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Processo Civil I ATÉ 26 09 17

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AULA DO DIA 02/08/2017
PLANO DE AULA 1:
COMPETÊNCIA: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA. JURISDIÇÃO INTERNACIONAL EXCLUSIVA E CONCORRENTE. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL.
BIBLIOGRAFIA:
1. Código de Processo Civil atualizado pela Lei n. 13.256/2016
2. O Novo Processo Civil Brasileiro – Alexandre Freitas Câmara (volume único)
3. Lições de Direito Processual Civil – Alexandre Freitas Câmara (volume I)
4. Curso de Direito Processual Civil – Humberto Theodoro Júnior (volume I)
Aula 1.
	Competência é uma matéria que vou terminar às vésperas da AV1, porque é uma matéria extremamente extensa e essa matéria de competência eu preciso que vocês compreendam muito bem agora em processo I porque eu vou precisar dela em processo II, III e IV. Então quando nós nos reencontrarmos em outros processos eu vou falar assim com vocês: “gente, lembra o que estudamos sobre competência em processo I?”, então é isso aqui. Preciso que você esteja com esse tema sedimentado, então eu vou trabalhar com muita calma para que vocês realmente compreendam isso.
	Para começar a falar de competência, preciso de uma matéria de TGP, que é jurisdição. Como eu não sei o quanto você sabe de jurisdição, eu vou dar um passo atrás e falar algumas coisas de jurisdição que são importantes para falarmos de competência.
	JURISDIÇÃO: é a função estatal, exercida pelo Poder Judiciário, de composição das lides, através da aplicação da lei no caso concreto.
	Por exemplo: A Simara é proprietária de um apartamento. Ela resolveu alugar esse apartamento, e alugou ao Douglas. Então, a Simara passa a ser denominada locadora e o Douglas passa a ser denominado locatário. Em contratos, vimos que locador e locatário têm direitos e deveres. Um dos deveres do locatário é o pagamento em dia dos aluguéis e encargos locatícios; vamos imaginar que no curso desse contrato de locação, o Douglas, por alguma razão, tornou-se inadimplente com os alugueis e encargos locatícios. A Simara entra em contato com ele e fala “olha Douglas, você está me devendo aluguel, você vai pagar, quer parcelar, o que quer fazer? Eu tenho que receber”, aí o Douglas diz “Simara, eu sei que estou te devendo, mas não eu tenho como fazer nenhum acordo com você, não tenho nenhuma expectativa de pagamento, não vou pagar e também não vou te devolver o imóvel não, porque está muito difícil achar imóvel, eu estou e no seu e não vou te devolver nem pagar”.
	A partir do momento em que ocorre essa conversa, eu posso dizer que há uma lide?
	Lide: conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida, alguém quer alguma coisa e o outro contrapõe.
	Nesse caso, temos uma lide. Se eu tenho uma lide, ou seja, um conflito de interesses, o particular, ou seja, aquele que sente que está sendo lesado, pode exercer a função jurisdicional? Ou seja, a Simara pode tomar as providências cabíveis para solucionar a questão por contra própria? Como, p. ex., contratar um chaveiro para trocar a fechadura do apartamento, vai até lá no horário em que Douglas não está, tira a mudança dele e esvazia o apartamento; ela pode fazer isso? Não. 
	Aquele que está diante de uma lesão ou uma ameaça de lesão tem que postular ao Poder Judiciário para que este a função jurisdicional, solucione a lide – aplicando a lei ao caso concreto.
	Diante dessa situação, Simara vai ajuizar uma ação de despejo por falta de pagamento em face de Douglas.
	Simara.................................................................Douglas
	(locadora) (locatário)
		Ação de despejo por falta de pagamento
			C/C cobrança
ENTÃO, jurisdição é quando alguém sente que sofreu uma lesão a um direito seu ou está na iminência de sofrer. Essa pessoa não pode solucionar a questão, deve postular ao Poder Judiciário, através de uma ação, para que o Poder Judiciário através de um juiz solucione a lide, que a solucionará através da aplicação da lei.
	Características da jurisdição:
	1. Monopólio estatal: significa que somente o Estado pode exercer a função jurisdicional, mais ninguém. Ninguém diante de uma lesão pode solucionar a lide, só o Estado.
	 Vamos imaginar que alguém resolva exercer a função jurisdicional. Essa pessoa estará praticando um crime tipificado no Código Penal, exercício arbitrário das próprias razões.
	DITANDO – CADERNO: A função jurisdicional é exercida exclusivamente pelo Poder Judiciário, sendo que, caso o particular, diante de uma lesão ou ameaça de lesão a um direito, resolva solucionar a lide por suas próprias mãos, estará praticando crime tipificado no Código Penal como exercício arbitrário das próprias razões.
	 Essa é a REGRA GERAL. Para toda regra geral temos exceções.
	Situações em que o particular pode solucionar, por vontade própria a lide, sem ter que postular o Poder Judiciário:
	a) legítima defesa/estado de necessidade: imagina que eu estou aqui dando aula, vem o Douglas e me dá um soco. Eu não vou dizer para ele que pode me bater porque depois eu ajuízo uma ação contra ele, imediatamente eu vou repelir. A lei faculta que eu exercite a legítima defesa, utilizando, claro, meios moderados; mas a legítima defesa é uma situação em que eu, diante de uma agressão, vou solucionar a lide, seja pacificando ou repelindo de uma maneira moderada, mas eu vou resolver.
	b) desforço imediato do esbulho possessório: imagina que você tenha a posse ou a propriedade de um terreno; num belo dia, você acorda e o seu terreno está sendo invadido, por sem-terra ou por um grupo de pessoas, seja lá por quem for, seu terreno está sendo invadido e você está na iminência de perder a posse. A lei faculta a você, diante dessa agressão, a utilização de meios moderados, porém suficientes para afastar os invasores. É igual a legítima defesa – você pode colocar os invasores para fora, não só pode como deve. “Ah, professora, o meu terreno foi invadido, não estavam armados, haviam mulheres e crianças e eu peguei uma arma fui lá e atirei em todo mundo” – não é isso! É igual a legitima defesa: SÃO MEIOS NECESSÁRIOS, PORÉM MODERADOS. Se as pessoas estão invadindo desarmadas, mulheres, crianças, você vai repeli-las, mas claro, sem agredir ninguém.
	c) arbitragem: visto em TGP. Quando se está diante de direitos disponíveis e partes maiores e capazes e há uma lide, os envolvidos podem levar aquele problema ao tribunal arbitral e não ao Poder Judiciário. Tribunal arbitral é um órgão estranho ao Poder Judiciário, composto não por juízes, mas sim por árbitros – que podem ser eles advogados, engenheiros, médicos etc., pessoas com conhecimento técnico em determinada área que estão lá para solucionar litígios envolvendo determinada matéria.
	Vamos imaginar que o Leonardo esteja separado de sua esposa e há uma questão em que eles estão discutindo os alimentos da filha. Aí os dois optam por levar essa situação ao tribunal arbitral – isso é possível? A filha tem 10 anos, menor impúbere. Estou diante de um incapaz. Se eu estou falando de direito do incapaz, e de direito indisponível (direito de família é indisponível), não posso levar essas questões ao tribunal arbitral. TRIBUNAL ARBITRAL: SÓ DIREITOS DISPONÍVEIS, PARTES MAIORES E CAPAZES.
	Esclarecendo dúvida: quando falamos em arbitragem, temos uma lei própria que vamos estudar. Temos a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. P. ex., vamos imaginar que você (Peter) e o Douglas celebraram um contrato, seja lá qual for, de prestação de serviço, não importa. Nesse contrato, vocês colocaram uma cláusula dizendo que qualquer litígio proveniente do mesmo será dirimido pelo tribunal arbitral. Se vocês acordaram dessa forma, não sabem se vai haver uma lide, mas se por caso houver, será solucionada pelo tribunal arbitral – estamos diante da cláusula compromissória; ela é prévia à lide, ou seja, ela está estabelecida contratualmente, as duas partes quiseram. 
	Entretanto, pode ser que tenha sido feito um contrato, mas não tenham estipulado o tribunal arbitral, e aí, ante a qualquer lide, um ajuíza ação contra o outro. No curso da ação,
as duas partes optam por levar a matéria ao tribunal arbitral, pois o Poder Judiciário é muito lento – isso é possível por que os dois acordaram. Isso é posterior à lide.
	Para haver tanto a cláusula compromissória quanto o compromisso arbitral é necessária a anuência das duas partes.
	Imaginando uma situação assim: houve uma cláusula compromissória – ajustaram em determinado contrato que aquela matéria seria solucionada pelo Poder Judiciário. Aí houve alguma lide e ao invés de levar a matéria ao Poder Judiciário, o Peter ajuíza uma ação contra o Douglas. Nessa situação, havia uma cláusula compromissória, não respeitada pelo Peter, que a desconsiderou e ajuizou uma ação perante o Poder Judiciário. Se o Douglas falar, através de uma petição, que havia uma cláusula compromissória que deveria ser respeitada, esse processo será extinto e a matéria levada ao tribunal arbitral. Se o Douglas não se manifestar a respeito disso, significa que os dois renunciaram e quem vai resolver o problema será o Poder Judiciário.
	2. Imparcialidade: Na aula 5, que trata da relação processual, veremos que esta é representada através de uma pirâmide.
Estado-juiz
Autor Réu
	Trata-se de um triângulo equilátero. Ou seja, o Estado-juiz deve ser imparcial, resolver a lide através da aplicação da lei, sem ter qualquer tipo de interesse. É preciso que a demanda seja julgada de maneira favorável ao autor ou ao réu – isso é ser imparcial.
	Mas aí você pode falar “ah professora, mas todos os juízes que eu conheço são parciais, puxam a sardinha para o lado do autor e do réu”; eu vou falar “eu concordo com você em muitas vezes”, e nós aqui vamos aprender o que fazer diante de um juiz parcial, quais as armas que nós vamos usar para repelir esse tipo de situação.
	O juiz tem interesse em solucionar a lide, observamos que a solução da lide vem de encontro à pacificação social. Mas solucionar a lide deve ser de uma maneira isenta, sem querer favorecer A ou B, essa é uma regra que não se afasta nunca – estudamos em TGP que não há tribunal de exceção.
