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JUSNATURALISMO, KANT, DIREITO, MORAL E JUSTIÇA

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MÓDULO VI – JUSNATURALISMO, KANT, DIREITO, MORAL E JUSTIÇA
A filosofia escolástica exaltava a existência de uma lei divina. Dentro dessa concepção, tal lei não possuiria nenhuma espécie de erro ou falha, em função de sua natureza transcendente; dessa forma, além de perfeita, seria imutável.
Essa concepção surge, de modo cristalino, nas concepções de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. A Cidade de Deus é o lugar regido pela lei divina que contrasta com a cidade dos homens, regida pela lei humana. A tarefa de incorporar a lei divina no âmbito da lei humana é o que deve ser realizado pelo Direito. Ressalte-se que se trata de uma tarefa dificílima. Na concepção tomista há uma lei eterna, uma lei natural e uma lei humana. A lei eterna regula toda a ordem cósmica (céu, estrelas, constelações etc.) e a lei natural é decorrente dessa lei eterna. Fica claro nas duas concepções, sinteticamente resenhadas anteriormente, que a lei superior (a divina, para Santo Agostinho, e a eterna, para Santo Tomás de Aquino emana de uma força sobre-humana, qual seja: Deus.
Para colocar um novo centro nessa concepção é que surge o direito natural. O Jusnaturalismo moderno elege a reta razão como guia das ações humanas. Grócio assim define o direito natural:
 “O mandamento da razão que indica a lealdade moral ou a necessidade moral inerente a uma ação qualquer mediante o acordo ou o desacordo desta com a natureza racional.”[2]
Essa mudança de centro, verdadeira revolução copernicana na esfera do Direito, indica um novo caminho a ser percorrido pela Ciência Jurídica, que deixa de estar ligada à concepção místico-religiosa, para buscar ser fundamento último na razão.
O direito natural divide-se em duas fases. A primeira fase, a antiga, tem início na Cidade-estado grega e usa a natureza como fonte da lei que “tem imensa força em toda parte e independe da diversidade das opiniões”.
Grócio inaugura uma nova concepção do direito natural. O princípio último de todas as coisas não seria mais Deus, nem a natureza, mas a razão. Estava criada a Escola Clássica do Direito Natural, que teve diversos representantes, entre eles, serão objeto de nosso estudo: Hugo Grócio, Samuel Pufendorf e John Locke.
Os diferentes autores da Escola Clássica do Direito Natural não necessariamente concordavam entre si. Autores como Henrique e Samuel Coccejo, Leibiniz e Joan Cristian Von Wolf adotaram uma posição antirracionalista afirmando, categoricamente, que Deus é a fonte última do direito natural, o que contrariava a famosa assertiva de Grócio: “O Direito Natural existiria mesmo que Deus não existisse, ou ainda que Deus não cuidasse das coisas humanas.”[3]
Hugo Grócio, nascido na Holanda, na cidade de Delf, no ano de 1583, filho de pai protestante e mãe católica. Seus primeiros trabalhos intelectuais versaram sobre: filologia, poesia, histórica e teologia. A partir de 1607, ano em que inicia o exercício da advocacia na cidade da Haia (sede do governo holandês), passa a interessar-se pelas questões do Direito. Sua principal obra, na qual expõe sua concepção do direito natural, é De Jure Belli ac Pacis, publicada no ano de 1625.
A doutrina do direito natural de Hugo Grócio reflete o desejo de autonomia, que se manifesta, de modo inicial, em relação à Teocracia.
 Não é mais Deus ou a ordem divina o substrato do Direito, mas a natureza humana e a natureza das coisas. Não há possibilidade de uma sanção religiosa. O direito natural não mudaria seus ditames na hipótese da inexistência de Deus, nem poderia ser modificado por ele.
“Portanto, não há nada de arbitrário no direito natural, como há arbitrariedade na aritmética. Os ditames da reta razão são o que a natureza humana das coisas ordenam.”¹
O método dedutivo, influência do raciocínio matemático e geométrico, é o que possibilita à reta razão alcançar as regras invariáveis da natureza humana.
Essa ideia, cara à Escola Clássica do Direito Natural, faz dele um Direito imutável, perene às transformações históricas e não suscetível aos diversos costumes e tradições dos diferentes povos. Essa divisão difere radicalmente da de Miguel Reale, que advoga a existência não de um direito natural imutável, mas problemático e conjetural, que vai acolhendo diversos valores no percurso da história:
De tais paradigmas axiológicos resultam determinadas normas que são consideradas ideias diretoras universais da conduta ética, costumeira e jurídica. A essas normas, que nos permitem compreender a natureza e os limites do direito positivo, é que denomino Direito Natural, de caráter problemático-conjetural.”²
Conclui-se, portanto que o direito natural surge pela primeira vez na história do pensamento com os gregos. Dessa feita, sua grande contribuição é mostrar a ligação do Direito com as forças e as leis da natureza. Na segunda oportunidade que vem à tona, no século XVII, o direito natural aparece como reação racionalista à situação teocêntrica na qual o Direito fora colocado durante o medievo.
