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Artigos cientificos e sugestões de temas para TCC - ENGENHARIA CIVIL

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PROJETO E IMPLANTAÇÃO DA ÁREA DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DE
BAUXITA #3 DA ALUMAR
S. B. M. Pedrosa
ALUMAR
RESUMO: O Consórcio de Alumínio do Maranhão – ALUMAR – complexo industrial localizado
em São Luís, Maranhão, produz atualmente 1.240.000 t/ano de alumina e 365.000 t/ano de
alumínio. No processo de refinação da bauxita para a obtenção da alumina, denominado processo
Bayer, é utilizada soda cáustica, a qual contamina os resíduos gerados pelo processo. Os resíduos
da bauxita, contaminados com soda cáustica, são dispostos por via úmida em áreas
impermeabilizadas e dotadas de sistemas de drenagem de fundo e de recirculação do licor
sobrenadante, mantendo a fração líquida em circuito fechado. O presente trabalho apresenta os
critérios utilizados para a concepção e construção das áreas de contenção destes resíduos,
especificamente relacionados com a Área #3, construída em 1996. Faz ainda, um histórico da
evolução do projeto, resultante da experiência adquirida com a operação das duas áreas anteriores e
da própria evolução tecnológica, em especial da indústria de geossintéticos.
1. INTRODUÇÃO
O resíduo de bauxita gerado pela indústria
de alumina, devido à sua alta alcalinidade e aos
grandes volumes envolvidos, tem grande
potencial de causar danos ao meio ambiente
através da contaminação de mananciais de
água superficial ou subterrânea. Tal risco de
impactos ambientais negativos tornam
imperativo o planejamento de longo prazo,
passando pelas fases de estudos de
minimização, tratamento, reciclagem e,
eventualmente, disposição de material inerte.
As técnicas utilizadas podem ser de
mudança no processo, nos procedimentos
operacionais, uso de produtos químicos
substitutos ou uso de materiais ou matérias-
primas de melhor qualidade.
No caso da indústria de alumina, ainda não
foi encontrada uma forma totalmente
satisfatória de minimização ou reciclagem do
resíduo de bauxita, aceitável sob os aspectos de
processo, econômicos e ambientais.
A bauxita utilizada pela ALUMAR em seu
processo, originária da região de Trombetas,
Pará, gera em média 0,6 t de resíduo para cada
tonelada de alumina produzida, resultando em
0,6 m3 de resíduo a 64% de concentração de
sólidos na disposição final. Assim, a
ALUMAR gera um volume aproximado de
744.000m3/ano de resíduos de bauxita.
Devido à solubilidade da soda cáustica em
água, o resíduo de bauxita é um resíduo Classe
II – resíduo não inerte – nos termos da CB-155
da ABNT.
Desde o início da operação da fábrica em
1984, já foram construídas três áreas de
disposição de resíduo de bauxita. A Área #1,
com 2.400.000m3 de capacidade, ficou ativa de
1984 a 1990 e teve a sua superfície reabilitada
com o plantio de vegetação arbórea em 1996.
A Área #2, com 4.000.000m3 de capacidade foi
utilizada de 1991 até 1997. A Área #3,
144
construída no período de abril de 1996 a
janeiro de 1997, está atualmente em operação.
As áreas de Disposição de Resíduos de
Bauxita da Alumar utilizam a tecnologia de
áreas impermeabilizadas e dotadas de um
sistema de drenagem de fundo que, além de
manter a fração líquida do resíduo em circuito
fechado, oferece as seguintes vantagens:
- a pressão hidrostática sobre o sistema de
impermeabilização fica virtualmente
eliminada, o que é um fator de proteção
ambiental;
- a drenagem na massa do resíduo, que ocorre
em dois sentidos, contribui para aumentar a
taxa de consolidação e por conseguinte a
capacidade da Área;
- há um maior aproveitamento da fração
líquida do resíduo, que possui concentração de
soda da ordem de 15 g/l;
- permite monitorar o balanço hídrico do
depósito e avaliar o potencial de perdas por
percolação.
