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12 PAL T2

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Universidade de São Paulo
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Curso de Administração
João Antonio G. de Agostini 	 n°9815742
Leonardo Gonçalves Patiño 	 n°9815061
Luana Kaplan Fernandes 		 n°9814971
Lucas Haruo H. Bissoli 		 n°9815224
Marina Fausto Benyunes 		 n°9815231
Miguel Pinheiro Razsl 		 n°9815839
TRABALHO INTERDISCIPLINAR:
Imigrantes Latino Americanos na Cadeia Têxtil no Estado de São Paulo
São Paulo
Sumário
Introdução.............................................................. 1                                                                              
Perfil da organização analisada (PAL) ................. 1                                                                              
Problemática.......................................................... 3                                                                          
Desenvolvimento................................................... 6                                                   
Conclusão..............................................................15                                                                            
Bibliografia............................................................16                                                                                                      
                                                                                 
                   
Relações com as disciplinas
Ciências Sociais
Desenvolvimento- Subtítulo “Os trabalhadores”
Desenvolvimento- Subtítulo “A divisão do trabalho e a exploração do trabalhador”
Desenvolvimento- Subtítulo “Propostas de solução”- Específico parágrafo 13
Conclusão
Introdução à psicologia
Desenvolvimento- Subtítulo “O desenraizamento dos imigrantes”
Desenvolvimento- Subtítulo “Os consumidores”- Específico parágrafo 3
Desenvolvimento- Subtítulo “Propostas de solução”- Específico parágrafo 6
Fundamentos de administração
Desenvolvimento – Subtítulo “As condições trabalhistas’
Desenvolvimento- Subtítulo “A responsabilidade social da cadeia e sua ética” – Específico parágrafos 1 e 2
Desenvolvimento- Subtítulo “Propostas de solução”- Específico parágrafos 8 e 15
Fundamentos de marketing
Desenvolvimento- Subtítulo “A Cadeia Têxtil”
Desenvolvimento- Subtítulo “A responsabilidade social da cadeia e sua ética”- Específico parágrafo 3
Desenvolvimento- Subtítulo “Os consumidores”- Específico parágrafos 4, 5 e 6 
Desenvolvimento- Subtítulo “Propostas de solução”- Específico parágrafo 4
Introdução
	A globalização das estruturas dos mercados, sob o advento das tecnologias introduzidas recentemente, exerce impacto também na cadeia têxtil em escala internacional. Os agentes integrantes desse setor passaram por diversas adaptações, como a adoção de práticas do fast fashion e um maior relacionamento com a proposta de global sourcing, para que pudessem suprir a crescente demanda dos novos padrões de consumo. Contudo, algumas das medidas que levaram à viabilização dos preços ofertados trouxeram consigo consequências alarmantes para intermediários dessa cadeia de produção, especialmente em questões concernentes às condições de trabalho degradantes e inadequadas.
É nesse contexto que se encaixa a análise da cadeia de produção têxtil no estado de São Paulo, com foco nas condições dos imigrantes latino americanos empregados em oficinas de custura e tecelagem. Vindos de países marcados pela herança do período ditatorial, onde a democracia é um processo que ainda não está consolidado, o Estado é ausente e os traficantes estão na margem tênue entre heróis e foras da lei. 
Ao mesmo tempo em que a globalização levou os imigrantes a uma situação de desamparo, trouxe também maior facilidade para eles se conscientizarem de (e se mobilizarem por) suas condições de vida, através da obtenção de informações com a expansão dos meios de comunicação, por exemplo. 
Esses imigrantes procuram países que tenham uma imagem de prosperidade e estejam geograficamente próximos ao seu país de origem. O Brasil, por seu recente histórico de expansão econômica, se enquadra nesse ideal estabelecido por eles como um destino possível. No entanto, ao chegarem ao país, a realidade com que se deparam é diferente: devido a falta de oportunidades e de leis que  assegurem a aplicação dos direitos civis, alguns acabam trabalhando em situação análoga à escravidão.  
Nesse contexto, diversas organizações se inserem com o intuito de auxiliar os imigrantes. Dentre elas está a Presença na América Latina (PAL), organização que busca ser uma ponte comunicativa e também atuante nessa problemática, lutando pelos direitos já concebidos e pelos desejados. 
Organização Analisada
A Presença na América Latina (PAL) foi criada em 2004, com a missão de proporcionar um espaço de convívio e exposição da cultura latino-americana. No entanto, a falta de políticas voltadas aos imigrantes fez com que o objetivo se adaptasse a necessidades mais urgentes, procurando articular e fortalecer as comunidades de latino-americanos residentes no Brasil. Assim, para alcançar seus propósitos, a instituição segue o preceito de que atrelar os poderes político e judiciário às necessidades dos imigrantes é o ideal para empoderar essa minoria.
   Após entrevista com a presidente da PAL, Oriana Isabel Jara Carmona, chilena que trabalha voluntariamente pela promoção de políticas migratórias, reiteramos nossas convicções de que esse assunto é pouco disseminado tanto entre os cidadãos quanto junto à classe política. 
