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O Ensino de Literatura Afro através do Método Recepcional
NAHIRNI, Haruko Andressa
RU 1551997
BLOISE,Martins Denise
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa realizada com o intuito de mostrar aos educandos que não se fala de negro somente nas aulas de história e geografia, mas também podemos encontrar em diversos livros de literatura também. 
Os textos escolhidos para trabalhar a beleza negra foram: “Menina bonita do laço de fita” de Ana Maria Machado, que relata o encantamento de um coelhinho branco como a neve e de uma garotinha negra, e do livro “Felicidade não tem cor” de Júlio Emílio Prestes, em sua narrativa conta história de um menino chamado Fael que era caçoado pelos amigos por causa de sua cor. Ele ficava muito chateado com os preconceitos que sofria em sua sala de aula. Um dia, ele resolve ir a uma rádio para tentar descobrir o endereço de Michael Jackson, para perguntar a ele como ele tinha ficado branco... O locutor da rádio ensinará a Fael que não é preciso ser branco para ser feliz. 
Através da teoria do estudioso alemão Hans Robert Jauss, temos como base o Método Recepcional, que traz um horizonte de expectativas, expectativas essas que são de aguçar o interesse do aluno a não de ater somente em um texto, tendo como base esse objetivo o professor deve levar para suas aulas outros textos que tratem basicamente do mesmo assunto em distintos gêneros textuais.
Em ambas as leituras, serão abordadas e discutidas as principais características entre as personagens, além de trazer para a aula o conhecimento de mundo que os alunos têm sobre o assunto, na qual o professor poderá se colocar como mediador da discussão. 
Palavras-Chaves: Afro, Método Recepcional, Cultura, literatura.
Introdução
A literatura pode ser definida como uma manifestação artística, que possui a finalidade de recriar a realidade através da visão do autor. O autor procura se utilizar de seus sentimentos e técnicas de narrativas e de sua visão de mundo e ideologias, variando com o momento histórico-social na qual o texto esta sendo escrito. A literatura é hoje considerada essencial para a formação humana, tal como garantir acesso a crenças, opinião própria ao lazer e a arte.
A Literatura se torna contudo o alimento da alma, como uma necessidade diária de conhecimento aonde cada página folheada nos abre portas para o lúdico e para o encantamento.
Cada texto escrito, o autor procura transcrever a sociedade na qual se vive, colocando como características de seus personagens coisas corriqueiras do cotidiano, suas criticas e seus medos, isso acaba dando vida a personagens que imitam a vida real. Podemos encontrar isso dentro do livro “Felicidade não tem cor” onde Júlio Emílio Prestes, é uma pessoa afro e dentro de seus textos explora de uma maneira bem ampla os tipos de preconceitos vivido. Porém todo texto lido não deve ser considerado literatura, há diferenças distintas entre um texto literário e um não literário. 
O que diferencia a literatura de outras manifestações artísticas e a matéria prima, que e apresentadas através das palavras escritas ,sendo transformada através da linguagem utilizada como forma de expressão do pensamento. Não podemos pensar que todo o texto publicado é literário, pois sabemos que nem tudo é de caráter literário. O texto literário possui características próprias , segundo José de Nicola (1998,24)
“o que torna um texto literário é a função poética da linguagem que ocorre quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, com as palavras carregadas de significado.” 
Portanto o texto literário poder desencadear vários significados a cada leitura realizada, além de possuir uma dimensão estética e com a função poética da linguagem, que nos leva a uma reflexão sobre a realidade, proporcionando uma reação de prazer e emoção ao leitor. Para de produzir um texto literário levamos em consideração à valorização das formas, reflexão sobre o real, reconstrução da linguagem e a organização linguística além de observar o seu conteúdo.
“(...) proposta de definição da literatura como conjunto de textos portadores de características que corresponderiam à sua literariedade. Nessas propostas, observa-se a ideia de que textos literários teriam certas características estruturais ou textuais muito peculiares, as quais os tornariam diferentes dos demais textos,considerados portanto, não literários.” (Zappone,2003,p22)
Contudo o ensino da literatura dentro do método recepcional, trás como base : obra/autor/leitor, onde os leitores tem um papel ativo, que é interagindo entre textos e ampliando seus horizontes de leitura.
