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“O pensamento de Nietzschiano pode ser usado, atualmente, como uma ferramenta para pensar a educação?” Introdução Educação é um meio a qual a humanidade descobriu para comunicar suas verdades às gerações futuras, suas concepções científicas que estão simbolizadas em conhecimentos e também, suas perspectivas morais, valorativas. Precisamente esses componentes, são os principais recursos e objetos da briga da espécie para afirmar sua vontade de poder. E é através deles que a educação promove a inserção dos indivíduos na civilização. Com Nietzsche temos início à desconstrução pela crítica à moralidade e ao conhecimento dos nossos enraizados costumes mentais e hipóteses metafísicas. Ele põe em suspeita a tradição e a educação que pretendam ter universalidade ética e levar ao aperfeiçoamento moral. Assim, é questionada a possibilidade de construção de um sujeito autônomo no molde kantiano. Nietzsche desmascara conceitos pedagógicos originários do contexto do idealismo alemão, tais como os de humanidade, autonomia, julgamento, razão, autenticidade como autotransparência e unidade de entendimento e de ação. Queremos com esse trabalho mostrar como o pensamento nietzschiano pode servir como ferramenta de apoio ao profissional da área de educação. Educação através do Pensamento Nietzschiano Nietzsche observou dificuldades que, apesar das tentativas de alguns educadores bem-intencionados, ainda não foram resolvidos. Uma delas – e talvez a mais grave – é o ensino da língua materna, até hoje uma grande dificuldade a ser superada. Gradativamente, abandona-se a formação humanista, em benefício de uma educação que busca suprir as necessidades do parque industrial. Este fato estimula as pessoas a um rápido treinamento que as tornem capazes de trabalhar na "indústria de interesse público" e a auxiliar como técnicos na maquinaria do Estado. Uma formação humanista seria um esplendor que os faria recuar do mercado de trabalho. Nietzsche reexaminou as questões de educação através das necessidades essenciais, e não às do mercado de trabalho, desenvolvido para saciar as condições do Estado e da burguesia mercantil. Admitiu a vida como ponto essencial para todos os princípios da educação e, desta maneira, aniquilou as afirmações que sustentavam o sistema educacional de sua época. O pensamento de Nietzsche é também para a educação uma provocação, por lançar suspeita nos fundamentos pedagógicos e um alerta, já que os sistemas de idéias não são neutros, são expressão de vontade de poder. Por fim, abre espaço para pluralidade e aceitação das diferenças. Não há aluno ideal, nem todos se enquadram no modelo escolar moderno. Por isso temos que trabalhar com os alunos reais, aceitando as diferenças, o que abre espaço na escola para alunos que antes eram excluídos do processo educativo. Incluir sem negar as diferenças para que cada um possa tornar-se a si mesmo, é o desafio. Modelos de Vida: Os Mestres Em um primeiro momento, parece um pouco estranho ouvir Nietzsche aconselhar aos que querem se educar que procurem um mestre para imitar. Vale ressaltar que Nietzsche critica o "filisteu da cultura" exatamente pelo fato de ser um imitador, um espectador da vida e do pensamento alheio, e não o autor de sua vida e de seus pensamentos. Para evitar mal-entendidos, é preciso compreender a que tipo de imitação Nietzsche se refere, e como se aproximar de um modelo que ao mesmo tempo eduque e eleve. Nietzsche comunica o perigo que corre todo imitador. A dignidade de um pensador ou artista, a sua superioridade sobre todos os outros homens podem fazer com que os que queiram imitá-los fiquem de fora da comunidade dos ativos. Como conseqüência, a imagem do mestre pode produzir uma separação na alma e na personalidade do indivíduo, de tal forma que ele comece a viver em dupla direção, ou seja, em contradição consigo próprio e voltado para quem deseja imitar. Este fato tragicamente lhe retirará todo o poder de agir, e seu pensamento não poderá ser outro: "Não poderei fazer melhor do que ele; portanto, permanecerei não fazendo nada". Assim, novamente o indivíduo se deixa imobilizar: "Se tudo já está feito, é melhor cruzar os braços e esperar o fim da história". A imitação a que Nietzsche se refere não é a imitação do "filisteu da cultura", nem a imitação a que pode sucumbir um jovem bem- intencionado. A imitação, para ele, é ativa, deliberada, construtiva, e permite a reconstrução do modelo, a superação de si mesmo e a anulação do efeito paralisante de sua época. Como bem escreve Lacoue Labarthe, em seu livro A imitação dos modernos: "Assim, a luta de Nietzsche contra a imitação e a cultura histórica consiste, no essencial, numa conversão da mimesis... Converter a mimesis é torná-la viril. É fazer com que ela deixe de tomar a forma de submissão para tornar-se realmente criadora. E, se na imitação passiva ocorre um mau relacionamento com a história, é esse mesmo relacionamento que é preciso converter e transformar em relacionamento criador". Em suma, Nietzsche propõe uma imitação criadora. Não se trata de repetir passivamente o mestre, mas de encontrar o que tornou possível sua criação. É a imitação da "história monumental", isto é, do que é exemplar e digno de ser imitado, e deve visar "a superar o mestre". Imitar o modelo quer dizer mimetizar sua força criadora e transformadora. O exemplo é um estímulo para a ação e para uma nova configuração. Conclusão Usar, como exemplo, Nietzsche significa educar-se incessantemente; adquirir uma habilidade avaliadora pessoal e uma capacidade de pensar por si; aprender a analisar, fazendo com que o olho comporte-se na tranquilidade e na paciência; dominar o "instinto do saber a qualquer preço", utilizando este princípio seletivo: só aprender aquilo que puder viver e abominar tudo aquilo que instrui sem aumentar ou estimular a atividade; manter uma postura artística diante da existência, trabalhando como artista a obra cotidiana; "dar à vida o valor de um instrumento e de um meio de conhecimento", procedendo de modo que os falsos caminhos, os erros, as ilusões, as paixões, as esperanças possam conduzir a um único objetivo – a educação de si próprio. Em suma, tomar Nietzsche como exemplo não é pensar como ele, mas sim pensar com ele: "Nietzsche" não é um sistema, nem mais um pensador com um programa de educação. Nietzsche é uma ferramenta de trabalho que não pode ser substituída. Bibliografia: Pérolas de Nietzsche, Cleberson Eduardo da Costa. Assim falava Zaratustra, Friedrich Nietzsche. A imitação dos Modernos, Philipe Laccoue Labarthe. Video: [Filósofos & Educação] – Nietzsche (vol.3) http://www.youtube.com/watch?v=r3dimeHovHg
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