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INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA

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Carga Horária: 50 hs 
Curso 
Introdução a Criminologia 
 
 
 
 
 
O bom aluno de cursos à distância: 
 
• Nunca se esquece que o objetivo central é aprender o conteúdo, e não apenas terminar o curso. Qualquer um 
termina, só os determinados aprendem! 
 
• Lê cada trecho do conteúdo com atenção redobrada, não se deixando dominar pela pressa. 
 
• Sabe que as atividades propostas são fundamentais para o entendimento do conteúdo e não realizá-las é deixar 
de aproveitar todo o potencial daquele momento de aprendizagem. 
 
• Explora profundamente as ilustrações explicativas disponíveis, pois sabe que elas têm uma função bem mais 
importante que embelezar o texto, são fundamentais para exemplificar e melhorar o entendimento sobre o 
conteúdo. 
 
• Realiza todos os jogos didáticos disponíveis durante o curso e entende que eles são momentos de reforço do 
aprendizado e de descanso do processo de leitura e estudo. Você aprende enquanto descansa e se diverte! 
 
• Executa todas as atividades extras sugeridas pelo monitor, pois sabe que quanto mais aprofundar seus 
conhecimentos mais se diferencia dos demais alunos dos cursos. Todos têm acesso aos mesmos cursos, mas o 
aproveitamento que cada aluno faz do seu momento de aprendizagem diferencia os “alunos certificados” dos 
“alunos capacitados”. 
 
• Busca complementar sua formação fora do ambiente virtual onde faz o curso, buscando novas informações e 
leituras extras, e quando necessário procurando executar atividades práticas que não são possíveis de serem feitas 
durante as aulas. (Ex.: uso de softwares aprendidos.) 
 
• Entende que a aprendizagem não se faz apenas no momento em que está realizando o curso, mas sim durante 
todo o dia-a-dia. Ficar atento às coisas que estão à sua volta permite encontrar elementos para reforçar aquilo que 
foi aprendido. 
 
• Critica o que está aprendendo, verificando sempre a aplicação do conteúdo no dia-a-dia. O aprendizado só tem 
sentido quando pode efetivamente ser colocado em prática. 
Aproveite o seu 
aprendizado! 
 
3 
 
Conteúdo 
 
Introdução 
Conceito e Definição 
Objeto da Criminologia 
Método 
Criminologia como Ciência 
Relação da Criminologia com outras Ciências 
A Sociedade e a Natureza do Delito como Fenômeno 
Individual e Coletivo 
Divisão e História da Criminologia 
As Causas da Criminalidade 
Criminologia Clínica 
Desvios Sexuais e Criminologia 
Notações sobre o Exame Criminológico 
Caracterologia 
Criminalidade: Fatores Exógenos Gerais 
Causas Institucionais de Criminalidade 
Microcriminalidade e Macrocriminalidade 
Vitimologia 
Bibliografia/Links Recomendados 
 
 
 
 
 
4 
 
Introdução 
 
CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO GENÉRICO 
É bíblico o ensinamento de que Deus criou o homem à sua 
imagem e semelhança e que, ao colocá-lo no Jardim do Éden, 
fez-lhe esta advertência: “De toda a árvore do jardim comerás 
livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal não 
comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente 
morrerás”. 
Houve a desobediência posterior e, por sua cobiça, o homem foi 
condenado a conhecer o bem e o mal. 
A conduta do homem em uma ou outra direção, ou seja, 
caminhando rumo ao bem ou ao mal, por si só, determina a 
existência de diferenças fundamentais na forma de viver do ser 
humano. 
É inerente à homogênese, portanto, a desigualdade do 
comportamento social dos indivíduos. 
Entregue à todos os seus temores e fraquezas, o homem é 
sempre chamado, na correnteza da vida, a decidir entre o bem e 
o mal em meio às tentações da ambição, do poder, do “ter” ao 
invés do “ser”. Concomitantemente, estará ele, respirando os 
ares da inveja, da ira, do orgulho, da vaidade, da prepotência, 
das paixões desenfreadamente destruidoras, tudo a emaranhá-lo 
na possibilidade, sempre presente, do retrocesso moral e 
espiritual e na própria queda ao abismo da criminalidade. 
Ora, a criminalidade é considerada como um fato normal da vida 
em sociedade, justamente porque a vida grupal, a existência 
comunitária, não implica em que cada indivíduo aja em acordo 
com a vontade dos demais e, não raro, isso acarreta divergências 
e choques pessoais; e se esses desacordos não são contornados 
pelas vias da conciliação ou do ajuste, só restará a alternativa do 
conflito propriamente dito, e este, quando não resolvido 
legalmente, fatalmente redundará em confronto, em diferentes 
tipos de agressão, sucedendo que muitos deles vão desenbocar 
na sendado crime. 
5 
 
Apesar da criminalidade ser reputada como um fenômeno social 
normal, da mesma forma não é analisada a figura do criminoso, 
considerado um “fenômeno anormal”, na expressão de Israel 
Drapkin (Manual de Criminologia). Contudo, os 
autores Newton e Valter Fernandes (Criminologia 
Integrada), discordam de Drapkin, pois, se aceita a criminalidade 
como um processosocial normal, porque o ato do criminoso deve 
ser entendido como um fenomeno anormal? Para tais 
doutrinadores, tanto a criminalidade quanto o indivíduo que a 
exercita não podem ser considerados normais, porque o crime 
não é ato normal em sociedade e, por sua vez, as peculariedades 
do fenômeno da delinquência não podem se apartar de seu 
agente desencadeador, intrinsicamente á ela ligado. 
Outra não é a razão da Criminologia ter por escopo o estudo do 
fenômeno criminal, suas causas geradoras e o conhecimento 
completo dos seres humanos que exercem um papel no palco 
cênico do delito, ou seja, a pessoa do criminoso e, porque não 
dizer, a pessoa da própria vítima. 
 
CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO ESPECÍFICO 
Interessa-se especificamente a Criminologia em pôr a claro tudo 
o que contribui ou concorre para a existência da criminalidade. 
Para que o crime venha a eclodir é indispensável que ocorra uma 
intenção ou um ato humano. Por isso, a par do fenômeno em si 
da criminalidade, o estudo do comportamento humano deve ser 
basilar da Criminologia, pois, sendo o homem o agente do ato 
delituoso, é principalmente sobre ele que devem ser 
concentradas as pesquisas mais relevantes, já que sobre seus 
ombros atuam múltiplas causas, muitas delas desconhecidas até 
a ocorrência do crime, mas com acentuado pesona 
caracterização da origem do fato e do caráter ou da verdadeira 
natureza da vontade do criminoso. 
Ao longo do tempo, a Criminologia tem sido subdividida em 
segmentos que compreendem a Biologia Criminal, a Sociologia 
Criminal, a Psicologia Criminal, a Psiquiatria Criminal, a 
Endocrinologia Criminal, etc. De entender que tais repartimentos 
só se prestam ao aspecto didático-pedagógico de seu 
ensinamento, visto que o ideal é a fusão de todas essas partes 
6 
 
em uma só, daí advindo uma única Criminologia, forte, 
pujante, e definitiva em sua própria nomenclatura e no seu 
conteúdo doutrinário (opinião de Newton e Valter Fernandes). 
 
Conceito e Definição 
 
CONCEITO E DEFINIÇÃO 
A palavra Criminologia deriva do latim “crimen” (delito) e do grego 
“logos” (tratado). Em resumo, seria o “Tratado do Crime”. 
 
Foi utilizada, pela 1ª vez, em 1885, pelo italiano Rafael Garófalo 
(designando-a como a “ciência do crime”), contudo, já havia sido 
muito estudada e utilizada (embora não com esta denominação) 
pelos igualmente italianos Cesare Lombroso e Enrico Ferri. 
 
Para alguns, a Criminologia é o estudo do homem que delinque. 
Definindo a criminologia como o tratado do delito, confundi-la-
emos com o Direito Penal, que trata do delito, do delinqüente e 
da pena. Aliás, qualquer matéria sobre criminalidade deve 
abranger esses três elementos. 
 
A Criminologia, como não poderia deixar de ser, não é definida 
de maneira uniforme, existindo muitas e variadas definições. 
- Nelson Hungria: “Criminologia é o estudo experimental do 
fenômeno crime, para pesquisar-lhe a etiologia e tentar a sua 
debelação por meiospreventivos ou curativos”. 
- Jean Merquiset: “Criminologia é o estudo do crime como 
fenômenos social e individual e de suas causas e prevenção”. 
- Kinberg: “Criminologia é a ciência que tem por objeto não 
somente o fenômeno natural da práticado crime, como também o 
fenômeno da luta contra o crime”. 
- Edwin H. Sutherland: “Criminologia é um conjunto de 
conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da 
criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta 
delituosa e a maneira de ressocializá-lo”. 
Trata, pois, a Criminologia, da aplicação das ciências sociais e 
humanas no controle e ressocialização do criminoso, com vistas 
á prevenção da delinquência. 
 
A partir dessas afirmações, é possível e verdadeiro dizer-se que 
7 
 
o fim último da Criminologia é a promoção do homem ou a 
ascenção da condição humana. 
 
Poder-se-ia enumerar diversos outros conceitos de Criminologia 
que foram formulados pelos mais variados autores. 
 
Porém, na análise de Newton Fernandes e Valter Fernandes 
todos os conceitos até hoje formulados pecam por não incluírem 
na Criminologia o estudo da vítima, também denominado de 
vitimologia, uma vez que, a Criminologia se ocupa não apenas do 
crime e do criminoso, mas, igualmente, da vítima. 
 
Assim, na definição desses dois autores, “Criminologia é a 
ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as 
determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou 
cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do 
delinquente, e os meios laborterapêuticos ou pedagógicos de 
reintegrá-lo ao agrupamento social”. 
 
Em sentido lato, a Criminologia vem a ser a pesquisa científica do 
fenômeno criminal, das suas causas e características, da sua 
prevenção e do controle de sua incidência. 
 
A Criminologia é a ciência que pesquisa: as causas e concausas 
da criminalidade; as manifestações e os efeitos da criminalidade 
e da periculosidade preparatória da criminalidade; a política a 
opor, assistencialmente, á etiologia da criminalidade e á 
periculosidade preparatória da criminalidade. 
- Em resumo: “Criminologia é o estudo do crime, do criminoso, 
da vítima e das causas e fatores da criminalidade”. 
 
