Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA NÍVEL: DOUTORADO RESTAURAR OS DENTES COM TRATAMENTO ENDODÔNTICO OU EXTRAÍ-LOS: UMA QUESTÃO DE SAÚDE BUCAL? VISÃO GERAL DE CIRURGIÕES DENTISTAS AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE DENTES TRATADOS ENDODONTICAMENTE: TESTE IN VITRO DE COMPRESSÃO. JULIA ITZEL ACOSTA MORENO VINHOLES Canoas - RS 2008 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. JULIA ITZEL ACOSTA MORENO VINHOLES RESTAURAR OS DENTES COM TRATAMENTO ENDODÔNTICO OU EXTRAÍ-LOS: UMA QUESTÃO DE SAÚDE BUCAL? VISÃO GERAL DE CIRURGIÕES DENTISTAS AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE DENTES TRATADOS ENDODONTICAMENTE: TESTE IN VITRO DE COMPRESSÃO. Tese apresentada ao programa de pós-graduação em Odontologia, nível Doutorado, da Universidade Luterana do Brasil, como pré- requisito final para a obtenção do título de Doutora em Odontologia. Linha de Pesquisa: Material, instrumental e equipamentos utilizados em Odontologia Orientador: Prof. Dr. Luis Carlos Da Fontoura Frasca Co-orientador: Prof. Dr. Airton Pozo De Mattos Canoas – RS 2008 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu esposo, BetoBetoBetoBeto,,,, e aos meus filhos, BonniaBonniaBonniaBonnia e Alexandre, Alexandre, Alexandre, Alexandre, que sempre estiveram presentes quando precisei, apoiando- me e incentivando-me nos momentos de fraqueza. A vocês, que souberam compreender minhas ausências. Esta vitoria é nossa. Amo muito vocês. b fxÇ{ÉÜ ° É Åxâ ÑtáàÉÜM Çtwt Åx ytÄàtÜöA Wx|àtÜ@Åx yté xÅ äxÜwxá ÑtáàÉá? zâ|t@Åx ÅtÇátÅxÇàx t özâtá àÜtÇÖ≤|ÄtáA exyÜ|zxÜt t Å|Ç{t tÄÅtN zâ|t@Åx ÑxÄtá äxÜxwtá wt }âáà|†t? ÑÉÜ tÅÉÜ wx áxâ ÇÉÅxA T|Çwt Öâx xâ tÇwtááx ÑxÄÉ ätÄx wx áÉÅuÜt wt ÅÉÜàx? ÇûÉ àxÅxÜ|t ÅtÄ tÄzâÅ? ÑÉÜÖâx àâ xáàöá cÉÅ|zÉN t àât ätÜt x É àxâ ct}twÉ Åx cÉÇáÉÄtÅA cÜxÑtÜtá âÅt Åxát ÑxÜtÇàx Å|Å Çt ÑÜxáxdžt wÉá Åxâá |Ç|Å|zÉá? âÇzxá t Å|Ç{t ctux†t cÉÅ ™ÄxÉ? É Åxâ cöÄ|cx àÜtÇáuÉÜwtA VxÜàtÅxÇàx Öâx t uÉÇwtwx x t Å|áxÜ|c™Üw|t Åx áxzâ|ÜûÉ àÉwÉá Éá w|tá wt Å|Ç{t ä|wtM x {tu|àtÜx| Çt ctát wÉ áxÇ{ÉÜ ÑÉÜ ÄÉÇzÉá w|táA ftÄÅÉ EF AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por ter me concedido a vida, dando-me fé para que os obstáculos pudessem ser vencidos, amparando-me em cada queda e fazendo com que cada dia fosse um novo recomeço. Nenhum homem é uma ilha, por isso, agradeço a todos que de uma forma ou outra me ajudaram na finalização deste trabalho: Ao Prof. Dr. Luis Carlos Da Fontoura Frasca, pela orientação da presente tese, pela confiança em mim depositada, pela oportunidade de trabalharmos juntos e por ter compartilhado suas experiências e conhecimentos. Meu mais sincero agradecimento. Ao Prof. Dr. Airton Pozo De Mattos, pela oportunidade e confiança. Agradeço pelas dúvidas solucionadas e pela importantíssima ajuda na finalização de mais esta etapa. O senhor tem minha total admiração! Ao Prof. Dr. Adair Stefanello Busato, pela amizade, ensinamentos e bons momentos durante o curso de Pós-Graduação, seu exemplo de dedicação e seriedade no ensino e na pesquisa muito me motiva. Aos professores do Programa de Pós-Graduação da Universidade Luterana do Brasil, pela oportunidade de aprender com vocês! Aos meus colegas das disciplinas de Clínica Integral II e Manutenção de Saúde em Odontologia, do Curso de Odontologia da ULBRA – Campus Torres, por todo o apoio prestado durante a realização deste estudo. Aos meus colegas de Doutorado, pela oportunidade de conhecê-los e pela amizade, fazendo com que as aulas ficassem muito mais divertidas; não esquecerei as conversas no café, nem no pátio, nem nossas discussões paralelas nos seminários integradores! Às minhas queridas colegas Ivana e Naiara, que sempre correram de volta a Porto Alegre para que eu não perdesse o ônibus para Pelotas. Vocês são especiais! Às minhas queridas alunas, monitoras da disciplina de Técnicas e Materiais em Endodontia do Curso de Odontologia da ULBRA Campus Torres: Aline, Eliza, Daniela, Graziela e Rosimara, pela ajuda