Deus deixa de ser visto como emanador das normas jurídicas, ou como última justificação para a existência das mesmas e a natureza passa a ocupar esse lugar. Trata-se da acentuada passagem do pensamento teocêntrico ao antropocêntrico. Ora, com um detalhe: a natureza não dá aos homens esse entendimento; é ele mesmo, por meio de uso da razão, que apreende esse conhecimento e o coloca em prática na sociedade.
Esse novo pensamento prepara as bases intelectuais da Revolução Francesa (1789), que rompe, de modo definitivo e prático, com a teocracia e afirma, categoricamente, os direitos naturais. Rousseau, o próximo pensador a ser analisado, aprofunda e explicita a ideia do novo consenso realizado por meio dos contratos.
Agora, vamos tratar da filosofia kantiana.
Os estudiosos da filosofia costumam dizer que se pode adorar Kant ou detestar Kant. Segui-lo às últimas consequências ou abominá-lo. Só não se pode ignorar Kant.
Emmanuel Kant – 1724-1804 – transformou o mundo da filosofia com sua produção na esfera da metafísica, epistemologia, ética e estética.
Kant se impressionou com os escritos de Rousseau, notadamente o livro IV de Emílio. Desenvolveu a ideia rousseauniana de que a moral é assunto do coração e não da inteligência. A moralidade não pode ser privilégio do sábio, pois não é preciso conhecer as leis da natureza para que alguém se disponha a atuar como um ser moral. Todos os homens, independentemente de sua escolaridade ou erudição, foram chamados a uma vida impregnada de moralidade. Não há ser humano provido de discernimento incapaz de desconhecer o seu dever.
Foi em David Hume que Kant encontrou a ideia fundamental de que a partir do conhecimento empírico ou metafísico – suficiente para mostrar aquilo que é – não se extrai a regra daquilo que deve ser. A experiência é sempre concreta e não suscita a dedução de leis universais.
A partir daí, Kant concluiu que as leis universais são conhecidas pelo sujeito graças a um julgamento sintético a priori. O raciocínio kantiano é o seguinte: se uma parte da ciência existe e outra parte não pode resultar apenas da experiência, é porque ela é o produto de uma síntese operada pelo sujeito do conhecimento a partir de suas sensações. Esse conhecimento não resulta de uma síntese a posteriori que consistiria em associar os termos constatados na experiência, mas de uma síntese a priori, isto é, anterior à própria experiência.
Hume não admitia a existência de julgamentos sintéticos a priori, ou seja, que se explicam por outra coisa senão a experiência. Kant afirma, ao contrário, que se a ciência existe e não pode se fundar inteiramente sobre a experiência, é necessário que existam elementos a priori no conhecimento.
Essa base adquire relevo também para a moral. A concepção humana da moral não pode depender unicamente da experiência. Ela deve também se alicerçar sobre um julgamento sintético a priori, que será um julgamento prático.
Kant desenvolve a ideia de que a ciência e a moral são realidades outorgadas. Não se trata de criar uma ciência ou uma moral, mas de se indagar
a quais condições a ciência e a moral se subordinam. Ou seja, como conceber a realidade para que ciência e moral sejam possíveis no convívio humano.
A Crítica da Razão Pura responde à indagação a respeito da ciência e a Crítica da Razão Prática e o Fundamento da Metafísica dos costumes respondem à questão pertinente à moral. A condição do conhecimento e da obrigação moral é o sujeito transcendental. É o ser humano em sua concepção ideal, não aquele sujeito com a sua contingência. Não é o homem constatado pelo empirismo, pela história e pela sua caracterização meramente conjuntural.
A condição da moralidade é a boa vontade. Qual é o elemento a que se possa religar a moralidade? Existe alguma coisa que se possa considerar como incondicionalmente bom, como bom em si? Ao contrário de todos os moralistas anteriores, Kant afirma que as virtudes tradicionais não são incondicionalmente boas, pois elas tanto podem servir para fazer o bem, como para fazer o mal. A inteligência, a coragem, a temperança, a prudência, podem ser exercidas e podem ser encontradas num ser imoral. Aliás, o mau provido de inteligência, de coragem, de temperança e de prudência, representa um perigo muito maior. Ele poderá potencializar o mau uso dessas virtudes com vistas a maximizar a sua capacidade de causar o mal.
Por isso é que a ideia de moralidade tem de ser vinculada à vontade de usar moralmente as virtudes. É o conceito de boa vontade. Esse é o elemento necessário e também suficiente a que alguém seja um ser moral. Por isso é que Kant concebe a moralidade do sujeito, desvinculada das consequências e da utilidade de seus atos. A utilidade não pode ser o critério da moralidade, porque o egoísta é imoral, embora sua conduta possa vir a ser concretamente útil. O critério distintivo da moralidade é a intenção moral.
Kant vai aperfeiçoar as noções de intenção moral e de boa vontade com recurso à ideia de dever. Se temos um dever, ele precisará de boa vontade para ser cumprido. Só que a mera conformidade com a observância do dever é insuficiente para aferir da moralidade do ato. Cumpre-se o dever por várias razões. Às vezes, é conveniente parecer bom. Há quem dê esmolas por interesse na edificação de uma boa imagem. Há um marketing da filantropia muito em voga nas sociedades emergentes. O novo rico quantas vezes não quer posar de mecenas? Outras vezes, é ser atento à moral por receio, ou por medo, ou por conveniência. Até mesmo para se obter uma recompensa.