Objeto da Criminologia 
 
OBJETO 
Das várias colocações até agora feitas, verifica-se que a 
Criminologia representa: 
a) o estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais 
(ambiente) básicos da criminalidade; 
8 
 
b) o estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta 
contra o crime (tratamento e profilaxia), objetivando a 
ressocialização do delinqüente e a prevenção da criminalidade. 
Assim, podemos dizer que o objeto da Criminologia é: 
“O estudo do fenômeno natural, considerando os fatores 
individuais (personalidade) e os fatores sociais (ambiente), 
e ao mesmo tempo, a luta contra o crime, levando em 
conta a necessidade de ressocialização do delinqüente 
(tratamento) e de prevenção do crime (profilaxia)”. 
Em resumo, o objeto da Criminologia é, pois, o crime e o 
criminoso, o que a confunde, muitas vezes, com o Direito Penal, 
já que este também tem por objeto o crime e o criminoso. Já 
chegou-se até mesmo a firmar que a Criminologia seria apenas 
uma parte do Direito Penal, portanto, dependente deste. 
 
Sabe-se, contudo, que embora o Direito Penal e a Criminologia 
estudem ambos o crime, são duas ciências autônomas e 
independentes, e o enfoque dado por uma e por outra, 
relativamente ao delito, é diferente. 
 
O Direito Penal tem por objeto o crime como uma regra anormal 
de conduta, contra o qual estabelece o gravame, o castigo, a 
punição. O Direito Penal é, por assim dizer, a ciência de 
repressão social ao crime, através de regras punitivas que ele 
mesmo elabora. O seu objeto, portanto, é o crime como um ente 
jurídico, e como tal, passível de sanções. 
 
Já a Criminologia é uma ciência que tem por objeto a 
incumbência de não só se preocupar com o crime, mas também 
de conhecer o criminoso, montando esquemas de combate á 
criminalidade, desenvolvendo meios preventivos e formulando 
empenhos terapêuticos para cuidar dos delinqüentes a fim de que 
eles não venham a reincidir. 
 
Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, de repressão 
social contra o delito, através de regras jurídicas coibitórias cuja 
transgressão implica em sanções, a Criminologia é uma ciência 
causal-explicativa, essencialmente profilática, visando o 
oferecimento de estratégicas, por intermédio de modelos 
operacionais, de molde a minimizar os fatores estimulantes da 
9 
 
criminalidade, bem como, o emprego de táticas estribadas em 
fatores inibidores do conjunto do crime. 
 
O Direito Penal se preocupa com as ações e omissões que 
constituem delito e á Criminologia importa saber as causas pelas 
quais devam ser consideradas como delitos. 
 
Conseqüentemente, a primeira diferença entre o Direito Penal e a 
Criminologia, é que enquanto o primeiro nos indica que os atos 
merecem uma pena, a segunda nos indica a causa desses atos. 
 
Como segunda diferença, temos que considerar que, enquanto 
ambas as ciências estudam o delinqüente, o Direito Penal só 
indaga o grau de responsabilidade do mesmo (autor, co-autor, 
partícipe); enquanto que á Criminologia interessa conhecer o 
homem delinqüente, aspecto que mais tem preocupado as 
escolas filosóficas, ou seja, trata de compreender a 
personalidade do homem delinqüente. 
 
Assim, no que se refere ao crime, a Criminologia tem toda uma 
inequívoca atividade de verificação, de análise da conduta anti-
social, de pesquisa das causas geradora do delito, e do efetivo 
estudo e tratamento do criminoso, na expectativa de que ele não 
se torne recidivista. 
 
O objeto da criminologia é o delito isolado, a criminalidade como 
fenômeno comunitário, além das causas do crime como 
fenômeno individual e o embate contra a delinqüência. Por 
conseguinte, o homem somente diz respeito ao objeto da 
criminologia quando é o homem delinqüente, antes não. 
 
Porque delinqüente o homem e as causas porque o faz, são as 
matérias essenciais com que preocupa a Criminologia. 
 
Exato afirmar, então, que o Direito Penal e a Criminologia 
trabalham em cima da mesma matéria prima, mas a forma de 
operação, de elaboração do trabalho, é bem diferenciada, o que 
torna legítimo concluir que o objeto de uma ciência não é o 
mesmo da outra. 
 
Estas diferenças não significam que ambas as disciplinas não 
10 
 
possam entender-se; pelo contrário, completam-se, pois estão 
unidas por uma finalidade única, que é conhecer e estudar o 
delinqüente. 
 
A Criminologia não é, pois, um capítulo do Direito Penal, porque é 
essencialmente biológica, experimental e dedutiva, enquanto que 
o Direito Penal é uma ciência normativa e valorativa. 
 
A Criminologia vem injetando no Direito Penal um sentido 
biológico. A paixão irresistível, a força coercível, a coação, o 
louco ou alienado, etc, são conceitos médico-biológicos da 
Criminologia adotados pelo Direito Penal. É o que se tem 
denominado “o sentido biológico do Direito Penal”. 
 
Método 
 
MÉTODO 
Em seu livro Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica, 
ensina Vitorino Prata Castelo Branco: 
“Em geral, método é o meio empregado pelo qual o 
pensamento humano procura encontrar a explicação de um 
fato, seja referente á natureza, ao homem ou á sociedade”. 
E prossegue: 
“Só o método científico, isto o é, sistematizado, por 
observações e experiências, comparadas e repetidas, pode 
alcançar a realidade procurada pelos pesquisadores”. 
Diz, ainda, Vitorino Prata: 
“O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenômeno do 
crime como ação humana, abrangendo as forças biológicas, 
sociológicas e mesológicas que o induziram ao comportamento 
reprovável, etc.”. 
Analisando-se, ainda que perfunctoriamente, as palavras deste 
gabaritado criminólogo, deflui, que em termos de pesquisas 
criminológicas,dois seriam os métodos utilizados: 
a) biológico; 
b) sociológico 
11 
 
De fato, quando o referido autor fala em forças sociológicas e 
mesológicas, no fundo significam a mesma coisa, ou seja, algo 
ligado ao meio ambiente, ao meio social. 
Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel 
Drapkin, argumenta dizendo, inicialmente, que a Criminologia 
efetivamente usa os métodos biológico e sociológico. 
 
E, como não poderia deixar de ser a uma disciplina que estuda o 
crime como um fato biopsicosocial e o criminoso, a Criminologia 
não fica adstrita a um só terreno científico, porque este não teria, 
por si só, o condão de conseguir explicar o fenômeno 
delinquencial e a vasta caudal de causas delituógenas, dentre 
elas aquelas de natureza social, biológica, psicológica, 
psiquiátrica, etc. 
 
Por isso, a Criminologia constrói seus métodos, mas também, se 
utiliza dos métodos de outras ciências. 
 
Logo, a nova metodologia criminológica vai assentar-se na 
constituição da equipe criminológica – “team work” – (médico, 
psiquiatra, psicólogo, assistente social, educador, enfermeiro, 
etc., que tenham recebido treinamento criminológico). 
 
Os métodos de análise utilizados pela Criminologia são: 
a) relativamente aos fatores sociais, os da Sociologia; 
b) relativamente aos fatores individuais, os da Biologia, 
Psicologia, Psiquiatria, Endocrinologia,etc. 
Criminologia como Ciência 
 
A CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA 
Genericamente, considera-se ciência o conjunto de 
conhecimentos relativos á um determinado objeto, em especial os 
obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um 
método próprio. 
 
Para os filósofos, há dificuldades e divergências acerca do que 
deve ser considerado ciência. Muitos exigem que para uma 
disciplina de conhecimentos poder ser considerada uma ciência, 
12 
 
deve ter um objeto específico, seguir um método determinado e 
ter uma aplicação universa. 
 
Em decorrência disso, discute-se se a Criminologia seria ou não 
uma ciência, sob a alegação de que não possui objeto, não tem 
um método determinado, tampouco é universal. 
 
Para os que não consideram a Criminologia como ciência, esta 
carece de objeto, porquanto estuda o delito, que pertence ao 
Direito Penal. Porém, sabemos que não é bem assim, pois como 
visto, ambas as disciplinas enfocam o delito de ângulos 
diferentes. 
 
Com relação ao método, os contrários afirmam não ser a 
Criminologia uma ciência, por não ter um método determinado, 
uma vez que ela se vale de dois métodos, o biológico e o 
sociológico. Abordando o assunto em sua obra Manual de 
Criminologia, Israel Drapkin argumenta dizendo, inicialmente, que 
a Criminologia efetivamente usa os métodos biológico e 
sociológico e exemplifica: 
“se a Biologia é uma ciência, não há razão para que não o seja 
a Criminologia, que usa o seu método”. E acresce: “A 
Criminologia usa o método experimental, naturalístico, indutivo, 
para o estudo do delinqüente, o que não basta para conhecer 
as causas da criminalidade. Por isso, recorremos aos métodos 
estatísticos, históricos e sociológicos”. 
 
O fato da Criminologia usar vários métodos pode tirar-lhe a 
categoria de ciência? É claro que não. A Criminologia não é um 
campo de conhecimento empírico, que vive a carecer de método 
científico para a comprovação de suas experiências e 
experimentos. Ao contrário, ao invés de um, a Criminologia 
possui dois métodos de trabalho: o biológico e o sociológico. 
 
Por último, aqueles que negam o caráter científico à Criminologia, 
que esta não é universal, pois o que num país pode ser 
estabelecido como uma verdade incontestável, noutro poderá ser 
diferente, a ponto de existirem as chamadas Criminologia 
nórdica, européia, americana, etc., que guardariam aspectos 
diferentes entre si. 
 
