Buscar

Lygia Clarck

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
Copyright: Instituto Arte na Escola
Autor deste material: Solange Utuari
Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa
Diagramação e arte final: Jorge Monge
Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar
Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express
Tiragem: 200 exemplares
 Créditos
MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA
Organização: Instituto Arte na Escola
Coordenação: Mirian Celeste Martins
Gisa Picosque
Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação
MAPA RIZOMÁTICO
Copyright: Instituto Arte na Escola
Concepção: Mirian Celeste Martins
Gisa Picosque
Concepção gráfica: Bia Fioretti
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)
INSTITUTO ARTE NA ESCOLA
Exposição Lygia Clark / Instituto Arte na Escola ; autoria de Solange Utuari ;
coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Insti-
tuto Arte na Escola, 2006.
(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 68)
Foco: Mt-6/2006 Materialidade
Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia
ISBN 85-98009-69-5
1. Artes - Estudo e ensino 2. Artes plásticas 3. Clark, Lygia I. Utuari,
Solange II. Martins, Mirian Celeste IV. Picosque, Gisa V. Título VI. Série
CDD-700.7
 DVD
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
 Ficha técnica
Gênero: Documentário a partir da exposição da artista no
Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte/MG.
Palavras-chave: Procedimentos técnicos inventivos; pesqui-
sa de materiais; objetos relacionais; percurso de experimenta-
ção; artista propositor; sensibilidade; arte e vida; relação pú-
blico e obra.
Foco: Materialidade.
Tema: A trajetória artística de Lygia Clark.
Artista abordado: Lygia Clark.
Indicação: A partir da 7a série do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Direção: João Vargas Penna.
Realização/Produção: Museu de Arte da Pampulha, Belo
Horizonte, MG.
Ano de produção: 2003.
Duração: 9’.
 Sinopse
O pensamento de Lygia Clark e sua produção são apresenta-
dos neste documentário tendo como pano de fundo a exposi-
ção Lygia Clark realizada em 1993, no Museu de Arte da
Pampulha em Belo Horizonte/MG. Desde a pesquisa na linha
orgânica, passando pelos Bichos, Lygia chega aos Objetos
relacionais contaminando a arte, o espaço social e a vida do
cidadão comum. As imagens e a narração, a partir dos pensa-
mentos que Lygia Clark deixou em manuscritos, nos provocam
a conhecer sua experiência singular de artista que a levou a
religar arte e vida, com intensidade e invenção.
2
 Trama inventiva
O atrito do olhar sobre a obra recai no estranho silêncio da ma-
téria. Somos surpreendidos. Matérias são pele sobre a carne da
obra. Pigmento. Lã de aço. Lâminas de vidro e metal. Tecido.
Plástico. Ferro. Terra. Pedra. Não importa. A matéria, enfeitiçada
pelo pensar do artista e sua mão obreira, vira linguagem. No
reencontro dos germes da criação, a escuta da conversa das
matérias desvela o artista e sua intenção persistente, cuidadosa
e de apuramento técnico: o conflito da fusão, as confidências das
manchas, o duelo entre o grafite preto e a candura do papel, a
felicidade arredondada do duro curvado. Na cartografia, este
documentário se aloja no território da Materialidade, surpreen-
dendo pelos caminhos de significação: a poética da matéria.
 O passeio da câmera
A câmera nos transporta ao Museu de Arte da Pampulha em
Belo Horizonte/MG para percorrermos a exposição Lygia Clark,
realizada em 1993. A voz de Priscila Freire, diretora do museu,
dá vida aos pensamentos presentes nos manuscritos que Lygia
Clark deixou sobre a estrutura poética de seus trabalhos.
Colocando-nos como visitantes da exposição, a câmera traça
um percurso que revela o caminho que a arte de Lygia Clark
tomou, fruto de suas indagações estéticas. As primeiras in-
quietações começam em 1954, em Linha orgânica na qual a ar-
tista passa a pesquisar, no plano bidimensional, a linha como
elemento que divide os planos, estabelecendo limites às cores.
Da superfície para o espaço, surgem os Casulos: placas de metal
que se dobram sobre si mesmas, criando um espaço interno.
Eles anunciam a fase culminante da obra de Lygia, que são os
Bichos, e que ganham esse nome precisamente porque nasce-
ram dos Casulos, foram gestados neles. O Bicho é feito de
articulações de placas com a forma de pétalas e requer a par-
ticipação do espectador para se realizar plenamente como obra,
como nos mostra Lygia Lins Clark, filha da artista.
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
3
Seguindo pela exposição, encontramos os Abrigos poéticos que
têm como mote a fita de Moebius, pois ela quebra os nossos
hábitos espaciais, propondo-nos a experiência de um tempo sem
limites e de um de espaço contínuo. Em Caixa cubos, o espaço
interior é quase um cenário para que os Trepantes se desenro-
lem. A série Livro-obra é o exercício da liberdade, a artista re-
flete sobre o seu trabalho e sobre quanto esse processo a trans-
formou. A pesquisa artística com materiais diversos vai se
ampliando na investigação das relações entre corpo e arte,
relações sensoriais, sentir concreto no qual o material ressus-
cita a memória do corpo: são os Objetos relacionais mostrados
ao final do documentário.