Com o intuito de conciliar discussões no âmbito nacional e internacional, Oriana busca estabelecer programas em parceria com outras organizações voltadas aos imigrantes. Um exemplo é o projeto Tecendo Sonhos, que reúne representantes da  Aliança Empreendedora,  do CAMI, do Projeto Si Yo Puedo e da PAL para capacitar donos de oficinas de costura no que se refere à gestão do empreendimento, ensinando-lhes estratégias de vendas e de determinação de preços, assim como orientações sobre a formalização de seus negócios.
       	Apesar do empenho dos voluntários que trabalham na Presença na América Latina, o número de envolvidos ainda é pequeno e o alcance é insuficiente para o tamanho do problema. O principal desafio com o qual a PAL tem que lidar é a baixa adesão, por parte dos imigrantes, aos programas que visam beneficiá-los. Esse problema tem origem na estrutura cultural desses indivíduos, que muitas vezes migram de países com Estado forte mas incapaz de organizar e garantir direitos trabalhistas. Com isso, alguns imigrantes não se identificam em situação de trabalho análoga a escravidão, facilitando a exposição/submissão deles a tais condições e também a perpetuidade dessas relações de trabalho.
       	Outro problema apontado na entrevista foi  a desconfiança dos imigrantes em relação aos voluntários. Essa indisposição causa o requerimento de preparação não apenas psicológica e técnica para atuar frente à problemática, mas também de alinhamento minucioso de discurso. É necessário haver uma identificação cultural do imigrante com os traços dos representantes da PAL, pois em situação contrária a rejeição prevalece e torna-se mais difícil estabelecer vínculos duradouros e confiáveis.
       	Uma das missões que guiam a Presença na América Latina, e que se relaciona fortemente com já exposto, é o combate ao círculo vicioso no qual imigrantes trabalham em condições de analogia à escravidão e, posteriormente, ao juntarem uma quantia razoável de dinheiro, se tornam empregadores de outros imigrantes em pequenas oficinas.
       	Nesse contexto, uma solução atualmente priorizada é o empoderamento da mulher, pois acredita-se que a criação dos filhos e a transmissão de conhecimentos se dá principalmente pela figura materna. Dessa forma, ao ensinar as mulheres sobre os seus direitos e também os conceitos éticos que divergem entre suas culturas e a brasileira, elas
se tornam cidadãs mais aptas a agirem sob os preceitos legais. Por fim, elas podem repassar isso aos filhos e fazer com que a nova geração modifique essa realidade.
       	Apesar de tal projeto ser o carro chefe da PAL, o raio de aceitação que ele atinge ainda é pequeno: apenas um grupo seleto de mulheres, pertencentes a uma classe social mais elevada.
       	No entanto, a Presença na América Latina crê que, por mais difícil que seja essa luta, ela pode ser vencida com  paciência e determinação. Segundo  a presidente Oriana, o ideal para atingir a eficácia das políticas voltadas aos imigrantes seria a conscientização de todos, principalmente daqueles que não estão envolvidos diretamente com as nuances da cadeia produtiva - como os consumidores. Além disso, ela acredita que a educação é a melhor maneira de suplantar esse problema, devendo as escolas fornecerem meios para isso.
Problemática
O fluxo de imigrações para o Brasil é historicamente alto, e nos dias de hoje também cresce consideravelmente, devido ao fato de regiões próximas ou distantes estarem imersas em crises econômicas, políticas e até mesmo guerras civis. Da Síria, assolada por diversas facções em conflito pelo controle do país, ao Haiti, que sofreu recentemente com desastres naturais e está em situação caótica, diversas são as ondas de imigração que renovam a demografia brasileira e trazem consigo não só histórias e ambições, mas também sua culturas, crenças e costumes.
	Tomando como enfoque a imigração latino-americana ao Brasil, nota-se um fato curioso: dados a instabilidade econômica recente e um certo histórico de falta de estrutura institucional de amparo aos necessitados, muitos imigrantes preterem o Brasil frente a opções como a nação vizinha Argentina.
	Em análise comparativa, pode-se creditar isso à história da Argentina no continente, já que no século passado era considerada como um país europeu traslado aos trópicos, com relativa possibilidade de ascensão social e uma sociedade mais organizada e próspera que a brasileira, ainda que ambos os países partilhassem de instabilidade política, com seus diversos golpes de estado, e que traziam consigo instabilidade econômica. Além do mais, as barreiras culturais e de idioma para os latino americanos são diminuídas nas terras platinas em relação ao território brasileiro.
	Entretanto, a vastidão do Brasil, refletida em um mercado consumidor muito maior que o argentino e também em uma frouxidão do controle social exercido junto aos imigrantes, permitiu que se fizesse do país uma alternativa mais viável aos imigrantes que partem de seus países em condições de dificuldade econômica e sem contatos em seus destinos de imigração.
As causas que trazem os imigrantes ao país são das mais diversas, porém é possível analisar sob um prisma de três óticas: social, econômica e política.
Considerando a motivação social, exemplo possível é da Bolívia, onde já é fator cultural notório a ida de membros da família ao Brasil para aumentar o rendimento do lar, com ondas migratórias que passaram de trânsito em fronteira para a consolidação de bairros étnicos, como é o caso de São Paulo, principal destino dos bolivianos.
