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9 Zara T2

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Trabalho Interdisciplinar
Imigrantes Latino Americanos na Cadeia Têxtil, no Estado de São Paulo
	
Rafael Saluti N°9814539
Nicolas Mladenic N°9815120
Lucas Bernardes N°9814202
Joaquim Barros N°9814904
Yuri Khairalla N°9815892
Marcio Valentim N°5685150
Sumário
Introdução ---------------------------------------------------------------------- Página 3
Empresa estudada (Zara) ----------------------------------------------------- Página 3
Problemática ------------------------------------------------------------------- Página 7
Desenvolvimento -------------------------------------------------------------- Página 10
Conclusão ----------------------------------------------------------------------- Página 16
	
Introdução
O presente trabalho pretende fazer um esboço da problemática do trabalho análogo ao escravo eventualmente exercido pelos imigrantes latino-americanos ao longo da cadeia têxtil. Esses trabalhadores, vulgarmente chamados de “bolivianos”, compõem uma massa de homens e mulheres provenientes dos recantos mais miseráveis da América Latina, todos eles tendo em comum uma identidade ameríndia e a necessidade de se deslocar entre regiões em busca de melhores condições vida e trabalho. Sua técnica e precisão na confecção têxtil, que é cultura milenar que descenderam de povos latino-americanos do passado, é reconhecida internacionalmente, não sendo a qualidade técnica do trabalho manuseado valorizada na mesma proporção do preço efetivamente pago na manufatura. O trabalho têxtil dos “bolivianos” foi inserido no contexto do capitalismo global como toda a América Latina foi inserida no capitalismo moderno: o que dela provém é insumo para um produto a ser futuramente industrializado, processo esse que “valoriza” (encarece) o produto. 
Historicamente, o conceito de imigrante traz em si uma série de referências que remetem à hipossuficiência a que pessoas nessa situação estão sujeitas: hipossuficiência financeira, jurídica, afetiva, emocional. Eles saem de sua terra natal por causa de um obstáculo intransponível e se lançam, no mais das vezes, por caminhos incertos, apenas com uma promessa de trabalho em oficina indicada por amigos ou parentes. Se eles vêm de tão longe, estando expostos a todos os tipos de incertezas, fácil é pressupor que de onde eles vêm, passam por dificuldades piores. Muitas vezes situação aqui é escolhida não só por necessidade, mas por ser muito melhor, em termos comparativos, do que a realidade de onde eles provêm. 
Zara
O ator do processo produtivo da cadeia têxtil a que este grupo teve acesso foi a Zara, pessoa jurídica atuante no mercado brasileiro há alguns anos. É parte integrante do grupo Inditex (Industria de Diseño Textil, em espanhol), conglomerado multinacional espanhol comandada por Amâncio Ortega, atualmente considerado a pessoa mais rica do mundo, segundo a revista Forbes. 
No Brasil, a Zara possui 69 lojas, sendo que apenas 20% dos produtos são fabricados no país. Cerca de 50% é fabricado na Europa, 34% na Ásia e cerca de 15% na América Latina, e servem para abastecer as 6.000 lojas presentes em 90 países. Todo o montante de 80% das peças importadas que compõem o acervo das lojas brasileiras conta com algum tipo de fiscalização por parte da Inditex e, eventualmente, de órgãos oficiais dos países de origem. 
Após o alegado caso de consentimento de trabalho análogo ao escravo em sua cadeia têxtil, a Zara tomou algumas medidas para evitar novas situações desagradáveis. A primeira foi a criação da área de Sustentabilidade e Responsabilidade Social dentro da empresa, sob coordenação da sra. Valesca Gagliardi, que cuida diretamente da fiscalização do processo produtivo na linha têxtil, verificando a regularidade de todos os envolvidos. Atualmente, a Zara trabalha com 13 fornecedores, que subcontratam (terceirizam) 80 oficinas, que prestam serviços de costura, corte, caseado, pintura, lavagem, etc., sendo todas auditadas. As empresas auditoras são terceirizadas e indicadas pela Inditex, e são: SGS Brasil; Ápice Auditores Independentes; Intertek Auditoria; e BPGL Auditoria. Em todas as diligências feitas por uma dessas empresas, há pelo menos um representante da área de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da Zara. A empresa auditora lavra um parecer que servirá de base para a atualização do sistema de controle da Zara, plataforma da Inditex, que classifica os 13 fornecedores e 80 oficinas em “A”, “B”, “C” ou “D”. “A” significa que nunca se constou irregularidades; em “B”, alguma eventualmente foi encontrada, mas foi diligentemente sanada; em “C” desconfia-se de irregularidades, dando-se preferência a outras melhor classificadas; e em “D” são automaticamente excluídas, podendo tentar trabalhar com a Zara após 6 meses, se totalmente regularizados. O sistema da Zara só libera o setor de compras da empresa para adquirir produtos das oficinas e fornecedores após a auditoria completa. 
