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Página 1 de 10 APONTAMENTOS DE AULAS - 11/08/2017 Disciplina: Direito Constitucional I. Horário: CD Noite (2ª. e 6ª. feiras). Professor: George Fontenelle. UNIDADE I - TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 1) CONSTITUCIONALISMO 1.1.) CONCEITOS. J. J. GOMES CANOTILHO: após identificar vários movimentos constitucionais, conceituou constitucionalismo como uma teoria que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade. O constitucionalismo moderno, portanto, para Canotilho, representa construção teórica (ideológica) que consiste em uma técnica de limitação do poder com fins garantísticos. Interpretando Canotilho, destaca Pedro Lenza o evidente juízo axiológico (valorativo) do qual se reveste o conceito de constitucionalismo, como uma teoria normativa da política (a exemplo das teorias fundantes da democracia e do liberalismo). KILDARE CARVALHO: para ele, o constitucionalismo traz consigo um viés jurídico e outro sociológico. A perspectiva jurídica supõe um sistema de normas, enfeixado na Constituição e posto acima dos detentores do poder. A perspectiva sociológica se manifesta enquanto movimento social que proporciona sustentação e legitimidade às limitações do poder, visando impedir que os governantes exerçam os poderes estatais de acordo com suas próprias regras, na busca da satisfação de seus interesses particulares. Os movimentos constitucionalistas, no curso da História, têm se caracterizado como verdadeiras reações sociais aos antigos regimes tirânicos e opressores. O caráter reativo de tais movimentos resultou no surgimento das Constituições como sendo compilações de regras aplicáveis nos âmbitos dos Estados, destinadas a limitar o poder autoritário e garantir a prevalência dos direitos fundamentais. 1.2.) HISTÓRICO E EVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISMO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA Marcos Cronológicos: Início aprox., 4.000 A.C. (surgimento da Escrita, na Mesopotâmia). Término 476 D.C. (queda do Império Romano do Ocidente). Civilização Hebraica: constitucionalismo incipiente, representado, no Estado Teocrático estabelecido, pela autoridade conferida aos profetas para fiscalizar o exercício do poder político e impor limites aos governantes transgressores dos preceitos bíblicos. Civilização Ateniense: as Cidades-Estados gregas, em regra, regulavam-se por uma democracia constitucional com participação direta, emblemática de um sistema político dotado do mais elevado grau de descentralização de poder estatal conhecido à época, a ponto de se aproximar de uma quase “identidade” entre os “governantes” e os “governados”, considerando-se para esse fim os cidadãos ativos (note-se que escravos, estrangeiros e mulheres não votavam na época de Péricles, reconhecida como de efetiva ampliação da participação de vários segmentos populares nos destinos da Cidade-Estado de Atenas). CONSTITUCIONALISMO NA IDADE MÉDIA Marcos Cronológicos: Início 476 D.C. (Invasões Bárbaras e Queda do Império Romano do Ocidente). Término 1.453 D.C. (tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos e Queda do Império Romano do Oriente). Principal Marco Jurídico: Página 2 de 10 A Magna Carta Foi um Pacto* assinado em 1215 D.C., na Inglaterra, pelo Rei João Sem Terra e seus revoltosos “súditos” (apenas os barões, ou seja, os proprietários de terras, ostentavam essa qualificação). A celebração desse Pacto culminou no acordo pelo qual a Coroa Inglesa deveria respeitar os direitos individuais consagrados em seu texto. Representou o apogeu do Constitucionalismo Medieval, garantindo, ainda que formalmente, a proteção de importantes direitos individuais. Resumidamente, conferia proteção apenas aos direitos dos homens livres, o que lhe suprimiu o caráter de universalidade. * Semelhanças e diferenças básicas entre Pactos e Forais (Cartas de Franquia): semelhança digna de nota consiste em que o advento de ambos, já desde a Idade Média, visava assegurar direitos individuais aos súditos, com a ressalva negativa de não se revestirem de universalidade (os direitos eram assegurados somente a uma parcela dos homens). Diferentemente dos Pactos, os Forais admitiam a participação dos súditos no governo local, denotando, por conseguinte, a presença deste essencial elemento de evolução política (a participação popular). CONSTITUCIONALISMO NA IDADE MODERNA Marcos Cronológicos: Início 1.453 D.C. (tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos e Queda do Império Romano do Oriente). Término 1.789 D.C. (estopim da Revolução Francesa, que perdurou até 1.799). Doutrinariamente, costuma-se dividir o CONSTITUCIONALISMO NA IDADE MODERNA em três matrizes, todas com auge entre os Séculos XVII e XVIII: A) INGLESA; B) FRANCESA, e; C) NORTE-AMERICANA (mais apropriado designá-la de “ESTADUNIDENSE”). A) CONSTITUCIONALISMO INGLÊS: solidificou a supremacia parlamentar, objetivando a limitação do poder arbitrário dos monarcas absolutistas, e preceituando a sujeição do rei ao povo. Nesse período, se destacaram como marcos jurídicos do Constitucionalismo Inglês: a Petition of Rights (Petição de Direitos, de 1628); o