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O Ser e o Tempo da Poesia alfredo bosi resumo

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O Ser e o Tempo da Poesia
Por Alfredo Bosi
Resumo:
O Encontro dos Tempos
Como pode o poeta ser contemporâneo?, é a questão inicial do texto, retirado do diário de Leopardi em 1823. Trata-se de uma crítica a cultura burguesa, o egoísmo e a abstração de uma geração para quem as ilusões e paixões se esvaíram. O homem se encontra cortado da comunidade, sendo todas essas condições distantes da que produz a poesia, exercício de empatia e de proximidade.
As conclusões de Leopardi são avatares da teoria do estranhamento na qual o belo é o que deixa entrever, pela novidade da aparência, o originário e o vital da essência, sendo por isso, raro.
Nessa perspectiva, a poesia parece tirar do passado e da memória o direito a existência, não do passado cronológico mas de um cujas dimensões se atualizam no modo de ser da infância e do inconsciente.
POESIA E O MUNDO DA VIDA
A atividade poética busca uma relação intensa com o mundo-da-vida. Segundo o autor, a compreensão desse processo depende do entendimento de características comuns a todos os grandes textos poéticos:
A linguagem da poesia é mais singularizada que a da não-poesia.Imagens e situações unitárias e inconfundíveis: eis os “sujeitos”do poema.
Singular não quer dizer isolado. No poema, o singular é o concreto, unido aos sentimentos e aos ritmos da experiência, composto de conotações históricas e sociais. É o momento pleno da vida, por isso difícil de ser expresso fora dos termos de imagem-som.
O caráter concreto da palavra poética não se identifica, necessariamente, com o caráter icônico, mais imediato, das artes visuais.
A relação entre a poesia e o mundo não se faz apenas em relação à imagem. Ela vem transporta pela clave do signo linguístico —significado(s) + significante sonoro. Logo há entre o poeta e o campo da experiência não só a mediação imagística como também as várias edições do discurso.
O discurso poético, enquanto tecido de sons, vive um regime de ciclo. A sua estrutura é alternativa e recorrente: ritmo, subsistema fonético, entoação, timbre, duração, andamento. Assim o poema é sulcado por diferenças e oposições que se alternam com maior ou menor regularidade, evocando a figura do ciclo ou da onda.
Mas porque ciclo? Porque onda? Será que a forma poética responde, inconscientemente, à Natureza, que recomeça perpetuamente? Seu tempo reproduzirá em si o eterno retorno do mesmo?
O MUNDO DA VIDA TRABALHADO PELOS TEMPOS HISTÓRICOS
A frase poética, estrutura estética, guarda em si notável estabilidade. Textos milenares deixam ver um sistema de repetições e de ritmos tal como hoje faz um poema de Bandeira.
Há na poesia uma capacidade de resistência que parece ter algo das formas da natureza.
No entanto, a poesia tem mudado através dos séculos de civilização. A natureza dá lugar aos valores, aos pontos de vista, às ideologias, expressões de grupos políticos ou culturais.
As relações do mundo-da-vida com o discurso ideologizado são difíceis de precisar. Terá sido a partir dessa ruptura fundamental que as atividades simbólicas se foram destacando da sua forma ritual coletiva e assumindo temas e valores da camada social dominante.
O autor afirma o poder da poesia como instrumento de resistência à ideologia, negatividade que redime os momentos em que o verso parece apenas oratória ou variante alienada do pensamento opressor (a força resistente da poesia só pode ser “negativa” quando confrontada com o valor dominante). Uma obra pode contar, e frequentemente contém, um equilíbrio instável das duas forças, o positivo da ideologia corrente e o negativo da contra-ideologia. A poesia dá voz à existência simultânea, aos tempo do Tempo, que ela invoca, evoca, provoca.
O TEMPO E OS TEMPOS
A forma do poema ( nomes, figuras, recorrências sonoras) talvez seja remanescente de esquemas corporais antiquíssimos. O que já exerceu uma função coesiva nas comunidades arcaicas reproduz-se, hoje, com funções análogas, no produto poético individual. Na poesia, o movimento da comunidade sobrevive na dinâmica de analogia entre os seres ( metáfora) ou de contiguidade (metonímia).
Os cantadores de mito nos dizem que nem sempre houve tempo. A fratura que abre a história é o pecado que separa Adão de Javé, Prometeus de Zeus. A poesia, que se fez depois da queda, é a linguagem da suplência. Primeiro coral, depois reclusa, busca o sentimento de comunhão com os outros, consigo e com Deus.
O ENCONTRO DOS TEMPOS ILUSTRADO: ÉTICA E POESIA NO “INFERNO” DE DANTE
Conhecemos as influências ideológicas de Dante: Era católico, gibelinos, se interessa pela mística de São Francisco de Assis. No plano moral, sua maior autoridade era a ética de Aristóteles, da qual é retirado o critério que decide a ordem dos condenados, pelas “Três más disposições”: incontinência, malícia e fraude.
O esquema de Aristóteles serve como diagrama para uma topografia do inferno que se assemelha a um funil, criando uma hierarquia da ordem do mais leve ao mais grave até o poço de gelo onde mora a traição. 
	 O Inferno não é um tratado de doutrina, mas a Visão de uma viagem, composta por figuras, paisagens e atos. O corpo das imagens é flexível, surpreendente e móvel, mas o esqueleto ideológico é simples: a hierarquia para os pecadores proposta na Ética de Aristóteles, a lei do Talião. O dinamismo das figuras redime a ordem imposta e a supera, no entanto. Mesmo porque nenhum grande texto se reduz à sintaxe alegórica das doutrinas de sua época.

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