O documentário oferece proposições pedagógicas para Forma-
Conteúdo, a linha orgânica e a tensão entre plano e espaço;
Linguagens Artísticas, a linguagem dos objetos; Processo de
Criação, o artista-propositor; Mediação Cultural, a relação
público/obra; Saberes Estéticos e Culturais, o movimento
neoconcreto; Conexões Transdisciplinares, a história do corpo.
Impulsionamos o documentário para Materialidade, provocan-
do o estudo da pesquisa de materiais banais, singularizando a
investigação e as idéias de Lygia Clark sobre suas proposições
que incitam uma mudança radical para a arte.
 Sobre Lygia Clark
(Belo Horizonte/MG, 1920 – Rio de Janeiro/RJ, 1988)
 Quero esquecer tudo que já aprendi só aproveitando a minha
maturidade que me veio através de tudo que já fiz. Meu problema
fundamental é o exercício da liberdade levando em conta o que já
sou, ou no que fui transformada pelo meu trabalho.
Lygia Clark
Poucas vezes a experiência de religar arte e vida é assumida
com tanta intensidade e invenção quanto em Lygia Clark. Na
processualidade de sua vida e obra, há um permanente fluir que
tudo move: figura e fundo, o que está por baixo retorna por cima,
o que é avesso aparece como direito, o que está fora é deglu-
4
tido para dentro, frente e verso se fazem um só, artista-obra-
espectador mudam de lugar - desafiando cânones da arte con-
solidados, tendo no horizonte um espectador novo.
Lygia Clark inicia sua prática artística em 1947, pela mão do
pintor e paisagista Roberto Burle Marx e seu conceito de “jar-
dim orgânico”. Numa temporada em Paris (1950-52), trava
contato com Arpad Szenes1 e freqüenta o ateliê de Fernand
Léger, conhecendo a valorização da linha pelo artista na for-
mulação do espaço.
A estada em Paris animou-a a romper com a arte figurativa,
cuja tradição remontava aos princípios elaborados a partir do
Renascimento. Entre 1954 e 1958, Lygia investiga não só a
forma, mas a linha como moduladora da composição e che-
ga à linha orgânica: uma linha que divide planos de uma
mesma cor, e que funciona, em seus trabalhos, quase como
o rasgo que Lucio Fontana faz em suas telas2. Por aquela
linha, assim como pelo corte feito pelo estilete de Fontana,
passa a terceira dimensão, cortando o quadro.
Nas obras em que trabalha a linha orgânica, ou linha-espaço, ex-
pressão usada pela própria Lygia, não há forma seriada, pois essa
obrigaria o espectador a manter sua posição contemplativa e a di-
nâmica. A linha orgânica é estabelecida de uma forma para a
outra, como se cadaum fosse o ponto de partida e de chega-
da. Lygia quer que o espectador veja o todo, a obra completa,
quer que ele possa penetrar também pelo espaço que passa atra-
vés da linha orgânica. Dessa investigação e compreensão do pro-
blema do espaço, nasce o Espaço modulado (1958), por exemplo.
É apenas o começo. Da compreensão do problema do espaço,
Lygia busca romper com a moldura do quadro. O espaço preci-
sa se tornar real. Precisa saltar para fora da superfície do qua-
dro. É como se ele tentasse sair do plano bidimensional, se
desprender do suporte tradicional, da moldura que o obriga a
existir em uma área predeterminada.
Lygia quer compor no espaço. A libertação da bidimensionalidade
não acontece de uma hora para outra. Lygia começa a tatear no
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
5
espaço, testando esse novo universo de possibilidades. O pla-
no estufa e vira o Casulo (1959): chapas de metal que se do-
bram e saem do plano do quadro, porém, ainda presas na pare-
de, como telas.
Nesse tempo, seu trabalho encontra ressonância na obra de
artistas contemporâneos com os quais se agrupa em 1959, na
formação do movimento neoconcretista. No entanto, a forte
autonomia da investigação de Lygia a leva a questionar sua
adesão ao grupo3 .
A experiência do Casulo já é preparação para os Bichos.
Quando os cria, em 1960, ela não só materializa a pintura
fora da tela, no espaço real, mas cria uma nova proposta que
já não se pode descrever como pintura, nem como escultu-
ra. Os Bichos4 são sensoriais, devem ser manipulados,
oferecidos ao gesto do espectador. O espectador está
prestes a se tornar participante.
Em 1961, Lygia não aceita a aplicação à sua obra do conceito
de “não-objeto” que propõe Ferreira Gullar, ideólogo do movi-
mento neoconcretista, e se retira. Do grupo, Lygia conserva a
interlocução com Hélio Oiticica, com quem preserva a amizade
até a morte precoce do artista em 1980.
Os Bichos talvez sejam a obra mais conhecida da artista. Po-
rém, a dissolução da fronteira entre arte e vida, que se operava
neles, é interrompida quando são apropriados pelo sistema de
arte, reconduzidos à vitrine e, portanto, ao pedestal.