	3. Substitutividade: em TGP, ouvimos falar que no Estado primitivo quem solucionava os conflitos de interesse era o particular, não havia um Estado. Com o passar do tempo e com a modernização e o surgimento do Estado, percebeu-se que o particular, em verdade, não estava solucionando a lide, exercendo uma função de pacificação social, ele estava exercendo uma vingança privada.
	Imagine que nós temos uma lide – se nós formos solucionar, é evidente que estamos emocionalmente envolvidos com aquela situação. Não seríamos imparciais.
	Ao dizer para vocês que uma das características da jurisdição é a substitutividade, eu quero dizer que o Estado, ao exercer o monopólio da jurisdição, ele está substituindo uma atividade que, lá nos primórdios da humanidade, era uma função particular.
	COMPETÊNCIA: É a medida da jurisdição, ou seja, é uma divisão de atribuições entre os órgãos do Poder Judiciário. Sendo assim, todo juiz tem jurisdição, mas nem todo tem competência.
	Exemplo: Dr. Peter Laurence está no seu escritório, sexta-feira 17h da tarde. Nesse horário, procura o Dr. Peter uma pessoa qualquer que vou chama-la de Maria. Ela diz que o filho está precisando realizar uma cirurgia de emergência, pois teve uma crise de apêndice, ele já está internado tomando medicamentos com dores intensas, ela entrou em contato com o plano de saúde que paga mensalmente, pontualmente, nunca deixou de pagar, e ele acabou de informar que não cobra cirurgia. Quando ela fez a contratação do plano de saúde, havia uma cobertura de cirurgias de emergência e todas as outras, só que eles disseram que não cobram e o filho dela não pode esperar – o médico diz que a cirurgia deve ocorrer em 12 horas, caso contrário, ele corre risco de vida. Ela precisa, então, que Peter tome alguma providência e a ajude.
	Diante dessa situação, Peter vai ajuizar uma ação de obrigação de fazer em face do plano de saúde. A ação de obrigação de fazer tem como objetivo compelir o plano de saúde a cobrir a cirurgia, só que nessa situação não é possível aguardar uma sentença. Portanto, ele fará uso de uma tutela de urgência, que nesse caso, será uma tutela antecipada que estudaremos em breve, mas hoje preciso que você entenda o que é uma tutela de urgência, ou seja, o advogado terá que procurar o fórum, distribuir essa petição e despachar para o juiz, para que ele defira ou indefira e que essa cirurgia seja realizada ainda hoje.
	O advogado chega no fórum 17h30 da tarde de uma sexta-feira. Sem ter estudado nada de competência, você acha que essa matéria será solucionada por um juiz da vara de família, da vara cível, da vara criminal, da vara empresarial ou da vara de falências? Da vara cível. Chegando no fórum, nesse horário, não havia nenhum juiz da vara cível, somente o juiz do tribunal do júri (que julga crimes dolosos contra a vida). O juiz do tribunal do júri não tem competência para julgar essa obrigação de fazer.
	Diante dessa circunstância, o que vai fazer o advogado? Vai para o escritório e se desculpa com Maria por não ter conseguido? Vai no juiz do tribunal do júri. Este não é competente. Colocamos no caderno que todo juiz tem jurisdição, mas nem todo tem competência. Então, na ausência do juiz competente, quem vai despachar é qualquer um, porque todo juiz tem jurisdição.
	Isso numa sexta-feira, mas, quando o expediente é retomado na segunda, a liminar não permanece no tribunal do júri porque aquele juiz que o despachou, ele vai ser remetido à vara cível, porque o juiz do tribunal do júri não tem competência para julgar esse tipo de situação. Ele tem jurisdição, não competência. Na ausência do juiz competente, que é o juiz da vara cível, o juiz do tribunal do júri vai despachar, porque ele tem jurisdição, mas o fato dele ter despachado não significa que ele vai passar a ter competência, ele não tem. Portanto, no primeiro dia útil, o processo será remetido ao juiz competente, que é o juiz da vara cível.
	*Não tem Juiz plantonista? Apenas quando encerra o expediente forense, então só penso em plantonista às 18h. O advogado, mesmo assim, não poderia esperar até as 18h, porque o problema do plantonista é que é preciso olhar a escala de plantão, você pode despachar madrugada adentro, mas é preciso ver escala. Normalmente, é região serrana: Petrópolis – Teresópolis – Nova Friburgo. Eu preciso, p. ex., despachar um processo de Petrópolis, na madrugada de sexta-feira. Eu tenho que ir aonde? Teresópolis. Não é mais prático esperar o plantonista, ele, nesse caso, não poderia dizer que esperaria meia hora, até porque às vezes não se tem esse tempo.
AULA DO DIA 08/08/2017
	Quando eu estudo competência, eu elaborei esse esquema de passos. Eu vou ter alguns passos para chegar ao juízo competente; eu gostaria que vocês anotassem isso porque não são todos os livros que trazem esse esquema que é a maneira mais fácil de compreender.
	Essa matéria você nunca vai encontrar uma pergunta assim na sua prova: defina competência, discorra de maneira exaustiva sobre competência – não existe isso. Essa matéria, assim como todas as outras de processo civil, é perguntada nas provas (na da professora, na da OAB, nos concursos em geral etc.) através de casos concreto. Então, há um problema e em cima deste você precisa solucionar utilizando o que estudaremos aqui. 
	Por exemplo, se cai na prova uma pergunta assim: A ajuizou em face de B uma ação de cobrança, quem é competente para processar e julgar a ação de cobrança?
	A primeira coisa que temos que fazer é pensar: é competência interna ou internacional? Ou seja: esse problema apresentado traz uma questão que tem que ser solucionada pelo Poder Judiciário brasileiro ou estou dentro de uma situação que é de competência do Estado estrangeiro? Se você chegar a conclusão, que a competência é internacional, ou seja, não é competência do Poder Judiciário brasileiro, não é matéria de processo civil, é matéria de direito internacional, portanto não nos compete
solucionar; agora, chegando à conclusão de que é competência interna, ou seja, a competência é do Poder Judiciário brasileiro, aí temos de continuar os passos para solucionar a questão.
	1º Passo: Competência interna X Competência internacional
	A competência interna se divide em competência interna concorrente e competência interna exclusiva. Sendo competência interna concorrente, significa dizer que essa ação pode ser julgada no Brasil ou no exterior; sendo competência interna exclusiva, essa ação só pode ser proposta no Brasil.
	ART. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que [...]
	ART. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações [...]
	ART. 23. Compete a autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra [...]
	Antes de analisarmos todas as hipóteses de cabimento da competência interna exclusiva e interna concorrente, eu queria que vocês prestassem atenção numa situação:
	COMPETÊNCIA INTERNA CONCORRENTE
	1) Tratando-se de competência interna concorrente, é possível duas demandas idênticas tramitarem concomitantemente, uma no Brasil e outra no exterior? 
	Explicação: Antes de pensarmos na decisão propriamente dita, é preciso pensar se pode haver essa situação de duas demandas idênticas tramitando ao mesmo tempo. No Brasil, não é possível ter duas iguais. A esse fenômeno dá-se o nome de litispendência. Quando há duas demandas idênticas tramitando concomitantemente, uma será extinta – porque não posso ter decisões conflitantes.
		O que me faz pensar que essa demanda é igual àquela? Existe uma coisa chamada elementos da demanda, que são três: partes, objeto, causa de pedir. Ao dizer que duas demandas são idênticas significa que os seus elementos são os mesmos, elas têm as mesmas partes, o mesmo objeto e a mesma causa de pedir; aí eu concluo que elas são idênticas. Sendo elas idênticas e tramitando ao mesmo tempo, uma será extinta por conta do surgimento do fenômeno da litispendência.
		Parte é autor e réu. Quando eu cito essa demanda e essa, quem é o autor aqui? A e o réu é B. No que se refere às partes, é a mesma coisa.
		Objeto é sinônimo de pedido. Veremos mais à frente, é elaborado na petição inicial. Supomos que essa (demanda n.1) essa uma ação de cobrança e essa também (demanda n.2) seja uma ação de cobrança, e ambas ações de cobrança estão embasadas no contrato X, em que se pretende a condenação do réu ao pagamento de R$ 100 mil.
		Causa de pedir são os fundamentos do pedido. Ou seja, quando A ajuíza uma ação em face de B requerendo a condenação dele a pagar R$ 100 mil, a base desses R$ 100 mil vem do contrato X, que é a causa de pedir. Então eu tenho a mesma causa de pedir – nessa situação, eu tenho litispendência, pois tenho duas demandas idênticas, ou seja, mesmas partes, mesmo objeto e mesma causa de pedir, tramitando concomitante no Brasil. Isso significa dizer que uma delas será distinta, para que não haja decisões conflitantes. Qual será extinta: é uma regra que você vai estudar um pouco depois.
			Quando eu falo em litispendência, não importa se as duas demandas estão em Petrópolis, ou se uma está em Petrópolis e outra no Rio de Janeiro, ou se uma está em Petrópolis e outra no Rio Grande do Sul: não importa. O que importa é que eu tenho duas demandas idênticas dentro do território nacional, o que não é possível. Dentro do Brasil, não posso ter duas demandas idênticas: uma será extinta.
			Agora falamos de Brasil e Estados Unidos. Tendo uma demanda no Brasil e outra no exterior, há falar-se em litispendência? Quando eu falo de litispendência, são duas ações tramitando no Brasil; quando eu falo em Brasil e exterior é possível SIM duas ações idênticas estarem tramitando. A íntegra do art. 24 diz o seguinte: a ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas [...]. NÃO HÁ FALAR-SE EM LITISPENDÊNCIA ENTRE PAÍSES, OCORRE SOMENTE DENTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL.
	Resposta – ditando: Sim, com base no art. 24 do CPC, uma vez que o fenômeno da litispendência ocorre apenas dentro do território nacional. Conforme sabido, litispendência significa duas demandas idênticas tramitando concomitantemente no Brasil, ou seja, as duas possuem os mesmos elementos, quais sejam: partes (autor e réu), objeto (pedido) e causa de pedir (fundamentos do pedido). Portanto, havendo litispendência, um processo será extinto sem resolução do mérito para impedir que ocorram decisões conflitantes.
(Brasil)
Douglas........Peter
 credor devedor
	ação de
 cobrança
Trânsito em julgado 23.09.2020
(E.U.A.)
