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INSTRUMENTALIZAÇÃO CIENTÍFICA Conselho Editorial EAD Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Mara Lúcia Machado José Édil de Lima Alves Astomiro Romais Andrea Eick Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. APRESENTAÇÃO Este livro tem como objetivo instrumentalizar você, leitor, no que diz respeito à elaboração de um projeto de pesquisa de cunho científico ou profissional. Essa instrumentalização refere-se tanto aos processos de aquisição de conhecimento, estudo, elaboração da estrutura e formata- ção de um projeto de pesquisa ou de um artigo científico como às fon- tes de pesquisa virtuais, evidenciando-se quais são elas, como acessá- las e como identificar sua credibilidade. É fundamental saber se uma fonte de pesquisa encontrada pode ou não ser utilizada e referenciada em um trabalho científico, assim como é importante saber como utili- zá-la, respeitando os direitos dos autores, utilizando-a de forma ética. O primeiro capítulo versa sobre o ato de estudar, convidando o leitor a refletir sobre os procedimentos dessa tarefa. O segundo capítulo tem como objetivo ampliar a compreensão do que é conhecimento e de como ele pode ser produzido. No terceiro capítulo, são apresentados conceitos e formas de buscar informações em ambientes virtuais e, no quarto capítulo, é examinada uma classe de fonte de pesquisa virtual - as bibliotecas virtuais - e é demonstrado como pode ser feito o seu acesso. O quinto capítulo aborda os periódicos on-line, uma outra fonte de pesquisa virtual, enquanto o sexto versa sobre os elementos que com- põem um projeto de pesquisa; já no capítulo seguinte, você aprenderá o que é pesquisa científica e a posicionar-se criticamente frente a ela. O oitavo capítulo objetiva levar o leitor a compreender que existem dife- rentes tipos de pesquisa e a conhecer as principais características, van- tagens e limitações de cada um. Já o nono enfoca o Qualis, uma das principais formas da medir a qualidade de um veículo de publicação científica. O capítulo décimo traz a Plataforma Lattes, um padrão utilizado pela comunidade acadêmica e científica para a elaboração de currículos. O 11º capítulo tem o objetivo de auxiliar os leitores na elaboração de trabalhos acadêmicos e relatórios de pesquisa. A estrutura de um arti- 6 go, de um documento científico e a linguagem científica são apresen- tadas em seguida, no 12º capítulo. Já o penúltimo capítulo visa auxiliar o leitor na formatação de seu documento em um editor de textos, se- gundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O último capítulo trata dos aspectos éticos envolvidos na utilização da informação encontrada em outros autores, além de abor- dar partes da Lei de Direitos Autorais. SOBRE O AUTOR Cosme Luiz Chinazzo É graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Fafimc, pós-graduado em Administração Edu- cacional pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Le- tras - Fapa e é mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Tem atuado como professor de História no ensino fundamental e médio. Ministrou por vários anos as disciplinas Metodologia da Pesquisa e Antropologia em cursos de graduação e pós- graduação do Instituto Metodista de Educação e Cultura - Imec, de Porto Alegre. Lecionou a disciplina de Ciências Políticas na Facul- dade Cenecista de Bento Gonçalves. Desde 1990, é professor na Uni- versidade Luterana do Brasil - Ulbra, tendo ministrado, entre outras, as disciplinas de Introdução à Filosofia, Metodologia da Pesquisa, Antro- pologia, Filosofia da Educação e Política Exterior do Brasil. Atualmen- te, leciona as disciplinas de Instrumentalização Cientifica, Fundamen- tos da Ação Pedagógica I e Filosofia da Educação. Desde 2004, atua no ensino a distância - EaD, modalidade em que já trabalhou com Intro- dução à Filosofia e Metodologia Científica e, atualmente, ministra Instrumentalização Científica e Filosofia da Educação. Patrícia Noll de Mattos É natural de São Paulo e vive em Porto Alegre desde os quatro anos de idade. É bacharel em Informática pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS (1991), mestre em Ciências da Computação pela UFRGS (1996) e, atualmente, cursa doutorado em Informática na Universidade de Ilhas Baleares, na Espanha, além de cursar especiali- zação em Ensino a Distância - EaD no Senac-RS. É professora da Uni- versidade Luterana do Brasil - Ulbra desde 1994, atuando no curso de Computação com as disciplinas Estruturas de Dados I e Paradigmas de Linguagens de Programação. É professora do ensino a distância da Ulbra desde 2004, modalidade em que já trabalhou como conteudista 8 de diversas disciplinas. Já ministrou aula no curso de Processamento de Dados da Unisinos e na pós-graduação em Medicina da UFRGS. Otávio José Weber É licenciado em Filosofia e Teologia, pós-graduado em Psicopedagogi- a, mestre e doutor em Educação. Foi professor na Faculdade de Filoso- fia Nossa Senhora Imaculada Conceição - Fafimc (1984-1986) e na PU- CRS (1985-1991). Atua na Ulbra desde 1990, ministrando as disciplinas de Metodologia de Pesquisa (hoje Instrumentalização Científica), Filo- sofia e História da Educação. Na Faculdade Cenecista de Bento Gon- çalves (desde 1998) leciona Metodologia Científica, Filosofia e Sociolo- gia das Organizações, outras vezes, Filosofia e Ética; na pós-graduação, Metodologia de Pesquisa. Foi coordenador do curso de pós-graduação em Psicopedagogia da Ulbra (1996-1998). Atua na educação a distância (EaD) desde 2003, modalidade em que ministra as disciplinas Metodo- logia Científica/Instrumentalização Científica, Filosofia do Direito (2 anos), Tópicos de Filosofia e História da Educação. No Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde, na pós- graduação conduz a disciplina de Filosofia e Ética. Está convidado para trabalhar a disciplina de Ética no curso de pós-graduação em Auditoria em Saúde do Coren-RS. Em sua vida, com mais de 20 anos de atividade no ensino superior, aprendeu que as "únicas desgraças completas são as desgraças com as quais nada aprendemos" (William E. Hoching). SUMÁRIO 1 O ATO DE ESTUDAR ........................................................................................ 13 1.1 O que é estudar? ..................................................................................... 13 1.2 A leitura ................................................................................................. 16 2 CONHECIMENTO E MÉTODO ........................................................................... 24 2.1 O que é conhecimento ............................................................................. 24 2.2 O processo de produção do conhecimento ................................................ 27 2.3 Fundamentos do conhecimento ............................................................... 29 2.4 A questão do método ............................................................................... 30 3 MECANISMOS DE BUSCA, DIRETÓRIOS E BANCO DE DADOS ............................ 38 3.1 Mecanismos de busca ............................................................................. 38 3.2 Ferramentas de idiomas .......................................................................... 42 3.3 Diretórios ............................................................................................... 43 3.4 Bancos de dados .....................................................................................43 4 BIBLIOTECAS VIRTUAIS, ENCICLOPÉDIAS E PORTAIS ....................................... 46 4.1 Website de biblioteca .............................................................................. 46 4.2 Catálogo de biblioteca ............................................................................ 47 4.3 Bibliotecas virtuais ................................................................................. 49 4.4 Portal Bibliotecas Virtuais Temáticas ....................................................... 49 4.5 Enciclopédias virtuais ............................................................................. 50 5 PERIÓDICOS E PORTAIS ................................................................................. 54 10 5.1 Revistas virtuais ou periódicos ................................................................. 54 5.2 Portal de periódicos ................................................................................ 56 6 PROJETO DE PESQUISA .................................................................................. 62 6.1 O projeto de pesquisa .............................................................................. 62 7 A PESQUISA CIENTÍFICA ................................................................................. 69 7.1 O que é pesquisa ..................................................................................... 69 7.2 Experiência, raciocínio e pesquisa ........................................................... 72 7.3 Pesquisa como princípio científico e educativo ......................................... 73 7.4 Leitura e pesquisa ................................................................................... 75 8 TIPOS DE PESQUISA ....................................................................................... 78 8.1 Classificação das pesquisas com base nos objetivos ................................. 78 8.2 Classificação das pesquisas com base nos procedimentos técnicos .......... 