Entretanto, os Bichos não encerram a processualidade da cria-
ção de Lygia. De 1963 a 1988, o diálogo entre o espectador e
a obra ganha uma dimensão radical na experiência vivida por
Lygia. As crises acompanham sua obra, irrompendo na gesta-
ção de cada nova proposta, ou após a realização de alguma obra
demasiado desconcertante para aquilo que ela mesma podia
suportar, como foi o caso de Caminhando (1963), que pode-
mos olhar como um marco divisório na obra da artista.
Caminhando5 é uma só proposta: consiste simplesmente
em oferecer ao espectador um objeto – fita de Moebius –
6
acompanhado de uma tesoura. Lygia transfere para o espec-
tador o ato de cortar o papel, o mesmo ato que fazia em seus
estudos preliminares para a criação dos Bichos. Em Caminhan-
do, a participação do espectador na obra não se limita à recep-
ção, mas atinge a própria realização. É o ato de criar que se
torna obra, trabalho em processo, como a vida. É no ato que se
reativa a poética. Como escreve Lygia,
O Caminhando tem todas as possibilidades ligadas à ação em si: ele
permite a escolha, o imprevisível, a transformação de uma virtualidade
em um empreendimento concreto6 .
Daí para frente, a artista leva cada vez mais longe sua busca
de reintegrar arte e vida, e seus objetos não têm mais existên-
cia alguma fora da experiência daqueles que os vivem. Por isso,
Lygia passa a tornar pública sua obra não mais em galerias,
museus, etc., e sim nas universidades, nas ruas e, finalmente,
em seu próprio apartamento, onde realiza as seções com os
Objetos relacionais. Por isso, também, as poucas vezes que lhe
é dada a oportunidade de mostrar ou falar sobre sua obra, depois
de Caminhando, Lygia coloca como condição que não seja no
espaço da arte.
Quando ela começa seus “caminhandos”, pára de chamar a si mes-
ma de artista, preferindo o termo propositor. Sobre isso, escreve:
Nós somos os propositores: nós somos o molde, cabe a você soprar
dentro dele o sentido da nossa existência. Nós somos os propositores:
nossa proposição é o diálogo. Sós, não existimos. Estamos à sua
mercê. Nós somos os propositores: enterramos a obra de arte como
tal e chamamos você para que o pensamento viva através de sua ação.
Nós somos os propositores: não lhe propomos nem o passado nem o
futuro, mas o agora7 .
Libertar a arte de seu confinamento numa esfera especi-
alizada, para torná-la uma dimensão da existência de to-
dos e de qualquer um, fazendo da vida uma obra de arte,
é o futuro anunciado por Lygia Clark.
Contaminados por Lygia, seria mero acaso eleger, para o ma-
terial educativo da DVDteca Arte na Escola, o objeto Cami-
nhando8 como metáfora da ação pedagógica, do vir-a-ser pro-
fessor-propositor?
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
7
Os olhos da arte
Enchi de ar um saco de plástico, e o fechei com um elástico. Pus uma
pedra pequena sobre ele e comecei a apalpá-la, sem me preocupar
com descobrir alguma coisa. Com a pressão, a pedra subia e descia
por cima da bolsa de ar. Então, de repente, percebi que aquilo era
uma coisa viva. Parecia um corpo. Era um corpo.
Lygia Clark9
Percorrer a trajetória de Lygia Clark é acompanhar o seu es-
forço em tentar incluir o espectador em sua obra, em tentar
fazer dele participante e torná-lo quase a razão de ser do seu
trabalho. Lygia parece dedicar cada criação a esse especta-
dor, que ela quer arrancar de sua posição contemplativa e jogar
dentro da obra.
A trajetória da artista aponta, ainda, para um desdobramento
consciente, e que parece até mesmo natural, em direção à ex-
ploração do corpo. Nesse movimento, a pesquisa plástica vai
deixando de ser o campo de estudo de Lygia na medida em que
ela penetra mais e mais num novo território: a religação da arte
e vida, propondo com seus objetos desentorpecer no especta-
dor seu corpo vibrátil, por meio de uma intensificação das suas
faculdades perceptivas.
A partir de Caminhando e até o final de sua vida, esse novo
território passa a ser intensamente investigado por Lygia. A
artista se volta inteiramente ao espectador, migrando do
ato ao corpo e, deste, à relação entre os corpos, para no
final dirigir-se à subjetividade, desenhando uma trajetória in-
teiramente original em relação às propostas da arte não só da
época, mas também de nossa atualidade.
No novo território, Lygia leva cada vez mais longe uma inves-
tigação de materiais banais que nasce com a fase Nostalgia do
corpo como ela mesma denominou.
O início é Pedra e ar, trasmutação que Lygia opera num saqui-
nho de plástico fechado com um elástico que lhe haviam re-
comendado colocar no pulso quebrado num acidente de car-
8
ro. A obra: um saco plástico dos mais banais, cheio de ar e
fechado por um elástico, no qual em uma das pontas, voltada
para cima, coloca-se um seixo qualquer. A instrução de uso:
segurar o saquinho com a palma das mãos, pressionando-o
em movimentos de sístole e diástole que fazem a pedra subir
e descer, como os movimentos de inspiração e expiração pró-
prios da pulsação vital.
