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1 OIT T1

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
PROJETO INTEGRALIZADO MULTIDISCIPLINAR
PRIMEIRO SEMESTRE DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 
IMIGRANTES LATINO AMERICANOS NA CADEIA TÊXTIL, NO ESTADO DE SÃO PAULO
ALAN LUNCIDO GOMES, 7572130
BRUNO SANTANA DE ALENCAR, 9815210 
ÉDER ALVES LEIRIA DOS SANTOS, 9491871
FÁBIO CHERON GIORGI, 9814992
FELIPE YUKIO DO AMARAL TOMANARI, 4669070
FERNANDO HENRIQUE DOS SANTOS, 9814800
SÃO PAULO
2016
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO…………………………………….……..…………………......……….2
1.1 OBJETIVOS……………………………………………....…………………........…....2
1.2 METODOLOGIAS………………………………………………………....….………2
2 ORGANIZAÇÃO ANALISADA…………………………………………......…………3
2.1 IMPACTO NO SETOR TÊXTIL DE SÃO PAULO………………….......…………4
3 DESCRIÇÃO DA PROBLEMÁTICA…………………….............................…………4
4 DESENVOLVIMENTO………………………....................................................………7
4.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA…………….....................................…………………7
4.2 FAST FASHION: COMPREENSÃO DO FENÔMENO NA FIRMA…..………….9
4.3 PROPOSTA DE AÇÃO………………………………………………….…….………9
4.3.1 RECRIAÇÃO DE VALOR……………………………………………….....………9
4.3.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………12
5 REFERÊNCIAS…………………………............................................................…...…13
6 ANEXOS………………………………………...………………………………………14
1 Introdução:
1.1 Objetivos:
O trabalho objetiva expor e detalhar a situação dos imigrantes latinos americanos empregados na cadeia têxtil na cidade de São Paulo, caracterizando o setor e suas particularidades, analisando por uma ótica sistêmica e integrada, combinando conhecimentos das áreas de Psicologia, Marketing, Teoria Geral da Administração e Ciências Sociais.
Durante o semestre letivo, foram coletadas informações de ambiente capazes de impactar o setor têxtil, para posterior análise. Para melhor ambientação e compreensão do cenário, foi fundamental a troca de informações com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) que auxiliou o grupo com insumos e informações. Além da análise de ambiente, para que fosse possível exercer o pensamento analítico para confeccionar a conclusão que serviu como base para elaboração da proposta transformadora, foi necessário compreender os fatores sociológicos e econômicos que impactam os países de origem dos imigrantes, e os fatores psicológicos capazes de motivar o indivíduo a se enveredar em direção ao incerto e sujeitar-se às condições desumanas de trabalho.
Finalizando os objetivos do trabalho, são elaboradas: Uma conclusão que sumariza a visão obtida do funcionamento da cadeia têxtil que resulta no emprego de mão de obra em condições de alta vulnerabilidade e uma proposta transformadora para mudança do cenário que tenha como resultado a humanização do trabalho.
1.2 Metodologias:
	Para a coleta de insumos, o grupo de estudantes fez sucessivas pesquisas dentre elas: artigos científicos, documentários, legislações, relatos de imigrantes, entrevistas a entidade, leitura de livros, reportagens.
	Como metologia para compreensão do cenário e para analisar criticamente e com maior rigor científico todas as informações e insumos considerados relevantes, foram empregadas ferramentas adquiridas nas aulas das disciplinas, nos diálogos de acompanhamento com docentes, e consulta a livros científicos recomendados pelos orientadores. São as ferramentas: Visão Sistêmica; Pensamento Analítico; Análise de macro e micro ambiente; Análise de posicionamento de marca; Análise sociológica; Imaginação Sociológica; Pirâmide das necessidades de Maslow; Psicologia das relações de trabalho.
2 Organização analisada
	A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência subordinada a Organização das Nações Unidas formada em 1919, seu nascimento consta no Tratado de Versalhes no final da primeira guerra mundial. O Brasil é um dos países fundadores e tem participado de todas as suas conferências desde a data de fundação.
	Pelo ponto de vista estratégico, a OIT tem como missão: “promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade.” O próprio conceito de trabalho decente é um legado da OIT, que formalizou sua definição no final do século XX e sintetiza sua missão. Alinhado com sua missão, a estratégia da agência é sumarizada em quatro objetivos estratégicos: respeito aos direitos no trabalho; promoção do emprego produtivo; extensão da proteção social (bem como isentar crianças de exploração) e, finalmente, fortalecimento do diálogo social.
	A atuação da OIT é diversa. Por meio das conferências internacionais do trabalho, a agência discute e entende os principais problemas referente aos trabalhadores no mundo e emite seus pronunciamentos. Então, os países signatários dos tratados internacionais podem o conteúdo dos pronunciamentos às suas legislações.
	É possível estabelecer um relação entre a OIT e a problemática do setor têxtil por meio de uma visão macro - mais abrangente com uma atuação de órgão orientador capaz de impactar nos textos reguladores dos países com o intuito de promover o trabalho digno - e uma visão micro - pela sua atuação prática na cadeia têxtil, orientação de estudos e propostas de intervenções.
2.1 Impacto da Organização no setor têxtil no estado de São Paulo
A problemática das condições de trabalho dos imigrantes latino americanos empregados na cadeia têxtil em São Paulo vem sendo observada pela OIT. Auxiliada pelos órgãos públicos bem como institutos de pesquisa, a OIT emite relatórios expondo e analisando dados referentes às violações nas condições de trabalho digno. Além das análises expositivas, a agência da ONU também observa a situação por meio de uma ótica mais científica. Essa observação já foi formalizada e estudada com maior rigor científico por meio de estudos realizados em parceria com universidades. Juntamente com a Universidade Estadual de Campinas, a OIT desenvolveu um estudo sobre a cadeia produtiva do setor vestuário no município de São paulo, tendo mapeado os problemas mais agudos e identificado possíveis soluções e propostas de mudança. 
Tendo constatado a gravidade da situação nesse segmento, ano de 2014, com auxílio de recursos financeiros do governo dos Estados Unidos, a agência deu início a um programa para tentar erradicar o trabalho escravo no setor têxtil. O Brasil, como signatário dos tratados internacionais e pronunciamentos de promoção do trabalho digno, mantém relações estreitas com a organização e por meio de suas autarquias organizações governamentais se compromete a exercer patrulhas e medidas de ação para mitigar o trabalho não decente ocorrente no território nacional; em 2012 foi proposto pelo Ministério Público do Trabalho a cartilha nacional de combate a escravidão 124 anos após a lei áurea de maio de 1888 que declarava como extinta essa modalidade de trabalho. 