80 9 O QUALIS ...................................................................................................... 86 9.1 Credibilidade na internet ......................................................................... 86 9.2 O programa Qualis .................................................................................. 87 9.3 Identificação ISSN .................................................................................. 91 10 A PLATAFORMA LATTES ................................................................................ 94 10.1 O que é o CNPq? .................................................................................... 94 10.2 Como acessar o Lattes .......................................................................... 94 10.3 Dicas sobre a credibilidade das fontes de pesquisa virtual utilizadas ....... 99 11 RELATÓRIO DE PESQUISA ........................................................................... 100 11.1 Elaboração de trabalhos científicos conforme normas técnicas ............. 100 11.2 O que é monografia ............................................................................. 101 11.3 Estrutura do trabalho científico ........................................................... 102 12 ARTIGO E LINGUAGEM CIENTÍFICA .............................................................. 110 12.1 Artigo científico .................................................................................. 110 12.2 Estrutura de um trabalho científico ...................................................... 113 11 12.3 Citações ............................................................................................. 114 12.4 A linguagem científica ........................................................................ 115 13 APLICAÇÃO DAS NORMAS DA ABNT EM UM EDITOR DE TEXTOS .................... 119 13.1 Formatação das normas da ABNT através do editor de textos Microsoft Word .................................................................................................................. 119 14 ÉTICA E ASPECTOS LEGAIS NA UTILIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO ....................... 131 14.1 A informação necessita ser protegida?................................................. 131 14.2 Os direitos autorais ............................................................................. 131 14.3 O Portal Domínio Público ..................................................................... 139 14.4 Ética na utilização da informação ........................................................ 140 REFERÊNCIAS POR CAPITULO ......................................................................... 142 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 144 ANEXO ........................................................................................................... 146 1 O ATO DE ESTUDAR Neste capítulo, temos o objetivo de levar o estudante a refletir sobre os seus procedimentos diante da tarefa de estudar, no sentido de se auto- questionar a partir das seguintes ideias: que estudante tenho sido? Que estudante sou? Que estudante quero ser? No final deste estudo, ele deverá ser capaz de organizar sua própria ação estudantil de ma- neira a ser mais eficiente e eficaz. O estudante será desafiado a refletir sobre perguntas como: o que é estudar? Qual a importância da leitura no ato de estudar? Você estuda só para fazer provas e exames? Ou estuda com uma perspectiva maior de construção de um futuro melhor? E quanto às leituras? Como é que você costuma ler? Apresentaremos, então, sugestões práticas e subsídios para o aprovei- tamento da leitura e para a concretização da sua qualidade, tais como: anotações e observações, fichas de leitura, fluxogramas de textos, re- sumo e resenha de textos. As reflexões e as propostas contidas neste capítulo foram fundamenta- das em Chinazzo1. 1.1 O que é estudar? Faremos uma reflexão resumindo o texto de Chinazzo. A expressão ato de estudar significa aquilo que se faz para estudar. O ato realizado, concluído no ato de estudar, não existe por si só, pois, a cada momen- to, novas circunstâncias se oferecem para sua concretização. Portanto, ele só existe à medida que o exercício do ato é renovado e multiplica- do. Entendemos que estudar não significa o que muitos pensam e conce- bem como um simples sentar em bancos escolares e ouvir o que os professores transmitem para repetir, tal e qual, posteriormente, em provas ou exames. Essa é uma visão muito simplória, tradicional e 14 passiva. Estudar, pelo contrário, é um ato que envolve dinamismo e requer muito esforço. São comuns observações de que um grande número de estudantes que chegam às universidades não sabe avaliar a dimensão e a importância do que é o ato de estudar, sendo que, muitas vezes, se diz que alguns nem sabem estudar. Uma triste consequência disso é a perda de um tempo precioso com um pseudoestudar. Perda porque, se esse mesmo tempo fosse aproveitado criteriosamente e conscientemente por parte do estudante, os resultados poderiam ser bem mais eficientes. Você já parou para pensar nisso? Em função de tal engano, muitos estudantes têm se fixado em hábitos tradicionais, desenvolvendo um estudo meramente mecânico, memo- rizador e reprodutivo; mas o ideal é o contrário: o estudante precisa ter consciência de que estudar é um ato que deve ser assumido e direcio- nado por ele próprio. Isso porque estudar não é engolir os livros que os professores recomendam nem os saberes que transmitem, mas é, antes de tudo, a partir dos livros e dos docentes, saber assimilar e revi- sar os conteúdos de uma maneira crítica e reflexiva, evitando-se sim-plesmente passar por alto sobre tais livros e saberes, estabelecendo uma morada participativa neles e com eles, dando uma direção de reconstrução do já construído, de refazer o já feito. Quer dizer, trans- formar o material de estudo e, consequentemente, transformar a si mesmo. O ato de estudar compreendido nessa visão é ação, ação transformado- ra e construtora de uma nova realidade. Então, estudar é ação pela qual cada estudante enfrenta a realidade do mundo, buscando com- preendê-lo e explicá-lo. O ato de estudar é consequência da relação homem e mundo, uma vez que, a partir de uma análise fenomenológica, constatamos que o ho- mem está em constantes relações com o mundo, com os outros e consi- go mesmo. Isso o leva a empreender um contínuo esforço no sentido de elucidar o processo constitutivo do ser do mundo, do seu próprio ser e de sua história. Subjacente a esse empreendimento, o homem encontra-se como ente concreto, ser consciente e inteligente, inserido em um mundo também concreto. O homem, como tantos outros seres, "está-aí-no-mundo"; todavia ele deve passar desse simples "estar-aí" para se tornar um "ser-aí". Usan- do-se a terminologia fenomenológica, o homem deve deixar de ser objeto para ser sujeito. 15 As coisas existentes no mundo relacionam-se numa dimensão de causalidade, ou seja, de pura exterioridade, são relações sem significa- ções. O homem também se relaciona com essas coisas, mas de maneira fundamentalmente diferente, pois há nele o que chamamos de interio- ridade. Trata-se de uma relação em que o homem confere um signifi- cado às coisas. Dessa forma, rompe com a exterioridade reinante nas coisas do mundo. As coisas passam a existir a partir do momento em que o homem lhe confere significações de maneira expressa. No entanto, se ele não con- segue expressar o mundo com significações, pode tornar-se coisa (obje- to), deixando de viver sua interioridade própria de sujeito, para viver uma exterioridade própria das coisas, objeto. Então, mesmo não sendo uma coisa, o homem pode viver como se fosse uma coisa. Tal vida caracterizaria uma renúncia à sua condição originária de ser sujeito- consciente, negando assim a sua homogeneidade, ou seja, negaria sua condição original de ser homem. Portanto, na sua relação com o mundo, o indivíduo precisa analisar, observar atentamente, examinar, isto é, olhar o mundo reflexivamente, distanciando-se deste. A isso chamamos de objetivar o mundo, que quer dizer distanciar-se dele, libertar-se do meio envolvente, enfrentá- lo, desapegar-se dele para questioná-lo, como objeto de reflexão. Capa- cidade que só o ser humano possui, e que os outros animais não têm. A partir dessa capacidade marcante do espírito humano de objetivar sem se tornar objeto, o homem consegue desapegar-se das coisas e até dar nova existência a elas, ou seja, dar-lhes uma existência intencional. Não se apegando ao mundo dado, ele supera sua imanência, isto é, transcende para além das coisas do mundo, sendo que nessa atitude pode atribuir significados ao mundo. Dando significados, aprende a expressar o mundo, isto é, produz o mundo. O mundo expresso pelo homem passa a ser o mundo humano, o mundo do homem. Ao anun- ciar o mundo, o homem transforma-o, conhece-o, transcende a sua imediatez e, simultaneamente, transforma-se, conhece-se e liberta-se. Devido a esses dinamismos constantes de transcender e transcender- se, o ser humano nunca estaciona na busca da sua realização, mas, ironicamente, também nunca chega a uma realização plena e definiti- va. Trata-se de um movimento dialético, que está em permanente con- tinuidade, ultrapassando-se todos os limites, porque, ao ultrapassar um, logo se impõe outro e assim sucessivamente. Desse modo, podemos transferir essa reflexão e aplicá-la ao ato de estudar. Assim, teremos que o estudante que valoriza o ato de estudar 16 não se deixará aprisionar pelos mecanismos de uma