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60 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II Unidade II Pensar em pesquisa social requer disposição e cautela. Toda pesquisa social exige do pesquisador uma postura científica, o que significa buscar os elementos essenciais necessários para fazer a leitura concreta de uma dada realidade social. Para se compreender como se dá a pesquisa social, é necessário estudar e compreender a sociedade. Por isso, há várias metodologias que auxiliam a máxima aproximação à realidade estudada, como as teorias da sociologia, entre outras metodologias já estudadas no decorrer do curso. Para se realizar uma pesquisa social, é indispensável primeiramente fazer um projeto de pesquisa. Para tanto, não se pode pensar que um TCC pode ser elaborado de qualquer maneira. Antes de qualquer coisa, é fundamental saber o que se pretende investigar, pois assim será mais fácil planejar as etapas a serem seguidas para se alcançar os objetivos esperados. Portanto, estudaremos como se faz e quais os elementos de sua estrutura. Você vai perceber como o problema, ou pergunta central, consiste em um elemento sem o qual se torna impossível a elaboração desse instrumento e, consequentemente, sua pesquisa social ficará inviável. Outro ponto indispensável à pesquisa social é a fundamentação teórica que será o objeto de nossa atenção. É, portanto, essencial saber o problema da pesquisa, pois a pesquisa social exige bastante cuidado para que se tenha uma leitura aproximada da realidade. Para que se alcancem os objetivos propostos na pesquisa, faz‑se necessária a elaboração de um projeto. Esse instrumento, por sua vez, não se refere apenas a um conjunto de itens a serem destacados e seguidos, mas sim trata‑se de um planejamento das etapas a serem percorridas pelo pesquisador. Você terá a oportunidade de saber o que é um projeto de pesquisa social, bem como perceber a sua importância no Serviço Social. Durante sua vida escolar, você realizou muitos trabalhos. Começando com aqueles trabalhos de português, geografia, história, entre outros. Lembra‑se das capas cheias de desenhos coloridos, que mais pareciam obras de arte? Elas continuam existindo, porém com formatação diferenciada, mais informativa do que decorativa. Estudaremos a importância das páginas pré‑textuais e textuais para a identificação de um trabalho científico, e você receberá instruções para construir a capa e a folha de rosto do seu TCC e os demais itens que o compõem. Toda pesquisa presume a escolha por uma forma de trabalhar, implícita nas etapas do projeto, mas bem definida desde o início. Estudaremos por que a escolha por um tipo de pesquisa é tão importante para sua realização, visto que conhecemos alguns dos tipos e seus instrumentos e técnicas de investigação. Diante das discussões, você poderá escolher qual tipo de pesquisa e técnica de investigação melhor atende à proposta do seu projeto. Nesta unidade, você vai estudar os conceitos básicos de pesquisa social. Para tanto, terá a oportunidade de rever o que é pesquisa social, quais os seus aspectos centrais, suas metodologias, bem como suas vantagens e desvantagens. 61 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Toda nossa experiência na vida resulta em um processo de construção de conhecimentos. Desde os primeiros dias de vida, os estudos na escola, o trabalho, o cotidiano dos lares, a amizade e o carinho na convivência com as pessoas e com os diversos grupos sociais contribuem sobremaneira para acumular conhecimentos. Em outros termos, viver é conhecer e produzir conhecimentos. Vamos estudar como se produz o conhecimento, quais seus tipos, sua relação com a realidade, como se dá o processo de investigação e, concomitantemente, a produção do conhecimento, tendo como foco o Serviço Social. Começaremos com alguns conceitos. Para se conhecer o que chamamos de realidade, a partir da capacidade de pensar e de sentir, é preciso pesquisar. Para tanto, é necessário sabermos o que queremos com a pesquisa e de que forma esta será realizada. Assim, precisamos de metodologias. Nas ciências sociais, é indispensável que o pesquisador esteja munido de uma metodologia que favoreça o caminho mais seguro para atingir os seus objetivos. A fim de assentarmos no tema proposto, um ótimo passo é, primeiramente, saber o que significa pesquisar. Como devemos pesquisar? Para que se pesquisa? Questões como essas são fundamentais para ajudar a compreender o conceito de metodologia da pesquisa, objeto de estudo deste capítulo. Aqui, você terá a oportunidade de saber o que é metodologia da pesquisa e conhecer a metodologia qualitativa e a quantitativa, utilizadas no Serviço Social. O Serviço Social, assim como qualquer outra área, necessita de métodos e técnicas para a pesquisa e a ação. O assistente social tem diante de si o desafio de trabalhar com o que é por demais complexo, ou seja: o ser humano e a sociedade. Isso envolve valores, interesses, poder, ideologia, entre outras necessidades na relação do indivíduo com a sociedade. Nesse sentido, para a prática do Serviço Social, o assistente social necessita saber quais as principais formas de ação profissional junto às diferentes realidades que se apresentam no seu cotidiano. Isso significa pensar em questões como as seguintes: o que fazer, como, por quê, para quê, com quem e quais. Essas são algumas perguntas que se fazem presentes toda vez que se precisa trabalhar com as questões sociais. Com isso, o assistente social precisa de uma metodologia que lhe dê suporte para atingir os objetivos do seu trabalho. Alguns tipos de pesquisa são mais adotados nas ciências sociais. Observamos que há um mesclado de técnicas, mas que algumas pesquisas são mais voltadas para conteúdos teóricos, como a pesquisa bibliográfica, a documental e a histórica. Como também algumas são mais práticas, a saber: a pesquisa de campo, o levantamento e a pesquisa experimental. Será necessário também que o investigador decida se sua pesquisa terá caráter qualitativo ou quantitativo; se será uma pesquisa exploratória, descritiva ou explicativa. Algumas dessas pesquisas necessitarão de instrumentos diferenciados de coleta de dados, sejam documentos, livros, filmes, questionários, entrevistas, roteiros. Todas essas escolhas deverão levar em consideração principalmente a problemática e os objetivos do seu projeto de pesquisa. Destacamos que essas decisões deverão estar claras quando ocorrer a confecção dos capítulos do TCC sobre a metodologia adotada durante a execução do projeto. Sobre os métodos e as técnicas de pesquisa e de ação utilizadas no Serviço Social, serão trabalhados os principais aspectos da pesquisa quantitativa e qualitativa e suas implicações em relação ao Serviço Social. Você já estudou que há duas formas de se fazer pesquisa social: a pesquisa quantitativa e a qualitativa; e teve a oportunidade de estudar aspectos gerais da metodologia quantitativa. Observe atentamente que, no Serviço Social, essa metodologia tem sido bastante utilizada em diversas situações. São várias as formas de utilização de instrumentos e de técnicas quantitativas, sendo as principais por meio de amostragem, questionários, formulários, gráficos, tabelas, escalas e testes. 62 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II A preocupação dos estudiosos da sociedade quanto à objetividade e cientificidade que marcaram as ciências sociais com a industrialização levou à busca por novos métodos de pesquisa e de análise social. A metodologiaqualitativa nasce em contraposição à rigidez protagonizada pelos modelos baseados nas ciências naturais. Em certa medida, a quantidade expressa nos dados estatísticos é importante para que se compreenda determinados aspectos da sociedade, todavia nem tudo pode ser mensurado e objetivo. Nesse sentido, o surgimento de uma metodologia com um olhar mais aguçado em torno dos comportamentos, motivos, valores e costumes poderia explicar aquilo que não se percebe por meio de números e estatísticas. A metodologia qualitativa surgiu tendo em vista a necessidade de novas formas de se investigar os fenômenos sociais diferentes da perspectiva quantitativa. A crítica central à abordagem desse tipo diz respeito à falta de uma compreensão maior do fenômeno estudado, uma vez que se apega aos aspectos formais, às estatísticas e às várias formas de mensuração. Ao longo do tempo, os cientistas sociais foram descobrindo que é possível estudar a sociedade com um olhar interpretativo, isto é, considerando a subjetividade. Com isso, comportamentos, cultura, valores, sentimentos, emoções e representações tornaram‑se motivos de atenção para uma maior percepção dos diferentes grupos, organizações, indivíduos e instituições da sociedade. Para a realização dessa parte, é fundamental que a metodologia utilizada na coleta de dados tenha sido adotada com o mínimo de falhas possível e que o pesquisador tenha a certeza de ter feito um trabalho suficiente para se chegar às respostas das questões apontadas no planejamento da pesquisa. Não pode haver análise se não há material suficiente ou se não foram respeitadas as etapas anteriores. Por fim, mostraremos como a análise de dados demonstra sua contribuição e acréscimo da pesquisa à sociedade, à comunidade científica, a outros pesquisadores da área. Para tanto, ao elaborar seu projeto, você necessitará mostrar ao leitor que encontrou X e Y informações, bem como deverá analisá‑las no contexto em que estão sendo estudadas, propondo reflexões e discussões que conduzam para as considerações finais. Estudaremos os procedimentos básicos para analisar e discutir dados de uma pesquisa ou ação científica. 