Materiais efêmeros e sem valor se tornam, então, meios
para um insight de Lygia Clark. Insight que pode ocorrer a
qualquer hora, em qualquer lugar. O que emerge daí, são “ar-
tefatos culturais para efetuar uma transformação física no
aqui-e-agora”10.
Às vezes, são Máscaras sensoriais. Máscaras largas de pano
com objetos ou materiais costurados. O som de uma esfera
sólida rolando num pequeno recipiente contra o ouvido, talhos
estreitos na altura dos olhos e uma erva aromática no nariz.
Ou, então, uma suave rede de musselina sobre os olhos, guizos
junto aos ouvidos e outro aroma para oolfato. Às vezes, A
casa é o corpo. Na Série roupa-corpo-roupa: o eu e o tu, dois
macacões de tecido plastificado grosso, ligados no umbigo por
um tubo de borracha de pesca submarina, com um capuz co-
brindo os olhos, devem ser vestidos por um homem e uma
mulher. O forro, confeccionado com materiais variados, como
saco plástico cheio de água, espuma vegetal, borracha, palha
de aço, etc., é diferente em cada macacão, de modo a propor-
cionar ao homem uma sensação de feminilidade e à mulher
uma sensação de masculinidade. Seis zíperes em diferentes
partes do macacão abrem acesso ao toque de cada um no
interior do corpo do outro. Às vezes, O corpo é a casa. Em
Arquitetura biológica: ovo-mortalha, há um grande plástico
transparente retangular, com sacos de nylon ou juta costura-
dos em suas extremidades, nos quais duas pessoas enfiam os
pés ou as mãos e passam a improvisar movimentos, fazendo
com que cada uma envolva a outra no plástico.
Sacos e folhas de plástico, elásticos, redes de embalar cebola,
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
9
juta, palha de aço, pedras, água, conchas... Nada escapa ao
palpitante desejo de Lygia em enlaçar e desenlaçar corpos,
praticando uma espécie de ressensibilização dos sentidos.
Nesse rebuliço de materiais, Lygia chega ao Corpo-coletivo. Em
um grupo de pessoas de olhos vendados, uma pessoa é coloca-
da deitada no centro do grupo. Cada uma delas possui um car-
retel de linha colorida de máquina de costura dentro da boca e
desenrola essa linha por cima do corpo deitado até esvaziar o
carretel. Em seguida, as pessoas enfiam suas mãos no emara-
nhado de linhas molhadas de saliva, que cobre todo o corpo de
quem está deitado, e o esgarçam até que a trama se desfaça
totalmente. Nesse ponto, os olhos são desvendados e o grupo
se reúne para compartilhar a experiência verbalmente. A obra
se encerra: é a Baba antropofágica.
A partir de 1976, quando Lygia volta ao Brasil, ela inicia suas
seções de Estruturação do self com os Objetos relacionais,
última etapa de sua obra. Nas seções, o trabalho é realizado
com um espectador de cada vez. A banalidade dos materiais
utilizados nesses objetos busca fazer dessa experiência o en-
contro de outra ordem com as coisas da vida, de todo dia.
Lygia Clark escolhe o corpo como campo de trabalho. Cu-
tuca o espectador com estímulos diferentes, busca
esgarçar a percepção, instigar experiências estéticas e
estésicas. Na poética dos materiais mais banais, Lygia cria
metáforas do sentido ao relacionar suas obras com o cor-
po humano. Arte e vida se religam.
 O passeio dos olhos do professor
Convidamos você a ser um leitor do documentário, antes do
planejamento de sua utilização. Neste momento, é importante
você registrar suas impressões durante a exibição. Nossa su-
gestão é que suas anotações iniciem um diário de bordo, como
um instrumento para o seu pensar pedagógico durante todo o
processo de trabalho junto aos alunos.
 qual FOCO?
 qual CONTEÚDO?
 o que PESQUISAR?
Zarpando
poéticas da materialidade
pesquisa de materiais, dimensão simbólica da matéria
materiais não convencionais: sacos e folhas
de plástico, elásticos, redes de embalagem
de cebola, juta, palha de aço, areia, pedras,
água, conchas
natureza 
da matéria
procedimentos 
procedimentos
técnicos inventivos 
Materialidade
suporte
ruptura do suporte,
pesquisa de outros
meios e suportes
o ato
de expor
formação de público
interatividade obra/público 
Museu de Arte da Pampulha 
relação público e obra,
educação dos sentidos,
experiência estética e estésica 
espaços sociais
do saber
Mediação
Cultural
Forma - Conteúdo
elementos da
visualidade linha orgânica, tensão entre plano e espaço
relações entre elementos
da visualidade
relação figura/fundo,
cheio/vazio,
interior/exterior,
bi-tridimensionalidade 
temáticas
contemporâneas: vida cotidiana,
arte e vida, re-sensibilização dos sentidos
Saberes
Estéticos e
Culturais
história da arte arte neoconcreta, arte contemporânea
estética e filosofia da arte: arte como idéia
Linguagens 
Artísticas
objeto, objetos relacionais, livro-obra
meios
novosartes
visuais
Processo de
Criação
ação criadora
percurso de experimentação,
busca constante, insight 
espaço para vivências sensoriais e processualidades,
ruptura com espaços convencionais da arte
corpo, percepção, coleta sensorial, corpo perceptivo, sensação,
sensibilidade, afetividade, memória, invenção de recursos
ambiência do trabalho
potências criadoras
produtor-artista-pesquisador artista propositor 
Conexões
Transdisciplinares
arte e ciências
humanas
história do corpo, fita de Moebius
12
A seguir, apresentamos uma pauta do olhar que poderá ajudá-lo.