O comerciante honesto, com seus clientes cujo objetivo único é conseguir melhores negócios, não é um ser moral. As empresas que recorrem ao marketing ecológico – intuito de se adequar a uma expectativa de comportamento hoje em voga – e não acreditam na preservação, mas preferem o desenvolvimento a qualquer custo, não podem ser consideradas entidades morais.
Aquilo que efetivamente interessa é perquirir o foro íntimo de quem age moralmente. Há intenção reta e consciente de se agir de maneira moral? Um ato só pode ser considerado moralmente bom se praticado não por interesse, pressão social, conveniência, simpatia, sensibilidade ou mera inclinação desprovida de convencimento. O que prepondera é o sentimento do dever, o respeito convicto à lei moral. O dever é a necessidade de praticar uma ação pelo mero respeito em relação ao comando moral que a determina.
 
Pressuposta a realidade de que se deve agir por dever, como saber quais são as regras que impõem deveres e às quais se prestará observância? Nem todas as regras existentes são providas desse atributo. Há preceitos que, embora cumpridos, não significam observância ao dever moral.
Entre as regras adotadas pelos homens, Kant distingue as máximas e as leis práticas. As primeiras são subjetivas, pois são consideradas valiosas pela vontade mesma do sujeito. As leis práticas fruem do requisito da objetividade. São reconhecidas como valiosas por todos os entes racionais.
Só será moral a máxima a que me submeto, se ela puder se converter numa lei prática. Ou seja: aquele dever que me é dado cumprir seria consenso em relação à sua obrigatoriedade por toda a espécie humana. Aí vem a célebre fórmula da lei moral estabelecida por Kant: “Aja sempre de acordo com a máxima tal que se possa querer, ao mesmo tempo, que ela se converta em lei universal”.
Quando uma lei particular pode revestir o atributo de lei universal, isso se chama imperativo categórico. Imperativo, pois é um dever possível, diante da razão e da vontade humana, de se adotar ou rejeitar. Categórico, pois é um comando não subordinado a qualquer fim. Preceito incondicional, resultado da adesão de minha razão e de minha vontade àquilo que considero moral.
Chaïm Perelman sublinha as consequências concretas dessa concepção de ato moral coincidente com atuação conforme ao imperativo categórico. Quer dizer, uma regra que pode ser elevada à categoria de lei universal. “Se eu prometo sem ter a intenção de manter minha promessa, mas para me desembaraçar de alguém importuno, por exemplo, isso pode me ser útil. Entretanto, não posso pretender erigir o motivo dessa ação em lei universal, pois se as pessoas não honrarem suas promessas, isso resultaria em falta de confiança generalizada. Esse ato não é, portanto, conforme o imperativo categórico. É, por consequência, um ato imoral. Da mesma forma, a mentira: eu não posso querer que todos mintam, pois então não haveria mais possibilidade de comunicação e de confiança”[4].
A forma exterior da atuação humana carece de sentido para a concepção kantiana de moral. Diz respeito à licitude, à legalidade, mas não tem pertinência com a ética. Por isso é que basta a vontade da prática do mal e tal pensamento contaminou a higidez moral de quem foi por ele acometido. Ideia bastante aproximada a de pecado, pois pode-se pecar por ações, palavras, omissões e pensamentos.  
A moral kantiana segue uma linha evolutiva a partir da vinculação dos preceitos morais à religião. A lei moral ditada por Deus e que Rousseau tentou substituir pela voz da consciência, Kant pretendeu atribuir ao imperativo da razão prática. Seria a “moral exclusivamente humana. Desaparecem os deveres com Deus, como mostra particularmente a evolução do Direito Penal no final do século XVIII. Essa quase religião do homem ocupou o lugar da teologia. Mas a famosa moral kantiana, profana, adaptada à Europa secularizada tira sua substância do Evangelho: ‘Não farás a outrem aquilo que não queres que te façam’. Péguy demonstrou-o: a Razão subjetiva moderna, transformada em princípio da moral ‘laica’ dos mestres-escolas, é fruto da moral cristã-estoica”[5].  
Cumpre distinguir, do imperativo categórico, o imperativo hipotético. Imperativo hipotético é aquele cujo comando é condicionado pelo desejo de realizar um fim. Devo agir assim se eu quiser atender a essa finalidade.
O vínculo entre finalidade e meios necessários a seu alcance resulta de uma análise concreta. Clarifique-se a ideia. Se todos os homens procuram a felicidade, os meios a tanto destinados deveriam ser categóricos, pois a finalidade é única. Essa constatação seria indiscutível se a felicidade fosse uma noção clara, una e determinada para todos. Todavia, lembra Kant, nada é mais confuso e indeterminado do que esta noção. Cada qual tem seu próprio conceito sobre ser feliz. Se essa ideia é heterogênea e dependente de uma série de fatores – sexo, idade, cultura, ideologia, filosofia existencial, religião, idiossincrasias etc. – sua busca não pode se subordinar a instrumental único. Por isso é que cada pessoa, depois de delimitar o seu conceito de felicidade, vai determinar os meios para a sua consecução. Meios que serão, portanto, hipotéticos. A cada noção, uma hipótese de via a ser percorrida pelo interessado.
Para isso é preciso desenvolver a prudência. Kant define a prudência como a habilidade na escolha dos meios de se atender à finalidade da busca da felicidade pessoal.