5 O QUE É PESQUISA SOCIAL? A necessidade de conhecer a realidade que cerca os indivíduos tem sido preocupação do homem há muito tempo. Pode‑se considerar que desde o momento em que o homem se deu conta da sua existência e dos outros, ele busca o conhecimento social. A pesquisa social constitui uma importante forma que o ser humano encontrou para auxiliar as descobertas dos fenômenos sociais, suas causas e consequências. Na tentativa de tratar cientificamente os fenômenos sociais, o pensador e estudioso Augusto Comte se baseou nas ciências naturais. Com isso, deu origem ao Positivismo, cuja metodologia influencia até hoje as ciências sociais, bem como o Serviço Social. Comte buscava o que chamamos de objetividade. Em outros termos, trata‑se de buscar comprovação acerca das causas dos fenômenos sociais como, por 63 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL exemplo, a pobreza, a violência, as guerras, entre outros. Com a possibilidade de comprovação, por meio de métodos e técnicas de mensuração, tem‑se, portanto a ciência como algo inegável para ajudar os homens a entender o mundo e resolver seus conflitos. Minayo assevera que na sociedade ocidental, no entanto, a ciência é a forma hegemônica de construção da realidade, considerada por muitos críticos como um novo mito, por sua pretensão de único promotor e critério de verdade. (1994, p. 10). Embora seja hegemônica, a ciência, na sociedade ocidental não pode ser considerada como única, verdadeira e absoluta. Essa é uma questão que tem gerado bastante discussão, quando se trata de pesquisa social. Os estudiosos da sociedade se dividem quanto à forma de pesquisar e analisar a sociedade e seus problemas: de um lado, há os objetivistas e, do outro, os subjetivistas. Os primeiros, conforme você já viu, baseiam‑se nos métodos de quantificação, enquanto os segundos se opõem a isso totalmente, de modo a preferirem métodos de pesquisa voltados para a compreensão dos comportamentos, dos motivos que levam a determinadas ações dos indivíduos na sociedade. De forma simplificada, a pesquisa social pode ser definida como aquela que procura estudar a sociedade. Ou ainda, ela estuda os diversos processos gerados pelas relações sociais. A forma de se estudar a sociedade consiste em uma constante procura por métodos cada vez mais coerentes e próximos da realidade. Minayo afirma que “a pesquisa social é sempre tateante, mas, ao progredir, elabora critérios de orientação cada vez mais precisos” (1994, p. 13). A busca pela precisão tem sido entendida como cientificidade e, para muitos, seria a objetividade. Desta feita, os estudos de determinados fenômenos sociais passaram a ser vistos de forma bastante rígida, conforme os critérios positivistas. Para estudar um problema social, como a prostituição infantil, por exemplo, conforme os critérios positivistas, levam‑se em conta os aspectos gerais que contribuam para identificar suas causas. Para tanto, é necessário saber a quantidade de casos identificados a partir de métodos e técnicas que favoreçam uma percepção do todo, preferencialmente por meio de instrumentos de mensuração como questionários, escalas, amostras. Minayo nos ensina que o termo Pesquisa Social tem uma carga histórica e, assim como as teorias sociais, reflete posições frente à realidade e, assim, momentos do desenvolvimento e da dinâmica social, preocupações e interesses de classes e de grupos determinados. Enquanto prática intelectual reflete também dificuldades e problemas próprios das Ciências Sociais. E sua relativa juventude para delimitar métodos e leis específicas (2001, p. 23‑24). 64 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II A partir das palavras da autora, nota‑se que a pesquisa social não é desvinculada dos interesses, dos valores e concepções de grupos, ou seja, não é neutra, motivo pelo qual utiliza critérios de cientificidade. 5.1 As ciências sociais como fundamentação teórica para construção do TCC Estudar o homem e a sociedade é o objetivo central das ciências sociais. Antropologia, Sociologia, História, Política, Economia, entre outras, são exemplos de ciências sociais. Cada uma dessas ciências tem seu objeto de estudo claro, definido, no sentido de favorecer a compreensão de determinados fatores. Pode‑se estudar, por exemplo, o surgimento das greves no meio urbano a partir de uma das ciências sociais como a Antropologia, a Política, a Sociologia, entre outras. O que vai determinar o uso de uma dessas ciências sociais vai ser o foco, ou objeto central do projeto, e seu tratamento. No caso da Antropologia, a ênfase será dada aos aspectos culturais; na Sociologia, serão considerados os diversos aspectos que levam à formação do fenômeno greve; enquanto na Política a ênfase será dada à questão do poder. A questão sempre presente, quando se refere à pesquisa social, é: como ser fiel à realidade? É possível ser científico ao se estudar a sociedade? Para se estudar a sociedade, há quem afirme que é necessário ser científico, o que implica trabalhar com os critérios científicos, principalmente os de experimentação e comprovação. Esse raciocínio levou à radicalização em torno dos métodos de quantificação. Por outro lado, determinados pesquisadores ignoram totalmente os métodos que fogem à quantificação. Assim, é ciência somente aquilo que pode ser comprovado por meio de procedimentos que não deixam margem para dúvidas acerca de umadada realidade. Minayo acredita que a interrogação enorme em torno da cientificidade das ciências sociais se desdobra em várias questões. A primeira diz respeito à possibilidade concreta de tratarmos de uma realidade da qual nós próprios, enquanto seres humanos, somos agentes (1994, p. 11). O fato de o pesquisador fazer parte da sociedade o torna, de algum modo, ligado ao seu objeto de estudo. Essa é uma diferença fundamental entre as ciências sociais e as demais ciências. Assim, a ideia de objetividade e de neutralidade parece incoerente nas pesquisas sociais. A questão que surge é quanto à legitimidade e utilidade das ciências sociais. Para que servem, então, essas ciências? De que forma a sociedade pode se beneficiar de suas pesquisas? A forma como se estudam os fenômenos sociais, por meio de métodos e instrumentos diferentes daqueles adotados nas ciências naturais, permite chamar essas disciplinas de ciência? Ao longo do tempo, os estudiosos foram percebendo determinadas lacunas nos métodos das ciências naturais para se estudar a sociedade. Com isso, ficou evidente a necessidade de seguir outro caminho para se analisar a sociedade e seus diferentes processos. Para se trabalhar com pesquisa social, é importante considerar três elementos essenciais: teoria, método e criatividade, conforme assevera Minayo (1994). 65 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL A teoria é a forma com que se pensa o melhor caminho para se analisar uma dada realidade a partir de procedimentos, métodos e técnicas. É baseado em teorias que o pesquisador ilumina o caminho a ser pesquisado e analisado. Saiba mais Segundo Laville e Dione (1999, p. 93): a teoria consiste em uma explicação geral de um conjunto de fenômenos; podendo ser aplicada, em princípio, a todos os fenômenos semelhantes. Leia mais sobre teoria em LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artes Médicas; Belo Horizonte: UFMG, 1999. A existência da teoria permite ao pesquisador pensar logicamente sobre um determinado fenômeno na sociedade. Ao se defrontar com uma questão social, como as consequências do preconceito em relação aos índios, por exemplo, o pesquisador precisa ter em mente determinadas explicações coerentes que permitem estudar o problema com o máximo de precisão e respeito ao objeto em estudo. Laville e Dionne afirmam que o valor de uma teoria é, primeiramente, explicativo: é uma generalização de explicações concordantes tiradas de fatos que foram estudados para sua construção. Mas, para o pesquisador, seu valor é sobretudo analítico, pois ela lhe servirá para o estudo e a análise de outros fatos da mesma ordem. (1999, p. 93). Observe que, se não existisse a teoria, dificilmente o pesquisador teria uma orientação para a pesquisa e para a análise. Até mesmo para iniciar sua pesquisa, é necessário levar em conta alguma explicação lógica. Mas é preciso também saber que as teorias surgem a partir de concepções de mundo, ou seja, de ideologias, as quais orientam a pesquisa, na análise e interpretação dos dados. Se as teorias têm relação com as ideologias, significa dizer que a ciência, de algum modo, é comprometida com valores e interesses de determinados grupos. Minayo assevera que ninguém hoje ousa negar que toda ciência é comprometida. Ela veicula interesses e visões de mundo historicamente construídas, embora suas contribuições e seus efeitos teóricos e técnicos ultrapassem as intenções de seu desenvolvimento (1994, p. 12). 