Auditoria é uma “fotografia” da oficina. Embora os resultados dessas diligências tenham sido satisfatórios, no sentido de controlar o processo produtivo por meio da rastreabilidade, ela não é totalmente segura. Auditoria é apenas um instrumento de prevenção, que, no caso da Zara, serve para classificar as fornecedoras e dizer se ela está apta a trabalhar com a Zara, segundo sua política de responsabilidade social. Em prazos esporádicos, é dada uma “janela” de 15 dias para a fornecedora receber a empresa auditora, que comparecerá de “surpresa” num desses dias da quinzena estipulada. 
Na denúncia de 2011, da qual resultou um Termo de Ajustamento de Conduta (ou simplesmente “TAC”) celebrado com o Ministério Público do Trabalho que a Zara cumpre até hoje, a irregularidade trabalhista dizia respeito a uma oficina que prestava serviços para uma das fornecedoras da Zara, a Aha, que não foi responsabilizada pelo evento em nenhuma esfera (civil, criminal, trabalhista ou administrativa). Na época, a Zara não se preocupava com situações dessa estirpe porque presumia que todos seus fornecedores fossem regularizados. Embora parecesse mais lógica a responsabilização da fornecedora, o fiscal do Ministério Público do Trabalho que lavrou o auto de infração alegou que “só cabia um CNPJ” no mesmo, devendo constar o da Zara, que, segundo ele, era o grande beneficiário da irregularidade ocorrida. E mesmo afirmando em inúmeras oportunidades que não tinha controle direto sobre a terceirização dos fornecedores, o juiz da ação entendeu pela responsabilização da Zara por considerá-la negligente no seu processo produtivo. Hoje em dia a Aha é uma grande fornecedora para várias lojas de varejo, até anunciando na revista Vogue, sendo isenta de qualquer culpa ou responsabilidade. 
Para os imigrantes “resgatados” (assim se diz das pessoas retiradas de situação de trabalho análogo ao escravo) no fatídico acontecimento de 2011 foram oferecidos trabalhos formais diversos, segundo a aptidão apresentada por cada um. Mas, para completar surpresa da Zara, nenhum dos 15 imigrantes quis tornar-se um trabalhador regularizado, com carteira assinada, recolhimento de FGTS, férias, etc. Essa é uma situação recorrente: os latinos não querem estar regularizados. Primeiramente, porque não interessa a fruição de direitos conquistados pelo trabalho regular no longo prazo (como aposentadoria, eventual seguro-desemprego, etc.), já que seu intuito é o retorno para sua terra natal no médio ou longo prazo com o dinheiro acumulado nesse meio tempo. Em segundo lugar, a situação regular demanda o pagamento de imposto de renda e recolhimento de FGTS, valores reconhecidamente muito altos para pouco retorno na forma de serviços públicos. 
Não são só os trabalhadores que querem se regularizar: os donos de oficinas, principalmente os que são latinos, não querem a formalidade para não estarem sujeitos a toda carga de impostos que constrange o crescimento financeiro do empresariado brasileiro, acumulado com encargos trabalhistas e sociais diversos. Essas empresas e
oficinas sem fiscalização prestam serviços para 80% do varejo (pequeno, médio e grande) que não faz parte da ABVETEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil). Essa associação foi criada e é composta por varejistas preocupados com a fiscalização da regularidade do processo produtivo, fazendo parte dela apenas 20% dos varejistas do país. Ou seja, 80% das lojas tem fornecedores que subcontratam inúmeras oficinas em terceirização, “quarteirização”, “quinterização”, etc. Se os casos noticiados são, de certa forma, frequentes, as irregularidades das oficinas que compõem o acervo de prestadoras de serviço para os 80% não fiscalizado e que não faz parte da ABVETEX são, presumivelmente, em muito maior número. 
Dentro dos 20% da ABVETEX, a Zara compõe cerca de 8%, enquanto grandes varejos como C&A ultrapassa os 40%. Esses grandes chegam a ter 80 fornecedores (enquanto a Zara tem 13 devidamente fiscalizados) e até 2.000 terceirizados, segundo estimativas. 