É notório a complexidade e abrangência do problema, mesmo com esforços públicos dos governos e das autarquias, de organizações internacionais e de estudiosos e cientistas sociais que dedicam suas pesquisas para a compreensão científica do problema, as soluções experimentadas ainda falham e poucas se atentam para importância do papel do consumidor nessa cadeia e como as atitudes dos consumidores podem direta e indiretamente resultar na desumanização do trabalho.
3 Descrição e análise da problemática.
A partir da data de assinatura da Lei Áurea, não era mais possível ser proprietário da força de trabalho alheia sem devida remuneração. Entretanto, dados a serem expostos nos itens 4 e 5 dimensionam o número de pessoas submetidas a condições consideradas como análogos a escravidão.
Ao contrário do que pode parecer mais intuitivo, ainda nos centros urbanos, onde o IDH é mais elevado e há estruturas capazes de fiscalizar possíveis casos de exploração do trabalhador, as situações ostentam números graves. De fato, a maioria das denúncias, segundo relatórios da OIT, concentram-se em regiões menos urbanizadas como o estado
do Pará, o mais grave. Ainda que não seja o caso mais problemático, São Paulo, a maior e mais desenvolvida cidade do país.
Nos últimos anos a cidade de São Paulo se tornou epicentro de denúncias de trabalho análogo a escravidão em um setor da indústria muito específico: a cadeia têxtil. Grandes varejistas de moda como a Renner (2014), Zara (2011) e M. Officer (2013) foram enquadradas em denúncias de que, ao longo da cadeia produtiva, foi-se utilizado força de trabalho análoga a escravidão nas oficinas de confecção.
O crime de submeter um trabalhador a condições análogas a escravidão, segundo o Código Penal brasileiro, é tipificado quando há ocorrência de pelo menos um dos seguintes elementos: jornada exaustiva, condições degradantes de trabalho, servidão por dívida e trabalho forçado. As condições encontradas nos casos relevantes para o escopo do trabalho, predominantemente as oficinas de confecção, tem algumas especificidades. Para entendê-las é necessário compreender as motivações tanto do ‘empregador’, quanto do trabalhador.
O que pode levar uma pessoa a submeter outros seres humanos essas situações? Ao analisar o ambiente em que estão inseridas as oficinas de confecção, são perceptíveis algumas particularidades que não justificam, mas facilitam a compreensão das razões de tais ocorrências. Os grandes varejistas de roupas compram suas peças destas oficinas. Como qualquer empresa capitalista, o foco é o lucro, fazendo com que estas grandes empresas sempre busquem comprar os produtos a serem revendidos pelo menor preço que puderem encontrar. Isto estimula uma concorrência muito forte entre os produtores de roupas para conseguir produzir, por sua vez, pelo menor preço possível. A força de mercado está localizada nas grandes marcas, não havendo nenhum poder de barganha por parte das confecções que necessariamente acabam por tentar mínimos custos.
Produzir mais barato significa produzir com menores custos. Neste caso, o trabalhador entra nesta conta. Quanto menor for o salário e a estrutura oferecida aos confeccionistas, menor os custos de produção. Este fato, combinado com uma demanda de pessoas muitas vezes dispostas a aceitar qualquer tipo de emprego, abre as portas para que muitas oficinas ultrapassem o limiar da legalidade com o intuito de se beneficiar diante desta intensa competição, consequentemente oferecendo um ambiente degradante e intenso ao trabalhador.
Para entender as origens da disponibilidade de mão de obra tão barata, é preciso entender a situação do indivíduo que se sujeita a tal tipo de trabalho do seu ponto de vista da psicologia, bem como da situação social que faz com que sair do seu país de origem seja, para ele, justificável. O perfil do trabalhador submetido a condições análogas a escravidão em São Paulo difere do perfil do mesmo tipo de pessoa em regiões mais interiorizadas do país. Segundo o relatório da OIT, 77% dos indivíduos encontrados nestas regiões agrárias são nordestinos. Nas oficinas paulistas a predominância é diferente bem como o próprio cenário econômico, haja vista o fato de São Paulo ser o maior mercado consumidor da América Latina. A grande maioria é imigrante ilegal, sendo a Bolívia e o Haiti os principais países de origem dos indivíduos por aqui explorados.
No mundo globalizado e flexível em que estamos inseridos a imigração se tornou um processo ainda mais comum. E ainda, segundo Villen (2014), “o tratamento restritivo pelos Estados da circulação de imigrantes acompanha também a formação de mercados de trabalho transnacionais e subterrâneos, onde atuam imigrantes ‘clandestinos’ ”. São nestes moldes que se encaixam os trabalhadores latinos irregulares que se aventuram no território paulista à procura de emprego e se deparam com a “oportunidade” nas oficinas têxteis.
As condições inóspitas e degradantes enfrentadas, não se limitam ao ambiente de trabalho. Segundo o mesma autora, por não serem imigrantes legais, o acesso a direitos básicos é restrito, o que proporciona um ambiente precário ao trabalhador e sua família em suas vidas como um todo. Muitas vezes o local de moradia é a própria oficina, uma vez que o trabalho é muito extenso e o salário muito baixo, tornando impossível morar em outro lugar melhor do que o ambiente da fábrica.
A autora complementa ainda pontuando a existência de uma “invisibilidade produzida” para estes indivíduos. Socialmente, os imigrantes são paralelamente atrelados as “práticas sociais indesejáveis” devido as impressões estereotipadas que podem ser autuadas ao visualizar essas pessoas no ambiente público. É importante notar que estas “visões” costumam acontecer normalmente aos domingos, uma vez que este é o único dia folga para os mesmos. Logo, isto evidencia o outro lado da “invisibilidade”. Devido a carga horária extensa e intensa, os trabalhadores passam o dia inteiro dentro das oficinas, motivo pelo qual não é tão fácil encontrar bolivianos nas ruas em dias de semana.
A exposição diária a precaridade coloca os trabalhadores em constante degradação psicológica. Nestas condições, a dualidade patrão – trabalhador, automaticamente se transforma em dominador – subordinado, onde métodos de “motivação” ultrapassados, como o de ameaças e violência física, podem ser tranquilamente implementados, intensificando ainda mais o processo de deteriorização psicológica dos imigrantes, alinhando-se a todo o contextual complicado que é a vida de um imigrante ilegal, nos termos anteriormente explicitados.
O fator da ilegalidade é, inclusive, o limitador de possíveis soluções de caráter individual. A clandestinidade impede que o trabalhador recorra à Justiça do Trabalho e a outras leis protecionistas disponíveis no território brasileiro (Cacciamali e Azevedo, 2006). Conjuntamente, o pequeno salário recebido pelos imigrantes acaba se tornando necessário, e ainda, “melhor do que nada”. Tendo em vista que muitas vezes existem famílias a serem sustentadas (no Brasil ou nos seus países de origem). Largar esta renda se torna inviável, produzindo uma relação de dependência com o trabalho degradante, fragilizando ainda mais suas opções e os colocando em situações cada vez mais delicadas. 