Quanto ao fator econômico, é possível contemplar nessa ótica todos os casos, já que a motivação financeira os perpassa, mas especificamente o do Haiti é o mais interessante. O país enfrenta 70% de desemprego, a falência da economia de subsistência do arroz graças ao insumo subsidiado proveniente dos EUA e também a desorganização de planejamento econômico por parte da classe política. Isso leva os Haitianos a necessariamente terem que buscar emprego para sobreviver em outros países, sendo São Paulo novamente um oásis, já que na cidade é possível receber por serviços que nem existem em grau considerável no Haiti, como limpar carros ou mesmo trabalhar em pequenas indústrias.
Tomando também a causa política, temos conflitos locais como a violência do narcotráfico em regiões da Amazônia fora do Brasil, o que motiva, por exemplo, peruanos a buscarem vida nova nos Estados de fronteira do Centro-Oeste. No entanto, considerando a saturação de mão de obra pouco qualificada nessas regiões, em grande parte de prestação de serviços ou de trabalho em vias de mecanização na agricultura, grande parte do fluxo de mão de obra pouco qualificada segue também para São Paulo.
	Aqui, adentramos à nossa principal problemática, a da integração dos imigrantes como mão de obra na indústria têxtil paulistana. 
	Em breve contexto histórico, temos uma indústria que antes, ainda que empregasse imigrantes, lhes fornecia garantias trabalhistas sob a pressão de sindicatos e greves bem organizadas, sucedidos por um governo de forte índole sindicalista e populista que consolidou as leis trabalhistas de modo a reafirmar as garantias do proletariado, de forma análoga ao que foi feito no México sob Cárdenas e na Argentina sob Perón.
	Ainda que a CLT de Vargas siga vigente, com a modernização da economia surgiu o fenômeno da terceirização, de forma a servir de flexibilização com o intuito de aumentar a lucratividade da mais-valia aplicada à relação empregador-empregado.
	Cortando vínculos legais, indústrias têxteis apelaram ao emprego de mão de obra pouco qualificada sob o controle de terceiros, não tendo que associar diretamente seus nomes e pessoa jurídica à base da cadeia produtiva de seus produtos, poupando somas consideráveis com encargos trabalhistas.
	Nota-se então que os imigrantes das ondas mais recentes, latino-americanos provenientes de países sem um passado de lutas trabalhistas consolidadoras de direitos efetivos, adentram uma realidade que, ainda que seja ilegal, lhes parece familiar, natural, pouco ofensiva, apesar de análoga à escravidão em tempos modernos.
	Em amostragem, um haitiano que deixou sua família na gigantesca favela de Cité Soleil ou um boliviano que trouxe a família das montanhas andinas com suas minas de prata fechando em ritmo acelerado, acaba por internalizar como aceitáveis as condições de trabalho que lhes são oferecidas aqui, isto é, trabalho fixo em condições de menor perigo e maior salubridade que as de suas terras natais.
	Algo que seria inaceitável ao trabalhador brasileiro, sindicalizado ou mesmo ciente de parte de seus direitos, é a oportunidade da vida da maioria dos imigrantes em São Paulo, o que, somado à violência coercitiva para que sigam trabalhando sem questionar e à falta de uma regulação eficiente por parte do Estado e suas instituições, cria um cenário pouco favorável à denúncia dessas condições por parte dos trabalhadores.
	Ora, um boliviano em condição de trânsito e permanência ilegal, que seria deportado quando da ciência de sua presença em terras nacionais por autoridades, acaba por abdicar de uma contestação de suas condições junto às autoridades justamente por não poder dispor dos mesmos direitos trabalhistas que um nacional brasileiro. Muitas vezes também há o controle de passaportes e documentos pelos agenciadores desses trabalhadores, que aceitam sua condição como forma única de sustento de suas famílias, além de serem levados ao endividamento sucessivo pelos administradores das empresas terceirizadas ou pelos responsáveis pela força de trabalho, como se faziam com os seringueiros no norte do Brasil durante o ciclo da borracha.
	Temos então um indivíduo sem direitos, sem políticas públicas que o ampare com eficiência, sem garantias, sem possibilidade de mudança de condição que lhe traga grandes benefícios e sob fortes vínculos de violência e dependência junto a seus empregadores, o que desencoraja qualquer tipo de coerção desse tipo de condicionamento da força de trabalho imigrante em São Paulo. Nota-se também que muitos desses indivíduos vem de regiões rurais, não tendo sequer a própria documentação, o que também é comum em zonas rurais até mesmo no Brasil. Sem documentação, o já precário controle desestabiliza-se ainda mais junto ao poder público e aprofunda-se na esfera do poder privado do empregador.
	Há aqui também o fator do gênero, que
em sociedades tradicionalmente patriarcais leva o homem da família a imigrar para seguir sendo o provedor da família. Em uma estrutura vertical de relação, não há espaço no lar para se discutir a situação do subemprego ao qual esses imigrantes se sujeitam, com a mulher exercendo figura complementar e submissa ao cônjuge, incontestante em suas escolhas, que muitas vezes acabam aprofundando a dependência e os riscos que as famílias correm, não só separadas entre países, mas também quando juntas sob a autoridade do empregador nas indústrias terceirizadas. Não é incomum ouvir relatos de abusos sexuais e agressões nesses meios, que, privados de meios de contato com a lei, fomentam a impunidade dos agressores. Além disso releva-se também o fato de os trabalhadores das oficinas de costura serem parentes e amigos, o que retira ainda mais a voz da vítima dos abusos.