A influência de Kant se espraia por vários domínios do pensamento. Todavia, a ética é parte fundamental de suas cogitações, “o que fica claro
na formulação dos problemas centrais da filosofia, ou de suas 'áreas' segundo a Lógica: O que posso saber? O que devo fazer? O que é lícito esperar? O que é o homem? Kant apresenta a seguinte conclusão: ‘À primeira questão, responde à metafísica; à segunda, a moral; à terceira, a religião; e à quarta, a antropologia. Mas, no fundo, poderíamos atribuir todas à antropologia porque as três primeiras questões remetem à última’. A reflexão ética deve assim, de uma perspectiva filosófica, orientar-nos na resposta à segunda questão”[6].
É interessante que consideremos alguns textos de Kant:
Resposta à pergunta: “Que é o esclarecimento?”
“O Esclarecimento é a saída do homem da condição de menoridade auto-imposta. Menoridade é a incapacidade de servir-se de seu entendimento sem a orientação de um outro. Essa menoridade é autoimposta quando a causa da mesma reside na carência não de entendimento, mas de decisão e coragem em fazer uso de seu próprio entendimento sem a orientação alheia. Sapere aude! Tenha coragem em servir-se de teu próprio entendimento! Este é o mote do Esclarecimento.
Preguiça e covardia são as causas que explicam por que uma grande parte dos seres humanos, mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da orientação alheia (naturaliter maiorennes), ainda permanecem, com gosto e por toda a vida, na condição de menoridade. As mesmas causas explicam por que parece tão fácil outros afirmarem-se como seus tutores. É tão confortável ser menor!”[7].
 Da diferença entre conhecimento puro e empírico
 “Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência; do contrário, por meio de que deveria o poder de conhecimento ser despertado para o exercício senão através de objetos que impressionam os nossos sentidos e em parte produzem por si próprios representações, em parte põem em movimento a atividade do nosso entendimento a fim de compará-las, conectá-las ou separá-las, e deste modo trabalhar a matéria bruta das impressões sensíveis com vistas a um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum conhecimento precede em nós a experiência, e todo o conhecimento começa com ela”[8].
 Transição do conhecimento moral da razão vulgar para o conhecimento filosófico
 “Neste mundo, e também fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não ser uma só coisa: uma boa vontade. Discernimento, argúcia de espírito, capacidade de julgar e como quer que possam chamar-se os demais talentos do espírito, ou ainda coragem, decisão, constância de propósito, como qualidades do temperamento, são sem dúvida a muitos respeitos coisas boas e desejáveis; mas também podem tornar-se extremamente más e prejudiciais se a vontade, que haja de fazer uso destes dons naturais e cuja constituição particular por isso se chama caráter, não for boa. O mesmo acontece com os dons da fortuna. Poder, riqueza, honra, mesmo a saúde, e todo o bem-estar e contentamento com a sua sorte, sob o nome de felicidade, dão ânimo que muitas vezes por isso mesmo desanda em soberba, se não existir também a boa vontade que corrija a sua influência sobre a alma e juntamente todo o princípio de agir e lhe dê utilidade geral; isto sem mencionar o fato de que um espectador razoável e imparcial, em face da prosperidade ininterrupta duma pessoa a quem não adorna nenhum traço duma pura e boa vontade, nunca poderá sentir satisfação, e assim a boa vontade parece constituir a condição indispensável do próprio fato de ser."
Por derradeiro, vamos tratar do Direito, da Moral e da Justiça.
Primeiramente tratemos do tema Direito e Moral, analisando as regras morais e jurídicas como o circuito do dever-ser [9].
As regras jurídicas não estão isoladas na constituição do espaço do dever-ser social. Há discursos fundantes de práticas determinadoras de comportamento, dos quais temos a religião como dispersora de modos de ação (corretos, bons, adequados, virtuosos), a moral como constitutiva de um grupo de valores predominantes para um grupo ou para uma sociedade (e suas derivações, como a moral dos justos, a moral dos vencedores, a moral do “morro”, a moral da prisão), as regras do agir no trabalho constitutivas de ordem e imperativos de eficácia e organização funcional (sem que necessariamente sejam regras jurídico-trabalhistas), entre os quais aparece o discurso jurídico-normativo. 
A norma jurídica é mais uma das possíveis formas de constituição de mecanismos de subjetivação dos indivíduos, pertencendo à ordem das regras imperativas, politicamente determinadas, objetivamente apresentadas, das quais, sob nenhuma excusa (salvo as previstas em lei), pode-se deixar de cumprir. Assim, o grande grupamento da deontologia, o estudo das regras de dever-ser, coloca a experiência moral ao lado da experiência religiosa e da experiência jurídico-política.
 
Pode-se mesmo estudar a autonomia do Direito em face das outras experiências, o que se fará a seguir, mas não se poderá fazê-lo sem considerar a importância de vislumbrar que a matéria da qual se constitui toda a experiência jurídica advêm do caudal das influências das demais regras de dever-ser. Diga-se, de princípio, que: 
O Direito é forma, a qual se apropria das experiências gerais da sociedade (incluídas as morais dos grupos, as reflexões religiosas, os imperativos políticos, as ideologias reinantes etc.) para colocá-las sob uma forma, que passa a determinar esta substância ou este conteúdo como juridicamente determinado e vinculante. Uma sociedade hipócrita em seus valores tende a ter um Direito que resguarda sua hipocrisia (moral hipócrita). Uma sociedade democrática, livre, madura politicamente, eticamente responsável, tende a conceber os seus direitos a partir desses valores. 