Habeas Corpus Act (Ato de Habeas Corpus, de 1679); a Bill of Rights (Carta de Direitos, de 1689), e; o Act of Settlement (Ato de Estabelecimento, de 1701). A Petição de Direitos de 1628 teve por escopo o reconhecimento dos direitos e liberdades dos súditos da Realeza da Inglaterra. Vale citar, a título de exemplos, a exigência de prévia autorização do Parlamento para fins de cobrança de impostos por iniciativa do rei e a vedação de prisões sem justo motivo. O Ato de Habeas Corpus de 1679, por sua vez, evidenciou explicitamente a sua razão de ser: “Um ato para melhor garantir a liberdade do sujeito, e para a prevenção de detenções para além dos mares”. A Carta de Direitos de 1689 previu, dentre outras normas, a de se realizarem eleições livres para a escolha dos membros do Parlamento Inglês; a nulidade de doações e promessas de doações do resultado de multas ou confiscos aplicados contra pessoas que não houvessem sido julgadas e condenadas; a ilegalidade dos atos de arregimentar e manter exércitos em tempos de paz, caso não originados a partir de autorização do Parlamento. O Ato de Estabelecimento de 1701 previu garantias de indiscutível relevância para a consolidação dos Direitos Humanos. Exs.: a concessão de autonomia e independência dos órgãos jurisdicionais, frente à Coroa Inglesa; a prevalência do princípio da legalidade também na esfera pública, mediante a submissão dos governantes às normas vigentes, prevendo-se a responsabilização política dos agentes públicos, inclusive através do instituto do impeachment. B) CONSTITUCIONALISMO FRANCÊS: adquiriu impulso com os movimentos revolucionários populares, oriundos das graves conjunturas econômica, política, jurídica e ideológica da nação francesa nas décadas de 1770 e 1780. A versão francesa do constitucionalismo foi paradigmática sob inúmeros aspectos, para todo o mundo ocidental, inclusive para o Constitucionalismo Brasileiro. Parafraseando o ensinamento de Sergio Roberto Leal dos Santos: Página 3 de 10 O século XVIII foi marcado por uma verdadeira transformação cultural que deu sustentação às mudanças políticas que viriam mais tarde. A consagração do Liberalismo na França deveu-se, em grande parte, à difusão do pensamento iluminista que, apesar de não sistematizado, revelou-se como uma corrente cultural de grande parte da sociedade europeia daquele século. Devidoà ascensão política da burguesia, nos Séculos XVII e XVIII, surgiram novos padrões de organização política, que, a um só tempo, sobrepujaram os regimes absolutistas e reduziram as regalias das famílias nobres. Os objetivos maiores dessa burguesia emergente consistiam em ascender financeiramente e estabelecer relações econômicas sob o pálio de normas que lhes dessem a segurança de não-interferência arbitrária por parte dos governantes absolutistas, tampouco de uma classe privilegiada (nobreza). E nesse cenário de predominância dos direitos de natureza privada, surgiu a ideia de CONSTITUIÇÃO como ESTATUTO POLÍTICO- JURÍDICO LIMITADOR DOS PODERES E INTERFERÊNCIAS POLÍTICAS. Ratificando o exposto, discorre o professor Dalmo Dallari: A primeira constituição da França foi adotada com objetivo, reiteradamente expresso, de garantir a liberdade individual, nesta compreendida garantia patrimonial e liberdade econômica. A par da clareza desse objetivo, havia convicção de que para atingi-lo e preservá-lo era indispensável fixar limites estreitos e rigorosos para o governo, a fim de que ele não tivesse meios para adotar e impor decisões arbitrárias e para interferir de qualquer forma no âmbito da liberdade individual. Inequívoco, portanto, que o CONSTITUCIONALISMO FRANCÊS, impregnado de concepções liberais-burguesas, teve por valores fundantes do conceito de “constituição” o Individualismo, Patrimonialismo e Privatismo, aos quais se somaram os ideais ILUMINISTAS sintetizados pelo lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Como o ILUMINISMO questionava a Monarquia Absolutista, à qual o povo francês estava subjugado, passou-se a buscar inspiração para lutar por novas formas de governo, economia e sociedade. A monarquia era considerada como impedimento para o desenvolvimento do comércio e da burguesia. Foi durante a REVOLUÇÃO FRANCESA que se atingiu o ápice da teoria jurídica civilista, que, naquele momento histórico, chegou a sobrepujar o constitucionalismo. Com efeito, outra característica fundamental do constitucionalismo francês é a “declaração de direitos”, que propiciou o surgimento da nova organização política da França. Tanto assim que a ASSEMBLEIA NACIONAL FRANCESA decidiu que o conteúdo do PREÂMBULO da CONSTITUIÇÃO DA FRANÇA, promulgada* em 03 DE SETEMBRO DE 1791, consistiria na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Essa Constituição representou o marco jurídico “divisor de águas” entre o Antigo Regime Monárquico Absolutista e o início de disputas pelo poder entre os próprios revolucionários, notadamente, entre os Girondinos (a alta burguesia) e os Jacobinos (integrantes da média e baixa burguesia, além dos camponeses, operários, desempregados etc.). Atenção para este adendo!!! *Promulgação: foi o ato pelo qual a Assembleia Nacional Francesa