educação tradi- cional, passiva e conservadora. Buscará novas formas de produzir o conhecimento, para poder contar sua história. Ele não copia ideias e pensamentos, mas analisa-os, para poder expressar seus próprios pen- samentos. Tomando essa atitude, ao estudar, ele vai aos poucos se sentindo como autor de sua própria história e, com isso, sente-se cada vez mais responsável pelos rumos da sua existência e do mundo. Vai adquirindo liberdade e autonomia, à medida que o ato de estudar lhe possibilita assumir conscientemente sua essencial condição humana de ser sujeito. Nessa perspectiva, entendemos que estudar não é repetir o passado, mas sim aprender a dizer o mundo de forma crítica e renovada, de forma própria, criadora e transformadora. Transformadora, porque o ato de estudar não deve fixar-se apenas no aprender a repetir e repro- duzir o que os outros já disseram sobre o mundo, mas ir além, pois estudar é ação, criação e recriação. O ato de estudar não existe separa- do do mundo, produzindo pensamentos abstratos e arbitrários. Pelo contrário, do mundo é gerado e para o mundo deve voltar-se para transformá-lo. Em outras palavras, cada ser humano é responsável pela produção de sua história e deve conscientizar-se de que seu desenvolvimento inte- lectual e sua inserção no mundo dependem basicamente de suas ações e decisões. Isso significa que no ato de estudar cada estudante deve fazer-se sujeito desse ato, não se tornando meramente objeto nele. Fazer-se sujeito no ato de estudar é a cada ato libertar-se, realizar-se, autodesenvolver-se como agente histórico. É interferir no mundo e inserir-se participativamente nele. É autorrealizar-se. Estudar é um ato desafiador, com o qual o estudante sente-se provoca- do pelo mundo e pelas coisas, no sentido de compreendê-las e apro- priar-se de suas significações. Estudar é uma constante reflexão e aber- tura como possibilidade de ultrapassar as imanências do mundo. Con- sequentemente, é o esforço para procurar ir sempre mais além dos seus próprios limites. 1.2 A leitura Já realizamos uma reflexão em torno do ato de estudar. Agora, nosso desafio é pensar um pouco sobre a importância da leitura nesse pro- cesso. O espírito científico principia quando o aluno decide ser o sujeito da aprendizagem. De acordo com Freire, "estudar é um trabalho difícil. 17 Exige de quem o faz uma postura crítica, sistemática. Exige uma disci- plina intelectual que não se ganha a não ser praticando-a"2. Isso impli- ca uma reflexão sobre o próprio ato de estudar que se vai solidificando à medida que se vai estudando e não simplesmente lendo. São itens indispensáveis ao ato de ler, conforme esclarece Freire3: a) o estudante deve assumir o papel de sujeito do ato de estudar; b) tomar uma atitude frente ao mundo; c) busca de uma bibliografia adequada; d) atitude de humildade; e) compreensão crítica do ato de estudar; f) assumir uma relação dialógica com o autor; g) uma reflexão constante sobre o seu próprio ato de estudar. No ato de estudar, está implícita a importância da leitura. Para Lakatos e Marconi4, (...) ler significa conhecer, interpretar, decifrar, distinguir os elementos mais importantes dos secundários e, optando pelos mais representativos e sugestivos, utilizá-los como fonte de novas ideias e do saber, através dos processos de busca, assimilação, retenção, crítica, verificação e integração do conhecimento. É importante que o estudante aprenda a fazer uma leitura exploratória, uma leitura analítica, uma leitura interpretativa e uma leitura de pro- blematização. Aprender a ler é saber extrair do texto e do contexto, numa posição crítica, um criar ou recriar o mundo da palavra - texto - e a leitura do mundo - contexto -, caracterizados pela vivência e pelas experiências do mundo vivido. Então, sobre a leitura algumas questões se impõem. Quala relação entre ler e estudar? Que tipo de leitura os estudantes realizam sobre os textos propostos pelos seus professores? Para que serve o texto? Para que serve a leitura? Entendemos que a leitura constitui a mola mestra do ato de estudar. Referimo-nos principalmente à leitura de textos técnicos das ciências e da filosofia. São textos que revelam uma compreensão mais elaborada sobre o mundo. Uma coisa é certa: a leitura de estudo não pode prender-se unicamente ao texto escrito. Antes de tudo, o leitor-estudante deve ter a consciên- cia de que todo texto reflete determinado contexto, que, via de regra, é bem mais complexo do que o texto impresso. Nesse sentido, a leitura não é um ato isolado e momentâneo. Pelo contrário, deve ser encarada como o caminho a ser percorrido pelo leitor na busca de descobrir e articular sua realidade existencial com os significados impressos pela palavra, uma vez que todo texto escrito originou-se do mundo viven- 18 ciado pelo seu autor. O autor estruturou o texto a partir do modo como ele percebeu o seu mundo (contexto) e a partir das influências que dele sofreu e das experiências que nele realizou e viveu. Por outro lado, o leitor faz a leitura da palavra contando com a sua própria visão de mundo e com suas experiências nele vivenciadas. E nesse ato de leitu- ra, o leitor-estudante precisa confrontar seu contexto com o texto im- presso pelo autor, com a intenção de construir um novo significado. Quer dizer, uma boa leitura deve ser capaz de gerar a reorganização das experiências do leitor. Quanto a isso, Freire5 insiste que Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. É perceber o condicionamento histórico-sociológico do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. Estudar é uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever - tarefa de sujeito e não de objeto. Desta maneira, não é possível a quem estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, renunciando assim à sua atitude crítica em face dele. Portanto, a LEITURA realizada pelo estudante-leitor deve acontecer na forma de um diálogo, que o estudante-leitor realiza com o autor. Nessa perspectiva, o texto escrito é apenas um instrumento mediador entre dois mundos, o mundo do leitor e o mundo do autor. É precisamente no ato da LEITURA que se estabelece o diálogo, e este será direciona- do pelos interesses e pelas intenções do leitor, o qual deverá estabele- cer questionamentos e buscar respostas, deverá problematizar o texto e formular juízos próprios. Em outras palavras, o leitor-estudante precisa produzir seu texto. Para o leitor-estudante que assume essa postura, o texto estudado não é algo definitivamente acabado. É uma obra humana, à qual ele, de certo modo, deve dar nova vida. O texto torna-se uma proposta, um desafio. Desafio porque o leitor-estudante deverá superar uma série de dificul- dades que se impõem, intrinsecamente, no decorrer da leitura. É muito comum o leitor não perceber que o texto lido vem carregado de condicionamentos histórico-sociológicos e ideológicos do autor e que nem sempre coincidem com os seus. O leitor precisa saber identificar a posição ideológica e filosófica do autor para poder confrontar com a sua realidade. Nesse confrontamen- to, o leitor-estudante deverá ter a sensibilidade de perceber as suas semelhanças e diferenças em relação ao autor, para, a partir daí, ter condições de reelaborar o texto, isto é, produzir seu próprio textoa. a Nesse tocante, devemos ter o máximo cuidado, para não cairmos num relativismo que fuja da questão da verdade científica. O rigor da investigação científica deve ser mantido, bem como a fidelidade à verdade científica. Há sempre uma verdade científica que não pode ser relativizada. 19 Assumindo tal atitude, o estudante-leitor se faz sujeito diante do texto lido. Com isso, não só terá condições de compreender as ideias do autor, como também poderá expressar o que ele tem a dizer. O leitor- estudante que faz da leitura um momento de diálogo crítico e produti- vo não fica hipnotizado pela palavra escrita; pelo contrário, busca novas palavras, não para colecioná-las na memória, mas para anunciar a sua realidade, construindo um novo mundo, possibilitando a conti- nuidade da obra humana na história. Então, diante de um texto, o leitor poderá ser sujeito ou objeto da leitu- ra, e isso dependerá da postura crítica ou acrítica que assuma frente ao texto sobre o qual processa o ato de estudar. Será objeto quando se colocar frente ao texto como alguém que esteja magnetizado pelo que está vivenciando, seja pelo júbilo, seja pelo temor que desperte frente ao texto. Logo, o estudante que permanecer nessa postura, provavelmente, sofrerá graves consequências, como, por exemplo, a formação de uma consciência ingênua em relação às ações políticas e sociais. Com facilidade, tornar-se-á um indivíduo que se submete passivamente a um mundo dogmático, no qual a ordem e os valores se impõem de forma natural e categórica, em que tudo está feito e resolvido. É o tipo de homem que não questiona, não problema- tiza seu mundo, considerando-o estático e determinado. É uma menta- lidade consumidora de ideias e saberes e não sua produtora. Advém daí uma mentalidade que possui um conhecimento fragmen- tado e desarticulado, faltando uma visão de conjunto e totalidade. É o indivíduo que é levado pelos acontecimentos do cotidiano e oprimido pela rotina do dia a dia, correndo o risco de alienar-se, perdendo sua autonomia e não assumindo sua condição fundamental de ser huma- no. Por outro lado, será sujeito da leitura o leitor que, ao invés de só reter a informação, fizer o esforço de compreensão da mensagem, verificando se expressa