desenvolve, portanto, uma concepção materialista no que diz respeito aos princípios primeiros das coisas (todas as coisas, inclusive os deuses e as almas, são constituídas por átomos e vácuo); mecanicista com respeito aos fenômenos da natureza, os quais são restritos exclusivamente ao movimento e à sua lei; sensorial, pelo problema do conhecimento que é todo deduzido das faculdades sensitivas, enquanto o conceito aparece considerado como simples antecipação (prolepsis) do futuro; hedonista, no que respeita ao problema moral: a felicidade, o bem supremo do homem consiste no prazer (hedonè).
Expoentes principais:
O epicurismo sempre teve seguidores, sobretudo no mundo romano, com Lucrécio e Horácio e no mundo renascentista com Valle e Montaigne. 
10- ESCOLA NEOPLATÔNICA
Fundador: PLOTINO (205-270)
Doutrinas principais: O esforço maior da reflexão filosófico-religiosa de Plotino diz respeito ao Absoluto e às nossas relações com Ele. Valendo-se de sugestões provenientes do judaísmo e do cristianismo que ele bem conhecia, o pagão Plotino está em condições de superar os limites da especulação metafísica de Platão e Aristóteles, os quais não conseguiram fundar a realidade sobre um princípio único. Ele consegue este objetivo fazendo derivar todas as coisas do Absoluto, que denomina Uno, dele desenvolvendo um profundo conceito. Os grandes pilares da filosofia religiosa de Plotino são a simplicidade, a transcendência e a inefabilidade do Uno, e além disso a derivação de todas as coisas do Uno, por meio do processo de emanação. A ordem das emanações, segundo Plotino, é a seguinte: primeiramente atua a inteligência ou Nous, que é a única realidade que teve origem imediata do Uno; da Inteligência procede a Vida; da Vida a Alma Universal e da Alma Universal as Almas de cada um dos homens. A última emanação do Uno é a matéria, que se encontra no extremo oposto do Uno e do Bem e por isso identifica-se com o Mal. Ao processo de emanação confronta-se um processo de retorno e reabsorção das coisas no uno. A atuação da epistrofè (retorno) cabe ao homem, o qual a realiza percorrendo três etapas: ascética ou catarse (por meio do exercício das quatro virtudes cardeais), contemplação (conhecimento do Uno por intermédio da filosofia) e êxtase (união mística imediata com o Uno).
Maiores expoentes: 
Influência profunda exerceu o pensamento do Plotino em toda a filosofia medieval e moderna. Entre os maiores expoentes recordemos os discípulos Porfírio e Proclo (dois filósofos pagãos); o Pseudo-Dionísio e Boécio; o árabe Avicena; Nicolau de Cusa e Marcilio Ficino, e os modernos Leibnitz, Schelling e Hegel. 
11- ESCOLA AGOSTINIANA
Fundador: AGOSTINHO DE HIPONA (354-430)
Doutrinas principais: A visão filosófica agostiniana é resultado da exigência de encontrar uma base racional para a fé cristã. Para atingir este objetivo, Agostinho recorre à filosofia de Platão, obtendo assim uma visão que aparece propriamente qualificada como platonismo cristão. Com efeito, em todos os problemas fundamentais a matriz platônica pode ser claramente reconhecida: no problema do conhecimento, com a doutrina da iluminação; no problema antropológico, com a substancial identificação entre o ser do homem e a alma; no problema metafísico, com a teoria das verdades eternas (idéias) e das rationes seminales; no problema ético, com a dura condenação de todo o prazer sensível e das paixões e de tudo aquilo que pertença ao mundo natural. Entretanto, na visão agostiniana, os elementos platônicos não constituem blocos isolados, mas estão sabiamente apoiados e intimamente unidos às doutrinas decorrentes do cristianismo, tais como a doutrina do mal, do pecado, da graça, da liberdade, da Trindade, da pessoa, do tempo e da história. Singular é a contribuição de Agostinho à solução do problema histórico, por meio da célebre doutrina das duas cidades: a cidade de Deus (= a Igreja), fundada no amor de Deus, e a cidade terrena (=o Estado), fundada no amor de si, no egoísmo. Entre as duas cidades o confronto é insanável e perene, até o triunfo total da cidade de Deus.
Maiores expoentes:
 