prestada, pelo estímulo, aprendizado e, principalmente, por me fazerem sentir que vale a pena acreditar. Ao Marcelo, por toda sua disposição e ajuda prestada. Meu muito obrigada. Ao Sr. Adroaldo, pelo auxílio prestado na realização dos ensaios. Ao Prof. Reginaldo, pela ajuda na elaboração da análise estatística, sem você seria mais complicado. Ao Prof. Dr. Fabio Herrmann Coelho de Souza, pela ajuda e sugestões para a realização deste trabalho Ao Sr. Flavio de Almeida Zanotta, por toda ajuda e disposição prestadas na manipulação da fórmula da resorcina. Meu muito obrigada. RESUMO RESUMO Esta tese é apresentada sob forma de dois artigos. O primeiro foi realizado com o objetivo de conhecer de que maneira os cirurgiões dentistas clínicos gerais e os especialistas tratam os dentes submetidos a tratamento endodôntico e que são portadores de perfurações e, concomitantemente, de analisar qual é a situação da saúde bucal da população brasileira. Para isso, foi realizado um questionário respondido por cirurgiões dentistas especialistas e clínicos gerais, sendo a abordagem qualitativa com perguntas abertas e fechadas. Para se realizar o levantamento da situação atual da saúde bucal da população brasileira, foram utilizados os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde (Data SUS). As próprias Diretrizes da Política Nacional de Saúde dizem que a assistência pública odontológica no Brasil tem-se restringido quase que completamente aos serviços básicos e, ainda assim, com grande demanda reprimida. Os dados mais recentes indicam que, no âmbito do SUS, os serviços odontológicos especializados correspondem a não mais que 3,5% do total dos procedimentos clínicos odontológicos. Percebeu-se que a formação odontológica tem-se revelado insuficiente e inadequada para fazer chegar a saúde bucal à maioria da população, já que infelizmente é muito acanhado o impacto social dos programas públicos. Ainda que a clínica privada possa suprir as necessidades individuais com qualidade técnica reconhecida, há um grande desafio em termos de abrangência entre o que é ensinado nos cursos de odontologia e a universalização do atendimento odontológico à realidade brasileira. O segundo artigo avaliou, in vitro, a resistência à fratura de molares tratados endodonticamente pela técnica da resinificação e com perfuração na região de furca. Foram utilizados 40 dentes molares humanos, extraídos e selecionados para o experimento, que foram divididos em quatro grupos. Essa divisão foi feita da seguinte forma: no grupo I foram executadas perfurações bem no centro do assoalhoda câmara pulpar e seladas com MTA, após tal procedimento foi colocada uma base de cimento de ionômero de vidro modificado por resina e depois restaurado com Resina Composta; o grupo II foi restaurado com Cimento de Ionômero de Vidro modificado por resina, mais Resina Composta; no grupo III os dentes só foram restaurados com Resina Composta; e, por fim, no grupo IV foram colocados pinos de fibra de vidro da marca Angelus® nos canais de maior volume e restaurados com base de cimento de Ionômero de Vidro modificado por resina e Resina Composta (a resina é a Filtek Z350, 3M ESPE e o Ionômero de Vidro modificado por resina foi o Vitrimer, 3M ESPE). Os corpos de prova foram submetidos ao Teste de Resistência à Compressão, onde uma máquina de ensaio universal da marca Pantec® (modelo Versat 502) foi acionada com uma célula de carga de 500 Kg/f a uma velocidade de 5mm/min até ocorrer a fratura do conjunto dente/restauração. Os dados obtidos foram computados e submetidos à análise estatística para interpretação dos resultados, sendo utilizada a observação de variância e comparados através do teste de Tukey, podendo-se concluir que os dentes do grupo I e IV apresentaram maior resistência à fratura, com valores significativos em relação ao grupo II e III. A restauração de resina composta pode ser considerada uma alternativa restauradora para dentes molares submetidos