declarou, formalmente, a existência jurídica e o conteúdo da Constituição Francesa de 1791. C) CONSTITUCIONALISMO NORTE-AMERICANO (ESTADUNIDENSE): desse movimento social, político e econômico se sobressaíram, cronologicamente, os seguintes marcos jurídicos: A) os “Contratos de Colonização”, dentre os quais se destacaram: o Compact, de 1620 – consistiu na criação, pelos chefes das famílias colonizadoras (de formação religiosa puritana e, em sua maioria, ingleses), de regras voltadas ao igualitarismo, à formação e à organização de um governo pelos próprios governados, ou seja, pelos próprios colonizadores recém- chegados à nova terra; e as Fundamental Orders of Connecticut (Ordens Fundamentais de Connecticut, 1639). B) The Virginia Declaration of Rights (A Declaração de Direitos do Estado de Virginia, de 1776); C) As Constituições das ex-colônias britânicas da América do Norte, e; Página 4 de 10 D) Constituição da Confederação dos Estados Americanos, de 1781. Numa circunstância cujo objetivo era lutar para conquistar liberdades e proteger direitos fundamentais dos indivíduos das 13 Colônias Inglesas da América, houve a necessidade de criar mecanismos jurídicos e políticos que assegurassem tais direitos. Com isso, tornou-se imprescindível a criação de uma forma de governo de caráter legítimo capaz de expressar a vontade do povo. Nesse aspecto, ensina o professor Canotilho: [...] o modelo americano de constituição assenta na ideia da limitação normativa do domínio político através de uma lei escrita. Esta “limitação normativa” postulava, pois, a edição de uma “bíblia política do estado” condensadora dos princípios fundamentais da comunidade política e dos direitos dos particulares. Nesse sentido, a constituição não é um contrato entre governantes e governados, mas sim um acordo celebrado pelo povo e no seio do povo a fim de se criar e construir um “governo” vinculado à lei fundamental. De fato, após a independência das 13 Colônias Inglesas da América (ano de 1776), adveio um novo tipo de organização política, positivada através de uma CONSTITUIÇÃO ESCRITA (Lei Fundamental aplicável às colônias independentes): pautada pela defesa dos ideais democráticos; e cujas finalidades principais consistiam em: evitar o retorno do Colonialismo (apesar de o povoamento norte-americano haver permitido o desenvolvimento das regiões coloniais), e; estabelecer limites ao exercício dos poderes públicos, visando, dessa forma, assegurar o respeito aos direitos fundamentais e às liberdades. CONSTITUCIONALISMO NA IDADE CONTEMPORÂNEA Marcos Cronológicos: Início 1789 D.C. (estopim da Revolução Francesa, que perdurou até 1799). Término Dias atuais. Marcos Jurídicos do Constitucionalismo Moderno na Idade Contemporânea (constituições escritas): Constituição Norte-Americana de 1787 (na transição da Idade Moderna para a Contemporânea), e; Constituição Francesa, de 1791; Constitucionalismo Liberal: as Constituições Francesa de 1791 e Norte-Americana de 1787 representaram o predomínio das ideias do Liberalismo Econômico Clássico, veiculadas pelo Iluminismo, que priorizaram valores como o Individualismo, a Propriedade Privada, a Interferência Mínima do Estado nos interesses e negócios privados (também denominada de “Absenteísmo Estatal”). Tais valores foram alçados à condição de direitos, os quais foram classificados pela doutrina como DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO (ou PRIMEIRA DIMENSÃO). Marcos Jurídicos do Constitucionalismo Contemporâneo na Idade Contemporânea: Constituição do México, de 1917; Constituição de Weimar (Primeira República Alemã), de 1919, e; a Constituição Brasileira de 1934. O Constitucionalismo Contemporâneo tem sido marcado por claras mudanças de paradigmas valorativos, das sociedades nas quais foram instituídos. A conjuntura sócio-econômica europeia, no Século XIX (com a Revolução Industrial em curso), marcou o início da transição do Constitucionalismo Liberal para o Constitucionalismo Social, cujos valores mais importantes ecoaram, num primeiro momento, sob a forma de reivindicações por melhores condições de trabalho e pela criação de normas destinadas a garantir a assistência social. Em sequência, já no Século XX, vieram a I Guerra Mundial e o advento dos direitos sociais, culturais, econômicos, coletivos e de igualdade (real, material, substancial, e não a meramente formal), surgidos com Página 5 de 10 o Tratado de Versalhes (após a I Guerra Mundial), com as Constituições da Primeira República Alemã (Constituição de Weimar) e do México. A doutrina classifica tais direitos como DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO (ou SEGUNDA DIMENSÃO). Em razão das profundas mudanças sociais e econômicas, pelas quais passaram, desde então, associedades de diversas partes do mundo, surgiram os DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO (ou de TERCEIRA DIMENSÃO), como o direito à Solidariedade (Fraternidade), e, na concepção do francês Karel Vasak (primeiro jurista a tratar da divisão dos Direitos Humanos em “gerações”), os direitos à Paz, ao Desenvolvimento, ao Meio Ambiente Equilibrado e Sustentável, à Comunicação e à Propriedade Sobre o Patrimônio Comum da