O tema da relação entre Direito e Moral, normalmente, é tratado de forma que se indique a experiência moral e a norma moral como anteriores, sobretudo tendo-se em vista o cronológico surgimento das regras de Direito relativamente às regras da moral. 
Costuma-se também afirmar que a norma moral é interior, prescindindo de qualquer fenômeno exterior, como geralmente ocorrer com o fenômeno jurídico. Afirma-se, ainda, que a norma moral não é cogente, pois não pode dispor do poder punitivo de uma autoridade pública para fazer valer seus mandamentos, recorrendo-se, normalmente, a sanções diferenciadas das jurídicas (consciência, rejeição social, vergonha). 
E, por fim, afirma-se que a norma moral não é sancionada nem promulgada, pois estas são as características de normas estatais que se regulamentam dentro de um procedimento formal, complexo e rígido, com o qual se dá publicidade aos mandamentos jurídicos. No entanto, os autores que enunciam essas notas diferenciais entre ambos os grupos de normas; de um lado, as jurídicas; de outro lado, as morais, reconhecem a falibilidade que os afeta. 
A isso tudo se acresça ainda a necessidade de segurança jurídica para ter Direito, fator que propicia a criação de outras necessidades internas ao sistema jurídico, que acabam por torná-lo fenômeno peculiar: criação de autoridades; divisão de competências; imposição de formas jurídicas; procedimentalização dos atos; discriminação taxativa de fatos, crimes, direitos, deveres e outras.[10] 
Os esforços de diferenciar Direito e moral não devem ser maiores que os de demonstrar suas imbricações. O Direito pode caminhar em consonância com os ditames morais de uma sociedade, assim como andar em dissonância com os mesmos. Na primeira hipótese, está-se diante de um Direito moral e, na segunda hipótese, está-se diante de um Direito imoral. Essas expressões bem retratam a pertinência ou impertinência do Direito com relação às aspirações morais da sociedade.[11] 
O curioso é dizer que o Direito imoral, apesar de contrariar sentidos latentes axiologicamente na sociedade, ainda assim é um Direito exigível, que obriga, que deve ser cumprido, que submete a sanções pelo não cumprimento de seus mandamentos, ou seja, que pode ser realizado. Em outras palavras, o Direito imoral,
é tão válido quanto o Direito moral. Este, no entanto, é mais desejável, pois em sua base de formação se encontra o consentimento popular, ou seja, o conjunto de balizas morais de uma sociedade, refletindo anseios e valores cristalizados de modo expressivo e coletivo. 
Se a moral demanda do sujeito uma atitude (solidariedade), seu estado de espírito, sua intenção e se convencimento interiores devem estar direcionados no mesmo sentido vetorial das ações exteriores que realiza (intenção solidária, e não interesseira).[12] 
É certo que a norma ética se constitui, na mesma medida da norma jurídica, de um comando de ordenação e orientação da conduta humana (dever- ser), tornando-se critério para averiguação da ação conforme ou desconforme, mas há que se notar esse diferencial.[13] Se o Direito demanda do sujeito uma atitude (não matar), conforma-se com a simples não ocorrência do fato considerado criminoso, não arguindo acerca da volição (rivalidade). 
De fato, o que se há de dizer é que a moral se caracteriza por uma série de dados (espontaneidade, consciência, unilateralidade, conduta interior) que a faz algo distinto do Direito (coercitividade, bilateralidade, heteronomia, atributividade). [14]
São provas que corroboram a tese da intensa intimidade do Direito com a moral, a saber:
a) a obrigação natural (ex.: dívida de jogo) descrita no art. 814 do novo Código Civil. Trata-se de obrigação puramente moral, não exigível juridicamente, mas que, se solvida, não pode ser motivo de ação judicial (pedido impossível). Tem-se aí a absoluta indiferença do Direito por um ato (não pagamento de dívida decorrente de obrigação natural) moralmente recriminável; 
b) o incesto não é considerado crime no sistema jurídico repressivo brasileiro, inexistindo tipo penal específico para a apenação do agente. Não obstante a indiferença legal sobre o assunto, trata-se de um típico comportamento moralmente condenável; 
c) a preocupação constitucional com o princípio da moralidade pública, expressa no art. 37, da Constituição Federal, caput: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...”. Aqui se comprova a relevância do princípio moral para a própria organização, manutenção e credibilidade cívica dos serviços públicos. O que é moralmente recomendável tornou-se juridicamente exigível do funcionalismo público; 
d) toda a teoria do negócio jurídico e dos tratos comerciais circula em torno da ideia de boa-fé, estabelecendo inúmeras presunções a ela concernentes (art. 164, C. Civil, 2002); 
e) o mau proceder moral dos pais, do ponto de vista moral, pode acarretar efeitos jurídicos sobre o poder familiar, conforme se verifica da leitura deste artigo da legislação civil (art. 1.638, C. Civil, 2002); 
f) os próprios princípios gerais de Direito, de possível aplicabilidade em todos os ramos do Direito na falta de norma jurídica específica (art. 4º, LICC), têm origem ética (a ninguém lesar – neminem laedere; dar a cada um o seu – suum cuique tribuere; viver honestamente – honeste vivere); 
g) fica o juiz autorizado, jurídica e formalmente, em caso de lacuna da lei, a aplicar os costumes como forma de solução de litígios (art. 4º, LICC). 