Porém devemos estar cientes que ao trabalhar com o método recepcional, ao realizar uma leitura é imprescindível o ponto de vista do leitor, sendo que as lacunas do texto são preenchidas com base nas experiências linguísticas e sociais de cada um.
A obra literária é uma estrutura lingüístico-imaginária, constituída por pontos de indeterminação e de esquemas de impressões sensoriais, que - no ato da criação ou leitura - serão preenchidos e atualizados, transformando o trabalho artístico do criador em objeto estético do leitor. Estamos diante, portanto, de um ato de comunicação entre escritor-obra-leitor. (CAMPOS 2006, p.42)
Tendo em vista que o método é um caminho que busca o prazer em ler, onde o leitor aprimora seus conceitos aos textos literários. As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, diz que: 
A obra literária não está somente ancorada, fixa ao contexto original de sua produção. A relação dialógica entre leitor, texto e autor de diferentes épocas, acaba por atualizá-la, o que revela seu dinamismo, sua constante transformação.(2008;39)
Deve-se explorar cada vez mais a relação de texto/leitor, para que seja revelado o dinamismo e a transformação, onde retoma a contribuição que o método recepcional tem dado ao ensino literário na escola ao colocar o leitor no centro das atenções.
O MÉTODO RECEPCIONAL
A estética da recepção é a teoria da literatura formulada por Hans Robert Jauss e  seus colegas da Escola de Constança, no final da década de 60 que retoma a problemática da história da literatura. Jauss traz consigo dentro de sua teoria, a história da literatura por um ângulo diferente ao materialismo dialético (um novo modelo social, capitalismo, modificando assim as relações sociais existentes), a discussão por não compartilhar com a orientação da escola idealista ou da escola positivista para a construção de uma história literária, uma vez que ambas não realizam seus estudos embasados na convergência entre o aspecto histórico e o estético.
A análise de Jauss leva-o a denunciar a fossilização da historia da literatura, cuja a metodologia estava presa a padrões do idealismo ou do positivismo do século XIX. Somente pela superação dessas orientações seria possível promover uma nova teoria da literatura fundada no ‘inesgotável reconhecimento da historicidade’ (ZILBERMAN, 1989, p. 09).
As ideias de Jauss , por meio da Estética da Recepção, contribuíram para a reformulação de questões literárias de caráter estético e historiográfico, atribuindo ao leitor a reação individual em cada texto, na qual o valor estético de cada um é medido pela recepção inicial do leitor em que se faz a comparação entre textos e contextos sociais de cada um percebendo a singularidade de cada momento da obra, portanto adquirindo novos parâmetros. Enquanto entidade coletiva, a tarefa de estabelecer os parâmetros de recepção de cada época, compreende o conjunto social da época em foi escrito, com a época que está sendo lido, sendo que tais teorias fazem emergir a figura de leitor como parte participativa. Essas teorias traz um horizonte de expectativas ao leitor, despertando nele o interesse de não se ater somente em um texto, aguça a pesquisa de querer saber em quais condições determinado texto foi escrito, faz com que o leitor venha fazer uma análise social em que se encontra no momento relacionado passado e presente.
Jauss acredita que o valor decorre da percepção estética que a obra é capaz de suscitar [...] Situa o valor num elemento móvel: a distância estética, equivalente ao intervalo entre a obra e o horizonte de expectativas do público, que pode ser maior ou menor, mudar com o tempo, desaparecer (ZILBERMAN, 1989, p35).
 A inexistência desse nexo resulta, portanto, em pesquisas que se preocupam apenas com as obras e seus autores, deixando à margem o terceiro elemento do circuito literário, os leitores. Contudo, o teórico contrapõe-se às correntes teóricas marxistas por apresentar a literatura apenas como reflexo dos fenômenos sociais, impossibilitando a definição de categorias estéticas. 
