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143 PROJETO E IMPLANTAÇÃO DA ÁREA DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DE BAUXITA #3 DA ALUMAR S. B. M. Pedrosa ALUMAR RESUMO: O Consórcio de Alumínio do Maranhão – ALUMAR – complexo industrial localizado em São Luís, Maranhão, produz atualmente 1.240.000 t/ano de alumina e 365.000 t/ano de alumínio. No processo de refinação da bauxita para a obtenção da alumina, denominado processo Bayer, é utilizada soda cáustica, a qual contamina os resíduos gerados pelo processo. Os resíduos da bauxita, contaminados com soda cáustica, são dispostos por via úmida em áreas impermeabilizadas e dotadas de sistemas de drenagem de fundo e de recirculação do licor sobrenadante, mantendo a fração líquida em circuito fechado. O presente trabalho apresenta os critérios utilizados para a concepção e construção das áreas de contenção destes resíduos, especificamente relacionados com a Área #3, construída em 1996. Faz ainda, um histórico da evolução do projeto, resultante da experiência adquirida com a operação das duas áreas anteriores e da própria evolução tecnológica, em especial da indústria de geossintéticos. 1. INTRODUÇÃO O resíduo de bauxita gerado pela indústria de alumina, devido à sua alta alcalinidade e aos grandes volumes envolvidos, tem grande potencial de causar danos ao meio ambiente através da contaminação de mananciais de água superficial ou subterrânea. Tal risco de impactos ambientais negativos tornam imperativo o planejamento de longo prazo, passando pelas fases de estudos de minimização, tratamento, reciclagem e, eventualmente, disposição de material inerte. As técnicas utilizadas podem ser de mudança no processo, nos procedimentos operacionais, uso de produtos químicos substitutos ou uso de materiais ou matérias- primas de melhor qualidade. No caso da indústria de alumina, ainda não foi encontrada uma forma totalmente satisfatória de minimização ou reciclagem do resíduo de bauxita, aceitável sob os aspectos de processo, econômicos e ambientais. A bauxita utilizada pela ALUMAR em seu processo, originária da região de Trombetas, Pará, gera em média 0,6 t de resíduo para cada tonelada de alumina produzida, resultando em 0,6 m3 de resíduo a 64% de concentração de sólidos na disposição final. Assim, a ALUMAR gera um volume aproximado de 744.000m3/ano de resíduos de bauxita. Devido à solubilidade da soda cáustica em água, o resíduo de bauxita é um resíduo Classe II – resíduo não inerte – nos termos da CB-155 da ABNT. Desde o início da operação da fábrica em 1984, já foram construídas três áreas de disposição de resíduo de bauxita. A Área #1, com 2.400.000m3 de capacidade, ficou ativa de 1984 a 1990 e teve a sua superfície reabilitada com o plantio de vegetação arbórea em 1996. A Área #2, com 4.000.000m3 de capacidade foi utilizada de 1991 até 1997. A Área #3, 144 construída no período de abril de 1996 a janeiro de 1997, está atualmente em operação. As áreas de Disposição de Resíduos de Bauxita da Alumar utilizam a tecnologia de áreas impermeabilizadas e dotadas de um sistema de drenagem de fundo que, além de manter a fração líquida do resíduo em circuito fechado, oferece as seguintes vantagens: - a pressão hidrostática sobre o sistema de impermeabilização fica virtualmente eliminada, o que é um fator de proteção ambiental; - a drenagem na massa do resíduo, que ocorre em dois sentidos, contribui para aumentar a taxa de consolidação e por conseguinte a capacidade da Área; - há um maior aproveitamento da fração líquida do resíduo, que possui concentração de soda da ordem de 15 g/l; - permite monitorar o balanço hídrico do depósito e avaliar o potencial de perdas por percolação. Os principais fatores que influenciam o custo unitário de disposição do resíduo de bauxita são a disponibilidade de área, as condições topográficas e hidrogeológicas da área de implantação dos projetos, a disponibilidade de materiais terrosos e suas distâncias de transporte. 2. PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO Todas as atividades relacionadas com resíduo de bauxita são objeto de planejamento de longo prazo. Para tanto foi desenvolvido o “Plano Diretor para o Gerenciamento de Resíduo de Bauxita” no período de 1996 a 2022, ou seja, 25 anos. Esse plano, que é revisado periodicamente, aborda desde aspectos estritamente ambientais como recursos hídricos, geologia local, fauna e flora, até atividades de comunidades vizinhas, projetos tecnológicos com impacto na geração e disposição de resíduos e o monitoramento e controle dos impactos causados pelas atividades de construção e de operação das áreas de disposição de resíduos. O Figura 1 mostra a curva de geração futura de resíduos em função das projeções de produção, bem como a correspondente necessidade de Áreas de disposição e suas respectivas capacidades ao longo do tempo. Além do plano de 25 anos para o gerenciamento de resíduo de bauxita, o projeto da Área #3 está contemplado no plano diretor para construção de áreas de disposição de resíduo, elaborado em 1989, o qual planejou em detalhes a construção das áreas #2, #3 e da futura área #4, cobrindo um período de 20 anos de operação da refinaria. 0 10 20 30 40 50 60 70 1994 1999 2004 2009 2014 2019 2024 2029 2034 CRONOGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE NOVAS ÁREA DE DISPOSIÇÃO VOLUME ACUMULADO DE RESÍDUO @ 64% SÓLIDOSV O L U M E A C U M U L A D O x 1 06 m 3 A#2 A#3-1 A#3-2 A#4 A#5 A#6 A#7 A#8 A#9 ANO Figura 1- Projeção da geração de resíduos de bauxita e da construção de áreas para disposição. 145 30 30 30 40 30 40 40 40 50 50 50 50 40 50 40 40 40 30 40 50 50 40 40 30 40 Figura 2 – Posição relativa das Áreas de Resíduo de Bauxita existentes e futuras A localização das áreas de resíduo foi escolhida de forma a minimizar o impacto ambiental em relação as alterações da topografia local, proteger os recursos hídricos e facilitar a reabilitação da superfície do resíduo após a exaustão da capacidade das áreas. Na Figura 2 estão indicadas as posições relativas das áreas de disposição existentes e futuras. No plano diretor procurou-se equilibrar as áreas de disposição em termos de volumes de reservação o que resulta em tempos semelhantes de operação. Os parâmetros médios principais de projeto para áreas de disposição impermeabilizadas e drenadas, dentro das condições operacionais atuais e da atual tecnologia são os seguintes: Fator bauxita/alumina 2,12 t/t Fator resíduo/alumina 0,60 t/t Produção diária de resíduo seco 2.040 t Densidade do grão 3,33 t/m3 Teor de sólidos no bombeamento 8,5 % Densidade do licor 1,015 t/m3 3. PREMISSAS BÁSICAS DO PROJETO Os critérios do projeto da Área #3 foram baseados numa visão sistêmica do problema de disposição de resíduos tendo como bases principais: - sistema de contenção ou infra-estrutura da área, incluindo a terraplanagem dos diques, a drenagem superficial e a proteção dos taludes externos contra erosões; - sistema de impermeabilização incluindo a camada de solo de baixa permeabilidade e as geomembranas; - sistema de drenagem interna, ou de fundo, incluindo a camada de areia, a rede de tubulação de drenagem, as tubulações edutoras e o sistema de bombeamento de retorno para a superfície; - sistema de distribuição dos resíduos, constituído basicamente da tubulação de distribuição periférica, calhas e torres de distribuição internas; - sistema de recuperação de água, constituído basicamente do sistema de bombeamento de retorno da água de processo para a Refinaria; 146 - sistema de monitoramento, constituído dos poços de monitoramento do aqüífero, do sistema de monitoramento do comportamento da camada drenante através de piezômetros pneumáticos e do sistema de TV em circuito fechadopara vigilância da área. 3.1 Requisitos Legais e Corporativos O projeto da Área #3 de resíduos de bauxita foi desenvolvido de modo a atender sempre o mais restritivo dos requisitos legais vigentes, seja a nível municipal, estadual ou federal, bem como os padrões corporativos da ALCOA, adotado de forma mandatória por todas as unidades da companhia em operação no mundo. 