	A configuração precarizante da terceirização torna difícil um maior controle ou regulamentação, já que muitas vezes grandes cadeias de lojas de roupas, como Zara ou Walmart, acabam recorrendo a fornecedores que diluem sua produção em oficinas de quintal em zonas periféricas. Antes sob sindicatos em indústrias reguladas, hoje a linha de produção, cada vez mais estratificada, beira um processo artesanal quase não regulado, com máquinas de costura domésticas e uma estrutura física de amparo e qualidade de trabalho incipiente, com ambientes sem janelas, sem segurança para incêndios e alimentação deficitária.
	Assim, tomando um cenário de um “labirinto de espelhos”, o imigrante quando inserido na indústria têxtil imiscui em um descaso do poder público para ajudá-lo e em um interesse fortíssimo do setor privado em garantir a estabilidade de sua condição. A cada golpe desferido para romper um  espelho, com batidas em oficinas, surgem dos cacos outras centenas de imagens menores no lugar, já que o real objeto do problema, a instabilidade regional unida à falta de diálogo e integração reguladora, nunca é o alvo da sociedade quando enfrenta a celeuma da escravidão na indústria têxtil.
Desenvolvimento 
Os trabalhadores
Como apresentado na problemática, os imigrantes sofrem muito com as condições de trabalho e vida no Brasil. Levando em conta o ponto de vista do cientista social norte-americano C. Wright Mills, escritor do livro “ A imaginação sociológica”, podemos abordar o tema a partir da visão do trabalhador explorado. No livro, o autor estabelece a integração entre o indivíduo, história, biografia - referente às suas experiências pessoais - e as instituições sociais. 
Ao analisar a situação dos imigrantes e a forma como se comportam, percebe-se que possuem e utilizam da imaginação sociológica nos seus países de origem, uma vez que já estão familiarizados com o contexto do país, sua história e papel na sociedade. No entanto, quando migram para o Brasil, esta imaginação sociológica passa a ser distorcida e não se aplica ao novo cenário em que se inserem.
Os trabalhadores, utilizando a imaginação sociológica, percebem que por vezes possuem condições de vida precárias em seus países de origem - se comparadas a outras localidades -, e que encontram-se impossibilitados de alterar tal situação por conta do distanciamento entre Estado e sociedade, da baixa mobilidade social e/ou da economia desfavorável.
No entanto, uma vez em solo brasileiro, os imigrantes, mesmo que em condições precárias, não se veem explorados. Isso se deve ao fato de que, erroneamente, comparam a sua situação atual com a original, quando deveriam compará-la com a situação de um trabalhador local. Enxergam o que fazem como uma oportunidade, pois mesmo em situações insalubres possuem melhores condições de sobrevivência, distintas daquelas que vivenciavam anteriormente.
As condições trabalhistas
	Para que se possa analisar a inserção dos imigrantes na cadeia têxtil, é essencial tratar do processo de gestão de recursos humanos em uma empresa, que envolve planejar, atrair, desenvolver e reter funcionários. No entanto, no caso de pequenas oficinas de costura, que contam com um número restrito de aproximadamente 4 funcionários, não é interessante aplicar essas técnicas administrativas. Primeiramente, grandes empresas varejistas buscam enxugar ao máximo os seus custos e, por isso, terceirizam os serviços para que não tenham que arcar com encargos trabalhistas. Assim, as oficinas tem que ser atraentes para serem escolhidas pelos varejistas, pois caso contrário, outras serão, prejudicando apenas esse pequeno grupo. Além disso, caso esses imigrantes optassem por gerir suas pequenas empresas utilizando ferramentas administrativas, eles teriam provavelmente que legalizar a sua organização, pagariam mais impostos e lucrariam menos. Vale lembrar ainda que essas pessoas possuem baixa escolaridade e que o processo de gestão de recursos humanos exigiria ajuda externa e, consequentemente, um elo de confiança com outras instituições. Assim, há um trade off entre ser atraente para os grandes varejistas e tomar decisões segundo pretextos legais.
O ambiente externo, em especial o aspecto legal, provoca grande impacto na gestão de recursos humanos. As empresas não possuem a liberdade de se relacionarem como bem queiram com seus funcionários, uma vez que é exigido que sigam leis trabalhistas e concorrenciais. 
	No Brasil, as leis trabalhistas começaram a surgir efetivamente por volta de 1940, com a criação da CLT, durante o governo Vargas. A partir de então, muitas outras foram sancionadas com o intuito de regulamentar as condições dos trabalhadores. Alguns exemplos são as leis nº 605, nº 4090 e nº 5107, que instituem, respectivamente, a obrigatoriedade de repouso semanal remunerado, o pagamento de salário nos feriados religiosos e civis, o pagamento de décimo terceiro salário e o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS).
	Apesar de ser exigido que as organizações cumpram-nas, é sabido que algumas vezes elas não o fazem. No caso das confecções têxteis, uma das justificativas encontradas para esse fato é justamente o que foi citado: os imigrantes, que compõem parte considerável da sua força de trabalho, muitas vezes acreditam estar em situação de ilegalidade no Brasil e que, assim, não possuem direito à regulamentação trabalhista e seus benefícios. 