A Zara firmou parcerias com o Sebrae e o Instituto Ethos para auxiliar pequenos e médios fornecedores, respectivamente, na regularização de seus serviços. E ajudaram desde com aprimoramento das noções de contabilidade, capacitação laboral, consultoria jurídica para formalização legal, entre outros. 
Em maio de 2015, a Zara voltou a ser notícia com a alegação de descumprimento do TAC celebrado em 2011. Ocorre que ela foi acusada de discriminar os trabalhadores imigrantes de uma oficina, com a falsa acusação de xenofobia. Na verdade, essa oficina foi desvinculada de prestar serviços à Zara por ser nela constatado situação laboral não condizente com as políticas sociais da Zara, sendo a notícia desvirtuada ou por desinformação ou por má-fé. 
Juntamente com as auditorias prestadas pelas consultorias determinadas pela Inditex, a Zara conta ainda com outro meio ou instrumento para garantir que os produtos (fabricados no Brasil) estão livres de situações laborais irregulares ou análogos à escravidão no seu processo produtivo: o aplicativo Fabricado no Brasil. Com ele, que é um leitor de QR, o cliente consegue a localização da oficina que produziu a peça, bem como o telefone, email, site, para eventual fiscalização por parte do cliente, se isso lhe interessar. Dessa maneira, além de garantir a procedência do produto, torna transparente a relação com o cliente, possibilitando que ele mesmo tome as providências que considerar pertinentes. Outro aplicativo famoso, mas que com esse não se confunde por ter sido criado para fins diversos, é o de Leonardo Sakamoto, o Moda Livre. Esse dispositivo identifica lojas de varejo e as classifica segundo foram noticiadas com a existência ou não de trabalho análogo ao escravo em sua cadeia produtiva, “verde”, “amarelo” ou “vermelho”: em “verde” nenhum caso foi reportado; “amarelo” tem algum mecanismo de controle, mas já teve casos noticiados; e em “vermelho” se qualificam empresas que teve casos e não tem ou criou meios de controle. A crítica que se faz ao aplicativo é que ele é lastreado em fatos passados, não dando oportunidade de correção ou aprimoramento por parte das lojas denunciadas, além de constar automaticamente no “vermelho” empresas que se recusaram a fornecer dados ao aplicativo, não se levando em conta que a empresa pode se recusar de enviar os dados por não concordar com os critérios dispostos. 
 Por fim, a Zara acredita que o maior problema para efetivamente resolver-se a questão do trabalho imigrante irregular é que todos os interessados na problemática (lojas de varejo, imigrantes, oficinas, MPT, ONG's, Receita Federal, órgãos governamentais) não sentam para conversar claramente sobre o assunto, com cada um pensando no problema isoladamente sem atinar meios para soluciona-lo em conjunto.
Problemática
A partir do tema principal, é possível identificar três principais problemas, que acrescidos do despreparo do país para resolvê-los, resultam na atual conjuntura do setor têxtil brasileiro: o fluxo migratório ilegal de andinos e a recorrência de casos de trabalho análogo ao escravo no país, denunciando as dificuldades de fiscalização trabalhista e a crise no setor têxtil, além de todas suas particularidades na produção.
 A cadeia produtiva do setor têxtil é extremamente segmentada, uma mesma peça de roupa pode passar por mais de 6 oficinas especializadas em diferentes processos da confecção. Essa segmentação torna muito complexo qualquer tipo de fiscalização. Além disso, em muitos casos, por vezes até sem o conhecimento do contratante, subcontratadas transferem serviços para outras oficinas menores, por conta de excesso de trabalho, fazendo com que essa “quarteirização” bloqueie ainda mais a visão das grandes empresas para o que se passa nos locais em que contratam.
Apenas 20% do mercado têxtil são compostos por grandes varejistas, que por serem alvo da mídia e terem uma reputação a zelar com seu consumidor, investem grandes quantias em auditorias internas e fiscalização, tornando-se menos vulneráveis aos subcontratados usando mão de obra ilegal. Tendo em vista a frequência de flagrantes de mão de obra análoga à escrava na produção para grandes lojas, é possível formular algumas hipóteses bastante desanimadoras sobre a degradante situação em que são produzidas cerca de 80% do volume do mercado têxtil, com muito menos fiscalização e nenhuma atenção midiática ou do público, por vezes sem nenhum registro na justiça brasileira.