a tratamento endodôntico e com perfuração na região de furca. Palavras-chave: artigo 1: saúde bucal, promoção de saúde, formação odontológica. artigo 2: tratamento endodôntico, perfuração, furca, resistência de materiais. ABSTRACT ABSTRACT This thesis is introduced under two articles form. The first was realized with the purpose of knowing which way experts and general practitioner dentists had been treated teeth submitted to endodontic treatment carrier perforation. The aim was also to analyze the position of brazilian people buccal health. A questionary was made to be answered by experts and general practitioner dentists using qualitative approach with closed and opened questions. To make lifting of real position from brazilian people buccal health, we used provided data from Health Ministry ( DATA SUS ). The own guidelines of health national politics says that the odontological public attendance has been restricted almost completely for basic services with great repressed prosecution. In the SUS scope, recent data have showed that expert odontological services do reciprocate to 3,5% of total odontological clinical proceedings. The odontological forming has been improper and insufficient to give buccal health to majority of people. Unfortunately, it has made little impact of public programs. Even private clinic may supply individual needs with recognized quality technique, there is a big challenge between what has been taught in dentistry courses and the universality of odontological attendance for brazilian realness. The second article assessed, in vitro, fracture resistance of endodonticaly treated molars by resinificate resin technique with perforation in the furcation region. 40 molars human teeth were selected and divided in 4 groups. Group 1 was made perforations closed to the middle of pulp chamber floor and sealed with MTA. Further it was put a base with glass ionomer cement modified by resin and restored with composite resin. Group 2 was restored with glass ionomer cement modified by resin plus composite resin. Group 3 only was restored with composite resin. Group 4 was placed fiberglass pins mark Angelus in the canal having bigger content and further restored with a base of glass ionomer cement modified by resin and composite resin ( Filtek Z 350, 3M ESPE resin and Vitrimer, 3M ESPE glass ionomer modified by resin ). Proof bodies were submitted to compression and resistance test. An universal trial machine mark Pantec ( Versat 502 model ) was placed in action with a load cell of 500kg/f speed until occurring the tooth/restoration fracture. Data were computed and submitted to statistical analyze for results interpretations and variance analyze so compared through Tukey test. It is possible to conclude that the teeth of groups 1 and 4 presented bigger resistance to fracture with significant values if compared to groups 2 and 3. The restoration with composite resin can be considered a restorative alternation to endodontic treatment having perforation in the furcation region. Key-words: Article 1: buccal health- health promotion- odontologic forming Article 2: endodontic treatment- perforation- furcation- materials resistance SUMÁRIO SUMÁRIO RESUMO 9 ABSTRACT 12 SUMÁRIO 14 APRESENTAÇÃO 16 ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVA 18 REFERÊNCIAS 35 PROPOSIÇÃO 40 ARTIGO 1 ARTIGO 2 42 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS 78 ANEXOS 80 APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO A elaboração de teses estruturadas na forma de artigos é uma tendência atual. Observada nos cursos de pós-graduação, tem por objetivo um maior aproveitamento científico dos trabalhos, uma vez que estão prontos para serem publicados. Assim, esta tese é composta por dois artigos, dentre os quais se destaca o segundo, objetivo principal do estudo. A restauração dos dentes tratados endodonticamente é uma tarefa que desafia os cirurgiões dentistas há muitas décadas, pelas