e elucida a realidade em suas características específicas. Por vezes, os textos criam uma elucidação falsa da realidade. É preciso estar alerta para esta possibilidade.6 Portanto, o leitor-sujeito é aquele que busca compreender o mundo concreto em suas bases reais. Examinando e questionando o texto que está lendo, "estará capacitado para criar e transmitir novas mensagens, que se apresentarão como novas compreensões da realidade"7. O leitor-sujeito pensa criticamente e passa a destruir falsas ideias; cria novas interpretações acerca da realidade, dando-lhe novos significa- dos, pois compreende que a realidade do mundo não é estática, que 20 "esta não se dá a conhecer de uma só vez. Ela se transforma, se modifi- ca, é multifacetária e, por isso, constantemente, está desafiando o ho- mem no seu ato de estudar, que deve ser criativo e não repetitivo"8. Torna-se evidente a necessidade de nossos estudantes assumirem uma postura crítica diante dos textos de estudo. Só assim poderão dar con- tinuidade ao curso da história e da realização humana, pois estarão enfrentando o mundo na busca de uma compreensão rigorosa e orde- nada de seus componentes, de modo a superar visões ingênuas, falsas ideias e aparências. Isso é buscar a inteligibilidade do mundo. Aproveitamento da leitura Tendo em vista as argumentações expostas nos dois tópicos anteriores, faz-se mister que o leitor-estudante, no ato da LEITURA de textos teóricos, aja ciente de sua condição de SUJEITO e que para tanto do- mine certas técnicas de leitura que são na verdade técnicas de pesqui- sa. O leitor-estudante deve ter em mente que a qualidade de sua leitura depende muito dos métodos adotados na efetivação desse ato. Veja! Estamos falando de técnicas de pesquisa no ato de ler um texto teórico, porque a proposta é estimular o estudante-leitor a fazer no momento da leitura uma ação de estudo-pesquisa. Não há espaço aqui para uma leitura mecânicae memorizadora. Trata-se de um método em que estudar também é uma forma de pesquisar. Uma leitura orga- nizada metodologicamente já é por si só uma pesquisa. Refere-se a um método que requer conhecimento e domínio de técnicas que orientem a leitura com rigor e critérios bem definidos. O leitor-estudante não pode ser apenas um receptor de saberes. Deve, no ato da leitura, procurar compreender a mensagem do autor, questi- onar as exposições e as argumentações do texto para poder transfor- mar o que deve ser transformado. Sem dúvida, para os estudantes universitários, os textos teóricos são instrumentos de fundamental importância e fonte de pesquisa, Pois é através deles que os estudantes se relacionam com a produção científica e filosófica, é através deles que se torna possível participar do universo de conquistas nas diversas áreas do saber. É por isso que aprender a compreendê-los se coloca como tarefa fundamental de todos aqueles que se dispõem a decifrar o seu mundo.9 O estudante universitário precisa tomar consciência de que aprender a compreender um texto é aprender a efetuar uma leitura com qualida- de, pois o que mais interessa é a produção efetiva e não a quantidade. Não interessa quantas páginas foram lidas, interessa como foram lidas 21 e a sua compreensão. Por isso, devemos reler o texto quantas vezes forem necessárias, até obtermos certeza da compreensão do tema em pauta. Sabemos que o processo de construção da nossa intelectualidade é muito lento, são os obstáculos pessoais, sociais e culturais a serem vencidos em busca de uma compreensão significativa do conhecimen- to humano. Nem sempre a compreensão acontece de imediato, e por isso se fazem necessários, por parte do leitor, dedicação, tempo e apli- cação de técnicas para poder decodificar e assimilar o que está sendo revelado no texto. O certo é que a leitura-estudo, concebida como trabalho de pesquisa, deve ser organizada metodologicamente. Inerente a essa postura, sub- entende-se uma série de atividades no sentido de fazer observações, organizar e classificar dados dos textos e realizar apontamentos, fichas, esquemas etc. Se as sugestões que apresentaremos a seguir não forem condizentes com a sua realidade, acreditamos que você encontrará o seu próprio método de conduzir suas leituras de estudo. O importante é ter um método organizado e eficiente para aproveitar melhor o seu tempo disponível e, consequentemente, compreender melhor os temas de leitura. O estudo e a análise de textos que possuam uma estrutura lógica e rigorosa, especialmente os textos filosóficos e científicos, exigem que sejam feitas algumas avaliações, tais como: a REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DO TEXTO - Isso implica saber o autor, o título, o ano da publicação e a extensão do texto. b IDENTIFICAR O TIPO DE TEXTO - Identificar se o texto é científico, filosófico, literário, teológico etc. Isso facilita o entendimento das ideias que o autor quer transmitir, pois cada tipo de texto possui uma estrutura linguística e argumentativa própria. c CONHECER OS DADOS BIBLIOGRÁFICOS DO AUTOR - Procurar contextu- alizar o autor no tempo e no espaço. É importante perguntar: quando o autor nasceu? Onde? Qual foi sua formação intelectual? Em que organizações militou? A que correntes de pensamento se filia? Que livros escreveu? Quais as principais características de seu pensamento? Quais eram as condições da época em que pro- duziu o texto? Que influências recebeu? Etc. 22 d ESTUDO DOS COMPONENTES DESCONHECIDOS DO TEXTO - É frequente encontrarmos expressões técnicas, palavras, autores citados, fatos históricos mencionados que não conhecemos. Por isso, necessita- mos munir-nos de outros livros, dicionários, enciclopédias e, al- gumas vezes, consultar especialista da área. Quadro 1.1 - Sugestões para atingir a eficiência nos estudos Tema Ação 1) Aprender a aprender Assumir a responsabilidade pelo estudo. Não esperar só pelos professores. Pontualidade nas aulas. Saber orientar seus próprios estudos. Adotar método de estudo, principalmente, técnicas. Definir sua própria técnica. 2) Tempo para estudar A luta contra os ponteiros do relógio. 3) Distribuição do tempo Tornar o tempo mais produtivo. Determinar o que vai estudar em cada momento. Alguns minutos por dia podem somar horas na semana. Elaborar uma planilha demonstrando como usar o temporário. Reelaborar esta planilha para ver como pode aproveitar melhor. Espaços curtos - pequenas leituras. Espaços longos - analisar, criticar, elaborar fichas e resumos. 4) Horário para preparar as aulas Possuir o programa, livros textos, dicionários e outras fontes. Ler previamente o conteúdo que será desenvolvido. Isso melhora a participação em aula - debates. 5) Horário de revisão das aulas Certificar-se de que realmente aprendeu aquilo que acha que aprendeu. Reforçar na memória. 6) Horário de estudo para as provas Não deixar tudo para a última hora. Estudo como processo de desenvolvimento lento e constante. 7) Aproveitar o tempo em sala de aula As aulas são o grande tempo do estudante. É incoerente o aluno investir no ensino pago e não obter retorno em forma de aprendizagem e aproveitamento. O estudante "turista" ou autodidata tem formação deficitária. Não sair da aula com dúvidas. Procurar manter um clima cordial entre professor e aluno. Fonte: RUIZ, 2002. 23 Para finalizar, fica o desafio para que cada estudante reflita sobre esses conteúdos, tentando relacioná-los com outros conhecimentos que já domina, a fim de analisar como está sendo conduzida sua vida de estudante, tendo como referências as seguintes perguntas: QUE ESTU- DANTE TENHO SIDO? QUE ESTUDANTE SOU? QUE ESTUDANTE QUERO SER? Pense nisso. 2 CONHECIMENTO E MÉTODO Cosme Luiz Chinazzo Em sala de aula, quando pergunto aos alunos: "o que é o conhecimen- to?", normalmente, instaura-se o silêncio. Depois, só vejo caretas e olhares inquietos. Certamente, na mente da maioria deles surge uma dúvida, ao mesmo tempo em que exclamam: "que pergunta estranha!" Assim, conforme vou instigando para que manifestem suas ideias, eles vão se expressando, dizendo que conhecimento: "é saber"; "é apren- der"; "é estudar"; "são informações recebidas"; "é aquilo que aprende- mos". Neste capítulo, desejamos ampliar a compreensão sobre o signi- ficado do conhecimento e como ele é produzido e, a partir dessa abor- dagem, introduzir o método científico. 