No Brasil, o setor têxtil passa por uma crise devido aos baixos preços das peças importadas da China e da situação econômica geral do país, assim tentam-se achar formas de competir com o mercado externo, com preços mais baixos e produção mais acelerada. Infelizmente, isso “incentiva” as confecções a recorrerem à irregularidade, assim deixam de pagar impostos e muitas vezes, de cumprir todas as leis trabalhistas. Em muitos casos, as oficinas buscam funcionários com contratos por produtividade, o que estimula jornadas exaustivas de trabalho, decorrente da baixíssima remuneração por peça.
A existência do trabalho escravo foi assumida pelo governo federal brasileiro perante a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que fez com que se tornasse uma das primeiras nações do mundo a reconhecer oficialmente a escravidão contemporânea em seu território. Deste ano até 2016, mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas a de escravidão em atividades econômicas nas zonas rural e urbana. 
O trabalho escravo ocorre principalmente na zona rural, em atividades como agricultura e pecuária. Os trabalhadores resgatados de condições degradantes de trabalho no setor têxtil correspondem a 3% do total de trabalhadores resgatados. Nestas estatísticas sobre a indústria têxtil e também na fiscalização da produção feita pelas grandes marcas, não se considera a agricultura do algodão ou a pecuária da lã como uma etapa envolvida na cadeia de produção têxtil, o que escancararia ainda mais o problema do trabalho análogo ao escravo na cadeia pelo alto número de ocorrências de casos nas áreas rurais.
O número de casos de trabalho escravo vem aumentando nos últimos anos, o que é preocupante, mas por outro lado aponta uma maior eficiência dos órgãos públicos para acabar com este tipo de violação de direitos no país. Em compensação, o poder judiciário brasileiro decretou apenas uma condenação criminal, no artigo 149, que prevê reclusão de 2 a 8 anos em caso de redução da condição do trabalhador a uma condição análoga à de escravo, sendo esta condenação revertida em doação de cestas básicas.
Um agravante da situação se constitui no alto índice de trabalhadores na informalidade no Brasil, são cerca de 50% dos empregados sem carteira assinada, o que dificulta muito a fiscalização dos órgãos públicos, e a garantia dos direitos trabalhistas do cidadão. Isso agrada o setor têxtil, que abusa da informalidade em busca dos baixos custos e complica ainda mais os meios de controle.
Por fim, é necessário ressaltar o fluxo migratório vindo de outros países sul-americanos, pessoas
que fogem de uma crise econômica ainda pior em seus respectivos países, para tentar melhorar sua condição de vida em uma cidade grande. Os migrantes vêm de forma ilegal, diversas vezes por meios de esquemas de tráfico ilegal, que costumam ser uma forma de “recrutamento” para o trabalho escravo. O dono de oficina ilegal paga os custos da viagem, dá um lugar para o cidadão morar e o força a trabalhar para ele, com retenção de boa parte do salário para sanar a dívida, além da parte destinada aos gastos com alimentação e moradia.
O imigrante costuma ser um alvo das oficinas têxteis pela grande habilidade de manufatura que os países andinos têm tradição e pela maior facilidade de reter um migrante sem que conhecidos sintam falta e pelo maior desconhecimento das leis atuais. Além disso, os patrões aterrorizam os seus funcionários devido a situação ilegal no país em que eles se encontram, deixando-os acuados e sem a certeza de seus direitos.
Atualmente, só na grande São Paulo, estima-se um contingente de um milhão de latino-americanos, sendo que apenas 30% destes têm sua situação no país regularizada. O número segue crescendo, e o poder público não consegue estruturar seus serviços para atender esse crescente número. Assim, coloca em risco a integridade de muitos seres humanos e a confiabilidade dos produtos de mercado interno.
Desenvolvimento
Tendo em vista os diversos problemas citados, não há dúvidas que o setor têxtil é complexo, a ocorrência de trabalhos análogos à escravidão, principalmente de latinos americanos, tem muitas causas e muitos envolvidos. No entanto, pode-se observar que essa condição atinge grandes proporções: os imigrantes, os consumidores, os órgãos fiscais, o poder legislativo, os fornecedores intermediários, os varejistas, entre outros.
Por parte das grandes varejistas, cabe aos seus gestores se prevenir de todas as formas ao alcance contra tal situação, bem como transparecer uma imagem de sustentabilidade e garantir a isenção da empresa diante da constatação de qualquer problema na cadeia. Dessa forma, analisando a realidade do trabalho dos imigrantes latino americanos na cadeia têxtil e conhecendo as funções administrativas, conclui-se que é difícil manter sua produção sobre controle, devido ao vasto número de processos e responsáveis e a pouca cooperação de qualquer parte.