peculiaridades que a mesma apresenta, normalmente associadas às grandes perdas de estrutura dentária. A idéia da realização do primeiro artigo surgiu de questionamentos metodológicos importantes para a realização do segundo. Isso porque, para facilitar a discussão e a relevância do estudo, muitas dúvidas foram surgindo e muitas perguntas foram feitas. Devido à divergência da literatura e às diferenças encontradas entre os cirurgiões dentistas clínicos gerais e os especialistas, na aplicação do tratamento dado ao dente tratado endodonticamente e com perfuração, surgiu a idéia do questionário. Somado a isso, os dados obtidos através de um levantamento social acerca da população brasileira, serviram como estímulo para que o artigo fosse escrito. Dessa forma, o objetivo do primeiro artigo foi abordar um tema que possa levar à reflexão e à tomada de atitudes que venham a beneficiar os indivíduos para que estes tenham melhores condições de saúde bucal. De maneira geral, a população está preocupada em preservar a saúde de seus dentes e o tratamento endodôntico é uma maneira de preservar a saúde, pois possibilita restabelecer os dentes a sua função no sistema estomatognático, evitando a sua perda precoce. Com todos esses dados nas mãos, desenvolveu-se a idéia principal desta tese, encontrada no segundo artigo, que teve por objetivo avaliar, in vitro, se a resina composta como material restaurador é capaz de devolver resistência, forma e função aos dentes tratados endodonticamente e com perfuração na região de furca, o mais semelhante possível a um dente hígido.ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVA 19 ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVA A cavidade de acesso ao canal radicular tem como função fornecer uma via não obstruída ou retilínea ao forame apical. Apesar das variações na configuração anatômica dos vários dentes, a câmara pulpar está localizada no centro da coroa e o sistema pulpar está localizado no longo eixo do dente. O tratamento do canal radicular, assim como alguns procedimentos da clínica odontológica, está, algumas vezes, associado com situações adversas, indesejáveis e imprevisíveis (chamadas coletivamente de acidentes de procedimento). A falta de atenção com o grau de inclinação apical de um dente, em relação aos outros dentes adjacentes, e com o osso alveolar, pode resultar em socavamento ou perfuração da coroa e da raiz em vários níveis. Os acidentes, tais como remoção excessiva da estrutura dentária ou perfuração, ocorrem durante tentativas de localização de canais ou como resultado direto da capacidade de se atingir um acesso direto aos canais radiculares (VINHOLES, BUSATO; 2000). O conhecimento dos fatores etiológicos dos acidentes de procedimentos é essencial para que sejam prevenidos. Além disso, os métodos de diagnóstico e tratamento, bem como os efeitos de tais acidentes sobre o prognóstico, devem ser entendidos. É imperioso salientar que a melhor arma para se evitar as falhas e acidentes é a prevenção, mas mesmo assim podem surgir falhas e complicações, algumas vezes previstas e outras totalmente inesperadas. Por isso, deve-se considerar que as técnicas e os homens, mesmo com o conhecimento, são falíveis e as falhas e acidentes podem acontecer. Portanto, caso ocorra o acidente, deve-se procurar a melhor solução possível para manter a integridade e a saúde do paciente(VINHOLES, BUSATO; 2000). As perfurações radiculares, iatrogênicas ou não, representam uma complicação ao tratamento endodôntico, tornando o prognóstico obscuro (HARRIS, 1976). A comunicação artificial da câmara pulpar com o periodonto é produzida comumente, tanto por desgaste excessivo e inoportuno da câmara pulpar e/ou canal radicular, como também pelo emprego de instrumentos endodônticos, especialmente os rotatórios, e por processos de reabsorção ou cárie (SINAI, 1977). 