13 
 
Contudo, quanto á condição de não universalidade da 
Criminologia, para ser considerada uma ciência, de recordar que, 
em Congresso Internacional de Criminologia realizado há menos 
de 20 anos em Belgrado, no país então chamado Iuguslávia, 
consensuou-se o seguinte: “A delinqüência é um fenômeno 
social complexo que tem suas próprias leis e que aparece num 
meio sociocultural determinado, não podendo ser tratada com 
regras gerais, mas particulares a cada região”. Diante dessa 
conclusão a que chegaram mais de 700 criminólogos, 
representando cerca de meia centena de países no Congresso 
Internacional antes mencionado, de aceitar ser inteiramente 
desnecessário o requisito da aplicação universal para erigir a 
Criminologia á categoria de ciência. 
A esse respeito, aliás, é oportuno citar ainda uma vez Vitorino 
Prata, que reconhecendo a condição de ciência da 
Criminologia, sublinha: 
“Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo, 
os crimes têm características diferentes em cada 
continente,devido á cultura e á história própria de cada um. Há, 
pois, uma Criminologia brasileira, como uma Criminologia 
chinesa, uma Criminologia iuguslava, enfim, uma Criminologia 
própria de cada raça ou nacionalidade”. 
Destarte, malgrado alguns que lhe neguem o caráter científico, 
aflora pacífico que a Criminologia é ciência. Ciência que aborda o 
acontecimento delitivo em seus aspectos individual e anti-social e 
na sua causação, inclusive destacando seus provocativos no 
intento de atenuar a incidência delituosa. 
Relação da Criminologia com outras Ciências 
 
RELAÇÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS 
Não haverá qualquer exagero em afirmar que a Criminologia 
praticamente se relaciona com todas as ciências e áreas do 
conhecimento humano, desde que propiciadoras de maior 
percepção ao fenômeno do cometimento criminal e a 
personalidade do delinquente. 
Verdadeiramente, a Criminologia se vincula a todas as demais 
ciências que se ocupam do crime, do criminoso e da pena. Por 
isso, todas essas ciências, e inclusive a Criminologia, compõem a 
chamada “Enciclopédia das Ciências Penais” que, consoante 
14 
 
a lúcida compreensão de Luis Jimenez de Asúa, subdivide-se 
em 4 grupos, a saber: 
a) Ciências Histórico-Filosóficas: História do Direito Penal, 
Filosofia do Direito Penal e Direito Penal Comparado; 
b) Ciências Causal-Explicativas: Criminologia, Antropologia 
Criminal, Sociologia Criminal, Biologia Criminal, Psicologia 
Criminal e Psicanálise Criminal; 
c) Ciências Jurídico-Repressivas: Direito Penal, Direito 
Processual Penal e Direito Penitenciário; 
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa: Penologia, Política 
Criminal, Medicina Legal, Psiquiatria Forense, Polícia Judiciária 
Científica, Criminalística, Psicologia Judiciária e Estatística 
Criminal. 
As disciplinas integradoras da Enciclopédia das Ciências Penais, 
ou “Síntese Criminológica”, destinam-se à perquirição, 
enfrentamento e aplicação interativa dos princípios e normas dos 
três elementos do episódio criminal propriamente dito, a saber: o 
crime, o criminoso e a pena. 
Não será despiciendo recordar a conceituação sucinta das 
ciências que integralizam a “Síntese Criminológica”. Vejamos: 
a) Ciências Histórico-Filosóficas: 
- História do Direito Penal: Vem a ser a pesquisa conexa dos 
fenômenos jurídico-penais de cada povo; 
- Filosofia do Direito Penal: se resuma na análise e crítica do 
Direito Penal naquilo pertinente ao sseus princípios, causas e 
modificações; 
- Direito Penal Comparado: é a pesquisa sistematizada e em 
cotejo das legislações penais dos diversos países; 
b) Ciências Causal-Explicativas: 
- Criminologia: é a ciência que estuda a causação do fenômeno 
criminal; 
- Antropologia Criminal: perquire as características orgânicas e 
biológicas do delinqüente; 
- Biologia Criminal: estuda o crime como acontecimento da vida 
do indivíduo; 
- Sociologia Criminal: pesquisa o fenômeno delituoso sob o 
prisma da influencia ambiental na conduta criminosa; 
- Psicologia Criminal: estudaos caracteres psíquicos do 
delinqüente que influem na gênese do crime; 
15 
 
- Psicanálise Criminal: atenta para a personalidade do criminoso 
e para os processos íntimos que oexcitam á prática delitiva. 
c) Ciências Jurídico-Repressivas: 
- Direito Penal: é a ciência jurídica de reação social contra o 
crime; 
- Direito Processual Penal: é a atividade estatal de tutela penal 
através de normas próprias; 
- Direito Penitenciário: representa o compacto de regras jurídicas 
reguladoras da atividade jurídico-carcerária. 
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa: 
- Política Criminal: tem por finalidade a análise e a crítica das leis 
penais a partir de propostas criminológicas; 
- Penologia: tem por objeto o estudo da pena, das medidas de 
segurança e da funcionalidade das instituições destinadas á 
readaptação dos egressos dos presídios; 
- Medicina Legal: tem por propósito a aplicação dos 
conhecimentos científicos na esfera da Justiça Criminal; 
- Criminalística: estuda as formas como se cometem os delitos, 
cuidando da aplicação dos recursos técnicos para sua 
constatação e perquirição; 
- Psiquiatria Forense: tem por mira o estudo dos distúrbios 
mentais ensejadores de problemas jurídico-penais; 
- Psicologia Judiciária: estuda o comportamento do indivíduo 
acusado da perpetração do crime; 
- Polícia Judiciária Científica: se incumbe da pesquisa dos 
vestígios e indícios encontradiços no palco típico; 
- Estatística Criminal: tem por fim a observação etiológica do 
delito com vistas ao planejamento e avaliação do desempenho 
institucional contra a criminalidade. 
Depreende-se do anteriormente explicitado, quando se fala em 
“Enciclopédia das Ciências Penais”, que a expressão galardoa a 
própria Criminologia, naquilo que é ela considerada uma ciência 
que abrange praticamente todas as disciplinas criminais. 
A Criminologia teria, por assim dizer, uma concepção 
enciclopédica, eis que se utiliza do campo de labor de outras 
ciências criminais. Daí também ser chamada “ciência de síntese”, 
porque sua base científica está fincada nas contribuições 
proporcionadas pelas denominadas ciências do homem 
(Antropologia, Biologia, Sociologia, Psicologia, Psiquiatria, etc.) 
quando voltadas para a pesquisa do delito. 
16 
 
Efetivamente, para atender sua finalidade, a Criminologia não 
pode atuar isoladamente, havendo que recorrer ao objeto de 
outras ciências, mesmo porque o conhecimento não se confina 
nos limitativos de uma única ciência. 
Mas qual a relação da Criminologia com todas estas 
ciências? 
a) Criminologia e Direito Penal: É ponto pacífico que a 
Criminologia se relaciona fundamentalmente com o Direito Penal, 
eis que, embora autônomas, são ciências acentuadamente 
correlatas, limítrofes e, quiçá, complementares. A par disso, é o 
Direito Penal que delimita o objeto da Criminologia, fornecendo-
lhe, até, o juízo valorativo do fato criminoso.É a Criminologia, por 
outro lado, que oferta ao Direito Penal os subsídios para o 
julgamento do fato criminoso. Destarte, a Criminologia é ciência 
propedêutica do Direito Criminal. Não obstante, enquanto o 
Direito Penal tem como objeto a culpabilidade, o objeto da 
Criminologia é a periculosidade. Enquanto o Direito Penal encara 
o crime como fato antijurídico, a Criminologia o vê como uma 
conduta anti-social. Enfim, o Direito Penal é ciência cultural, 
valorativa, normativa e finalista. A Criminologia é ciência causal-
explicativa,de observação, de síntese, de pesquisa teórica. 
b) Criminologia e Direito Processual Penal: Tem ligação com 
este na medida em que ele regulamenta a verificação do ato 
delituoso e faz o exame da personalidade do autor típico. 
 
Cesare Bonesana, o Marquês de Becaria, dizia que a Justiça 
para ser justa deve ser rápida, mas quando se vê um homem 
chegar na penitenciária condenado há 5 anos, depois de haver 
estado no cárcere no decorrer de um processo que durou 4 anos, 
esta Justiça não pode ser justa. 
 
É preciso meditar sobre a imensa injustiça que significa uma 
absolvição depois de muitos anos de cárcere, pois se bem que 
existe uma indenização de caráter constitucional (art. 107 da CF), 
na realidade esta só existe teoricamente. Embora existem não 
poucos casos de prisões ilegais, raramente é requerida e 
concedida indenização, como no processo dos “Irmãos Naves”, 
injustamente condenados por homicídio em que a suposta vítima 
apareceu viva após muitos anos,tendo um dos irmãos 
condenados morrido na prisão. Foi concedida a indenização, 
17 
 
confirmada pelo STF. Mas na grande maioria dos casos, as 
pessoas sofrem as injustiças sem nada pleitear. 
c) Criminologia e Direito Penitenciário: Nascido na Itália, com 
Giovanni Novelli, este Direito é muito novo e refere-se à aplicação 
da pena. Pretende exercer todas as medidas destinadas á 
aplicação individual da lei penal, a cada delinquente em 
particular, objetivando a ressocialização do delinquente. 
d) Criminologia e Antropologia Criminal: Pesquisando a 
exigência de leis que regem a criminalidade e também a 
influência de fatores individuais na gênese do delito, a 
Criminologia obrigatoriamente tem de invocar a Antropologia 
Criminal, que permite totalizar o fenômeno delinquencial em seus 
múltiplos aspectos, desde os biológicos aos psicossociais, como 
um todo. A Antropologia é a base da Criminologia, mormente 
agora que foi revigorada pela Endocrinologia e pela Genética. 
e) Criminologia e Biotipologia Criminal: Esta projeta uma 
constituição delinquencial. Semelhante á Antropologia. 
f) Criminologia e Sociologia Criminal: A Sociologia nos 
ensina a organização dos grupos sociais, que são diferentes de 
acordo com a época e a localização, o que também é uma fase 
importante para o conhecimento do homem delinquente. Assim, a 
Criminologia relaciona-se com a Sociologia na medida em que 
aquela demonstra que a personalidade criminosa é o somatório 
de fatores biológicos e sociológicos em seu mais amplo sentido, 
integrados numa unidade psicossomática. 
 
A Sociologia Criminal é a ciência que cogita do fenômeno social 
da criminalidade. 
 
