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2. A Etapa Colonial: Séculos XVI e XVII (1ª parte). Disciplina: Formação Econômica do Brasil UFRJ - Graduação em Ciências Econômicas (Bacharelado) 2º Semestre de 2015 Prof. Wilson Vieira 1. Capitalização e Nível de Renda na Economia Açucareira O desenvolvimento da economia açucareira na sua etapa inicial teve dificuldades maiores advindas da escassez de mão-de-obra que primeiramente foi suprida pela mão-de-obra indígena, mas que se mostrou em número insuficiente para a escala requerida para essa indústria. Segundo Furtado (2007: 76): A escravidão demonstrou ser, desde o primeiro momento, uma condição de sobrevivência para o colono europeu na nova terra. Como observa um cronista da época, sem escravos os colonos “não se podem sustentar na terra”. Com efeito, para subsistir sem trabalho escravo seria necessário que os colonos se organizassem em comunidades dedicadas a produzir para autoconsumo, o que só teria sido possível se a imigração houvesse sido organizada em bases totalmente distintas. 1. Capitalização e Nível de Renda na Economia Açucareira Os grupos de colonos que tiveram dificuldade de se consolidar economicamente tiveram de empenhar-se na captura e no comércio dos indígenas. Tal atividade econômica é que permitirá a subsistência dos núcleos de população que não se dedicaram à produção de açúcar. Portanto, a mão-de-obra indígena foi importante na etapa inicial de instalação da colônia. A mão-de-obra africana chegou para a ampliação da empresa, já instalada e com rentabilidade assegurada. 1. Capitalização e Nível de Renda na Economia Açucareira Outro ponto a ser destacado, nas palavras de Furtado (2007: 79-80): [O] engenho realizava um certo montante de gastos monetários, principalmente na compra de gado (para tração) e de lenha (para as fornalhas). Essas compras constituíam o principal vínculo entre a economia açucareira e os demais núcleos de povoamento existentes no país. No tocante à renda gerada pela economia açucareira dentro da colônia, pelo menos 90% dela se concentrava nas mãos dos proprietários. A plena capacidade de autofinanciamento da indústria não era utilizada. Os recursos financeiros sobrantes na verdade pertenciam aos comerciantes (renda de não-residentes). A coordenação da produção cabia a eles. 2. Fluxo de Renda e Crescimento A inversão feita numa economia exportadora-escravista é um fenômeno diverso de uma economia industrial (que faz crescer diretamente a renda da coletividade), pois parte dela transforma-se em pagamentos feitos no exterior (importação de mão-de-obra, de equipamentos e materiais de construção). Com os gastos de consumo a situação era similar. Ao contrário da economia feudal, ela vive totalmente voltada para o mercado externo e os pagamentos de todos os fatores são de natureza monetária. No crescimento havia ocupação de novas terras e aumento das importações e na decadência havia redução dos gastos em bens importados e na reposição da força de trabalho com diminuição progressiva e lenta no ativo da empresa sem transformação estrutural. 2. Fluxo de Renda e Crescimento Com a desorganização do mercado de açúcar na segunda metade do século XVII o sistema entrou numa letargia secular, mas com a estrutura intacta. 3. Projeção da Economia Açucareira: A Pecuária A economia açucareira possuía uma alta rentabilidade, o que induzia à especialização do negócio, uma vez que os empresários açucareiros não queriam desviar seus fatores de produção para atividades secundárias, pelo menos no período em que as perspectivas do mercado de açúcar eram favoráveis, tanto que até a produção de alimentos para os escravos nas terras do engenho nesse tempo tornava-se antieconômica. 3. Projeção da Economia Açucareira: A Pecuária Segundo Furtado (2007: 93): Pode-se admitir, como ponto pacífico, que a economia açucareira constituía um mercado de dimensões relativamente grandes, podendo, portanto, atuar como fator altamente dinâmico do desenvolvimento de outras regiões do país. Um conjunto de circunstâncias tenderam, sem embargo, a desviar para o exterior em sua quase totalidade esse impulso dinâmico. Em primeiro lugar havia os interesses criados dos exportadores portugueses e holandeses, os quais gozavam dos fretes excepcionalmente baixos propiciados pelos barcos que seguiam para recolher açúcar. Em segundo lugar estava a preocupação política de evitar o surgimento na colônia de qualquer atividade que concorresse com a economia metropolitana. 3. Projeção da Economia Açucareira: A Pecuária Porém, o autor vê a probabilidade de que o principal fator limitante da ação dinâmica da economia açucareira sobre a colônia de povoamento do sul (São Vicente) haja sido a própria abundância de terras nas proximidades do núcleo canavieiro, diferente da situação das Antilhas, a qual contou com as colônias de povoamento da América do Norte para seu abastecimento. No entanto, tal abundância foi propícia à criação, no próprio Nordeste, de um segundo sistema econômico, a pecuária, dependente da economia açucareira, fruto também da impraticabilidade de se criar o gado na faixa litorânea, isto é, dentro das próprias unidades produtoras de açúcar. 3. Projeção da Economia Açucareira: A Pecuária Algumas características: I) A criação de gado ocupava a terra de maneira extensiva e até certo ponto itinerante. II) Na sua etapa inicial era uma atividade econômica de rentabilidade relativamente baixa e induzida pela economia açucareira. III) A população que se ocupava da atividade criatória era muito escassa. IV) O recrutamento da mão-de-obra era baseado no elemento indígena. 3. Projeção da Economia Açucareira: A Pecuária No tocante à disponibilidade de capacidade empresarial, a expansão criatória parece não ter encontrado obstáculos. Segundo Furtado (2007: 98-99): Essa atividade apresentava para o colono sem recursos muito mais atrativos que as ocupações acessíveis na economia açucareira. Aquele que não dispunha de recursos para iniciar por conta própria a criação tinha possibilidade de efetuar a acumulação inicial trabalhando numa fazenda de gado. À semelhança do sistema de povoamento que se desenvolveu nas colônias inglesas e francesas, o homem que trabalhava na fazenda de criação durante um certo número de anos (quatro ou cinco) tinha direito a uma participação (uma cria em quatro) no rebanho em formação, podendo assim iniciar criação por conta própria. Tudo indica que essa atividade era muito atrativa para os colonos sem capital, pois não somente da região açucareira mas também da distante colônia de São Vicente muita gente emigrou para dedicar-se a ela. Por outro lado, conforme já indicamos, o indígena se adaptava rapidamente às tarefas auxiliares da criação. 3. Projeção da Economia Açucareira: A Pecuária Do lado da oferta não existiam fatores limitativos à expansão da economia criatória, mas sim no lado da procura, por ser uma atividade dependente da economia açucareira. Nas palavras de Furtado (2007: 99-100): Observada a economia criatória em seu conjunto, sua principal atividade deveria ser aquela ligada à própria subsistência de sua população. 4. Bibliografia FURTADO, Celso. Capitalização e nível de renda na economia açucareira. In: __________. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Cap. 8, p. 75-82. __________. Fluxo de renda e crescimento. In: __________. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Cap. 9, p. 83- 91. __________. Projeção da economia açucareira: a pecuária. In:__________. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Cap. 10, p. 92-100.
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