Toda especulação da primeira escolástica está sob a influência de santo Agostinho: basta recordar os nomes de santo Anselmo, Hugo e Ricardo de São Vítor e Bernardo. Dominante é o elemento agostiniano nos pensadores franciscanos; são Boaventura, Alexandre de Hales e Duns Scoto. Na trilha de Agostinho seguem também alguns filósofos modernos, em particular Descartes e Vico. Por fim, ao bispo de Hipona referem-se Lutero e Calvino.
12- ESCOLA TOMISTA 
Fundador: TOMÁS DE AQUINO (1225-1274) 
 
Doutrinas principais: Tomás de Aquino, assim como Agostinho de Hipona e tantos outros pensadores cristãos, desenvolve uma visão geral das coisas, em que os elementos de origem religiosa estão sistematicamente fundidos com elementos oriundos da visão filosófica grega. Porém, enquanto Agostinho chega-se principalmente a Platão, Tomás retoma
principalmente Aristóteles, mas sem descuidar-se das fontes platônicas e neoplatônicas. Nem por isso é um pensador eclético; antes, é profundamente original, à medida que possui uma concepção do ser e dos princípios primeiros das coisas que lhe é peculiar. Os motivos básicos da sua metafísica do ser são os seguintes: a perfeição máxima é o ser, a criação é uma das perfeições do ser aos entes; a limitação da perfeição do ser nos entes deve-se a uma potência, ou seja, à essência. Portanto, nos entes ocorre uma distinção real entre ser e essência; entre os entes individuais, como também entre os entes e o ser supremo, existe uma analogia, ou seja, semelhança, pois são todos apresentados com a mesma perfeição. À luz de sua concepção do ser, Tomás resolve todos os principais problemas filosóficos: o problema epistemológico (a verdade consiste na correspondência entre pensamento e ser); o problema teológico (Deus é o ipsun esse subsistens); o problema cosmológico (o mundo origina-se por criação através de uma comunicação do ser por parte de Deus); o problema antropológico (a alma humana é naturalmente imortal, enquanto possui um ato de ser próprio independentemente do corpo).
Maiores expoentes:
O pensamento tomista teve representantes de grande valor no século XVI (Caetano, Suárez, Vitoria) e no século XX (Cardeal Mercier, Gilson, Maritain, Rahner).
 
13- ESCOLA FRANCISCANA
Fundador: BOAVENTURA DE BAGNOREGIO (1221-1274)
Doutrinas principais: O pensamento dos mestres franciscanos, em particular de são Boaventura, que é o fundador dessa escola, caracteriza-se por uma síntese nem sempre orgânica, mas de grande fôlego, de elementos deduzidos de várias fontes, principalmente de Platão e Agostinho, mas também de Aristóteles e de Avicena e obviamente da revelação bíblica. As doutrinas específicas à escola franciscana são as seguintes: na epistemologia, a teoria da iluminação e o conhecimento direto e imediato tanto de si mesmo quanto das coisas individuais (sem recorrer ao processo da abstração); na ontologia, a concepção unívoca do ser e a negação da distinção real entre essência e existência; na cosmologia, a doutrina do hilemorfismo universal (isto é, todas as coisas – compreendidos os anjos – são constituídas de matéria e forma) e a negação da eternidade do mundo; na antropologia, a teoria da pluralidade das formas (uma para o corpo, uma outra para a alma vegetativa e sensitiva e outra ainda para a alma racional); na teologia natural, a doutrina da evidência imediata da existência de Deus, segundo alguns autores (Alexandre de Hales e Boaventura) ou da sua indemonstrabilidade, segundo outros autores (Duns Scoto e Occam).
Maiores expoentes:
A escola franciscana teve expoentes muito válidos, especialmente nos séculos XIII e XIV: são Boaventura, Alexandre de Hales, Duns Scoto, Occam, Roger Bacon e Pedro Olivi.
14- ESCOLA RACIONALISTA
 
Fundador: DESCARTES (1596-1650)
 