Tão grande afinidade há entre a Sociologia e a Criminologia, que 
uma das principais teorias criminológicas, a que busca explicar a 
gênese dos delitos, leva o título de Teoria Sociológica. Entende 
esta teoria que as pressões e as influencias do ambiente social 
geram o comportamento delinqüente. A Sociologia Criminal toma 
o crime como um “fato natural da vida em sociedade”, estudando-
o como expressão de certas condições do grupamento social, 
ocupando-se com os fatores exógenos na causação do delito, 
bem como, suas conseqüências para a coletividade. 
g) Criminologia e Psicologia Criminal: A Psicologia Criminal 
propõe-se desvendar o caráter e as tendências do criminoso, 
indicando os rumos necessários à avaliação de sua 
18 
 
periculosidade e estudando a incidência da fenomenologia 
psíquica da Criminalidade. Como a causa dos crimes reside, 
grande número de vezes, em transtornos mentais, transitórios ou 
permanentes, as alterações psíquicas interessam á Criminologia 
(psicoses, neuroses, psicopatias, oligofrenias, etc), fornecendo á 
Criminologia matéria para o estudo dos transtornos mentais dos 
criminosos. 
h) Criminologia e Psiquiatria Criminal: A função da 
Psiquiatria Criminal centraliza-se na terapia, uma vez que a 
profilaxia é mais cabível à Psicologia Criminal. 
i) Criminologia e Endocrinologia: É de vital importância a 
pesquisa da interação endócrino criminal, permissível pela 
ocorrência de anomalias endócrinas dos criminosos. 
j)Criminologia e Demografia: A Criminologia busca nos 
movimentos da massa humana (nascimentos, casamentos, 
óbitos) as causas que influem sobre a personalidade do homem 
delinquente. 
l)Criminologia e História: A História é uma ciência que nos 
serve para compreender o presente e o futuro, baseando-se nopassado; através dela conhecemos o passado, compreendemos 
o presente e vislumbramos o futuro. 
 
A Sociedade e a Natureza do Delito como Fenômeno Individual e Coletivo 
 
A SOCIEDADE A E NATUREZA DO DELITO COMO FENOMENO INDIVIDUAL E COLETIVO 
a) O aparecimento da vida e do homem 
 
A doutrina do pecado original é um dos princípios mais poderosos 
da crença hebraico-cristã. Segundo a concepção cristã, o homem 
era inocente e bom e o mundo um jardim (do Éden), um paraíso. Mas o 
homem foi tentado, sucumbiu e nunca mais irá recuperar sua 
inocência original. 
 
São Paulo declarou que o homem é carnal e pecador, 
acrescentando: “em sua carne habitam coisas ruins e o pecado habita nele”. Aliás, essa idéia da 
maldade como uma das características do ser humano se 
encontra também no campo da Biologia com Charles Darwin, 
como ainda no da Psicologia e da Psicanálise, com Sigmund 
Freud. 
 
Contestando a perspectiva cristã do aparecimento da vida e do 
19 
 
homem, e do próprio deusismo, Darwin estabelece outra 
hipótese sobre a origem do homem, defendida em suas obras On 
the origen of Species e The Descent of Main, escritas em 1859 e 
1871, respectivamente. Darwin entendia que o homem evoluiu a 
partir de animais não humanos, sofrendo mutações e percorrendo 
um longo caminho até chegar ao estágio humano. É o que prega 
em sua “Teoria da Evolução”, contestada veemente pelos 
representantes da igreja, mas cuja influencia na classe intelectual 
até hoje é bastante razoável. 
 
Conquanto não aceita a teoria darwiniana sobre a origem do 
homem, também existe uma certa controvérsia em se admitir 
cegamente que a espécie humana está imersa em pecado devido 
á sua herança de Adão e Eva. 
Importa, em suma, que o universo é resultado de uma criação de 
Deus com finalidade. 
b) A Sociedade e o Crime 
 
Durkhein afirmava que “os fenômenos sociais são fatos naturais e 
devem ser estudados pelométodo natural, isto é, pela observação 
e, quando for possível, pela experimentação”. 
 
Ora, o crime é um fenômeno social e a criminalidade depende do 
estado social. Tenha o crime na sua gênese um fator 
exclusivamente endógeno (biológico) ou exclusivamente exógeno 
(meio ambiente), ou a combinação de ambos os fatores, é 
inegável que o crime é uma manifestação de vida coletiva, não 
fosse a existência de apenas duas pessoas considerada um 
grupo social. 
 
Não pode existir criminalidade fora de um estado social qualquer. 
Sendo o homem um animal gregário, sua vida em sociedade não 
implica, porém, em que não haja uma unidade de consciência 
social, pois esta nada mais é que a resultante das consciências 
individuais, que vão compor a maioria da unidade social. 
 
A noção de uma igualdade humana, dentro do grupo, é 
radicalmente falsa. A natureza animal não conhece a igualdade e 
toda filosofia zoológica repousa na desigualdade dos seres vivos 
e, entre eles, as desigualdades mais acentuadas são as que se 
verificam no ser humano. 
20 
 
 
A desigualdade social é que induz á situações de conflitos, que 
podem terminar em criminalidade, entendo-se esta como todos 
os atos que constituem infração penal. 
 
A criminalidade, que não se concebe fora da vida grupal, nasce e 
se desenvolve dos interesses colidentes de seus componentes. É 
como se a criminalidade fosse uma oposição do indivíduo á 
sociedade. Por isso que também deriva de interesses 
personalíssimos. 
 
O crime, social na sua etiologia, visto que suscitado pela 
existência em sociedade, é antisocial nos seus efeitos. 
Distingue-se, assim, a criminalidade, por firmar um conflito de 
vontades: de um lado a vontade da sociedade, soma das 
vontades de seus integrantes ou resultado da volição da maioria, 
e, de outro lado, a vontade individual de quem perpetra o crime, 
ou seja o delinqüente. 
 
O crime, portanto, é o produto de dois fatores: o indivíduo 
(criminoso) e a sociedade. 
c) O Fato criminoso 
 
E. Glover, na obra The Roots of Crime, abordando o criminoso 
nato, comenta: “o crime representa uma das parcelas do preço 
pago pela domesticação de um animal selvagem por natureza(o 
homem), ou, é o resultado de sua domesticação mal sucedida”. 
 
Infere-se, desse conceito, que o homem, não sendo tratado como 
ser humano, transforma-se no mais violento e perigoso dos 
animais, posto que é o único que raciocina. 
 
Incontestável é que o crime emana, primordialmente, de fatores 
sociais e, como tal, adquire a imagem de uma fenomenologia 
individual e coletiva. 
d) O crime como fenômeno individual e coletivo 
 
As causas imediatas do crime se resumem nas condições do 
meio em que ele se verificou e na personalidade de seu autor no 
momento da ação. 
 
21 
 
As condições ambientais e circundantes, na ocasião do crime, 
abrangem as circunstancias que permitiriam o desencadeamento 
do próprio ato, entre elas aquelas que tornaram permissível o seu 
cometimento e, por isso, prevalentes, como também as que 
teriam funcionado como inibidora do evento, mas que foram 
reprimidas. Assim, a miséria (que via de regra é a responsável 
por grande gama de delitos, figurando quase sempre como 
preponderante sobre circunstancias outras) pode, em 
determinada situação, não prevalecer, como o simples fato do 
indivíduo que iria praticar o crime e, á última hora, deixou de fazê-
lo por temor ao respectivo castigo ou pena que, uma vez 
descoberto,viria a sofrer. O castigo funcionou, aí, como freio 
inibidor. 
 
A outra causa do crime, ou seja, a personalidade do indivíduo na 
ocasião em que comete o crime, consiste naquilo que permite 
uma predição de como uma pessoa agirá em uma determinada 
situação. Essa personalidade do homem, com suas vivencias 
atuais e, de outra forma, sempre condicionada pelo modo de ser 
relativamente constante ou habitual do indivíduo, aí residindo as 
características dessa decantada personalidade. No fato, por 
exemplo, do marido que surpreende a mulher em adultério, a 
reação difere de um para outro indivíduo. Existem aqueles que 
reagem violentamente (matando um ou ambos), e aqueles que 
enfrentam a tragédia passivamente (separação, perdão, 
reconciliação). 
 
 Todos esses mais diversos comportamentos são 
comportamentos justificados pelas vivências e pela forma de ser 
de cada um desses indivíduos, resumidas na personalidade de 
cada um. Essas capacidades ou predisposições, ou tendências, 
denominam-se disposições individuais. É evidente que se a 
disposição daquele que optou pelo crime, no caso do adultério, 
por exemplo, for de tal monta que revela tendência para a prática 
futura de outros delitos, ele deve ser encarado como um indivíduo 
perigoso para a sociedade. Mas, nem sempre é assim, pois, o 
homicida por adultério, tem um prognóstico relativamente 
favorável no terreno da criminalidade, visto que sua infração 
resultou de um forte abalo moral que, provavelmente, não repetir-
se-á. O mesmo não se pode dizer do estelionatário habitual, no 
qual a mentira fraudulenta praticamente passou a fazer parte de 
22 
 
sua segunda natureza e até de sua personalidade. 
 
De frisar que, na eclosão do crime, a personalidade e suas 
disposições que conduzem á prática do crime, são o resultado de 
uma evolução complexa, que vem desde o nascimento do 
indivíduo, o qual passa a possuir certas disposições, chamadas 
de tendências hereditárias, vindo a desenbocar na criminalidade 
hereditária. 
 
Goring sustentou que o elemento herdado não é a criminalidade 
como tal, mas sim, a inteligência deficiente. 
 
Na realidade, não há provas de que exista o denominado 
“criminoso nato”. Ninguém tem uma hereditariedade tal que deva 
ser inevitavelmente um criminoso, independentemente das 
situações em que é colocado ou das influencias que sobre ele 
exercem. Um temperamento fleugmático, que permite supor ser 
herdado, pode preservar uma pessoa deser criminosa num 
ambiente, e torná-la criminosa noutro. Na formação da 
causalidade devem ser incluídos tanto o traço individual como a 
situação; nem um nem outra atuam isoladamente na produção do 
delito. Toda pessoa é um “criminoso potencial”, mas são 
imprescindíveis contatos e direção de tendências para torná-la 
criminosa ou desrespeitadora da lei. 
 
Ressalte-se, então, que as tendências hereditárias, constituídas 
por um mecanismo endógeno, têm a influenciá-las, por outro 
lado, o meio ambiente, isso ao longo de toda a vida do indivíduo. 
No campo da atuação do meio sobre as tendências hereditárias, 
devem ser consideradas, principalmente, a alimentação, a 
educação no lar e na escola, a influencia de parentes e outras 
pessoas, a convivência comunitária, a condição econômica, etc. 
A par disso, de realçar as influencias cósmicas, do clima, os 
hábitos de higiene e as condições de vida, as intoxicações, o 
alcoolismo, enfim, o chamado meio de desenvolvimento do 
indivíduo. 
 
