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A cultura do estupro no Brasil como fato social

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Faculdade de Integração do Sertão – FIS
 Curso de Bacharelado em Direito
 Ingrid Guilhermina Tenório Minervino
 
 O estupro como fato social; uma análise sociológica por trás do fato.
 
 SERRA TALHADA
 2018
 Ingrid Guilhermina Tenório Minervino
Trabalho apresentado a partir da análise sociológica de Émile Durkheim sobre Fato Social. Tendo como objetivo a identificação de um fato social contemporâneo e as razões sociais que levaram a tal prática.
 Professor: Alberto Rodrigues de Oliveira
 SERRA TALHADA
 2018
Palavras-chave: Estupro, Patologia, Sociológico, Feminismo, Mulher, Análise, Fato Social.
 As análises sociológicas de Émile Durkheim do que são Fatos Sociais, nos demonstram que compreendido como um conjunto de práticas que se encaixam em: pensamentos e ações por grupos sociais ou indivíduos, sendo ações de poder real sobre o indivíduo, que se repete em mais de uma conjuntura social. O fato social, conforme Durkheim, afeta toda a sociedade.
 O estupro é uma prática que se efetua repetidamente nas sociedades humanas, sendo considerado por sua interpretação social algo que se desvia de um preceito social obrigatório.
É um ato não consensual do sexo, imposto por meio da violência. As vítimas são principalmente as mulheres.
 Analisando tal exercício como fato social, busca-se captar as possíveis causas sociais que se acobertam por trás de determinada realidade.
 SERRA TALHADA
 2018
 A dominância do todo sobre todas as partes não significa afirmar a existência restrita da consciência coletiva. Tanto é que o crime só acontece em função da desobediência da mesma.
O indivíduo possui consciência própria, tem direito de escolha, porém a observação é que ela está sempre vinculada e sofre impactos da moral, embora existam fatos específicos, modos de pensar e agir.
 Este modo de pensar e agir, coercitivo com aquele que o descumpre, de caráter geral e exterior na sua ampliação, é definido por Durkheim como Fato Social, o objeto de estudo da Sociologia.
Tendo em vista que, nem todo fato é social, pois, para que este se efetue as condições de opressão, generalidade e exterioridade devem ser observáveis; o fato social é objeto de estudo da sociologia, porque diz respeito aqueles que demonstram o modo como a sociedade funciona, isto é a maneira verdadeira de conduta que o grupo imprime aos seus membros.
 O estupro é sem dúvidas um fato social, pois a vítima é tomada contra seu consentimento á práticas sexuais, independente de sua vontade; de maneira opressiva e traumatizante.
 Ao analisar o ato criminoso que denominamos estupro, significa desvendar certos mitos e preconceitos impostos por uma visão social; Existe um desnível entre os fatos acerca do estupro e o que construiu socialmente do que é, ou não estupro, de quem é o estuprador e de quem é a vítima; e de quem, segundo a sociedade, é culpado.
 A partir deste pressuposto, buscaremos identificar as causas sociais que levam ao estupro e a visão social do fato abordado. Tendo em vista que o que se fala é que o estupro é um crime terrível, sendo considerado crime aquilo que se desvia de uma regra socialmente imposta.
O crime e a atitude abusiva que leva ao estupro, possuem compreensões sociais impostas que definem conceito de cada ato.
 O delito do estupro passou por diversas transformações em sua interpretação social, somente com o tempo, atos sexuais impostos a uma pessoa contra sua vontade passaram ser considerados crimes contra a dignidade sexual, antes eram considerados crimes contra o costume:
 Nos rastros do movimento feminista dos anos 70 e 80, com a Constituição Federal de 88 a mulher passa a conquistar um papel de igualdade nas funções, no âmbito familiar. Mas, ainda em 2009 o estupro era tipificado como um crime a ação privada contra os costumes.
 Nas palavras de Minicucci et al. (2005, p 377), o que constituiria crime seria a “agressão á sociedade por intermédio do corpo feminino.”
 É como se o homem fosse tocado em sua integridade moral, pela violência sexual vivenciada pela mulher.
 Tais exemplos servem para nos mostrar como a classificação de um crime é mutável ao longo do tempo e a partir de mudanças na sociedade, podemos observar como esse histórico tem influência na construção da concepção social sob um determinado assunto, tendo interferência até os dias contemporâneos na percepção comum sobre o estrupo.
 Como o Direito também é um produto cultural e, assim, o Direito criminal e a análise do crime específico que é o estupro, não escapa às construções sociais acerca do tema. Tudo isso nos ajuda a formular o que chamamos de cultura do estupro.
 Para uma abordagem melhor de tal assunto, devemos retornar ao estudo do Becker, que faz uma análise das explicações sociais para tal desvio:
 A primeira delas consiste em considerar desviante “tudo que varia excessivamente com relação à média’’. É, portanto, uma concepção essencialmente estatística.
 