66 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II É com base na ideologia que se adotam os procedimentos, os métodos e técnicas de pesquisa, assim como se faz a análise e a interpretação dos dados. Cabe ao cientista social a criatividade necessária para se chegar aos resultados favoráveis, ou seja, ele deve encontrar as respostas para os problemas ou questões sociais, e essas respostas devem atender às necessidades da população. A pesquisa social é uma atividade que requer acuidade e conhecimentos de teorias, de métodos e de técnicas. Para a realização de qualquer pesquisa social, o pesquisador precisa também saber que o resultado do seu trabalho deve ter consonância com as necessidades da sociedade; do contrário, não terá sentido. Conclui‑se que pesquisa social se refere a uma investigação que envolve vários elementos, como: teorias, método, técnicas e também a ideologia. Trata‑se ainda de um tipo de pesquisa da qual o pesquisador é também um sujeito social. Nesse sentido, a neutralidade é questionável, uma vez que a ideologia está presente no decorrer de toda a investigação. 5.2 Conhecimento e realidade: conceituando Não se conhece algo se não houver uma relação entre o sujeito conhecedor, o objeto a ser conhecido e o contexto que envolve o sujeito e o objeto, a partir de uma realidade. Vamos deixar claro quais os significados de conhecimento e de realidade e, em seguida, saber como se dá essa relação entre um e outro. A capacidade do ser humano de vivenciar diversas experiências e arquivar na memória tudo o que está ou esteve à sua frente contribui para o que chamamos de conhecimento. Mas não seria possível conhecer se não tivéssemos os sentidos e o pensamento. A partir desses elementos, a relação do sujeito com o objeto se completa, favorecendo assim o conhecimento. Dessa forma, a participação do sujeito é fundamental para que haja conhecimento. A realidade, por sua vez, consiste em um conceito que envolve várias discussões. A questão que se coloca é: o que é realidade? Para saber o que é realidade, é preciso se voltar ao sentido e ao pensamento, elementos já indicados como indispensáveis para o conhecimento. Para que você considere algo como realidade, primeiramente é necessária a capacidade de perceber, sentir e relacionar isso com a sua vida ou o contexto em que já viveu ou ainda está vivendo. Quando você afirma que estudou hoje em uma teleaula da sua cidade, mais precisamente na sala dois, por exemplo, está querendo mostrar uma pequena parte do seu dia e que considera muito importante para sua vida. Todavia o que é real nessa afirmação só será de fato se você vivenciou essa experiência e, por sua vez, tem como provar para determinadas pessoas que queiram ou precisem saber. Você não precisa, é claro, inventar para você mesmo que fez o que disse, mas pode precisar provar para alguma pessoa. É claro que o que existe ou acontece não deixa de ser real se não for conhecido por alguém, mas, para se demonstrar o que existe, há elementos essenciais para que outras pessoas possam saber de fato que existe ou que existiu o que você afirma. Veja, portanto, que está posta a necessidade de saber o que é real e o que é realidade. Não é por acaso que a realidade é uma categoria ou um objeto de estudo das ciências sociais. 67 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Observação Conforme o Dicionário Houaiss, realidade é “tudo o que existe de verdade, o que é real” (2004, p. 625). Já no que tange ao real, o mesmo dicionário afirma que é “aquilo que tem existência palpável, concreta, que existe de fato, de verdade (2004, p. 624). Quando alguém se refere à questão da realidade, em geral, o que está implícito é a leitura e a compreensão do mundo nos seus diversos aspectos. Assim, a realidade social, o que envolve o ser humano e a sociedade, tem sido alvo de diversas discussõese preocupações por parte dos cientistas sociais. Para conhecer a realidade, sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, historiadores, entre outros cientistas sociais, adotam determinadas metodologias, conforme suas respectivas visões de mundo. Temos, portanto, concepções diferentes acerca da forma de se estudar a sociedade, o que, consequentemente, gerou várias abordagens e a adoção de metodologias conforme a necessidade apontada pelos pesquisadores. São formas de buscar aprender as realidades, as abordagens, como: o Positivismo, a fenomenologia, o marxismo, a metodologia compreensiva, o estruturalismo e a teoria da complexidade. Saiba mais Para uma compreensão mais ampla acerca do que são realidade e conhecimento, leia os livros: BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. CORCUFF, P. As novas sociologias – construções da realidade social. São Paulo: Edusc, 2001. Agora que você refletiu um pouco sobre conhecimento e realidade, vamos tratar dos tipos de conhecimento surgidos ao longo da história da humanidade, conforme você já viu em Metodologia Científica. É claro que não é preciso se alongar nesse tema, mas é importante retomar conceitos para maior aproveitamento e compreensão da importância do conhecimento na sociedade. 5.3 Os tipos de conhecimento Os tipos de conhecimento fundamentais até os dias de hoje são os seguintes: comum (também conhecido como empírico ou popular), religioso (ou teológico), filosófico e científico. São considerados ainda o mitológico e o artístico como formas de conhecimento, embora apresentem diferentes formas de perceber o mundo. 68 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II O conhecimento empírico é o da experiência, do cotidiano de cada um de nós que contribui significativamente para agir no mundo, orientar‑se e fazer as atividades necessárias. Se você tomar como exemplo o estudo que está realizando, vai perceber que, muito embora esteja envolvido em uma atividade acadêmica do curso de Serviço Social, para conseguir fazer o que precisa com vistas ao conhecimento e a sua formação, precisou antes de tudo de uma variedade de conhecimentos a respeito do seu mundo, até mesmo para chegar ao seu local de estudo. Veja então que o conhecimento comum é indispensável para que você possa alcançar novos conhecimentos mais detalhados e aprimorados, como é o caso da formação que espera alcançar com o final do curso. Quando a experiência em si já não se mostra suficiente para compreender determinadas coisas ou assuntos, você busca uma forma de conhecer, diferente do que fazia como procedimento normal, raciocinando rapidamente para resolver algo, como a simples necessidade de ir à faculdade de ônibus ou de carro particular. Em relação ao conhecimento religioso ou teológico, sabemos que os primeiros seres humanos já buscavam explicar os fenômenos ao seu redor, como a chuva, o fogo, o trovão, por exemplo, a partir da crença em deuses ou divindades. Dizem que esse tipo de comportamento se deu tendo em vista que, quando alguns homens já não sabiam como explicar concretamente por que determinados fenômenos ocorriam à sua volta, alegavam que poderia ser pelo fato de que algum deus estivesse enfurecido com eles por algum motivo, usando tais fenômenos como forma de repreensão pelos seus atos. Assim temos o surgimento do conhecimento religioso como parte dessa perspectiva de explicação das coisas a partir de crenças no sobrenatural, nas divindades ou na espiritualidade. À medida que o homem vai se desenvolvendo, juntamente com a sociedade, ele percebe a capacidade de pensar de forma aguçada, o que o leva a refletir sobre os diversos assuntos. Nasce então o conhecimento filosófico que, por sua vez, possibilitou mais adiante o surgimento do conhecimento científico, este mais desenvolvido a partir do surgimento da industrialização. Johan ensina que a atitude primeira do homem diante da realidade não é a de um sujeito analítico que a examina em profundidade, mas a de um ser que atua praticamente nas suas relações com a natureza e com os outros homens. Por isso ele necessita da reflexão filosófica, através da qual destrói a pseudoconcreticidade e a pretensa independência dos fenômenos, demonstrando o seu caráter derivado da essência. (1997, p. 29). Quando nos referimos à realidade, é indispensável levar em conta a capacidade de pensar, de refletir sobre tudo o que faz parte do universo humano. O sentimento e o pensamento estão intimamente relacionados à reflexão filosófica, o que permite a ação dos indivíduos, dos grupos e de organizações. 