20 A perfuração do assoalho da câmara pulpar, durante o tratamento endodôntico, é um acidente que pode provocar a perda do dente. Quando ocorre a comunicação da câmara pulpar com o sulco gengival, além de inevitável comunicação, o epitélio juncional pode migrar para apical. Ambos os fatores podem prejudicar ou impedir o reparo (MORAES, 2002). A maioria dos autores é unânime ao afirmar que o prognóstico está diretamente relacionado com a localização, tempo, tamanho, grau da injúria periodontal e do material obturador. A maioria dos casos envolvendo a bifurcação resulta em um processo inflamatório como resposta à injúria pela perfuração do assoalho da câmara pulpar durante o preparo endodôntico. A identificação exata do dano aos tecidos periodontais, ao redor dos dentes multirradiculares, justifica-se pelo fato de apresentarem prognóstico sombrio quando há envolvimento da bifurcação. O diagnóstico precoce favorece o tratamento, enquanto que o não reconhecimento significa a evolução da destruição periodontal. Nesses casos, a perda da inserção e a reabsorção do osso alveolar condicionarão o aparecimento de defeitos ósseos angulares ou horizontais. Luebke (1964) destaca o potencial de vedação marginal que o material obturador da perfuração deve possuir para isolar o sistema de canais radiculares do meio periodontal para obter-se o reparo da lesão. A perfuração de furca guarda para si o pior prognóstico de todas as outras, devido à proximidade do epitélio juncional e à possibilidade de migração deste, criando uma bolsa periodontal, tornando ainda menores as chances de reparação da região (KAKEHASHI et al, 1965), pois uma intensa inflamação dos tecidos periodontais inviabiliza a recuperação do dente. O tratamento endodôntico atua somente na porção radicular dos dentes, restando o problema da restauração coronária para os mesmos voltarem ao sistema estomatognático com sua função e estética (LEONARDO et al., 1997). Logo, torna-se imperativo que os dentes portadores de perfuração de assoalho da câmara pulpar, que apresentem as condições necessárias para atingir o sucesso da terapia (selamento da perfuração e tratamento endodôntico propriamente dito), sejam mais tarde restaurados, voltando a exercer suas funções estéticas, funcionais e/ou fisiológicas. Segundo Paiva e Antoniazzi (1991), a endodontia tem apresentado um índice de sucesso muito alto, já que os dentes com necessidade de tratamento 21 endodôntico apresentam um prognóstico favorável em 95% dos casos. Para que o prognóstico de elementos dentários com necessidade endodôntica seja positivo, é necessário um correto tratamento restaurador. Sendo assim, tem-se, atualmente, um prognóstico favorável no que tange à longevidade dos dentes endodonticamente tratados, isso obviamente se, após a terapia endodôntica, os mesmos forem corretamente restaurados, tanto sob aspectos fisiológicos quanto morfológicos (LEONARDO et al., 1997; HELING, et al., 2002). A restauração dos dentes tratados endodonticamente, tanto provisória quanto permanente é crucial para o sucesso do tratamento, pois a restauração provisória deve fornecer um bom selamento coronário para impedir a contaminação bacteriana. A restauração final também deve fornecer um bom selamento coronário só que permanente, proteger a estrutura dentária remanescente, bem como restaurar a sua forma e devolver sua função. A necessidade de uma restauração cuidadosa é refletida no fato de que dentes tratados endodonticamente desenvolvem mais problemas ou são perdidos com maior freqüência graças às dificuldades na restauração e nem tanto por insucesso no tratamento do canal radicular propriamente dito. Hoje, portanto, com os avanços na terapia endodôntica e o aumento da expectativa de vida dos pacientes, os dentes despolpados mantêm-se em função oclusal e estética por muito mais tempo que outrora. O tratamento endodôntico tem preservado dentes que, de outra forma, estariam irremediavelmente perdidos. Existe uma idéia muito difundida e geralmente apresentada pelos pacientes de que os dentes com tratamento