4 Desenvolvimento
4.1 Panorama da indústria
A indústria da moda é uma das mais lucrativas do mundo, comercializando cerca de 80 bilhões de peças por ano, uma média superior a 11 peças por habitante do planeta[¹]. Isso se deve, principalmente, a um novo padrão de consumo, iniciado durante o final da década de 70, quando foi iniciado um grande processo de descentralização e terceirização da produção, direcionada para países subdesenvolvidos, que ofereciam maiores benefícios e menores custos as grandes empresas.
	Este fenômeno, em conjunto com a globalização e a afirmação da sociedade capitalista, desenvolveu uma cultura consumista, na qual roupas e vestimentas são símbolos de prestígio e ascensão social. Neste contexto, iniciou-se no final do século XX um movimento que viraria tendência nas grandes lojas de varejo do mundo da moda.
	Denominado de fast fashion, traduzido como moda rápida, se caracteriza por uma produção rápida e contínua de peças, com o objetivo de uma troca constante de coleções, visando levar ao consumidor as últimas tendências da moda em tempo recorde e com preços acessíveis.
	As empresas que utilizam o fast fashion diminuem seus riscos reduzindo o gasto com pesquisas e lançando pequenas coleções com base em produtos já bem sucedidos. A intenção é criar um mix variado de peças, limitando as ameaças de prejuízo e criando uma sensação de individualidade e exclusividade, demandada pelos consumidores, em seus produtos. Os acessórios devem reproduzir preferências locais e aproveitar orientações criadas por desfiles de modas e celebridades. 
	O desenvolvimento do fast fashion se baseou nos principais atributos do mercado da moda, como o curto ciclo de vida dos produtos, a alta volatilidade, baixa previsibilidade e o elevado índice de consumo por impulso[²]. Essa relação consumidor e empresa, inclusive, é uma dos grandes bases do
modelo, já que é requerido um grande conhecimento dos desejos do mercado e estilo dos compradores. 
	Nos últimos 9 anos os gastos com roupas pela população brasileira subiram 68,4%, devido principalmente à ascensão da classe C. Famílias brasileiras gastam, em média, 83 reais por mês com roupas e acessórios, uma parcela maior do que com medicamentos ou eletrodomésticos[³]. 
	Em 2013, conforme o anexo A, o potencial consumo de vestuário no Brasil chegou a 129 bilhões de reais. Dados que definem o país como o maior consumidor de moda da América Latina¹ e apresenta um cenário extremamente atrativo para empresas que praticam o fast fashion. Apesar de dominar apenas uma fatia de 20%[¹], há um crescimento da instalação de grandes varejistas de fast fashion no mercado de vestuário brasileiro nos últimos anos, principalmente em São Paulo. 
	Tal modelo, lucrativo e eficiente para os grandes varejistas, segue o padrão de baixo custo de produção, rápida distribuição e preços acessíveis e baratos, que incentivam o consumo excessivo e criam costumes e vícios nos consumidores. 
	Esse elevado índice de consumo ocasiona um intenso aquecimento do mercado têxtil, em que as grandes varejistas, em busca de diminuir sua responsabilidade e aumentar seus lucros decidem terceirizar os serviços de confecção a empresas menores. Tais empresas aproveitam uma menor supervisão das autoridades para abusar de seus empregados, ignorando leis trabalhistas e afins. 
4.2 Fast fashion: Compreensão do fenômeno na firma e no consumidor
O objetivo central do Fast Fashion é gerar, constantemente, novas tendências de moda. Com isso, haverá maior consumo de roupas e, consequentemente, terá maior demanda por mão de obra que, muitas vezes, é escrava. Esse é o ponto primordial para solucionar a questão do trabalho escravo: Havendo consciência, por parte dos consumidores, poderá ser, ao menos, mitigado a situação do imigrantes. Mas para que os consumidores mudem sua forma de consumo compulsiva é necessário que haja uma ruptura dos valores predominantes, não só por parte dos consumidores e sociedade, mas também da indústria têxtil como um todo.
4.3 Proposta de ação - Recriação de valor
4.3.1 Reforma de valor:
Encontramos em toda parte o que constitui o formato dos libertos na roma Antiga. Sua incerteza quanto ao lugar que que realmente ocupavam na sociedade; a escala das condições sociais não se confundia com a hierarquia dos estatutos. Sofrem de falta de legitimação; têm a vida luxuosa que lhes permite sua opulência; em Roma , os túmulos custosos com retratos esculpidos eram seus quando não dos nobres. Em suas vestes; clientes; escravos; jantares imitavam a alta sociedade mas com impossibilidade de nela ingressar, pois semicidadãos que são, não têm esse direito. (GEORGES DUBY, A HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA)
Cada geração tem suas preocupações predominantes. No mundo antigo, preocupava-se com a origem da vida, ou com a expansão de um império, em outras gerações a preocupação era a salvação do homem aos olhos de Deus, ou mesmo a salvação de uma economia. Outras gerações se preocupavam com o seu próprio desenvolvimento, gerando guerras de proporções catastróficas. As gerações do começo XX eram preocupadas com a possibilidade de reviver o período de guerra. Enquanto a preocupação dos adultos do final do século XX era com a dualidade entre capitalismo e socialismo, e a possibilidade de uma guerra nuclear. A geração Y tem novas preocupações: sustentabilidade, democracia, etc.
Essa preocupação foi engatilhada com as discussões e conferências a respeito do clima e condições humanas que são constantemente negligenciadas para fomentar um crescimento de produção e crescimento da economia de forma inconsequente. As gerações X e Y observaram pela primeira vez a assimetria entre os níveis de produção com a qualidade de vida que é possível alcançar. Mediante a isso, mudanças comportamentais vão sendo sentidas de forma cada vez mais significativa; vem sendo adquiridos pela população uma consciência ambiental e social ao consumir à medida que movimentos de proteção ambiental e organizações do terceiro setor ganham força. Esse mindset tem gerado demanda para um novo modelo de negócios, que irá vender, além dos produtos, os valores criados referentes às preocupações ambientais e sociais. O posicionamento à frente da mudança garante a longevidade do sucesso, afirmação sustentada pelo estudo da matriz BCG de análise, mas para tanto são necessárias consistência e coerência.
Tendo em vista o decreto N°57.368, de Setembro de 2011 que explicita: Considerando o disposto no Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo que indica uma série de medidas a serem implementadas dentro de uma concepção holística de que o enfrentamento desse desafio exige vontade política, articulação, planejamento de ações e definição de metas objetivas. O que se tem é uma vasta atuação de organizações não governamentais, projetos universitários, políticas públicas, iniciativas de impacto, tais como CAMI, Abit, ABVTEX, Projeto Migração Legal, InPacto, Instituto C&A, Repórter Brasil, Fabricado no Brasil, mas sem que nenhuma tenha significativo impacto no padrão de consumo. Porém, o principal empecilho para tanto é que aquilo que não se reduz a números se torna ilusão. 