Douglas......Peter
 ação de cobrança
Trânsito em julgado 23.09.2017
Douglas......Peter
	AÇÃO DE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA
 STJ
Trânsito em julgado 23.10.2021
	Vamos imaginar a seguinte situação: Douglas e Peter vão na cantina na hora do intervalo, e Peter pede a Douglas R$ 100 mil emprestado pois está precisando colocar sua vida financeira em dia, afinal Douglas está numa boa situação, prometendo pagar no mês seguinte. Douglas aceita, até porque são amigos e pretendem ser sócios, e estipulam a data 05/09 para que Peter pague a Douglas os R$ 100 mil devidos.
	Chega o dia 05/09 e Peter desaparece. Douglas ajuíza em face dele uma ação de cobrança, aqui no Brasil, em Petrópolis. Só que, além disso, Douglas ajuíza a mesma ação de cobrança, com o mesmo valor e a mesma contratação nos Estados Unidos. Eu tenho duas demandas idênticas: as mesmas partes (Douglas e Peter), o mesmo objeto (a condenação do Peter a pagar R$ 100 mil) e a mesma causa de pedir (contratação que houve na cantina). Ou seja, eu tenho a mesma ação que foi ajuizada no Brasil e no exterior – nós já vimos que é possível que isso ocorra, porque o fenômeno da litispendência só ocorre em território nacional.
	Sendo ambas as ações julgadas procedentes, não há problema. Sendo ambas julgadas improcedentes, também não há problema. Entretanto, no caso de uma ser julgada procedente e a outra improcedente, qual decisão deverá prevalecer?
		Vocês já ouviram falar de trânsito em julgado?
		Essa sentença quando é proferida, a parte sucumbente tem a possibilidade de recorrer, e o sucumbente em questão é Peter. Estudaremos em Processo Civil III que existem muitos recursos, mas é um número finito, chega uma hora que não cabe mais nenhum. Quando não cabe mais recursos, essa sentença alcança um fenômeno chamado trânsito em julgado, ou seja, ela se torna definitiva, imutável, não há mais discussão, sobre aquela sentença. Ainda que a parte sucumbente esteja insatisfeita, não há mais o que ser feito, esgotadas as vias recursais a sentença transitou em julgado.
		QUAL DAS SENTENÇAS PREVALECE? A regra é a seguinte: a sentença que alcançar o trânsito em julgado em primeiro lugar é a que vai prevalecer.
		Ao dizer que a sentença transita em julgado em primeiro lugar prevalece, é preciso lembrar de uma coisa que deveria ter sido vista em TGP: há uma sentença brasileira e uma estrangeira. A eficácia das duas, entretanto, não é a mesma, uma sentença estrangeira não tem eficácia de plano no território nacional. A sentença estrangeira, para ser eficaz no Brasil, deve ser reconhecida pelo nosso Poder Judiciário, e para tal ela passa por uma ação de homologação de sentença estrangeira.
		Vamos imaginar: o Douglas chegou no Brasil com essa sentença estrangeira – ela não tem eficácia. Portanto, aqui no Brasil, Douglas deverá ajuizar uma ação de homologação de sentença estrangeira; essa ação é competência do STJ. Então: Douglas ajuíza novamente uma ação contra Peter, mas não é a mesma de antes, é uma ação de homologação de sentença estrangeira, que tramitará e será julgada pelo STJ. Essa ação não vai julgar novamente a matéria, já julgada nos Estados Unidos, apenas vai julgar se estão ou não presentes alguns requisitos legais, p. ex., se essa ação realmente tramitou e houve a sentença,
se o juiz é realmente um Juiz de Direito, um juiz togado, se houve o contraditório e a ampla defesa, se essa sentença transitou em julgado lá, se ofende a nossa soberania nacional ou não etc. 
		***Agora, eu não preciso que você saiba nada disso: é matéria de Processo Civil III, que lá estudaremos os requisitos dela. O que eu quero que você entende hoje é o seguinte: quando você tem uma sentença estrangeira, ela não tem eficácia de plano no território brasileiro – PARA QUE UMA SENTENÇA ESTRANGEIRA SE EQUIPARE A UMA SENTENÇA BRASILEIRA É PRECISO PASSAR POR AÇÃO DE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA, COMPETÊNCIA DO STJ. NESSA AÇÃO, NÃO SERÁ REDISCUTIDA A LIDE, NÃO SERÁ JULGADA NOVAMENTE: APENAS SERÁ VERIFICADO SE AQUELE PROCESSO OCORREU DA FORMA COMO DEVERIA TER OCORRIDO. ESTANDO TUDO CERTO, HOUVE A HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. 
		***Vale ter em mente que essa ação é um processo: sendo como tal, é passível de recurso; e, logicamente, chega um momento em que ela transita em julgado, ou seja, não cabe mais nenhum recurso. No momento em que ela transita em julgado, é aqui que vai interessar. Então imagine que esse trânsito em julgado ocorreu em 23.10.2021. A decisão que prevalece é a brasileira de 2020, porque quando eu falo que a decisão que vai prevalecer é a que transitou em julgado em primeiro lugar, você não pode pensar que eu estou falando do trânsito em julgado da sentença brasileira e da estrangeira no exterior: eu estou falando do trânsito em julgado da ação de homologação de sentença estrangeira. Então eu pego essa sentença estrangeira, trago para o Brasil, ajuízo ação de homologação e aí eu vou ter o trânsito em julgado dessa decisão. QUANDO OCORRER ESSE TRÂNSITO EM JULGADO É QUE EU VOU EQUIPARÁ-LO AO TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA BRASILEIRA – O QUE TRANSITAR EM JULGADO EM PRIMEIRO LUGAR É O QUE VAI PREVALECER.
	Não havendo divergência em sentenças: não entramos nesse problema.
	Dúvida da Carla: vamos dizer que mesmo assim continua havendo divergência mesmo com transito em julgado após a homologação da sentença estrangeira.
	Explicação: vai continuar. Ou seja, eu tenho essa aqui que foi julgada procedente e essa aqui que foi julgada improcedente; quando eu tenho a ação de homologação estrangeira, eu quero ver se aquela sentença foi válida ou não, só isso. Só que eu continuo tendo divergência – eu tenho essa que foi procedente, e eu tenho essa que virou essa que foi improcedente (a sentença exterior). A que prevalece é a que transitar em julgado em primeiro lugar, que foi a brasileira (procedente). Sempre que eu passo por isso é porque há conflito, não havendo, eu não preciso passar por isso. E esse conflito não será resolvido pela ação de homologação de sentença estrangeira, vai continuar existindo, eu que vou resolver pois verei qual delas transitou em julgado em primeiro lugar.
	Vamos imaginar que na prova cai um caso concreto e eu pergunto se é competência interna ou internacional.
	Para responder à questão, preciso lembrar que no artigo 21 e 22 temos competência interna concorrente, e no artigo 23 temos competência interna exclusiva. Estando em um desses artigos, a competência é interna, não estando, trata-se de competência internacional.
	ESTÁ EM UM DESSES ARTIGOS COMPETÊNCIA INTERNA
	NÃO ESTÁ EM UM DESSES ARTIGOS COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
	Essa matéria não tem como trabalhar se não através de exemplos, porque só veremos caso concreto. Vou começar aqui a trabalhar com exemplos, para você ver que realmente é algo muito palpável, muito prático – essa matéria não tem nada de teórica.
	Com base nos artigos, qual a competência dos seguintes exemplos?
	1. Raj é indiano e Maya também. O nome do filho deles é Nihaj, que também é indiano. Havia também a Duda: na Índia, Raj casou com Maya, mas foi um casamento arranjado, e ele tinha uma namorada no Brasil, que era a Duda. A Duda teve, também, um filho com Raj – com o nome de Nihaj Antônio. E aí surge um problema: no último dia da novela, descobriu-se que Nihaj é filho de Bahuan, que é um dalit, membro casta mais baixa da sociedade indiana.
	Lembrada a novela, quero saber de vocês: 
	a) o Nihaj Antônio é filho da Duda no Brasil, que é um bebê, ele pode ajuizar uma ação? Desde que seja representado, sim. Nihaj Antônio ajuizou uma ação de alimentos, representado por Duda, em face de seu pai, Raj. O domicílio do menor impúbere é o domicílio de seu representante legal, no caso, Duda, que é domiciliada no Brasil, ao passo que Raj é domiciliado na Índia. Essa ação de alimentos é competência interna ou internacional? R: Artigo 22, I, “a”. Ao dizer que a ação foi ajuizada pelo menor impúbere, ele, processualmente falando, é autor, mas se eu estiver falando de direito material, ele é o credor. Raj é o réu, mas falando em direito material ele é o credor. Essa ação pode ser proposta no Brasil, pois trata-se de competência interna concorrente, com base no art. 22, I, “a”. Também é legítima a propositura da ação por Nihaj Antônio, representado por sua mãe, na Índia, por tratar-se de competência interna concorrente. Também é possível que as duas tramitem, concomitantemente, no Brasil e na Índia, pois, conforme vimos no art. 24, não importa litispendência, fenômeno que ocorre apenas no território nacional. Se uma sentença por procedente a outra improcedente, a que prevalece é a transitada em julgado primeiro, lembrando-se que a estrangeira deve passar por uma ação de homologação de sentença estrangeira. Para que a sentença seja cumprida no estrangeiro, é preciso o chamado exequatur, que se dá por tratos internacionais, o que é muito mais célere.
	b) o Nihaj, filho de Maia, cujo domicílio é o mesmo de seu representante legal (Maia), ou seja, Índia, ajuizou uma ação de alimentos em face de seu pai, Bahuan. Acontece que há um problema muito sério: o domicílio de Bahuan é a Índia, porém na Índia ele é uma “poeira”, não tem conta no banco, não tem trabalho etc. O pai de Bahuan era da casta máxima (religiosa), que, por ser uma pessoa muito boa, o adotou, e Bahuan comentava que na Índia, por mais que trabalhasse, sempre seria uma “poeira” e jamais conseguiria ascender de casta. Com isso, ele vem para o Brasil e monta um negócio, começou a ganhar dinheiro e virou um alto empresário. Os negócios de Bahuan estão em São Paulo, e o Nihaj está na Índia. Bahuan é domiciliado na Índia, mas os negócios estão no Brasil. Ao propor essa ação de alimentos estamos diante de competência interna ou internacional? R: Estamos diante de competência interna concorrente, com base no artigo 22, I, “b”. 