Até mesmo do ponto de vista histórico, pode-se provar a intrínseca relação do Direito com a moral. Isso porque, a princípio, eram indistintas nas comunidades primitivas as práticas jurídicas, as práticas religiosas e as práticas morais. A sacralidade, o espiritualismo e o ritualismo das antigas práticas jurídicas e de suas fórmulas denunciam essa intrínseca relação.[15] 
O que há que se questionar agora é qual a relação mantida entre Direito e moral, visto que foram analisados os principais aspectos que caracterizam cada qual dos ramos normativos. E, nesse sentido, só se pode afirmar que o Direito se alimenta da moral, tem seu surgimento a partir da moral, e convive com a moral continuamente, enviando-lhe e recebendo novos conceitos e normas. A moral é, e deve sempre ser, o fim do Direito.[16] 
Com isso, pode-se chegar conclusão de que Direito sem mora, ou Direito contrário às aspirações morais de uma comunidade, é puro arbítrio, e não Direito. [17] 
Conclui-se, portanto, que a ordem moral, por ser espontânea, informal e não coercitiva, distingue-se da ordem jurídica. No entanto, ambas não se distanciam, mas se complementam na orientação do comportamento humano. A axiologia é, portanto, capítulo de fundamental importância para os estudos jurídicos, visto que dá cristalização reiterada e universal por meio dos costumes diante do surgimento de exigências normativas jurídicas.
Apesar dos esforços teórico-didáticos no sentido de diferenciar Direito e moral, não se pode perceber senão uma profunda imbricação entre o exercício do juízo jurídico e o exercício do juízo mora; pode-se até mesmo perceber esta inter-relação no ato decisório do juiz, sempre sobrecarregado pelas inflexões pessoais, costumeiras, axiológicas, contextuais e socioeconômicas que circundam o caso sub judice.
Agora, nossa atenção deve-se voltar ao tema do Direito e Justiça, analisando, num primeiro momento, se a justiça é um valor absoluto ou relativo.
A ideia de justiça, independentemente de qualquer tomada de posição, traduz uma complexidade de expectativas que tornam difícil sua conceituação. Reconhecendo a pluralidade de perspectivas em que se desdobra a ideia de justiça, podem-se detectar, no curso da história do pensamento ocidental, inúmeras corrente sobre o justo e o injusto, que se assinalam como habilitadas à discussão e à resposta para a pergunta: o que é a justiça? De fato, são inúmeras as tendências acerca da justiça, e entre elas podem-se apontar as seguintes: teoria sofista, teoria socrática, teoria platônica, teoria aristotélica, doutrina cristã, teoria agostiniana, teoria tomista, teoria rousseauniana, teoria kantiana, teoria hegeliana, teoria kelseniana, teoria rawlsiana.[18] 
No entanto, entre essas todas ressalta-se o fato de que o pensamento ocidental e, inclusive, os ordenamentos jurídicos e as doutrinas jurídicas sofreram profundas e diretas influencias das seguintes ideias:
a) de Platão advém uma herança segundo a qual a justiça é virtude suprema;
b) de Aristóteles advém uma herança segundo a qual a justiça é igualmente proporcionalidade;
c) dos juristas romanos advém uma herança segundo a qual a justiça é vontade de dar a cada um o seu (iustitiaest constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi).[19] 
Independentemente da assunção de qualquer resposta mais imediata à dimensão filosófica da justiça, deve-se ressaltar o fato de que inclusive as tendências mais modernas de teoria jurídicas têm dado importância a esta para a vivência das experiências jurídicas, contrapondo-se, dessa forma, ao mero formalismo decorrente do predomínio da filosofia positivista no seio das ideias jurídicas do século XX.
Chegar o juiz a uma decisão justa, esta deve ser a meta de toda atividade jurisdicional; orientar o juiz nesse empreendimento, esta deve ser a meta da doutrina e da teoria do Direito. Nesse sentido, contribuem as posições e as ideias de inúmeros pensadores contemporâneos.[20]
Nesse tipo de preocupação, o positivismo vê na justiça um absurdum ser combatido, pois sua realidade seria metafísica e impossível de ser conceituada. Chaïm Perelman ocupa papel nessa discussão sobre a justiça.[21] Isso porque, além de tratar da questão da justiça, trazendo-a novamente para o seio das preocupações jurídicas[22], vê como saída o impasse de sua conceituação o uso da teoria da argumentação. Ora, para Perelman, os conflitos em torno da justiça, e de seus possíveis enfoques, podem ser dirimidos ante um método argumentativo, em que todas as oportunidades são oferecidas para a discussão dos valores envolvidos, emergindo do diálogo a razoabilidade das respostas.