Através da teoria do estudioso alemão Hans Robert Jauss, temos como base o Método Recepcional, que traz um horizonte de expectativas, expectativas essas que são de aguçar o interesse do aluno a não se ater somente em um texto. Tendo como base esse objetivo, o professor deve levar para suas aulas outros textos que tratem basicamente do mesmo assunto em distintos gêneros textuais. Atribuindo assim, um papel ativo no processo da leitura, proporcionando, portanto, debate, reflexão e ampliação dos horizontes de expectativas.
A literatura concede a provocação do leitor, na medida em que o conduza à busca de novos sentidos, levando-o a uma visão mais ampla e crítica, tanto da obra literária, como de sua própria identidade valorizando a experiência humana no mundo, exaltando a comunicação como compreensão do sentido. Para se chegar a essa conclusão divide-se a estética da recepção em sete partes, sendo as quatro primeiras ligadas totalmente à metodologia do desenvolvimento da leitura.
Regina Zilberman faz um breve resumo em sua obra sobre essas divisões (1989, p.33):
Relação dialógica entre leitor e o texto, sendo esta relação primordial dentro da história da literatura.
Avalia a experiência literária do leitor, sua consulta é dirigida às próprias obras; a obra predetermina a recepção, oferecendo orientações a seu destinatário; cada leitor pode reagir individualmente a um texto, mas a recepção é um fato social (este é o horizonte que marca os limites dentro dos quais uma obra é compreendida em seu tempo).
Mostra a expectativa de horizonte do leitor. Jauss acredita que o valor decorre da percepção estética que a obra é capaz de gerar.
Examina a relação do texto com época com foi escrito (hermenêutica), significa descobrir como o leitor da época pode percebê-la e compreendê-la, recuperando o processo de comunicação que se instalou. Seu programa de ação investiga a literatura em dois aspectos: diacrônico (recepção das obras literárias ao longo do tempo), sincrônico (mostra o sistema de relações da literatura numa dada época e a sucessão desses sistemas) e também o relacionamento entre a literatura e a vida prática.
A ação da leitura transpõe o período em que o texto foi escrito, para isso é necessário haver na obra uma “sucessão histórica” levando em conta a experiência literária que levou o leitor a realizar esta leitura e quais são os efeitos causados no leitor.
A ruptura do horizonte de expectativas ocorre nessa fase, na qual se analisa simultaneamente capacidade do leitor de articular o texto acionando o processo da evolução literária, ao fazer essa articulação o leitor atinge e rompe as expectativas do autor, segundo Jauss.
Examina as relações entre a literatura e a sociedade, essa relação acontece para avaliar a compreensão do conhecimento de mundo que o leitor possui e como o conhecimento adquirido pelo leitor vem a refletir no comportamento social do leitor, para Jauss a arte não existe para confirmar o conhecido e sim para contrariar as expectativas, contudo a literatura pode levar o leitor a uma nova percepção de seu universo.
A hermenêutica literária citada por Jauss, a qual apresenta três etapas: a compreensão, a interpretação e a aplicação. A compreensão é o ponto de partida do processo da leitura, a fase seguinte é a leitura retrospectiva (quando se dá a interpretação). O terceiro momento é o da leitura histórica, que recupera a recepção de que a obra foi alvo ao longo do tempo (etapa da aplicação). Ou segundo as palavras do próprio Jauss: 
Disso resulta a dupla tarefa da hermenêutica literária: diferenciar metodicamente os dois modos de recepção. [...]. De um lado aclarar o processo atual em que se concretizam o efeito e o significado do texto para o leitor contemporâneo e, de outro reconstruir o processo histórico pelo qual o texto é sempre recebido e interpretado diferentemente, por leitores de tempos diversos (1989, p.70).
Entretanto, o método recepcional para o ensino da prosa literária baseia-se na atitude participativa do aluno em contato com os diferentes textos. Objetivando às seguintes metodologias: Efetuar leituras compreensivas e críticas; Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem; questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural; transformar os próprios horizontes de expectativa bem como os do professor, da escola, da comunidade familiar e social. 