	Esse temor é também um dos motivos que leva à retenção dos funcionários nas confecções. Sem o conhecimento de que podem regularizar suas condições no país, os imigrantes acabam por se manterem no trabalho pois têm medo de não encontrar novas oportunidades ou mesmo de serem  extraditados.
O “Desenraizamento” dos imigrantes
Enquanto que a permanência nas confecções se explica principalmente pelo medo da situação de ilegalidade, a permanência dos imigrantes no Brasil muitas vezes se dá pelo fenômeno do “desenraizamento”, provocado pela ruptura entre o indivíduo e sua origem.  Simone Weil descreveu o fenômeno do desenraizamento da seguinte maneira:
“ O desenraizamento é, de longe, a doença mais perigosa das sociedades humanas, pois multiplica-se a si mesmo. Seres verdadeiramente desenraizados não têm senão dois comportamentos possíveis: ou caem numa inércia de alma quase equivalente à morte, como a maior parte dos escravos no tempo do Império Romano, ou se jogam numa atividade que tende sempre a desenraizar, frequentemente pelos métodos mais violentos, aqueles que ainda não estão ou não o estão senão em parte. ”
Na questão da imigração há dois fatores que provocam o “desenraizamento”: o trabalho e a migração propriamente dita. O trabalho é tratado como trampolim da busca por melhorias e novas condições de vida, o que faz com que os imigrantes entrem numa inércia  laboral e vivam apenas para isso. A migração, por sua vez,  apresenta consequências mais significativas: todo ser humano nasce inserido em uma cultura, por meio da língua e tradições de seu grupo. No entanto, quando um indivíduo perde tais domínios (aculturação), ele é condenado à incomunicabilidade e até mesmo a implicações psicológicas. 
O homem desenraizado sofre em primeiro momento,
mas também pode tirar proveito de sua experiência por meio da tolerância e da curiosidade.	Ou seja: o imigrante que ingressa no país como um indivíduo alheio ao resto da sociedade necessita de muito tempo para se sentir confortável, por ainda estar fortemente ligado ao seu país de origem; porém, o real problema aparece quando o imigrante sofre de aculturação por ter se afastado de sua cultura nativa, perdendo a sua essência como indivíduo por não se sentir parte de nenhuma das culturas com que teve contato.
Durante a reunião com a presidente da PAL, Oriana Isabel Jara Carmona, formada em psicologia, foi citado o problema da solidão (e do abandono) que assola os imigrantes, e em especial, as mulheres imigrantes. Tal solidão se amplia devido ao machismo - presente tanto na sociedade brasileira quanto nas sociedades de origem dos imigrante - e à rotina cansativa de trabalho, que não permite que relações interpessoais se enraízem. No texto “A solidão do imigrante”, de Marisa Arruda Barbosa, a superficialidade das relações com companheiros de trabalho se confirma: “são poucos que fazem amigos íntimos na correria de uma vida marcada por vários trabalhos”.                                                                  
A Cadeia Têxtil
Até o momento, foi feita a análise da cadeia têxtil do ponto de vista dos trabalhadores e, mais especificamente, dos imigrantes explorados. No entanto, é necessário tratar também da questão a partir do ponto de vista dos produtores e vendedores.
Começaremos a análise da cadeia têxtil abordando a sua estrutura e a orientação de cada agente nela envolvida, focando em três grandes grupos: fornecedores, varejistas e intermediários. 
Os fornecedores detêm grande parte do poder de mercado da cadeia, apesar de as grandes corporações envolvidas não possuírem porções muito grandes de market share, e são, em sua maioria, orientados segundo uma priorização da produção. 
Na outra ponta, os grandes varejistas - e mesmo alguns dos menores - transitam entre orientações para produção, produto e/ou mercado, a depender do nível de envolvimento e responsabilidade socioambiental que assumirem. 
Já para os intermediários - entre eles distribuidores e oficinas de corte/costura -, a pressão resultante dos poderes de mercado superiores nas duas extremidades os comprime e direciona para orientações voltadas para produção (no geral, sob condições intensificadas e de alta competitividade).
A pressão sobre os intermediários, no entanto, não vem apenas dos extremos da cadeia, ela pode ser encontrada também entre os próprios intermediários (distribuidores e oficinas de corte e costura). Os entrantes potenciais representam ameaça considerável aos intermediários existentes em decorrência da demanda excessiva. Caso uma oficina de costura feche, por exemplo, não há muitas barreiras para que outra oficina seja aberta e assuma sua porção de mercado.
Ao fazer uma análise dessa cadeia, percebe-se, portanto, que ela segue, principalmente, a orientação para a produção. Ou seja, busca oferecer sempre produtos fáceis de encontrar a um baixo custo. Para que isso seja possível, é preciso diminuir ao máximo todos os custos de produção. Uma vez que os recursos humanos, os trabalhadores, fazem parte desses custos, a lógica também se aplica a eles: quanto menor for o gasto com os trabalhadores, melhor para os agentes. 
Observa-se, assim, que a exploração do trabalhador é praticamente iminente na cadeia têxtil por conta da forma como está estruturada. Os intermediários são pressionados pelos fornecedores, que são, por sua vez, pressionados pelos varejistas, e o que une todos os agentes é a busca pelo menor custo. 