69 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Considerando as palavras do autor, sobre a reflexão filosófica, e relacionando com o papel do assistente social, podemos inferir que não faria sentido algum o trabalho desse profissional se ele não tivesse a compreensão de que sua ação está intimamente relacionada com a filosofia. Isso porque, ao atuar, o assistente social age a partir do que pensa sobre o mundo, as coisas e toma as decisões conforme sua filosofia adotada como a mais aceitável ou correta por ele. Por outro lado, ao pensarmos no trabalho em uma instituição, por exemplo, devemos levar em conta a filosofia que movimenta ou direciona as ações dos seus dirigentes e empregados. O conhecimento científico, por sua vez, surge com a necessidade da precisão, da comprovação, da organização, tendo em vista o desenvolvimento da industrialização. Como você já estudou em teorias sociológicas, a ciência tem suas bases já na Grécia Antiga, avança com o Renascimento e o Iluminismo, aprimora‑se e segue até os nossos dias, com o avanço da tecnologia presente em todas as esferas da sociedade. Cabe à ciência a garantia do desenvolvimento da sociedade da maneira mais segura, eficiente e eficaz. Isso é o que se espera da ciência. Mas esse tipo de conhecimento não deve ser considerado absoluto ou superior, mesmo porque é feito pelos homens e permeado de interesses e de ideologias. Se você tem alguma dúvida sobre isso, lembre‑se das guerras, da bomba atômica lançada na cidade de Hiroshima, do nazismo e do fascismo, das ditaduras que ocorreram na América Latina, entre outras formas de ação humana baseadas na ciência e a serviço do poder e de interesses escusos. Segundo Johan, para o conhecimento científico, a realidade a ser conhecida não se apresenta como um objeto à mostra, claro, transparente. Há sim uma distinção entre as coisas tal como aparecem em um primeiro momento à nossa percepção e como são na realidade (1997, p. 18). O conhecimento apresenta uma estreita relação com a realidade. Ao longo da história, o homem foi construindo tipos de conhecimento na esperança de alcançar ou de apreender a realidade. Sabemos que o conceito de realidade deve ser compreendido a partir da capacidade humana de pensar e de sentir para depois agir. Vamos estudar o processo de observação da realidade e as ciências sociais. Trata‑se de buscar compreender como as ciências sociais procuram explicar as diferentes realidades a partir de metodologias, conceitos e teorias. 5.4 O processo de observação da realidade e as ciências sociais Observar a realidade requer acuidade e paciência. A tarefa das ciências sociais é observar a realidade de maneira que permita à sociedade respostas favoráveis a descobertas das causas dos problemas ou dos fenômenos sociais. Mas é evidente que essa não é uma tarefa fácil de se realizar, mesmo porque o objeto de estudo das ciências sociais é por demais complexo, uma vez que se trata do homeme da sociedade nas suas mais diversas formas de atuação. 70 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II Lembrete A realidade deve ser compreendida a partir da capacidade humana de sentir, de pensar e de agir. Vejamos, agora, sobre a forma de observação da realidade por parte das ciências sociais, os problemas ou as dificuldades enfrentados pelos cientistas sociais para alcançar o que chamamos de conhecimento da realidade. Os estudos em torno da realidade tomaram forma mais clara a partir do século XIX, quando a Revolução Industrial já produzira diversas situações que estão entre o que podemos chamar de aspectos positivos e negativos. Mas não devemos esquecer que há muito tempo se buscou compreender os problemas sociais, a cultura, a política, a vida em sociedade. Os filósofos gregos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, abordaram a realidade de diferentes maneiras. Antes deles, já tínhamos também outros que apresentaram suas preocupações em torno da vida e da sociedade ou, em outros termos, ocuparam‑se da vida dos homens. Ao longo da história, acontecimentos como o Renascimento e o Iluminismo permitiram diferentes abordagens, agora com uma preocupação com a racionalidade, o que favoreceu, portanto, o desenvolvimento das ciências sociais mais adiante. A questão que surge, quando se trata de estudar a realidade, é a seguinte: como estudar cientificamente a realidade? A partir de então, os estudiosos se debruçaram nessa questão para encontrar respostas. Ao se tratar de estudo da realidade, logo podemos nos perguntar: mas que realidade? O que chamamos de realidade? Na busca de um caminho para o estudo da sociedade, dos problemas, dos fenômenos que surgem na sociedade, é que estudiosos, como Augusto Comte, se basearam nas ciências naturais. Por isso ele pensou na objetividade que a ciência da sociedade, no caso a Sociologia, por exemplo, deve ter. Dessa maneira, Comte procura estudar a sociedade com a mesma lógica e metodologia usadas em ciências como Biologia, Física, Química e na Astronomia. O precursor do Positivismo teve essa ideia porque não imaginava como alguém poderia demonstrar objetividade, comprovação dos estudos da sociedade, sem uma metodologia que permitisse encontrar as causas dos fenômenos ou, em outros termos, encontrar o que se denomina nas ciências de Leis Naturais. Nessa perspectiva positivista, só se aceita como ciência o que pode ser mensurado, quantificado, demonstrado estatisticamente ou visto concretamente. Então, temos na busca de observação da realidade social, a questão da objetividade, isto é, estudar a sociedade tal qual se faz nas ciências da natureza. Essa questão da objetividade gerou várias discussões e polêmicas nas ciências sociais por parte de importantes estudiosos da área até os dias atuais. A maneira de perceber e de estudar a sociedade nunca foi algo de consenso por parte dos intelectuais. No caso dessa perspectiva positivista, Comte buscava demonstrar que não havia outro caminho ou metodologia diferente dessa ótica da objetividade a partir das Leis Naturais. O teórico se colocava contrário a toda percepção idealista a respeito do estudo da sociedade. Essa visão é também conhecida como objetivismo e “tem como projeto estabelecer regularidades objetivas (estruturas, leis, sistemas de relações etc.) independentemente das consciências individuais” (BOURDIEU apud CORCUFF, 2001, p. 17). 71 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Observação O objetivismo dá prioridade ao objetivo na análise dos fenômenos sociais, enquanto o subjetivismo prioriza o subjetivo, a interpretação, ou seja, aquilo que não pode ser mensurado e quantificado. O objetivismo procura seguir as regras rígidas traçadas pelo Positivismo. Tal procedimento tem sido contestado por diferentes teóricos. Bourdieu (apud CORCUFF, 2001, p. 17) ensina que “o objetivismo constitui o mundo social como um espetáculo oferecido a um observador que assume um ‘ponto de vista’ sobre a ação e que, importando do objeto, age como se ele fosse destinado unicamente ao conhecimento”. Os estudiosos que se colocam contrários ao objetivismo são subjetivistas, mesmo porque não veem como estudar algo tão complexo como a sociedade de forma totalmente voltada para o objetivo. É por isso que surgiram outras perspectivas teóricas e metodológicas, como a análise compreensiva, de Max Weber, e a fenomenologia. Embora tenha sido de grande relevância a contribuição teórica e metodológica de Augusto Comte no que diz respeito à forma de estudar a sociedade e seus fenômenos, os estudiosos que se seguiram demonstraram as lacunas deixadas pelo Positivismo comtiano. Essas lacunas deram margem para a busca de estudos mais voltados para uma visão subjetiva, o que se apresenta como uma metodologia qualitativa, enquanto que a outra é quantitativa. Como o próprio termo já indica, a metodologia quantitativa prioriza o que pode ser medido, enquanto a qualitativa prioriza o não quantificável, como é o caso de estudar os comportamentos e os sentidos dados às ações sociais. Agora, para uma maior compreensão a respeito dessa polêmica entre objetivo e subjetivo, vejamos um exemplo de como isso se apresenta no âmbito do Serviço Social: o assistente social que atua em uma determinada instituição, em geral, está a serviço do que lhe é determinado para realizar. No caso de uma intervenção do poder público em uma determinada comunidade, para traçar o perfil socioeconômico de sua população, o assistente social é o agente institucional responsável pelo levantamento de dados junto às pessoas para saber as condições de moradia, de renda familiar, dos problemas centrais que as pessoas vivenciam na sua localidade, entre outros. Para tanto, esse profissional lança mão de um questionário, geralmente fechado ou misto, isto é, com perguntas para marcar a alternativa correspondente e outras para que o informante dê sua opinião sobre a realidade na qual vive. Temos, portanto, o uso de uma metodologia quantitativa, tendo em vista que se procura mensurar os dados e, em seguida, apresentar o relatório detalhado para a instituição na qual atua. De posse dos dados quantitativos, é que se discute com a equipe o que deve ser feito para se resolver os principais problemas verificados com a pesquisa. No caso da aplicação de uma metodologia qualitativa, o assistente social atua de forma detalhada e comedida, por meio de observações in loco e de entrevistas com pessoas da comunidade para saber sobre os principais problemas e como as pessoas de lá buscam suas soluções. O relatório final a ser apresentado pelo assistente social deve levar em conta tudo o que observou e procurar perceber o sentido dado aos problemas encontrados por parte das pessoas da comunidade para, em seguida, tirar as possíveis conclusões. 72 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II Observar a realidade não é tarefa simples, como se pode imaginar. Cabe aos cientistas sociais encontrarem o caminho mais adequado para estudar a sociedade. Com isso, é possível agir de forma que proporcione às pessoas uma melhor qualidade de vida e, evidentemente, respostas para enfrentar os seus problemas e suas especificidades. Assim, vemos que é necessário cautela para buscar estudar e compreender a sociedade com os seus respectivos problemas e situações diversas. 