Em 1962 a Nike partiu de desconhecida, para a principal marca de artigos esportivos no mundo. Desde o princípio, suas campanhas de marketing apresentavam atletas vencedores como porta-vozes da empresa[...] Em 1985, a empresa contratou o então novato Michael Jordan como personificação do desempenho superior dos produtos ajudando a construir a imagem psicológica da marca. Nas palavras de Phill Knight: “Os esportes são o coração da cultura norte-americana, portanto, já existe muita emoção em torno disso.” Em 1988 nos Estados Unidos, suas campanhas de publicidade passaram a desafiar a geração de fãs de atletas, como uma manifestação natural das crenças da Nike. [Phillip Kotler, Administração de Marketing]. Para viabilizar a nova ideia de negócio e seu funcionamento, o que se propõe é o devido posicionamento da empresa com fornecedores bem estruturados e a realização de campanhas de publicidade de forma a contemplar as novas tendências. Afinal, é consenso a ideia de que o trabalho exploratório é um problema. 
Corolário à missão de novo posicionamento, é evidente a necessidade da presença de uma empresa do tipo ‘business to business’ que exerça papel decisório e de controle para as pequenas confecções e que torne as negociações de fornecimento às grandes empresas mais equilibradas, como afirma Luiz H Correa. Da mesma forma que a VISA solucionou um problema de concorrência selvagem no mercado de cartões de crédito entre os bancos americanos, fazendo da bandeira a intermediária entre bancos e consumidor sendo uma espécie de holding às avessas, onde os bancos eram livres para escolher participar ou não, uma empresa exercendo papel decisório para as confecções que forem participantes pode proporcionar à elas a devida capacidade de regularizar sua produção à custos mais justos. 
Tendo em vista o valor adicional atribuído a esta nova cadeia, que terá, neste cenário hipotético, maior poder de mercado, cadeias sem esse tipo de credibilidade e estrutura serão insustentáveis e tenderão a serem extintas pelo mercado mais bem estruturado.
Para que seja criada segurança quanto ao investimento, será necessário um bom planejamento dessas campanhas, o que não é uma tarefa fácil. O pensamento sustentável já é uma tendência mundial quanto a todos os mercados por motivos já tratados. Cabe à empresa decidir se ela será pioneira nisso ou não. Caso decida não ser, ou não se adaptar, no longo prazo é possível que ela perca valor no mercado por conta desses fatores discutidos.
Cabe ponderar que os imigrantes latino americanos não documentados que estão empregados nas confecções irregulares têm direitos como qualquer cidadão brasileiro. Afirma a OIT: "A Constituição Federal do Brasil, de 1988, garante a validez dos direitos
que decorrem dos tratados internacionais dos quais o Brasil é parte. Além disso, a Constituição Federal estabelece tratamento igual para nacionais e estrangeiros. As leis trabalhistas do Brasil não distinguem entre nacionais e estrangeiros. Os trabalhadores indocumentados têm direito a receber salários e benefícios sociais a título de trabalho realizado. Além disso, não há nenhuma disposição que limite o acesso à justiça pela nacionalidade do demandante. Na prática, os trabalhadores irregulares no Brasil experimentam muitas dificuldades, incluindo longas horas de trabalho e salários inferiores ao mínimo. Muitos migrantes irregulares nunca denunciam os abusos por temor a serem deportados. Este temor também causa que os migrantes irregulares não enviem suas crianças à escola, não solicitem uma carteira de motorista, não adquiram bens nem visitem seus países de origem"
A preocupação da empresa com as ideias da sustentabilidade e a manutenção de seus ganhos constitui um desafio “Alinhar estratégias de rede com estratégias de negócio depende de: custo, diferenciação e foco”. [Luis H Correa]. Propõe-se considerar os fatores que influenciam o consumo (beleza, preço, época do ano, status social, necessidade) e passar a considerara credibilidade na fabricação das roupas como diferenciação. 
Exemplificando uma possibilidade quanto à parte operacional das campanhas, os comerciais de cerveja, em que mostram os clientes que consomem uma cerveja X como sendo “descolados e destacados” dos que consomem outras, a ideia de que quem procura se preocupar com a origem das roupas é visto como “bom” ou como alguém integrado socialmente, e “na moda” não apenas por se preocupar com o consumo sustentável mas também vestir produtos de maior valor.
Ser pioneira na iniciativa implicará em ser muito bem vista pelos consumidores, na conquista clientes fiéis, e na atuação de um negócio rentável a longo prazo. A indústria adapta-se aos desejos por ela criados.
4.3.2 Considerações finais:
Então, a solução do problema dos trabalhadores da indústria têxtil tanto em São Paulo quanto no restante do Brasil ou do mundo, estará dentro da parte operacional no modelo do negócio em rede. Os consumidores preferem produtos com modelo de fabricação/confecção que realmente reflita seus valores. Os motivos da problemática (o que leva os imigrantes a trabalharem nessas ocupações) transcendem políticas ou consumidores, sendo característica própria do sistema capitalista. 
Tendo em vista o mundo globalizado no âmbito do estado burguês laico e seu advento para o mundo cada vez mais integrado pelas tecnologias, é interessante que seja pensada a institucionalização do intercâmbio cultural e econômico latino americano, onde estarão envolvidos o trabalho regularizado e a inserção de imigrantes na sociedade e haja controle sobre o fenômeno da migração que possibilite ganhos não só para o Brasil, mas para os países de onde são nativos. Sendo feito isso, o estímulo para modelos sustentáveis, a contribuição para a proteção aos migrantes, e o impacto no padrão de consumo fariam parte de um ciclo onde o modelo de negócios em cadeia sustentável só cresceria. Coerência e transparência dependerão da melhor estruturação e integração dos das das subdivisões das empresas e serão parte essencial do desenvolvimento econômico. A formalização de objetivos coletivos leva à maximização do bem estar.
5 Referências:
5.1 Livros
KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L - Administração de Marketing 
CORREA, Henrique Luiz - Gestão de Redes de Suprimento
TEIXEIRA, Helio Janny - Fundamentos de Administração
ADORNO, Theodor W. 1903-1969 Indústria cultural e sociedade.
ASSONI FILHO, Sérgio - Transparência Fiscal e democracia
BINMORE, K. G 1940- Game theory : a very short introduction.
VILLEN, Patrícia - Riqueza e miséria do trabalho no Brasil III, 2014
CACCIAMALI, Maria Cristina; AZEVEDO, Flávio Antonio Gomes de - Entre o tráfico humano e a opção da mobilidade social: a situação dos imigrantes bolivianos na cidade de São Paulo
	5.2 Estudos e artígos acadêmicos	
SILVA, Carlos Freire da -Tese de pós graduação em sociologia - Trabalho informal e Redes de subcontratação da indústria de confecções em São Paulo
Resumo Pesquisa de Vestuário em São Paulo - Estudo cedido pela OIT, realizado em parceria com a Universidade Estadual de Campinas
ROBIC, André ricado; FREDERICO, Elias - Fast Fashion - Um estudo de bases teóricas
ESTUDO FIPECAFI - Gasto e consumo das famílias brasileiras contemporâneas. 