3.2 Vida Útil Com relação à vida útil, o projeto da Área #3 foi concebido para uma capacidade total de 4.800.000 m3, correspondente a 6 anos de operação. 3.3 Critérios de Projeto 3.3.1 Estabilidade dos Taludes A inclinação máxima a ser adotada para os taludes internos dos diques de contenção deve ser de 2,5H:1V, e para os taludes externos deve ser definida satisfazendo a condição de um coeficiente de segurança mínimo de 1,5 para as condições mais severas de carregamento. 3.3.2 Lençol Freático Deve ser mantida uma distância mínima de 1,5m entre qualquer ponto do fundo da Área e o nível mais alto previsto do lençol freático. 3.3.3 “Freeboard” O “freeboard” mínimo a ser mantido, incluindo 0,5m como distância mínima entre a borda superior das geomembranas do sistema impermeabilização e a crista do dique, deve considerar a ação de ondas e precipitação com probabilidade de ocorrência de 1%, ou com período de retorno (T) de cem anos. 3.3.4 Crista dos Diques A largura mínima da crista dos diques deve ser de 5,0m, excluindo a largura necessária para a passagem das tubulações e leitos de cabos elétricos. A drenagem superficial das cristas deve ser direcionada para o lado interno. 3.3.5 Sistema de Impermeabilização A proteção contra vazamentos deve ser dada por um sistema duplo de impermeabilização, com uma barreira primária e uma secundária, com ou sem camada intermediária de alívio de pressão hidrostática. O sistema de impermeabilização deve ser no mínimo equivalente a uma camada de argila com 0,5m de espessura compactada mecanicamente, atingindo um coeficiente de permeabilidade menor ou igual a 10–9 m/s. 3.3.5.1 Barreira Primária Uma geomembrana com coeficiente de permeabilidade entre 0,5 x 10-12 m/s e 0,5 x 10- 15 m/s deve ser especificada em função de suas propriedades físicas, químicas, mecânicas e térmicas. Deve ser projetada uma proteção contra a radiação ultravioleta e contra danos mecânicos. Não são admitidas coberturas com solos em taludes com inclinações maiores do que 3H:1V. 3.3.5.2 Barreira Secundária Solos naturais ou geomembranas podem ser considerados para a barreira secundária. A espessura mínima para uma eventual camada de argila compactada deve ser de 0,40m. O uso de uma geomembrana implicar no uso também de uma camada drenante intermediária para alívio de eventuais pressões hidrostáticas. 3.3.6 Sistema de Drenagem de Fundo O sistema de drenagem interna deve ser dimensionado garantindo uma carga hidráulica reduzida sobre o sistema de impermeabilização. Uma carga hidraúlica máxima de 0,50m deve ser mantida para condições estabilizadas de fluxo, sem 147 necessidade de manutenção do sistema. A espessura da camada filtrante/drenante deve ser suficiente para permitir sua construção com equipamentos mecânicos pesados sem contudo causar danos ao sistema de impermeabilização subjacente. 3.3.7 Sistema de Distribuição de Resíduo Deve ser adotada uma distância máxima de 150m entre os pontos de lançamento de resíduo. 