Observa-se, primeiro, o planejamento. Planejar significa definir objetivos e os meios para alcançá-los. Assim, ao formular os objetivos e programar as atividades, a empresa deve inteirar-se sobre o processo de produção e sobre a conduta das intermediárias. O planejamento não deve ser limitado a apenas atingir os objetivos econômicos da empresa, mas também a conhecer a rede de fornecedores e um processo produtivo seguro, a fim de evitar futuros transtornos.
No processo de organização, por sua vez, a empresa dispõe os recursos e pessoal para a execução do trabalho, classificando, dividindo e designando as atividades. Nesse processo, ao alocar a sua força de trabalho e contratar serviços, todos os envolvidos, inclusive subcontratados, passam ser responsabilidade direta da empresa neste momento. 
Ao chegar na direção, partindo do princípio de que dirigir a organização consiste em coordenar a utilização dos recursos disponíveis para a realização do trabalho, fica evidente que a empresa deve coordenar a execução das tarefas para reduzir o tempo de espera pelos produtos e evitar problemas com as condições em que as peças foram produzidas. 
 Por último, no processo de controle, isto é, ao verificar a execução do trabalho e o resultado obtido para providenciar as correções necessárias. Este processo é muito importante na medida que a grande empresa fica muito distante dos seus subcontratados e não pode confiar a sua imagem sustentável à um fornecedor, que além de não ter nada a perder, lucra quantias significativas com isso. Assim, entram as auditorias internas, que custam caro às empresas para fazer um serviço difícil de fiscalizar as oficinas, uma vez que é difícil produzir flagrantes com aviso prévio de visitas aos locais de produção
	No caso da Zara, após ser denunciada em 2011, algumas soluções foram propostas para que a entidade pudesse controlar melhor seus fornecedores e seus subcontratados, principalmente no Brasil, onde problemas como esse são recorrentes e a fiscalização é tão difícil. O aplicativo da empresa para celulares, com o nome “Fabricado no Brasil”, lê códigos QR estampados nas peças que são fabricadas no país. Essas roupas têm total auditoria sobre os meios produtivos que cada parte da peça foi feita, podendo assim, por meio da leitura do código, mostrar qual foi a empresa que produziu a peça, o local onde se encontra a empresa e a data da última auditoria feita no local. 
Outra solução foi a utilização de um sistema, apenas disponível para os gestores da organização, que possui todas as informações de como a roupa foi feita, passando pelo corte, costura, pintura. Após a confecção de a roupa ser analisada por um especialista da empresa, há a aprovação ou reprovação quanto à sua origem e a autenticidade do processo descrito. Se aprovada, peça será transportada e comercializada. Caso contrário, o negócio inteiro é desfeito e pode acontecer inclusive o desligamento total da contratada para com a empresa. Tal medida serve para colocar os fornecedores em situação complicada caso forem pegos com o trabalho escravo, assim, tendo de assumir riscos para tal.
	A medida que o tema do trabalho escravo na cadeia têxtil vai sendo destrinchado, fica claro que se pode colocar grande parcela da culpa nas mãos do fornecedores intermediários e seus subcontratados: fazem parte de cerca de 80% da cadeia produtiva e são caracterizados por suas pequenas instalações, com poucos trabalhadores e com condições degradantes. Nesse ambiente a especialização do trabalho, nos mesmos moldes do modelo Fordista, é presente, o pagamento é feito com base na produção, o que leva a jornadas excessivas, sem que sejam oferecidas condições de segurança e saúde, valendo então o princípio de “Mais Valia”: os donos exploram visivelmente seus trabalhadores, com alta quantidade de produção, seguindo determinada padronização; e a redução de custos através do controle de salários.
	Para isso, a fiscalização dessas microempresas é imprescindível, os grandes varejistas já enviam auditores para tal, porém, o sistema é falho, apresentando problemas notórios, como por exemplo, o número de auditores que um fornecedor recebe é muito significativo, vindo das principais grandes empresas do ramo, como a própria Zara, C&A, Renner. Além disso, alguns desses fornecedores conseguem meios para enganar os auditores e “legalizar” a empresa apenas para o dia da auditoria.
	Nota-se, então, que a unificação dessa auditoria por parte do meio público é a melhor saída, isso faz com que a solução ultrapasse o ambiente das grandes empresas e atinja o âmbito nacional, podendo assim, ganhar mais força e propagação, já que o trabalho escravo não está situado apenas em São Paulo, muito menos apenas na indústria têxtil, além disso, menos importante, a unificação diminui a inconveniência que é para um fornecedor e seus subcontratados receberem fiscalizadores quase todos os dias.