Humanidade. A marca distintiva dos DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO (DIMENSÃO), se mostra através de novas demandas que extrapolam o âmbito dos interesses individuais, passando-se a conferir maior importância aos anseios da comunidade internacional, considerada como um todo. Essa “terceira dimensão de direitos” possui elevadíssimos teores humanista e universalista. Ressalta-se, nesse contexto, as legítimas preocupações e o ativismo relacionados a temas afetos a direitos e interesses de todos os seres humanos (por isso considerados “transindividuais”). Exemplos de temas de interesses transindividuais: ações encampadas em escala global, voltadas à preservação do meio ambiente, ao respeito aos direitos humanos ou à proteção de grupos vulneráveis, tais como os portadores de necessidades especiais (PNEs), mulheres, idosos, crianças, adolescentes, consumidores e os que vivem em condições miseráveis. HAVERIA DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO/DIMENSÃO??? E DE QUINTA GERAÇÃO??? Para Paulo Bonavides, há DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO, como consequência da globalização dos direitos fundamentais. Sob a ótica do renomado jurista, são de “quarta dimensão” os direitos à democracia direta, à informação e ao pluralismo. Por seu turno, o jurista italiano Norberto Bobbio concebeu como direitos de “QUARTA GERAÇÃO” aqueles cujo objetivo consiste em salvaguardar o patrimônio genético das pessoas (e a própria existência humana), ante os perigos da sua manipulação indiscriminada e antiética, no campo da Engenharia Genética. Direito de “QUINTA GERAÇÃO”, na visão de Paulo Bonavides, é o direito à Paz (no que diverge conceitualmente de Karel Vasak, para quem a Paz era direito de terceira geração). Bonavides qualifica a Paz como direito supremo da Humanidade. 1.3.) O NEOCONSTITUCIONALISMO No Neoconstitucionalismo (Constitucionalismo Pós-Moderno ou, ainda, Pós-Positivismo): 1.3.1.) a Constituição (e não as leis consideradas em conjunto) passa a ocupar lugar central no sistema jurídico em que se fundamenta o Estado de Direito; 1.3.2.) mais vale a concretização dos valores priorizados pela Constituição – o efetivo respeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e aos demais direitos fundamentais, igualmente, a garantia de condições dignas mínimas, do que a retórica generalista e, por vezes, superficial, contida nas suas normas; 1.3.3.) a Constituição possui elevada carga valorativa (axiológica), cuja imperatividade, superioridade e centralidade no Ordenamento Jurídico faz com que tudo deva “ser interpretado a partir da Constituição” (Pedro Lenza); 1.3.4.) os aspectos materiais possuem maior importância do que os aspectos formais; 1.3.5.) Eficácia irradiante das suas normas e princípios, sobre os Poderes Públicos e o âmbito privado da vida das pessoas. 1.4.) MARCOS FUNDAMENTAIS DO NEOCONSTITUCIONALISMO Ver os “pergaminhos” a seguir, com a síntese dos marcos: Históricos; Filosófico, e; Teóricos. 1.4.1.) MARCOS HISTÓRICOS Página 6 de 10 1.4.2.) MARCO FILOSÓFICO 1.4.3.) MARCOS TEÓRICOS Formação do Estado Constitucional de Direito. Surgimento, na Europa, das seguintes CONSTITUIÇÕES REDEMOCRATIZANTES e TRIBUNAIS, após a II Guerra Mundial: a) na Alemanha (Constituição de 1949 e Tribunal Constitucional Federal em 1951); b) na Itália (Constituição de 1947 e a Corte Constitucional em 1956; c) em Portugal (Constituição de 1976), e; d) na Espanha (Constituição de 1978). xxxxxxxx Tais marcos criaram nova dogmática à Hermenêutica Constitucional, pautada nos seguintes princípios: A) FORÇA NORMATIVA IMPERATIVA DA CONSTITUIÇÃO (para Konrad Hesse, o hermeneuta jurídico deve interpretar as normas constitucionais imbuído do desejo de lhes conferir as maiores efetividade e eficácia possíveis, como meio concretizador da vontade da Constituição); B) SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO (em seu aspecto material, a Constituição contém as normas de maior hierarquia e “força” jurídicas, intensidade e densidade valorativas, o que se demonstra, por exemplo, com a positivação das Cláusulas Pétreas em seu texto, especialmente, no art. 60, §4º, incisos I a IV, e do seu próprio art. 5º, ao preceituar os Direitos e Garantias Fundamentais; por outro lado, deve ser cumprida à risca, pelos Poderes Públicos, em ambos os aspectos - material e formal); C) MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS (todas as normas constitucionais devem ser interpretadas visando à sua máxima efetividade social na resolução dos casos concretos, notadamente, para, em situações de dúvida, fazer prevalecer os direitos fundamentais, quando estes são confrontados com outros direitos igualmente constitucionalizados). D) PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS NORMAS LEGAIS E ATOS DO PODER PÚBLICO (não se presume inconstitucionalidade de normas legais ou de atos normativos oriundos dos Poderes Públicos, por gozarem de presunção juris tantum de constitucionalidade, podendo ser elidida, em regra, somente pelo Controle de Constitucionalidade atribuído ao Poder Judiciário, especialmente ao STF, em caráter concentrado e