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EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK Copyright: Instituto Arte na Escola Autor deste material: Solange Utuari Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa Diagramação e arte final: Jorge Monge Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express Tiragem: 200 exemplares Créditos MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA Organização: Instituto Arte na Escola Coordenação: Mirian Celeste Martins Gisa Picosque Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação MAPA RIZOMÁTICO Copyright: Instituto Arte na Escola Concepção: Mirian Celeste Martins Gisa Picosque Concepção gráfica: Bia Fioretti Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil) INSTITUTO ARTE NA ESCOLA Exposição Lygia Clark / Instituto Arte na Escola ; autoria de Solange Utuari ; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Insti- tuto Arte na Escola, 2006. (DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 68) Foco: Mt-6/2006 Materialidade Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia ISBN 85-98009-69-5 1. Artes - Estudo e ensino 2. Artes plásticas 3. Clark, Lygia I. Utuari, Solange II. Martins, Mirian Celeste IV. Picosque, Gisa V. Título VI. Série CDD-700.7 DVD EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK Ficha técnica Gênero: Documentário a partir da exposição da artista no Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte/MG. Palavras-chave: Procedimentos técnicos inventivos; pesqui- sa de materiais; objetos relacionais; percurso de experimenta- ção; artista propositor; sensibilidade; arte e vida; relação pú- blico e obra. Foco: Materialidade. Tema: A trajetória artística de Lygia Clark. Artista abordado: Lygia Clark. Indicação: A partir da 7a série do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Direção: João Vargas Penna. Realização/Produção: Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG. Ano de produção: 2003. Duração: 9’. Sinopse O pensamento de Lygia Clark e sua produção são apresenta- dos neste documentário tendo como pano de fundo a exposi- ção Lygia Clark realizada em 1993, no Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte/MG. Desde a pesquisa na linha orgânica, passando pelos Bichos, Lygia chega aos Objetos relacionais contaminando a arte, o espaço social e a vida do cidadão comum. As imagens e a narração, a partir dos pensa- mentos que Lygia Clark deixou em manuscritos, nos provocam a conhecer sua experiência singular de artista que a levou a religar arte e vida, com intensidade e invenção. 2 Trama inventiva O atrito do olhar sobre a obra recai no estranho silêncio da ma- téria. Somos surpreendidos. Matérias são pele sobre a carne da obra. Pigmento. Lã de aço. Lâminas de vidro e metal. Tecido. Plástico. Ferro. Terra. Pedra. Não importa. A matéria, enfeitiçada pelo pensar do artista e sua mão obreira, vira linguagem. No reencontro dos germes da criação, a escuta da conversa das matérias desvela o artista e sua intenção persistente, cuidadosa e de apuramento técnico: o conflito da fusão, as confidências das manchas, o duelo entre o grafite preto e a candura do papel, a felicidade arredondada do duro curvado. Na cartografia, este documentário se aloja no território da Materialidade, surpreen- dendo pelos caminhos de significação: a poética da matéria. O passeio da câmera A câmera nos transporta ao Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte/MG para percorrermos a exposição Lygia Clark, realizada em 1993. A voz de Priscila Freire, diretora do museu, dá vida aos pensamentos presentes nos manuscritos que Lygia Clark deixou sobre a estrutura poética de seus trabalhos. Colocando-nos como visitantes da exposição, a câmera traça um percurso que revela o caminho que a arte de Lygia Clark tomou, fruto de suas indagações estéticas. As primeiras in- quietações começam em 1954, em Linha orgânica na qual a ar- tista passa a pesquisar, no plano bidimensional, a linha como elemento que divide os planos, estabelecendo limites às cores. Da superfície para o espaço, surgem os Casulos: placas de metal que se dobram sobre si mesmas, criando um espaço interno. Eles anunciam a fase culminante da obra de Lygia, que são os Bichos, e que ganham esse nome precisamente porque nasce- ram dos Casulos, foram gestados neles. O Bicho é feito de articulações de placas com a forma de pétalas e requer a par- ticipação do espectador para se realizar plenamente como obra, como nos mostra Lygia Lins Clark, filha da artista. material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 3 Seguindo pela exposição, encontramos os Abrigos poéticos que têm como mote a fita de Moebius, pois ela quebra os nossos hábitos espaciais, propondo-nos a experiência de um tempo sem limites e de um de espaço contínuo. Em Caixa