Contudo, o ensino da literatura dentro do método recepcional, traz como base: obra/autor/leitor, onde os leitores tem um papel ativo, que é interagindo entre textos e ampliando seus horizontes de leitura.
Porém devemos estar cientes que ao trabalhar com o método recepcional, ao realizar uma leitura é imprescindível o ponto de vista do leitor, sendo que as lacunas do texto são preenchidas com base nas experiências linguísticas e sociais de cada um.
A obra literária é uma estrutura linguístico-imaginária, constituída por pontos de indeterminação e de esquemas de impressões sensoriais, que - no ato da criação ou leitura - serão preenchidos e atualizados, transformando o trabalho artístico do criador em objeto estético do leitor. Estamos diante, portanto, de um ato de comunicação entre escritor-obra-leitor. (CAMPOS 2006, p.42)
 Tendo em vista que o método é um caminho que busca o prazer em ler, onde o leitor aprimora seus conceitos aos textos literários. As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, diz que: 
A obra literária não está somente ancorada, fixa ao contexto original de sua produção. A relação dialógica entre leitor, texto e autor de diferentes épocas, acaba por atualizá-la, o que revela seu dinamismo, sua constante transformação (PCNS, 2008, p.39)
Literatura Afro- brasileira
É no cânone brasileiro, escrito na maioria das vezes por homens brancos, encontramos valores instituído por grupos detentores do poder, com um discurso totalmente marginalizado no âmbito da literatura brasileira, criando uma visão ideológica e equivocada do negro, sendo que no inicio do século XIX, o negro é visto dentro da literatura como um objeto de âmbito inferior, um estereótipo da estética branca.
“No século XIX, presentifica-se a visão estereotipada, que vai prevalecer ate a atualidade com algumas variações.” (Apud. David Brookashm).
Contudo, o Brasil não será somente dominado por Portugal, por motivos históricos vinda de outros povos europeus - a cultura europeia é implantada na mente da coletividade tupiniquim. 
Observa-se, porém, que a ocupação do território brasileiro não ocorreu tão somente por europeus. Os africanos também vieram para a Ilha de Vera Cruz, porém pela porta dos fundos. Chegaram ao Brasil como seres inferiores, destinados a trabalhar, a “ser” mão-de-obra para os seus Senhores. Entretanto o negro para os escritores brasileiros do séculos XIX é apenas um grupo étnico culturalmente singularizado, tendo como principal defeito sua própria cor, sendo associado dentro de um contexto social a: Maldade (negro) X bondade( branco) Feiura (negro) X beleza ( branco).
A descrição dada pelos autores brasileiros aos negros até então eram de vitimas de uma sociedade escravocrata, idealizam o homem branco como sendo bom para com o negro, o qual lhe é dada a oportunidade e educação para um dia deixarem de serem escravos.
O negro além de ser descrito como uma “ pessoa feliz” passa também a possuir características de uma cultura europeia seus personagem são colocados como homens branco, com os mesmos direitos, como é o caso de Isaura em a “ Escrava Isaura “ de Bernardo Guimarães e o “Mulato” de Aluízio de Azevedo, ( filhos de escrava com seus senhores) esses personagens são utilizados como pretextos para
 as causas abolicionistas dando a entender que se o negro possuir características brancas ele pode receber uma boa educação e deixar um dia de ser escravo. 
A sociedade tem assim por obrigação de marginalizar aqueles que ela julga ser diferente. A cor da pele é uma das diferenças para esse julgamento. Basicamente a segregação ocorre a partir do seguinte conceito: a cor da pele humana varia entre quase preto (devido à alta concentração do pigmento escuro melanina) para quase sem cor. Sendo assim, a cor da pele é determinada pela quantidade e tipo de melanina, o pigmento que dá cor à pele. A variação da cor da pele acontece em sua maior parte devido à genética. Normalmente descendentes que possuam ancestrais provenientes de regiões tropicais e maiores altitudes, são mais expostos aos raios ultravioletas e possuem pele de cores mais escuras do que pessoas cujos ancestrais provém de regiões subtropicais. E por possuírem essas características genéticas, são “pecadores” e inferiores, não merecendo respeito, pois, não pensam, e devem ser tratados apenas como objetos pela raça branca superior. 