2.1 O que é conhecimento Na verdade, num primeiro momento, a pergunta "o que é conhecimen- to?" parece muito estranha, isso porque, na nossa vida, o conhecimento está presente de modo muito natural. Desde muito cedo, somos insis- tentemente alertados por nossos pais, parentes, professores etc. sobre a importância e a necessidade de conhecermos isto ou aquilo. Convive- mos com recomendações do tipo: "você precisa conhecer isso!" "é ne- cessário ter consciência de...". Desse modo, ao longo de nossa vida, vamos recebendo informações e adquirindo compreensões sobre as coisas do mundo, sobre as relações humanas, sobre as questões sociais e culturais. Quer dizer, estamos, permanentemente, conhecendo, mas dificilmente questionamos sobre isso. O que significa conhecer? Qual a origem dos conhecimentos? Como eles foram produzidos? Por quem, por que e quando foram produzidos? O que conhecemos é verdadeiro ou falso? Podemos dizer que a grande maioria dessas compreensões são informações, não conhecimento propriamente dito. Conhecimento e informação são coisas bem distintas. Acontece que dificilmente pro- blematizamos sobre o conhecimento. Mas, na verdade, desde a Anti- guidade, muitos pensadores se preocuparam com a temática do conhe- 25cimento humano, impondo questionamentos em torno das seguintes perguntasa. a O que é o conhecimento? b É possível o conhecimento? Pode o sujeito conhecer o objeto? c O que é a verdade? Qual o critério para dizer que o conhecimento é verdadeiro ou não? d Qual é o fundamento do conhecimento? Ou seja, de onde se origi- nam os conteúdos do sujeito conhecedor? Da consciência ou da experiência? Para muitas pessoas de nosso tempo, essas e outras perguntas seme- lhantes parecem estranhas, mas são elaboradas e reelaboradas há mais de vinte séculos. O termo conhecer, etimologicamente, advém da língua francesa con- naissance (conhecimento) e que quer dizer com (con) e nascer (nais- sance). Assim, no ato de conhecer, o sujeito conhecedor nasce como ser pensante e, concomitantemente com ele, nasce o objeto que ele pensa e conhece. O processo de produção do conhecimento mostra aos homens que eles jamais são alguma coisa pronta e que estão sempre nascendo de novo, quando têm coragem de se mostrarem abertos diante da realidade. Para que exista o ato de conhecer, é indispensável o relacionamento de dois elementos básicos, conforme é demonstrado na Figura 2.1 a se- guir. Figura 2.1 - Relação sujeito-objeto no ato cogniscitivo Dependendo da corrente filosófica, será dada maior ênfase ao sujeito ou ao objeto. Assim, sabemos que os racionalistas dão maior importân- cia ao sujeito, enquanto os empiristas dão maior importância ao objeto. O ato de conhecer envolve o dualismo sujeito e objeto, processo no qual se encontram frente a frente. Nesse dualismo, encontramos a essência do conhecimento. Este é o resultado da relação entre os dois a Elaborado tendo como base bibliográfica Cotrim (1993) e Hühne (1992). 26 elementos. É relação e ao mesmo tempo correlação, porque o sujeito só é sujeito para um objeto, e o objeto só é objeto para um sujeito. Mas tal correlação não é reversível, pois ser sujeito é algo completamente dis- tinto de ser objeto. E a função do sujeito é a de apreender o objeto, e a função do objeto é a de ser apreendido pelo sujeito. O sujeito, no caso que nos interessa aqui, é o ser humano que construiu a faculdade da inteligibilidade, construiu um interior capaz de apropriar-se simbólica e representativamente do exterior, conseguindo, inclusive, operar de forma abstrata com seus símbolos e representações. O objeto é o mundo exterior ao sujeito, que é representado em seu pensamento a partir da manipulação que executa com eles.1 A pergunta que se impõe é: "seria possível ao sujeito apreender o obje- to?" Respondendo a essa questão, Cotrim2 distingue duas correntes filosófi- cas básicas e antagônicas. a Ceticismo: esta corrente filosófica defende a ideia de que o ser humano não tem possibilidades de conhecer a verdade. b Dogmatismo gnosiológico: esta corrente filosófica defende a ideia de que o ser humano tem possibilidades de conhecer a verdade. Ainda segundo Cotrim, o ceticismo se divide em duas modalidades: absoluto e relativo. a Ceticismo absoluto: a palavra absoluto, por si só, já diz tudo, ou seja, nega qualquer forma total de conhecer a verdade. O argu- mento é, nas palavras do filósofo pré-socrático Protágoras, que "o homem nada pode afirmar, pois nada pode conhecer"3. Os céticos absolutos se fixam em duas características do ser humano que po- dem conduzir ao erro, quais sejam: os sentidos e a razão. Os senti- dos porque nos enganam com muita frequência e não são confiá- veis; a razão, por sua vez, também não é confiável, pois é ela que proporciona diferentes concepções teóricas sobre um mesmo te- ma, que são superadas de tempos em tempos. b Ceticismo relativo: nega parcialmente nossa possibilidade de conhecer; esse tipo é mais moderado e se divide em duas modali- dades: • fenomenalismo, pelos pressupostos da fenomenologia, só se co- nhece a aparência dos seres; não conhecemos a essência das coisas; 27 não conhecemos a coisa em si; conhecemos a exteriorização das coisas. • probabilismo, em que podemos alcançar uma verdade provável, nunca provada ou comprovada. Nunca chegaremos ao nível da plena certeza, da verdade absoluta. Por outro lado, existem os pensadores que acreditam que o ser huma- no (sujeito) pode conhecer o objeto e chegar à verdade. A estes elemen- tos Cotrim denomina de dogmatismo e os divide em duas visões. a. INGÊNUA: acredita plenamente na possibilidade de o ser hu- mano conhecer a verdade; não há dificuldades no ato de conhecer a verdade. b. CRÍTICA: acredita na capacidade de o ser humano conhecer a verdade, mas mediante o esforço conjunto dos sentidos e da inteligên- cia. "Confia que através de um trabalho metódico, racional e científico, o homem torna-se capaz de decifrar a realidade do mundo"4. 2.2 O processo de produção do conhecimento Na metafísica, Aristóteles já afirmava que "todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer"5. Tal desejo se manifesta desde os primeiros anos de vida. Observamos nas crianças uma ânsia em buscar compreender o mundo ao seu redor, e esse desejo vai se adequando às diferentes fases do ciclo vital. À medida que o homem vai aprofun- dando seus conhecimentos, necessariamente, aprimorará os métodos e as técnicas de investigação, para facilitar a compreensão do mundo. O conceito explicativo da realidade nunca está pronto; ele é uma construção que o sujeito faz a partir da lógica que encontra nos fragmentos da realidade. Para tanto, utiliza-se de recursos metodológicos, de meios e processos de investigação. Ele se constrói por meio de longa busca, por meio de esforço de desvendamento. A elucidação do mundo exterior exige imaginação investida, busca disciplinada e metodológica, tendo em vista captar os meandros do real.6 Muitos autores referem-se ao conhecimento dizendo que ele é a eluci- dação da realidade. A expressão elucidar na língua latina é derivada do verbo lucere, que significa "trazer à luz", "iluminar"; assim, elucidar é "iluminar", "tornar claro". Outros autores se referem ao conhecimento como o ato de desvelamento, ou seja, conhecer é desvelar a realidade. Desvelar quer dizer "tirar o véu". Também é muito usado o termo desvendar, que significa "tirar a venda". Quem está com olhos venda- dos não pode ver. Então, conhecimento é o ato de tirar a venda, tirar o 28 véu, iluminar, clarear, para poder dizer o que a realidade é, como é, por que é, que elementos a constituem... Os conceitos não nascem de dentro do sujeito, mas sim da apropriação adequada que ele faz do exterior. Deste modo, a iluminação da realidade não é um ato exclusivo do sujeito, mas um ato que se processa dialeticamente com e a partir da realidade exterior. O sujeito ilumina a realidade com sua inteligência, mas a partir dos fragmentos de "luz", dos sinais que a própria realidade lhe oferece. O sujeito, no nível da teoria, explica um objeto, não porque ele voluntariamente queira que a explicação seja esta e não outra, mas sim porque os fragmentos da realidade com os quais ele trabalha lhe oferecem uma lógica de compreensão, lhe permitem descobrir uma inteligibilidade entre eles, formando, assim, um conceito que nada mais é que a expressão pensada de um objeto.7 Conhecer é sempre um ato desafiador em busca de sentidos e signifi- cados das coisas, é esclarecer o que estava duvidoso, é clarear o que estava obscuro, é iluminar o que estava na escuridão... A função primordial do conhecimento deve ser a de possibilitar a compreensão da realidade, para permitir a ação e a adequação do ser humano sobre essa mesma realidade. Para o homem penetrar nas diversas áreas da realidade, ele precisa aprender. Adquirir conhecimentos, aprender a refletir e a pensar: eis o iníciopara a compreensão do conhecimento. O conhecimento tem uma dimensão social e uma dimensão histórica. Sob o enfoque social, o conhecimento ilumina outras consciências. Pela dimensão histórica, ele é produzido e germinado num determinado tempo. Por isso, o conhecimento sempre é novo. Necessariamente, temos que admitir que o ser humano é um sujeito produtor de conhecimentos. E, basicamente, temos duas atitudes dian- te do conhecimento, quais sejam: usar o conhecimento já existente e/ou produzir novos conhecimentos. Finalmente, em se tratando de produzir conhecimento, necessitamos ter um posicionamento crítico diante do conhecimento. O posicionar-se criticamente implica colocar a relação do fazer e do usar de maneira dialética, porque o conhecimento é feito pelos homens e é utilizado pelos homens e, fatalmente, de qualquer maneira, utilizado em função dos homens. 