5.5 Investigação, trabalho e produção de conhecimento Pensar a investigação como dimensão constitutiva do trabalho do assistentesocial e como subsídio para a produção do conhecimento sobre processos sociais e reconstrução do objeto da ação profissional consiste em uma importante reflexão sobre o Serviço Social e sua prática. Sabemos que o assistente social tem à sua frente uma infinidade de problemas e de necessidades na atuação junto às questões sociais. Portanto não se pode prescindir da tarefa da produção do conhecimento na empreitada desse profissional. Para uma ação efetiva e de qualidade que proporcione às populações respostas concretas no que tange aos seus problemas, como os relacionados à saúde, à habitação, à violência, à prostituição, entre outros, o assistente social deve ter uma conduta séria, um faro de pesquisador que lhe permita alcançar o sucesso desejado no que se refere à solução dos problemas da sociedade. 5.5.1 A investigação na prática profissional em Serviço Social Baptista assevera que, no Serviço Social, assumido como profissão interventiva, o conhecimento a ser construído pela investigação tem como horizonte não apenas a compreensão e a explicação do real, mas a instrumentação de um tipo determinado de ação (1993, p. 1). Para uma determinada ação, temos uma intenção e, no Serviço Social, não é diferente. As palavras de Baptista nos remetem também à necessidade da instrumentação de um determinado tipo de ação. É importante refletir sobre essa questão, até mesmo para que não se pense em uma concepção de instrumentação pautada no objetivismo e no tecnicismo, o que pode levar a ações e conclusões equivocadas sobre o trabalho do assistente social. Baptista ainda acrescenta que no exercício de sua prática, o profissional pode ter diferentes motivos para investigar, os quais muitas vezes estão imbricados em uma mesma pesquisa. É o motivo “dominante”, o motivo “central” que, de certa forma, vai definir a natureza da investigação encetada (1993, p. 2). Considerando essa afirmação, a autora destaca três aspectos fundamentais na investigação como prática do assistente social: 73 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL • Subsidiar e instrumentalizar a prática. • Ampliar a capacidade de “comunicação racional”. • Construir conhecimento científico. A respeito do primeiro, a autora chama atenção para a necessidade de se adquirir conhecimentos condizentes para uma atuação na realidade, o que exige o pensamento (lógica), o discurso do conhecimento (aspectos epistemológicos) e também as técnicas. O assistente social pode atuar no sentido de dar subsídios e instrumentalização de sua prática, mas sem ser um mero técnico indiferente aos problemas e às realidades que vivencia junto às populações, o que o faria ser um mero reprodutor do sistema, conformado com determinadas realidades que se repetem a cada dia e são alimentadas por meio de práticas que não passam de assistencialistas. Ao contrário dessa postura conservadora, é necessário que o assistente social possa “encaminhar suas reflexões e seus resultados em um sentido histórico, social, político e técnico de produção de conhecimentos que tem em vista uma prática mais consequente” (BAPTISTA, 1993, p. 2). Observe que a prática desse profissional não significa focalizar apenas o cumprimento de determinadas tarefas, como a aplicação de um questionário em um determinado bairro ou setor da cidade. O que move a ação do assistente social, pelo menos o que deve mover, é a intenção que se concretiza em uma determinada ação. Assim, se esse profissional é limitado no que tange aos conceitos e às teorias e a uma visão crítica da sociedade, não fará praticamente nada que permita uma mudança significativa da realidade na qual está inserido e atuando. A teoria permite a orientação para a incursão no mundo social e, com base na teoria se faz a escolha certa dos métodos e das técnicas a serem utilizados na prática do assistente social. Somente assim, esse profissional terá condições para atuar junto às populações e no trato com as questões sociais. Sobre a capacidade de ampliação de comunicação racional, conforme as ideias de Baptista, deve‑se levar em conta que a prática do assistente social requer uma reflexão contínua sobre a sua ação e a forma com que vai atuar na sociedade. Mas é importante saber que o termo comunicação racional já conduz a uma prática consciente, intencional em torno do objeto da ação profissional. Quanto à construção do conhecimento científico e o Serviço Social, o que está em questão é a pratica do assistente social, que não deve ser utilitarista e muito menos descompromissada com a necessidade de transformação da sociedade. Essa perspectiva de transformação necessária, com vistas à solução de problemas sociais, requer uma atitude científica. Isso não significa necessariamente uma prática objetivista, mas a elaboração de “conhecimentos que permitam aos assistentes sociais responder às exigências pragmáticas de sua ação profissional” (Baptista, 1993, p. 8). A investigação consiste em uma tarefa importante na prática do Serviço Social. Sem a consciência de que são necessários conhecimentos teóricos e metodológicos para a ação diante das questões sociais, o assistente social não logrará êxito no que tange à mudança social e, consequentemente, a solução de determinados problemas sociais. 74 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II A partir do exposto, podemos inferir que há uma forte relação entre conhecimento e realidade; daí que, ao longo do tempo, os seres humanos foram buscando compreender o mundo e seus desafios para viver. Nesse sentido, surgiram os tipos de conhecimento: empírico, religioso, filosófico e científico. Tais conhecimentos são fundamentais para o mundo ainda hoje e, em função da racionalidade industrial, o conhecimento científico passou a ser cada vez mais utilizado. No Serviço Social, temos o uso constante do conhecimento científico, como também uma produção de conhecimento que se dá no processo de trabalho do assistente social, tendo em vista as diferentes realidades nas quais trabalha. Com isso, torna‑se indispensável a investigação, isto é, a pesquisa científica. 6 ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS: ENTENDENDO PASSO A PASSO ESSA ESTRUTURA DO TCC Há pontos importantes para se ter uma noção clara do que está sendo tratado no TCC, bem como para saber um breve histórico do autor, além do resumo e das palavras‑chave. Esses pontos, sem dúvida, oferecem uma visão geral sobre o que o leitor precisa saber ao ler um TCC. Quanto aos elementos textuais, ou corpo do TCC, são eles que merecem maior atenção por parte de quem elabora. Serão destacados a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. A monografia é um Trabalho de Conclusão de Curso e apresenta praticamente a mesma estrutura do TCC. Umas das diferenças em relação a este é que se apresenta em capítulos e permite um maior número de páginas, porém com no mínimo 40 páginas. Santos (2004, p. 36‑37) afirma que a monografia é um texto de primeira mão, resultante de pesquisa científica e que contém a identificação, o posicionamento, o tratamento e o fechamento competentes de um tema ou problema [...] é um texto essencialmente analítico, em que o objeto (tema/problema) é geralmente bem delimitado em extensão (um objetivo geral, aberto em objetivos específicos logicamente interligados e sequenciados) de forma a permitir o aprofundamento do estudo. 6.1 Estrutura Geral do TCC A estrutura de um trabalho acadêmico compreende: elementos pré‑textuais, os quais que antecedem o texto com informações que ajudam na identificação e utilização do trabalho; elementos textuais, que constituem aparte do trabalho em que é exposta a matéria; e elementos pós‑textuais, que complementam e fornecem as referências do trabalho. Observe a estrutura no quadro a seguir: 75 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Quadro 9 – Estrutura Elementos Pré‑textuais Textuais Pós‑textuais Seção ‑ Capa (obrigatório); ‑ Folha de rosto ou frontispício (obrigatório); ‑ Folha de aprovação (obrigatório); ‑ Dedicatória (opcional); ‑ Agradecimentos (opcional); ‑ Resumo na língua vernácula (obrigatório); ‑ Resumo na língua estrangeira (obrigatório); ‑ Lista de ilustrações (obrigatório); ‑ Lista de tabelas e quadros (obrigatório); ‑ Sumário (obrigatório). ‑ Introdução; ‑ Justificativa; ‑ Objetivos; ‑ Metodologia; ‑ Desenvolvimento; ‑ Conclusão. ‑ Bibliografia (obrigatório); ‑ Apêndices (opcional); ‑ Anexo (opcional). Observação Participam da contagem do número de páginas, mas não são paginados. Participam da contagem do número de páginas e são paginados. Participam da contagem do número de páginas e são paginados. 6.2 As páginas pré‑textuais: identificação do trabalho Apesar de existirem vários outros componentes de páginas pré‑textuais, não utilizaremos todos os exigidos nas monografias. Mas é importante conhecê‑los. Seu trabalho, que utilizará o artigo científico como TCC, deverá apresentar apenas duas páginas pré‑textuais: a capa e a folha de rosto, que identificam o título, o nome dos autores e o porquê do trabalho, apesar de o resumo ser apresentado como uma página pré‑textual isolada, juntamente com as palavras‑chave e o abstract com as key‑words, a monografia segue uma ordem diferenciada. Como veremos a seguir, você construirá a capa e a folha de rosto como páginas independentes do restante do conteúdo do artigo. Logo na página seguinte, você apresentará seu artigo científico de forma corrida e não na forma de capítulos. Quadro 10 – Apresentação da estrutura do TCC Capa Folha de rosto Título do trabalho; Identificação dos autores; Resumo e palavras‑chave; Abstract e key‑words; Introdução; Desenvolvimento; Considerações finais; Referências. 