Tratado o crime como fenômeno individual, assinale-se que a 
vida do homem em grandes centros urbanos implica em que ali 
sejam perpetrados inúmeros crimes. Isso demonstra, 
indesmentivelmente, o caráter de fenômeno coletivo da 
23 
 
criminalidade. Isso aponta a criminalidade como fenômeno da 
vida societária, pouco valendo o argumento daqueles que, 
procurando combater o caráter de fenômeno coletivo da 
delinqüência, aduzem que esta outra coisa não é senão a 
somados crimes individuais. 
Divisão e História da Criminologia 
 
DIVISÃO DA CRIMINOLOGIA: 
 
CRIMINOLOGIA TRADICIONAL: 
1º - Escola Clássica 
2º - Escola Positiva 
3º - Escola Socialista 
 
CRIMINOLOGIA NOVA (CRÍTICA) 
1º - Microcriminalidade e Macrocriminalidade: 
 - Crime Organizado 
 - Crime do Colarinho Branco 
 - Crime de Lavagem de Dinheiro 
2º - Teoria do Labelling Approach 
3º - Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory) 
 
CRIMINOLOGIA TRADICIONAL: 
 
HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA: 
 
1º - ESCOLA CLÁSSICA: Vigora o Direito Natural 
(Jusnaturalismo), pautado na fé e na crença nos deuses. O 
homem tem o livre arbítrio, ou seja, somente comete o crime se 
quiser. O crime atenta a ira dos deuses e, portanto, a pena, aqui, 
é uma espécie de castigo, de punição, de penalidade. 
 
Esta Escola apresenta 2 Fases: 
 
1ª) FASE EMPÍRICA OU MITOLÓGICA (ATÉ O SÉCULO XV): 
 
Não pretendemos localizar a gênese da Criminologia na época 
pré-histórica, porque até 1875, (quando Cesare Lombroso dá 
início á Antropologia Criminal, publicando a famosa obra L”Uomo 
Delinqüente) o seu estudo não tem importância maior. O que se 
24 
 
tem, até então, são idéias de pensadores, algumas válidas até os 
dias de hoje. (Platão, em uma de suas obras, já se referia ao furto 
famélico).Este período pode subdividir-se em: 
 
Este período pode subdividir-se em: 
 
a) Antiguidade remota; 
b) Antiguidade grega (Hipócrates, Platão e Aristóteles); 
c) Idade Média. Teólogos e sacerdotes (especialmente S. Tomás 
de Aquino). Ciências Ocultas. 
 
a) Antiguidade remota 
 
Nesta época não se encontra nada de concreto sobre 
Criminologia, nem entre hindus, sírios, fenícios, hebreus, etc. 
Somente existem algumas normas, como os “Tabu”, que deviam 
ser aplicadas para a segurança do grupo. Diante da transgressão 
de qualquer dessas normas surgia a reação instintiva de defesa, 
que correspondia á pena atual. 
 
Destaque deve ser dado ao famoso Código de Hamurabi 
(Babilônia), do Imperador Hamurabi (1728-1686 a.C), que 
possuía dispositivo punindo o delito de corrupção praticado por 
altos funcionários públicos. 
 
Possuindo alguns aspectos punitivos, também destaca-se a 
legislação de Moisés (séc. XVI a.C), parte integrante dos lIvros da 
Bíblia. 
 
Confúcio (551-478 a.C) com a reflexão: “tem cuidado de evitar 
os crimes para depois não ver-te obrigado a castigá-los”, 
demonstra o conhecimento da pena como gravame á uma má 
ação, o que, induvidosamente, no mínimo, implica no 
entendimento de algo que, bem mais tarde, viria a ser 
preocupação da Criminologia. 
 
b)Antiguidade grega (ou pagã) 
 
Entre os gregos citam-se muitos pensadores que emitiram 
opiniões ou conceitos de inegável fundamento ou inspiração 
criminológica: 
25 
 
 
- Protágoras (485-415 a.C) sustentou o caráter preventivo da 
pena, falando no seu aspecto de servir de exemplo e não de 
expiação ou castigo, opinião que faz por conferir-lhe, talvez, a 
condição de precursor da Penologia, um dos ramos da 
Criminologia, que se ocupa com o fundamento e aplicação das 
penas como medida de repressão e defesa da sociedade. 
 
- Sócrates (470-399 a.C), pregador e grande oráculo grego, 
possuvelmente o homem mais importante que o mundo já 
conheceu mercê de sua sabedoria e humildade, e que, 
infelizmente, não legou nenhuma obra escrita para a posteridade, 
disse, através de Platão, divulgador de seus pensamentos, que 
“se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos 
como não reincindirem no crime, dando a eles a instrução e a 
formação de caráter de que precisavam”. 
 
Hipócrates (460-355ª.C), conhecido como o “Pai da Medicina”, 
em sua obra Aforismos, emitiu conceito irretorquivelmente 
criminológico, ao dizer que “todo o vício é fruto da loucura”, 
afirmando, pois, que “todo o crime é fruto da loucura”. O delito, 
para Hipócrates, era um desvio anormal da conduta humana. 
 
- Platão (427-347 a.C), ao afirmar que “o ouro do homem 
sempre foi o motivo de seus males”, na obra A República, 
também emitiu conceito criminológico, ao pretender demonstrar 
que a ambição, a cobiça, a cupidez davam origem á 
criminalidade, ou seja, fatores econômicos são desencadeantes 
de crimes. Fundamentava a criminalidade em causas 
econômicas. 
 
Apregoava, outrossim, Platão, que o meio, as más companhias, 
os costumes dissolutos, podem converter as pessoas 
inexperientes, os jovens , em criminosos. Portanto, o criminoso é 
um produto do ambiente. 
 
Dizia que o criminoso era muito parecido com um doente, e que 
por isso, deveria ser tratado a fim de ser reeducado ou curado, se 
possível; e eliminá-lo do pais, se não fosse possível a cura. 
 
Platão foi o 1º a enfatizar o aspecto intimidativo da pena. Não se 
26 
 
castiga porque alguém delinquiu, mas para que ninguém 
delinqua. 
 
- Aristóteles, em sua obra Política, tal como Platão, 
fundamentava a criminalidade em causas econômicas. Também 
afirmava que os delitos maiores não são cometidos para adquirir 
o necessário, mas o supérfluo. Isto, podemos constatar na vida 
diária como uma verdade incontestável. 
 
Em sua obra Retórica, Aristóteles estudou o caráter dos 
delinquentes, observando uma freqüente tendência á 
reincidência. 
 
c) Idade Média 
 
Inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 
d.C, quando os denominados povos bárbaros o conquistaram, até 
a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do 
Oriente, pelos turcos, em 1453, durante, portanto, nove séculos. 
 
Nesta época os escolásticos e os “doutores da igreja” não se 
preocupavam com o problema da criminalidade, até o surgimento 
de São Tomás de Aquino (1226-1274), aquele que viria a ser o 
grande criador da chamada “Justiça Distributiva” (que manda dar 
a cada um aquilo que é seu, segundo uma certa igualdade) e 
que, na Summa Contra Gentiles, afirmara que “a pobreza 
geralmente é uma incentivadora do roubo” e, na Summa 
Theológica, defendeu o chamado “furto famélico” que, nos dias 
atuais, na legislação penal brasileira, é consagrado como “estado 
de necessidade”, uma das quatro excludentes de crime. 
 
No século XIII, Afonso X, O Sábio, no Código das 7 Partidas, dá 
uma definição de assassintao e fala do crimen proditorium 
(premeditado) e do crimen sicatorium (mediante remuneração). 
 
Hoje, tais circunstâncias atuam como qualificadoras do delitode 
homicídio ou como agravantes: 
Vejamos. 
 
Art. 121, § 2º, CP (Homicídio Qualificado) 
I- mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro 
27 
 
motivo torpe (crimen sicatorium) 
IV- á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou 
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da 
vítima. 
 
Art. 61 CP. São circunstancias que sempre agravam a pena, 
quando não constituírem ou qualificarem o crime: 
II. ter o agente cometido o crime: 
a) por motivo fútil ou torpe; 
c) á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou 
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da 
vítima. 
 
- Ciências Ocultas: Durante o período de transição da Idade 
Média para os chamados Tempos Modernos, ou seja, do século 
XIV ao século XVI, cita-se a influencia das denominadas “ciências 
ocultas” sobre as concepções do que viria a ser, bem mais tarde, 
conhecida como Criminologia. 
 
Em seu livro, Manual de Criminologia, chamando-as de “pseudo-
ciências”, Israel Drapkin relaciona as seguintes “ciências ocultas”: 
a Astrologia, a Oftalmoscopia, a Metoposcopia, a Quiromancia, a 
Fisiognomia, a Frenologia e a Demonologia. Vejamos cada uma 
delas: 
 
- Astrologia: estuda o destino e o comportamento do homem 
pela movimentação das constelações localizadas na faixa do 
Zodíaco; 
 
- Oftalmocospia: antecessora da Oftalmologia e da Irilogia, 
estuda o caráter do homem pela íris; 
 
- Metoposcopia: estuda o caráter do indivíduo pelo exame e 
observação das rugas da fronte; 
 
- Quiromancia: estuda o caráter do indivíduo com base na 
análise de seu passado, o que é feito pela “leitura” das linhas das 
mãos, prevendo, então, o futuro do indivíduo. 
 
- Fisiognomia: estuda o caráter do indivíduo pelo traços 
fisionômicos (rosto). 
28 
 
 
- Frenologia: Originada da Fisiognomia, estuda o caráter do 
indivíduo pela conformação craneana. Recorda, á esse respeito, 
Israel Drapkin que, em Nápoles, o Marquês de Moscardi decidia, 
em última instância, os processos que até ele chegavam; a pena 
que sempre aplicava era de morte ou de prisão perpétua e 
terminava as sentenças com os seguintes dizeres: “ouvidas 
acusação e defesa e examinada a tua face e cabeça”, e 
prolatava, sem seguida, a sentença condenatória. 
 
- Demonologia: estuda os indivíduos pretensamente possuídos 
pelo demônio. Esta ciência propiciou o aparecimento, na Idade 
Média, da Psiquiatria. Naquela época, eram considerados como 
possuídos pelo demônio os loucos e os portadores de alienação 
mental (esquizofrênicos, epiléticos, etc), que eram 
sistematicamente caçados e encarcerados, quando não 
sacrificados pelos terríveis Tribunais da Inquisição espalhados 
pelo mundo. O mau comportamento do homem ou a sua má 
conduta, era interpretado como um morbus diabolicus, uma 
enfermidade diabólica, e os acometidos por ela tinham por 
remédio a queima pelo fogo purificador de uma fogueira humana. 
 