A divisão do trabalho e a exploração do trabalhador
	Outra coisa também iminente na cadeia têxtil é a divisão do trabalho. Desde os fornecedores até os vendedores, o que encontramos é a intensa segmentação do trabalho: há o processo de fiação, malharia, tecelagem, linhas de costura, aplicação de etiquetas e muitos outros. Sendo que, geralmente, temos um trabalhador distinto responsável por cada atividade.
Durkheim, um dos clássicos da sociologia, defendia que essa divisão do trabalho era essencial para uma sociedade, sendo a responsável por garantir seu bom funcionamento, em um primeiro momento harmônico. 
Marx,  por sua vez, analisa a divisão em suas obras de maneira distinta: afirma que segue uma forma que faz com que sempre hajam classes dominantes e classes dominadas, necessariamente em conflito entre si. Ao observar a cadeia têxtil, é fácil aplicar essa teoria: temos, de um lado, os imigrantes lutando por seus direitos e, do outro, os proprietários tentando garantir a sua hegemonia. O trabalhador é explorado para que o "patrão" seja capaz de maximizar seus lucros. 
A responsabilidade social da cadeia e sua ética
Uma das formas utilizadas para identificar se uma organização está explorando seus trabalhadores, ou ferindo de qualquer modo suas condições, é a análise da responsabilidade social e ética empresarial. Em se tratando especificamente da cadeia têxtil, observa-se que boa parte dos agentes inseridos sofrem com prolemas nesse quesito. A utilização de trabalho análogo à escravidão nas confecções e sua conseguinte contratação pelas empresas fere, de maneira muito evidente, o teste de quatro vias, que permite analisar se uma empresa é ética ou não:  “Isso é verdade?, Isso é justo?, Isso desenvolverá a boa vontade e amizade? Isso será benéfico para todos?”.
	Os padrões de certo e errado que influenciam o comportamento (a ética) são afetados por três fatores principais: traços de personalidade e atitudes, desenvolvimento moral e situação. No caso específico analisado, percebe-se fortemente a influência da situação no comportamento ético empresarial: a forte competição entre as empresas e a falta de supervisão das confecções  faz com que essas tendam a ser antiéticas, uma vez que precisam apresentar, ao mesmo tempo, o maior excedente econômico possível e não necessitam “provar” seu “ bom comportamento” para ninguém.
No que tange a responsabilidade social, percebe-se que as empresas não tomam suas decisões levando em consideração as necessidades e os interesses dos consumidores, nem os requisitos da empresa e muito menos os interesses da sociedade no longo prazo. 
Os Consumidores
Apesar de toda a problemática já aqui apresentada, grande parte dos consumidores não se importa com a procedência de suas roupas.  Por que isso acontece?
A resposta para essa pergunta está na forma como os consumidores estão acostumados a comprar. 
O desejo de um indivíduo por comprar uma roupa é centrífugo, é um impulso cuja fonte está na roupa, e não em algo intrínseco ao ser. Ou seja, o consumidor vê a roupa não apenas como uma vestimenta, mas como algo a mais. A roupa é um signo, é um ente de relacionamentos. O consumidor, ao comprá-la, busca, na verdade, o sentimento de pertencimento, de aceitação na sociedade. 
Ao selecionarem os produtos que comprarão e escolherem os pontos de venda a que recorrerão, os consumidores do varejo têxtil passam por processos decisórios distintos de acordo com a utilidade e a subjetividade daquele consumo.
Aos clientes são ofertadas, principalmente, duas formas de consumo: o consumo em massa e o elitizado. Enquanto os vendedores voltados para o consumo em massa focam em peças menos trabalhadas, sem precificação de marcas renomadas, maior quantidade vendida e menor receita por venda; os voltados para o consumo elitizado ofertam peças mais elaboradas, com valor de marca, menor  quantidade e maior receita por venda.
Ao analisarmos os fatores que influenciam na decisão dos consumidores na hora de efetuar ou não uma compra, devemos entender que antes de tudo a compra e o consumismo são fatores culturais. Tal cultura gera implicações muito complexas na sociedade em geral, por exemplo: pessoas preferem estar com um carro novo ao invés de financiar uma casa própria. Isso, trazido a níveis não tão extremos, "causa o ofuscamento das práticas imorais que estão por trás de certo produto”.
Por tal citação podemos abordar o tema desse trabalho, um problema relacionado aos consumidores que, mesmo cientes das práticas por trás de muitos produtos da cadeia têxtil, compram deliberadamente roupas provenientes do trabalho análogo à escravidão apenas por uma questão de status ou para se adequar aos exigentes padrões da moda contemporânea (fast fashion).
Porém, não podemos atribuir toda a “culpa” apenas à cultura de consumismo exagerado. Outro fator importantíssimo é a limitação financeira dos brasileiros em geral, que muitas vezes não conseguem arcar com preços elevados em suas compras e acabam optando pela opção mais barata, assim não se importando com a origem do produto adquirido.
A “opção mais barata” é, normalmente, vinda da exploração e dos abusos sobre o trabalhador. Por isso, pode-se  afirmar que a demanda pelos produtos de procedência ilegal é, e irá continuar, alta enquanto a desigualdade e a cultura selvagem de consumismo imperarem no país.