 Doutrinas principais: Por várias razões, a partir de Descartes, a preocupação dominante do filósofo não mais diz respeito ao ser, à realidade em si, às causas últimas das coisas. Deus, mas diz respeito ao homem, à sua capacidade de conhecer o mundo e de transformá-lo. O que conta mormente é estabelecer o valor do conhecimento humano e descobrir uma metodologia adequada para a investigação filosófica. Descartes, pai do racionalismo, fascinado pela matemática e pela geometria, considera que o único conhecimento válido seja aquele que não provém dos sentidos, mas que se encontra inato na alma. Quanto ao método, Descartes propõe o de colocar em dúvida qualquer conhecimento que não resulte claro e distinto. Com efeito, clareza e distinção constituem para ele as propriedades essenciais de todo conhecimento verdadeiro. O conhecimento racional tem por objeto o universal e o necessário e é, portanto, capaz de aprender a natureza verdadeira, imutável das coisas. Assim, a metafísica torna-se possível: pode-se conhecer Deus (antes, a sua existência é praticamente evidente: para recebê-la basta o argumento ontológico) e pode-se provar a imortalidade da alma. O homem atinge a perfeita felicidade fazendo triunfar o poder da razão sobre os instintos e as paixões, e dedicando-se à contemplação amorosa de Deus (amor intellectaulis Dei, segundo a bela expressão de Spinoza).
Maiores expoentes: 
As teses racionalistas de Descartes foram retomadas e desenvolvidas por Malebranche, Spinoza, Leibnitz e, em parte, também pelos iluministas e idealistas.
15- ESCOLA EMPIRISTA
Fundador: FRANCIS BACON (1561-1626)
Doutrinas principais: No século XVII o ponto de partida da reflexão filosófica não é mais o problema do ser, mas o do conhecer. Porém, enquanto os filósofos do continente (Descartes, Spinoza e Leibnitz) o encaram a partir do modelo das ciências exatas (matemática e geometria) e isto os conduz a desenvolver uma concepção racionalista do conhecimento e da realidade, os filósofos ingleses encontram-se num ambiente cultural bem diferente: em seu país florescem não tanto as ciências matemáticas quanto as experimentais – botânica, química, astronomia, mecânica, etc.; por isso, é lógico que a sua preocupação esteja voltada para a pesquisa de uma teoria do conhecimento e de um método de investigação que correspondam às exigências de tais ciências. Ora, as ciências experimentais partem da constatação de eventos particulares, da experiência de certos fatos concretos (não de idéias abstratas, de princípios universais); seu objetivo é a superação dos fatos, com a descoberta de relações constantes e leis estáveis, de forma a tornar possível a antecipação de ulteriores experiências. A problemática epistemológica da filosofia inglesa consiste essencialmente nisto: como é possível da experiência sensível, chegar-se a leis universais? Mas é exatamente a tese de que todo o conhecimento procede da experiência (= empirismo) que os leva a concluir que também as idéias abstratas e as leis científicas conservam a mesma incerteza, instabilidade e particularidade do conhecimento sensível. A mente humana não afeta nada do universal e necessário. Desse modo, a metafísica torna-se impossível: nada se pode saber a respeito da existência e natureza de Deus , sobre a origem primeira e o fim último da vida humana, sobre a essência das coisas materiais. Nem no campo moral ocorrem normas absolutas: bom ou mau é aquilo que a sociedade aprova ou desaprova.
Maiores expoentes:
O empirismo é a filosofia congênita do povo inglês. No século XVII professaram-na Bacon Hobbes e Locke; no século XVIII, Berkeley e Hume no século XIX, Spencer e Mill; no século XX, Russel, Ayer, Ryle e muitos outros.
16- ESCOLA ILUMINISTA
Fundador: VOLTAIRE (1694-1778)
Doutrinas principais: O iluminismo mais que uma escola ou um sistema filosófico é um movimento espiritual típico do século XVIII e caracterizado por uma ilimitada confiança na razão humana, considerada capaz de diminuir as névoas do conhecimento e do mistério que estorvam e obscurecem o espírito humano, e de tornar os homens melhores e felizes, iluminando-os e instruindo-os. O iluminismo é essencialmente um antropocentrismo, um ato de fé apaixonado pela natureza humana. É um novo evangelho de progresso e felicidade. O iluminismo preconiza um novo messianismo, uma nova era, em que o homem, vivendo conforme a sua natureza será perfeitamente feliz. As características fundamentais do iluminismo são: veneração à ciência, com a qual se espera resolver todos os problemas que afligem a humanidade; empirismo: tudo aquilo que está além da experiência não conserva nenhum interesse e cessa de ter valor como problema; racionalismo: ilimitada confiança na razão cujo poder é considerado ilimitado; antitradicionalismo: crítica da tradição, especialmente da igreja e da monarquia e negação de tudo aquilo que nos transmitido do passado; otimismo utópico: o homem considera-se capaz de eliminar todas as causas da infelicidade e da miséria em qualquer setor (social,

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