 
Assim formulada, a concepção estatística parece simplória, até trivial. No entanto, ela simplifica o problema pondo de lado muitas questões de valor que surgem usualmente em discussões sobre a natureza do desvio. Ao avaliar qualquer caso particular, basta-nos calcular a distância entre o comportamento envolvido e a média. Mas essa é uma solução simples demais. A procura com semelhante definição retorna com um resultado heterogêneo – pessoas excessivamente gordas ou magras, assassinas, ruivas, homossexuais e infratoras de regras de trânsito. A mistura contém pessoas comumente consideradas desviantes e outras que não infringiram absolutamente qualquer regra. A definição estatística de desvio, em suma, está longe demais da preocupação com a violação de regras que inspira o estudo científico dos outsiders.
Outra concepção bastante comum, principalmente envolvendo casos de estupro, é a que considera o desvio como “algo essencialmente patológico”:
 
 
Essa concepção repousa, obviamente, numa analogia médica. Quando está funcionando de modo eficiente, sem experimentar nenhum desconforto, o organismo humano é considerado “saudável”. Quando não funciona com eficiência, há doença. Diz-se que o órgão ou função em desajuste é patológico. Há, é claro, pouca discordância quanto ao que constitui um estado saudável do organismo. Há menos concordância, porém, quando se usa a noção de patologia, de maneira análoga, para descrever tipos de comportamento vistos como desviantes. Porque as pessoas não concordam quanto ao que constitui comportamento saudável. É difícil encontrar uma definição que satisfaça mesmo um grupo tão seleto e limitado como o dos psiquiatras; é impossível encontrar uma definição que as pessoas aceitem em geral, tal como aceitam critérios de saúde para o organismo.
Por vezes, as pessoas concebem a analogia de maneira mais estrita, porque pensam no desvio como produto de uma doença mental. O comportamento de um homossexual ou de um viciado em drogas é visto como sintoma de uma doença mental, tal como a difícil cicatrização dos machucados de um diabético é vista como um sintoma de sua doença. Mas a doença mental só se assemelha à doença física na metáfora.
 
 Os critérios de avaliação do que é doença mental mudaram ao longo do tempo, as pessoas não concordam quanto a constituição de um comportamento saudável.
Assim, a princípio lentamente, coisas como histeria, hipocondria, neurose obsessivo-compulsiva e depressão foram adicionadas à categoria de doença. Depois, como crescente zelo, médicos e especialmente psiquiatras passaram a chamar de “doença” (isto é, evidentemente, doença mental) absolutamente tudo em que podiam detectar qualquer sinal de mau funcionamento, com base em não importa que regra. Portanto, agorafobia é doença porque não se deveria ter medo de espaços abertos. A homossexualidade é doença porque a heterossexualidade é a norma social. Divórcio é doença porque indica o fracasso do casamento. Crime, arte, liderança política indesejada, participação em questões sociais ou abandono dessa participação – todas essas e muitas outras coisas foram consideradas sinais de doença mental.
 Os critérios citados são bastante comuns quando se analisa o imaginário social acerca do estuprador.
 No Brasil, é relatado que existem anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados. Sendo um número absurdamente alto; no entanto, o senso comum de quem é a pessoa responsável por todos estes casos é: o homem, na grande parte das vezes negro, visto com aparências de indivíduo de classe baixa e periférica, que fica vagando por becos e ruas desertas esperando uma mulher passar para ataca-la; sendo esta a própria imagem de um maníaco. Nos apontando assim, também, o preconceito racial corriqueiro construído socialmente.
 No entanto, pessoas associam o estuprador a um doente, alguém que tem problemas psicológicos ou psicopatia. Haveria de ser uma população enorme de doentes mentais, se realmente fossem responsáveis pelos 527 mil casos anuais.
 O grande problema dessa concepção patológica do desvio, é que se tira esse problema do campo sociológico. Ou seja, anulando a necessidade de analisar o fato como um problema social e cultural. Logo, qualquer análise sobre as causas de tal crime é descartada.
 Podemos prudentemente esclarecer que a imagem masculina do autor do estupro, nem sempre é de alguém doente (não anulando, as possibilidades e os fatos de sê-lo); ele é uma pessoa inserida numa cultura de dominação masculina, que vê mulheres como propriedade do homem, com a presença de uma hierarquia de gênero, menosprezando o gênero feminino; uma cultura que utiliza o sexo como relação de poder e uma afirmação de virilidade masculina.
 Podemos construir a partir desta análise uma ambiência social para tal indivíduo, que se constrói fundamentada em uma realidade cultural de objetificação feminina, vulgarização da imagem da mulher, venda e trivialidade da nudez feminina como algo natural e socialmente aceitável, sendo oposta essa visão em relação a nudez masculina, um ambiente social que se caracteriza pela concessão da fragilidade sexual a mulher e a virilidade ao homem, sendo natural a objetificação feminina e a usurpação de sua moral a partir de atos sexuais.
Mas, quem é, enfim, o usurpador?
 Na maioria dos casos, é uma pessoa do sexo masculino. Em 20% e 40% dos casos um homem embriagado.
Nos casos de agressão infantil, cerca de 70% dos casos os agressores são os próprios pais, padrastos ou familiares. Entre 24,1% dos casos e em 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima.
 Á medida que a idade da vítima aumenta o indivíduo desconhecido passa a configurar gradativamente como principal autor. No geral 70% dos casos são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, o que indica que o principal inimigo se encontra dentro de casa e que a violência, objetificação feminina e insegurança sexual está enraizada na cultura dos lares.
 Dados retirados de um estudo realizado pelo IPEA que analisa tais agressões utilizando dados da Saúde. Nos mostrando além dos dados dos estupradores, dados das vítimas, locais que ocorrem, até mesmo o dia da semana (surpreendentemente segunda-feira). 
 Porém, além da análise de dados, a questão é mais complexa. 
 Através de estudos de Becker, podemos constatar que nem sempre o fato de a pessoa ter infringido uma regra “significa que outros reagirão como se isso tivesse acontecido.” 
 O grau em que um ato será tratado como desviante depende também de quem o comete e de quem se sente prejudicado por ele. Regras tendem a ser aplicadas mais a algumas pessoas que a outras.
 A sociedade não parte de uma classificação igualitária de quem receberá o rótulo de estuprador. Quando o assunto é estupro, não só o estuprador recebe um rótulo, mas também a vítima que passa a ser caracterizada como moralmente “honestas”, e consequentemente que podem ser protegidas como vítimas; e as moralmente “desonestas”, que podem ser abandonadas sem maiores preocupações.
 Das causas sociais que causaram esta inversão de papéis entre vítimas e culpados, quem merece ou ser estuprado; segundo os valores morais sociais. Podemos citar o Código Penal de 80, onde o estupro era visto como um crime contra a honra do homem, legítimo proprietário da mulher, do que uma violência cometida contra a mulher, estando disposto sob o título, “Dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias e do ultraje ao poder público.”
 Propiciando uma esfera social de culpa a mulher já que o estupro era visto como agressão social por intermédio do corpo feminino, anulando a opressão da real vítima, e mais uma vez objetificando a mesma.
 