76 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II 6.2.1 Orientações para a construção das páginas pré‑textuais: capa e folha de rosto Gil expõe que a capa de um trabalho científico “constitui a proteção externa do trabalho. Deve ser confeccionada com material duro e conter o nome do autor, título, local de publicação e ano” (1999, p. 167). De forma prática e direta, a capa do trabalho deve conter, na seguinte ordem: o nome da instituição (centralizado no alto da página em caixa alta e pode estar acompanhado da logomarca), nome do curso, nome do acadêmico (centralizados no alto da página, com as iniciais maiúsculas), título do trabalho (no centro da folha em caixa alta), cidade e ano (na margem inferior com as iniciais maiúsculas). A capa não conta para numeração de páginas. Para facilitar e uniformizar as capas, você deverá utilizar o modelo padrão adotado pela Unip, o qual está no manual de TCC. Na folha de rosto, geralmente, exigem‑se elementos essenciais para a identificação do trabalho: “nome do autor, título, subtítulo (se houver), instituição à qual o trabalho é submetido e título pretendido, nome do orientador (quando houver), local e ano” (GIL, 1999, p. 167). A folha de rosto deverá apresentar, além dos tópicos da capa, um parágrafo entre o título e o ano; nele será destacada a finalidade da realização do estudo em questão. Pádua (1995, p. 163) explica que, “abaixo do título do trabalho, do lado direito, deve constar uma explicação quanto à natureza do trabalho, a instituição a que se destina, sob a orientação de quem foi realizado”. Preferencialmente, esse trecho deverá estar a 8 cm da margem esquerda, com espaço simples e fonte Arial, tamanho 10, como mostra o exemplo a seguir. Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Paulista – UNIP, sob orientação do(a) professor(a) Especialista/Ms./Dr.... NOME DO ALUNO TÍTULO DO TRABALHO Subtítulo Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Paulista ‑ UNIP, sob orientação do(a) professor(a) Especialista/ Msc/Dr. ... CIDADE ANO UNIVESIDADE PAULISTA NOME DO ALUNO TÍTULO DO TRABALHO Subtítulo CIDADE ANO Figura 9 – Modelo de capa e folha de rosto do Trabalho de Conclusão de Curso 77 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL 6.2.2 Orientações para a construção da dedicatória e agradecimento A dedicatória é um elemento opcional, colocado após a folha de rosto e deve estar baseada nas normas da ABNT. Pode ser um texto breve com poucas coisas ou algo maior, mas não pode ser exagerado. Pode ser feita para qualquer pessoa, sejam parentes, amigos, companheiro e outros. Também opcional, o agradecimento é dirigido a pessoas que contribuíram de maneira relevante à elaboração do trabalho. Se for incluído, deverá aparecer após a dedicatória, e, caso esta não exista, após a folha de aprovação. Não existe um padrão para se escrever o agradecimento; por isso, recomenda‑se bom senso e uma redação simples e direta. As pessoas a quem os agradecimentos se dirigem devem aparecer em ordem decrescente de importância. 6.2.3 Orientações para a construção do resumo, abstract, palavras‑chaves e key‑words O resumo em língua vernácula (português) é importante para que se consulte a pesquisa antes de ser lida por completo e deverá estar localizado abaixo do título do trabalho. É necessário construir um bom resumo, pois é o “cartão de visita” de seu trabalho. Boaventura (2004, p. 141) menciona que “o resumo consiste, pois, na apresentação dos pontos relevantes de um texto”. Feitosa (2001, p. 77) acrescenta que as “informações que não estejam no documento original não podem ser colocadas no resumo”. Feitosa recomenda “que os resumos e comunicações breves tenham até 100 palavras; os de monografia e artigos, até 250 palavras; e os de relatórios e teses, até 500 palavras” (2001, p. 77). Para o TCC que será postado na ferramenta da Unip, adotaremos o limite de 800 caracteres para o resumo do seu Trabalho de Conclusão de Curso, juntamente com as palavras‑chave. Para acompanhar essa contagem no Microsoft Word, selecione o texto do resumo e clique em “ferramenta”, “contar palavras”. Talvez a sua versão do programa apresente um atalho diferente, mas a ferramenta poderá ser localizada. Além de apresentar um resumo do seu TCC, você deverá escolher de três a cinco palavras que identifiquem as ideias principais do seu trabalho. Estas palavras serão utilizadas para localizar obras em bibliotecas, portanto escolha palavras comuns e globais. Caso você escolha uma palavra que não é tão corriqueira, correrá o risco do seu trabalho não ser localizado e lido por outras pessoas. No TCC, assim como em artigos científicos, não será exigido o abstract nem as key‑words, que são, respectivamente, o resumo de seu artigo e as palavras‑chave em inglês, localizados após o resumo e as palavras‑chaves em português. No entanto, você deverá acrescentá‑los, pois é importante que você já treine para possíveis publicações científicas, pois, normalmente, os eventos científicos exigem esses elementos. Sabemos que nem todos dominam o inglês para produzir tal resumo e palavras‑chave, então sugerimos que procure pessoas habilitadaspara prestar tal serviço, como professores de línguas em sua cidade ou proximidades. 78 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II 6.2.4 Orientações para a construção das listas (ilustrações, quadros, tabelas, siglas etc.) Elemento opcional que deve ser apresentado de acordo com a ordem dos itens no texto, indicando seu nome específico (se houver) e acompanhado do respectivo número da página. Quando necessário, recomenda‑se a elaboração de lista própria para cada tipo de ilustração/figura (desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias, gráficos, mapas, organogramas, plantas, quadros, retratos e outros). Cabe ressaltar que a lista de ilustrações é elaborada segundo a necessidade do trabalho e de acordo com a ordem apresentada no texto, porém, com cada item designado por seu nome específico, acompanhado do número da página. 6.2.5 Orientações para a construção do sumário O sumário configura‑se como o último elemento pré‑textual do trabalho. Consiste na enumeração das principais divisões, títulos, seções e outras partes relevantes do trabalho. O conteúdo é apresentado na mesma ordem e formatação de cada título. Cada linha de referência é acompanhada do respectivo número da página na qual se inicia. No sumário os elementos pré‑textuais não são listados. 6.3 Organizando os conteúdos: as páginas textuais identificam o trabalho Para entender como elaborar os capítulos e organizar os conteúdos, temos como pergunta: qual é o problema que a sua pesquisa busca responder? Isto é, qual é o problema de sua pesquisa já pensada e repensada desde a construção do projeto de pesquisa. Sabe‑se que não é uma tarefa fácil escolher qual o tema que você terá prazer em pesquisar, bem como qual problema gostaria de responder. De acordo com Boaventura, “o mais aconselhável é a escolha fluir da experiência profissional do pesquisador. O problema poderá surgir, nos semestres finais do curso, com o estágio ou explorando a inclinação por determinada disciplina” (2004, p. 33). Fique atento no seu dia a dia acadêmico, participe das discussões e observe se algo lhe chama a atenção, poderá descobrir um tema interessante, pois, “para encaminhar a pesquisa, parte‑se da escolha do tema, do qual se formula o problema. Tema é o assunto que se quer desenvolver ou provar” (BOAVENTURA, 2004, p. 33). Antunes (2001) sugere que não sejam abordados assuntos que já foram exaustivamente pesquisados, bem como aqueles em que ainda há muita incerteza. Estes, por serem inovadores, não terão material para você pesquisar e construir sua revisão de literatura. Boaventura acrescenta que o problema cientificamente considerado há de possibilitar tratamento metodológico, com verificação pelas técnicas e processos que possibilitem evidências empíricas. Em síntese, problema é uma questão ainda não resolvida ou resolvível que permite abordagem metodológica no encaminhamento de solução (2004, p. 37). Para Henriques e Medeiros, citados por Boaventura (2004, p. 37), “problema significa qualquer questão não resolvida que é objeto de discussão, em qualquer domínio do conhecimento”. Ou seja, além de ser algo que apresenta algumas lacunas, apesar de já haver sido foco de pesquisas, o problema deve 79 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL ser possível de resolver por meio de um estudo metodológico, em todas as áreas de estudo. Boaventura demonstra os pontos em cheque para um problema de pesquisa: “o problema deve ser formulado como pergunta [...]; deve ser claro e preciso [...]; deve ser empírico, ou seja, baseado na experiência [...]; deve ser suscetível de solução [...]; e deve ser delimitado a uma dimensão viável [...]” (2004, p. 38). Nesse sentido, Antunes acrescenta que, se a pesquisa é, em síntese, uma resposta, é essencial que sempre comece com uma pergunta. Se você tem uma pergunta e sabe a resposta, não há pesquisa a ser feita. Ao contrário, toda pergunta sem resposta ou com uma resposta insuficiente representa o ponto de apoio para toda pesquisa (2001, p. 49). Sendo assim, um problema deve ter o objetivo de encontrar uma possível resposta para algum problema observado e, claro, “quanto mais fácil a resposta, mais simples a pesquisa; quanto mais amplas e mais difíceis as respostas, tanto mais se justifica a razão de ser de uma pesquisa” (ANTUNES, 2001, p. 49). Procure um meio termo, nada que seja tão evidente, mas também nada que leve a um resultado incoerente. 