A presença do negro na literatura brasileira não escapa ao tratamento marginalizador que, desde as instâncias marca a etnia no processo de construção da nossa sociedade. ( Domício Proença Filho)
E assim, a partir dessa pequena diferença - quantidade de melanina- e por imposição social, os afro-descendentes vão sendo excluídos, mesmo tendo sido eles a força motriz para a construção do país. Deste modo, o preconceito étnico é imposto à sociedade. E essa determinação também se faz presente na Literatura Brasileira. Observa-se o apagamento do negro como sujeito, não existe inicialmente um corpus literário afro-descente. É o preconceito “puro”, frio e calculista, regendo a escrita literária. 
Hattnher( 2009: p 78 ) discorre sobre tal fatos, e utiliza-se dos
conceitos de outro estudioso, Moura para melhor exemplificar a exclusão de tal literatura: 
	Por que nós esmagamos e não consideramos a literatura negra e o seu código de linguagem como uma manifestação válida, já que estamos em um país pluricultural? Por que nós achamos que o monopólio do discurso cultural é uma forma de controle que deve ser exercido pelas elites as quais se autodenominam brancas, e, com isto, a palavra do negro, da forma como ele sabe e quer se expressar (...) não é considerada literatura? (Moura 1994: 186) 
Sim, o Brasil é um país pluricultural, porém ainda, mesmo que de uma forma velada, discrimina os afrodescendentes. E onde fica a literatura deste povo? Ela não é vista, ou melhor, aceita, dentro do compêndio Literatura Brasileira. Assim o estudioso Duarte (2008: p.1) menciona que: 
No alvorecer do século XXI, a literatura afro-brasileira passa por um momento extremamente rico em realizações e descobertas, que propiciam a ampliação de seu corpus, tanto na prosa quanto na poesia, paralelamente ao debate em prol de sua consolidação acadêmica enquanto campo específico de produção literária – distinto, porém em permanente diálogo com a literatura brasileira tout court. Enquanto muitos na academia ainda indagam se a literatura afro-brasileira realmente existe – e assinalemos aqui até mesmo a perversidade de uma pergunta que às vezes não deseja ouvir resposta –, a cada dia a pesquisa nos aponta para o vigor dessa escrita: ela tanto é contemporânea, quanto se estende a Domingos Caldas Barbosa, em pleno século XVIII; (...). Enfim, essa literatura não só existe como se faz presente nos tempos e espaços históricos de nossa constituição enquanto povo; não só existe como é múltipla e diversa.
De imediato, impõe-se indagar: o que torna a escrita afro-brasileira distinta do conjunto das letras nacionais?
A partir do que analisa Duarte verifica-se a necessidade de incluir a literatura afrodescendente no contexto literário nacional, porem a escrita negra possui características diferentes do estereótipo europeu, criando portanto a necessidade de criação e teorização de um suplemento da literatura brasileira, que será denominada Literatura Afro- Brasileira. Por essa
 diferenças é considerada literatura brasileira, mas é distinta dela, orquestrando assim um discurso hegemônico. 
E quais são essas diferenças da escrita? Retomando aos conceitos de Duarte, o estudioso menciona a existência de cinco elementos encontrados na literatura afrodescendente: 1º A temática – o negro é o tema principal da literatura negra; 2º A Autoria – uma escrita proveniente de autor afro-brasileiro; 3º O ponto de vista – o negro afirma e se quer negro; 4º A linguagem – fundado na constituição de uma diversidade específica, marcada pela expressão de ritmos e significados novos; 5º Um público – leitor afrodescendente como fator de intencionalidade próprio. 
Esses cinco elementos devem estar contidos na escrita da obra para ser considerado literatura Afro-Brasileira, a utilização de um ou mais elementos isolados não pode ser visto como participante dessa literatura. Como exemplo marcante, observa-se a escrita do poema Navio Negreiro de Castro Alves, apesar de relatar a vinda dos escravos para o Brasil, o autor não compartilha da experiência negra, só observa o sofrimento, e tem piedade de tal povo, contudo ele não é negro, não possui um ponto de vista negro, não compartilha da história do povo africano, sendo assim é Literatura Brasileira, mas não pode ser denominada Literatura Afro-Brasileira. 