Chaïm Perelman, em seu ensaio sobre a justiça, não admite que esta seja
um valor absoluto, mas relativo e impassível de ser definido pelo conhecimento; o valor é relativo e depende da crença de cada qual. Ora, desta forma, Perelman aponta como saída para o problema a elevação da questão pra o nível da razoabilidade prudencial do diálogo e da argumentação.[23]   
Portanto, é a discussão racional, sobre valores mais ou menos aceitos, que constitui o objeto de conhecimento sobre a justiça. Estudar justiça, segundo Perelman, é estudar valores, e valores relativos, que se discutem historicamente, socialmente, culturalmente. 
Em face desse relativismo, também reconhecido por Hans Kelsen,[24] não se pode afirmar algo diferente do que forçosamente se conclui: sendo um valor relativo, a justiça é passível de várias acepções, variáveis ao sabor das preferências, tendências, bem como das culturas, das ideologias, das políticas, devendo ser admitido que o valor absoluto da justiça não é palpável para o homem. Aliás, Platão mesmo, em suas investigações, torna clara a verdadeira natureza da justiça, que é transcendente e inacessível para os homens.[25] 
A questão da justiça, quando vista como elemento fundante do ornamento jurídico, pode ser considerada como algo relacionado com a doação do sentido. Isso porque, desde a Antiguidade, a justiça sempre representou o preenchimento das práticas do Direito, que acabou por se transformar em um mero proceder técnico, vazio, sem conteúdo preciso, objeto de labor, na modernidade. 
A própria história da humanidade, de suas ideologias, bem como de suas tendências político-econômicas, tornou o Direito frágil, suscetível e vassalo aos desmandos do poder político e econômico. O Direito, muitas vezes, arcabouço coercitivo da conduta humana social, se desprovido de essência e finalidade, serve a qualquer finalidade, independentemente de qualquer valor, podendo ser de importante utilidade para a dominação e o interesse de minorias.
No entanto, deve-se resgatar a ideia de que o preenchimento semântico do Direito pela ideia de justiça tem a ver com a teleologia do movimento do que é jurídico em direção ao que não é jurídico, mas é valorativo e deve ser a axiologia a se realizar: a justiça.[26]
A justiça, porém, só se realiza se pensada como igualdade (aspecto material da justiça). Ela acontece, ela opera, ela se dá nas relações, ou seja, ela está presente nas relações humanas e corporifica-se como igualdade, que pode ser aritmética ou geométrica (aspecto formal da justiça), conforme se tenha em vista a igualdade absoluta ou a igualdade proporcional. A opção pela adoção da justiça geométrica, que tem em consideração a proporcionalidade (distribuição de deveres e direitos, permitindo a existência de desigualdades) ou a da aritmética (igualitarismo levado ao extremo) dependerá de códigos fortes e fracos prevalecentes axiologicamente na sociedade.[27]
De qualquer forma, o que se percebe é que Direito e justiça são conceitos diferentes, que às vezes andam em sintonia, às vezes em dissintonia. Há que se ressaltar, no entanto, que se nem sempre o Direito caminha pari passu com a justiça, ainda assim ele a busca, nela deposita sua finalidade de existir e operar na vida social. O Direito deve ser o veículo para a realização da justiça. Em outras palavras, a justiça deve ser a meta do Direito.
Ademais, a justiça não é coercível, é autônoma, correspondendo a uma norma moral, e não a uma norma jurídica. Normas jurídicas absorvem conteúdos de normas de justiça, funcionam como forma de compelir coercitivamente comportamentos injustos, de proscrevê-los socialmente, mas não há que se negar a natureza da justiça como norma moral, e não jurídica. 
Vistos esses aspectos do problema, deve-se admitir que, com essas características, a justiça, em face do Direito, está a desempenhar um tríplice papel, a saber:
1) Serve como meta do Direito, dotando-o de sentido, de existência justificada, bem como de finalidade;
2) Serve como critério para o seu julgamento, para sua avaliação, para que se possam aferir os graus de concordância ou discordância com suas decisões e práticas coercitivas;
3) Serve como fundamento histórico para sua ocorrência, explicando-se por meio de suas imperfeições os usos humanos que podem ocorrer de valores muitas vezes razoáveis.[28] 
A partir das considerações acima, conclui-se, portanto, que a justiça funciona, como valor que norteia a construção histórico-dialética dos direitos, como fim e fundamento para expectativas sociais em torno do Direito. Apesar de a justiça ser valor de difícil contorno conceitual, ainda assim pode ser dita um valor essencialmente humano e profundamente necessário para as realizações do convívio humano, pois nela mora a semente da igualdade.   
Contrariando frontalmente o raciocínio positivista, é de se admitir que entre as tarefas do jurista se encontra propriamente esta, a de discutir o valor da justiça. Nesse caminho, o importante não é nem mesmo a solução que se possa encontrar para o dilema, mas a aquisição de consciência a propósito de sua dimensão. 
O Direito pode ser dito um fenômeno sem sentido, com Tercio Sampaio, se divorciado da dimensão da justiça, à medida que sua função técnico-instrumental sirva às causas que garantem o convívio social justo e equilibrado. 
[1]Texto adaptado da obra Curso de Filosofia do Direito, de autoria de José Eduardo Bittar e Guilherme A. de Almeida, 6ª Edição, São Paulo, Editora Atlas, 2008.
[2]Apaud Baptista, Direito e comércio internacional, 1994, p. 368. 