	Não obstante, a impunidade e a não caracterização dos intermediários como culpados, quando há uma denúncia de trabalhos degradantes, são fatores muito importantes: quem recebe as principais críticas e penas são os grandes varejistas, que as vezes não possuíam informações precisas sobre seus fornecedores e, por descuido, são considerados os maiores culpados. Portanto, ao se analisar uma denúncia, deve-se considerar todos os aspectos, um olhar mais profundo sobre os fornecedores, que possuem cerca de 80% da produção têxtil no Brasil, por parte da mídia e da população como um todo é necessário, para que assim, possa se dissipar a ideia de que, na maioria dos casos, o problema está além das grandes empresas, pressionando as instituições cabíveis a localizarem e aplicarem penas
consideráveis para os principais causadores.
Por parte dos próprios imigrantes, deve-se ter um olhar mais amplo sobre o motivo de aceitarem condições análogas à escravidão. O quadro precário do país de origem de alguns destes imigrantes pode os levar a entender sua situação no Brasil como uma melhora, a grande cobrança relativa de impostos e a baixa flexibilidade dos trabalhadores de carteira assinada, pode aproximar o trabalhador da informalidade, a falta de informações quanto a direitos e oportunidades dos que vem dos outros países latino americanos pode os conduzir a uma exploração, a situação legal do estrangeiro e a ausência de outras oportunidades de trabalho, que os faz temer a denúncia. O desejo e a motivação desses imigrantes é sair de sua terra natal, mesmo para trabalhar em condições precárias, idealizando que possa ter uma vida melhor para si e seus parentes que, normalmente, os esperam no país natal.
Entretanto, quando perguntados, um número significativo desses trabalhadores imigrantes não se considera escravos, vários motivos os levam considerar isso: as condições de trabalho no Brasil realmente são ruins, porém, muito melhores que nos países de origem. Os trabalhadores, diversas vezes, preferem ganhar por produção, pois vieram para o país com o intuito de lucrar o máximo que puderem. Além disso, os donos não têm obrigação de bancar a moradia dos contratados. Eles dormem no trabalho porque é mais barato, pois economizam o aluguel e o transporte. Todavia, o principal motivo para eles aceitarem essas condições é a permanência na ilegalidade, ou seja, não desejam ter carteira assinada para não pagar impostos e, por falta de informação ou por uma opção arriscada, não olham para seu futuro, no que diz respeito a sua aposentadoria, uma vez que o principal objetivo, como já dito, é arrecadar o máximo que conseguir, voltar para seu país de origem e conseguir sustentar sua família.
Nesse quesito, algumas medidas podem ser tomadas para alertar os imigrantes quanto a submissão a esse tipo de trabalho. O Ministério do Trabalho e Emprego deve sensibilizar cada vez mais a sociedade e os imigrantes por meio de propagandas, evidenciando os riscos de se aceitar esse tipo de condição, os direitos dos imigrantes e como a população pode se mobilizar, para que estes se tornem agentes na luta contra o trabalho escravo. Experimentos sociais nos moldes do “The 2 Euro T Shirt” são os mais ideias, por mostrarem diretamente para o consumidor a sua parcela de culpa.
Neste experimento, ao tentarem comprar uma camisa por dois euros, os consumidores eram expostos às situações degradantes e as exaustivas jornadas de trabalho daqueles que produziram a camisa. Apesar de alguns ainda optarem por comprar o produto, a maioria desistia da compra. Portanto, em curto prazo, os consumidores repudiam o trabalho escravo e optam por não consumirem produtos relacionados com esse tipo de trabalho, pois se sentem culpados.
	Percebe-se, no entanto, que os consumidores reagem de formas distintas em curto e longo prazo. Pode-se analisar o caso de trabalho escravo relacionado a Zara, ocorrido em 2011. Alguns consumidores, de fato, realizaram boicotes para protestar contra a exploração do trabalho dos imigrantes. Contudo, apenas alguns dias depois do caso, o movimento nas lojas ainda era intenso e não houve queda nas vendas, demonstrando que, em longo prazo, os consumidores tendem a comportar-se de forma distinta. As justificativas para esse comportamento podem ser evidenciadas em três aspectos, principalmente.