Em sentido restrito, considera-se negra uma literatura feita por negros ou por descendentes assumidos de negros e, como tal, reveladora de visões de mundo, de ideologias e de modos de realização que, por força de condições atávicas, sociais, e históricas condicionadoras, caracteriza-se por uma certa especificidade, ligada a um intuito claro de singularidade cultural.(Domício Proença Filho,)
A partir desse conceito, o que se observa, até então nas obras nacionais, é que o negro era somente objeto do cânone, nunca o herói, e a discriminação não para por ai, autores negros ou mestiços sofreram o “embranquecimento” como Machado de Assis, ou para se tornarem reconhecidos fizeram o uso do discurso europeu, do discurso do branco. Como Cruz e Souza. 
Contudo essa visão vem se desmistificando, e reformulando o conceito brasileiro sobre tal literatura. Esse fato é comentado Silva (2010: p 22):
Grandes cânones de nossa literatura que foram custosamente legitimados como negros, hoje são recolocados literariamente como percussores da construção da identidade negra em nosso país. Apesar de seguirem o padrão homogêneo exigido em suas épocas em busca de uma aceitação que todos eram obrigados a passar, fossem eles brancos ou não, de forma elíptica, porém exemplar, pode-se validar a colaboração destes escritores para as novas tendências poéticas, especialmente para a afro-brasileira. No poema “Caveira” de Cruz e Souza em contraponto aos dizeres de Bernardo de Guimarães em Escrava Isaura de que “pele branca implicava também em ter uma alma branca/pura” descreve que nosso fenótipo e os estereótipos que a ele são conferidos nada valem, pois ao final o poeta enfatiza que somos todos “caveiras, caveiras, caveiras...”, ou nas denúncias da discriminação social que rodeava Lima Barreto (escritor que ficara esquecido por décadas), que de forma exemplar escreve o Romance Clara dos Anjos; ou ainda as críticas nas crônicas de Machado de Assis, na obra “Bons Dias” e “Boas Noites” à abolição absurda sugerida aos negros da época e nos contos como em “O caso da vara” e “Pai contra mãe” no quais relata o descaso em relação aos
escravos.
A partir da luta de um povo para ser respeitado como sujeito, como enunciador de sua história, como ser pensante igual à raça branca, observa-se uma busca pela inserção do conteúdo Afro-Brasileiro na realidade literária nacional, expondo realmente uma visão critica a sociedade na qual vivemos.
“Assim, paradoxalmente, a literatura negra passará a ocupar um lugar mais importante no contexto da literatura e da sociedade brasileira quando deixar de exprimir através de retórica grandiloquente e de formas tão categórica as violência e os constantes ataques aos direitos humanos de que ainda são vitimas os negros brasileiros.”(Bernd, Zilá, 121)
Perante essa dicotomia Literatura Brasileira versus Literatura Afro-Brasileira, Duarte (2008: p.11) conclui que:
Assim, temos uma produção que está dentro da literatura brasileira, porque se utiliza da mesma língua praticamente, das mesmas formas, gêneros, processos e procedimentos de expressão. Mas que está fora porque, entre outros fatores não se enquadra na "missão" romântica, tão bem detectada por Antônio Candido, de instituir o advento do espírito nacional. Uma literatura empenhada, sim, mas num projeto suplementar (no sentido derridiano) ao da literatura brasileira canônica: o de edificar, no âmbito da cultura letrada produzida pelos afrodescendentes, uma escritura que seja não apenas a sua expressão enquanto sujeitos de cultura e de arte, mas que aponte o etnocentrismo que os exclui do mundo das letras e da própria civilização. Daí seu caráter muitas vezes marginal, porque fundado na diferença que questiona e abala a trajetória progressiva e linear da historiografia literária canônica.