AULA DO DIA 09/08/2017
(Continuação – 1º passo)
	História da professora para exemplo:
	Em 2010, antes da minha filha nascer, eu e meu marido fomos fazer uma viagem ao Marrocos, e quando chegamos em Marrakesh, aquele comércio árabe, nos interessamos por aqueles tapetes maravilhosos. Conversando lá nesse comércio, o vendedor me falou o seguinte: “você pode comprar esse tapete, você paga esse tapete, e você não precisa se preocupar em ter que carregar esse tapete ao longo da viagem” [eu não estava no meu destino final, eu ainda ia fazer outros trajetos] “você paga esse tapete, continua sua viagem tranquilamente, não se preocupa com bagagem, quando você chegar no Brasil, esse tapete terá sido entregue, vamos despachá-lo para o Brasil, ele vai chegar lá na sua casa”. Eu falei: “que bom, me envia aquele tapete vermelho maravilhoso”. Aí, fui para o interior do Marrocos, isso foi em Marrakesh, continuei a minha viagem e depois fui para o Brasil.
	Chegando no Brasil, o tapete não estava lá. Passou um mês – não foi entregue; entrei em contato com eles, nem vi cheiro do tapete.
	Eu, Flamínia, depois de ter sido xingada pelo meu marido e por todos os amigos taxada de idiota, não tive outra alternativa senão ajuizar uma ação de entrega de coisa certa em face de Abdul não sei lá das contas. Pergunto para vocês: qual é meu domicílio? Petrópolis – Brasil. Essa pessoa que me vendeu o tapete é domiciliada em Marrocos, mais precisamente em Marrakesh. Eu não quero
nenhum tipo de indenização, apenas o produto que eu adquiri, que o que foi pactuado tenha o seu cumprimento, ou seja, eu quero o tapete na minha casa.
	Essa ação é uma ação de competência interna ou internacional?
	Artigo 22, II: Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil.
	Mas eu não embasei a minha tese nesse artigo, até mesmo porque, à época, ainda não existia o novo código. Ela fala de relação de consumo, e relação de consumo é quando você adquire o produto como destinatário final e, como eu disse, eu comprei esse tapete para colocá-lo na sala da minha casa. E se eu tivesse falado que o comprei para revender? Nesse caso, eu não seria consumidora. Pensando nesse aspecto, de revenda, como se resolve essa situação?
	Artigo 21, II: Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação.
	Como eu ajustei que a entrega ocorreria no Brasil, trata-se de competência interna concorrente. Se eu quiser ajuizar essa ação no Brasil e, como eu gosto de viajar, quiser ajuizar outra no Marrocos, eu também posso. Em sendo as decisões conflitantes, a que prevalecer é a que transitar em julgado em primeiro lugar, lembrando que a sentença estrangeira deve passar por uma ação de homologação de sentença estrangeira no STJ.
	Mudando um pouco a história:
	Eu comprei esse tapete do Abdul lá em Marrocos, ele falou assim para mim: “eu vou deixar esse tapete separado, ele vai ficar aqui guardado, você já efetua o seu pagamento hoje para não perder o dia de viagem, ele fica guardado amanhã você vem e pega, leva para o hotel, bota na sua bagagem e volta para o Brasil, tudo certo”. ATENÇÃO: estou comprando o tapete para fins de consumo, eu sou a destinatária final.
	Agora, eu comprei o tapete no Marrocos, o Abdul é domiciliado no Marrocos e a entrega deveria ter sido feita no Marrocos. Aonde vou ajuizar essa ação?
	Trata-se de competência interna e pode ser ajuizada no Brasil, por se tratar de relação de consumo. Nesse caso, estamos diante do art. 22, II.
	Citando outra situação:
	No ano retrasado, minha filha tinha 10 meses, e fomos com ela para os Estados Unidos, para ir na Flórida e tudo mais. Só que a Juju estava na fase em que a criança não come nada, enjoada para comer. Eu comprava papinha e ela não comia, não queria nada, minha vida tinha virado uma loucura.
	Aí, eu estava na Flórida, passando de uma cidade para outra, meu marido parou num posto de gasolina e eu comprei uma caixinha de água de coco porque era a única coisa que ela gostava. Aí abri a água de coco e provei, e quando provei, estava um pouco mais adocicada que a água de coco que costumamos comprar, e dei para ela. Quando ela viu que estava docinho ela tomou uma, duas, três e eu comecei a soltar fogos né.
	Enfim, continuamos o nosso trajeto, no meio do caminho começou a passar mal. Chegamos na nossa cidade de destino, tivemos que procurar um hospital e, em resumo: perdemos cinco dias de viagem – ela teve uma infecção intestinal; esse adocicado excessivo é porque estava estragada.
	Aí eu ajuizei uma ação de indenização por danos materiais e danos morais.
		***Vocês vão ver em responsabilidade civil que dano material é efetivamente o que eu gastei, p. ex., a despesa médica que tive, os medicamentos que precisei comprar, tudo que gastei em função daquele acontecimento. E dano moral é o abalo emocional que aquela situação me causou, pensa bem, estávamos numa viagem de férias – ela acabou, com bebê hospitalizado.
	Ajuizei a ação em face da cadeia de consumo da água de coco. Aí eu pergunto: aonde foi proposta a ação? É competência interna ou internacional?
	No Brasil, competência interna, com fulcro no art. 22, II, pois trata-se de uma relação de consumo.
	A tem a posse desse terreno por um determinado lapso temporal, imaginemos que seja por 20 anos – ele é o possuidor. Possuidor esse de boa-fé, que tem uma posse mansa, contínua e pública. Ele pretende transformar a sua posse em propriedade.
	Ele deve ajuizar uma ação de usucapião em face de B, que é o proprietário. Acontece que esse imóvel é situado em Petrópolis, mas o nosso possuidor, que é A, é domiciliado em Paris, está lá fazendo o seu doutorado.
	É possível existir um possuidor de um terreno no Brasil só que no exterior?
	É, sim, possível que haja um possuidor sem contato direto com o bem. Nesse caso, essa pessoa que está fora do Brasil contratou um caseiro, ele paga uma pessoa que cuida do imóvel, anualmente ele paga o IPTU, mensalmente ele paga as contas de luz etc., e quando ele vai ao Brasil, ele fica na sua casa, nesse terreno. E quando acontece alguma coisa, o caseiro recorre a esse possuidor.
	Essa pessoa está em Paris, e o proprietário em Londres. Essa ação de usucapião é competência interna ou internacional?
	É competência interna exclusiva, com base no art. 23, I. Acontece que o advogado contrato por A, não é formado pela Estácio, é formado pela concorrente (rs). E aí, pensando ter se dado bem com a oportunidade de viajar para Paris, resolve propor a ação lá e essa ação foi julgada procedente. Trouxe a sentença para cá e ajuizou a ação de homologação de sentença estrangeira perante o STJ. Pergunta-se: essa ação será homologada?
	Não, porque é de competência exclusiva, e se fosse homologada, feriria a soberania nacional.
	Amy Winehouse tem nacionalidade inglesa, e seu óbito ocorreu em Londres, no seu apartamento. Ela tinha imóveis espalhados pelo mundo: um apartamento em Londres, um apartamento em Paris, outros imóveis e mais um apartamento no Brasil, no Rio de Janeiro, na Lagoa.
	Vocês estudarão em Processo Civil IV o rito do inventário. Quando uma pessoa falece, os bens que ela deixa são partilhados pelos seus herdeiros; deve haver a abertura do inventário para que ocorra a partilha de bens. Só que o inventário não presta apenas à partilha de bens, como também ao pagamento das dívidas, então, se a pessoa deixou dívidas ou débitos, o inventário se presta também a saldar.
	Pergunta-se: aonde será aberto o inventário pelo falecimento da Amy Winehouse? É competência interna ou internacional?
	É competência interna exclusiva, art. 23, II. Conforme a leitura do dispositivo legal, o inventário e partilha dos bens amealhados ao longo da vida pela Amy Winehouse serão processados no Brasil pois se trata de competência interna exclusiva? 
	Não. Observe que a questão trata de imóveis situados em diversas partes do mundo, como no Brasil, na França e na Inglaterra. O imóvel situado no Brasil será inventariado aqui, é competência interna exclusiva, contudo, os bens situados fora do Brasil são de competência internacional. Teremos, nesse inventário, o que é chamado de CISÃO FUNCIONAL. 
	Terei o inventário e partilha dos bens que estão no Brasil processados aqui, agora, os bens que não estão no Brasil são da competência de outro país, e aí não me interessa, porque não é matéria de processo civil, mas sim de direito internacional. Os demais imóveis localizados fora do Brasil tratam de matéria de competência internacional.
	Se o advogado da família da Amy Winehouse não é formado pela Estácio, e planejando ganhar uns euros, resolve abrir o inventário em Paris e partilhar tudo lá. Quando termina um inventário, é emitido um documento chamado formal de partilha, lá eu tenho a partilha dos bens. Você pega esse formal de partilha e leva no registro de imóveis, e assim a propriedade é transferida: deixa de ser do inventariado e passa a ser de um dos herdeiros.
	Nosso querido concorrente vem de Paris com esse formal de partilha, que equivale a uma sentença – que não é eficaz no Brasil antes de uma ação de homologação de sentença estrangeira (competência do STJ), mas não será homologada: trata-se de competência interna exclusiva e fere a soberania nacional. 
		***Autor da herança é um termo de direito material; no âmbito do processo civil, vamos nos referir ao falecido como inventariado.
Autor da herança ou inventariado é um termo material ou processual que se refere ao falecido. Os herdeiros que requerem a abertura do inventário são chamados de inventariantes.
	Caio foi para os Estados Unidos, e quando foi para lá, conheceu a Anne. Eles se casaram, viveram felizes e muito contentes, até que, um certo dia, o casamento não deu mais certo. Com isso, Caio resolveu voltar para o Brasil, não querendo ficar sozinho nos Estados Unidos, pois aqui tem a sua família etc.
	Anne continua nos Estados Unidos, e Caio, agora no Brasil, quer regularizar a sua situação porque conheceu Clarissa. Então ele ajuíza uma ação de divórcio contra Anne.
	Os dois não amealharam bens na constância do casamento, não tiveram filhos, o casamento ocorreu nos Estados Unidos e o lar conjugal deles também era lá. Aonde Caio deve propor o divórcio?