4. DESCRIÇÃO GERAL DO PROJETO 4.1 Infra-estrutura Entre o projeto da Área #1 e o projeto da Área #2 as principais mudanças foram com relação a cota do fundo e com relação ao balanceamento entre corte e aterro. Na Área #1 o fundo praticamente não foi escavado, tendo sido construído aproximadamente no nível do terreno natural. O material necessário para a construção dos diques foi obtido em áreas de empréstimo nos arredores. Na Área #2, construída em 1990 de acordo com o plano diretor desenvolvido para os 20 anos seguintes a 1989, a cota mínima obedeceu a um critério de distanciamento do lençol freático, permitindo a escavação do fundo e o conseqüente balanceamento entre os volumes de corte e aterro. O projeto da Área #3 não sofreu alterações significativas no que diz respeito a infra-estrutura, tendo sido escavado o fundo até a distância mínima de 1,5m para o nível máximo previsto do lençol freático, de acordo com o critério adotado. As principais características geométricas da Área #3, estão descritas no Quadro 1, considerando a área acabada, incluindo os vários revestimentos. A terraplanagem foi executada com o solo areno-siltoso local, envolvendo volumes de escavação de 1.135.000m3 e compactação de 983.000m3 de aterros em sua primeira etapa de construção, atingindo volumes da ordem de 1.600.000m3 e 1.250.000m3, respectivamente, em seu estágio final Os taludes internos e externos foram construídos na inclinação 2,5H:1V. Os taludes externos são dotados de bermas para drenagem superficial. O “freeboard” adotado foi de 1m para a cota da crista acabada e 0,50m para a altura de ancoragem da geomembrana do sistema de impermeabilização. A Figura 3 mostra uma seção típica do dique acabado da Área #3. 4.2 Impermeabilização Um total de 554.000m2 de geosintéticos, dos quais, 426.000m2 de geomembrana de PVC com 0,8mm de espessura, foi aplicado na construção da primeira etapa da Área #3. Duas combinações diferentes de materiais foram adotadas para o sistema de impermeabilização, uma para o fundo e outra para os taludes internos da Área. Quadro 1 – Principais características geométricas da Área #3 Dimensões médias a partir do eixo dos diques 700m x 500m Altura máxima de aterro 23,20m Altura mínima de aterro 11,90m Inclinação do fundo na direção SE-NW 0,5% Largura útil da crista 6,50m Número de rampas de acesso internas 2 Largura das rampas 5,00m Elevações da crista 51,50m Largura da berma dos taludes externos 5,00m Área do fundo 245.000m2 148 Figura 3 – Seção típica dos diques da Área #3 de Resíduos de Bauxita da Alumar. 4.2.1 Impermeabilização do Fundo Similarmente às Áreas #1 e #2 construídas anteriormente, foi adotada uma geomembrana de PVC como barreira primária e uma camada de argila compactada com 0,40m de espessura como barreira secundária para a impermeabilização do fundo. Um volume total de 105.000m3 de argila compactada foi utilizado na impermeabilização do fundo da Área #3. As características geotécnicas médias da argila utilizada, obtida em uma jazida localizada a 4,5 Km de distância, são as seguintes: Densidade aparente Máxima Seca: 1,66t/m3 Umidade Ótima: 18,2 % Permeabilidade média em amostras compactadas no campo: 4,5 x 10-9 m/s Percentagem passando na Peneira nº 200: 82,7 % Os métodos construtivos especificados para a camada de argila, além dos procedimentos já consagrados para a compactação de solos, previram um controle de qualidade rigoroso quanto a prevenção do surgimento de trincas de retração devido ao ressecamento superficial da argila que comprometeriam a função impermeabilizante da camada e a presença de pedriscos que afetariam a membrana de PVC. 4.2.2 Impermeabilização dos Taludes Internos O sistema de impermeabilização adotado no projeto da Área #3 foi modificado com relação aos projetos anteriores principalmente nos taludes internos, onde o sistema composto por uma geomembrana sobreposta a uma camada de argila compactada foi substituído por uma dupla camada de PVC de 0,8mm de espessura com uma camada intermediária de geocomposto drenante, conforme pode ser visto na Figura 4. O geocomposto drenante é formado por uma geomalha de Polietileno de Alta Densidade com geotextil não-tecido de Polipropileno aderido por fusão térmica aambas as faces. Figura 4 - Detalhe do Sistema