29 2.3 Fundamentos do conhecimento Historicamente, encontramos várias correntes filosóficas e pensadores que se empenharam em explicar os fundamentos do conhecimento. Passamos a expor alguns pressupostos de três delas, as quais conside- ramos as mais importantes, e isso quer dizer que não são as únicas existentes. Racionalismo Usamos o termo racionalismo para designar a corrente filosófica que deposita "TOTAL E EXCLUSIVA confiança na RAZÃO HUMANA como ins- trumento capaz de conhecer a verdade"8. Ao trabalhar com os princí- pios lógicos, a razão humana pode atingir o conhecimento verdadeiro. O racionalismo moderno teve início com René Descartes, que, na ver- dade, é considerado o fundador da filosofia moderna. O racionalismo de Descartes é também conhecido como PENSAMENTO CARTESIANO. O ponto de partida de Descartes é a teoria de que tudo pode ser anali- sado e explicado pela RAZÃO. Esta é o instrumento por excelência na construção do conhecimento em busca da verdade. Esse filósofo atribui à razão humana a capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade. Proclama que a razão é independente da experiência sensori- al e que é inata, imutável e igual em todos os homens. Empirismo A palavra empirismo significa "experiência". O empirismo surge como uma reação natural ao racionalismo. Enquanto o racionalismo defende o primado da razão no empreendimento de conhecermos a verdade, os empiristas aparecem defendendo o primado da experiência sensorial, ou seja, o conhecimento e as ideias só se formam em nossa mente a partir dos nossos sentidos, das nossas experiências sensoriais, das percepções que nossos sentidos apreendem do mundo exterior. Não existe nada em nossa mente que não tenha antes passado pelos senti- dos. Para apresentar o empirismo, vamos nos concentrar no pensamento de John Locke9, que combate a concepção da existência de ideias inatas. O ponto de partida de Locke é o de que o ser humano, ao nascer, tem a mente como uma folha de PAPEL EM BRANCO (tábula rasa), quer dizer, não nascemos com ideias prontas em nossa cabeça. As ideias vão sen- do escritas com as experiências que faremos ao longo de nossa vida. 30 A teoria de Locke é fundamentada na argumentação de que nada exis- te na mente do ser humano que não tenha sua origem nos sentidos, na percepção sensorial. As ideias que adquirimos e armazenamos durante nossa vida são o resultado do exercício da experiência sensorial. Dialética Representa um meio-termo entre empiristas e racionalistas. Aqui, "tanto os sentidos como a razão humana têm participação determinan- te na origem de nossos conhecimentos"10. Na concepção dialética, o conhecimento humano se processa a partir da EXPERIÊNCIA SENSÍVEL e se complementa na LÓGICA RACIONAL, isto é, o homem só produz conhecimentos a partir de sucessivas repetições de experiências que conduzem da realidade concreta à consciência e, reciprocamente, da consciência à realidade concreta. Em outras pala- vras, o conhecimento se processa da prática para a teoria e, reciproca- mente, da teoria para a prática. Nessa concepção, o conhecimento é produção humana, ele é resultante da necessidade de interação do homem com o mundo e com os outros homens, em que, no processo de produção de sua vida individual e social, os homens produzem suas ideias, representações, teorias, religi- ões e ciências. 2.4 A questão do método O ser humano, desde os primórdios, preocupou-se em entender e explicar as forças da natureza que agem sobre ele. Para desvendar essas forças, foram surgindo diferentes tentativas, ou seja, diversos métodos e técnicas de investigação e, consequentemente, foram sendo elaboradas diferentes explicações, umas de ordem mitológica, outras de ordem religiosa, outras filosóficas e científicas. Etimologicamente, a expressão método significa "caminho", isto é, algo que viabiliza a busca de um fim, meio para se atingir um objetivo. De modo geral, podemos dizer que o método é a ordem que se deve im- por aos diferentes processos necessários para se atingir um resultado desejado. Normalmente, na área das ciências, MÉTODO é o conjunto de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e na demons- tração da verdade. 31 Existe a necessidade de distinguirmos o método em relação à técnica. Método é a estratégia da ação, indica o QUE FAZER e, assim, é o orienta- dor geral da atividade, ou seja, o dispositivo ordenador, o procedi- mento sistemático, um plano geral. Já TÉCNICA é o modo, o processo de fazer de forma mais hábil, mais segura, mais perfeita algum tipo de atividade. Esclareça-se que, via de regra, a técnica necessita do método para ser executada, pois a técnica é a aplicação específica do plano metodológico e a forma especial de o executar. No dizer de Cervo e Bervian11: Existe, pois, um método fundamental idêntico para todas as ciências, que compreende um certo número de procedimentos ou operações científicas levadas a efeito em qualquer tipo de pesquisa. Estes procedimentos (...) podem ser resumidos da seguinte maneira: a) formular questões ou propor problemas e levantar hipóteses; b) efetuar observações e medidas; c) registrar tão cuidadosamente quanto possível os dados observados com o intuito de responder às perguntas formuladas ou comprovar a hipótese levantada; d) elaborar explicações ou rever conclusões, ideias ou opiniões que estejam em desacordo com as observações ou com as respostas resultantes; e) generalizar, isto é, estabelecer conclusões obtidas a todos os casos que envolvem condições similares; a generalização é tarefa do processo chamado indução; f) prever ou predizer, isto é, antecipar que, dadas certas condições, é de se esperar que surjam certas relações. Entretanto, o método pode e deve ser adaptado às diversas ciências, à medida que a investigação de seu objeto impõe, ao pesquisador, lançar mão de técnicas especializadas. É evidente a importância do método na construção das ciências, pois ele tem a função de disciplinar o processo investigatório, auxiliar na exclusão do acaso e, ainda, encaminhar o esforço no sentido de ade- quação ao objeto de estudo, determinando formas de investigação segura na pesquisa. Mas o método não se basta por si só; na verdade, para ser produtivo, exige empenho, inteligência e talento. Neste tópico, abordaremos a dedução e a indução, que representam, antes de qualquer coisa, formas de raciocínio ou de argumentação e, como tais, são formas de reflexão, e não de simples pensamento. Fre- quentemente, prefere-se pensar os problemas a raciocinar sobre eles e, quando isso acontece, via de regra, provocam-se confusões com a re- flexão sistemática. O raciocínio é algo ordenado, coerente e lógico. 32 Dedução O processo argumentativo lógico dedutivo se desenvolve a partir de premissas geraisb e busca uma conclusão particularc. A expressão principaldo processo argumentativo lógico dedutivo é o silogismo. Este é um raciocínio ou uma operação do pensamento reali- zado por meio de juízosd ou enunciados linguísticos lógicos encadea- dos, pelo qual de um antecedente que une dois termos a um terceiro tira-se um consequente que une esses dois termos entre si. Exemplo: Todo homem é mortal. → Premissa maior Ora, Pedro é homem. → Premissa menor (mediador) Logo, Pedro é mortal. → Conclusão Atenção: necessariamente no silogismo, ou processo dedutivo, aparece o termo MEDIADOR, que tem a função de ligar a premissa maior (exten- são maior) com a premissa menor (extensão menor) e de forma alguma com a conclusão, conforme pudemos ver no exemplo citado. Se dize- mos que todo homem é mortal e afirmamos que Pedro é homem, te- mos, portanto, que o termo mediador é a palavra homem (está presente nas duas premissas), porém ela não estará presente na conclusão. Normalmente, afirma-se que a dedução é o processo lógico por exce- lência, pois atende às exigências dos rigores condicionantes da lógica. O processo argumentativo dedutivo pressupõe a necessidade da con- clusão. Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão sempre será verdadeira, pois premissas verdadeiras conduzem a uma conclusão verdadeira. No caso de premissas falsas, podemos conduzir tanto para o falso como para o verdadeiro. Como já nos referimos, a dedução lógica é a ligação de dois termos mediados por um terceiro. Vejamos: Se A = B, e B = C, então A = C. Existe o termo mediador (B), que determina a ligação entre os termos b Premissas gerais: o conceito ou termo é geral, universal ou total, ou seja, é quando o termo faz referência à totalidade dos elementos de uma espécie, gênero, fenômeno. c Conclusão particular: o conceito ou termo faz referência a um indivíduo determinado ou a alguns indivíduos. d Juízo é o ato pelo qual a inteligência diz algo do outro, afirmando ou negando. 33 extremos (A) e (C). Assim, a conclusão se evidencia como necessária; em outras palavras, a conclusão só pode ser esta e não outra. Chama- mos a atenção para o fato de que o conteúdo da conclusão não vai além do conteúdo das premissas, ou seja, na conclusão não se afirma mais do que já foi afirmado. Mais um exemplo para clarear as ideias: Toda ciência tem um método. Ora, biologia é uma ciência. Logo, biologia tem um método. O termo mediador desse exemplo é ciência, que aparece nas duas pre- missas, porém não está presente na conclusão. Nesse argumento dedutivo, para que a conclusão "biologia tem um método" fosse falsa, uma das premissas deveria ser falsa, isso se nem toda ciência tivesse método ou se a biologia não fosse ciência. Observe que a dedução é um modelo de rigor, porém há os que a con- sideram estéril, isso porque em um certo sentido não nos ensina nada de novo, apenas organiza o conhecimento já adquirido. Mas isso não significa que a dedução não tenha valor algum. Vejamos o exemplo anterior. A conclusão "biologia é uma ciência" está afirmando algo que, na verdade, já foi dito nas premissas. A conclusão está contida de forma virtual ou de forma implícita na premissa maior. Veja que, na verdade, a conclusão acrescenta algo novo, ou seja, realiza um progresso no conhecimento, qual seja, o progresso que consiste em descobrir em uma ideia o que nela está contido, mas que não se evi- dencia de modo espontâneo. Então, podemos dizer que o termo medi- ador tem um poder de fecundidade no processo de conhecer, porque todo argumento dedutivo se obriga a recorrer a uma ideia mediadora para concluir-se. Salientamos que o objetivo do processo dedutivo é o de explicar o conteúdo das premissas. Desse modo, podemos dizer que o argumento