	Trata-se de competência internacional, e a ação deve ser proposta nos Estados Unidos; não se encontra em nenhum dos artigos que tratam de competência interna.
	Agora, e se Caio e Anne adquiriu um imóvel localizado em Angra dos Reis?
	Nesse caso, trata-se de competência interna exclusiva, com base no art. 23, III. Tenho um bem a ser partilhado, metade do imóvel é do Caio e a outra metade é da Anne (meeira).
	Se o casal houvesse amealhado uma casa em Angra dos Reis e outra na Flórida: ocorre uma cisão funcional, o bem existente em território nacional deve ser partilhado aqui e o situado na Flórida, nos Estados Unidos – trata-se de competência internacional.
	Dúvida do Peter: digamos que ele não se separa da Anne lá, continua casado nos Estados Unidos, mas a Carla falou que o casamento lá não vale para o Brasil, e se ele se casar aqui com a Clarissa, seria bigamia?
	Explicação: Seria, mesmo que não seja reconhecido o casamento. Quando você muda de Estado deve ser feito o reconhecimento do casamento; se não o faz, pode ser em razão de algum fim fraudatório, configura má-fé.
	2º Passo: Competência Originária dos Tribunais
	(Organograma do Poder Judiciário desenhado no quadro)
	A estrutura do Poder Judiciário é dividida em instâncias. Tenho o STF, que é a instância máxima, que chamamos de Instância Extraordinária.
	Abaixo do STF, tenho o STJ, o TST, o TSE e STM: essa chamamos de Instância Especial.
	Abaixo do STJ, tenho o TJ (Tribunal de Justiça) e o TRF (Tribunal Regional Federal); abaixo do TST, tenho o TRT (Tribunal Regional do Trabalho); abaixo do TSE, tenho o TRE (Tribunal Regional Eleitoral): essa é chamada de Segunda Instância.
	Por último, tenho Juiz Estadual, Juiz Federal, Juiz do Trabalho, Juiz Eleitoral e Juiz Militar: chamamos de Primeira Instância.
	Existem demandas que chegam aos tribunais em função da interposição de recurso. A demanda é proposta na Primeira Instância e pode chegar até a Extraordinária, porque houve recurso: isso eu chamo de competência recursal, que será estudado em Processo Civil III.
	Existem também demandas que se iniciam nos tribunais, propostas na Segunda Instância, outras na Instância Especial e ainda na Instância Extraordinária. Isso é o que eu chamo de competência originária.
	SE A DEMANDA É INICIADA NO TRIBUNAL, TRATA-SE DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA. SE A DEMANDA CHEGOU NO TRIBUNAL PORQUE HOUVE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO, É COMPETÊNCIA RECURSAL.
	Exemplo n.1: Tenho uma ação de cobrança ajuizada na 1ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis – estamos na Primeira Instância, Juiz Estadual. Foi proferida uma sentença de procedência, cujo sucumbente é B. O sucumbente pode recorrer, e o recurso cabível em face da sentença chama-se apelação, que é julgada pelo órgão hierarquicamente superior. Se eu estou no Juiz Estadual, quem é hierarquicamente superior é o Tribunal de Justiça, que está no Rio de Janeiro. Nessa situação, a competência do TJRJ é originária ou recursal? É recursal, porque a demanda se iniciou na primeira instância.
	Exemplo n.2: Se Douglas sofreu uma lesão a um direito líquido e certo e impetrou um mandado de segurança contra ato de qualquer Juiz Estadual, esse mando será impetrado no TJRJ. Nesse caso, o TJRJ está agindo em competência originária, porque a demanda foi proposta lá.
	Exemplo n.3: Uma Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo é ajuizada no STF. O STF está agindo em competência originária.
	Exemplo n.4: Ação de Homologação de Sentença Estrangeira é competência originária do STJ.
	É preciso saber, agora, se a determinada demanda que está no nosso caso concreto deve ser proposta em alguns dos tribunais. Ou seja, a pergunta que deve ser feita é a seguinte: é competência originária de algum dos tribunais?
	CF art. 102, I: Traz a competência originária do STF.
	CF art. 102, II: Vendo a palavra recurso, sabemos que é competência recursal.
	CF art. 102, III: Competência recursal.
	A competência que nos interessa em Processo Civil é a competência originária do STF.
	A competência originária do STJ encontra-se no art. 105, I, CF. Sua competência recursal encontra-se nos incisos II e III do mesmo artigo.
	A competência originária do TRF está no art. 108, I. Sua competência recursal é apresentada no inciso II do mesmo artigo.
	A competência originária do TJ encontra-se na Constituição do Estado do Rio de Janeiro, no art. 161, I. A competência recursal está no inciso II do mesmo artigo.
		***Na prova não precisa da Constituição Estadual! Só é preciso saber aonde está a competência do TJRJ.
	
	3º Passo: Competência da Justiça Comum X Justiça Especial
	Nós temos no quadro do Poder Judiciário uma divisão de instâncias e uma divisão de justiças.
	A Justiça do Trabalho, Eleitoral e Militar é chamada de JUSTIÇA ESPECIAL.
	O que sobra, ou seja, o que não é Militar, Eleitoral ou Trabalho, ou seja, de maneira residual, chama-se JUSTIÇA COMUM.
	Nesse passo, precisamos identificar se a matéria é especial (militar, eleitoral ou trabalhista) ou se a matéria é da Justiça Comum. O nosso Processo Civil é Justiça Comum, que engloba: juízes estaduais e juízes federais (primeira instância – estudada em Processo Civil I e Processo Civil II), TJ, TRF e STF (recursos – estudados em Processo Civil III).
	4º Passo: Justiça Estadual X Justiça Federal
	No terceiro passo, chegamos à conclusão que a matéria é da justiça comum.
	Agora, precisamos saber se estamos diante da justiça federal ou da justiça estadual. A justiça federal está prevista no art. 109, CF. Se a matéria estiver lá, é competência da justiça federal, e se não estiver, é competência da justiça estadual.
	Por isso digo que a competência da justiça estadual é residual.
	5º Passo: Foro competente
	Chegando à conclusão de que a matéria se trata de justiça estadual ou federal, damos o quinto passo.
	Agora estudaremos o chamado foro competente: estou falando de lugar.
	6º Passo: Juízo competente
	Atenção: não é Juiz, e sim juízo, refere-se ao órgão e não pessoa física.
	Cheguei à conclusão de que o foro competente é Petrópolis. Acontece que em Petrópolis, se for Vara Cível, eu tenho três: a 1ª, a 2ª e a 3ª (a 4ª não conta porque é especializada).
	Há a distribuição, que estudaremos em breve. A petição é distribuída à Vara Cível, não à juíza ou juiz específico.
AULA DO DIA 15/08/2017
PLANO DE AULA 2:
COMPETÊNCIA INTERNA: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM E ESPECIAL. CRITÉRIOS PARA A DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR E DA MATÉRIA. COMPETÊNCIA TERRITORIAL E EM RAZÃO DA PESSOA. COMPETÊNCIA FUNCIONAL
	Na aula passada, estudamos todos os passos. A partir de hoje, estudaremos o foro competente, ou seja, onde as ações serão propostas.
	5º Passo: Foro competente
	CRITÉRIO TERRITORIAL: [cai em todas as provas]
	
	1. Foro comum: nada mais é do que regra geral.
	ART. 46 (caput) CPC – o que é preciso saber, a partir desse dispositivo legal, é que as ações, em regra, são propostas no domicílio do réu. Foro comum refere-se ao caput do artigo 46.
		O que vem a ser domicílio? É um conceito de Direito Civil, presente no Código Civil no art. 70, leia-se:
	Código Civil art. 70. O domicílio da
pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
		O ânimo definitivo é a marca do domicílio. P. ex., segunda, terça, quarta e quinta estou em Petrópolis – tenho minha casa em Petrópolis, tenho meu escritório em Petrópolis, dou aula na Estácio de Petrópolis. Quinta-feira à noite, vou para o Rio, sexta-feira vejo alguns processos que tenho no Rio, sábado e domingo eu fico lá também, num hotel, e domingo à noite volto para a minha casa. O meu domicílio é em Petrópolis.
		Agora, se p. ex., eu tenho minha casa, escritório e dou aula na Estácio de Petrópolis e às quintas, sextas e sábados estou no Rio; lá, tenho meu apartamento, meu escritório e dou aula na Estácio do Rio no Menezes. Nesse caso, eu tenho pluralidade de domicílios, porque eu tenho ânimo definitivo nos dois.
		Se eu resolvo abandonar a minha profissão e ir para o circo, virando itinerante, estando um dia em Petrópolis, outro em Vassouras, outro em Xerém etc., meu domicílio é incerto porque o circo não tem ânimo definitivo.
		São essas as opções: ou a pessoa tem um domicílio, porque ela fixou o seu domicílio lá; ou a pessoa tem pluralidade de domicílio, porque ela fixa o seu ânimo definitivo em vários locais; a pessoa não se fixa em lugar nenhum, portanto o domicílio dela é incerto ou desconhecido.
		No caso dos caminhoneiros, o domicílio também é incerto.
		Observe: o ânimo definitivo é o que traz o conceito de domicílio.
	Se o Peter (domiciliado em Petrópolis) ajuíza uma ação de cobrança em face de Douglas (domiciliado em Salvador), a ação deve ser proposta em Salvador – o domicílio do réu.
	ART. 50 CPC – A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente.
	Imagina que o Alex, colega de vocês, e Terezinha estão separados. Quem tem a guarda do incapaz é Terezinha. Alex, por estar numa situação de conflito com Terezinha e não conseguir deixar os alimentos de seu filho, resolve se antecipar e ajuíza uma ação de oferecimento de alimentos. Ele é o autor, o réu da ação de oferecimento de alimentos é o incapaz – no caso, estamos diante de um menor impúbere (6 anos). O menor impúbere pode ser autor ou réu de uma ação, desde que representado. Considerando que o Felipe é menor impúbere, ele vai a juízo representado por sua mãe Terezinha; sabemos que, em regra, as ações são propostas no domicílio do réu, art. 46. Nessa situação, eu tenho um réu especial, pois estou falando de um incapaz. Mas eu continuo dentro da regra: as ações serão propostas no domicílio do réu, só que nesse caso o domicílio do réu entende-se pelo domicílio de seu representante legal. Se o domicílio do Alex é Petrópolis e o domicílio de Terezinha é Rio de Janeiro, o domicílio de Felipe também é Rio de Janeiro – a ação de oferecimento de alimentos deverá, então, ser proposta no Rio de Janeiro.