abstrato); E) INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO (as normas polissêmicas devem ser interpretadas do modo mais consentâneo e condizente com a finalidade pretendida pelo legislador constituinte, evitando-se interpretações contrárias à Constituição; normas cujas interpretações evidenciem a sua discrepância com a Constituição não devem ser aplicadas, mas, sim, rejeitadas, declaradas inconstitucionais); normas cujas interpretações evidenciem sua consonância com a Constituição devem ser aplicadas na resolução do caso concreto. F) UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO (ela deve ser interpretada como um todo harmônico, de modo a extirpar os aparentes “conflitos” entre as suas normas); princípio intimamente ligado ao da Unidade da Constituição é o Princípio da Concordância Prática (ou da Harmonização), pelo qual as normas constitucionais deverão coexistir, harmonicamente, ainda que para tanto, seus âmbitos de incidência tenham de ser limitados um pelo outro. Isso se deve à inexistência de hierarquia entre princípios, entre regras, e entre princípios e regras. Assim, eventual colisão entre princípios e regras constitucionais (princípio x princípio, princípio x regra, regra x regra) deve ser solucionada sem se cogitar da extinção daquele cujos efeitos foram atenuados em prol do outro. g) RAZOABILIDADE/PROPORCIONALIDADE (não previsto expressamente na CF/1988, esse princípio serve para que os atos emanados dos Poderes Públicos sejam praticados segundo os parâmetros da necessidade/exigibilidade, da adequação/pertinência/idoneidade e da proporcionalidade em sentido estrito, de acordo com expectativas de equidade, justiça, bom senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excesso, sobremodo, para evitar violações aos direitos e garantias fundamentais) - ver, como exemplo de previsão literal do mencionado princípio, o disposto no inciso VI, do art. 2º, da Lei nº. 9.784/1999; xxxxxxxx O Pós-Positivismo (que propiciou a reaproximação entre o Direito e a Filosofia). Após aII Guerra Mundial, o Positivismo Jurídico - teoria que desde o fim do Século XIX, limitou o alcance do Direito (quase exclusivamente) ao conteúdo das leis escritas, perdeu espaço para interpretações e aplicações mais amplas do Direito. Assim, o Pós-Positivismo propõe abandonar a aplicação “mecânica” e passiva do Direito (limitadora da atividade jurisdicional a mero “enquadramento” dos casos concretos nas hipóteses previamente descritas em lei), passando-se, então, a: a) realizar uma leitura MORAL e ÉTICA do Direito, de modo a nele encontrar embasamento também na Filosofia, e não apenas na legalidade estrita; b) atribuir “normatividade aos princípios”; c) definir as relações entre os princípios, as regras e os valores que fundamentam as normas; d) buscar as razões práticas e a finalidade das normas (ou seja, interpretá-las e aplicá-las criticamente, pautando-se nas ideias de Justiça e de concretização das normas constitucionais, e; e) proposição de uma nova Hermenêutica Constitucional, reafirmando a inafastabilidade dos direitos fundamentais e a primazia da dignidade da pessoa humana). xxxxxxxx Página 7 de 10 2) DIREITO CONSTITUCIONAL 2.1.) OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL O Direito Constitucional tem por OBJETO o conjunto de Normas definidoras da Organização e Estruturação do Estado, e das Normas assecuratórias dos Direitos e Garantias Fundamentais das pessoas. O objeto do Direito Constitucional Brasileiro, por exemplo, conjuga os seguintes aspectos: 2.1.1.) a forma de Governo Republicana (que permite a participação do povo no governo); 2.1.2.) a forma de Estado Federativa (União, Estados-Membros, DF e Municípios, conforme se verifica dos arts. 1º, caput, e 18, da CF/1988); 2.1.3.) o regime político Democrático (democracia semidireta ou participativa - art. 1º, caput e parágrafo único, da CF/1988); 2.1.4.) o sistema de Governo Presidencialista (o presidente acumula as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo); 2.1.5.) a separação dos Poderes, a teor do art. 2º. da CF/1988 (Judiciário, Executivo e Legislativo, independentes entre si, contudo, harmonizados pelo princípio dos freios e contrapesos); 2.1.6.) a atuação e as limitações de seus órgãos (todas delineadas no texto constitucional), e; 2.1.7.) os direitos e garantias fundamentais das pessoas (dente os quais, os do art. 5º, da CF/1988). Para Alexandre de Moraes, o OBJETO do DIREITO CONSTITUCIONAL é a “constituição” política do Estado, a organização de suas instituições e órgãos, o modo de aquisição e limitação do poder, através, inclusive, da previsão dos direitos e garantias fundamentais. 