	5.3 Publicações e periódicos
Revista Galileu - Escravos da Moda, Edição de Março de 2016.
	5.4 Sites e domínios da web
http://www.oitbrasil.org.br/content/hist%C3%B3ria, Acessado em 10 de maio. 2016.
http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2012/01/gastos-dos-brasileiros-com-roupas-sobem-684-em-9-anos-diz-pesquisa Acessado em 07 de junho. 2016.
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-10-25/oit-traca-perfil-de-vitimas-intermediadores-e-empregadores-do-trabalho-escravo Acessado em 23 de maio. 2016.
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-10-25/oit-traca-perfil-de-vitimas-intermediadores-e-empregadores-do-trabalho-escravo Acessado em 07 de junho. 2016.
http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/forced_labour/pub/trabalho_escravo_no_brasil_do_%20seculo_%20xxi_315.pdf Acessado em 29 de maio. 2016.
http://justificando.com/2015/10/23/20-marcas-da-industria-textil-que-foram-flagradas-fazendo-uso-de-trabalho-escravo-/ Acesso em 07 de junho. 2016.
 http://reporterbrasil.org.br/trabalho-escravo/ Acessado em 28 de maio. 2016.
	5.5 Outras referências
DECRETO NO 57368, DE 26 DE SETEMBRO DE 2011
Filme True Cost - Diretor Andrew Morgan
6. Anexos:
Anexo A - Potencial de consumo de vestuário no Brasil
Disponível em: <pyxisconsumo.com.br>, acesso em 01 de junho. 2016.
Anexo B – Entrevista e Estudo cedido pela OIT
A PESQUISA
O “Estudo sobre a cadeia produtiva do setor vestuário no município de São Paulo - possibilidade para promoção do trabalho decente entre os trabalhadores informais, migrantes e a domicílio”, examinou as dimensões do trabalho decente na cadeia produtiva do setor de vestuário no município de São Paulo, visando a contribuir para o processo de formulação e implementação de políticas públicas para o enfrentamento dos obstáculos à formalização do trabalho, especialmente para as trabalhadoras informais e imigrantes, de forma a equacionar, de maneira integrada, as dimensões econômica, social e trabalhista no setor, contribuindo para reduzir os principais déficits de trabalho decente. Para tanto, foi realizado um mapeamento quantitativo e, principalmente, qualitativo (mediante uma pesquisa empírica original) das dimensões econômicas e trabalhistas do setor na cidade São Paulo. 
O SETOR DA CONFECÇÃO
É muito difícil obter dados sobre a indústria de confecção no município de São Paulo que forneçam uma real dimensão do setor, pois a maior parte das informações juntam dados do setor de confecção com o têxtil, couro e calçados; em geral não discriminam a cidade de São Paulo da Região Metropolitana; e não captam a realidade do setor informal, deixando de fora a situação de praticamente metade dos trabalhadores. Assim sendo, este estudo utilizou as informações disponíveis, buscando a maior aproximação possível da realidade.
Desde sua origem, a indústria de vestuário/confecção caracterizou-se como uma atividade que agrega o trabalho domiciliar e aquele realizado em oficinas e fábricas. O atual processo de globalização econômica e produtiva teve um forte impacto sobre o setor, na medida em que promoveu um rearranjo internacional na produção, criando cadeias produtivas globais que desvincularam as marcas da manufatura. Com isso, gerou-se uma nova divisão internacional do trabalho, em que as marcas se concentraram nas regiões mais industrializadas, enquanto a manufatura se dirigiu, preferencialmente, para onde o custo da mão de obra é mais baixo. No caso do Brasil, onde já existia uma indústria
da confecção razoavelmente estruturada, as marcas nacionais se adaptaram rapidamente a essa nova configuração produtiva, o que vem gerando um acelerado processo de intensificação da terceirização com a multiplicação de oficinas.
A partir dos anos 90, a reestruturação produtiva se deu por uma busca pelo aumento da competitividade por meio da redução dos custos com o trabalho, num processo intenso de terceirização da mão de obra, que promoveu a multiplicação das oficinas e um esvaziamento das fábricas de confecção de médio e grande porte. Foi inaugurada uma nova forma de produção, conhecida como fast fashion, que se caracteriza por exigir agilidade e flexibilidade 
de resposta e volume variável de produção, aprofundando a prática de utilização de uma força de trabalho periférica, fora da fábrica, para dar conta das constantes modificações de modelos e volumes em curtos prazos. 
O SETOR DA CONFECÇÃO EM SÃO PAULO
A cidade de São Paulo constitui o centro da produção industrial da confecção, com grande concentração de escritórios e atividades das grandes marcas de varejo como design, marketing, distribuição e planejamento. Segundo dados do Sinditextil-SP e Sindivestuário, em 
2013 o número de trabalhadores nas indústrias têxteis e de confecção do estado de São Paulo 
totalizava 261 mil; no entanto, quando se considera todo o pessoal ocupado no setor, o número de postos de trabalho supera os 513 mil. A informalidade no setor assume proporções gigantescas, pois houve significativo crescimento das oficinas, de pequenas e microempresas, muitas não regularizadas e empregando trabalhadores informais, entre eles, imigrantes indocumentados. 
Segundo estudos do DIEESE (2015), em 2014 a indústria de confecção empregava 152.000 trabalhadores no município de São Paulo, espalhados por 8.015 empresas. Na Região Metropolitana menos da metade desta força de trabalho, 46,2%, conta com a proteção da legislação trabalhista e previdenciária e/ou da negociação coletiva. Quando se somam as porcentagens dos trabalhadores sem carteira assinada, com os autônomos e os trabalhadores familiares, ou seja, os desprotegidos, há no município de São Paulo uma pequena diminuição de 57,6% em 2011 para 52,7% em 2014. Observa-se também uma ligeira elevação do trabalho com carteira assinada (de 41,8% em 2011 para 46,7% em 2014), embora os assalariados sem carteira assinada apresentem também uma ligeira elevação no período (de 15,3% em 2011 para 17,1% em 2014). O total de trabalhadores desprotegidos atinge 52,7% em 2014, uma porcentagem extremamente alta. 
Há grande predominância de mulheres no setor da confecção (67,8% em 2014, no município de São Paulo); a maior concentração de trabalhadores é na faixa entre 41 a 59 anos. Em 2013, 55,4% dos trabalhadores possuíam ensino médio completo ou superior incompleto. A porcentagem de imigrantes no setor é de 18,2% e, em 2013, apenas 3,7% eram trabalhadores formais.