 O que os pensamentos de Lygia Clark narrados no
documentário despertam em você?
Sobre a trajetória de Lygia Clark, apresentada por títulos no
documentário, o que você gostaria de pesquisar para saber
mais? Quais possibilidades você percebe para a utilização
dos títulos na sala de aula?
Nas obras e materiais utilizados por Lygia Clark, o que cha-
ma sua atenção?
O documentário lhe faz perguntas? Quais?
Como você percebe o espaço do Museu de Arte da Pampulha?
As relações entre o espaço da exposição e a obra exposta
podem sugerir assuntos para discutir com seus alunos?
O que você imagina que os alunos gostariam de ver no
documentário? O que causaria atração ou estranhamento?
Para você, qual o foco de trabalho em sala de aula que pode
ser desencadeado pelo documentário?
Revendo suas anotações, você encontra o seu modo singular
de percepção e análise do documentário. A partir delas e da
escolha do foco de trabalho, quais questões você faria numa
pauta do olhar para o passeio dos olhos dos seus alunos pelo
documentário?
 Percursos com desafios estéticos
No mapa, você pode visualizar as diferentes trilhas para o foco
Materialidade. Pelas brechas do documentário, consideramos
esse um enfoque de relevância entre os diversos assuntos
apresentados. Levando em conta a sensibilidade, o interesse e
a motivação que o documentário pode gerar, apresentamos
possíveis percursos de trabalho impulsionadores de projetos
para o aprender-ensinar arte.
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
13
Os percursos sugeridos não correspondem a uma ordem
seqüencial. Qualquer um deles pode vir a ser o início ou ser
proposto paralelamente.
 O passeio dos olhos dos alunos
Algumas possibilidades:
O espaço do museu é o cenário para o documentário. Antes
da exibição pode ser interessante provocar uma conversa
com os alunos cercando o que eles conhecem sobre cole-
ções permanentes, exposições temporárias e como acon-
tece a organização de uma exposição. A conversa pode ser
ampliada, problematizando: podemos tocar a obra de arte?
Em quais situações é permitido? Após a instigação da con-
versa, exiba o documentário partindo do segmento da série
Bichos. O que atrai ou causa estranhamento nos alunos?
Caminhando é uma proposição de Lygia Clark, marco divisó-
rio em sua obra. Embora esse objeto não seja mostrado no
documentário, você pode provocar os alunos a produzir o Ca-
minhando, consultando no glossário, ao final, o modo de fazê-
lo. O que os alunos percebem dessa experiência? O que eles
pensam sobre esse ato de fazer, ser a criação de uma obra
de arte em co-autoria com o artista? Eles imaginam um artis-
ta fazendo essa proposta ao espectador? Provocados pela
conversa sobre essas questões, comece exibindo o
documentário a partir do segmento Objetos relacionais. O
que o documentário desperta nos alunos para saber mais?
Ter a experiência das coisas sem o recurso da visão. Crie uma
ou mais caixas de papelão com um orifício onde os alunos pos-
sam colocar a mão e tatear vários objetos, descrevendoo que
percebem sem ver aquilo que estão tocando. A proposta não é
simplesmente reconhecer o objeto, mas exercitar a percepção
sensorial em relação ao tamanho, forma, textura, temperatura,
etc. A experiência do tato pode ser ampliada para os outros
sentidos. Frascos com diferentes aromas; potes com diferentes
sabores; recipientes fechados contendo algo que gere sons.
14
Durante a experiência o silêncio é um elemento importante, assim
como a verbalização do aluno de suas percepções. Qual a gama
de reações e sensações despertada nos alunos pelo tato, olfa-
to, audição e paladar? O que é revitalizado nos alunos com a
experiência? O documentário pode ser exibido a seguir. Quais
relações os alunos estabelecem entre a experiência que vive-
ram e as obras de Lygia Clark mostradas no documentário?
 Desvelando a poética pessoal
Lygia Clark rejeitava as instituições de arte – o museu, o mer-
cado de obras de arte, o artista como produtor de objetos úni-
cos -, e buscava outro destino para suas práticas e idéias. O
que emerge dessa atitude e pensamento em Lygia ganha
radicalidade com seus Objetos relacionais que germinam nos
anos 70, quando a artista é convidada a dar aulas na Faculdade
de Artes Plásticas na Universidade Sorbonne, em Paris, e co-
meça a desenvolver propostas com grupos a partir de objetos,
criados nas aulas, que ela chamava de “objetos sensoriais”.