Os principais fatores que influenciam o
custo unitário de disposição do resíduo de
bauxita são a disponibilidade de área, as
condições topográficas e hidrogeológicas da
área de implantação dos projetos, a
disponibilidade de materiais terrosos e suas
distâncias de transporte.
2. PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO
Todas as atividades relacionadas com
resíduo de bauxita são objeto de planejamento
de longo prazo. Para tanto foi desenvolvido o
“Plano Diretor para o Gerenciamento de
Resíduo de Bauxita” no período de 1996 a
2022, ou seja, 25 anos. Esse plano, que é
revisado periodicamente, aborda desde
aspectos estritamente ambientais como
recursos hídricos, geologia local, fauna e flora,
até atividades de comunidades vizinhas,
projetos tecnológicos com impacto na geração
e disposição de resíduos e o monitoramento e
controle dos impactos causados pelas
atividades de construção e de operação das
áreas de disposição de resíduos. O Figura 1
mostra a curva de geração futura de resíduos
em função das projeções de produção, bem
como a correspondente necessidade de Áreas
de disposição e suas respectivas capacidades
ao longo do tempo.
Além do plano de 25 anos para o
gerenciamento de resíduo de bauxita, o projeto
da Área #3 está contemplado no plano diretor
para construção de áreas de disposição de
resíduo, elaborado em 1989, o qual planejou
em detalhes a construção das áreas #2, #3 e da
futura área #4, cobrindo um período de 20 anos
de operação da refinaria.
0
10
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1994 1999 2004 2009 2014 2019 2024 2029 2034
CRONOGRAMA DE CONSTRUÇÃO
DE NOVAS ÁREA DE DISPOSIÇÃO
VOLUME ACUMULADO DE
RESÍDUO @ 64% SÓLIDOSV
O
L
U
M
E
 A
C
U
M
U
L
A
D
O
x
 1
06
 m
3
A#2
A#3-1 A#3-2
A#4
A#5
A#6
A#7
A#8
A#9
ANO
Figura 1- Projeção da geração de resíduos de bauxita e da construção de áreas para disposição.
145
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Figura 2 – Posição relativa das Áreas de Resíduo de Bauxita existentes e futuras
A localização das áreas de resíduo foi
escolhida de forma a minimizar o impacto
ambiental em relação as alterações da
topografia local, proteger os recursos hídricos
e facilitar a reabilitação da superfície do
resíduo após a exaustão da capacidade das
áreas. Na Figura 2 estão indicadas as posições
relativas das áreas de disposição existentes e
futuras.
No plano diretor procurou-se equilibrar as
áreas de disposição em termos de volumes de
reservação o que resulta em tempos
semelhantes de operação.
Os parâmetros médios principais de projeto
para áreas de disposição impermeabilizadas e
drenadas, dentro das condições operacionais
atuais e da atual tecnologia são os seguintes:
Fator bauxita/alumina 2,12 t/t
Fator resíduo/alumina 0,60 t/t
Produção diária de resíduo seco 2.040 t
Densidade do grão 3,33 t/m3
Teor de sólidos no bombeamento 8,5 %
Densidade do licor 1,015 t/m3
3. PREMISSAS BÁSICAS DO PROJETO
Os critérios do projeto da Área #3 foram
baseados numa visão sistêmica do problema de
disposição de resíduos tendo como bases
principais:
- sistema de contenção ou infra-estrutura da
área, incluindo a terraplanagem dos diques, a
drenagem superficial e a proteção dos taludes
externos contra erosões;
- sistema de impermeabilização incluindo a
camada de solo de baixa permeabilidade e as
geomembranas;
- sistema de drenagem interna, ou de fundo,
incluindo a camada de areia, a rede de
tubulação de drenagem, as tubulações edutoras
e o sistema de bombeamento de retorno para a
superfície;
- sistema de distribuição dos resíduos,
constituído basicamente da tubulação de
distribuição periférica, calhas e torres de
distribuição internas;
- sistema de recuperação de água, constituído
basicamente do sistema de bombeamento de
retorno da água de processo para a Refinaria;
146
- sistema de monitoramento, constituído dos
poços de monitoramento do aqüífero, do
sistema de monitoramento do comportamento
da camada drenante através de piezômetros
pneumáticos e do sistema de TV em circuito
fechadopara vigilância da área.