A remuneração cresce conforme aumenta o tamanho das empresas, portanto, como a maior parte dos estabelecimentos do setor são pequenos, nos quais predominam os salários mais baixos. O sexo dos trabalhadores também influencia na remuneração, acompanhando mais ou menos as diferenças de gênero no mercado de trabalho. Quando se considera apenas a confecção, as médias salariais são muito baixas e, na maior parte dos casos, o rendimento é extremamente variável, tendo em vista que os trabalhadores/as recebem por peça. Se adicionarmos a isso a sazonalidade do setor, haveria que considerar que eles/as ficam, em geral, aproximadamente cinco meses por ano praticamente sem trabalho. As condições de trabalho são extremamente inadequadas, os casos de acidente de trabalho e doenças profissionais são bastante comuns, incluindo um altíssimo índice de doenças mentais. O setor se caracteriza também por taxas de rotatividade da mão de obra bastante altas, significativamente maiores do que as da indústria de transformação.
Outra questão importante consiste no fato de que em nível nacional, o setor vem perdendo parte do mercado brasileiro de confecções para as importações, ao mesmo tempo em que o país vem perdendo competitividade internacional, com queda nas exportações.
O TRABALHO IMIGRANTE
A indústria da confecção contou, desde os seus primórdios, com o trabalho imigrante. O fluxo migratório para o Brasil acentuou-se na década de 1990, relacionado à intensificação dos fluxos de capital, transformações tecnológicas, nova conformação de uma hierarquia urbana internacional, à globalização e a crises econômicas e políticas do país de origem. Chegando ao Brasil, e em São Paulo, o imigrante está vulnerável a todo um sistema de exploração constituído por: cerceamento psicológico, violência física, endividamento, coação, ameaças, trabalho informal, falta de documentação legal, medo da denúncia ao sistema de imigração. Sujeita-se, assim, a péssimas condições de trabalho com jornadas estendidas e exaustivas, baixo rendimento e pouco descanso. Muitos trabalhadores imigrantes vivem na própria oficina, mesclando condições precárias de trabalho com condições absolutamente inadequadas de moradia. Muitos desses trabalhadores/as chegam ao país aliciados por seus empregadores, devendo aos mesmos o valor relativo ao custo da viagem, ao qual somam-se outras despesas, como aluguel e alimentação, o que os transforma, praticamente, em escravos de seus empregadores devido à quantidade de “dívidas” que se acumulam, impossíveis de serem pagas com os baixos salários que recebem.
TRABALHO A DOMICÍLIO
Para as costureiras, trabalhar a domicílio, muitas vezes, se configura como adequado, pois lhes garante a possibilidade de trabalhar em casa, conciliando as tarefas domésticas com o trabalho profissional. Esse trabalho mal remunerado e entendido como uma fonte secundária de renda familiar é também considerado como uma habilidade natural das mulheres e desenvolvido, via de regra, em condições precárias, com frequente colaboração de crianças e adolescentes. Dispersas em suas moradias, essas trabalhadoras não se relacionam entre si, não são representadas por entidades sindicais por serem trabalhadoras informais e, portanto, não têm a quem recorrer quando entram em conflito com os empregadores, ou sequer entram em conflito por não terem consciência da totalidade de seus direitos. 
AS PROPOSTAS
Este estudo subsidiou a formulação de um conjunto de propostas que aponta para a necessidade de atender as dimensões do Trabalho Decente definidas pela OIT: 1. Oportunidade de emprego; 2. Rendimentos adequados e trabalho produtivo; 3. Jornada de trabalho decente; 4. Conciliação entre trabalho, vida pessoal e familiar; 5. Trabalho a ser abolido; 6. Estabilidade e segurança no trabalho; 7. Igualdade de oportunidades e tratamento no emprego; 8. Ambiente de trabalho seguro; 9. Seguridade social e 10. Diálogo social e representação de trabalhadores e empregadores. As propostas também levam em consideração as prioridades definidas pelo Brasil, em maio de 2006, no lançamento da Agenda Nacional de Trabalho Decente: 1. Geração de mais e melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento; 2. Erradicação do trabalho escravo e eliminação do trabalho infantil, em especial em suas piores formas; 3. Fortalecimento dos atores tripartites e do diálogo social como um instrumento de governabilidade democrática. 
A)Combate ao trabalho informal, a domicílio e análogo ao escravo e a promoção do Trabalho Decente no setor de vestuário em São Paulo
 
1. Estabelecer parcerias com entidades da sociedade civil que atuam junto aos imigrantes do setor como, CAMI (Centro de Apoio e pastoral do Imigrante), Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) e Missão Paz, dentre outras, buscando fortalecer o trabalho dessas entidades que já têm uma expertise nesse tipo de atendimento, além de uma enorme quantidade de informações sobre os problemas que enfrentam e onde se encontram as oficinas que concentram o trabalho escravo e ilegal. 
2. Ampliar o acesso a creches e
escolas para filhas/os de trabalhadoras/res a domicílio e imigrantes. A existência de creches pode favorecer o fim do trabalho a domicílio, pois não havendo necessidade de cuidar das crianças em casa, pode-se criar um maior equilíbrio entre a vida pessoal/familiar e a profissional. Vale a pena destacar que a necessidade de creches não é uma realidade apenas para as mulheres, visto que os filhos não são responsabilidade exclusiva destas, mas também dos pais das crianças. Sendo assim, quando existem locais específicos para deixar os filhos em segurança enquanto trabalham, os trabalhadores, e principalmente as mulheres, podem buscar melhores empregos e em melhores condições, pois uma de suas preocupações estará sanada.
3. Promover o acesso à escolarização e formação profissional para imigrantes e mulheres que trabalham a domicílio. Esta proposta pode favorecer a inserção em melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento, e com rendimentos adequados. A inclusão no conteúdo da formação profissional de parte destinada à cidadania permite que os/as trabalhadores/as tomem conhecimento de instrumentos que estão ao seu alcance contra a prática do trabalho escravo, informações sobre seus direitos trabalhistas e de que forma denunciar, caso estejam sendo lesados. 
4. Favorecer que nas escolas municipais seja realizado um trabalho que aborde a diversidade cultural, mostrando que há um novo rosto na escola, uma nova cultura, um novo idioma, novos costumes, etc., de forma a evitar a propagação do preconceito e da discriminação sobre os filhos de imigrantes. 
5. Promover parceria entre a Prefeitura de São Paulo, bem como com prefeituras de municípios da Região Metropolitana, e sindicatos ligados ao setor de confecção, de forma a propagar a fiscalização das condições de higiene, salubridade, segurança, água potável, local adequado para alimentação, etc. nas oficinas. Neste caso, cabe às prefeituras a responsabilidade pela vigilância sanitária e aos sindicatos o acompanhamento da parte laboral, com possibilidade de realizarem um trabalho de formação e informação em relação a direitos trabalhistas e proteção social. 