	Eu ainda não saí da regra geral, eu continuo – “as ações serão propostas no domicílio do réu”. Ocorre que o réu em questão tem uma peculiaridade, ele é incapaz. Devo pensar que o domicílio do incapaz sempre será o de seu representante legal.
	Até agora estamos falando de regra geral de foro comum envolvendo pessoa física: vimos o art. 46, e agora o art. 50. Vamos continuar na regra geral, mas dessa vez tratar de pessoa jurídica:
	ART. 53, III, “a”, “b” e “c” CPC – regras referentes à pessoa jurídica.
	Alínea a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica: Imagine que Jully, visando aumentar a renda, vai até Nova Friburgo, polo de moda íntima, para comprar lingerie, camisolas etc. e trazer para Petrópolis para revender. Ao trazer a mercadoria, ela observa que algumas peças estão defeituosas, entra em contato com a loja, que alega que ela deveria ter visto isso no ato da compra, ela se deu mal. Só que era muita coisa, já que ela planejava revender, e não havia como verificar peça por peça.
	Diante dessa situação, Jully ajuizou uma ação de reparação de danos em face da empresa Mulambo LTDA. O domicílio da Jully é Petrópolis, mas a loja, que na verdade é uma microempresa, existe apenas sediada em Nova Friburgo, não possui filiais ou coisa do tipo. A ação deverá ser proposta na sede da pessoa jurídica, que é Nova Friburgo.
	Isso é porque ela vai revender fosse relação de consumo, seria diferente.
	Alínea b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu: Jully pensou bem e decidiu que a questão da moda íntima não é muito lucrativa. Com isso, decidiu comprar eletrodomésticos para revender. Jully compra os produtos na Ricardo Eletro e tem algum tipo de problema nas tratativas, ou porque os eletrodomésticos são defeituosos, ou porque não havia o número que ela havia contrato: houve algum problema e a encomenda não saiu da forma como ela contratou.
	O domicílio da Jully é Petrópolis, e a sede da Ricardo Eletro é em São Paulo. Observe: quando a Jully fez a compra de eletrodomésticos para revender, ela comprou na Ricardo Eletro da Rua do Imperador, em Petrópolis. Quando o legislador fala sucursal, entenda como filial. Portanto, quando há uma contratação que ocorreu aqui, a ação será proposta aqui, independentemente do local da sede. No exemplo anterior, Jully tinha ido até a sede contratar, mesmo porque a Mulambo não possui filiais, por isso ela precisou se deslocar à sede para propor a ação. Nessa situação, tenho a sede em São Paulo, mas a Jully nunca esteve em São Paulo, a contratação ocorreu em Petrópolis – não faz sentido obrigar o autor a se deslocar à sede, já que o contrato foi firmado aqui: a ação será proposta em Petrópolis.
	Imaginando outra situação: Flamínia é domiciliada em Petrópolis. Acontece que, nas férias, ela foi visitar a sua cunhada em Brasília; lá, ela foi até a Ricardo Eletro e comprou um rádio. Ela pagou, efetuou o pagamento e o ajustado era que o rádio seria entregue na casa da cunhada, mas não foi – entrou em contato com eles, eles falaram para aguardar mais alguns dias que chegaria, mas não chegou.
	Ela voltou para Petrópolis e nada do rádio. Decide ajuizar uma ação de entrega de coisa certa, onde será proposta essa ação? Note que Flamínia firmou o contrato como destinatária final, tratando-se, pois, de relação de consumo, já que não pretendia vender a mercadoria e queria comprar o rádio mesmo para ouvir música na casa de sua cunhada. Portanto, apesar da contratação ter ocorrido em Brasília e da sede da empresa ser São Paulo, ela comprou o produto como destinatária final, para consumo próprio, não revenda. As ações, nesse caso, são propostas no domicílio do consumidor – no caso em tela, Petrópolis.
	SE NO CASO CONCRETO FOR ESPECIFICADO QUE A PESSOA COMPROU PARA USAR, TRATA-SE DE RELAÇÃO DE CONSUMO, O DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR É O QUE IMPORTA. SE ALGUÉM ESTÁ COMPRANDO PARA REVENDER, NÃO É RELAÇÃO DE CONSUMO POIS A PESSOA NÃO É DESTINATÁRIA FINAL, DAS DUAS UMA: OU A AÇÃO VAI SER PROPOSTA ONDE HOUVE A CONTRATAÇÃO, SENDO HIPÓTESE DE FILIAIS, OU PROPOSTA NA SEDE, TENDO VOCÊ SE DESLOCADO À SEDE PARA CONTRATAR.
	Imagine que Jully fez uma nova compra de lingerie em Nova Friburgo, só que ao invés de comprar numa pessoa jurídica constituída, ela comprou numa empresa de fundo de quintal, irregular (não tem CNPJ, não tem sede, não sabe quem são seus representantes etc.). A pessoa jurídica irregular está em Nova Friburgo, e a ação será proposta em Nova Friburgo – isso porque Jully não é destinatária final, se ela fosse consumidora, seria proposta em Petrópolis, seu domicílio.
	2. Foro subsidiário: existem situações em que estamos dentro da regra geral, ou seja, as ações são propostas dentro do domicílio do réu (pessoa física), só que, por esse conceito tão simplista, não com consigo solucionar o meu problema.
	Imagine que temos a seguinte situação: A ajuizou uma ação de cobrança em face de B, C, D e E. Mais à frente estudaremos que quando você tem pluralidade de réus você tem uma figura chamada de litisconsórcio. Sabemos que a regra geral diz que as ações são propostas no domicílio do réu – acontece que B é domiciliado
no RJ, C em SP, D e em BH e F em Salvador; ou seja, estou diante da regra geral, mas não consigo solucionar isso, cada réu está num lugar.
	Ou então a hipótese de que A ajuizará uma ação de reparação de danos em face do Circo Las Vegas, que não se fixa em um lugar.
	O foro subsidiário ainda é a regra geral, [qual seja: as ações são propostas no domicílio do réu], mas estamos diante de um caso concreto que não é tão simples dizer qual o domicílio do réu. Ou porque eu tenho pluralidade de réus com pluralidade de domicílios, ou porque tenho um réu com domicílio incerto, ou porque tenho um réu com pluralidade de domicílios. Por conta disso, preciso de mais informações para solucionar o problema.
	As hipóteses de foro subsidiário estão previstas nos seguintes dispositivos legais:
	§§ Art. 46, CPC
	§1º. Pluralidade de domicílios: 
	Exemplo: Jully ajuizou uma ação de cobrança contra Flamínia. Os domicílios de Flamínia são Rio de Janeiro e Petrópolis, porque ela se fixa com ânimo definitivo nos dois lugares (pluralidade de domicílios). O domicílio da Jully é em Petrópolis.
	As ações são propostas no domicílio do réu; havendo pluralidade de domicílios, a ação poderá ser proposta em qualquer um, que será escolhido pelo autor.
	§2º. Domicílio incerto:
	Imagina que você vai demandar uma pessoa que exerça atividade circense; essa pessoa não se fixa em lugar nenhum, o domicílio é incerto. A ação será proposta, portanto, ou no domicílio do autor ou aonde essa pessoa for encontrada, e a escolha é feita pelo autor.
	§4º. Pluralidade de réus/pluralidade de domicílios:
	Uma ação qualquer foi domiciliada em face de A e B; A é domiciliado em Belo Horizonte e B no Rio de Janeiro. A ação será proposta ou em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro – a escolha do autor, nesse caso, é entre um dos domicílios do réu.
	§3º. Réu não domiciliado no Brasil:
	Caso do tapete que Flamínia comprou em Marrakesh e deveria ser entregue no Brasil. Vimos que a competência interna é concorrente, e ela vai propor a ação no Brasil. Sabemos que, em regra, as ações são propostas no foro de domicílio do réu, mas o réu é domiciliado é Marrakesh. A ação será proposta, no caso, em Petrópolis, domicílio do autor.
AULA DO DIA 16/08/2017
	CRITÉRIO TERRITORIAL: [cai em todas as provas]
	2. Foro especial: Até então, estávamos estudando o foro comum, que era a regra geral. Agora, vamos começar a estudas as exceções. As exceções eu chamo de foro especial; estamos dentro do critério territorial, essas exceções chamadas de foro especial são estabelecidas em função de três motivos, que também são chamados de critério.
	Ou você está diante de uma matéria especial, então eu digo “em função do critério ratione materiae”, ou porque se está diante de uma pessoa especial, então eu digo “em função do critério ratione personae”, ou porque você está diante de um lugar especial, então eu digo “critério ratione loci”.
	Continuo dentro do critério territorial, estou falando de exceções que são chamadas de foro especial. A saída da regra geral para uma específica ocorre ou porque há uma matéria que o legislador acha muito importante; ou porque tenho uma pessoa relevante; ou porque tenho um lugar significativo.
	NA PROVA não precisa escrever critério ratione materiae, p. ex., pode escrever em razão da matéria, ou em razão da pessoa ou em razão do lugar. Mas se for escrever o critério, atenção em como se escreve!
	
	Critério Ratione Materiae: Foro especial em função de uma matéria especial.
	ART. 47 CPC [CAI NA PROVA – AV1, AV2 E AV3]
	Esse artigo deve ser compreendido muito bem, e, para isso, ele é dividido em 2 partes. Ressalta-se que ele deve ser interpretado por inteiro, como um conjunto (caput, §1º e §2º), mas apesar da interpretação ser uma só ele tem uma divisão.
	Trata de DIREITOS REAIS SOBRE IMÓVEIS. Então a matéria que o legislador achou relevante, e por isso deslocou a competência, é direito real. Sempre que estiver diante de direitos reais sobre bens imóveis, o artigo 47 é que deve ser buscado.
	Alguns direitos reais são elencados na 1ª parte: propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova, posse. Se o direito real que estiver tratando aquele caso concreto for alguns dos aqui elencados, a sua ação obrigatoriamente vai ser proposta no FORO DE SITUAÇÃO DA COISA OU DO BEM IMÓVEL, ou seja, aonde está o bem imóvel.