cubos, o espaço interior é quase um cenário para que os Trepantes se desenro- lem. A série Livro-obra é o exercício da liberdade, a artista re- flete sobre o seu trabalho e sobre quanto esse processo a trans- formou. A pesquisa artística com materiais diversos vai se ampliando na investigação das relações entre corpo e arte, relações sensoriais, sentir concreto no qual o material ressus- cita a memória do corpo: são os Objetos relacionais mostrados ao final do documentário. O documentário oferece proposições pedagógicas para Forma- Conteúdo, a linha orgânica e a tensão entre plano e espaço; Linguagens Artísticas, a linguagem dos objetos; Processo de Criação, o artista-propositor; Mediação Cultural, a relação público/obra; Saberes Estéticos e Culturais, o movimento neoconcreto; Conexões Transdisciplinares, a história do corpo. Impulsionamos o documentário para Materialidade, provocan- do o estudo da pesquisa de materiais banais, singularizando a investigação e as idéias de Lygia Clark sobre suas proposições que incitam uma mudança radical para a arte. Sobre Lygia Clark (Belo Horizonte/MG, 1920 – Rio de Janeiro/RJ, 1988) Quero esquecer tudo que já aprendi só aproveitando a minha maturidade que me veio através de tudo que já fiz. Meu problema fundamental é o exercício da liberdade levando em conta o que já sou, ou no que fui transformada pelo meu trabalho. Lygia Clark Poucas vezes a experiência de religar arte e vida é assumida com tanta intensidade e invenção quanto em Lygia Clark. Na processualidade de sua vida e obra, há um permanente fluir que tudo move: figura e fundo, o que está por baixo retorna por cima, o que é avesso aparece como direito, o que está fora é deglu- 4 tido para dentro, frente e verso se fazem um só, artista-obra- espectador mudam de lugar - desafiando cânones da arte con- solidados, tendo no horizonte um espectador novo. Lygia Clark inicia sua prática artística em 1947, pela mão do pintor e paisagista Roberto Burle Marx e seu conceito de “jar- dim orgânico”. Numa temporada em Paris (1950-52), trava contato com Arpad Szenes1 e freqüenta o ateliê de Fernand Léger, conhecendo a valorização da linha pelo artista na for- mulação do espaço. A estada em Paris animou-a a romper com a arte figurativa, cuja tradição remontava aos princípios elaborados a partir do Renascimento. Entre 1954 e 1958, Lygia investiga não só a forma, mas a linha como moduladora da composição e che- ga à linha orgânica: uma linha que divide planos de uma mesma cor, e que funciona, em seus trabalhos, quase como o rasgo que Lucio Fontana faz em suas telas2. Por aquela linha, assim como pelo corte feito pelo estilete de Fontana, passa a terceira dimensão, cortando o quadro. Nas obras em que trabalha a linha orgânica, ou linha-espaço, ex- pressão usada pela própria Lygia, não há forma seriada, pois essa obrigaria o espectador a manter sua posição contemplativa e a di- nâmica. A linha orgânica é estabelecida de uma forma para a outra, como se cadaum fosse o ponto de partida e de chega- da. Lygia quer que o espectador veja o todo, a obra completa, quer que ele possa penetrar também pelo espaço que passa atra- vés da linha orgânica. Dessa investigação e compreensão do pro- blema do espaço, nasce o Espaço modulado (1958), por exemplo. É apenas o começo. Da compreensão do problema do espaço, Lygia busca romper com a moldura do quadro. O espaço preci- sa se tornar real. Precisa saltar para fora da superfície do qua- dro. É como se ele tentasse sair do plano bidimensional, se desprender do suporte tradicional, da moldura que o obriga a existir em uma área predeterminada. Lygia quer compor no espaço. A libertação da bidimensionalidade não acontece de uma hora para outra. Lygia começa a tatear no material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 5 espaço, testando esse novo universo de possibilidades. O pla- no estufa e vira o Casulo (1959): chapas de metal que se do- bram e saem do plano do quadro, porém, ainda presas na pare- de, como telas. Nesse tempo, seu trabalho encontra ressonância na obra de artistas contemporâneos com os quais se agrupa em 1959, na formação do movimento neoconcretista. No entanto, a forte autonomia da investigação de Lygia a leva a questionar sua adesão ao grupo3 . A experiência do Casulo já é preparação para os Bichos. Quando os cria, em 1960, ela não só materializa a pintura fora da tela, no espaço real, mas cria uma nova proposta que já não se pode descrever como pintura, nem como escultu- ra. Os Bichos4 são sensoriais, devem ser manipulados, oferecidos ao gesto do espectador. O espectador está prestes a se tornar participante. Em 1961, Lygia não aceita a aplicação à sua obra do conceito de “não-objeto” que propõe Ferreira Gullar, ideólogo do movi- mento neoconcretista, e se retira. Do grupo, Lygia