6. Criar na Prefeitura de São Paulo um dispositivo de comunicação, que os/as trabalhadores/as possam acessar facilmente para denunciar condições de ilegalidade a órgãos de fiscalização, como a inspeção do Ministério do Trabalho e a atuação do Ministério Público do Trabalho. Fazer uma campanha nos meios de comunicação, incentivando os/as trabalhadores/as a denunciar as irregularidades laborais e sanitárias. 
7. A Prefeitura de São Paulo deverá verificar junto aos sindicatos ligados ao setor da confecção quais são as empresas que já sofreram ações, seja por trabalho irregular, seja por trabalho análogo à escravidão, e manter esse cadastro atualizado para implementar a fiscalização. Neste sentido, a proposta visa coibir práticas como, por exemplo, a jornada de trabalho excessiva, o trabalho escravo e a existência de locais inadequados para o desenvolvimento da atividade. 
8. Solicitar que os sindicatos ligados ao setor de confecções tentem inserir em suas convenções coletivas o direito de livre acesso às empresas e utilizem esse recurso para fazer a fiscalização quando receberem denúncias. A possibilidade de acesso às empresas pode gerar um maior controle por parte dos sindicatos, bem como por parte da Prefeitura, em relação à jornada de trabalho, às condições adequadas e seguras do ambiente de trabalho, aos rendimentos e a seguridade social. 
9. Fazer campanha de divulgação dos direitos dos/as trabalhadores/as a domicílio e dos imigrantes, bem como sobre o combate ao trabalho escravo, nas regiões de maior concentração de oficinas e de comércio de confecções, utilizando inclusive os meios de comunicação. Ressaltar que a CLT trata de direitos mínimos que devem valer para todos. 
10. Fazer campanha de conscientização junto a trabalhadores/as e empregadores/as de que as cadeiras e mesas de trabalho devem ser adequadas e ergonômicas para a função (proposta da FUNDACENTRO elaborada para o Sindicato de Ibitinga e de São Paulo). Estipular prazo para que todas as empresas e oficinas regularizem esta situação, mantendo uma fiscalização constante. Incentivar os sindicatos a inserirem uma cláusula a esse respeito em suas negociações coletivas. O ambiente de trabalho seguro é o foco essencial desta proposta, pois visa a promover melhores condições de trabalho às pessoas que desenvolvem esta atividade. 
11. A Prefeitura de São Paulo poderá manter contato com a Secretaria Estadual de Trabalho e com o Programa de Trabalho Decente do Estado de São Paulo, de forma a obter maiores informações sobre o trabalho imigrante no município e sobre as oficinas que atuam de forma irregular. Assim, será possível verificar quais informações precisam ser coletadas e/ou complementadas, de forma a produzir um diagnóstico mais detalhado da situação do setor de confecção, visando subsidiar uma ação conjunta da Prefeitura de São Paulo e órgãos estaduais. 
12. Facilitar aos imigrantes o acesso à documentação e agilizar procedimentos para sua regularização. Os imigrantes são beneficiados pelo Acordo de Residência do Mercosul que lhes fornece o direito automático da residência provisória no Brasil mediante apresentação junto à Polícia Federal dos documentos comprobatórios da sua nacionalidade, declaração de antecedentes criminais e comprovante do pagamento de taxas referentes ao pedido de permanência. Apesar disso, a demora na liberação da regularização definitiva e, muitas vezes, a dificuldade de pagamento das taxas exigidas dificultam o acesso à formalização. 
13. Promover campanha através da Secretaria da Mulher contra a situação de violência de gênero existente no setor. Essa proposta está ligada a quase todas as dimensões do Trabalho Decente. As mulheres precisam ter acesso a oportunidades de emprego de qualidade, que garantam acesso a creches e escolas para seus filhos/as, de forma a não ser necessário cuidar das crianças no horário de trabalho; que garantam também sua integridade física e emocional, visto que muitas sofrem violências físicas, assédio moral e, inclusive, sexual por parte dos empregadores. Nesse sentido, é importante esclarecer os procedimentos e os locais para denúncia de violência. Essa proposta também diz respeito às dimensões do trabalho decente que tratam da jornada de trabalho e rendimentos adequados, pois, principalmente as mulheres que trabalham em seus domicílios, realizam frequentemente jornadas excessivas para dar conta da produção, tendo em vista que os prazos são pequenos, e que são mal remuneradas. Ainda no que tange ao trabalho à domicílio, urge dar atenção à dimensão do trabalho decente que trata da conciliação entre trabalho, vida pessoal e familiar. 
14. Fornecer apoio jurídico aos trabalhadores, no combate ao trabalho escravo e ilegal. Esta proposta está diretamente relacionada à dimensão do Trabalho Decente que trata da erradicação do trabalho escravo, pois visa a proteger os trabalhadores/as que enfrentam esta situação. 
15. Apoiar as redes e associações que os imigrantes vêm tentando criar para se organizar e constituir representantes próprios para dialogar com o poder público. Essas organizações trabalham na defesa dos direitos dos imigrantes, inclusive aqueles relativos ao trabalho, e sua atuação está relacionada a várias dimensões do Trabalho Decente como, por exemplo, a igualdade de oportunidades e tratamento no emprego; a garantia de rendimentos adequados, de trabalho produtivo e de jornada de trabalho decente; a estabilidade e segurança no ambiente de trabalho; e acesso à seguridade social para os trabalhadores imigrantes. Essas organizações atuam, principalmente, buscando a eliminação do trabalho análogo ao escravo e o diálogo social. 
16. Entrar com ação coletiva para formalização do trabalho em oficinas ou empresas. Divulgar essas ações nos locais de grande concentração de oficinas. Esta prática, se for construída e reconhecida
pelos Juízes, pode servir de exemplo e permitir que os advogados trabalhistas acionem a Justiça contra o trabalho informal e o trabalho escravo. Esta proposta, por sua abrangência, tem relação com, praticamente, todas as dimensões do Trabalho Decente. 
17. Capacitar para o trabalho de costura, buscando a intermediação e a formalização da mão de obra. Esta proposta pode promover a geração de mais e melhores empregos, com remuneração adequada e uma jornada de trabalho decente. Pode gerar uma maior estabilidade no trabalho e garantir acesso à seguridade social. 
18. Fazer um trabalho junto aos empregadores, conscientizando-os da importância de receberem mão de obra estrangeira documentada e formal. Essa proposta abrange muitos aspectos do Trabalho Decente, pois a formalização proporcionará a geração de mais e melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento; acesso a empregos com rendimentos adequados e com jornada de trabalho decente; maior estabilidade; garantia de saúde e segurança no trabalho; acesso à seguridade social. Entretanto, o aspecto mais importante relativo a essa proposta diz respeito à possibilidade de erradicação do trabalho análogo ao escravo. 