Propostas de solução
	Conforme as análises realizadas na problemática e desenvolvimento acima, percebe-se que a chave do problema dos imigrantes na cadeia têxtil se encontra, principalmente, em dois fatores: o alto grau de competitividade do varejo têxtil e o fato de os trabalhadores não possuírem a consciência de seus direitos civis e trabalhistas. 
Diante disso, para que uma solução para tal problema seja criada, é necessário pensar em todos os núcleos envolvidos (consumidores, produtores e trabalhadores) de modo interligado. Chegamos à conclusão de que o melhor modelo seria um baseado em desconstruir a noção de direitos dos imigrantes, aliando isso a políticas de correção e verificação da responsabilidade social de empresas infratoras. 
Em função da iminência por atitudes efetivas, o primeiro passo na aplicação de nosso método de solução seria a intensificação da fiscalização das empresas, adicionando a exigência de indicadores de legitimidade, como o certificado WRAP - Worldwide Responsible Accredited Production - que consiste na classificação da cadeia de produção das entidades em três categorias -platina, ouro e prata - de acordo com o cumprimento e manutenção de 12 princípios, dentre os quais podemos citar: o comprometimento com as leis e regulações trabalhistas, a proibição de abusos, de trabalho involuntário e infantil, e a preocupação com a saúde e segurança. O certificado dura de 2 anos a seis meses, variando de acordo com a categoria, e visa inferir a garantia de uma cadeia de produção idônea. 
A adição deste tipo de exigência seria benéfico tanto para os trabalhadores, ao passo em que poderiam confiar em seus empregadores, quanto para os próprios empregadores, pois traria a imagem da entidade ética para os seus estabelecimentos. As empresas poderiam projetar não só vestimentas agradáveis, mas também benéficas para a sociedade, abordando uma orientação para o marketing de responsabilidade social.	 			
Conjuntamente às duas medidas já citadas, prevemos também a veiculação constante de propagandas e campanhas estatais na busca da conscientização dos consumidores acerca da situação de trabalho dos imigrantes. As campanhas também demonstrariam como a situação dos imigrantes é financiada e incentivada pelos hábitos de compras dos consumidores, a fim de criar um movimento contrário a aquisição de produtos provenientes de empresas relacionadas a casos de exploração, de caráter duvidoso, ou que não possuam certificado WRAP ou semelhantes.
No intuito de reverter o pensamento errôneo dos imigrantes, concordamos com a adoção de eventos e programas destinados principalmente a eles, mas também para a sociedade em geral, organizados por ONG’s como a PAL ou outras, em que se reverta a corrosão da imagem do imigrante e o desvencilhe da prerrogativa pejorativa de serem  tidos como uma forma de parasitas do país em que vivem. Nesse processo, é de suma importância a erradicação do sentimento de inferioridade de dentro do pensamento dos imigrantes, para que esses não se vejam fadados à marginalização, e percebam que é apenas um obstáculo prestes a ser superado e extinto. 
A partir do momento em que foi feita a erradicação do sentimento de inferioridade, o imigrante se vê capaz de recuperar sua autoestima e apreço pelo trabalho, o que incentiva a sua participação em programas de auxílio e na regularização de sua situação com o departamento de imigração brasileiro. 
Uma proposta vista pelo grupo como interessante é a de programas que visem auxiliar os trabalhadores a procurar novos ofícios, de forma legal - ou até mesmo, a empreender, como o caso do projeto realizado pela PAL, “Tecendo sonhos”, no qual ensinam as diretrizes necessárias a criação de empresas, estratégias de vendas e precificação.
Até agora as ações de nosso modelo baseiam-se, principalmente, nos trabalhadores já inseridos na cadeia têxtil, entretanto, para que os efeitos positivos deste sejam prolongados e consolidados, faz-se necessária a adesão de outros agentes sociais em nossa solução. 
Pensando nisso, propomos em inserir na realidade dos filhos dos imigrantes, desde cedo, as propostas sobre a derrubada do preconceito ao imigrante e sua valorização. Essa inserção se daria, principalmente, através  das mães, em consequência da tradição machista das sociedades latino-americanas, na qual há a crença de que o conhecimento é passado de mãe para filho. Distanciando-se da abordagem mais direta, acreditamos também em programas dentro das escolas, onde, desde os primeiros anos escolares, se trabalhe a questão da igualdade entre os nativos e imigrantes. 
Por fim, uma proposta mais radical, que Oriana discutiu com o nosso grupo, foi a do mapeamento das oficinas de costura através de uma parceria com órgãos públicos. Apesar da dificuldade tanto de encontrar essas oficinas por serem muito pequenas, quanto no que tange questões mais complexas, como por exemplo a confiança entre o trabalhador e o governo, praticamente inexistente no cotidiano do imigrante, essa solução se implementada cortaria o mal pela raiz. Caso o mapeamento se concretizasse, seria fácil identificar a oficina e aplicar as devidas medidas para impedir o trabalho análogo a escravidão. No entanto, essa é uma ideia distante do círculo político, já que infelizmente esse problema não é uma prioridade em suas agendas.