conserva a interlocução com Hélio Oiticica, com quem preserva a amizade até a morte precoce do artista em 1980. Os Bichos talvez sejam a obra mais conhecida da artista. Po- rém, a dissolução da fronteira entre arte e vida, que se operava neles, é interrompida quando são apropriados pelo sistema de arte, reconduzidos à vitrine e, portanto, ao pedestal. Entretanto, os Bichos não encerram a processualidade da cria- ção de Lygia. De 1963 a 1988, o diálogo entre o espectador e a obra ganha uma dimensão radical na experiência vivida por Lygia. As crises acompanham sua obra, irrompendo na gesta- ção de cada nova proposta, ou após a realização de alguma obra demasiado desconcertante para aquilo que ela mesma podia suportar, como foi o caso de Caminhando (1963), que pode- mos olhar como um marco divisório na obra da artista. Caminhando5 é uma só proposta: consiste simplesmente em oferecer ao espectador um objeto – fita de Moebius – 6 acompanhado de uma tesoura. Lygia transfere para o espec- tador o ato de cortar o papel, o mesmo ato que fazia em seus estudos preliminares para a criação dos Bichos. Em Caminhan- do, a participação do espectador na obra não se limita à recep- ção, mas atinge a própria realização. É o ato de criar que se torna obra, trabalho em processo, como a vida. É no ato que se reativa a poética. Como escreve Lygia, O Caminhando tem todas as possibilidades ligadas à ação em si: ele permite a escolha, o imprevisível, a transformação de uma virtualidade em um empreendimento concreto6 . Daí para frente, a artista leva cada vez mais longe sua busca de reintegrar arte e vida, e seus objetos não têm mais existên- cia alguma fora da experiência daqueles que os vivem. Por isso, Lygia passa a tornar pública sua obra não mais em galerias, museus, etc., e sim nas universidades, nas ruas e, finalmente, em seu próprio apartamento, onde realiza as seções com os Objetos relacionais. Por isso, também, as poucas vezes que lhe é dada a oportunidade de mostrar ou falar sobre sua obra, depois de Caminhando, Lygia coloca como condição que não seja no espaço da arte. Quando ela começa seus “caminhandos”, pára de chamar a si mes- ma de artista, preferindo o termo propositor. Sobre isso, escreve: Nós somos os propositores: nós somos o molde, cabe a você soprar dentro dele o sentido da nossa existência. Nós somos os propositores: nossa proposição é o diálogo. Sós, não existimos. Estamos à sua mercê. Nós somos os propositores: enterramos a obra de arte como tal e chamamos você para que o pensamento viva através de sua ação. Nós somos os propositores: não lhe propomos nem o passado nem o futuro, mas o agora7 . Libertar a arte de seu confinamento numa esfera especi- alizada, para torná-la uma dimensão da existência de to- dos e de qualquer um, fazendo da vida uma obra de arte, é o futuro anunciado por Lygia Clark. Contaminados por Lygia, seria mero acaso eleger, para o ma- terial educativo da DVDteca Arte na Escola, o objeto Cami- nhando8 como metáfora da ação pedagógica, do vir-a-ser pro- fessor-propositor? material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 7 Os olhos da arte Enchi de ar um saco de plástico, e o fechei com um elástico. Pus uma pedra pequena sobre ele e comecei a apalpá-la, sem me preocupar com descobrir alguma coisa. Com a pressão, a pedra subia e descia por cima da bolsa de ar. Então, de repente, percebi que aquilo era uma coisa viva. Parecia um corpo. Era um corpo. Lygia Clark9 Percorrer a trajetória de Lygia Clark é acompanhar o seu es- forço em tentar incluir o espectador em sua obra, em tentar fazer dele participante e torná-lo quase a razão de ser do seu trabalho. Lygia parece dedicar cada criação a esse especta- dor, que ela quer arrancar de sua posição contemplativa e jogar dentro da obra. A trajetória da artista aponta, ainda, para um desdobramento consciente, e que parece até mesmo natural, em direção à ex- ploração do corpo. Nesse movimento, a pesquisa plástica vai deixando de ser o campo de estudo de Lygia na medida em que ela penetra mais e mais num novo território: a religação da arte e vida, propondo com seus objetos desentorpecer no especta- dor seu corpo vibrátil, por meio de uma intensificação das suas faculdades perceptivas. A partir de Caminhando e até o final de sua vida, esse novo território passa a ser intensamente investigado por Lygia. A artista se volta inteiramente ao espectador, migrando do ato ao corpo e, deste, à relação entre os corpos, para no final dirigir-se à subjetividade, desenhando uma trajetória in- teiramente original em relação às propostas da arte não só da época, mas também de nossa atualidade. No novo território, Lygia leva cada vez mais longe uma inves- tigação de materiais banais que nasce com a fase Nostalgia do corpo como ela mesma denominou. O início é Pedra e