	Saímos da regra geral em que as ações são propostas no domicílio do réu; o legislador entendeu que direitos reais são uma matéria relevante, e em função do critério ratione materiae ele apresentou um foro especial; uma exceção. Diante dos direitos reais aqui elencados, a ação obrigatoriamente deverá ser proposta no foro de situação do bem imóvel.
	O legislador fala em demais direitos reais sobre imóveis na 2ª parte: se no caso concreto for tratado algum outro direito real que não esses aqui elencados, no FORO DE SITUAÇÃO DO BEM, no DOMICÍLIO DO RÉU ou no FORO DE ELEIÇÃO: quem escolhe é o autor.
	DIREITOS REAIS NO CASO CONCRETO REMETE AO ARTIGO 47 ALGUM DOS DIREITOS REAIS AQUI ELENCADOS A AÇÃO VAI SER OBRIGATORIAMENTE PROPOSTA NO FORO DE SITUAÇÃO DO BEM IMÓVEL. // ALGUM OUTRO DIREITO REAL OU NO FORO DE SITUAÇÃO DO BEM, OU NO DOMICÍLIO DO RÉU OU NO FORO DE ELEIÇÃO E QUEM ESCOLHE É O AUTOR.
	DEMAIS DIREITOS REAIS: Há opção. DIREITOS REAIS ELENCADOS NOS §§1º E 2º: Não há opção, a propositura da ação deve ocorrer no foro de situação do bem imóvel.
		**O que é foro de eleição? Foro de situação do bem é aonde está o bem imóvel, domicílio do réu nós já vimos; foro de eleição é aquele eleito contratualmente. Imagine que foi celebrado um contrato de locação, e nele há uma cláusula dizendo que qualquer litígio proveniente da presente contratação será dirimido no foro da Comarca de Petrópolis. Nesse caso concreto, o foro da Comarca de Petrópolis é o foro de eleição; ambas as partes escolheram aquele local para dirimir litígios.
	Exemplo n.1: A ação de usucapião tem como objetivo transformar a posse em propriedade; imagine que “A” é o possuidor de um determinado bem imóvel durante um determinado lapso temporal, digamos que 20 anos – posse mansa, pacífica, ininterrupta, não há oposição etc., e ele apresenta todos os requisitos para usucapir. Assim, ele irá ajuizar uma ação de usucapião em face de “B”, o proprietário. 
	O possuidor, que é o autor, é domiciliado no Rio de Janeiro, o proprietário que é o réu, é domiciliado em São Paulo, e o imóvel (objeto da ação de usucapião) é situado no foro da comarca de Petrópolis. Já falamos aqui na possibilidade de manter a posse de um imóvel não na mesma localidade em que ele está.
	Pergunta-se: quem é competente para solucionar o presente litígio?
	1. Estou diante de direitos reais sobre imóveis ou direito pessoal? É direito real, que é a propriedade; “A” busca configurar a sua posse em propriedade, o seu horizonte é a propriedade – estou diante de direitos reais sobre bens imóveis, usamos o artigo 47.
	2. A propriedade está elencada no §1º do art. 47, portanto, a ação deverá ser proposta obrigatoriamente na comarca de Petrópolis, local onde é situado o bem imóvel.
	Exemplo n.2: “A” é proprietário de um terreno, que é invadido por um grupo de sem-terra. “A” tenta repelir a invasão, mas não consegue. A ação que ele irá ajuizar para restabelecer a posse perdida é a ação de reintegração de posse em face de “B”, líder do movimento.
	“A” tem domicílio no Rio de Janeiro, “B” tem domicílio em São Paulo e o terreno é situado no interior do Paraná, em Londrina.
	1. É direito real ou direito obrigacional? É direito real, portanto, devemos solucionar esse problema de competência através do art. 47.
	2. A posse foi elencada pelo legislador? Sim, portanto a propositura da ação deverá ocorrer obrigatoriamente no foro de situação do bem imóvel (comarca de Londrina).
		***Para não ter dúvidas se trata de direito real ou obrigacional: basta pegar o Código Civil, e olhar o índice. Temos “Direito das Coisas”, o livro III; nesse livro III estão
elencados todos os direitos reais (posse, propriedade, superfície, servidão, uso, habitação etc.). Na dúvida se o caso trata de direito real ou obrigacional, é só olhar no índice. Se estiver elencado no livro III, não resta dúvida, trata-se de direito real e o sendo, devemos ir até o art. 47 do CPC.
	Exemplo n.3: Tenho a casa do Peter e ao lado a casa do Douglas. Há uma piscina da qual os familiares de Peter desfrutam. Douglas, vizinho colateral de Peter, tem sonhos megalômanos: decide que um andar para ele é pouco, e constrói outro; mais tarde, decide que dois andares também são pouco, e constrói o terceiro; logo, decide que três também são pouco, resolve construir o quarto, mas não agora porque precisa se capitalizar primeiro – ele começa com a construção, mas como está aguardando capitalizar-se, resolve aproveitar, com seus familiares, o churrasco na laje.
	Em sua laje, Douglas faz um espaço super agradável de conforto para a família e as pessoas ficam tomando sol e desfrutando do espaço. As pessoas que ficam na laje, na verdade, ficam de olho nas pessoas que desfrutam da piscina de Peter, chamando-as de “gorda”, fazendo comentários pejorativos e inibindo as pessoas. Além disso, observa que até então Peter tinha um sol maravilhoso, com a construção do Douglas, o sol desapareceu.
	a) Douglas foi capaz de acabar com o sol do Peter;
	b) Douglas acabou com a privacidade do Peter, sua família fica de “butuca”;
	c) além de tudo, acabou com a vista. Peter abre a janela e dá de olho com a casa de Douglas.
	d) e ainda mais, a rua onde houve a construção é uma rua onde só se admitia casas de pavimento térreo; o código da municipalidade não permitia mais do que um andar. Além de tudo, Douglas está edificando contra as leis do município.
	Diante dessa situação, Peter ajuíza em face de Douglas uma ação de nunciação de obra nova, quem vem a ser quando há uma relação de vizinhança e que uma obra, que está ainda em fase de construção, de alguma forma está trazendo prejuízo a vizinhos.
	O imóvel de Peter é de veraneio – ele é domiciliado no Rio de Janeiro. Douglas é domiciliado em Belo Horizonte, só que esse imóvel fica em Petrópolis. Aonde será proposta a ação?
	1. Trata-se de direito real de imóveis (art. 47, CPC).
	2. O direito real está elencado no artigo.
	A ação será, portanto, obrigatoriamente proposta no foro de situação do bem imóvel, não há escolha.
	Nunciação de obra nova é quando você tem uma edificação ainda em fase de construção, mas que está sendo nociva ao vizinho. O que se pretende com a ação é paralisar a obra e, dependendo da situação, demolir.
	Se a obra estivesse concluída, seria uma ação demolitória.
	Exemplo n.4: Novamente tenho dois terrenos. Esse terreno é situado em Araras, onde são poucos os que moram lá, a maior parte é veranista. O proprietário desse imóvel que eu chamo de “A” é domiciliado no Rio de Janeiro, e o proprietário do outro imóvel, chamado de “B” é domiciliado em São Paulo; e o imóvel se encontra em Araras, na cidade de Petrópolis.
	Acontece que é um hábito na região os caseiros fazerem o seguinte: cortar toda a grama do terreno e no final do dia fazer uma fogueira com aquele lixão. Essa fogueira passou a emitir fumaça tóxica para o terreno de “A”, porque não tenho só grama, tenho todos os tipos de lixo residencial. Em dias normais, não haveria problema nenhum – porque os proprietários do imóvel não estão lá, eles são veranistas. Acontece que os proprietários estavam todos lá porque era férias de dezembro, então estava não apenas a família de “A” como seu filho e outras crianças que foram lá brincar. Essa criançada foi invadida por essa fumaça tóxica, que não foi por um dia, foi por uma semana, e começaram a ter crise de bronquite, sinusite etc., e tiveram de voltar para sua casa pois não conseguiram ficar lá.
	“A” ajuizou em face de “B” uma ação de dano infecto (que ocorre quando o seu vizinho está lhe causando um dano por queimadas, lixo na sua casa, tem animais e não cuida e fica aquela sujeira que invade a casa etc.).
	A ação deverá ser proposta aonde? 
	1. Estamos diante de direitos reais? Sim, direito de vizinhança, art. 47.
	2. O direito real em tela está elencado no artigo? Sim, portanto a ação deverá ser obrigatoriamente proposta em Petrópolis.
	Exemplo n.5: Douglas vai casar em 2019 e nós partimos do pressuposto que quem casa quer casa. Ele pensou o seguinte: passando por um condomínio em Itaipava, viu lá alguns imóveis, mas não quis se descapitalizar, resolveu dar uma entrada e financiar o salvo devedor a perder de vista.
	O financiamento foi feito com a Caixa Econômica Federal, foi celebrado um contrato de financiamento imobiliário, assumindo prestações mensais a serem pagas ao longo de 20 anos.
	A Caixa quando celebrou o contrato utilizou o imóvel como garantia, o nome disso é hipoteca. Portanto, o imóvel ficou hipotecado até ocorrer a quitação integral do débito, aí levanta-se a hipoteca e lavra-se a escritura definitiva de compra e venda. Acontece que no curso do financiamento, Douglas foi atingido pela crise que o país está passando e ficou com uma certa dificuldade de honrar essas parcelas e se tornou inadimplente. 
	Diante dessa circunstância, a Caixa Econômica Federal ajuizou em face de Douglas uma execução de hipoteca, “se ele não pagou, eu pego o imóvel”. A Caixa Econômica tem sede em Brasília, o Douglas é domiciliado em Petrópolis, a contratação ocorreu em Petrópolis, o imóvel hipotecado está situado no Rio de Janeiro.
	1. Estamos diante de direito real, que é a hipoteca.
	2. Hipoteca NÃO está elencada no art. 47, então a ação poderá ser proposta no foro de situação do bem imóvel (Rio de Janeiro), domicílio do réu (Petrópolis) ou foro de eleição (que não existe nessa contratação).
	A Caixa Econômica (autora) escolherá entre essas duas opções, a ação poderá ser proposta ou na comarca do Rio (foro de situação do bem imóvel) ou na de Petrópolis (foro do domicílio do réu).
	Se numa cláusula desse contrato de financiamento imobiliário, fosse eleito o foro da comarca de Petrópolis como local para dirimir os litígios provenientes da contratação, tenho um foro de eleição.