2.2.) ASPECTOS FORMAIS E MATERIAIS DO DIREITO CONSTITUCIONAL Materiais: focalizam o conteúdo da norma, estando ela dentro ou fora da Constituição Federal. Assim, o fator determinante do status constitucional de uma norma decorre da natureza do seu conteúdo, e não do modo pelo qual foi introduzida no Ordenamento Jurídico, tampouco da posição hierárquica que lhe foi atribuída em comparação com as demais normas. Pelo critério material, a norma será constitucional quando tratar da estrutura do Estado, definindo sua forma, seu regime político, forma e sistema de Governo, separação dos Poderes, a atuação e as limitações dos seus órgãos, além dos direitos e garantias fundamentais dos integrantes de seu povo. Formais: não focalizam o conteúdo da norma, limitando-se a classificá-la como constitucional (ou infraconstitucional) tão somente mediante verificação da forma pela qual foi introduzida no Ordenamento Jurídico - a saber, se foi submetida a “processo legislativo” mais solene e dificultoso, no tocante ao quórum e número de sessões necessários para sua aprovação. Sob os aspectos formais, serão constitucionais todas as normas presentes no texto da Constituição, independentemente das matérias nelas tratadas. Ex.: o art. 242, §2º, da nossa Constituição Federal de 1988, estabelece que o Colégio Pedro II, situado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal, o que demonstra, por si só, que esse dispositivo não possui caráter de norma constitucional, embora faça parte do Título IX da Constituição, que fixou as Disposições Constitucionais Gerais. 2.3.) RELAÇÕES DO DIREITO CONSTITUCIONAL COM OUTRAS DISCIPLINAS - Relação com o Direito Administrativo: Classificado no Direito Público Interno, do qual é um de seus “ramos”, o Direito Administrativo, como bem se depreende da qualificação que lhe é dada, vem estudar a Administração Pública no seu caráter formal e jurídico, em oposição à ciência da administração, que a encara no seu elemento técnico e material. Assim, o Direito Administrativo encerra o conjunto de normas, em virtude das quais se estabelecem os princípios e regras necessários ao funcionamento da Administração Pública, não somente no que concerne à sua organização como às relações que se possam manifestar entre os Poderes Públicos e os diversos segmentos da sociedade. As estreitas relações entre o Direito Constitucional e o Direito Administrativo têm levado autores a tratarem de ambos quase como um só, sob a designação de Direito Público. Quanto a esse relacionamento, diz o professor Paulo Bonavides “Das ciências do Direito Público, aquela que se apresenta mais afim ao Direito Constitucional é indubitavelmente o Direito Administrativo”. Relacionam-se quando discrimina as atribuições do Presidente da República e dos Ministros de Estado; quando regula os direitos e deveres dos funcionários públicos etc. Página 8 de 10 - Relações com os Direitos Financeiro e Tributário: Pertence ao ramo do Direito Público Interno. O Direito Financeiro constitui-se da soma de regras, ditadas em interesse coletivo, para que governem as finanças do Estado, impondo os princípios que devem normalizar as atividades financeiras, no sentido de assegurar os recursos de que necessita para a manutenção de seus serviços e cumprimento de suas precípuas finalidades, ao mesmo tempo em que traça as normas pelas quais se deve pautar a aplicação destes recursos. Tanto o Direito Financeiro como o Direito Tributário estão ligados intimamente ao Direito Constitucional, pois as normas básicas de administração financeira do Estado estão contidas na Constituição Federal, com capítulos voltados ao Sistema Tributário Nacional e ao Sistema Financeiro Nacional, traçando os princípios, a limitação do poder de tributar, impostos da União, Estados e dos Municípios, da repartição das receitas, do orçamento, etc. - Relações com os Direitos Judiciário e Processual: Penal e Civil e Processual. Constitui-se o Direito Judiciário pelo conjunto de regras e princípios, que regem a organização do Poder Judiciário e a forma pela qual faz aplicação da justiça, em cumprimento da sua finalidade precípua. É um ramo do Direito Público Interno. Por ele, além das regras propriamente instituidoras da organização judiciária, meios de investidura dos órgãos do Poder Judiciário e membros auxiliares da Justiça, regulam-se as atribuições dos Juízes e serventuários da Justiça, as condições dos respectivos exercícios e substituições. Embora o Direito Processual se encontre intimamente ligado ao Direito Judiciário, ambos têm objetos distintos: este último regula a organização do Poder Judiciário, ao passo que o Direito Processual contém normas determinando os direitos, deveres e faculdades processuais dirigidos às partes e ao juiz, num “passo a passo” cuja finalidade consiste em possibilitar ao Estado exercer a jurisdição, como forma de pacificação dos conflitos sociais. A relação entre o Direito Constitucional e o Direito Judiciário Penal é manifesta quando a Lei Constitucional regulao “Habeas Corpus”, a prisão em flagrante, a fiança, a plenitude da defesa, a legalidade do processo e da sentença, o Júri, e protege a liberdade individual contra abusos de poder. Por outro lado, se manifesta o Direito Judiciário Civil quando se regula o Mandado de Segurança para a proteção de direito líquido e certo (individual ou coletivo), a prisão civil, o direito de petição aos Poderes Públicos, o direito de Ação Popular. - Relação com o Direito Penal: É o Direito Penal geralmente compreendido como o complexo de regras e princípios que, tipificando (ou seja, descrevendo atos ou condutas) e classificando os crimes ou delitos, assinala as penas que devem tornar efetiva a punição das pessoas a quem se