2ª) FASE DOS PRECURSORES DE LOMBROSO 
(RENASCIMENTO ATÉ 1875) 
 
Antes do aparecimento de Lombroso, que dá início ao período da 
Antropologia Criminal, do século XV até 1875, houve uma 
enorme gama de autores que podem ser considerados 
precursores da Criminologia. Entre eles destacam-se: 
 
1- Filósofos e pensadores, especialmente dos séculos XVI, XVII, 
XVIII; 
2- Penólogos e penitenciaristas; 
3- Fisiognomistas; 
4- Frenólogos; 
5- Psiquiatras e médicos de prisões. 
 
1- Filósofos e pensadores: 
 
a) Thomas Morus (1478-1535): publicou Utopia (obra de 
grande importância para estudos e consultas até os dias de hoje), 
29 
 
onde descreve a enorme onda de criminalidade que assolava a 
Inglaterra nessa época. Em sua obra, Morus imaginava uma 
sociedade idílica (e essa era sua utopia), onde um governo 
organizado da melhor maneira proporcionaria boas condições de 
vida a um povo, que assim seria equilibrado e feliz. Morus dizia 
que em um país, quando o povo é miserável, a opulência e a 
riqueza ficam em poder das classes superiores e essa situação 
economicamente antípoda faz gerar um maior nº de crimes. 
Portanto, Morus já sinalizava o fator econômico como uma das 
causas da criminalidade. Morus propugnava por penas menos 
rigorosas e que elas fossem correspondentes á natureza dos 
delitos. Ele foi o 1º a expor a necessidade de graduar as penas 
proporcionalmente aos delitos. 
 
b) Martinho Lutero: influenciador de muitas revoltas 
camponesas na Alemanha, foi o 1º autor a distinguir uma 
criminalidade rural e outra urbana. 
 
c) Francis Bacon: admitia como causas determinantes da 
criminalidade, fenômenos socioeconômicos, no que foi 
acompanho por René Descartes. 
 
2-Penólogos e Penitenciaristas 
 
No início do século XVIII, não existiam propriamente prisões e as 
que havia mantinham-se em péssimas condições. Os juízes eram 
unilaterais e arbitrários. A confissão era a rainha das provas 
(regina probatione), obtida através de torturas. Os primeiros 
aspectos de prisões, que podem ser considerados como 
precursores das atuais, estabeleceram-se em Amsterdam 
(Holanda) em 1611. Os detentos eram submetidos à trabalhos 
forçados sem nenhuma utilidade prática, como moer pedras, 
extrair areia, etc. Contra este estado de coisas levantaram-se 
filósofos e humanistas, dentre eles: 
 
a) Montesquieu: escreveu a famosíssima obra O Espírito das 
Leis (L’esprit des lois), onde proclamava que o bom legislador 
era aquele que se empenhava na prevenção do delito, não 
aquele que simplesmente se contentasse em castigá-lo. “Ao 
invés de funcionar como castigo, a pena deveria ter um sentido 
reeducador”, dizia ele. 
30 
 
 
b) Jean Jacques Rousseau: em sua obra de maior importância 
e divulgação, Contrato Social, assevera que, se o Estado for bem 
organizado,existirão poucos delinquentes e na obra Enciclopédia, 
diz que “a miséria é a mãe dos delitos”. 
 
c) Voltaire: dizia que o roubo e o furto são os delitos do pobre. 
Foi um dos primeiros a advogar o trabalho para os apenados. 
 
d) Jeremias Bentham: é o criador da doutrina do 
“utilitarismo, cujo lema é: “o maior bem estar para o maior 
número”. Nesta doutrina está envolvida a maior parte dos 
princípios da profilaxia da criminalidade. Bentham foi o 1º a 
referir-se á certas medidas preventivas do delito (substitutivos 
penais). 
 
e) John Howard: preocupou-se com especial devoção à 
melhoria das prisões. Visitou inúmeras prisões pela Europa, vindo 
a falecer de uma peste que adquiriu em uma delas. Escreveu 
uma importante obra sobre as prisões, denominada “The state of 
prison”, O Estado das Prisões. Howard é considerado o criador 
do sistema penitenciário. 
 
f) César Bonesana, “Marquês de Beccaria” (1738-1794): 
Escreveu a famosa obra Dos Delitos e das penas (Dei Delliti, 
Delle Pene), obra clássica e de leitura obrigatória nos dias atuais 
à todos aqueles que se interessam por criminologia. 
 
Beccaria nasceu em Milão, Itália, e teve a audácia, aos 27 anos 
de idade, de afrontar os costumes penais e as arbitrariedades da 
Justiça Criminal de seu tempo, publicando a obra Dos Delitos e 
das Penas na cidade de Livorno, de forma clandestina, temendo 
possíveis represálias. Tal livro causou muito impacto, sendo 
veemente atacado por todos aqueles que, de uma forma ou de 
outra, foram por ele atingidos ou porque não concordassem com 
suas proposições. 
 
Sua obra é um protesto contra o injusto, cruel e arbitrário 
procedimento da Justiça Criminal. Em um dos capítulos finais, 
dizia: “Para que todo o castigo não seja um ato de violência 
exercido por um só ou por muitos contra um cidadão, deve 
31 
 
essencialmente ser público, pronto, necessário, proporcional ao 
delito, ditado pelas leis e o menos rigoroso possível, atendidas 
todas ascircunstancias do caso”. 
 
Seus principais postulados são: 
- A atrocidade das penas opõe-se ao bem público (Princípio da 
humanização das penas); 
- Asacusações não podem ser secretas (Princípio da 
Publicidade); 
- As penas devem ser proporcionais aos delitos (Princípio da 
Proporcionalidade das Penas); 
- As penas devem ser moderadas; 
- As penas devem ser previstas em lei (Princípio da Legalidade, 
da Anterioridade ou da Reserva Legal); 
- Somente os magistrados é que podem julgar os acusados 
(Princípio da Jurisdicionalidade); 
- Não se pode admitir a tortura do acusado por ocasião do 
processo (Princípio da Proibição de tortura, da Humanidade e da 
Dignidade); 
- O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença 
condenatória (Princípio da Presunção de Inocência); 
- Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos; 
- Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem 
de banimento. 
- O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir 
que ele reincida e servir de exemplo para que os outros não 
venham a delinqüir; 
 
3- Fisiognomistas: 
 
Trata-se de uma ciência que procura estudar o indivíduo pela 
análise de suas expressões fisionômicas, ou seja, de seu rosto. 
Entre os principais fisiognomistas, destaca-se Charles 
Darwin (1809-1822), criador da famosa “Teoria da 
Evolução” (a evolução modifica o homem), e que trouxe 
inegável importância no que diz respeito á origem do homem, 
sendo que suas idéias foram influências para Lombroso, 
sobretudo quando este aborda sobre o atavismo, o qual é um 
conceito darwiniano. 
 
4 - Frenólogos: 
32 
 
 
A Frenologia é uma ciência que estuda o indivíduo não só com 
base nas expressões fisionômicas, mas, também, com base na 
configuração do crânio. O criador da Frenologia tem sido Joseph 
Gaspard Lavater, porém, mais importante que ele para a 
Frenologia, é Johan Frans Gall, que foi o 1º a relacionar a 
personalidade do delinqüente com a natureza do delito por ele 
praticado. 
 
5- Psiquiatras e Médicos de Prisões: 
 
Eles foram verdadeiros precursores de Lombroso em sua tarefa 
de estudar o delinquente. Entre os psiquiatras devemos 
mencionar como grande figura de Felipe Pinel (1745-
1826), criador da moderna Psiquiatria, que foi o 1º que 
conseguiu elevar o alienado da situação de pátria (excluído) á 
categoria de doente. Antes dele, o louco era considerado 
possuído pelo demônio e era acorrentado, torturado e banido do 
país. 
 
2ª - ESCOLA POSITIVA: Estuda as causas do crime. Afirma que 
este é o resultado de deformações e malformações congênitas, 
biológicas, físicas e psicológicas. O homem delinque não porque 
quer e sim porque é doente. Logo, a pena, aqui, não é castigo, e 
sim, tratamento. O homem é um criminoso nato, já nasce com 
tendência a delinquir, a violar as leis e é identificado pelo seu 
perfil físicobiológico. 
 
Este período é conhecido como Período da Antropologia Criminal 
ou Período de Lombroso. 
Vejamos: 
 
PERÍODO DA ANTROPOLOGIA CRIMINAL (LOMBROSO - 
1875-1890) 
 
a) LOMBROSO: 
 
Lombroso foi o criador da chamada Antropologia 
Criminal (ou Biologia Criminal, como a consideram os alemães), 
ciência que difere-se da Antropologia Geral, pois não estuda 
apenas o ser humano, mas sim o ser humano delinquente, ou 
33 
 
seja, o homem criminoso, procurando analisar, também, os 
fatores individuais do crime (nele compreendendo os endógenos 
e os exógenos). 
 
Conhecer o homem é conhecer a razão humana, a essência 
dessa razão, o que o move através da História. Afinal, como dizia 
Marx, “o primeiro objeto do homem é o homem”. 
 
Lombroso preocupou-se com esses aspectos da História humana 
e estudou o homem, que através de suas ações, de seu 
comportamento, é considerado delinquente e, a esse homem, 
Lombroso conferiu caracteres morfológicos, como saliente em 
sua obra L’uomo Delinqüente, onde diz: “o estudo 
antropológico sobre o homem criminoso deve necessariamente 
basear-se nas suascaracterísticas anatômicas”. 
 
Lombroso nasceu em 1835, em Verona. Na juventude foi 
estudante de Medicina, havendo interessado-se especialmente 
pela Psiquiatria. Apenas formou-se em Medicina, ingressou no 
exército como médico militar e ao visitar os cárceres teve o 
primeiro contato com os criminosos. Depois ingressou nas 
prisões para criminosos alienados, chegando a ser médico do 
“manicômio judiciário” de Pesaro, onde praticou a autópsia em 
grandes delinquentes da Calábria e Sicília, chamados 
“grassatori”, tendo examinado muitos destes. O primeiro que lhe 
chamou a atenção foi um tal de Vilella, em cuja autópsia 
observou uma terceira fosseta occipital. Esse foi o “eureca” de 
Lombroso. 
 
Essa fosseta dá origem á sua teoria do “atavismo”, porque 
também é encontrada em alguns crânios de homens primitivos. 
 