de Impermeabi- lização dos Taludes Internos 149 Essa camada intermediária na impermeabilização dos taludes internos dos diques tem a função de aliviar pressões hidrostáticas que porventura se desenvolvam em decorrência de eventuais falhas na barreira primária. Um tubo dreno instalado ao longo do pé do talude interno, em toda a periferia da área do fundo (vide detalhe na Figura 5), coleta eventuais vazamentos captados pelo geocomposto drenante e direciona o fluxo para o sistema de bombeamento da drenagem de fundo, de onde o líquido é recirculado para a superfície. Figura 5 – Detalhe do Pé do Talude Interno Uma das maiores dificuldades de execução impostas por essa concepção foi a transição entre os dois sistemas diferentes adotados para o fundo e para os taludes internos. A solução foi a utilização de painéis pré-fabricados com uma membrana única de um lado e uma membrana dupla do outro. O sistema de impermeabilização com geomembranas como um todo foi projetado em módulos de forma a permitir a pré- fabricação de painéis e a conseqüente minimização de emendas de campo. As dimensões dos painéis são limitadas pela dificuldade de manuseio no transporte e na obra. 4.2.3 Proteção dos Taludes Internos Outra mudança significativa entre osprojetos das Áreas #1 e #2 e o projeto da Área #3 diz respeito à proteção da geomembrana da barreira de impermeabilização primária instalada nos taludes internos dos diques. No projeto da Área #3, esta geomembrana foi protegida contra a ação da radiação ultravioleta e contra eventuais danos mecânicos por uma camada de argamassa projetada com 0,03m de espessura média, conforme pode ser visto, também, na Figura 4. Nas Áreas #1 e #2, a impermeabilização dos taludes internos foi protegida pela camada de areia do dreno interno, que por sua vez foi coberta com uma camada de solo laterítico para a necessária proteção contra erosões. Estas camadas têm, cada uma, 0,50m de espessura. 4.3 Drenagem Interna O sistema de drenagem de fundo da Área #3 é composto por uma camada de areia com 0,60m de espessura aplicada sobre a membrana de PVC (vide Figura 5) e por uma rede de tubos geomecânicos ranhurados, também de PVC, instalados no interior da camada de areia, dispostos em forma de duas “espinhas de peixe”, conforme pode ser visto na Figura 6. Tubos de PVC ranhurados de 4” de diâmetro drenam o licor percolado e filtrado pela camada de areia. Uma tubulação de aço de 12” de diâmetro instalada sob o dique de contenção, para o qual convergem os dois coletores-tronco, também de 12”, porém de PVC, direciona o líquido drenado para a estação de bombeamento da drenagem de fundo, de onde é recirculado de volta para a superfície da Área. Em uma área de 12500 m2 foi instalado um sistema de drenagem experimental de fundo em que a camada de areia é substituída por geocomposto drenante semelhante ao utilizado nos taludes internos. O licor coletado nesta drenagem experimental é coletado e conduzido para a instalação de bombeamento por tubulação independente da camada drenante, permitindo assim uma avaliação de sua eficiência. Foi aplicado um volume total de 160.000m3 de areia na drenagem de fundo, transportada a uma distância média de 1,5 km. A permeabilidade média da areia aplicada é da ordem de 2,9 x 10-5 m/s. 150 Figura 6 – Vista em Planta da Área #3 com destaque para os Sistemas de Drenagem de Fundo e de Distribuição de Resíduos. Rigorosos procedimentos e controles de campo foram exercidos nas operações de lançamento da areia sobre a geomembrana de PVC com o objetivo de evitar a formação de rugas ou ocorrência de rasgos. A principal mudança implementada no projeto da Área #3 no que tange esse sistema foi no tanque de bombeamento do licor percolado e drenado pelo fundo. Nas Áreas #1 e #2, o tanque foi construído em concreto e é aberto para o ambiente em uma cota abaixo do fundo. Na Área #3, este tanque foi fabricado em aço e é mantido fechado, dispondo apenas de uma tubulação ( chaminé ) de equilíbrio até a crista dos diques de contenção, virtualmente eliminando os riscos de transbordos do licor para o ambiente em caso de eventuais falhas simultâneas nas bombas e nos dispositivos de bloqueio do fluxo. 