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Direito Empresarial III Prof. Anderson Rosa Turma A02 / A409 A07 / A410 Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito 1.1. Histórico Seu surgimento deve-se às necessidades mercantis dos mercadores italianos por força do incremento comercial na Idade Média. Como forma de se prevenir contra os riscos de trafegar com moedas entre cidades para fazer frente aos seus interesses nas feiras, surge o câmbio trajectício pelo qual um banqueiro retinha certa quantidade de moedas do comerciante e se obrigava a entregar-lhe em outra cidade, mediante o pagamento de uma comissão. Desse modo, no ato da entrega das moedas o banqueiro entregava ao mercador um documento de reconhecimento da dívida, denominado cautio, e outro endereçado a seu correspondente nas Feiras (littera cambii), onde determinava o pagamento correspondente ao mercador.Sua importância traduz-se na capacidade de aglutinar riquezas e fazer com que circulem sob a forma de crédito. 1.2. Definição São documentos nominados ou não, representativos de obrigações pecuniárias, com características especiais estabelecidas em lei e com a função de circular riquezas. Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 1.3. Características a) Literalidade O título tem a característica de representar exatamente a quantia nele declarada. Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito b) Autonomia O título de crédito possui característica especial em relação aos documentos civis, porque os intervenientes se relacionam de maneira autônoma durante a existência do título. COMERCIAL. TÍTULOS DE CRÉDITO. AVALISTA. ÓBITO ANTES DO VENCIMENTO. OBRIGAÇÃO NÃO PERSONALÍSSIMA. TRANSMISSÃO AOS HERDEIROS. I - O aval, espécie de obrigação cambial, é autônomo em relação à obrigação do devedor principal e se constitui no momento da aposição da assinatura do avalista no título de crédito. Recurso especial conhecido e provido. c) Cartularidade Representa a incorporação do direito ao título de crédito. d) Abstração É característica que tem o título cambial de não se confundir com o direito que lhe deu origem. Súmula STJ n. 258 "A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou“. Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE EXECUÇÃO. EMISSÃO DE TÍTULO DE CRÉDITO - NOTA PROMISSÓRIA - VINCULADA A CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO. AUSÊNCIA DE EXIGIBILIDADE. TÍTULO CAMBIAL EMITIDO COMO GARANTIA DE DÍVIDA BANCÁRIA. AUSÊNCIA DE CIRCULAÇÃO. PERDA DA NATUREZA CAMBIÁRIA. I - Ausente a circulação do título de crédito, a nota promissória que não é sacada como promessa de pagamento, mas como garantia de contrato de abertura de crédito, a que foi vinculada, tem sua natureza cambial desnaturada, subtraída a sua autonomia II - A iliquidez do contrato de abertura de crédito é transmitida à nota promissória vinculada, contaminando-a, pois o objeto contratual é a disposição de certo numerário, dentro de um limite prefixado, sendo que essa indeterminação do quantum devido, comunica-se com a nota promissória por terem nascidos da mesma obrigação jurídica. Observação: Medida Provisória n. 2.172-32: Art. 1º São nulas de pleno direito as estipulações usurárias, assim consideradas as que estabeleçam: I - nos contratos civis de mútuo, taxas de juros superiores às legalmente permitidas, caso em que deverá o juiz, se requerido, ajustá-las à medida legal ou, na hipótese de já terem sido cumpridas, ordenar a restituição, em dobro, da quantia paga em excesso, com juros legais a contar da data do pagamento indevido; II - nos negócios jurídicos não disciplinados pelas legislações comercial e de defesa do consumidor, lucros ou vantagens patrimoniais excessivos, estipulados em situação de vulnerabilidade da parte, caso em que deverá o juiz, se requerido, restabelecer o equilíbrio da relação contratual, ajustando-os ao valor corrente, ou, na hipótese de cumprimento da obrigação, ordenar a restituição, em dobro, da quantia recebida em excesso, com juros legais a contar da data do pagamento indevido. Direito Empresarial III Parágrafo único. Para a configuração do lucro ou vantagem excessivos, considerar-se-ão a vontade das partes, as circunstâncias da celebração do contrato, o seu conteúdo e natureza, a origem das correspondentes obrigações, as práticas de mercado e as taxas de juros legalmente permitidas. Art. 3o Nas ações que visem à declaração de nulidade de estipulações com amparo no disposto nesta Medida Provisória, incumbirá ao credor ou beneficiário do negócio o ônus de provar a regularidade jurídica das correspondentes obrigações, sempre que demonstrada pelo prejudicado, ou pelas circunstâncias do caso, a verossimilhança da alegação. EMENTA: APELAÇÃO. AÇÃO MONITÓRIA. EMBARGOS. USURA. PRÁTICA ILÍCITA NÃO COMPROVADA. MP 2.172-32/2001. ART. 3º. ÔNUS DA PROVA. Inexistindo verossimilhança na alegação de agiotagem embutida na nota promissória que deu substrato à monitória, não se acolhe os embargos opostos, impondo-se à recorrente o ônus de provar esse alegado, conforme disciplina do artigo 333, I da Norma Instrumental, vez que a inversão do encargo de demonstrar a licitude do negócio, como previsto no artigo 3º da Medida Provisória nº 2.172-32/2001, só é aplicável depois que aquele que se diz vitimado demonstrar a veracidade da ocorrência de agiotagem. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO. Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito 1.4. Endosso É o meio pelo qual se transfere a propriedade de um título nominal. Ou seja, com a simples assinatura no verso do título de crédito tem-se o endosso. Endossante – é quem assina transferindo a propriedade do título. O endossante, salvo cláusula em contrário fica responsável pelo pagamento do título. Endossatário – é quem sucede o endossante na propriedade do título. Endosso em preto – indica expressamente o beneficiário do endosso. Endosso em branco – omiti-se o nome do endossatário. 1.5. Aval É um terceiro que garante o pagamento firmado pelo devedor principal. O credor pode exigir o cumprimento da obrigação cambiária tanto do devedor principal, como do avalista. A simples assinatura no anverso do título de crédito configura o aval. Avalista – é quem responde solidariamente pelo pagamento. Avalizado – é o devedor principal. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO DE CRÉDITO. CHEQUE. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. CARACTERIZAÇÃO. ASSINATURA NO VERSO DA CÁRTULA. AVAL.1 - Consignado pelas instâncias ordinárias haver o recorrente assinado no verso do cheque, sem indicação alguma, não se trata de reexame de provas, mas de, partindo dessa premissa fática, dar à espécie a qualificação jurídica que o caso requer. 2 - Denotado que o cheque, na hipótese vertente não é ao portador, mas nominal, e a assinatura constante do seu verso é de outra pessoa, que não o seu beneficiário, a conclusão é de que somente pode ter sido efetivada como aval, ainda que não especificada a sua finalidade (por aval), pois, do contrário, estar-se-ia admitindo quebra na cadeia creditícia. 3 - Somente poderia ser endosso se a assinatura constante no verso da cártula coincidisse com quem dela seja o beneficiário, o que não ocorre na espécie, pois o beneficiário é pessoa diversa daquela que apôs a assinatura no dorso do cheque em apreço. 4 - A assinatura, que não se pode ter por inútil no título, faz atribuir à pessoa que a apôs coobrigação e responsabilidade pelo crédito por ele representado. 5 - Legitimidade passiva ad causam que se impõe àquele tido por avalista. 6 - Recurso especial não conhecido. REsp 493861 / MG Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito 1.6. Aval e FiançaO aval e a fiança são modalidades de garantias pessoais, ou seja, são prestadas por pessoas, mas essas duas possibilidades são bastante diferentes. O aval vai garantir o pagamento de determinado título de crédito. Já a fiança serve para garantir contratos em geral. O aval não decorre de um acordo entre as partes, pois a pessoa que presta o aval se obriga pelo título. Nesse caso não há uma relação entre as pessoas, pois o avalista garantirá a solvência do título independente de seu titular. Já a fiança é o contrato estabelecido em que o fiador tem a obrigação de assumir a obrigação em relação a um credor específico. Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito 1.6. Aval e Fiança O aval se torna válido pela simples assinatura do avalista no verso do título. Já a fiança é contrato que se reputa válido apenas após a elaboração de um documento escrito. No aval a responsabilidade é solidária, ou seja, tanto o devedor quanto avalista são responsáveis pelo montante integral da dívida. Já na fiança a responsabilidade é subsidiária, ou seja, o fiador somente será acionado caso o devedor principal não cumpra a obrigação. 1.6. Aceite É o reconhecimento do débito, obrigando o aceitante cambialmente. Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito 1.7. Protesto “Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.” Lei n. 9.492/97 (Define competência, regulamenta os serviços concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida e dá outras providências) - Tabelião de Protesto de Títulos Inadimplência – falta de pagamento. Mora – simples atraso no cumprimento de uma obrigação, seja por parte do devedor (mora debendi) ou credor (mora accipiendi) 1.8. Sacador É interveniente responsável pela criação do título de crédito. É a pessoa que dá a ordem ao sacado. 1.9. Sacado É o devedor que ficará responsável pelo pagamento da dívida. 1.10. Tomador É o beneficiário (credor) do título. Direito Empresarial III 1. Teoria Geral dos Títulos de Crédito sacador sacado Tomador O sacador preenche e entrega o título O sacado é o responsável pelo pagamento Direito Empresarial III 2. Letra de Câmbio 2.1. Conceito Entende-se por letra de câmbio uma ordem, por escrito, a uma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada importância em dinheiro. há três elementos pessoais: sacador: o que dá a ordem; sacado: o a quem a ordem é dada; tomador ou beneficiário: aquele a favor de quem é emitida a ordem 2.2. Natureza Jurídica Teorias. 1° vêem na letra de câmbio o instrumento de um contrato - juristas franceses; (Pothier “é o meio pelo qual o contrato de câmbio se executa”). 