De 1871 a 1876, Lombroso continua trabalhando com esses 
elementos e publica uma séria de folhetos sob o nome de 
“L’uomo Delinqüente”, que adquiriram tam importância e 
desenvolvimento, que a 6ª edição, publicada em Turim, em 1901, 
compreende 4 volumes e 1 atlas. 
 
Lombroso é considerado o “Pai da Criminologia Moderna”. Seu 
grande mérito foi ter desviado a atenção da Justiça para o 
homem que delinqüe. 
34 
 
 
- Teoria de Lombroso: 
 
Lombroso criou a “teoria do criminoso nato”, ou seja, um 
indivíduo que já nasce criminoso segundo seu aspecto físico, 
suas mal formações congênitas. Assim, para Lombroso, o 
criminoso já nasce criminoso, ou seja, é um delinquente nato, de 
acordo com sua aparência externa, biológica, antropológica. Ou 
seja, o criminoso, para Lombroso, tem cara de criminoso e já 
nasce com essa cara. 
 
O criminoso nato se explica, segundo esta teoria, pelo chamado 
“atavismo” que é o aparecimento, em um descendente, de um 
caráter não presente em seus ascendentes imediatos, mas sim 
em remotos, como por exemplo, se um membro de determinada 
família apresente uma polidatilia, que é a anomalia congênita de 
possuir dedos a mais que o normal, e não existir nessa família 
ninguém nas mesmas condições, dir-se-á que é uma 
malformação atávica. Lombroso chegou ao atavismo após fazer a 
autópsia no cadáver de Vilella, onde encontrou a terceira fosseta 
occipita lou média, a qual é encontrada também, em alguns 
crânios de homens primitivos. 
 
Lombroso julgou, também, ter encontrado relação entre a 
epilepsia e a chamada “moral insanity” (insanidade moral), ou 
seja, para ele todo o epilético era um criminoso nato e, pois, um 
doente mental. 
 
Segundo Lombroso, no delito epilético há algumas 
características que o distingue: 
 
- Ferocidade e multiplicidade extraordinária das lesões. O 
delinqüente epilético não provoca somente um ferimento, mas 
muitos; 
 
- O delinquente epilético não tem cúmplices; age sozinho, pois o 
faz fora de si; 
 
- Perde a lembrança do ato, esquece-o; pode lembrá-lo, ás 
vezes, porém, com imprecisão. 
 
35 
 
- Características do homem delinquente para Lombroso: 
 
Lombroso, foi no fundo, um fisiognomista, pois imaginou ter 
encontrado, no criminoso, em sentido natural-científico, uma 
variedade especial de homo sapiens, que seria caracterizada por 
sinais (stigmata) físicos e psíquicos. Tais estigmas do criminoso 
nato, foram classificados em “taras”. 
 
Vejamos: 
 
1-Taras Anatômicas: São estas: 
 
- Fosseta occipital mediana (um pequeno crânio e, portanto, uma 
cabeça igualmente pequena). Acreditava, Lombroso, que quanto 
menor o volume e o peso do cérebro menos inteligência o 
indivíduo tinha e, portanto, seria um criminoso; 
- Maxilar inferior procidente (mandíbula grande); 
- Molares muitos grandes (dentuço); 
- Orelhas de abano; 
- Fartas sobrancelhas; 
- Dessimetria corporal; 
- Grande envergadura dos braços e dos pés, etc. 
 
2-Taras Degenerativas Fisiológicas (funcionais) - São estas: 
 
- Daltonismo; 
- Mancinismo (surdez); 
- Insensibilidade á dor (tatuagens); 
- precocidade sexual, etc. 
 
Ao observar as tatuagens, chegou á conclusão rápida de que em 
vista das tatuagens,os delinqüentes teriam insensibilidade á dor, 
já que os delinqüentes seriam, em sua imensa maioria, tatuados. 
 
3-Taras Psicológicas – São estas: 
 
- Vaidade; 
- Ações impulsivas; 
- Tendências alcoólicas; 
- Negligência; 
- Superstições; 
36 
 
- Uso de gírias; 
- Imprevidência; 
- Crueldade; 
- Instabilidade; 
- Indolência, etc. 
 
Classificação do homem delinqüente para Lombroso: 
 
Cesare Lombroso classificava os criminosos consoante se segue: 
 
- Criminoso nato: era por ele encontrado entre 30% e 35% da 
massa delinquente, ou seja, num termo médio de 33%. 
- Criminalóide: conceito puramente lombrosiano, que se refere ao 
meio delinquente, similar ao “meio louco”. Considerava-se aqui, 
os pseudo-delinquentes que já tivessem tido contato nos cárceres 
com os criminoso natos e que já não podiam ser considerados 
pseudo-delinquentes, porque já possuíam certa malícia criminal. 
 
Nos seus estudos para definir o criminoso nato, Lombroso 
primeiro o comparou á um selgavem, por ser a conduta do 
criminoso nato parecida com a dos homens das cavernas; depois 
comparou-o com a criança, baseado no egocentrismo desta, por 
sua vaidade e egoísmo. Mais tarde, sem abandonar essas 
teorias, referiu-se á loucura moral e, somente no final dos 
estudos, focalizou a epilepsia. 
 
Consequências da teoria de Lombroso 
 
As consequências da teoria lombrosiana foram, em sua época, 
extraordinárias. Não houve ramo do Direito Penal onde não se 
fez sentir-se a influencia da teoria de Lombroso. Estremeceu o 
edifício do Dto. Penal até os seus alicerces. 
 
Sustentava que ao criminoso nato, por sua própria natureza, não 
cabia a aplicação de pena, e se é encarcerado, comete-se uma 
injustiça, porque para Lombroso o criminoso nato é um doente. 
 
Foi Lombroso quem 1º falou da necessidade de segregá-lo da 
sociedade, isolando-o, para que deixasse de ser perigoso, quer 
dizer, torná-lo inofensivo. Esta seria uma medida preventiva, 
como as que agora são adotadas relativamente aos alienados 
37 
 
(medidas de segurança). 
 
Lombroso recomenda certos tipos de penas para o criminoso, 
como duchas frias, trabalhos pesados, exercícios exaustivos; 
porém, prescreve de forma categórica o uso da tortura. Para os 
alienados recomendava o “manicômio judiciário”. Para os velhos, 
propunha a internação em hospícios, não aceitando para eles a 
prisão, por considerá-los incapazes de continuar cometendo 
delitos. Só aceitava a pena de morte em casos graves, por julgá-
la muito dolorosa. 
 
No campo da Política Criminal, a contribuição mais importante de 
Lombroso, foi recomendar a segregação do delinquente como 
defesa social, mesmo antes que cometa seus delitos, quer dizer, 
enuncia o conceito de periculosidade pré-delituosa. Dizia 
Lombroso que, diante de um delinqüente nato, não se deve 
esperar que este cometa um delito, mas deve ser segregado da 
sociedade antes que o faça. 
 
Críticas à teoria de Lombroso 
 
Após um certo período de apogeu (sobretudo com a publicação 
de sua famosa obra O Homem Delinquente), os adversários de 
suas ideias, a começar por seu sucessor na cátedra da 
Universidade de Turim, Francesco Carrara e outros integrantes 
da chamada Escola Clássica de Direito Penal (Filangieri, 
Fuerbach, etc) trouxeram à colação todos os aspectos falhos da 
Antropologia Criminal, culminando, através de inúmeras 
pesquisas que empreenderam, por fulminarcom a figura do 
criminoso nato. 
 
Principais críticas feitas á teoria de Lombrosiana: 
 
1ª- Avaliar a criminalidade com base na aparência física. Para 
Lombroso, todo o indivíduo que tivesse as características já 
mencionadas era um criminoso nato. Contudo, é certo que há 
delinquentes que apresentam os traços lombrosianos; mas 
também encontramos esses traços em homens inteligentes não 
delinquentes, ou mesmo em débeis mentais não delinquentes, 
como também, há criminoso que não apresentam tais traços. As 
38 
 
características anatômicas das anormalidades morfológicas são 
próprias tanto dos delinquentes como dos não delinquentes; 
2ª- Avaliar a criminalidade com base na epilepsia. Para 
Lombroso, todo o epilético era um criminoso em potencial. 
Comprovou-se haver epiléticos delinquentes, da mesma maneira 
que não delinquentes; 
 
3ª- Avaliar a criminalidade com base em taras degenerativas 
(daltonismo, surdez, precocidade sexual, tatuagens, etc.) ou taras 
psicológicas (vaidade, crueldade, uso de gírias, tendências 
alcoólicas, etc). Se é verdade que nos criminoso observam-se 
muitas destas taras, não é menosverdade que há indivíduos 
normais que também as apresentam e criminosos que não 
apresentam nenhuma. 
 
4ª- Declarar a incapacidade de reeducação e readaptação do 
homem “tarado” (delinquente). No entanto, atualmente sabemos 
que quando essas “taras” são desviadas a tempo, podem ser 
evitadas e é possível conseguir-se a readaptação e reeducação 
dos tarados. 
 
Não obstante as inúmeras críticas que são feitas, a teoria de 
Lombroso tem o mérito extraordinário – que imortalizará seu 
nome- de haver desviado a atenção do fato delituoso para o 
homem delinquente. 
 
b) ENRICO FERRI (1856-1929) 
 
Publicou sua obra Sociologia Criminal em 1914, sendo 
considerado o criador da Sociologia Criminal, malgrado esteja 
ele incluído na Escola de Antropologia Criminal, até porque, foi o 
que mais fez pelo prestígio da Antropologia Criminal. 
 
Enrico Ferri deu relevo não só aos fatores biológicos, como 
também aos sociológicos, além dos físicos. Salientou, ele, a 
existência do trinômio causal do delito, composto por fatores 
antropológicos, sociais e físicos. 
 
Foi também quem 1º classificou as causas dos delitos em três 
grupos: biológicas, físicas e sociais: 
39 
 
- Causas Biológicas: a herança, a constituição genética, etc; 
- Causas Físicas: o meio ambiente (clima, umidade, etc); 
- Causas Sociais: o ambiente social. 
 
Agrupa, pois, os fatores mencionados em 2 grupos: endógenos e 
exógenos. 
 
- Endógenos: causas biológicas 
- Exógenos: causas físicas e sociais. 
 