ar, trasmutação que Lygia opera num saqui- nho de plástico fechado com um elástico que lhe haviam re- comendado colocar no pulso quebrado num acidente de car- 8 ro. A obra: um saco plástico dos mais banais, cheio de ar e fechado por um elástico, no qual em uma das pontas, voltada para cima, coloca-se um seixo qualquer. A instrução de uso: segurar o saquinho com a palma das mãos, pressionando-o em movimentos de sístole e diástole que fazem a pedra subir e descer, como os movimentos de inspiração e expiração pró- prios da pulsação vital. Materiais efêmeros e sem valor se tornam, então, meios para um insight de Lygia Clark. Insight que pode ocorrer a qualquer hora, em qualquer lugar. O que emerge daí, são “ar- tefatos culturais para efetuar uma transformação física no aqui-e-agora”10. Às vezes, são Máscaras sensoriais. Máscaras largas de pano com objetos ou materiais costurados. O som de uma esfera sólida rolando num pequeno recipiente contra o ouvido, talhos estreitos na altura dos olhos e uma erva aromática no nariz. Ou, então, uma suave rede de musselina sobre os olhos, guizos junto aos ouvidos e outro aroma para oolfato. Às vezes, A casa é o corpo. Na Série roupa-corpo-roupa: o eu e o tu, dois macacões de tecido plastificado grosso, ligados no umbigo por um tubo de borracha de pesca submarina, com um capuz co- brindo os olhos, devem ser vestidos por um homem e uma mulher. O forro, confeccionado com materiais variados, como saco plástico cheio de água, espuma vegetal, borracha, palha de aço, etc., é diferente em cada macacão, de modo a propor- cionar ao homem uma sensação de feminilidade e à mulher uma sensação de masculinidade. Seis zíperes em diferentes partes do macacão abrem acesso ao toque de cada um no interior do corpo do outro. Às vezes, O corpo é a casa. Em Arquitetura biológica: ovo-mortalha, há um grande plástico transparente retangular, com sacos de nylon ou juta costura- dos em suas extremidades, nos quais duas pessoas enfiam os pés ou as mãos e passam a improvisar movimentos, fazendo com que cada uma envolva a outra no plástico. Sacos e folhas de plástico, elásticos, redes de embalar cebola, material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 9 juta, palha de aço, pedras, água, conchas... Nada escapa ao palpitante desejo de Lygia em enlaçar e desenlaçar corpos, praticando uma espécie de ressensibilização dos sentidos. Nesse rebuliço de materiais, Lygia chega ao Corpo-coletivo. Em um grupo de pessoas de olhos vendados, uma pessoa é coloca- da deitada no centro do grupo. Cada uma delas possui um car- retel de linha colorida de máquina de costura dentro da boca e desenrola essa linha por cima do corpo deitado até esvaziar o carretel. Em seguida, as pessoas enfiam suas mãos no emara- nhado de linhas molhadas de saliva, que cobre todo o corpo de quem está deitado, e o esgarçam até que a trama se desfaça totalmente. Nesse ponto, os olhos são desvendados e o grupo se reúne para compartilhar a experiência verbalmente. A obra se encerra: é a Baba antropofágica. A partir de 1976, quando Lygia volta ao Brasil, ela inicia suas seções de Estruturação do self com os Objetos relacionais, última etapa de sua obra. Nas seções, o trabalho é realizado com um espectador de cada vez. A banalidade dos materiais utilizados nesses objetos busca fazer dessa experiência o en- contro de outra ordem com as coisas da vida, de todo dia. Lygia Clark escolhe o corpo como campo de trabalho. Cu- tuca o espectador com estímulos diferentes, busca esgarçar a percepção, instigar experiências estéticas e estésicas. Na poética dos materiais mais banais, Lygia cria metáforas do sentido ao relacionar suas obras com o cor- po humano. Arte e vida se religam. O passeio dos olhos do professor Convidamos você a ser um leitor do documentário, antes do planejamento de sua utilização. Neste momento, é importante você registrar suas impressões durante a exibição. Nossa su- gestão é que suas anotações iniciem um diário de bordo, como um instrumento para o seu pensar pedagógico durante todo o processo de trabalho junto aos alunos. qual FOCO? qual CONTEÚDO? o que PESQUISAR? Zarpando poéticas da materialidade pesquisa de materiais, dimensão simbólica da matéria materiais não convencionais: sacos e folhas de plástico, elásticos, redes de embalagem de cebola, juta, palha de aço, areia, pedras, água, conchas natureza da matéria procedimentos procedimentos técnicos inventivos Materialidade suporte ruptura do suporte, pesquisa de outros meios e suportes o ato de expor formação de público interatividade obra/público Museu de Arte da Pampulha relação público e obra, educação dos sentidos, experiência estética e estésica espaços sociais do saber Mediação Cultural Forma - Conteúdo elementos da visualidade linha orgânica, tensão entre plano e espaço relações entre