imputam tais ações ou omissões delituosas. A relação entre o Direito Constitucional e o Direito Penal se apresenta quando estabelece a individualização e a personalização da pena, quando dispõem que não haverá pena de morte, banimento, a extradição de brasileiro e a de estrangeiro por crime político etc. O Direito Constitucional limita a competência punitiva penal do Estado, criando as condições mais restritas possíveis à ação do Direito Penal, eis que nessa limitação estão a garantia e a defesa da liberdade. Normas da CF/1988 como a nullum crimen nulla pena sine lege (não há crime nem pena sem lei anterior que os defina); da individualização da pena; da legalidade das prisões; da competência da autoridade policial e judiciária; do direito à fiança; da liberdade de defesa e do contraditório no processo criminal, visam adequar o Direito Criminal à necessidade de proteger o direito constitucional à liberdade. - Relação com o Direito do Trabalho: Direito regulador das relações de trabalho entre empregado e empregador, na execução de serviços ou de empreitadas indispensáveis à realização das atividades mercantis e industriais e de outras de ordem econômica, em que se faça senhor a contribuição do trabalhador. Vários são os dispositivos de nossa Constituição Federal destinados à proteção dos trabalhadores, consagrando, assim, fortíssima relação entre o Direito Constitucional e o Direito do Trabalho, tais como: salário mínimo, irredutibilidade salarial, aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, seguro-desemprego, fundo de garantia por tempo de serviço, décimo terceiro salário com base na remuneração integral, participação nos lucros ou resultados, licença à gestante, relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho, e outros previstos no art. 7º, da CF/1988. Página 9 de 10 Resumo das Relações do Direito Constitucional com outros ramos do Direito. Na dinâmica das relações entre o Direito Constitucional e outros ramos do Direito, como o Administrativo, Penal, Processual, Judiciário, Privado (Civil e Comercial), Trabalhista, Internacional, o Direito Constitucional se localiza em patamar hierárquico-jurídico superior aos demais, superpondo-se a todos eles, porque lhes traça os princípios, as regras gerais e as normas básicas que os norteiam. Assim, verificamos o Direito Constitucional norteando, por exemplo, o: - Direito Administrativo, ao discriminar as atribuições e funções do Governo; - Direito Penal, ao proibir a pena de morte (como regra); - Direito Judiciário, ao tratar, por exemplo, do Mandado de Segurança e da Prisão Civil; - Direito Internacional Público ao vedar guerras de conquista, regular o direito à guerra defensiva, à paz; - Direito Civil, ao dispor, por exemplo, sobre os direitos da personalidade e a responsabilidade pela reparação dos danos civis, sejam eles de origem contratual ou extracontratual; - Direito Comercial, ao cuidar das marcas de comércio, do nome comercial e dos títulos cambiários; - Direito do Trabalho, ao prever expressamente os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, a não interferência do Estado na criação e no funcionamento dos sindicatos (excetuada a obrigação de seu registro junto ao Ministério do Trabalho), ou, ainda, a previsão expressa, na CF/1988, do direito ao exercício de trabalho, ofício ou profissão como direito fundamental. - Direito Internacional Privado, ao regular, p.ex, a vocação para suceder em bens estrangeiros existentes no Brasil. Finalmente, em face das Ciências Sociais em geral, a situação se inverte, uma vez que o Direito Constitucional se subordina às Ciências Sociais, especialmente à História, à Sociologia, à Economia, à Política e à Moral. Enquanto os demais direitos, públicos ou privados, não podem existir sem o respaldo do Direito Constitucional, este, por sua vez, não pode se apartar das Ciências Sociais, sob pena de, ao fazê-lo, tornar-se alheio aos ensinamentos que estas lhe oferecem, correndo o risco de se apartar da realidade e, consequentemente, não atingir sua finalidade. 2.4.) DIREITO CONSTITUCIONAL COMO DIREITO PÚBLICO POR EXCELÊNCIA A dicotomia “Direito Público” versus “Direito Privado” vem sofrendo desgaste gradual e, atualmente, tem se prestado cada vez mais a fins meramente didáticos. Com essa finalidade, convencionou-se a seguinte divisão (a mais aceita, porém, não unânime na doutrina): ➢ DIREITO PÚBLICO: Constitucional (com o diferencial de sua “FUNDAMENTALIDADE”), Administrativo, Urbanístico, Ambiental, Processual, Tributário, Financeiro, Econômico, Penal e Internacional. ➢ DIREITO PRIVADO: Civil e Comercial. Para José Afonso da Silva, o Direito Constitucional deve ser compreendido como “Direito Público fundamental”, haja vista se referir, diretamente, à organização e ao funcionamento do Estado; à articulação de seus elementos primários (população, território e soberania) e ao estabelecimento das bases da estrutura política (in Curso de Direito Constitucional Positivo). Por seu turno, é importante relembrar que, especialmente no início do Século XIX, o Direito Civil atingiu seu ápice, como “ramo” do Direito, com o advento do Código Napoleônico de 1804. Iniciada essa Era da