Portanto, a Literatura Afro-Brasileira existe, e deve ser estudada, e acima de tudo respeitada, afinal são aproximadamente 120 autores que escrevem dessa maneira, buscando sua história, sua cultura e porque não a sua identidade negra. É necessário que essa escrita não seja classificada na literatura geral somente como um compêndio de temas folclóricos, exóticos, ou como estereótipo, pois ela vai além, é a história de um povo, é a realidade de uma sociedade marginalizada mas é também Literatura genuinamente brasileira, escrita em “ português brasileiro” porem esse reconhecimento deve fazer parte de um subconjunto dentro de literatura brasileira, devido principalmente às diferenças ideológicas históricas e culturais de um povo que a não ser na cor de pele é igual a qualquer outra etnia terrestre.
A relação do homem negro com a sociedade brasileira recém-descoberta começa a ser exposta aos educandos já como um ser marginalizado, sem cultura, submissos a trabalhar como escravos para o europeu durante o período de colonização.
Trabalhar essa ideologia de raça logo nas séries iniciais é um pouco custoso, pois fazer uma criança entender as diferenças de raças, costumes e de um trabalho escravo torna-se complicado, principalmente quando se segue a risca o material didático e programático.
Diante da dessa dificuldade de compreensão dos educandos observa-se a necessidade de trabalhar em paralelo o conteúdo de história e literatura infantil, é através da literatura que podemos mostrar a beleza, cultura, religião negra existentes no Brasil e como somos influenciados por ela e também de trabalhar de maneira bem abrangente o racismo e o preconceito.
A autora Ana Maria Machado em seu livro “ Menina Bonita o Laço de fita”, trabalha justamente esta temática e utiliza-se de seus próprios filho como exemplo, onde os dois irmãos mais velhos brincam com irmã caçula por ela ser mais branca do que eles ao nascer.
A personagem principal do texto não se incomoda em ser negra, a autora mostra uma criança alegre, carismática, extrovertida que valoriza alta estima de uma pessoa negra, ela diverte-se ao enganar um coelhinho branquinho com a neve que quer a qualquer custo ficar com os pelos da cor da pele da menina negra, no decorrer da história o coelhinho se dá conta que não adianta tomar café, comer jabuticaba, pintar-se com tinta preta que jamais conseguirá tem os traços tão marcantes daquela garotinha negra que ele tanto idolatra. Ana Maria consegue de forma criativa evidenciar a beleza negra deixando de lado a ditatura da “brancura” exaltada pelos contos de fadas e pela mídia atual, ela coloca o respeito acima de tudo, que cada um tem sua beleza com a sua cor de olhos e o seu estilo de cabelo.
Em “oposição ao livro de Ana Maria Machado o autor Júlio Emílio, escreve” “Felicidade não tem cor”, sua narrativa mostra justamente, que o racismo que ocorre em nossas salas de aula muita das vezes sem que os educadores percebem. A narradora escolhida por Júlio é Maria Mariô uma boneca de pano que é abandonada pela maioria dos alunos no momento da brincadeira no fundo da caixa, por não ser uma “barbie”, recebe atenção de apenas um aluno, Rafael, mais conhecido por Fael um aluno negro que sofre com as brincadeiras de mal gosto de seus amigos de sala por ser negro é com ela que Fael desabafa e conta a sua vontade de ser branco, juntos saem em uma missão encontrar o Michael Jackson e pedir a receita da branqura. Um de seus destinos é na rádio onde é fã de um dos locutores Cid Bandalheira e para sua surpresa seu grande ídolo vive em uma cadeira de rodas, Cid tira da cabeça de Fael de procurar a receita da brancura e por meio de uma longa conversa mostra para ele que não precisar ser branco para ser feliz, que cada um deve se aceitado e respeitado como é.
O método recepcional nos permite trabalhar justamente essa oposição de valores entre os textos, ambos abordam os negros, porém de distintas maneiras: um realça a beleza e a liberdade e outro a fuga e a incompreensão de sua etnia. Esse método faz com que aconteça um trabalho paralelo com as aulas de história, os textos literários ao serem trabalhados multidisciplinarmente cria-se momentos de indagações aos educandos: Por que um personagem se aceita e outro não? Um é idolatrado e o outro é caçoado? O porque de tudo isso?