elementos da visualidade relação figura/fundo, cheio/vazio, interior/exterior, bi-tridimensionalidade temáticas contemporâneas: vida cotidiana, arte e vida, re-sensibilização dos sentidos Saberes Estéticos e Culturais história da arte arte neoconcreta, arte contemporânea estética e filosofia da arte: arte como idéia Linguagens Artísticas objeto, objetos relacionais, livro-obra meios novosartes visuais Processo de Criação ação criadora percurso de experimentação, busca constante, insight espaço para vivências sensoriais e processualidades, ruptura com espaços convencionais da arte corpo, percepção, coleta sensorial, corpo perceptivo, sensação, sensibilidade, afetividade, memória, invenção de recursos ambiência do trabalho potências criadoras produtor-artista-pesquisador artista propositor Conexões Transdisciplinares arte e ciências humanas história do corpo, fita de Moebius 12 A seguir, apresentamos uma pauta do olhar que poderá ajudá-lo. O que os pensamentos de Lygia Clark narrados no documentário despertam em você? Sobre a trajetória de Lygia Clark, apresentada por títulos no documentário, o que você gostaria de pesquisar para saber mais? Quais possibilidades você percebe para a utilização dos títulos na sala de aula? Nas obras e materiais utilizados por Lygia Clark, o que cha- ma sua atenção? O documentário lhe faz perguntas? Quais? Como você percebe o espaço do Museu de Arte da Pampulha? As relações entre o espaço da exposição e a obra exposta podem sugerir assuntos para discutir com seus alunos? O que você imagina que os alunos gostariam de ver no documentário? O que causaria atração ou estranhamento? Para você, qual o foco de trabalho em sala de aula que pode ser desencadeado pelo documentário? Revendo suas anotações, você encontra o seu modo singular de percepção e análise do documentário. A partir delas e da escolha do foco de trabalho, quais questões você faria numa pauta do olhar para o passeio dos olhos dos seus alunos pelo documentário? Percursos com desafios estéticos No mapa, você pode visualizar as diferentes trilhas para o foco Materialidade. Pelas brechas do documentário, consideramos esse um enfoque de relevância entre os diversos assuntos apresentados. Levando em conta a sensibilidade, o interesse e a motivação que o documentário pode gerar, apresentamos possíveis percursos de trabalho impulsionadores de projetos para o aprender-ensinar arte. material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 13 Os percursos sugeridos não correspondem a uma ordem seqüencial. Qualquer um deles pode vir a ser o início ou ser proposto paralelamente. O passeio dos olhos dos alunos Algumas possibilidades: O espaço do museu é o cenário para o documentário. Antes da exibição pode ser interessante provocar uma conversa com os alunos cercando o que eles conhecem sobre cole- ções permanentes, exposições temporárias e como acon- tece a organização de uma exposição. A conversa pode ser ampliada, problematizando: podemos tocar a obra de arte? Em quais situações é permitido? Após a instigação da con- versa, exiba o documentário partindo do segmento da série Bichos. O que atrai ou causa estranhamento nos alunos? Caminhando é uma proposição de Lygia Clark, marco divisó- rio em sua obra. Embora esse objeto não seja mostrado no documentário, você pode provocar os alunos a produzir o Ca- minhando, consultando no glossário, ao final, o modo de fazê- lo. O que os alunos percebem dessa experiência? O que eles pensam sobre esse ato de fazer, ser a criação de uma obra de arte em co-autoria com o artista? Eles imaginam um artis- ta fazendo essa proposta ao espectador? Provocados pela conversa sobre essas questões, comece exibindo o documentário a partir do segmento Objetos relacionais. O que o documentário desperta nos alunos para saber mais? Ter a experiência das coisas sem o recurso da visão. Crie uma ou mais caixas de papelão com um orifício onde os alunos pos- sam colocar a mão e tatear vários objetos, descrevendoo que percebem sem ver aquilo que estão tocando. A proposta não é simplesmente reconhecer o objeto, mas exercitar a percepção sensorial em relação ao tamanho, forma, textura, temperatura, etc. A experiência do tato pode ser ampliada para os outros sentidos. Frascos com diferentes aromas; potes com diferentes sabores; recipientes fechados contendo algo que gere sons. 14 Durante a experiência o silêncio é um elemento importante, assim como a verbalização do aluno de suas percepções. Qual a gama de reações e sensações despertada nos alunos pelo tato, olfa- to, audição e paladar? O que é revitalizado nos alunos com a experiência? O documentário pode ser exibido a seguir. Quais relações os alunos estabelecem entre a experiência que vive- ram e as obras de Lygia Clark mostradas no documentário? Desvelando a poética pessoal