Primeiro, apesar da Zara ter sido mais citada e punida que a AHA, o consumidor compartilha da ideia de que a empresa não tem responsabilidade no caso, uma vez que o trabalho escravo ocorreu nas oficinas de costura. Segundo, o trabalho escravo, de fato, deixa as pessoas indignadas, mas os clientes não se sentem responsáveis ao comprarem os produtos e, no ato de consumir, o cliente ignora a participação da empresa em qualquer escândalo.
 Outro fator relevante é que no seu país de origem e em toda a Europa, a Zara é vista como uma marca comum, sendo que seus produtos custam preços considerados baratos para a média de outras marcas congêneres. No Brasil, os clientes entenderam um certo glamour na Zara (talvez por ser europeia), transformando-a em produto de luxo. A elitização da marca se fez por conta do desejo por status de seus clientes, ou seja, sua glamourização, o significado que a marca alcançou no país cegou seus consumidores sobre questões maiores e mais complexas do que vestir uma roupa de uma marca de luxo.
	A demanda por peças no mercado têxtil é absurda, cada vez mais consumidores querem comprar mais roupas, mesmo não necessitando. Para isso, a tendência muito forte no momento é a Fast Fashion: uma constante renovação das coleções, envolvendo o consumidor no design do produto, na medida em que é produzido aquilo que o mesmo deseja.
Atualmente é muito comum comprar roupas e usá-las com pouca frequência, ou até mesmo nem as usar, isso é apenas um pequeno exemplo que relata a não preocupação dos consumidores, principalmente os mais abastados, com o que pode estar por trás de uma peça. O consumismo é cada vez mais um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, tornou-se o propósito da existência humana, alienou-os, como diz o sociólogo Zygmunt Bauman.
	Para isso uma conscientização individual e revisão dos conceitos é necessário, os consumidores devem buscar informações sobre o que estão comprando e o motivo pelo qual estão comprando, se a compra realmente trará benefícios, sociais ou não, ou se é apenas algo supérfluo.
	Tratando-se de governo, além da proposta de unificação de auditoria, inúmeras soluções podem ser apresentadas, desde os assuntos mais complicados que fazem parte dos alicerces da sociedade, como a educação, até a questões mais simples, o aumento de indenizações.
	Pela parte mais complexa, uma medida muito interessante seria uma maior inclusão de imigrantes em programas educativos, como o programa “Brasil Alfabetizado”, possibilitando que os mesmos possam futuramente ter acesso a melhores empregos devido ao seu crescimento intelectual, além disso, agilizar políticas de geração de emprego e renda torna-se primordial. A criação de um programa semelhante ao “Bolsa Família” para imigrantes que já sofreram com más condições de trabalho pode ser uma saída, ou a indicação, por parte do governo brasileiro, para a utilização desse meio nos países de origem dos trabalhadores.
	Mesmo sendo controverso e polêmico, os programas de distribuição de renda são um sucesso, os benefícios alcançados por essa política são enormes, tais como o aquecimento da economia local, a superação da extrema pobreza, a diminuição da desigualdade social, a redução do trabalho infantil e, evidentemente, a diminuição de trabalhos análogos à escravidão.
De forma mais imediata e mais simples, a justiça deve julgar efetivamente os culpados, como já mencionado no caso dos fornecedores e seus subcontratados, denunciando sistematicamente os infratores. No mesmo modo, aplicar sanções econômicas pesadas, como multas e indenizações radicais, ou até mesmo uma melhor definição do que pode ser considerado um trabalho escravo na legislação brasileira podem ajudar a amenizar o problema a priori. 
Outro aspecto relevante e oposto é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A rigidez da legislação trabalhista faz com que o custo do trabalhador em território nacional seja muito alto. Com isso, os fornecedores, ao tentarem maximizar o lucro, optam por oferecerem salários abaixo do mínimo permitido. Uma vez na ilegalidade, esses fornecedores passam a adotar medidas mais drásticas, que culminam na exploração do trabalho do imigrante. Percebe-se, portanto, que caso as leis fossem mais flexíveis, os fornecedores poderiam empregar os imigrantes por um salário menor e sem fugir da legalidade, assim, não submeteriam esses ao trabalho escravo. Logo, cabe aos órgãos públicos encontrarem
um meio termo entre esses fatores: continuar com leis poucos flexíveis e que aumentam o custo do trabalhador, ou parte para uma saída que possa beneficiar os empregadores e os empregados.