Operar com a idéia de “objetos sensoriais” para uma reeduca-
ção dos sentidos é a proposta. A recriação de uma série de “obje-
tos sensoriais” pode acontecer pela investigação de diferentes
materiais: sacos-bolha, sacos plásticos, tecidos, na criação de
pequenas almofadas leves ou pesadas, recheadas de isopor, areia,
pedrinhas, lã, algodão, sementes, bolas de pingue-pongue, tê-
nis, etc. Das almofadas, pode-se ampliar para a criação de col-
chões, cobertos, também recheados, ou ainda, objetos menores
com redes que embalam batatas, cebolas, entre outros.
Tendo como mote o artista tornando-se um propositor: “Somos
o molde. A vocês cabe o sopro” como diz Lygia, pode-se orga-
nizar numa sala de aula os “objetos sensoriais” para que ou-
tros alunos da escola entrem em (com)tato. É interessante
manter o silêncio na sala, assim como, disponibilizar folhas de
papel e lápis para que deixem o registro da “memória do cor-
po”: as sensações trazidas, revividas e transformações na
vivência, em palavras ou narrativas visuais.
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
15
A proposta pode ser finalizada com uma conversa focando al-
gumas questões: como foi a gestação do objeto? Como é gestar
um objeto para ser tocado pelo outro? A experiência propõe
reformulações em noções antigas sobre a percepção, a sensi-
bilidade, o corpo, para quem fez o objeto e para quem toca? O
que revelam os registros dos alunos que tocaram o objeto?
O desenvolvimento e a reflexão desse percurso pode gerar muitos
objetos relacionais e também ganhar diferentes modos de registro
no livro-obra que é a proposição de portfólio no final deste material.
 Ampliando o olhar
Romper com a moldura do quadro, transgredindo o tradicional
suporte da tela e da escultura, foi uma das investigações es-
téticas de Lygia Clark. Nessa linha, algumas obras podem ser
apreciadas, como os ambientes de Lucio Fontana, as combine
painting de Rauschenberg, as pedras de Richard Long.
A trajetória de Lygia aponta para um desdobramento consciente,
e que parece até mesmo natural, em direção à exploração do corpo.
Mas o que é o corpo? O que pode o corpo? Para conversar sobre
essas questões, pode-se partir da produção de desenhos de cor-
po, abusando do grafismo, para: corpo-casca, corpo-tripa, corpo-
manequim, corpo-caixa, corpo-dobrado, corpo-desdobrado, cor-
po-transparente, corpo-desorientado, corpo...
A pesquisa de materiais na arte contemporânea extrapola os
materiais tradicionais. Conhecer artistas como Nazareth
Pacheco, Nuno Ramos e Tunga (consulte os documentários
na DVDteca Arte na Escola), pode provocar um bom debate.
Na exposição Pele, alma, realizada em 2003, no Centro
Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, a curadora Katia
Canton e a atriz e diretora Cristina Mutarelli produziram,
para uma performance, o seguinte texto:
Lista Poro, ferida, cicatriz, arranhão, desgaste, ruga, tatuagem, pé-
de-galinha, sulco, mancha, pinta, cravo, espinha, marca de nascença,
digital, furúnculo, pelo, ponto, sutura, cabelo, caspa, seborréia, acne,
tumor, vaso, curativo, sutura, sarda, pus, sangue, corte, mancha roxa,
eczema, vitiligo, suor, coceira, piercing, veia, edema, varize, celulite,
16
estria, bolha, descascado, brotoeja, carne viva, arranhões, gânglios,
escamações, nódulos, cutícula. Carícia, beijo, abraço, saliva, cheiro,
toque, tapa, pontapé, soco, porrada, tensão, lambida, mordida, chu-
pada, sugada, aperto, arrepio, tremor, aceleração, êxtase, irrigação,
paixão, alma, amor, pulsação, poro, pele, pó, aparição.
A partir dessa Lista, a sugestão é a criação de uma parede-
instalação tendo a pele como temática. Levante com os
alunos os materiais que poderiam ser pesquisados para ex-
pressar texturas e sensações que o texto provoca.
Para compreensão do processo de criação, das escolhas de
materiais, temáticas, discussões sobre arte e vida, presen-
tes na história dos artistas, proponha a criação de um pai-
nel onde os alunos possam fazer uma exposição sobre os
artistas concretos e neoconcretos, e suas influências sobre
a arte contemporânea.
 Conhecendo pela pesquisa
O documentário apresenta a exposição Lygia Clark no
Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte/MG. Quais
museus estão localizados em sua cidade ou próximos a ela?
A pesquisa dos alunos pode gerar um painel informativo tra-
zendo informações sobre o acervo, as exposições perma-
nentes, temporárias, o serviço educativo do museu. Ampli-
ando, pode-se investigar: como acontece a montagem de
uma exposição? O que faz um curador? Quem define e como
é definida a disposição das obras no espaço?