Lygia Clark rejeitava as instituições de arte – o museu, o mer- cado de obras de arte, o artista como produtor de objetos úni- cos -, e buscava outro destino para suas práticas e idéias. O que emerge dessa atitude e pensamento em Lygia ganha radicalidade com seus Objetos relacionais que germinam nos anos 70, quando a artista é convidada a dar aulas na Faculdade de Artes Plásticas na Universidade Sorbonne, em Paris, e co- meça a desenvolver propostas com grupos a partir de objetos, criados nas aulas, que ela chamava de “objetos sensoriais”. Operar com a idéia de “objetos sensoriais” para uma reeduca- ção dos sentidos é a proposta. A recriação de uma série de “obje- tos sensoriais” pode acontecer pela investigação de diferentes materiais: sacos-bolha, sacos plásticos, tecidos, na criação de pequenas almofadas leves ou pesadas, recheadas de isopor, areia, pedrinhas, lã, algodão, sementes, bolas de pingue-pongue, tê- nis, etc. Das almofadas, pode-se ampliar para a criação de col- chões, cobertos, também recheados, ou ainda, objetos menores com redes que embalam batatas, cebolas, entre outros. Tendo como mote o artista tornando-se um propositor: “Somos o molde. A vocês cabe o sopro” como diz Lygia, pode-se orga- nizar numa sala de aula os “objetos sensoriais” para que ou- tros alunos da escola entrem em (com)tato. É interessante manter o silêncio na sala, assim como, disponibilizar folhas de papel e lápis para que deixem o registro da “memória do cor- po”: as sensações trazidas, revividas e transformações na vivência, em palavras ou narrativas visuais. material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 15 A proposta pode ser finalizada com uma conversa focando al- gumas questões: como foi a gestação do objeto? Como é gestar um objeto para ser tocado pelo outro? A experiência propõe reformulações em noções antigas sobre a percepção, a sensi- bilidade, o corpo, para quem fez o objeto e para quem toca? O que revelam os registros dos alunos que tocaram o objeto? O desenvolvimento e a reflexão desse percurso pode gerar muitos objetos relacionais e também ganhar diferentes modos de registro no livro-obra que é a proposição de portfólio no final deste material. Ampliando o olhar Romper com a moldura do quadro, transgredindo o tradicional suporte da tela e da escultura, foi uma das investigações es- téticas de Lygia Clark. Nessa linha, algumas obras podem ser apreciadas, como os ambientes de Lucio Fontana, as combine painting de Rauschenberg, as pedras de Richard Long. A trajetória de Lygia aponta para um desdobramento consciente, e que parece até mesmo natural, em direção à exploração do corpo. Mas o que é o corpo? O que pode o corpo? Para conversar sobre essas questões, pode-se partir da produção de desenhos de cor- po, abusando do grafismo, para: corpo-casca, corpo-tripa, corpo- manequim, corpo-caixa, corpo-dobrado, corpo-desdobrado, cor- po-transparente, corpo-desorientado, corpo... A pesquisa de materiais na arte contemporânea extrapola os materiais tradicionais. Conhecer artistas como Nazareth Pacheco, Nuno Ramos e Tunga (consulte os documentários na DVDteca Arte na Escola), pode provocar um bom debate. Na exposição Pele, alma, realizada em 2003, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, a curadora Katia Canton e a atriz e diretora Cristina Mutarelli produziram, para uma performance, o seguinte texto: Lista Poro, ferida, cicatriz, arranhão, desgaste, ruga, tatuagem, pé- de-galinha, sulco, mancha, pinta, cravo, espinha, marca de nascença, digital, furúnculo, pelo, ponto, sutura, cabelo, caspa, seborréia, acne, tumor, vaso, curativo, sutura, sarda, pus, sangue, corte, mancha roxa, eczema, vitiligo, suor, coceira, piercing, veia, edema, varize, celulite, 16 estria, bolha, descascado, brotoeja, carne viva, arranhões, gânglios, escamações, nódulos, cutícula. Carícia, beijo, abraço, saliva, cheiro, toque, tapa, pontapé, soco, porrada, tensão, lambida, mordida, chu- pada, sugada, aperto, arrepio, tremor, aceleração, êxtase, irrigação, paixão, alma, amor, pulsação, poro, pele, pó, aparição. A partir dessa Lista, a sugestão é a criação de uma parede- instalação tendo a pele como temática. Levante com os alunos os materiais que poderiam ser pesquisados para ex- pressar texturas e sensações que o texto provoca. Para compreensão do processo de criação, das escolhas de materiais, temáticas, discussões sobre arte e vida, presen- tes na história dos artistas, proponha a criação de um pai- nel onde os alunos possam fazer uma exposição sobre os artistas concretos e neoconcretos, e suas influências sobre a arte contemporânea. Conhecendo pela pesquisa O documentário apresenta a exposição Lygia Clark no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte/MG. Quais museus estão localizados em sua cidade ou próximos a