Além disso, é importante destacar que para que a proposta do mapeamento fosse realmente eficaz, a fiscalização e combate às condições análogas a escravidão deveriam se dar em todas as oficinas ao mesmo tempo. Isso porque, se apenas algumas oficinas fechassem, os imigrantes que se vissem desempregados acabariam por buscar uma nova oficina. Por isso, o projeto que visa ajudar os imigrantes a procurar novos oficios é de certa forma complementar ao mapeamento.  
Analisando as propostas de solução, percebe-se que a sua consecução traria uma série de benefícios diretos.  Em primeiro lugar,  destaca-se a conquista da ciência, por parte do trabalhador, de sua exploração. Através dos eventos e programas, o imigrante se torna capaz de reformular sua imaginação sociológica, agora com os padrões do local em que vive, recuperando o conceito de Mills. Com isso, o trabalhador, antes explorado, agora possui maior autonomia em relação aos fatores que o limitavam. O imigrante pode se desvincular de seu antigo empregador desonesto e reconhecer seu papel na sociedade, passando a fazer parte consciente da luta de classes.
Além disso, caso bem sucedidas, as propostas anteriormente citadas levariam os estrangeiros em condição análoga à escravidão a adquirir os benefícios advindos da legalização, tanto no âmbito trabalhista, quanto no civil. 
É de se esperar também, em consequência da adesão do certificado WRAP e da série de propagandas de conscientização a respeito da questão, uma mudança no posicionamento das empresas em relação a este problema e uma maior conscientização da população sobre o assunto. Tudo isso levaria a uma reiteração dos conceitos de ética e valores organizacionais, afetando não só o setor têxtil, mas toda
a economia.
Nos parágrafos anteriores apresentamos aquilo que, segundos nossos ideais, seria uma solução não só viável, mas de extrema eficácia e que possui, em função do modo de execução e dos detalhes que a permeiam, uma das características mais louváveis possível: ser duradoura. Entretanto, temos a ciência de que a realidade é dura e que o caminho até sua conclusão será tortuoso.
Conclusão 
Para concluirmos o trabalho, tomemos uma reflexão que percorra o pensamento sociológico tendo a participação política como fenômeno. Em perspectiva, discorre o sociólogo Lewis Coser, sobre as funções dos conflitos sociais: para que uma comunidade se forme é primordial haver diferenças, pois as pessoas estão mais ligadas ao conflito verbal que à concordância. É portanto através do litígio que se dá a construção de uma sociedade de participação mais refinada, isto é, com maiores graus de envolvimento, consciência de Ser enquanto ente político e participação ativa. 
A participação profunda e ativa é o que constitui a celeuma central aqui abordada. Imigrantes feitos escravos em metrópoles como São Paulo o são por ao mesmo tempo não se reconhecerem como um Ser pleno na sociedade junto à qual trabalham, mas também por serem reconhecidos como o Outro pelos que usufruem de seus serviços, seja direta ou indiretamente.
A partir do momento que se tem um reconhecimento (Anerkennung), o agir comunicativo tem papel transformador, destruindo a oposição enquanto constructo social que faz do imigrante o Outro. Permite-se com a participação política dos patrícios e forâneos de forma conjunta, como aborda Habermas de modo complementar a Coser, que ambos se imiscuam nas instituições e exerçam seus direitos de forma concreta e universal.
Isso se dá pela participação justamente porque é através dela que o imigrante poderá se enxergar como sujeito de direitos trabalhistas, além de ser visto como tal pela sociedade de foram complementar.
De forma análoga, retomemos aqui novamente a noção anteriormente mencionada de patrícios para um resumo. Assim como os plebeus em Roma subiram às colinas para exigir participação política por seus trabalhos, cabe à população, imigrante ou não, ocupar as instituições para exercer os direitos positivados, para cobrar que deveres legais sejam cumpridos. Mais do que exercer direitos de uma sociedade como nação, cabe aos brasileiros e aos imigrantes que para cá rumam exercerem seus direitos em conjunto como povos, como já distingue Habermas em A Constituição da Europa.
Se hoje as colinas de Roma se ocupam com imigrantes refugiados e a eles os direitos humanos não podem ser negados, também no planalto de Piratinga ou por toda a Terra Brasilis deverá, sob o manto das declarações de 1789, 1948 etc imperar hoje mais do que nunca pela participação diligente nas relações intersubjetivas a máxima latina: Pacta sunt servanda.
Bibliografia
MAALOUF, Jorge. O sofrimento de imigrantes, um estudo clínico sobre os efeitos do desenraizamento no self
WEIL, Simone Weil. O Enraizamento
TODOROV, Tzvetan. O Homem desenraizado
SENNET, Richard. A corrosão do caráter. 
FERREIRA, Ademir; REIS, Ana; LUSSIER, Robert. Fundamentos de administração. Tradução: Gulherme R. Basilio e Marta R. G. Passos. 
http://www.wrapcompliance.org/en/certification 
https://sites.google.com/site/presencadaamericalatinapal/ 
 http://aliancaempreendedora.org.br/alianca-empreendedora-e-fundacao-rockfeller-capacitaram-imigrantes-latinos-a-empreender-uma-cadeia-da-moda-mais-justa-em-sao-paulo/ 
 http://aliancaempreendedora.org.br/tecendo-sonhos-organizacoes-aliadas-recebem-treinamento-para-capacitar-empreendedores-imigrantes-latinos-de-sao-paulo-sp/ 
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