	Exemplo n.6: Douglas e Peter possuem um vínculo contratual. Douglas é o locador e o Peter é o locatário. Acontece que o Peter se tornou inadimplente; por situações alheias à sua vontade, deixou de pagar aluguel e encargos locatícios.
	Diante dessa situação, Douglas pretende retomar o imóvel e receber o valor devido – ajuíza ação de despejo por falta de pagamento cumulada com ação de cobrança. Douglas é domiciliado no Rio de Janeiro, Peter é domiciliado em São Paulo e o imóvel locado, situado em Petrópolis, é de veraneio, ou seja, Peter alugou por um determinado tempo, mas só usava aos finais de semana.
	1. Estamos diante de direitos reais? Não, contrato de locação é direito das obrigações. A ação será proposta no domicílio do réu, com base no art. 46 CPC.
	CUIDADO: antes de qualquer coisa, é preciso verificar se é direito real ou obrigacional. Se for real, verifica-se se é algum dos direitos elencados no art. 47 e daí partem duas soluções: enquadrando-se o direito nos elencados no artigo, a ação deverá ser proposta obrigatoriamente no foro de situação do bem imóvel; não estando elencado, pode ser proposta no foro de situação, no foro do domicílio do réu ou no foro de eleição, caso este tenha sido estabelecido contratualmente, ou seja, naquele contrato foi incluída uma cláusula que versa que os conflitos provenientes daquela contratação serão dirimidos em determinada comarca – a partir daí, o autor faz uma escolha entre as três opções.
		***DEU RUIM – vou perguntar à professora: estou na dúvida se quando tem o foro de eleição, por força do contrato, o autor precisa propor a ação lá ou ainda tem o direito de escolher entre as três opções.
AULA DO DIA 22/08/17
	ESTAMOS VENDO:
	CRITÉRIO TERRITORIAL: [cai em todas as provas]
	2. Foro especial:
	Critério Ratione Materiae: Foro especial em função de uma matéria especial.
	ART. 48 CPC: Inventário e
partilha.
	Quando o legislador fala em autor da herança ele se refere ao inventariado; que é a mesma coisa que de cujus.
	É preciso tomar cuidado com esse artigo, porque, na verdade, não é uma escolha: o inventariante, que é na verdade aquele que abre o inventário, um dos herdeiros, não tem a possibilidade de escolher em que foro vai ser aberto o inventário. O legislador, ao trazer o art. 48, estabelece uma regra que deve ser trabalhada por eliminação.
	P. ex.: “A” faleceu, portanto, é o inventariado (ou autor da herança) no caso concreto. “A” tinha o seu último domicílio em Petrópolis, e imóveis no Rio de Janeiro e em São Paulo, e bens móveis em Belo Horizonte. Qual o foro competente para processar o inventário e a partilha dos bens pelo falecimento de “A”? É o foro de Petrópolis, porque temos que trabalhar com esse artigo por eliminação: SE O MEU INVENTARIADO TINHA UM DOMICÍLIO, AS DEMAIS INFORMAÇÕES EU AS DESCONSIDERO – NÃO ME INTERESSA. O QUE INTERESSA É APENAS AONDE ERA O SEU ÚLTIMO DOMICÍLIO.
	Agora vamos pensar o seguinte: eu tenho uma pessoa que faleceu que não tinha um domicílio certo, exercia uma atividade circense. Ele tinha um bem imóvel no Rio e bens móveis em Belo Horizonte; o inventário e partilha de seus bens será aberto no Rio, foro de situação do bem imóvel (art. 48, §único, I).
	Se essa mesma pessoa, sem domicílio certo, possuísse bens imóveis no Rio de Janeiro e em São Paulo e bens móveis em Belo Horizonte, vamos nos remeter ao segundo inciso: o inventário e partilha de bens será aberto em qualquer dos foros em que este possuía bens imóveis, ou seja, Rio e São Paulo (art. 48, §único, II).
	Agora, se a pessoa que não tinha domicílio certo e falece, não deixando nenhum bem imóvel, mas bens móveis em Belo Horizonte, p. ex., o inventário e partilha de seus bens será aberto no foro de situação dos bens móveis, no caso, Belo Horizonte (art. 48, §único, III).
	O ART. 48 DEVE SER TRABALHADO POR ELIMINAÇÃO: Se a pessoa falece e tem um domicílio certo, o resto não interessa, o inventário será aberto no foro de seu domicílio. ENTRETANTO, se a pessoa não deixa domicílio certo, mas tinha bens imóveis em determinada localidade, o inventário vai ocorrer lá; se a pessoa falece e não tinha domicílio certo, mas bens imóveis em vários lugares, o inventário pode ser em qualquer lugar em que tiver bem imóvel; se a pessoa falece, não tinha domicílio certo tampouco bens imóveis, somente bens móveis, o inventário será aberto aonde estão os bens móveis.
	NA PROVA – a questão pode misturar competência interna e internacional e depois ser relacionada a foro competente.
	QUESTÃO DE PROVA:
	Amy Winehouse: nacionalidade: britânica; óbito: Londres; último domicílio: Londres; bens imóveis: Londres, Paris e Rio de Janeiro; bens móveis: Paris.
	Como na questão falamos de países distintos, antes de falar em foro competente, estou lhe perguntando se a competência é interna ou internacional.
	1. É competência interna ou internacional? Falando em competência interna ou internacional, devemos nos remeter os artigos, 21, 22 e 23 do CPC. Nesse caso, trata-se de competência interna exclusiva, com base no art. 23, II, no que se refere ao imóvel situado no Rio de Janeiro; os outros imóveis são de competência internacional, não é matéria de Processo Civil. Temos a chamada cisão funcional, somente o imóvel no Brasil será inventariado aqui. 
	Superada essa questão, ou seja, percebe-se que estou me referindo ao imóvel situado no Rio e este imóvel é competência interna exclusiva do Brasil, preciso saber qual foro competente.
	2. Qual o foro competente? Rio de Janeiro, por tratar-se de foro de situação do bem imóvel, com fulcro no art. 48, §único, I.
	Vimos antes que o art. 48 deve ser trabalhado por eliminação, e as regras do parágrafo único devem ser usadas quanto incerto o domicílio do autor da herança. Ora, o domicílio do autor da herança não é incerto: o último domicílio de Amy Winehouse foi em Londres. Mas, nesse caso, como o domicílio não é no Brasil, aplica-se essa regra e o inventário e partilha do bem imóvel situado no Rio de Janeiro será aberto no foro de situação deste.
	ART. 49 CPC: Ausência.
	Ausência é matéria de Direito Civil I. O ausente é aquela pessoa que sai de seu domicílio sem deixar procurador ou qualquer tipo de comunicação.
	Ajuizar uma ação em face do ausente faz todo sentido – imagine a seguinte situação: “A” é o credor e “B” o devedor. Acontece que esse devedor é ausente, ou seja, deixou seu domicílio e está em local incerto e não sabido e não constituiu procurador. Diante dessa circunstância e tendo em vista a inadimplência de “B”, “A” ajuíza uma ação de cobrança em face dele. Não adianta pensar que não faz sentido algum ajuizar uma ação em face de ausente, porque isso seria “jogar dinheiro fora”: diante de uma obrigação, o que garante o seu cumprimento é o patrimônio do devedor. Se esse ausente tem bens, os seus bens vão garantir que “A” tenha a obrigação cumprida.
	Em Processo Civil IV, estudaremos o instituto da penhora. Quando esse processo entrar em fase de execução, “B” terá os seus bens penhorados, e estes serão expropriados (alienados), convertidos em dinheiro e “A” receberá o valor devido.
	A tramitação do processo se dá da seguinte maneira: “B” será citado por edital. Estudaremos citação no próximo semestre; quando temos alguém em local incerto e não sabido o oficial de justiça não tem como procurar, então temos a chamada citação por edital. O que importa aqui é o patrimônio desse ausente, ou seja, os bens móveis, imóveis e semoventes que integram o seu acervo: estes bens é que vão garantir que a obrigação seja cumprida.
	Essa ação será proposta no último domicílio do ausente.
	Obs. Dúvida da Carla: e se o autor não souber nem qual o último domicílio do ausente?
	Explicação da Flamínia: o problema é o seguinte – quando você não tem informações para ajuizar uma ação, a primeira coisa é fazer uma pesquisa intensa. Não conseguindo fazer essa pesquisa, você ajuíza a ação e requer ao Poder Judiciário que lhe auxilie a obter essas informações, então, o Juiz vai oficiar órgãos de modo a ter essa informação referente a domicílio. Mas também não pode direto pedir ao Poder Judiciário auxílio na obtenção de informações, o primeiro papel é seu: você deve pesquisar primeiro! Não conseguindo, ou não possuindo meios para tanto, é que o Poder Judiciário pode ser requerido para tal.
	QUANDO FALAMOS EM FORO ESPECIAL COM RELAÇÃO A MATÉRIAS ESPECIAIS, VOCÊ DEVE PENSAR QUE SÃO TRÊS: DIREITOS REAIS SOBRE IMÓVEIS; INVENTÁRIO E PARTILHA; E AUSÊNCIA.
	Agora, vamos começar a falar de foro especial em função de pessoas especiais.
	Critério Ratione Personae:
	a) UNIÃO – art. 51, CPC.
	Quando eu falo da União, tenho que pensar nas situações em que a União é autora e nas que é ré. As ações em que a União for autora, como previsto no caput deste artigo, serão processadas no domicílio do réu. Quando a União for demandada (leia-se: ré), conforme previsto no parágrafo único, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.
	Esse artigo 51 NÃO é como o 48 (inventário e partilha), em que se trabalha por eliminação. Aqui, se você está diante de uma ação em que a União é ré, é possível escolher – e quem escolhe é o autor.
	Exemplo: Bruno faz o recolhimento de seu imposto de renda todos os anos. Mesmo não tendo estudado Direito Tributário, sabemos que imposto de renda é um tributo da União. No caso de Bruno, no último exercício recolheu a maior e quer uma restituição, ele vai ajuizar uma ação de repetição de indébito em face da União. Ação de repetição de indébito é uma ação em que ele pretende uma declaração de que pagou a mais e consequentemente a restituição do valor pago a maior.
	Quem é competente para processar essa ação? Analisando que tenho a União em um dos polos, vou para o artigo 51 do CPC, porque se trata de uma pessoa especial. A União, nesse caso, é ré: a ação

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