 Podemos observar como causa presente na sociedade, quando se analisa os discursos que envolvem agressor e vítima, a própria herança de todo esse pensamento patriarcal. O que ocasiona reação de julgamento aos terceiros, de que o estupro é um juízo de caráter moral não do crime, mas dos sujeitos envolvidos no processo. Também é explicado pela análise histórica do Direito.
 Por no passado o crime ser contra a honra, o que se buscava defender em acusações de estupro era exatamente isso: a honra.
Por isso os ataques comuns á vítima, são buscando desonra-la. Sendo considerado desonra, quando se pensa principalmente na sociedade do século XIX-XX, a moça andar sozinha, frequentar bailes, vestir roupas consideradas inadequadas, não ser mais virgem; exatamente valores morais e fatos sociais que hoje por herança são utilizados por uma sociedade preconceituosa, para desprezar vítimas de estupro.
 Dessa mesma forma, a defesa da honra foi amplamente utilizada para desqualificar a palavra da vítima. Sendo uma estratégia que era utilizada, inclusive por advogados. Isso foi repetido, e é uma realidade até hoje.
 Tais fatos sociais ocasionam a contradição de uma sociedade que criminaliza o estupro, porém convive com a realidade social da cultura do estupro. De fato, o estupro é criminalizado, pelo menos em tese, porém as atitudes sociais são hipócritas. Dependendo do perfil do estuprador e da vítima, a condenação social intensifica-se, e tenta-se justificar o abuso de alguma forma.
 Somos produto de uma sociedade que quando a questão envolvida era o estupro e agressão feminina, as leis e as convenções sociais direcionavam ao preconceito e desvalorização das vítimas. Procurando justificar tal ato em teses que descriminalizam a imagem da mulher através de atitudes que não explicam verazmente tais práticas, ratificando que segundo a tese de Nicolau Maquiavel, os fins realmente justificam os meios. Por fim, convivemos em uma sociedade, que em sua maioria, lida com tal realidade de forma corriqueira e conformada.
Referências Bibliográficas:
(IPEA, 2014). IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde. Nota técnica. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/140327_notatecnicadiest11.pdf>
 BECKER, Howard S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
 Leão, Bruna: Não me Khalo, Cultura do Estupro: uma análise pela sociologia do desvio.
Albino, Luciano: Elementos de Sociologia e Antropologia para o Direito
Dukrheim, Émile: A consciência coletiva e os fatos sociais.
www.Sociologia.com.br-Oestupro

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