Ao educador, cabe responder todas essas indagações e exemplificar da melhor maneira possível toda da trajetória do negro dentro de uma sociedade dominada por homens brancos e preconceituosos e a evolução dos trezentos anos de escravidão até aos nossos dias.
Considerações Finais
O trabalho realizado através de multidiciplinariedade , é de grande valia no ensino e no incentivo do aprendizado, pois aguça o interesse dos alunos a buscar novos conhecimentos em diversas disciplinas na qual cada uma mostra um contexto histórico social distinto.
 O trabalho apresentado aos alunos nesse processo de ensino aprendizagem, traz para o contexto da sala de aula diversas opniões distintas relevando o passado e o presente. Os temas abordados despertam a crítica dos alunos em relação ao contexto historico social em se vive, muitos podem se mostrar assutados com relatos á leitura decorrida em sala, na qua é abordada toda a trajetória negra no Brasil.
 Considerando as delimitações deste trabalho no tratamento de um assunto tão abrangente e inesgotável fica evidente que, por meio de uma sequência didática, o estudo dos gêneros literários e muito das vezes tão atuais em nosso cotidiano, potencializa o processo do ensino na literatura, na leitura, na compreensão e na conscientização dos atos não pensados podem gerar na vida de um ser humano ( beleza estereotipada X beleza real) deixando nossos educandos cada vez mais auto- críticos dentro do contexto na se vivem.
O trabalho entre textos mostra de forma distinta as características de uma literatura afro especifica, pois ambos os autores possuem descendência negra isto é são descendente de escravos e com isso pode realmente relatar o que é sofrer com o preconceito, Ana Maria faz das brincadeiras dos filhos um ensinamento no qual todos devem se autovalorizar, Júlio sofreu literalmente na pele o preconceito, ao ler sobre da onde surgiu a ideia de escrever “Felicidade não tem cor”, ele relata o racismo sofrido durante a sua infância e como superou tudo isso.
Trabalhar sobre
o racismo desenvolve uma metodologia de conscientização e de descobertas daquilo que acontece em sala de aula, um simples gesto ou uma simples palavra pode causar danos no desenvolvimento psicopedagógico de uma criança.
Referências Bibliográficas
http://portalrosabeloto.sites.uol.com.br/apostilas/prosa_literaria.htm. (11 de 07 de 2017). Acesso em 11 de 07 de 2017, disponível em uol: http://portalrosabeloto.sites.uol.com.br/apostilas/prosa_literaria.htm
http://portalrosabeloto.sites.uol.com.br/apostilas/prosa_literaria.htm. (s.d.). Fonte: uol.
Nicola, J. d. (1998). Literatura Brasileira:das origens aos nossos dias. São Paulo: scipione.
Zappone, M. H. (2003). Teoria Literária:Abordagens Históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Eduem.
Zulim, L. F. (2011). Literatura no ensino fundamental da teoria as práticas em sala de aula. Londrina: Amplexo.
 CAMPOS, A. F. A formação do leitor através do método recepcional. In: Cadernos de Ensino Pesquisa da FAPA - n. 2 - 2º Sem, Porto Alegre, 2006. Disponível em: www.fapa.com.br/cadernosfapa
Acesso em: 09/09/2017 
ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.
BERND, Zilá. Literatura e identidade nacional. UFRGS, Segunda edição :2003
DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura Afro-Brasileira: um conceito em construção. Encontrado em: www.letras.ufmg.br/literafro Acesso em: 15/09/2017
MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. 7°edição.São Paulo. Ática, 2005
 BRAZ, JULIO EMILIO. Felicidade não tem cor. 2 ° edição, São Paulo. Editora Moderna, 2002
PROENÇA, Domício Filho: A trajetória do negro na Literatura Brasileira. Encontrado em: http://www.capoeiravadiacao.org/index.php/biblioteca-virtual/253-a-trajetoria-do-negro-na-literatura-brasileira-domicio-proenca-filho Acesso em: 27/10/2012 , 28/10/2012, 30/12/2012

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