2° acham que os direitos do título dependem de um ato unilateral da vontade - alemães; (Einert - um ato unilateral da vontade do subscritor, independente, portanto, de qualquer causa que o tenha originado). 3° nas que se baseiam em certos direitos nascidos do título - italianos. (Vivante, conclui que o elemento essencial do título é a literalidade; ao lado desse princípio, os títulos são também abstratos, no sentido de que não ficam presos às suas causas e os direitos neles incorporados são autônomos). Direito Empresarial III 2. Letra de Câmbio 2.3. Características A letra de câmbio é um título de crédito à ordem, formal, literal, abstrato e autônomo. É um título criado para a circulação e, também, um título de apresentação. 1 – A letra de câmbio é um título de crédito. 2 – É um título à ordem. 3 – É um título formal. 4 – É um título literal. 5 – É um título abstrato. 6 – É um título autônomo. 7 – É um título de circulação. 8 – É um título de apresentação. Direito Empresarial III 2. Letra de Câmbio 2.4. Função econômica da letra de câmbio - efetuar o transporte fácil de valores, de um lugar para outro (que era o seu papel inicial) sem os perigos e as dificuldades do transporte real - faz com que possam ser utilizadas, no presente, importâncias que só em tempo futuro serão exigidas. -facilitar a realização de transações comerciais. 2.5. Formalismo da letra: rigor cambiário - o título, para valer como tal deve estar revestido de determinadas formalidades estabelecidas por lei - rigor cambiário. Direito Empresarial III 2. Letra de Câmbio 2.6. A forma na letra de câmbio - é a letra de câmbio uma ordem de pagamento (Lei Uniforme, art. 1º, nº 2). - por escrito. - não há formula especial para a sua feitura. -pode ser: manuscrita, datilografada ou impressa, sendo indispensável, porém, que haja, no título, a assinatura do próprio punho do sacador ou de pessoa que o represente, desde que possua poderes especiais para tal fim. 2.7. Elementos indispensáveis - a denominação “letra de câmbio”. - a soma em dinheiro e a espécie da moeda. - o nome da pessoa que deve pagá-la (sacado). - o nome da pessoa a quem deve ser paga (tomador). - assinatura do próprio punho de quem emite a letra (sacador ou de mandatário especial). - data e o lugar do saque. Direito Empresarial III 2. Letra de Câmbio 2.8. O vencimento - à vista: é quando a letra vence-se no ato da apresentação ao sacado. - a dia certo: é o próprio sacador quem determina o prazo. Ex.: Ao dia __ de __ de ___, V. Sa. pagará por esta letra de câmbio. -a tempo certo da data: o vencimento passa a correr da emissão da letra. 2.9. Prescrição O prazo é de três anos. COMERCIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. DUPLICATA. ENDOSSO. PROTESTO NECESSÁRIO. I - O endossatário que protesta título vencido não comete ato ilícito. Ele, simplesmente cumpre determinação legal. II - O protesto de título endossado é necessário, porque "o portador que não tira, em tempo útil e de forma regular, o instrumento do protesto da letra, perde o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas." (Art. 32 do Dec. 2.044/1908). AgRg no Ag 683941 / RJ Direito Empresarial III 2. Letra de Câmbio No caso, o protesto do título endossado era necessário, porque “o portador que não tira, em tempo útil e de forma regular, o instrumento do protesto da letra, perde o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas.” (Art. 32 do Dec. 2.044/1908). Nesse sentido: "I - O desfazimento do negócio, por acordo com o vendedor, não livra o comprador de honrar a letra, em mãos de terceiro endossatário. Tampouco, retira do título protestado a força executiva que lhe outorga o Art. 15 da Lei5.474/68. Para livrar-se da ação executiva, o sacado deve invocar um dos fundamentos relacionados pelo Art. 8º dessa Lei. II - O protesto do título endossado é necessário, porque “o portador que não tira, em tempo útil e de forma regular, o instrumento do protesto da letra, perde o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas.” (Art. 32 do Dec. 2.044/1908). III – Não é lícita a sustação do protesto necessário. IV - Mesmo após desfeita a venda, a compradora continua responsável, perante o endossatário da respectiva duplicata. Terá, contudo, direito de regresso contra o vendedor emitente do título." (Resp 245.460/HUMBERTO). Direito Empresarial III 3. Nota Promissória 3.1. Conceito A nota promissória é uma promessa de pagamento que uma pessoa faz à outra. Aquele que promete é o sacador, também chamado de emitente ou subscritor. O tomador é o beneficiário do pagamento. 3.2. Requisitos da nota promissória a) expressão "nota promissória"; b) promessa, incondicional, de pagar quantia determinada; c) nome do beneficiário ( inexiste NP ao portador); d) data do saque; e) local do saque; f) assinatura do sacador e sua identificação. O endosso, aval, vencimento, pagamento, protesto e execução da nota promissória são idênticos aos da letra de câmbio. Sãoparticularidades da nota promissória: a) inexistência de aceite; b) o subscritor da nota promissória é seu devedor principal.
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