4.4 Sistema de Distribuição de Resíduo O sistema de distribuição de resíduos da Área #3 manteve a mesma concepção básica das Áreas #1 e #2. A Figura 6 mostra a linha de 12” de diâmetro em volta da Área, as calhas, em número de 20, dispostas nos taludes internos, e as 5 torres centrais de distribuição de resíduo. A principal modificação em sua concepção foi com relação às fundações das torres centrais de distribuição de resíduo, cujas sapatas estão contidas pelo sistema de impermeabilização, não mais penetrando através da geomembrana como foram construídas anteriormente. 4.5 Sistema de Recuperação de Água O sistema de recuperação de água compõe- se de duas bombas centrífugas montadas sobre duas plataformas que sobem e descem o talude em função da variação do nível d’água. A capacidade de bombeamento do sistema é de 1.400m3/h de licor sobrenadante, com uma tubulação de 20” de diâmetro interligando as áreas de disposição de resíduo com a refinaria. A principal modificação neste sistema com relação à concepção anterior também diz respeito à sua fundação. As duas rampas de 151 concreto armado, por onde as duas plataformas com as bombas de sobrenadante sobem e descem o talude, são construídas diretamente sobre a impermeabilização, sem penetrar a geomembrana, evitando descontinuidades. 4.6 Sistema de Monitoramento Na construção da Área #3 foram instalados três sistemas de monitoramento distintos, sendo um sistema de piezômetros tipo Casagrande para monitorar a qualidade da água subterrânea, outro de piezômetros pneumáticos para monitorar as pressões na camada de areia do sistema de drenagem de fundo e outro de câmaras de TV em circuito fechado para monitoramento remoto das operações da Área. 4.6.1 Pressões Hidrostáticas na Camada de Areia do Sistema de Drenagem de Fundo. Foram instalados 8 piezômetros pneumáticos com ponta porosa, colocados em vários pontos da camada de areia interna, ligados a terminais de leitura localizados na crista dos diques. Durante a operação serão monitoradas as variações de pressões na drenagem para obtenção de dados para os futuros projetos. 4.6.2 Qualidade da Água Subterrânea Foram construídos 14 poços de medição de nível e coleta de água subterrânea em volta da Área. Estes poços viabilizam o monitoramento dos níveis de qualidade do lençol freático. São verificados sistematicamente as variações de pH, condutividade e análise físico-química, conforme requerido pela licença de operação da fábrica expedida pelo órgão de controle ambiental. Estes poços de monitoramento estão dispostos em baterias de dois poços, cujos bulbos encontram-se em profundidades diferentes, sendo um na região superior do aqüífero e outro na região inferior. Essa diferença na posição relativa dos bulbos se justifica pela possibilidade de estratificação numa eventual ocorrência de contaminação do lençol freático. 4.6.3 Circuito Fechado de TV Devido à distância de mais de 5Km entre a refinaria e as Áreas de resíduo, fez-se necessário instalar cinco câmaras de TV, estrategicamente posicionadas, em circuito fechado, para a vigilância remota da operação. O monitoramento é feito através de dois monitores de vídeo localizados na sala de controle de processo na refinaria. O sistema permite a visualização contínua das operações de bombeamento de sobrenadante, de bombeamento da drenagem de fundo e do sistema de distribuição e lançamento de resíduos. 