endodôntico tornar-se-iam mais quebradiços quando comparados aos vitais. Tal idéia se justifica pelo fato de que, dentes com grandes destruições, causada por cáries, ou por trocas contínuas de restaurações, ou ainda por tratamentos endodônticos, têm uma perda estrutural considerável, a qual deixaria o dente mais propenso à fratura, ou até mesmo à outra perfuração. Revisando a literatura, concorda-se com Scurria et al. (1995), quando dizem que existe um grande número de pesquisas sobre as restaurações de dentes despolpados, porém o custo e a complexidade de determinadas técnicas têm feito com que os clínicos ainda optem pela simples restauração do remanescente, de forma quase empírica ou então os tratando como se vitais fossem, o que tem levado a inúmeros insucessos sejam esses fraturas ou 22 falhas de selamento, que diminuem a longevidade esperada do elemento dental em questão. A odontologia restauradora, em vista do apresentado, tem almejado uma técnica simples, menos onerosa, eficaz e eficiente de repor tais dentes à função e estética, fazendo com que as falhas sejam minimizadas e os sucessos presentes nos tratamentos endodônticos estendam-se à odontologia restauradora, uma vez que para este êxito ser verdadeiro depende desta também. Conforme Stock (1996), muito se tem pesquisado e escrito a respeito da restauração de dentes endodonticamente tratados.Isso se deve ao fato de que dentes com tratamento endodôntico, geralmente, apresentam danos extensos, requerendo “maneiras novas e engenhosas” para restaurá-los. O questionamento de como e com qual material se restaurará os dentes, após endodontia, tem sido baseado nas preocupações com as alterações físicas e mecânicas que a estrutura dental apresenta, em função da remoção do órgão pulpar (CONCEIÇÃO et al., 2000). Por exemplo, Scurria et al., em 1995, fizeram um levantamento sobre a forma como os dentistas americanos executam suas restaurações em dentes não vitais (tais dados foram obtidos através de uma pesquisa de epidemiologia executada com 654 dentistas, em 45 estados americanos, entre junho de 1990 e maio de 1991). Os autores relatam que os tratamentos endodônticos subiram de 6,2% dos procedimentos gerais em odontologia, em 1975, para 8,2% em 1989. Ao final dessa pesquisa, verificaram que os procedimentos restauradores nesses dentes eram executados das seguintes formas: A) dentes anteriores - 67% restaurações convencionais (com pinos - 15%, sem pinos- 52%) e 33% coroas protéticas. B) pré-molares - 50% restaurações convencionais (com pinos -11%, sem pinos- 39%), 50% coroas protéticas. C) molares - 54% restaurações convencionais (com pinos -10%, sem pinos- 44%), 46% coroas protéticas. Alguns autores, como Bindslev e Mjör (1993), já comprovaram em estudos clínicos que procedimentos restauradores vão gerar procedimentos restauradores maiores e mais complexos. Já Mjör (1981) e Elderton (1983) afirmam que as restaurações não são muito duráveis e normalmente terão de 23 ser substituídas, contudo sem definição certa quanto ao período que tal troca se fará necessária. Sabe-se, também, que se a prevenção pudesse preceder a endodontia e a dentística operatória, talvez este tratamento cirúrgico fosse mínimo ou quase inexistente. Portanto, hoje, dever-se-ia ter como principais objetivos a prevenção e a promoção de saúde bucal, para assim alcançar sua preservação. É de grande importância que o profissional, antes mesmo de tentar restaurar um dente despolpado, entenda as alterações ocorridas nos mesmos. Alterações essas que os tornam diferentes sob o ponto de vista restaurador, estético e funcional. A maioria dos autores afirma que a dentina dos dentes não vitais pouco ou nada difere da dentina dos dentes com vitalidade mantida (FUSAYAMA, MAEDA, 1969; LEWESTEIN, GRAJOWER, 1981; HUANG, SCHILDER, NATHANSON, 1992; SEDGLEY, MESSER, 1992; YANG, RIVERA, WALTON, 1995; CHRISTENSEN, 1996). Huang, Schilder, Nathanson (1995) afirmam que a dureza da dentina, por si