6.3.1 Seu problema de pesquisa será seu guia Embora seja um dos primeiros aspectos a ser escolhido para a realização de uma pesquisa, o problema segue todas as outras etapas. Boaventura nos ensina que, “como ponto de partida da pesquisa, o problema é desdobrado em questões ou hipóteses, fundamentado na literatura concernente e operacionalizado pela metodologia”, ou seja, “em torno do problema girará toda a investigação” (BOAVENTURA, 2004, p. 62, grifo nosso). Como a construção da pesquisa é uma tarefa constante, Antunes (2001) acredita que o problema de pesquisa pode sofrer algumas alterações, conforme o desenrolar das demais etapas, seja pelas leituras, pela dissertação, pelos objetivos estabelecidos. Porém essas alterações não indicam pontos negativos ao pesquisador, mas sim que ele está conseguindo discutir e avaliar o tema que propõe investigar, com melhorias constantes. 6.3.2 Orientações para a construção da introdução A transformação da estrutura de formatação do projeto de pesquisa de um artigo científico e de um TCC exige que, no tópico da introdução, sejam acrescentados: a justificativa da escolha do tema e do problema e os objetivos que a pesquisa busca alcançar. Para escrever a justificativa, você responderá com suas palavras às perguntas: “por que você quer realizar essa pesquisa? Tem importância teórica e prática? Qual a relevância social? Qual a contribuição que você pretende trazer com esse trabalho?” (BOAVENTURA, 2004, p. 43). Sobre a composição da introdução de um trabalho, Feitosa expõe que “se costuma dizer que uma introdução deve começar por uma definição sucinta do objetivo do trabalho e pela exposição dos motivos que determinam sua execução” (2001, p. 61), além dos antecedentes mais relevantes e uma breve exposição do trabalho. Assim, transforme os primeiros tópicos do seu projeto de pesquisa (tema, 80 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II problema, objetivos, justificativa) em formato de texto dissertativo. Acrescente discussões, ligue o leitor ao assunto apresentado. Dessa forma, tudo que você fez no projeto de pesquisa passará a fazer parte do seu TCC, basta que faça algumas adaptações. Boaventura (2004) explica que o objetivo geral é uma forma de explicitar clara e precisamente a finalidade da pesquisa realizada. Por sua vez, os objetivos específicos são pequenas ações que ocasionariam o alcance do objetivo geral. Todos os objetivos iniciam com verbos no infinitivo, indicando as ações propostas, como, por exemplo: compreender, identificar, caracterizar etc. O que você pretende com o seu trabalho? A resposta a essa pergunta será seu objetivo geral. Para facilitar a construção da introdução do seu Trabalho de Conclusão de Curso, apresentamos um esquema. Lembre‑se de que são apenas sugestões. Use sua criatividade e produza uma introdução atrativa e prazerosa. • 1º parágrafo: apresente ao leitor informações sobre o tema, aproveite para justificar a escolha e a importância dele, bem como o que o motivou a estudá‑lo. Não esqueçaque o problema detectado é um dos fatores motivadores. • 2º parágrafo: explique os objetivos gerais e específicos do seu trabalho. • 3º parágrafo: de forma sucinta e sequencial, mostre ao leitor os conteúdos que serão apresentados. Por exemplo: este trabalho se iniciará com um resgate histórico da ________________, bem como, abordará discussões acerca de ____________________. Não se esqueça de tecer algum comentário para fechamento da introdução. Lembre‑se de que o leitor começará ler o corpo de seu trabalho pela introdução, por isso ela deve estar clara, organizada, interessante para que desperte interesse no leitor e o faça prosseguir na leitura. Pádua (1995, p. 161) aponta que a introdução deve ser escrita quando o trabalho estiver concluído, visto que, além de anunciar o assunto, o tema, o problema, a metodologia, deverá mostrar brevemente como o trabalho foi desenvolvido na escrita e como se deu a organização das ideias centrais dos capítulos. Desde a introdução, assim como todo o momento de escrita do seu Trabalho de Conclusão de Curso, utilize a terceira pessoa do singular, com verbos no passado, pois você relatará algo que já foi feito, como, por exemplo: fez‑se, construiu‑se, pretendeu‑se, atingiu‑se. Exemplo disso é a adaptação de seu objetivo geral do projeto de pesquisa, que poderia estar assim: “analisar a convivência sociofamiliar do idoso do Centro de Convivência Belo Lar”. Esse mesmo objetivo será explicitado no seu TCC da seguinte forma: “para este estudo, analisou‑se a convivência sociofamiliar do idoso do Centro de Convivência Belo Lar” ou mesmo “a convivência sociofamiliar dos idosos do Centro de Convivência Belo Lar foi o objetivo maior deste estudo”. Portanto, os verbos devem acompanhar o real momento do trabalho; se você está relatando algo que será realizado, os verbos devem estar no futuro; se o relato é de algo que está em andamento, devem estar no presente; por fim, se a ação relatada já foi realizada, devem estar no passado. 81 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Lembrete Como elaborar objetivos? Usar frases curtas, objetivas, orações simples, iniciadas com verbos de ação, no infinitivo. Os verbos utilizados na redação dos objetivos geralmente são: mapear, identificar, levantar, discutir, traçar (o perfil), diagnosticar, historiar, demonstrar, analisar, constatar, elaborar, examinar, avaliar, explicar, compreender, descrever, verificar, entre outros. A formatação será a mesma do corpo teórico do texto, ou seja: fonte Arial, tamanho 12, espaço entre linhas de 1,5, negrite somente o título. Assim é a formatação que será cobrada para o trabalho postado no portal da Unip, não segue a mesma formatação do Word, portanto, mesmo que cole ou digite o texto na ferramenta, precisa formatá‑la de acordo com o padrão. Cada instituição de ensino decide a formatação que deseja para os trabalhos científicos com base na ABNT ou mesmo criando um padrão específico, por isso você se deparará com diferentes formatações de uma instituição para outra. Saiba mais As orientações fornecidas, quanto à composição, redação e formatação da introdução do seu Trabalho de Conclusão de Curso são fundamentais para você elaborar seu TCC. Acesse‑as No site da Unip: <http://www3.unip.br/servicos/biblioteca/download/manual_de_ normalizacao.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2013. 6.3.3 Orientações para a construção do desenvolvimento Quanto ao desenvolvimento, trata‑se do corpo do trabalho, e não deve ser destacado com esse título, mas sim a partir do tema que se está desenvolvendo. É nessa parte que o pesquisador apresenta seus dados, em forma de gráficos, tabelas ou com partes de entrevistas, conforme tenha sido utilizada a metodologia com seus instrumentos e técnicas. A justificativa busca demonstrar qual a importância da pesquisa a ser realizada e quais os benefícios diretos e indiretos para a sociedade e para a ciência. Ao proceder dessa forma, você estará respondendo ao porquê da pesquisa. Em uma pesquisa para verificar, por exemplo, os principais problemas que as adolescentes pobres enfrentam na gravidez, pode‑se ter como justificativa a necessidade de se realizarem estudos científicos que forneçam subsídios para possíveis planejamentos e ações junto às adolescentes em tal situação. 