5. ETAPAS DE IMPLANTAÇÂO A construção da Área #3 de resíduos de bauxita foi planejada para ser realizada em duas etapas. Na primeiraetapa, implantada entre abril de 1996 e janeiro de 1997, foi disponibilizada uma capacidade de 3.500.000m3, correspondente a 4,4 anos de operação da refinaria. Nesta etapa, os diques foram construídos até a cota 47,5m, utilizando apenas o solo obtido na escavação do fundo. A segunda etapa de construção, a ser implantada em 2000, disponibilizará uma capacidade adicional de 1.300.000m3, completando a capacidade total prevista de 4.800.000m3. Os diques Norte, Sul e Leste serão alteados por jusante com material emprestado na escavação do fundo da futura Área #4. A elevação final da crista dos diques será a cota 51,5m, cota atual do dique Oeste, o qual é compartilhado com a Área #2. 6. RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Todas as jazidas de materiais de construção da Área #3, à exemplo das que foram exploradas anteriormente, foram recuperadas em conformidade com um “Plano de Recuperação de Áreas Degradadas”, desenvolvido especificamente para as áreas em questão e submetido à aprovação prévia dos órgãos de controle ambiental. 152 As seguintes etapas básicas foram executadas na recuperação das áreas degradadas: · regularização e suavização das superfícies das áreas degradadas; · recolocação da camada de solo vegetal das próprias áreas degradadas, previamente estocado; · execução de obras de drenagem de águas superficiais; · plantio de sementes de vegetação rasteira e de mudas de vegetação arbórea; · controle e correção de erosões durante a primeira estação de chuvas. 7. CONCLUSÃO Se por um lado o resíduo de bauxita gerado pela indústria de alumina requer estudos de minimização, tratamento, reciclagem, etc., por outro, enquanto não são encontradas soluções viáveis para estes problemas, é preciso buscar a otimização da ocupação de áreas com estes resíduos, bem como a minimização dos riscos ambientais envolvidos na sua disposição. Neste sentido, a evolução do projeto das áreas de disposição de resíduos de bauxita da Alumar, com as modificações introduzidas no projeto da Área #3, principalmente no sistema de impermeabilização, deu um importante passo. A eliminação das camada de argila compactada nos taludes, aliada à substituição das camadas de areia e de laterita por uma camada de argamassa projetada com 3cm de espessura, permitiu o aumento da inclinação dos taludes internos, de 3H:1V, até o limite calculado em função dos coeficientes de atrito entre os diversos materiais envolvidos, resultando numa inclinação de 2,5H:1V. Além da redução no movimento de terra e o conseqüente ganho na relação com a capacidade da área, estas modificações resultaram em uma redução de cerca de 50% dos volumes necessários de areia, argila e laterita, materiais cada vez mais escassos na região, reduzindo assim, também, o conseqüente impacto ambiental causado pela construção Por último, mas não menos importante, obteve-se uma grande simplificação da obra, com a redução do prazo e dos custos de construção. 8. AGRADECIMENTOS O autor agradece o apoio e a permissão para publicação do presente trabalho ao Consórcio de Alumínio do Maranhão - ALUMAR. Agradece também aos Engºs Leandro de Moura Costa Filho e Edward Pacheco da LPS a revisão e comentários do texto. 9. REFERÊNCIAS Alumar (1995) Bauxite Residue Disposal Area #3 Preliminary Design Report. Alumar (1996) 25 Year Master Plan for Bauxite Residue Disposal 1996 – 2022 Koerner, R.M. (1997) Designing with Geosynthetics. Fourth edition, Prentice Hall LPS Consultoria e Engenharia Ltda. (1997) Alumar Bauxite Residue Disposal Area #3 Design Report. LPS Consultoria e Engenharia Ltda. (1997) Área #3 de resíduos de Bauxita – Relatório Final de Implantação da 1ª Etapa Paulo Abib Engenharia S.A.(1989) Plano Diretor de Lagos de Resíduos de Bauxita
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