3.1 Requisitos Legais e Corporativos
O projeto da Área #3 de resíduos de bauxita
foi desenvolvido de modo a atender sempre o
mais restritivo dos requisitos legais vigentes,
seja a nível municipal, estadual ou federal,
bem como os padrões corporativos da
ALCOA, adotado de forma mandatória por
todas as unidades da companhia em operação
no mundo.
3.2 Vida Útil
Com relação à vida útil, o projeto da Área
#3 foi concebido para uma capacidade total de
4.800.000 m3, correspondente a 6 anos de
operação.
3.3 Critérios de Projeto
3.3.1 Estabilidade dos Taludes
A inclinação máxima a ser adotada para os
taludes internos dos diques de contenção deve
ser de 2,5H:1V, e para os taludes externos deve
ser definida satisfazendo a condição de um
coeficiente de segurança mínimo de 1,5 para as
condições mais severas de carregamento.
3.3.2 Lençol Freático
Deve ser mantida uma distância mínima de
1,5m entre qualquer ponto do fundo da Área e
o nível mais alto previsto do lençol freático.
3.3.3 “Freeboard”
O “freeboard” mínimo a ser mantido,
incluindo 0,5m como distância mínima entre a
borda superior das geomembranas do sistema
impermeabilização e a crista do dique, deve
considerar a ação de ondas e precipitação com
probabilidade de ocorrência de 1%, ou com
período de retorno (T) de cem anos.
3.3.4 Crista dos Diques
A largura mínima da crista dos diques deve
ser de 5,0m, excluindo a largura necessária
para a passagem das tubulações e leitos de
cabos elétricos. A drenagem superficial das
cristas deve ser direcionada para o lado
interno.
3.3.5 Sistema de Impermeabilização
A proteção contra vazamentos deve ser dada
por um sistema duplo de impermeabilização,
com uma barreira primária e uma secundária,
com ou sem camada intermediária de alívio de
pressão hidrostática. O sistema de
impermeabilização deve ser no mínimo
equivalente a uma camada de argila com 0,5m
de espessura compactada mecanicamente,
atingindo um coeficiente de permeabilidade
menor ou igual a 10–9 m/s.
3.3.5.1 Barreira Primária
Uma geomembrana com coeficiente de
permeabilidade entre 0,5 x 10-12 m/s e 0,5 x 10-
15 m/s deve ser especificada em função de suas
propriedades físicas, químicas, mecânicas e
térmicas. Deve ser projetada uma proteção
contra a radiação ultravioleta e contra danos
mecânicos. Não são admitidas coberturas com
solos em taludes com inclinações maiores do
que 3H:1V.
3.3.5.2 Barreira Secundária
Solos naturais ou geomembranas podem ser
considerados para a barreira secundária. A
espessura mínima para uma eventual camada
de argila compactada deve ser de 0,40m. O uso
de uma geomembrana implicar no uso também
de uma camada drenante intermediária para
alívio de eventuais pressões hidrostáticas.
3.3.6 Sistema de Drenagem de Fundo
O sistema de drenagem interna deve ser
dimensionado garantindo uma carga hidráulica
reduzida sobre o sistema de
impermeabilização. Uma carga hidraúlica
máxima de 0,50m deve ser mantida para
condições estabilizadas de fluxo, sem
147
necessidade de manutenção do sistema. A
espessura da camada filtrante/drenante deve
ser suficiente para permitir sua construção com
equipamentos mecânicos pesados sem contudo
causar danos ao sistema de impermeabilização
subjacente.
3.3.7 Sistema de Distribuição de Resíduo
Deve ser adotada uma distância máxima de
150m entre os pontos de lançamento de
resíduo.