Que relações podem ser estabelecidas entre o percurso his-
tórico da arte neoconcreta e os desdobramentos impulsiona-
dos à arte de hoje. O Manifesto Neoconcreto (1959) é publi-
cado por ocasião da I Exposição Neoconcreta e assinado por
Lygia Clark como também por Amilcar de Castro, Aluísio Car-
vão, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Reynaldo
Jardim e Theon Spanudis. O que os alunos podem descobrir
sobre esse manifesto e os artistas que dele participam?
Hélio Oiticica é um artista que esteve ao lado de Lygia Clark,
pesquisando e experimentando materiais, sensações, concep-
ções estéticas e a criação de proposições inovadoras na arte
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
17
brasileira, como os Parangolés. Conhecer Oiticica (consulte
documentário na DVDteca Arte na Escola), suas idéias e obra,
pode ser um modo de também conhecer as vanguardas ar-
tísticas brasileiras.
A década de 60 é o momento em que se dá o passo radicalizador
na obra de Lygia Clark. O projeto de religar arte e vida, além
de intensificar-se nas práticas artísticas em experimentações
de toda espécie, extrapola suas fronteiras e contamina a vida
social, tornando-se uma das palavras de ordem do explosivo
movimento contra-cultural que agitou a época. O que os alu-
nos conhecem: sobre os anos 60 no Brasil, sobre o movimento
tropicalista, o Teatro Oficina de José Celso Martinez, por exem-
plo? A pesquisa pode oferecer aos alunos o contexto social,
cultural e político que afeta as idéias de Lygia Clark.
Quem é Ferreira Gullar que escreve em 1959 o Manifesto
Neoconcreto e a Teoria do não-objeto, textos que imprimem
um novo rumo à vanguarda brasileira?
Ivaldo Bertazzo, coreógrafo e estudioso do corpo e da dan-
ça, criou também alguns materiais que são utilizados em suas
aulas, como: sacos de areia, “cobrinhas de soja”, elásticos,pranchas de equilíbrio, caixas d’água, guatambú, tubos de
PVC com areia e uma série de outros acessórios que ajudam
o corpo a romper os automatismos do cotidiano e reaprender
os gestos através da reeducação do movimento. Desde os
anos 70, seu trabalho com “cidadãos-dançantes” assemelha-
se às proposições de Lygia Clark. Quais descobertas sobre
o corpo os alunos podem fazer ao pesquisá-lo?
 Amarrações de sentidos: portfólio
A construção de um portfólio pode se tornar uma interessante
provocação para olhar e refletir, evidenciar as buscas, indagações,
marcas de uma pesquisa, mostrando toda a produção realizada
no projeto. A proposição é o portfólio no formato de um livro-obra
tendo como referência aquele mostrado no documentário, escrito
em 1964 e publicado em 1983, em uma edição limitada de vinte e
quatro exemplares. Assim como Lygia explicitou as percepções
18
que a tinham levado aos trabalhos de então por meio de palavras
e formas visuais, cada aluno produzirá o seu, escolhendo o mate-
rial e o formato do livro – posição vertical ou horizontal -, explicitando
as percepções de seu percurso e a sua produção desenvolvida
durante o projeto a partir do documentário.
 Valorizando a processualidade
Houve avanços? O que os alunos percebem que conheceram
sobre Lygia Clark e suas proposições?
A apresentação do portfólio pode desencadear boas reflexões
sobre essas questões. A discussão, em pequenos grupos, so-
bre todo o processo vivido pode cercar o que conheceram, o
que foi mais importante, o que levarão deste projeto, o que
ainda querem saber mais. É momento também de você refle-
tir como professor-propositor, olhando seu diário de bordo que,
de certo modo, é seu livro-obra. Como este projeto contribuiu
para a ampliação dos seus saberes sobre arte e sobre seus
alunos? Quais novos achados para sua ação pedagógica fo-
ram descobertos nesta experiência? O projeto germinou no-
vas idéias em você?
 Glossário
Corpo vibrátil – noção criada por Suely Rolnik. “O corpo vibrátil é a po-
tência que tem nosso corpo de vibrar a música do mundo, composição de
afetos que toca em nós ao vivo. Nossa consistência subjetiva é feita desta
composição sensível, criando-se e recriando-se impulsionada pelos peda-
ços de mundo que nos afetam. O corpo vibrátil, portanto, é aquilo que em
nós é o dentro e o fora ao mesmo tempo: o dentro nada mais é do que uma
combinação fugaz do fora”. Fonte: ROLNIK, Suely. Cartografia sentimen-
tal: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Li-
berdade, 1989, p.26.
Linha orgânica – “Em fins dos anos 50, Lygia Clark compreende que o
espaço surge da articulação de planos independentes – são planos recor-
tados em madeira, que são arrumados formando retângulos -, como em
Planos em superfície modulada n.1 (1957). Na linha de junção desses pla-
nos de madeira permanecem frestas que a artista incorpora ao discurso
plástico como ‘linha orgânica’. São veios por onde correm sombra e ar. O
material educativo para o professor-propositor
EXPOSIÇÃO LYGIA CLARK
19
ar invade o monocromo branco”. Fonte: HERKENHOFF, Paulo. Mono-
cromos, a autonomia da cor e o mundo sem centro. Disponível em:
<www1.uol.com.br/bienal/24bienal/nuh/pnuhmon0101.htm#notas>.