ela? A pesquisa dos alunos pode gerar um painel informativo tra- zendo informações sobre o acervo, as exposições perma- nentes, temporárias, o serviço educativo do museu. Ampli- ando, pode-se investigar: como acontece a montagem de uma exposição? O que faz um curador? Quem define e como é definida a disposição das obras no espaço? Que relações podem ser estabelecidas entre o percurso his- tórico da arte neoconcreta e os desdobramentos impulsiona- dos à arte de hoje. O Manifesto Neoconcreto (1959) é publi- cado por ocasião da I Exposição Neoconcreta e assinado por Lygia Clark como também por Amilcar de Castro, Aluísio Car- vão, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis. O que os alunos podem descobrir sobre esse manifesto e os artistas que dele participam? Hélio Oiticica é um artista que esteve ao lado de Lygia Clark, pesquisando e experimentando materiais, sensações, concep- ções estéticas e a criação de proposições inovadoras na arte material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 17 brasileira, como os Parangolés. Conhecer Oiticica (consulte documentário na DVDteca Arte na Escola), suas idéias e obra, pode ser um modo de também conhecer as vanguardas ar- tísticas brasileiras. A década de 60 é o momento em que se dá o passo radicalizador na obra de Lygia Clark. O projeto de religar arte e vida, além de intensificar-se nas práticas artísticas em experimentações de toda espécie, extrapola suas fronteiras e contamina a vida social, tornando-se uma das palavras de ordem do explosivo movimento contra-cultural que agitou a época. O que os alu- nos conhecem: sobre os anos 60 no Brasil, sobre o movimento tropicalista, o Teatro Oficina de José Celso Martinez, por exem- plo? A pesquisa pode oferecer aos alunos o contexto social, cultural e político que afeta as idéias de Lygia Clark. Quem é Ferreira Gullar que escreve em 1959 o Manifesto Neoconcreto e a Teoria do não-objeto, textos que imprimem um novo rumo à vanguarda brasileira? Ivaldo Bertazzo, coreógrafo e estudioso do corpo e da dan- ça, criou também alguns materiais que são utilizados em suas aulas, como: sacos de areia, “cobrinhas de soja”, elásticos,pranchas de equilíbrio, caixas d’água, guatambú, tubos de PVC com areia e uma série de outros acessórios que ajudam o corpo a romper os automatismos do cotidiano e reaprender os gestos através da reeducação do movimento. Desde os anos 70, seu trabalho com “cidadãos-dançantes” assemelha- se às proposições de Lygia Clark. Quais descobertas sobre o corpo os alunos podem fazer ao pesquisá-lo? Amarrações de sentidos: portfólio A construção de um portfólio pode se tornar uma interessante provocação para olhar e refletir, evidenciar as buscas, indagações, marcas de uma pesquisa, mostrando toda a produção realizada no projeto. A proposição é o portfólio no formato de um livro-obra tendo como referência aquele mostrado no documentário, escrito em 1964 e publicado em 1983, em uma edição limitada de vinte e quatro exemplares. Assim como Lygia explicitou as percepções 18 que a tinham levado aos trabalhos de então por meio de palavras e formas visuais, cada aluno produzirá o seu, escolhendo o mate- rial e o formato do livro – posição vertical ou horizontal -, explicitando as percepções de seu percurso e a sua produção desenvolvida durante o projeto a partir do documentário. Valorizando a processualidade Houve avanços? O que os alunos percebem que conheceram sobre Lygia Clark e suas proposições? A apresentação do portfólio pode desencadear boas reflexões sobre essas questões. A discussão, em pequenos grupos, so- bre todo o processo vivido pode cercar o que conheceram, o que foi mais importante, o que levarão deste projeto, o que ainda querem saber mais. É momento também de você refle- tir como professor-propositor, olhando seu diário de bordo que, de certo modo, é seu livro-obra. Como este projeto contribuiu para a ampliação dos seus saberes sobre arte e sobre seus alunos? Quais novos achados para sua ação pedagógica fo- ram descobertos nesta experiência? O projeto germinou no- vas idéias em você? Glossário Corpo vibrátil – noção criada por Suely Rolnik. “O corpo vibrátil é a po- tência que tem nosso corpo de vibrar a música do mundo, composição de afetos que toca em nós ao vivo. Nossa consistência subjetiva é feita desta composição sensível, criando-se e recriando-se impulsionada pelos peda- ços de mundo que nos afetam. O corpo vibrátil, portanto, é aquilo que em nós é o dentro e o fora ao mesmo tempo: o dentro nada mais é do que uma combinação fugaz do fora”. Fonte: ROLNIK, Suely. Cartografia sentimen- tal: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Li- berdade, 1989, p.26. Linha orgânica – “Em fins dos anos 50, Lygia Clark compreende que o espaço surge da articulação de planos independentes – são planos