4. DESCRIÇÃO GERAL DO PROJETO
4.1 Infra-estrutura
Entre o projeto da Área #1 e o projeto da
Área #2 as principais mudanças foram com
relação a cota do fundo e com relação ao
balanceamento entre corte e aterro. Na Área #1
o fundo praticamente não foi escavado, tendo
sido construído aproximadamente no nível do
terreno natural. O material necessário para a
construção dos diques foi obtido em áreas de
empréstimo nos arredores. Na Área #2,
construída em 1990 de acordo com o plano
diretor desenvolvido para os 20 anos seguintes
a 1989, a cota mínima obedeceu a um critério
de distanciamento do lençol freático,
permitindo a escavação do fundo e o
conseqüente balanceamento entre os volumes
de corte e aterro. O projeto da Área #3 não
sofreu alterações significativas no que diz
respeito a infra-estrutura, tendo sido escavado
o fundo até a distância mínima de 1,5m para o
nível máximo previsto do lençol freático, de
acordo com o critério adotado.
As principais características geométricas da
Área #3, estão descritas no Quadro 1,
considerando a área acabada, incluindo os
vários revestimentos.
A terraplanagem foi executada com o solo
areno-siltoso local, envolvendo volumes de
escavação de 1.135.000m3 e compactação de
983.000m3 de aterros em sua primeira etapa de
construção, atingindo volumes da ordem de
1.600.000m3 e 1.250.000m3, respectivamente,
em seu estágio final
Os taludes internos e externos foram
construídos na inclinação 2,5H:1V. Os taludes
externos são dotados de bermas para drenagem
superficial. O “freeboard” adotado foi de 1m
para a cota da crista acabada e 0,50m para a
altura de ancoragem da geomembrana do
sistema de impermeabilização. A Figura 3
mostra uma seção típica do dique acabado da
Área #3.
4.2 Impermeabilização
Um total de 554.000m2 de geosintéticos,
dos quais, 426.000m2 de geomembrana de
PVC com 0,8mm de espessura, foi aplicado na
construção da primeira etapa da Área #3. Duas
combinações diferentes de materiais foram
adotadas para o sistema de impermeabilização,
uma para o fundo e outra para os taludes
internos da Área.
Quadro 1 – Principais características geométricas da Área #3
Dimensões médias a partir do eixo dos diques 700m x 500m
Altura máxima de aterro 23,20m
Altura mínima de aterro 11,90m
Inclinação do fundo na direção SE-NW 0,5%
Largura útil da crista 6,50m
Número de rampas de acesso internas 2
Largura das rampas 5,00m
Elevações da crista 51,50m
Largura da berma dos taludes externos 5,00m
Área do fundo 245.000m2
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Figura 3 – Seção típica dos diques da Área #3 de Resíduos de Bauxita da Alumar.
4.2.1 Impermeabilização do Fundo
Similarmente às Áreas #1 e #2 construídas
anteriormente, foi adotada uma geomembrana
de PVC como barreira primária e uma camada
de argila compactada com 0,40m de espessura
como barreira secundária para a
impermeabilização do fundo. Um volume total
de 105.000m3 de argila compactada foi
utilizado na impermeabilização do fundo da
Área #3.
As características geotécnicas médias da
argila utilizada, obtida em uma jazida
localizada a 4,5 Km de distância, são as
seguintes:
Densidade aparente Máxima Seca: 1,66t/m3
Umidade Ótima: 18,2 %
Permeabilidade média em amostras
compactadas no campo: 4,5 x 10-9 m/s
Percentagem passando na Peneira nº 200: 82,7
%
Os métodos construtivos especificados para
a camada de argila, além dos procedimentos já
consagrados para a compactação de solos,
previram um controle de qualidade rigoroso
quanto a prevenção do surgimento de trincas
de retração devido ao ressecamento superficial
da argila que comprometeriam a função
impermeabilizante da camada e a presença de
pedriscos que afetariam a membrana de PVC.
4.2.2 Impermeabilização dos Taludes Internos
O sistema de impermeabilização adotado no
projeto da Área #3 foi modificado com relação
aos projetos anteriores principalmente nos
taludes internos, onde o sistema composto por
uma geomembrana sobreposta a uma camada
de argila compactada foi substituído por uma
dupla camada de PVC de 0,8mm de espessura
com uma camada intermediária de
geocomposto drenante, conforme pode ser
visto na Figura 4.
