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6. A Economia Brasileira no século XIX (1ª parte). Disciplina: Formação Econômica do Brasil UFRJ - Graduação em Ciências Econômicas (Bacharelado) 2º Semestre de 2015 Prof. Wilson Vieira Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política Inicialmente, Furtado traça um quadro impressionista da situação política do Brasil a partir de 1808, cabendo destacar: i) vinda da família real portuguesa para o Brasil (Rio de Janeiro); ii) “abertura dos portos”; iii) tratados de 1810 com a Inglaterra, que a tornam uma potência privilegiada, com direitos de extraterritorialidade e tarifas preferenciais extremamente baixas, e cujas consequências para o Brasil foram negativas, pois se constituíram em uma séria limitação à autonomia do governo no setor econômico; iv) independência em 1822; v) acordo de 1827 (com a consolidação da posição da Inglaterra); vi) eliminação do poder pessoal de D. Pedro I em 1831 e a consequente ascensão definitiva ao poder da classe colonial dominante formada pelos senhores da grande agricultura de exportação. Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política Segundo Furtado (2007: 143-144): Se a independência houvesse resultado de uma luta prolongada, dificilmente ter-se-ia preservado a unidade territorial, pois nenhuma das regiões do país dispunha de ascendência sobre as demais para impor a unidade. Os interesses regionais constituíam uma realidade muito mais palpável que a unidade nacional, a qual só começou realmente a existir quando se transferiu para o Rio o governo português. A luta ingente e inútil de Bolívar, para manter a unidade de Nova Granada, constitui um exemplo do difícil que é impor uma ideia que não encontra correspondência na realidade dos interesses dominantes”. O liberalismo do Visconde de Cairu em contraposição à posição com ranços mercantilistas do Visconde de Strangford (inglês). Maneiras diferentes de se pensar a construção da nação. Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política Uma vez que não existia na colônia sequer uma classe comerciante de importância (devido ao Pacto Colonial), resultava, então, que a única classe com expressão era a dos grandes senhores agrícolas e que qualquer que fosse a maneira como se daria a independência, ela é que ocuparia o poder (como ocorreu, particularmente, após 1831). Para tal classe, era fundamental a liberdade de comércio e para que isso ocorresse era necessário o desaparecimento do entreposto português a fim de provocar a baixa de preços nas mercadorias importadas, maior abundância de suprimentos e ampliação das facilidades de crédito. Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política Após a independência e no decorrer da primeira metade do século XIX viu-se um quadro de conflito entre os dirigentes da grande agricultura brasileira e a Inglaterra não por causa de discordâncias em relação à ideologia econômica, mas sim por causa da falta de coerência com que os ingleses seguiam a ideologia liberal, como pode ser visto no tratado de comércio de 1810, um instrumento criador de privilégios. Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política Segundo Furtado (2007: 145): Aplicada unilateralmente, a ideologia liberal passou a criar sérias dificuldades à economia brasileira, exatamente na etapa em que a classe de grandes agricultores começava a governar o país. É nesse ambiente de dificuldades que a Inglaterra pretende impor a eliminação da importação de escravos africanos. Assim, entre as dificuldades que encontravam para vender os seus produtos e o temor de uma forte elevação de custos provocada pela suspensão da importação de escravos, a classe de grandes agricultores se defendeu tenazmente, provocando e enfrentando a ira dos ingleses. O governo britânico, escudado em sólidas razões morais e impulsado pelos interesses antilhanos que viam na persistência da escravatura brasileira o principal fator de depressão do mercado do açúcar, usou inutilmente todos os meios a seu alcance para terminar com o tráfico transatlântico de escravos. Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política O autor mostra, então, que devido aos acordos comerciais com a Inglaterra houve a impossibilidade de aumentar o imposto de importação nos primeiros anos de Brasil independente, o que trouxe dificuldades econômicas e políticas para o Brasil, uma vez que o seu aparelho fiscal era quase inexistente na época e as aduanas se constituíam, então, como fonte de receita e meio de subsistência do governo. Contudo, no meio dessas dificuldades, o café começa a surgir como nova fonte de riqueza para o país, importante na constituição de um centro de resistência contra as forças de desagregação que atuavam no norte e no sul. Passivo Colonial, Crise Financeira e Instabilidade Política Mesmo com a “salvação” do café, o autor lembra que o recurso que o governo utilizou para financiar seus gastos - uma vez que os problemas relatados sobre o aparelho fiscal brasileiro e sobre as tarifas de importação sobre os produtos ingleses eram de grandes dimensões – foi o da emissão monetária e das desvalorizações periódicas do mil-réis, que não trouxeram grandes problemas para a classe de senhores agrícolas (em boa medida se autoabasteciam em seus domínios), mas sim para as populações urbanas, pois provocaram um empobrecimento das mesmas, uma vez que tais atos causavam inflação, o que, segundo Furtado, explica o caráter principalmente urbano das revoltas. Bibliografia FURTADO, Celso. Passivo colonial, crise financeira e instabilidade política. In: __________. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Cap. 17, p. 142-149.
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