dedutivo ou é correto, ou é incorreto, pois ou as premissas sustentam de modo completo a conclusão, ou não a sustentam de forma alguma. O mesmo acontece, por extensão, com a produção do conhecimento científico através da pesquisa científica. Passamos a apresentar algumas das mais elementares formas de ar- gumentos dedutivos. Na verdade, a lógica dedutiva é muito desenvol- 34 vida, mas fica aqui o desafio de que o estudante, a partir dessas expla- nações elementares, avance por iniciativa própria para processos mais completos e complexos. Estaríamos cometendo um erro grave se dei- xássemos a impressão de que a dedução se limita a colecionar argu- mentos para verificar se são válidos ou não. Assim sabemos que o aqui estudado não é o suficiente para dar uma ideia do alcance abrangente da lógica dedutiva. Argumentos mais complicados envolvem diversas fases e não se encaminham diretamente das premissas para a conclu- são. O que queremos em termos de processos dedutivos é a compreen- são de que a conclusão de um argumento pode operar como premissa de outro argumento. A título de curiosidade, procure verificar os procedimentos da mate- mática, e você vai constatar que a maior parte dos argumentos mate- máticos é dedutiva. São muito comuns as observações de que o méto- do dedutivo é próprio das ciências exatas. No entanto, ele não é um método aplicado exclusivamente por essas ciências, pois outras ciên- cias também se utilizam dos processos dedutivos. Indução Depois de termos estudado a dedução, passamos a dar atenção para a indução, ou seja, ao processo da mente que parte do singular para atingir o universal. Indução é um processo mental por intermédio do qual partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas indutivas nas quais se basearam.12 Por exemplo, observamos que: A amilase é uma enzima salivar; que é proteína. A pepsina é uma enzima gástrica, que é proteína. A lípase é uma enzima pancreática, que é proteína. Logo, todas as enzimas são proteínas. Os argumentos indutivos, ao contrário do que acontece com os deduti- vos, levam a conclusões cujo conteúdo excede o das premissas. É esse traço característico da indução que torna os argumentos indutivos indispensáveis para a fundamentação de muitos dos nossos conheci- mentos filosóficos, científicos e técnicos. Mas, é esse mesmo fato que 35 levanta questões extremamente complicadas, dificultando a análise do conceito de apoio indutivo. O objetivo básico dos argumentos, sejam eles dedutivos ou indutivos, é produzir conclusões verdadeiras a partir de premissas verdadeiras. Em outras palavras, desejamos que os nossos argumentos tenham conclu- sões verdadeiras quando as suas premissas são verdadeiras. Conforme já estudamos, os argumentos dedutivos satisfazem esse requisito. No entanto, com os argumentos indutivos não acontece o mesmo, pois estes são elaborados com o fim de estabelecer conclusões cujo conteú- do é muito mais amplo que o conteúdo das premissas. Costuma-se dizer que, para se conseguir esse objetivo, os argumentos indutivos sacrificam o caráter de necessidade que têm os argumentos dedutivos. Ao contrário do que acontece com um argumento dedutivo, um argu- mento indutivo pode, perfeitamente, aceitar uma conclusão falsa, ain- da que as suas premissas sejam verdadeiras. Porém, mesmo não podendo garantir que a conclusão de um argumen- to indutivo será verdadeira quando as premissas são verdadeiras, podemos afirmar que as premissas de um argumento indutivo susten- tam ou atribuem certa verossimilhança à sua conclusão. Quando as premissas de um argumento dedutivo são verdadeiras, a sua conclusão deve ser verdadeira; quando as premissas de um argu- mento indutivo são verdadeiras, o máximo que podemos dizer é que a sua conclusãoé provavelmente verdadeira. É importante ficar claro que, diferentemente da dedução, na indução, em muitos casos, a conclusão poderá ser falsa, mesmo que as premis- sas sejam verdadeiras, porém na maioria dos casos a conclusão será verdadeira. Por exemplo, observamos que: O cobre é condutor de eletricidade. O ouro é condutor de eletricidade. O ferro é condutor de eletricidade. Ora, o cobre, o ouro e o ferro são metais. Logo, todo metal é condutor de eletricidade. 36 Evidencia-se, neste exemplo, que o conteúdo da conclusão EXCEDE o conteúdo das premissas. Portanto, só temos uma PROBABILIDADE de a indução estar correta. Desse modo, cabe a quem trabalha com a indução dispensar o máximo de atenção em analisar os enunciados das premissas, se estas oferecem condições favoráveis para considerar a indução correta ou com apenas probabilidades de conduzir à conclusão verdadeira13. Segundo Cervo e Bervian, A indução científica é o raciocínio pelo qual se chega a conclusão de alguns casos observados a partir da espécie que os compreende e a lei geral que os rege. Ou, ainda, é o processo que generaliza a relação de causalidade descoberta entre dois fatos ou fenômenos e da relação causal que conclui a lei. Verifica-se, por exemplo, certo número de vezes, que o óxido de carbono paralisa os glóbulos sanguíneos; dessa observação infere-se que, sempre dadas as mesmas condições, o óxido de carbono paralisará os glóbulos sanguíneos.14 Esse tipo de indução é o fio condutor das ciências experimentais. Sem ela a ciência não seria outra senão um repositório de observações sem alcance. A indução científica pode ser formal ou virtual, dependendo de como forem enumerados os fatos, fenômenos (singulares), ou, apenas alguns enquanto estejam representando todos. O que realmente interessa é atingir a universalização, através da experiência. Isto nem sempre é fácil e requer muito espírito de observação e perspicácia. Se conseguirmos enumerar, um por um, todos os sujeitos (singulares), que apresentam certa característica, podemos formar, a partir desta experiência de um por um, um juízo universal.15 Por exemplo, observamos que: A água do poço ferve a cem graus. A água da lagoa ferve a cem graus. A água do rio ferve a cem graus. Conclusão: Toda água ferve a cem graus. Caro estudante, perceba que na indução científica o termo mediador é a experiência. A base está no princípio analítico que possibilita a pas- sagem de juízos particulares (singulares) para atingir um juízo univer- sal. Em outras palavras, da experiência de casos particulares partimos em busca de uma lei geral. Assim, o que é dito de um enquanto tal poderá ser dito de todos, isto é, podemos elaborar juízos particulares e através destes, um a um, chegar legitimamente a uma lei universal. 37 No último exemplo, verificamos que existe uma relação entre "água" e "cem graus" e disso podemos generalizar que todas as águas fervem a cem graus. 3 MECANISMOS DE BUSCA, DIRETÓRIOS E BANCO DE DADOS Patrícia Noll de Mattos Este capítulo objetiva conhecer e entender os recursos e as ferramentas dos ambientes virtuais de pesquisa na internet, além de oferecer ao aluno alternativas de fontes de pesquisa virtual, bem como as formas de acessá-las. 3.1 Mecanismos de busca Por que buscar informações na internet? Hoje, 93% da nova informação nasce na forma digital. Estamos na Era da Informação: • Passado: tínhamos pouca informação (transmissão oral da infor- mação). • Escrita (representação da informação). • Hoje: temos excesso de informação (processamento da informa- ção). Dado informação conhecimento Competência criatividade Um valor numérico, por exemplo, pode ser considerado um dado, mas, no momento em que se associa um significado a esse valor, como uma idade ou número de alunos de uma turma, tem-se uma informa- ção, pois isso leva a ter conhecimento sobre um determinado assunto. O conhecimento nos torna competentes, e a competência em determi- nada área de conhecimento propicia-nos maior criatividade nessa área. 39 Ferramentas de busca e bancos de dados Uma ferramenta de busca é um site que nos permite pesquisar sobre determinado tema e nos leva a diversos outros sites que tratam sobre o tema pesquisado, sendo que estes, indexados pela ferramenta de busca, podem ser de diversas categorias, tais como: pessoais, institu- cionais, bibliotecas virtuais, revistas virtuais, dentre outras. Todos eles apresentam algo sobre a informação pesquisada na forma digital. Quando utilizar uma ferramenta de busca? É recomendável o uso da ferramenta de busca quando você não sabe o endereço do site que contém a informação buscada. Caso você saiba o endereço do site que apresenta a informação de que você necessita, basta digitá-lo na barra de endereços do seu navegador. Como esta ferramenta de busca encontra os sites que contêm o conteúdo procurado? Como mecanismo de busca, submete-se a pergunta, e ele recupera sites baseados na quantidade de vezes que a palavra ou expressão aparece dentro do texto. Para efetuar a busca, você deve, na tela do navegador, digitar o ende- reço do site correspondente à ferramenta de busca que pretende utili- zar, na barra de endereços. A seguir, digite na caixa de pesquisa apre- sentada na tela principal da ferramenta o assunto a pesquisar e, por fim, clique no botão correspondente à ação de pesquisar. Será apresentado o resultado da busca em uma nova tela, na qual cons- tarão links para os diversos sites encontrados que contenham as palavras utilizadas na busca. Porém, se você prestar atenção ao núme- ro de resultados da ferramenta, verá que, em muitos casos, é um nú- mero bastante elevado, prejudicando a localização da informação que se pretende encontrar. Para solucionar esse problema, você pode digitar a expressão de busca entre aspas, na caixa de pesquisa. Nesse caso, a ferramenta retornará apenas os sites que tiverem em seu conteúdo ou título a expressão literal utilizada por você no momento da pesquisa. Essa prática facili- tará a localização da informação desejada, uma vez que serão trazidas menos páginas como resultado, apenas as relevantes. 