82 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II A fundamentação teórica, ou referencial teórico, se refere aos conceitos e teorias que deverão ser utilizadas no projeto de pesquisa. Para Goldenberg (1999, p. 76), trata‑se de contextualizar o tema dentro do debate teórico existente, bem como dos principais conceitos e categorias, de modo a estabelecer um diálogo com os autores. Em seguida, é feita a análise e a interpretação dos dados, a partir de teorias e de diferentes estudos que possibilitem a discussão e, consequentemente, a ampliação dos conhecimentos sobre o que foi pesquisado. Em seguida, deve‑se finalizar com a conclusão, ou considerações finais. A metodologia é o caminho a se seguir, pois se trata da parte que fundamentará a escrita dos capítulos do seu Trabalho de Conclusão de Curso e, com certeza, é de grande valia para seu aprendizado e superação na pesquisa. Sendo assim, Martins (1994) organizou alguns itens que devem ser apresentados em uma metodologia: justificar e descrever o tipo de pesquisa adotado; população e amostra que irão compor a pesquisa; como os dados serão coletados; descrever todos os detalhes das atividades, antes, durante e depois da coleta; e o plano de análise dos dados. Boaventura (2004) demonstra que, na metodologia, serão definidos onde, quem (população e amostra), como (instrumentos de coleta de dados), tabulação e análise dos dados. Sendo assim, observamos alguns pontos em comum que são de praxe da metodologia do TCC. Em ordem hierárquica: tipo de pesquisa, população e amostra da pesquisa, instrumentos para coleta de dados, qual será a forma de analisar e discutir os dados. Os detalhes quanto a cada momento de construção do TCC podem ser apresentados nesse item, em que a intenção é que a metodologia esteja tão clara, que outros pesquisadores possam reproduzi‑la. 6.3.3.1 Referenciando teoricamente um estudo científico Para referenciar teoricamente seu estudo científico, realize os procedimentos indicados por Almeida Jr. (1995). Ao construir seu TCC, contextualize o assunto que está sendo relatado: apresente conceitos, teorias principais, história, enfim, ajude o leitor a compreender seu estudo. A dica é sempre buscar a existência de políticas públicas relacionadas à sua temática. Utilizá‑las e citá‑las corretamente é fundamental ao seu estudo. O corpo teórico do seu trabalho deverá ser respaldado por outros autores que já estudaram ou estão discutindo o tema que você escolheu. Portanto devem ser respeitadas as palavras construídas por eles, e isso se faz com o uso de citações. Como veremos a seguir, “a revisão de literatura foi apresentada em citações com indicações precisas das referências bibliográficas e das fontes consultadas” (BOAVENTURA, 2004, p. 52). Vejamos um exemplo a seguir de diálogo com diferentes autores. 83 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Quadro 11 Estudos sobre alunos universitários são amostras do comportamento da juventude brasileira. Quando se escolhe um curso, em particular, para se realizar o estudo, devem‑se levar em consideração as características que peculiarizam o perfildos alunos que nele ingressam e que os distinguem dos demais. A bem dizer, os alunos de serviço social não têm a mesma identidade e o mesmo perfil que alunos de ciências sociais (VIANNA e outros, 1994; NOVAES, 1994; NER, 2001; ORO, 2004), mas se aproximam muito dos alunos de educação e pedagogia (VILLAS BOAS; PESSANHA, 1995). Em geral, essas carreiras são majoritariamente femininas, sendo o Serviço Social o curso com a maior taxa de mulheres, entre todos os cursos universitários nos últimos 30 anos (BELTRÃO; TEIXEIRA, 2004). Além disso, 72% dos pais dos assistentes sociais (contando pai e mãe juntos) completaram no máximo até o 2º Grau, sendo que destes, 48% só têm o curso elementar (PNAD, 1996). Portanto os alunos de serviço social são majoritariamente mulheres advindas de camadas baixas e pouco letradas da população. Antes mesmo das confrontações, Simões (2007) faz um parágrafo introdutório. Acompanhe no parágrafo seguinte a contribuição de Vianna, Novaes, Oro, Villas Boas e Pessanha, Beltrão e Teixeira. O escritor conseguiu reunir várias contribuições teóricas e apresentar, nas últimas linhas, um fechamento sobre o assunto. Fonte: SIMÕES, P. Religião e política entre alunos de Serviço Social (UFRJ). In: Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 2007, p. 175‑192. Buscar fontes confiáveis para fundamentar seu estudo requer empenho. Visite bibliotecas locais, pesquise pela temática que tem interesse em estudar. Talvez procure por livros que não encontrará em bibliotecas, então poderá adquiri‑los em livrarias especializadas, as quais costumam encomendar, caso não tenham no estoque no momento. Além das livrarias que vendem livros novos, há os sebos que são comércios de livros usados, onde você poderá trocar livros que não utilizará mais ou mesmo comprar por valor bem mais acessível. A internet também é uma fonte inesgotável de conteúdos que poderá ser fonte complementar. No entanto não poderá produzir seu projeto de pesquisa, seu TCC e até um artigo científico somente com base em sítios, porque há muitos trabalhos não confiáveis disponíveis. 6.3.3.2 Aspectos éticos envolvidos Todo cidadão segue várias legislações, normatizações, tudo em prol da organização social. Além das legislações comuns a todos os cidadãos, a maioria dos conselhos profissionais elabora um Código de Ética Profissional específico, regulamentando direitos e deveres peculiares à categoria a que se destina. Por exemplo, o Serviço Social, possui o Código de Ética Profissional do Assistente Social. Levantamos aqui essa discussão devido à grande ocorrência de crimes contra os direitos autorais. Esse assunto é muito corriqueiro no mundo musical, assim como na literatura e obras bibliográficas em geral. Consegue identificar o que há de comum entre a música e o livro? É justamente a ideia do autor que os escreveu que é usurpada por outrem. O Conselho Federal de Serviço Social publicou o Código de Ética do Assistente Social, do qual destacamos, principalmente, o previsto no artigo 3º: “desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor”. A mesma lei, em seu artigo 4º, 84 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 Unidade II expõe quanto às vedações ao assistente social, “é proibido assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo que executados sob sua orientação”. As legislações são formas histórico‑sociais de organização da sociedade. Além de outras leis existentes, observe a Lei nº. 9.610, a qual dispõe acerca da legislação dos direitos autorais. Em seu artigo 24, são mencionados os direitos morais do autor, entre eles: o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra. Diante do exposto, seja ético e evite maiores complicações. No seu Trabalho de Conclusão de Curso, identifique as fontes consultadas. Primeiramente deve‑se compreender que citar não é costurar. Segundo as Normas Brasileiras de Referências‑NBR 10520s, citadas por Boaventura (2004, p. 80), citação “é a menção de uma informação citada por outra fonte”. Podemos transcrever um trecho literalmente, como também podemos comentar a ideia do autor consultado. Ou seja, pode ser uma citação direta ou indireta, respectivamente. Caso a citação direta ultrapasse três linhas, deverá apresentar uma formatação diferenciada: 4 cm de margem, espaço simples e fonte 10. As citações diretas curtas devem ser apresentadas entre aspas, como se fosse a narração da fala do autor consultado. As citações diretas são as únicas em que o número da página em que se encontra o trecho citado deverá ser mencionado, seja uma citação curta ou longa. Nas citações indiretas, indican‑se apenas o autor e o ano da fonte, sem o número da página. Quando o nome do autor estiver entre parênteses, será em letras maiúsculas; e fora dos parênteses somente as iniciais serão maiúsculas. Acompanhe os tipos de citações que você poderá utilizar em seu TCC: a) Citação direta curta Exemplo: “A ciência é baseada no que podemos ver, ouvir, tocar, etc. Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não tem lugar na ciência” (CHALMERS, 1993, p. 22). b) Citação direta longa (com mais de três linhas) Exemplo: A ciência é baseada no que podemos ver, ouvir, tocar etc. Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não tem lugar na ciência. A ciência é objetiva. O conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente. (CHALMERS, 1993, p. 22). c) Citação indireta Exemplo: As políticas de redução da pobreza são seletivas, ou seja, procuram por meio da discriminação positiva focar como beneficiárias apenas as pessoas que estejam próximas ou no patamar da miserabilidade, normalmente definido em termos de baixos níveis de renda (ABRANCHES et al, 1987). 85 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 TRABALHO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL Exemplo: As políticas de redução da pobreza são seletivas, ou seja, procuram por meio da discriminação positiva focar como beneficiárias apenas as pessoas que estejam próximas ou no patamar da miserabilidade, normalmente definido em termos de baixos níveis de renda, conforme explica Abranches et al (1987). Como você observou, nas citações indiretas, a indicação da fonte pode vir entre parênteses ou não, dependendo de como você escreve o texto. Independente do modelo de citação a ser adotado, é necessário que elas tenham relação com os parágrafos antecedentes e posteriores. Evite deixar citações que não contribuam com as reflexões que você está instigando. Elas podem prejudicar todo o seu trabalho, caso não sejam colocadas em um contexto. Escrever utilizando citações não significa apenas colocá‑las em algum lugar do texto, elas precisam estar relacionadas com que você está debatendo no texto, reforçando suas ideias e todo seu trabalho de pesquisa. Lembre‑se de que, em muitas instituições, já há programas próprios para se detectar se há cópias de texto sem as devidas fontes. Tais programas são chamados de farejadores. Eles conseguem pesquisar na internet se há textos ou parte deles iguais em qualquer site. Assim, com facilidade, descobre‑se quando há plágios em trabalhos científicos. Além disso, a Lei nº. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, garante ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou. Traz em seu bojo o que é permitido e proibido a título de reprodução e quais as sanções civis a serem aplicadas aos infratores. Também protege o autor do texto a Lei nº. 10.695/2003,
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