A polêmica mais importante que se originou foi estabelecer quais 
os fatores que mais influem na conduta do indivíduo criminoso: os 
endógenos ou os exógenos? O criminoso nasce ou é feito? 
Lombroso, Ferri e Garófalo eram partidários dos fatos endógenos 
(ele nasce criminoso). 
 
Para Ferri o importante não é castigar e sim prevenir. 
 
Ferri teria sido o criador da expressão “criminoso nato”, isto em 
1881. É o que ele próprio admite em seu livro “Os Criminosos na 
Arte e na Literatura”, onde, em determinado trecho, expõe: “os 
delinquentes a que eu dava, em 1881, o nome de criminosos 
natos”. 
 
Classificação do homem delinquente para Ferri: 
 
Classificou os criminoso em 5 tipos, a saber: 
 
- Nato: tipo instintivo de criminoso, descrito por Lombroso,com 
seus estigmas de degeneração; 
- Louco: não só o alienado mental, como, também, os semi-
loucos, os fronteiriços; 
- Ocasional: aquele que eventualmente comete um delito; 
- Habitual: o indivíduo que faz do crime a sua profissão; 
- Passional: aquele que é levado ao crime pelo ímpeto, pelo 
arrebatamento. Cometem o delito impulsionados por uma paixão 
que explode como cólera, em virtude de um amor contrariado, de 
uma honra ofendida. Geralmente são mulheres e cometem o 
crime sem premeditação. São indivíduos que têm alguma coisa 
de louco. 
 
40 
 
c) RAFAEL GARÓFALO (1852) 
 
O magistrado Garófalo foi o criador do termo “Criminologia”, 
para quem seria a ciência da criminalidade, do delito e da pena. 
 
Em razão de sua orientação naturalista e evolucionista, o ponto 
de partida de sua doutrina é a conceituação do que chamou de 
“delito natural”. Examinou em sua obra, também, a classificação 
de criminosos, que acabou por formular. Seu livro data de 1884, 
já com o nome de Criminologia. 
 
Garófalo era um jurista, tendo sidoministro da Corte de Apelação 
de Nápoles. Elaborou sua concepção de delito natural partindo da 
idéia lombrosiana do criminoso nato e, assim sendo, afirmava 
que, se existia um criminoso nato, deveria, necessariamente, 
existirem delitos que fossem considerados como tal, em qualquer 
lugar ou época. 
 
Para chegar á definição de delito natural, Garófalo procurou a 
parte mais profunda e essencial dos sentimentos humanos. 
 
Observou que tanto Lombroso como Ferri evitaram definir o que 
consideravam delito. Garófalo propôs-se a isto. Passou a 
observar grupos sócias de diferentes épocas e chegou á 
conclusão de que o conceito de delito era completamente 
diferente entre povos distintos. Assim, o fato de causar a morte 
de um indivíduo, que é o crime de homicídio, em outras épocas 
foi somente um costume. 
 
Em vista disto, encaminhou suas investigações em outro sentido, 
buscando quais éramos sentimentos indispensáveis para a 
conveniência social e chegou á essa conclusão: são 
indispensáveis a piedade e a probidade, definindo, então, o seu 
“delito natural”: 
 
- Delito Natural: “Ofensa aos sentimentos altruístas 
fundamentais de piedade e probidade, namedida média em 
que os possua um determinado grupo social”. 
Classificação do homem delinqüente para Garófalo: 
 
Baseado nesse conceito, Garófalo fez a sua própria classificação 
41 
 
dos delinqüentes: 
 
- aqueles que vão contra o sentimento de piedade: assassinos. 
- aqueles que vão contra o sentimento de probidade: os ladrões. 
- aqueles que atentam contra ambos os sentimentos: os 
salteadores, “grassatori”. 
- aqueles que atentam contra os costumes: criminoso sexuais ou 
cínicos. 
 
Para Garófalo, há duas maneiras de se tratar os delinqüentes: 
 
- Os que cometem delitos legais, estabelecidos em textos 
positivos como Códigos, regulamentos,etc: bastaria uma simples 
advertência e a obrigação de reparar o dano; 
- Os que cometem delitos naturais, ou seja, próprios de 
criminosos natos: pena de morte ou expulsão do país. 
 
Tais fatores levantaram uma onda de indignação contra ele. 
 
4º - ESCOLA SOCIOLÓGICA (1890-1905): O crime é produto 
do meio social, sobretudo de fatores econômicos. 
 
O período sociológico compreende todas as teorias que se 
ergueram para combater a teoria lombrosiana, calcada nos 
fatores endógenos como causadores de criminalidade, ao passo 
que, as doutrinas sociais e do meio ambiente, sustentavam que 
os fatores exógenos eram efetivamente os mais importantes 
ocasionadores do delito. 
 
A Sociologia Criminal surgiu em meados do século XIX e teve a 
influência de Augusto Comte e Adolphe Quetelet. 
a) Augusto Comte: 
 
É considerado o fundador da Sociologia Moderna (ciência 
abstrata que tem por fim a investigação de leis gerais que regem 
os fenômenos sociais). 
 
b) Adolphe Quetelet: 
 
Foi o criador da Estatística Científica, dando origem ao 
aparecimento da Estatística Criminal. 
42 
 
 
Escreveu Física Social, em 1835, no qual formula 3 princípios: 
 
- o delito é um fenômeno social; 
- os delitos se cometem ano após ano com total precisão; 
- vários fatores influenciam no cometimento do crime, como a 
miséria, o analfabetismo, o clima, etc. 
 
Fulcrado nesses 3 princípios, ele estabeleceu as chamadas 
“Leis Térmicas de Quetelet: 
 
I- no inverno se cometem mais delitos contra a propriedade, 
donde se deduz que nesta época do ano são maiores as 
necessidades para a sobrevivência do homem; 
 
II- no verão se cometem mais crimes contra a pessoa, devido á 
efervescência maior das paixões humanas, provocada pelo 
aquecimento pelo sol; 
 
III- os delitos sexuais são mais freqüentes na primavera, 
considerando a exacerbação da atividade sexual nessa época. 
 
Doutrinas sociais que prevaleceram nesse período: 
 
1º) Teorias Antropo-Sociais 
 
Pretendem relacionar, de certo modo, os princípios de Lombroso 
com os sociais. 
 
Segundo estas teorias, o meio social influi sobre o delinqüente 
antropologicamente nato, predispondo-o á cometer delitos. 
Entendem que o criminoso pode nascer comcerta predisposição 
ao crime, porém, sem chegar a aceitar o delinqüente nato, 
preferindo o termo “predisposto”. 
 
Assim, aceitam a influencia de fatores endógenos que predispõe 
o indivíduo a cometer crimes. 
 
São tais teorias sustentadas por Lacassagne e Manouvrier. 
 
- Lacassagne , no primeiro Congresso de Antropologia Criminal 
43 
 
de Roma, em 1885, combateu as teorias lombrosianas. Escreveu 
duas obras de importância, as quais têm repercussão, até hoje, 
em todo o mundo. 
 
A primeira enunciava: “À maior desorganização social, maior 
criminalidade; á menor desorganização social, menor 
criminalidade”. 
 
Foi o autor dessa conhecida frase: “As sociedades têm os 
criminosos que merecem”. 
 
Na segunda, comparava a sociedade com um meio de cultivo, e 
afirmava que “a sociedade é um meio de cultivo que abriga em 
seu seio uma série de micróbios que são os delinqüentes e que 
estes não desenvolverão se o meio não lhes for propício”. 
 
Resumindo, podemos dizer que para Lacassagne, os fatos 
sociais atuam sobre o sujeito “predisposto”; substituiu o conceito 
de nato pelo de predisposto. 
 
- Manouvrier : Professor de Antropologia da Universidade de 
Paris, não tem outro mérito que não seja ter sido o braço direito 
de Lacassagne na sua luta contra as doutrinas de Lombroso. 
2ª) Teorias Sociais Propriamente Ditas 
 
É eliminado todo o fator endógeno e se dá importância exclusiva 
aos fatores exógenos (meio social), ou seja, o criminoso não 
nasce criminoso, mas transforma-se em um por influencia do 
meio social. Dentre os vários autores destaca-se Gabriel Tarde. 
- Gabriel Tarde publicou 3 obras importantíssimas: “A 
Criminalidade Comparada”, publicada em 1886, “As Leis da 
Imitação”, publicada em 1890 e “A Filosofia Penal”, publicada em 
1890. 
 
“A Criminalidade Comparada”: Tarde demonstra que há 
indivíduos que são inadaptáveis ao meio em que vivem e essa 
inadaptação decorre de 3 causas: 
- A inércia (dolce far niente); 
- A facilidade de reações impulsivas: por falta de convivência 
social; 
- A incapacidade para um trabalho regular e sistemático: a rotina 
44 
 
da nossa época é algo que destrói ao indivíduo melhor 
organizado. Nunca se enfatizou o quanto a rotina influi em nós. 
Temos que possuir uma constituição especial, sujeita a um 
conceito moral e um respeito extraordinário pela comunidade 
para que possamos viver neste mundo. 
 
“As Leis da Imitação”: Tarde diz que a delinqüência é um 
fenômeno fundamentalmente social e que o moto que ativa o 
conglomerado social é a imitação. Observou o seu mundo 
contemporâneo, verificando que 90% das pessoas não possuem 
espírito de iniciativa. Os restantes 10% são os que possuem 
alguma iniciativa e, somente 1% têm espírito verdadeiramente 
inovador. O restante, ou seja, a esmagadora maioria, seja por 
fraqueza, seja por incapacidade de afastar-se do meio, seja por 
comodismo, não é capaz de sobrepor-se ás forças centrípedas 
que dominam o meio social. 
“A Filosofia Penal”: Tarde sustenta que a responsabilidade 
penal baseia-se em dois elementos: a identidade pessoal e a 
semelhança pessoal. 
 
1-Identidade Pessoal – somente pode ser considerado 
penalmente responsável quem guarde semelhança estreita entre 
o ato cometido e a sua personalidade, ou seja, quem antes, 
durante ou depois do delito seja o mesmo sujeito. Se um 
indivíduo apresenta, depois do delito, uma falta de similitude com 
a sua personalidade anterior ao delito, não é um indivíduo normal 
e estaremos diante de um provável transtorno mental. Este em 
sido o conceito que tem servido de base para a fixação das 
circunstancias atenuantes da responsabilidade criminal que os 
Códigos estabelecem em favordos alienados. 
2-Semelhança Social: não pode ter responsabilidade penal o 
indivíduo que não tem relação

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