O geocomposto drenante é formado por
uma geomalha de Polietileno de Alta
Densidade com geotextil não-tecido de
Polipropileno aderido por fusão térmica aambas as faces.
Figura 4 - Detalhe do Sistema de Impermeabi-
lização dos Taludes Internos
149
Essa camada intermediária na
impermeabilização dos taludes internos dos
diques tem a função de aliviar pressões
hidrostáticas que porventura se desenvolvam
em decorrência de eventuais falhas na barreira
primária.
Um tubo dreno instalado ao longo do pé do
talude interno, em toda a periferia da área do
fundo (vide detalhe na Figura 5), coleta
eventuais vazamentos captados pelo
geocomposto drenante e direciona o fluxo para
o sistema de bombeamento da drenagem de
fundo, de onde o líquido é recirculado para a
superfície.
Figura 5 – Detalhe do Pé do Talude Interno
Uma das maiores dificuldades de execução
impostas por essa concepção foi a transição
entre os dois sistemas diferentes adotados para
o fundo e para os taludes internos. A solução
foi a utilização de painéis pré-fabricados com
uma membrana única de um lado e uma
membrana dupla do outro.
O sistema de impermeabilização com
geomembranas como um todo foi projetado em
módulos de forma a permitir a pré- fabricação
de painéis e a conseqüente minimização de
emendas de campo. As dimensões dos painéis
são limitadas pela dificuldade de manuseio no
transporte e na obra.
4.2.3 Proteção dos Taludes Internos
Outra mudança significativa entre
osprojetos das Áreas #1 e #2 e o projeto da
Área #3 diz respeito à proteção da
geomembrana da barreira de
impermeabilização primária instalada nos
taludes internos dos diques. No projeto da Área
#3, esta geomembrana foi protegida contra a
ação da radiação ultravioleta e contra eventuais
danos mecânicos por uma camada de
argamassa projetada com 0,03m de espessura
média, conforme pode ser visto, também, na
Figura 4.
Nas Áreas #1 e #2, a impermeabilização dos
taludes internos foi protegida pela camada de
areia do dreno interno, que por sua vez foi
coberta com uma camada de solo laterítico
para a necessária proteção contra erosões.
Estas camadas têm, cada uma, 0,50m de
espessura.
4.3 Drenagem Interna
O sistema de drenagem de fundo da Área #3
é composto por uma camada de areia com
0,60m de espessura aplicada sobre a membrana
de PVC (vide Figura 5) e por uma rede de
tubos geomecânicos ranhurados, também de
PVC, instalados no interior da camada de
areia, dispostos em forma de duas “espinhas de
peixe”, conforme pode ser visto na Figura 6.
Tubos de PVC ranhurados de 4” de diâmetro
drenam o licor percolado e filtrado pela
camada de areia. Uma tubulação de aço de 12”
de diâmetro instalada sob o dique de
contenção, para o qual convergem os dois
coletores-tronco, também de 12”, porém de
PVC, direciona o líquido drenado para a
estação de bombeamento da drenagem de
fundo, de onde é recirculado de volta para a
superfície da Área.
Em uma área de 12500 m2 foi instalado um
sistema de drenagem experimental de fundo
em que a camada de areia é substituída por
geocomposto drenante semelhante ao utilizado
nos taludes internos. O licor coletado nesta
drenagem experimental é coletado e conduzido
para a instalação de bombeamento por
tubulação independente da camada drenante,
permitindo assim uma avaliação de sua
eficiência.
Foi aplicado um volume total de 160.000m3
de areia na drenagem de fundo, transportada a
uma distância média de 1,5 km. A
permeabilidade média da areia aplicada é da
ordem de 2,9 x 10-5 m/s.
150
Figura 6 – Vista em Planta da Área #3 com destaque para os Sistemas de Drenagem de Fundo e de
Distribuição de Resíduos.
Rigorosos procedimentos e controles de
campo foram exercidos nas operações de
lançamento da areia sobre a geomembrana de
PVC com o objetivo de evitar a formação de
rugas ou ocorrência de rasgos.