19. Criar um conselho tripartite para discutir as questões relativas ao setor de confecção, principalmente trabalho informal, migrante, domiciliar e em condições análogas a escravidão. Os sindicatos devem apresentar os problemas dos trabalhadores, os empresários suas ideias para o setor e o poder público deverá ser o mediador. 
20. Criar uma Câmara Setorial do setor da confecção, com participação da Prefeitura de São Paulo, o Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, a Federação dos Comerciários de São Paulo e o Sinditêxtil, visando à eliminação do trabalho escravo e informal no setor. A preocupação do patronato em relação ao aumento das importações pode ser um incentivo importante para que sejam pensadas coletivamente medidas nesse sentido, as quais viriam a melhorar a imagem das empresas. Esta proposta visa o fortalecimento dos atores tripartites e do diálogo social como um instrumento de governabilidade democrática. 
B) Medidas de Apoio ao Setor 
1. O governo municipal poderia diminuir o valor do IPTU para indústrias intensivas em mão de obra, com o compromisso das mesmas de gerar emprego. Essa é uma proposta que apareceu muitas vezes nas falas dos empresários, visto que este é o único imposto municipal passível de ser reduzido no caso do setor de confecção. A expectativa é que haja uma queda dos custos da produção e isso se reflita na ampliação do setor. 
2. Apoio à iniciativa da ABVTEX visando a sua expansão 
3. Maior colaboração com órgãos públicos de fiscalização, como Inspeção do Trabalho. 
C) Promoção da Economia Solidária 
1. No caso das unidades produtivas a serem incentivadas pela Prefeitura, garantir compras públicas da mercadoria produzida, para que a unidade produtiva não fique vulnerável. Esta proposta visa a favorecer a geração de mais e melhores empregos, possibilitar a segurança no trabalho e a realização de trabalho produtivo, com pagamento de rendimentos adequados, além de promover meios para garantir a seguridade social. 
2. A proposta de organização de unidades produtivas no âmbito da economia solidária pode fazer parte de uma concepção mais ampla de promoção do desenvolvimento do território no qual estas sejam implementadas. Para tal, há necessidade de desenvolver um processo educativo, visando romper o individualismo e despertar o interesse por um trabalho coletivo e solidário, ampliando a compreensão sobre o papel de cada um na economia e no desenvolvimento local, enfatizando o que toda a comunidade pode ganhar. A criação de Redes de Produção e de Comercialização pode fortalecer diferentes unidades produtivas solidárias. 
3. A constituição e articulação dos atores sociais locais proporciona espaço para troca de experiências e favorece a participação efetiva, bem como facilita o acesso à informação e ao debate. Possibilita também a construção de canais para a superação da falta de confiança, muitas vezes existente entre membros de uma comunidade. É importante realizar encontros no próprio bairro, em locais de fácil acesso e em horários que favoreçam a presença de todos, levando em consideração que, no caso específico das mulheres, existem muitas dificuldades para participar de atividades de forma geral. 
4. Trabalhar de forma conjunta com as Secretarias e Órgãos Municipais que atuam na região na qual estiver inserida a unidade produtiva é fundamental, pois estes, de forma geral, possuem um grande conhecimento da área. Além disso, podem socializar dados já coletados e sistematizados e desenvolver ações articuladas. 
5. Um cuidado especial deve ser tomado em relação à construção da proposta de uma economia baseada em relações solidárias, visto que, muitas vezes, há desinformação ou preconcepção sobre o assunto. É importante garantir o comprometimento com o caráter social do empreendimento solidário, pois há o risco de funcionarem como uma empresa capitalista, impondo regras e estimulando a competição. 
6. Cabe uma discussão sobre a construção de alternativas para a organização dos trabalhadores, pois algumas delas podem representar limitações do ponto de vista legal. As associações, por exemplo, não possuem finalidade econômica e, portanto, enfrentam limites em relação à comercialização, pois a lei permite que emita nota fiscal apenas eventualmente. As cooperativas, por sua vez, demandam encargos muito altos, de 22% a 25%, o que pode onerar demasiadamente o empreendimento. No sistema de constituição de Micro Empreendedores Individuais é possível emitir nota fiscal e pagar cerca de R$ 50,00 mensais referentes a impostos, o que pode representar uma alternativa mais segura. Entretanto, no caso de uma unidade produtiva ser composta por várias MEIs, o acesso aos direitos trabalhistas ficaria comprometido. 
7. A forma de pagamento do trabalho executado precisa ser analisada, pois se este for efetuado de acordo com as horas trabalhadas e com a produção individual, haverá o risco de a jornada diária excessiva ser mantida. Neste caso, a proposta seria estabelecer um piso salarial, com base no salário mínimo e, ao final do mês, se o total de horas trabalhadas e a produção não alcançarem o valor estipulado, os trabalhadores podem acessar um fundo de reserva e ressarcir, posteriormente, este valor. Este fundo de reserva pode ser formado a partir de retiradas mensais, que garantam também o pagamento do 13º, ao final do ano e, até mesmo, o pagamento de férias. 
8. Unidades produtivas de pequeno e médio porte tendem a gerar renda incipiente porque enfrentam dificuldades para garantir sua sustentabilidade em um mercado competitivo. Uma das dificuldades enfrentadas é produzir em grande escala e ter acesso a logística mais complexa. Comercializar no entorno onde o empreendimento está localizado e articular redes de produção e de comercialização são alternativas a serem consideradas. 
9. O fato de o perfil dos trabalhadores da confecção ser, predominantemente, formado por mulheres indica a necessidade de implementação de uma política específica para atender a estas empreendedoras. Outra necessidade é favorecer a elevação do grau de escolaridade dos/as empreendedores/as, visando propiciar acesso a conhecimentos e à conquista da cidadania plena. 
10. Outros aspectos que merecem a atenção são a qualificação da mão de obra, não somente no que concerne ao trabalho de costura, mas também em relação à gestão do empreendimento, notadamente a parte contábil; a formação do preço e a divulgação dos produtos. 
11. De forma geral, pequenos e médios empreendimentos têm pouca condição de utilizar recursos do próprio faturamento para investimento, enfrentam dificuldades de acesso a linhas de crédito e falta de capital de giro. Sendo assim, há necessidade de viabilizar linhas de crédito adequadas no âmbito das políticas públicas. Receber apoio e/ou financiamento governamental
é fundamental, pois pode fortalecer o empreendimento, tornando-o mais seguro e mais estruturado, propiciar o envolvimento de um maior número de trabalhadores, gerar maior produção e faturamento mais alto e favorecer sua estabilidade. É importante que a população conheça os deveres e as responsabilidades do Estado, de forma a superar o paternalismo ou o assistencialismo. 
12. O setor possui uma prática de empreendedorismo baseada numa super exploração do trabalho; qualquer proposta de empreendedorismo tem que levar em consideração que para ser solução ao trabalho precário, ela precisa enfrentar a competição dos milhares de microempreendedores que se utilizam desse mesmo trabalho precário. 
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