40 As diversas ferramentas de busca Existem diversas ferramentas de busca que podem ser utilizadas para auxiliar na localização de conteúdos na internet. Podemos citar a fer- ramenta Cadê (http://www.cade.com.br), o Altavista (http://www.altavista.com), o Yahoo (http://www.yahoo.com.br) e o Google (http://www.google.com.br), sendo que todos seguem o mes- mo princípio apresentado até o momento. Porém, entre elas, existe uma que se destaca em função do mecanismo interno que utiliza para efetuar suas buscas: o Google. Ele foi criado por Larry Page e Sergey Brin e é considerado um dos melhores sites de busca da atualidade. Seu mecanismo é denominado PangeRank (TM), um sistema para dar notas para páginas na web. Ele funciona da seguinte forma: toda página que possui um link a outra página é responsável por dar uma pontuação a esta última. Quanto mais refe- rências uma página fizer a outra, mais esta aumenta sua pontuação. Além disso, se a página que lhe fizer referência tiver uma pontuação alta, a pontuação que esta lhe atribui é maior. Com esse mecanismo, entende-se que, se uma página referencia outra, é porque a considera relevante; se várias a referenciam, a certeza de sua relevância aumenta. Esse mecanismo garante que os sites mais relevantes serão trazidos primeiro no resultado de uma busca, pois os de maior pontuação são apresentados nas primeiras posições. Pesquisa avançada Além de pesquisar por expressão, é possível efetuar diversos tipos de filtros ao utilizar ferramentas de busca. A maioriadelas oferece essa possibilidade clicando-se no link Pesquisa avançada. Nesse tipo de pesquisa, normalmente é possível: a Efetuar pesquisa com TODAS AS PALAVRAS: neste caso, as palavras que você escrever poderão aparecer em qualquer ordem no site. b Efetuar pesquisa COM A EXPRESSÃO: funciona como um texto entre aspas, isto é, toda expressão que você digitar nesta opção deverá ser encontrada em sites retornados. 41 c Efetuar a pesquisa COM QUALQUER UMA DAS PALAVRAS: neste caso, a ferramenta buscará sites que contenham pelo menos uma das palavras que você escrever nesta opção. d Efetuar a pesquisa SEM AS PALAVRAS: neste caso, a ferramenta retornará sites que não contenham nenhuma das palavras que você escrever nesta opção. Na opção Idioma, você pode solicitar que a ferramenta lhe retorne apenas as páginas escritas em determinado idioma. Você pode selecio- nar também um formato específico de arquivo que deseje como resul- tado da busca, como, por exemplo, pdf. Outra opção é a escolha da Data em que a página foi visitada. Por exemplo, você pode solicitar que sejam apresentadas as páginas de internet cuja primeira visita tenha ocorrido nos últimos três meses. A opção Ocorrências solicita que a ferramenta retorne as páginas que tenham ocorrência das palavras que você digitou em uma das opções de escolha: no título, no corpo, no endereço ou em links para a página. Você pode selecionar também que apenas sejam exibidas (ou não) páginas de um determinado domínio de sua escolha. Uma opção bastante interessante da pesquisa avançada é a possibili- dade de você pesquisar por páginas que contenham links para a pági- na que você digitar. Essa é uma boa alternativa para você testar se uma determinada página é considerada relevante ou não. O botão Estou com sorte A ferramenta Google possui uma alternativa que facilita chegar rapi- damente a uma página de internet sem que se tenha a necessidade de digitar todo o seu endereço ou mesmo de lembrá-lo. Esse recurso é o botão Estou com sorte. Ele fica ao lado do botão de pesquisa. Para utilizá-lo, basta digitar a expressão na caixa de pesquisa e clicar no botão. Se existir um site sobre a expressão digitada, o Google o levará diretamente para ele ou para o que possua maior pontuação. Por exemplo, ao digitar como expressão de busca detran rs e clicar no botão Estou com sorte, o Google o levará ao site do Detran do Rio Grande do Sul. Porém, caso você digite apenas a palavra detran, ele o levará para o site do Detran de São Paulo, pois este possui uma maior pontuação. 42 Opção Imagens Um recurso bastante útil e interessante oferecido por algumas ferra- mentas de busca como, por exemplo, o Google, é a opção Imagens, a qual lhe permite fazer uma busca na internet por imagens referentes à palavra ou à expressão que você digitar. Nesse caso, a ferramenta lhe retornará apenas os links que contêm imagens relacionadas à expres- são de busca. O recurso Pesquisa de imagens disponibiliza mais de 390 milhões de imagens indexadas.1 Para acessar esse recurso, clique em Imagens e depois digite o tema da imagem. Após serem retornadas as imagens referentes a sua busca, você pode clicar sobre qualquer uma delas para visualizá-la em tama- nho maior ou para ter acesso à página que a contém. A opção Acadêmico A opção Acadêmico, oferecida por algumas ferramentas de busca, permite a pesquisa de artigos revisados por especialistas: teses, livros, resumos e artigos de editoras acadêmicas. Ao efetuar uma pesquisa nesta opção, todos os links retornados pela ferramenta correspondem a algum tipo de trabalho científico. Caso você deseje saber se um deter- minado autor possui publicações acadêmicas, você pode utilizar esta opção. Para utilizá-la, basta clicar na opção Acadêmico da ferramenta, à qual, muitas vezes, tem-se acesso clicando na opção Mais (mais recursos da ferramenta). 3.2 Ferramentas de idiomas O recurso Ferramentas de idiomas auxilia na tradução de textos e páginas da internet. Porém, deve ser utilizado como uma primeira alternativa, pois a tradução é realizada de forma literal, sem considerar as expressões idiomáticas. Existe a possibilidade de selecionar o idio- ma do texto e para qual idioma se pretende realizar a tradução. Por exemplo, do português para o inglês. Para acessar essa ferramenta, basta clicar no link Ferramentas de idio- mas na tela do site de busca. A partir desse momento, alguns passos devem ser seguidos. São eles: a digitar o texto na área Traduzir o texto; b selecionar as línguas de origem e destino da tradução; 43 c clicar em Traduzir. O texto será apresentado traduzido para o idioma selecionado. 3.3 Diretórios Nos diretórios, as informações já estão organizadas e seus endereços se encontram em uma base de dados. Ficam organizadas por categorias, de acordo com o tema em questão. A maioria das ferramentas de busca apresenta essa opção de busca por categoria. Basta você clicar na categoria e ir refinando sua buscas clicando nas subcategorias. Por exemplo, supondo que você clique na categoria Artes e entreteni- mento. Algumas opções lhe serão apresentadas. Supondo que você clique em Cinema, a ferramenta lhe retornará links para páginas que tratam desse assunto. 3.4 Bancos de dados Os bancos de dados armazenam e organizam uma coleção de dados dispostos em registros similares. Permitem a fácil recuperação da in- formação: bibliográfica, catalográfica ou referencial. Podem ser materi- ais na íntegra, referências bibliográficas ou catálogos sobre um deter- minado tema ou área. Um exemplo de base de dados é: Base de dados nacional de artigos de periódicos, eventos e relatórios da área de Educação (http://www.bibli.fae.unicamp.br/fae/default.htm) A figura a seguir mostra a tela inicial dessa base de dados. 44 Figura 3.1- Base de dados nacional de artigos de periódicos, eventos e relatórios da área de Educação Através dessa base de dados, é possível acessar artigos de periódicos nacionais em educação. Essa base foi desenvolvida pelo bibliotecário- diretor da Biblioteca da Faculdade de Educação da Unicamp, desde setembro de 1994. É possível encontrar nela artigos de periódicos, relatórios científicos e técnicos, anais de eventos, além de textos e capí- tulos de livros relacionados à educação. Existem três possibilidades de pesquisa nessa base: a pesquisa simpli- ficada, a detalhada e a avançada. A pesquisa simplificada permite a realização de uma única busca e é realizada em todos os campos. Com essa busca, é possível especificar o tipo de documento a pesquisar (artigo, capítulo, evento etc.) e o número de registros a recuperar. A pesquisa detalhada permite que se realize a busca por todos os campos (autor, palavra-chave, título e idioma) e possibilita a seleção do tipo de documento e o número de registros a recuperar. A pesquisa avançada permite a busca selecionando-se todos os campos ou um campo especí- fico, como autor, título, palavra-chave, ou utilizando-se expressões de busca, além do que é permitido na pesquisa detalhada. Tanto na pesquisa detalhada como na avançada, é possível a utilização de operadores lógicos de forma a relacionar os campos de pesquisa. Operadores lógicos e expressões de busca: • E, AND, *: pesquisar a ocorrência de mais de uma palavra ao mesmo tempo. • OU, OR, +: pesquisar a ocorrência de ao menos uma das palavras. • NÃO, NOT, /: pesquisar a ocorrência de registros que não conte- nham a palavra utilizada. 45 Para realizar qualquer um desses tipos de pesquisa, clique na opção Como pesquisar. É possível a solicitação de cópias de documentos encontrados na base; para isso, clique na opção Solicitação de cópia. Sites recomendados
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