[3]Ibidem, p. 367.
[4]PERELMAN, C. Introduction historique à la philosophie morale. Éditions de l’Université de Bruxelles, Bruxelles, Belgique, 1980, p.122.
[5]VILLEY, M . Filosofia do Direito. Definições e fins do direito. Os meios do direito, Martins Fontes, São Paulo, 2003, p.113.
[6]MARCONDES, D. Textos básicos de Ética – de Platão a Foucault, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007, p.94.
[7]KANT, E. Em texto publicado em 1784, no periódico Berlinische Monatsschrift, em resposta a um pastor que lhe indagou o conceito de Esclarecimento ou Iluminismo. DANILO MARCONDES, op.cit., idem, p.95.
[8]KANT, E. Crítica da Razão Pura. Pensadores, Abril, vol.XXV, 1ª ed., abril 1974, São Paulo, p.23.
[9] Texto adaptado da obra Curso de Filosofia do Direito, 6ª Ed. da autoria de Eduardo C.B. Bittar & Guilherme Assis de Almeida, Ed. Atlas, São Paulo, 2008.
[10] “Essas reflexões não significam, de modo algum, que o direito não possua uma especificidade, pela qual se afasta dos pontos de vista próprios da ética. Com efeito, a importância especial concedida em direito à segurança jurídica explica o papel específico do legislador e do juiz, tão oposto à autonomia da consciência que caracteriza a moral”.
[11] Cf. Ferraz Júnior. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação, 1994, p. 326-329.
[12] “A qual dessas categorias pertencerá a Moral? Podemos dizer que a Moral é o mundo da conduta espontânea, do comportamento que encontra em si próprio a sua ração de existir. O ato moral implica a adesão do espírito ao conteúdo da regra”. (REALE. Lições preliminares de direito. 1994, p. 44).
[13] “A norma ética estrutura-se, pois, como um juízo de dever ser, mas isto significa que ela estabelece, não apenas uma direção a ser seguida, mas também a medida da conduta considerada lícita ou ilícita. Se há, com efeito, algo que deve ser, seria absurdo que a norma não explicitasse o que deve ser feito e como se deve agir”. (REALE. Lições preliminares de direito. 1999, p. 36).
[14] Cf. Reale. Lições preliminares de Direito. 1994, p. 57. "No tridimensionalismo, por exemplo, o direito é a um só tempo fato, valor e norma, ou seja, nele está imerso o juízo de valor, o costume, a axiologia... não podendo ser concebido como um fenômeno apartado da moral, com ela se relacionando intensamente" (Direito como experiência; Filosofia do direito; Lições preliminares de direito).
[15] Cf. Gusmão. Introdução ao estudo do direito. 1999, p. 67-70.
[16] “A relação entre os seus respectivos domínios normativos consiste, em nossa opinião,
sobretudo no seguinte: a moral é ao mesmo tempo, por um lado, o fim do direito, e, por outro, também, o fundamento da sua validade obrigatória” (RADBRUCH. Filosofia do direito. 1997, p.109).
[17] "Está-se aqui a contrariar frontalmente a teoria normativista de Hans Kelsen. O Direito da Teoria Pura não pode ser por essência um fenômeno moral" (KELSEN. Teoria pura do direito. 1976, p.107).
[18]Ver, a esse respeito, Bittar, Teorias sobre a justiça: apontamentos para história da filosofia do direito, 2000, p.1-235.
[19] GUSMÃO. Introdução a estudo do direito. 1999, p. 71-73
[20] Nesse sentido se destacam Esser, Pawlowski, Kriele, Rawls.
[21] Perelman aponta em um de seus artigos (Ubër die Gerechtigkeit) seis conceitos de justiça: “1.A cada um o mesmo; 2. A cada um segundo os seus méritos; 3. A cada um segundo as suas obras;4. A cada um segundo as suas necessidades; 5. A cada um segundo a sua posição; 6.A cada um o que lhe é devido pó lei” (LARENZ. Metodologia da ciência do direito. 1989, p. 204) .
[22] "O mérito de Perelman é o de ter legitimado de novo a discussão do conceito de justiça com propósito cientificamente sério” (LARENZ. Metodologia da ciência do direito. 1989, p.208).
[23] São sua palavras, citadas por Larenz: "deve-se-ia deitar as mãos à obra, no sentido de elaborar uma lógica dos juízos de valor, na qual se tivesse como ponto de partida o modo como as pessoas raciocinam sobre valores.Isto deveria acontecer sob a forma de uma teoria de argumentação” (LARENZ. Metodologia da ciência do direito. 1989, p. 206). E isso é o que realmente faz Perelman, posteriormente, inclusive ao lado de Tytea, durante seu percurso intelectual ao escrever: Nova retórica, Ética e direito, Tratado da argumentação, entre outras obras ligadas à ideia do raciocínio valorativo, próprio do jurista.
[24] KELSEN. O que é justiça? A justiça, o direito e a política no espelho da ciência, 1998, p. 23-25
[25] A respeito, consulte-se Bittar, Teorias sobre a justiça, 2000, p. 9-32
[26] Cf. Ferraz Júnior. Introdução ao estudo do direito. 1991, p. 361 ss.
[27] idem
[28] GUSMÃO. Introdução ao estudo do direito. 1999, p. 73

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