Conclusão
O Trabalho análogo à escravidão, no estado de São Paulo, assim como em todo território nacional, se tornou um problema crônico, a exploração de latino americanos é constante e passa despercebido pela maioria da sociedade e dos órgãos públicos de fiscalização, a impunidade ainda se faz presente e a falta de informação continua sendo um problema em plena era da modernização e globalização constantes.
	Dentre as soluções apresentadas para a problemática, algumas são mais óbvias e imediatas, outras mais idealizadoras e de longo prazo, no entanto, se aplicadas de forma correta ajudam a praticamente sanar a situação. Os grandes varejistas, por exemplo, por pressão dos órgãos de informações e, por até certo ponto, da sociedade como um todo, vêm cada vez mais se preocupando com a situação, a necessidade de se passar uma boa imagem, principalmente nos dias atuais, é inevitável.
	Porém, fica claro, que a pulverização do setor têxtil é caracterizada como a principal culpada por ambos os lados. A divisão de feitorias para uma única peça faz com que a exploração do trabalhador se acentue de degrau a degrau ao longo da cadeia, a especialização ainda segue modelos ultrapassados, a ganância de certos proprietários ainda persiste. Mas, ao mesmo tempo, mostra como é praticamente impossível de sustentar um trabalhador em condições adequadas com essa grande divisão: a produção deve ter custos muito baixos, para que possam comercializar ao longo do mercado.
	Logo, a resolução desse problema seria o mais ideal, no entanto, é o mais idealizador e de maior prazo, beirando o impossível, visto que essa forma de segmentação já é algo anterior e instalado fortemente não apenas na produção têxtil, como também em outros mercados, como o caso de eletrodomésticos produzidos em países como a China e o Vietnã, atingindo escalas mundiais.
	Outra solução idealizadora é a extensão de programas de distribuição de renda para imigrantes, isso porque, provocaria cada vez mais a entrada dos mesmos no Brasil, além de que sofrerá um grande repudio da população brasileira como um todo, questões como a xenofobia surgiriam, o trabalhador brasileiro estaria perdendo espaço no mercado do país. Contudo, não é uma má ideia se for aplicado de forma consciente e consistente para trabalhadores latinos que já enfrentaram alguma condição de trabalho análoga à escravidão, para isso, um sistema de informações é a melhor saída para que imigrantes não se aproveitem da situação.
	A educação da população também é um dos principais focos, tanto dos imigrantes, quanto dos consumidores. Por parte dos imigrantes, possibilitaria uma maior inserção no mercado de trabalho, um maior salário e principalmente, a ação de recusar trabalhos degradantes e não aceitar trabalhar fora da legalidade. Por parte dos consumidores, levar-nos-iam a observar de outra forma a realidade do caso, bem como a mudança de conceitos sobre o que deve ou não se consumir.
	O aplicativo “Fabricado no Brasil” e o sistema que a Zara possui são mais imediatos, mas que não sanam completamente o problema: apenas solucionam o problema da própria empresa. Todavia, não deixam de ser necessários e agregadores, se todos os grandes varejistas possuírem ideais semelhantes, com certeza a situação seria outra, os fornecedores e seus respectivos subcontratados teriam que se adequar à nova forma.
	Mais imediato e óbvio ainda é o aumento de sanções, pelos órgãos cabíveis, aos culpados, mas que mesmo tendo essa característica, parece que alguns ainda fazem vista grossa: a imprensa direciona as críticas nos grandes varejistas, a justiça ameniza as penas para os verdadeiros causadores
	O fator de atração de imigrantes no país é algo que acentua cada vez mais a soberania brasileira na América do Sul: demonstra que o Brasil se tornou um polo de atração para as imigrações latino americanas. Quer seja pela facilidade em cruzar as fronteiras nacionais ou pelo relativo desenvolvimento econômico apresentado pelo país nos últimos anos. Os demais países do continente enfrentam sérios problemas sociais, atingindo questões básicas, como a saúde. A oportunidade de vir trabalhar no Brasil é única e deve ser aproveitada da melhor forma, mesmo ser for desgastante trabalhar diversas horas por dia. 
	Portanto, ao mesmo tempo que soluções começam a ser propostas, a visão externa do Brasil ainda é ótima para seus países vizinhos, muitos não se vêm trabalhando em más condições, ou até as aceitam, tendo em vista que no seu país de origem é pior ainda. Por isso, a complexidade da situação é delicada, vários interesses estão em jogo, vários agentes participam, tornando-se, então, cada vez mais preciso a serenidade na resolução do problema, sendo pelas soluções apresentadas, por outras que ainda possam surgir ou a intensificação das que já existem.

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