A principal mudança implementada no
projeto da Área #3 no que tange esse sistema
foi no tanque de bombeamento do licor
percolado e drenado pelo fundo. Nas Áreas #1
e #2, o tanque foi construído em concreto e é
aberto para o ambiente em uma cota abaixo do
fundo. Na Área #3, este tanque foi fabricado
em aço e é mantido fechado, dispondo apenas
de uma tubulação ( chaminé ) de equilíbrio até
a crista dos diques de contenção, virtualmente
eliminando os riscos de transbordos do licor
para o ambiente em caso de eventuais falhas
simultâneas nas bombas e nos dispositivos de
bloqueio do fluxo.
4.4 Sistema de Distribuição de Resíduo
O sistema de distribuição de resíduos da
Área #3 manteve a mesma concepção básica
das Áreas #1 e #2. A Figura 6 mostra a linha
de 12” de diâmetro em volta da Área, as
calhas, em número de 20, dispostas nos taludes
internos, e as 5 torres centrais de distribuição
de resíduo.
A principal modificação em sua concepção
foi com relação às fundações das torres
centrais de distribuição de resíduo, cujas
sapatas estão contidas pelo sistema de
impermeabilização, não mais penetrando
através da geomembrana como foram
construídas anteriormente.
4.5 Sistema de Recuperação de Água
O sistema de recuperação de água compõe-
se de duas bombas centrífugas montadas sobre
duas plataformas que sobem e descem o talude
em função da variação do nível d’água. A
capacidade de bombeamento do sistema é de
1.400m3/h de licor sobrenadante, com uma
tubulação de 20” de diâmetro interligando as
áreas de disposição de resíduo com a refinaria.
A principal modificação neste sistema com
relação à concepção anterior também diz
respeito à sua fundação. As duas rampas de
151
concreto armado, por onde as duas plataformas
com as bombas de sobrenadante sobem e
descem o talude, são construídas diretamente
sobre a impermeabilização, sem penetrar a
geomembrana, evitando descontinuidades.
4.6 Sistema de Monitoramento
Na construção da Área #3 foram instalados
três sistemas de monitoramento distintos,
sendo um sistema de piezômetros tipo
Casagrande para monitorar a qualidade da água
subterrânea, outro de piezômetros pneumáticos
para monitorar as pressões na camada de areia
do sistema de drenagem de fundo e outro de
câmaras de TV em circuito fechado para
monitoramento remoto das operações da Área.
4.6.1 Pressões Hidrostáticas na Camada de
Areia do Sistema de Drenagem de Fundo.
Foram instalados 8 piezômetros
pneumáticos com ponta porosa, colocados em
vários pontos da camada de areia interna,
ligados a terminais de leitura localizados na
crista dos diques. Durante a operação serão
monitoradas as variações de pressões na
drenagem para obtenção de dados para os
futuros projetos.
4.6.2 Qualidade da Água Subterrânea
Foram construídos 14 poços de medição de
nível e coleta de água subterrânea em volta da
Área. Estes poços viabilizam o monitoramento
dos níveis de qualidade do lençol freático. São
verificados sistematicamente as variações de
pH, condutividade e análise físico-química,
conforme requerido pela licença de operação
da fábrica expedida pelo órgão de controle
ambiental.
Estes poços de monitoramento estão
dispostos em baterias de dois poços, cujos
bulbos encontram-se em profundidades
diferentes, sendo um na região superior do
aqüífero e outro na região inferior. Essa
diferença na posição relativa dos bulbos se
justifica pela possibilidade de estratificação
numa eventual ocorrência de contaminação do
lençol freático.
4.6.3 Circuito Fechado de TV
Devido à distância de mais de 5Km entre a
refinaria e as Áreas de resíduo, fez-se
necessário instalar cinco câmaras de TV,
estrategicamente posicionadas, em circuito
fechado, para a vigilância remota da operação.
O monitoramento é feito através de dois
monitores de vídeo localizados na sala de
controle de processo na refinaria. O sistema
permite a visualização contínua das operações
de bombeamento de sobrenadante, de
bombeamento da drenagem de fundo e do
sistema de distribuição e lançamento de
resíduos.