recor- tados em madeira, que são arrumados formando retângulos -, como em Planos em superfície modulada n.1 (1957). Na linha de junção desses pla- nos de madeira permanecem frestas que a artista incorpora ao discurso plástico como ‘linha orgânica’. São veios por onde correm sombra e ar. O material educativo para o professor-propositor EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK 19 ar invade o monocromo branco”. Fonte: HERKENHOFF, Paulo. Mono- cromos, a autonomia da cor e o mundo sem centro. Disponível em: <www1.uol.com.br/bienal/24bienal/nuh/pnuhmon0101.htm#notas>. Subjetividade – é o perfil de um modo de ser, de pensar, de agir, de so- nhar, de amar, de fantasiar, etc. - que recorta o espaço, formando um in- terior e um exterior. Porém, as subjetividades encontram-se, hoje, atra- vessadas por uma infinidade cambiante de fluxos heterogêneos, tomados por intensidades, forças/fluxos que compõem os meios variáveis que habitam a subjetividade: meio profissional, familiar, sexual, econômico, político, cultural, informático, turístico, etc. Portanto, não há subjetivida- de sem uma cartografia cultural que lhe sirva de guia. Reciprocamente, não há cultura sem um certo modo de subjetivação que funcione segundo seu perfil. Nessas condições, revela-se na subjetividade sua natureza de sistema complexo, heterogenético e distante do equilíbrio. Mais do que subjetividades, o que há são processos de individuação ou subjetivação. Fonte: <www.caosmose.net/suelyrolnik/>. Bibliografia BERTAZZO, Ivaldo. Espaço e corpo: guia de reeducação do movimento. São Paulo: Sesc, 2004. BRETT, Guy. Lygia Clark: seis células. In: BASBAUM, Ricardo (org.). Arte contemporânea brasileira: texturas, dicções, ficções, estratégias. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001. BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construti- vo brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. DUARTE JR., João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Curitiba: Criar Edições, 2001. SILVA, Ignácio Assis (org.). Corpo e sentido: a escuta do sensível. São Paulo: Ed. da Unesp, 1996. Catálogo LYGIA Clark. Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 1997. Editado para a retrospectiva da obra da artista realizada por essa instituição, em par- ceria com os museus MAC de Marseille (1998), Fundação Serralves (Porto, 1998), Palais des Beaux-Arts (Bruxelas, 1998), encerrando no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 1998-99). Seleção de endereços sobre arte na rede internet Os sites abaixo foram acessados em 07 out. 2005. CLARK, Lygia. Disponível em: <www.mac.mac.usp.br/projetos.html>. 20 ____. Disponível em: <www.lygiaclark.org.br/>. FONTANA, Lucio. Disponível em: <www.proa.org/exhibicion/fontana/ fr-exhibi-4.html>. GULLAR, Ferreira. Disponível em: <http://portalliteral.terra.com.br/ ferreira_gullar/>. LONG, Richard. Disponível em: <www.richardlong.org/>. Notas 1 Szenes era marido da pintora Vieira da Silva e havia vivido no Rio de Janeiro no início dos anos 40. 2 Lucio Fontana (1899-1968). Entre seus trabalhos mais conhecidos es- tão as telas com um grande corte longitudinal, abrindo quadro para a pas- sagem do espaço além daquele plano. 3 Esta questão é exposta em uma carta que a artista escreve a Mondrian, em 1959. Carta a Mondrian, maio de 1959. In: LYGIA Clark. Catálogo, p. 116. 4 “O Bicho tem um circuito próprio de movimentos que reage aos estímu- los do sujeito. (...) Nessa relação entre você e o Bicho há dois tipos de movimento. O primeiro, feito por você, é puramente exterior. O segundo, do Bicho, é produzido pela dinâmica de sua própria expressividade. LYGIA Clark. Catálogo, p. 121. 5 Caminhando tem a seguinte proposição de Lygia: “Faça você mesmo o seu Caminhando. Pegue uma dessas tiras de papel que envolvem um livro. Corte-a em sua largura, torça-a e cole-a de maneira que obtenha a Cinta de Moebius. Em seguida, tome uma tesoura, crave uma ponta na superfície e corte continuadamente no sentido do comprimento. Preste atenção para não recair no corte já feito, o que separaria a faixa em dois pedaços. Quan- do você tiver dado a volta na Cinta de Moebius, escolha entre cortar à di- reita e cortar à esquerda do corte já feito. Esta noção de escolha é decisiva. O único sentido dessa experiência reside na ato de fazê-la. A obra é o seu ato. À medida que se corta na faixa ela se afina e se desdobra em entrela- çamentos. No fim, o caminho é tão estreito que não se pode mais abri-lo. É o fim do atalho”. Lygia Clark. Caminhando. Livro-obra, 1983. In: LYGIA Clark. Catálogo, p. 151. 6 Ibidem. 7 Ibidem, p. 233. 8 Consulte no menu do DVD, “Duas palavras”, para ver uma experiência do ato de fazer o Caminhando. 9 LYGIA Clark. Catálogo, p. 205. 10 Op cit, p. 20.
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