Codificação, não seria demasiado afirmar que a natureza do Código Civil de Napoleão (e de outros que lhe sucederam) foi, praticamente, alçada à de uma “constituição privada”. A partir de tal período, solidificou-se o dogma da completude, ou seja, o de que os códigos civis regulavam todas as relações jurídicas de direito privado, bastando ao juiz aplicar as normas codificadas no julgamento dos litígios. Essa pretensa “completude” decorreu, como já vimos, da adoção dos princípios do Liberalismo Clássico, pelos quais se privilegiaram ideais como a Não Intervenção do Estado (denominada, por alguns, de Absenteísmo Estatal) e Liberdade Meramente Formal, delineadores dos direitos de “primeira dimensão”. Com novas ideias vicejando nas Ciências Jurídicas, a dicotomia “Direito Público” versus “Direito Privado” vem sofrendo desgaste gradual e, atualmente, está perdendo espaço para concepções mais modernas, que consideram o Direito como um todo harmônico, dotado de UNIDADE, INDIVISIBILIDADE e INDECOMPONIBILIDADE. A transição do Estado Liberal para o Estado Social de Direito, com o surgimento das normas de Direito do Trabalho e Direito Previdenciário, legitimou mais uma “subdivisão” do Direito, além das categorias “Público” e “Privado”: o “DIREITO SOCIAL”. Página 10 de 10 Os direitos sociais, considerados de “segunda dimensão”, fundamentais, pressupõem a intervenção estatal ativa e continuada; a implementação de políticas públicas visando à prestação de serviços essenciais ou à melhoria dos mesmos (no intuito de assegurar a todos a efetiva Dignidade da Pessoa Humana e a Igualdade Material), e a realização da justiça distributiva.O reconhecimento gradativo da primazia das normas do Direito Constitucional sobre as do Direito Privado, trouxe consigo as seguintes tendências jurídicas, voltadas à salvaguarda da Dignidade da Pessoa Humana, princípio-matriz de todos os direitos da CF/1988: ➢ Concepção de um Direito Civil-Constitucional (subsunção das normas de Direito Privado sem descurar da sua subordinação hierárquico-normativa às regras constitucionais). ➢ Eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais (aplicação direta dos Direitos Fundamentais às relações privadas). ➢ Descodificação do Direito Civil e Prevalência de Microssistemas Jurídicos (p. ex., o CDC, o ECA, Estatuto do Idoso, Lei de Alimentos, Lei de Locações etc.). ➢ Despatrimonialização do Direito Civil (para o Direito, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, positivada no art. 1º. III, da CF, nos elevou de um patamar axiológico eminentemente individualista e patrimonialista para outro, de viés predominantemente existencialista). As mudanças ocorridas na instituição denominada Estado (de Absolutista/Autoritário para Liberal, e deste para Social), aliadas à superveniência de novos Direitos de Terceira Dimensão, a exemplo da solidariedade, fraternidade, paz etc., representaram novos patamares evolutivos, atribuindo ao Estado o dever de assegurar, difusamente, o mínimo de direitos capaz de viabilizar uma existência humana digna. 3) O DIREITO CONSTITUCIONAL E O ESTADO DE DIREITO Conceito de ESTADO (para Dalmo Dallari): “É A ORDEM JURÍDICA SOBERANA QUE TEM POR FIM O BEM COMUM DE UM POVO SITUADO EM DETERMINADO TERRITÓRIO. ” Neste conceito de Estado se evidencia a presença dos seus únicos e suficientes elementos constitutivos, que são: Soberania, Finalidade, Povo e Território. Para Pedro Lenza, a CONSTITUIÇÃO deve trazer, em seu conteúdo, os sobreditos elementos constitutivos/integrantes/componentes do Estado: a) Soberania: é a emanação do poder do povo. A noção de “poder” está implícita na de soberania. b) Finalidade: o bem comum (finalidade maior do Estado), evidencia o seu viés político. c) Povo: é o titular da Soberania Estatal. Além disso, constitui uma parcela dos destinatários do Ordenamento Jurídico (o Estado e as autoridades públicas também são destinatários), e; d) Território: a territorialidade é igualmente definidora de limites jurídicos e políticos da ação do Estado. Todos os Estados têm de possuir suas respectivas Constituições, cujas normas limitarão o poder das autoridades, definirão as regras de prevalência dos direitos e garantias fundamentais (proporcionando maior segurança jurídica às relações entre os entes públicos e os particulares), e estabelecerão as formas de participação política dos cidadãos nas decisões estatais. Este “conjunto” fundamenta a instituição e a continuidade do Estado Democrático de Direito. Feitas as considerações acima, vale ressaltar que, no Estado Brasileiro, a participação popular nas decisões políticas ocorre de forma híbrida, sendo majoritariamente indireta e minoritariamente direta, mediante uma “democracia semidireta” ou “democracia participativa”. Por que o Estado Brasileiro é assim classificado? Porque nem vivemos numa “democracia direta” (na qual os cidadãos tomam as decisões diretamente, sem intermédio de representantes) nem numa “democracia indireta” (em que todos os rumos do Estado são decididos apenas pelos representantes escolhidos pelo povo). Sobre o tema, ver o art. 1º., parágrafo único, da CF/1988. xxxxxxxx
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