5. ETAPAS DE IMPLANTAÇÂO
A construção da Área #3 de resíduos de
bauxita foi planejada para ser realizada em
duas etapas. Na primeiraetapa, implantada
entre abril de 1996 e janeiro de 1997, foi
disponibilizada uma capacidade de
3.500.000m3, correspondente a 4,4 anos de
operação da refinaria. Nesta etapa, os diques
foram construídos até a cota 47,5m, utilizando
apenas o solo obtido na escavação do fundo.
A segunda etapa de construção, a ser
implantada em 2000, disponibilizará uma
capacidade adicional de 1.300.000m3,
completando a capacidade total prevista de
4.800.000m3. Os diques Norte, Sul e Leste
serão alteados por jusante com material
emprestado na escavação do fundo da futura
Área #4. A elevação final da crista dos diques
será a cota 51,5m, cota atual do dique Oeste, o
qual é compartilhado com a Área #2.
6. RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS
Todas as jazidas de materiais de construção
da Área #3, à exemplo das que foram
exploradas anteriormente, foram recuperadas
em conformidade com um “Plano de
Recuperação de Áreas Degradadas”,
desenvolvido especificamente para as áreas em
questão e submetido à aprovação prévia dos
órgãos de controle ambiental.
152
As seguintes etapas básicas foram
executadas na recuperação das áreas
degradadas:
· regularização e suavização das superfícies
das áreas degradadas;
· recolocação da camada de solo vegetal das
próprias áreas degradadas, previamente
estocado;
· execução de obras de drenagem de águas
superficiais;
· plantio de sementes de vegetação rasteira e
de mudas de vegetação arbórea;
· controle e correção de erosões durante a
primeira estação de chuvas.
7. CONCLUSÃO
Se por um lado o resíduo de bauxita gerado
pela indústria de alumina requer estudos de
minimização, tratamento, reciclagem, etc., por
outro, enquanto não são encontradas soluções
viáveis para estes problemas, é preciso buscar
a otimização da ocupação de áreas com estes
resíduos, bem como a minimização dos riscos
ambientais envolvidos na sua disposição.
Neste sentido, a evolução do projeto das
áreas de disposição de resíduos de bauxita da
Alumar, com as modificações introduzidas no
projeto da Área #3, principalmente no sistema
de impermeabilização, deu um importante
passo.
A eliminação das camada de argila
compactada nos taludes, aliada à substituição
das camadas de areia e de laterita por uma
camada de argamassa projetada com 3cm de
espessura, permitiu o aumento da inclinação
dos taludes internos, de 3H:1V, até o limite
calculado em função dos coeficientes de atrito
entre os diversos materiais envolvidos,
resultando numa inclinação de 2,5H:1V.
Além da redução no movimento de terra e o
conseqüente ganho na relação com a
capacidade da área, estas modificações
resultaram em uma redução de cerca de 50%
dos volumes necessários de areia, argila e
laterita, materiais cada vez mais escassos na
região, reduzindo assim, também, o
conseqüente impacto ambiental causado pela
construção
Por último, mas não menos importante,
obteve-se uma grande simplificação da obra,
com a redução do prazo e dos custos de
construção.
8. AGRADECIMENTOS
O autor agradece o apoio e a permissão para
publicação do presente trabalho ao Consórcio
de Alumínio do Maranhão - ALUMAR.
Agradece também aos Engºs Leandro de Moura
Costa Filho e Edward Pacheco da LPS a
revisão e comentários do texto.
9. REFERÊNCIAS
Alumar (1995) Bauxite Residue Disposal Area
#3 Preliminary Design Report.
Alumar (1996) 25 Year Master Plan for
Bauxite Residue Disposal 1996 – 2022
Koerner, R.M. (1997) Designing with
Geosynthetics. Fourth edition, Prentice Hall
LPS Consultoria e Engenharia Ltda. (1997)
Alumar Bauxite Residue Disposal Area #3
Design Report.
LPS Consultoria e Engenharia Ltda. (1997)
Área #3 de resíduos de Bauxita – Relatório
Final de Implantação da 1ª Etapa
Paulo Abib Engenharia S.A.(1989) Plano
Diretor de Lagos de Resíduos de Bauxita

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