Subjetividade – é o perfil de um modo de ser, de pensar, de agir, de so-
nhar, de amar, de fantasiar, etc. - que recorta o espaço, formando um in-
terior e um exterior. Porém, as subjetividades encontram-se, hoje, atra-
vessadas por uma infinidade cambiante de fluxos heterogêneos, tomados
por intensidades, forças/fluxos que compõem os meios variáveis que
habitam a subjetividade: meio profissional, familiar, sexual, econômico,
político, cultural, informático, turístico, etc. Portanto, não há subjetivida-
de sem uma cartografia cultural que lhe sirva de guia. Reciprocamente,
não há cultura sem um certo modo de subjetivação que funcione segundo
seu perfil. Nessas condições, revela-se na subjetividade sua natureza de
sistema complexo, heterogenético e distante do equilíbrio. Mais do que
subjetividades, o que há são processos de individuação ou subjetivação.
Fonte: <www.caosmose.net/suelyrolnik/>.
 Bibliografia
BERTAZZO, Ivaldo. Espaço e corpo: guia de reeducação do movimento.
São Paulo: Sesc, 2004.
BRETT, Guy. Lygia Clark: seis células. In: BASBAUM, Ricardo (org.). Arte
contemporânea brasileira: texturas, dicções, ficções, estratégias. Rio
de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001.
BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construti-
vo brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
DUARTE JR., João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do)
sensível. Curitiba: Criar Edições, 2001.
SILVA, Ignácio Assis (org.). Corpo e sentido: a escuta do sensível. São
Paulo: Ed. da Unesp, 1996.
 Catálogo
LYGIA Clark. Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 1997. Editado para a
retrospectiva da obra da artista realizada por essa instituição, em par-
ceria com os museus MAC de Marseille (1998), Fundação Serralves
(Porto, 1998), Palais des Beaux-Arts (Bruxelas, 1998), encerrando no
Paço Imperial (Rio de Janeiro, 1998-99).
 Seleção de endereços sobre arte na rede internet
Os sites abaixo foram acessados em 07 out. 2005.
CLARK, Lygia. Disponível em: <www.mac.mac.usp.br/projetos.html>.
20
____. Disponível em: <www.lygiaclark.org.br/>.
FONTANA, Lucio. Disponível em: <www.proa.org/exhibicion/fontana/
fr-exhibi-4.html>.
GULLAR, Ferreira. Disponível em: <http://portalliteral.terra.com.br/
ferreira_gullar/>.
LONG, Richard. Disponível em: <www.richardlong.org/>.
 Notas
1 Szenes era marido da pintora Vieira da Silva e havia vivido no Rio de
Janeiro no início dos anos 40.
2 Lucio Fontana (1899-1968). Entre seus trabalhos mais conhecidos es-
tão as telas com um grande corte longitudinal, abrindo quadro para a pas-
sagem do espaço além daquele plano.
3 Esta questão é exposta em uma carta que a artista escreve a Mondrian, em
1959. Carta a Mondrian, maio de 1959. In: LYGIA Clark. Catálogo, p. 116.
4 “O Bicho tem um circuito próprio de movimentos que reage aos estímu-
los do sujeito. (...) Nessa relação entre você e o Bicho há dois tipos de
movimento. O primeiro, feito por você, é puramente exterior. O segundo,
do Bicho, é produzido pela dinâmica de sua própria expressividade. LYGIA
Clark. Catálogo, p. 121.
5 Caminhando tem a seguinte proposição de Lygia: “Faça você mesmo o
seu Caminhando. Pegue uma dessas tiras de papel que envolvem um livro.
Corte-a em sua largura, torça-a e cole-a de maneira que obtenha a Cinta
de Moebius. Em seguida, tome uma tesoura, crave uma ponta na superfície
e corte continuadamente no sentido do comprimento. Preste atenção para
não recair no corte já feito, o que separaria a faixa em dois pedaços. Quan-
do você tiver dado a volta na Cinta de Moebius, escolha entre cortar à di-
reita e cortar à esquerda do corte já feito. Esta noção de escolha é decisiva.
O único sentido dessa experiência reside na ato de fazê-la. A obra é o seu
ato. À medida que se corta na faixa ela se afina e se desdobra em entrela-
çamentos. No fim, o caminho é tão estreito que não se pode mais abri-lo. É
o fim do atalho”. Lygia Clark. Caminhando. Livro-obra, 1983. In: LYGIA Clark.
Catálogo, p. 151.
6 Ibidem.
7 Ibidem, p. 233.
8 Consulte no menu do DVD, “Duas palavras”, para ver uma experiência
do ato de fazer o Caminhando.
9 LYGIA Clark. Catálogo, p. 205.
10 Op cit, p. 20.

Outros materiais