só, em dentes despolpados seria aumentada, diminuindo, porém, sua flexibilidade. Observando-se as diferenças quanto ao conteúdo líquido (possível desidratação que sofreria a dentina após endodontia) pode-se citar Papa, Cain e Messer (1994), os quais relatam que a diferença entre a presença de líquido na dentina dos dentes com e sem vitalidade seria de menos de 1%, mais precisamente de 0,25%. Embora as observações das características físicas e mecânicas, as quais, praticamente, não demonstram diferenças significativas entre dentes vitais e não vitais, tem-se, ainda, como já citado, a afirmação de que os dentes despolpados são mais acometidos de fraturas, clinicamente, do que os dentes vitalizados (GUTMANN, 1992). Tal conclusão “empírica’’ poderia ser mais bem explicada com a mudança do prisma da busca, passando-se a relacionar também a “friabilidade” da perda estrutural causada pelo acesso endodôntico e pela instrumentação dos canais. Alguns autores relatam que não é somente a remoção do teto da câmara pulpar, mas também a própria instrumentação do canal radicular que levariam 24 a uma perda da estrutura dental, deixando o dente mais suscetível à fratura subseqüente à restauração (REEH, DOUGLAS, MESSER, 1989; PAIVA, ANTONIAZZI, 1991; SORNKUL, STANNARD, 1992). Pode-se, por fim, acrescentar o trabalho de Reeh, Douglas e Messer (1989), os quais afirmam que o tratamento endodôntico faz com que o dente perca em torno de 5% de sua resistência. Desde sempre se questionou a melhor maneira de se restaurar dentes endodonticamente tratados (TRABERT, CAPUTO, ABOU-RASS, 1978; STANDLEE, CAPUTO, HANSON, 1978; SIRIMAI, RIIS, MORGANO, 1999). Dentes muito debilitados por destruição causada por cárie ou por contínua troca de restaurações ou, ainda, por tratamento endodôntico, geram uma perda estrutural considerável, o que deixaria o dente mais propenso à fratura (VALE 1959; FISCHER et al., 1975; MONDELLI et al., 1980; WATTS, WILSON e BURKE, 1995). A partir de 1955, com o desenvolvimento da técnica do condicionamento ácido (BUONOCORE, 1955), o processo de restauração do tecido dentário perdido passou por uma grande transformação. A adesão conseguida às estruturas dentárias fez com que os conceitos restauradores se alterassem e fosse buscada uma maior manutenção do tecido sadio, oferecendo alternativas mais conservadoras dentro dos princípios restauradores. Em 1980, Mondelli et al., estudando a resistência à fratura em dentes humanos com cavidades preparadas, observaram que quanto mais a dentina e o esmalte eram removidos, menor era o esforço requerido para a fratura dos dentes. Nessa pesquisa, os dentes mais resistentes foram aqueles com preparo de classe I mais estreitos, pois à medida que se aumentava o istmo da cavidade, diminuía-se a resistência destes. Verificaram, ainda, que estes preparos de classe I reduziam em menor grau a resistência dos dentes que os preparos de classe II MO ou OD e com mesma largura de istmo, resultado esse devido à perda das cristas marginais, as quais seriam responsáveis por boa parte da resistência, tanto que cavidades classe II MOD apresentavam ainda menor resistência. Blaser et al. (1983) também compararam a resistência à fratura em dentes com cavidades envolvendo as faces mesial, distal e oclusal com diferentes dimensões. O resultado dessa pesquisa demonstrou que a 25 profundidade da cavidade tem uma influência significativamente maior na diminuição da resistência à fratura que a largura da cavidade. Navarro et al. (1983) executaram um trabalho com situações semelhantes as já apresentadas, porém, em um dos grupos, foi executada a remoção do teto da câmara pulpar e a resistência desses ficou 90% menor que a dos dentes hígidos, sendo a carga exigida para fraturar os dentes sem preparo de 175,35 Kgf. e 21,15 Kgf. a necessária para gerar a fratura dos sem teto de câmara pulpar. Oliveira, Denehy e Boyer (1987) compararam a resistência à fratura de pré-molares endodonticamente tratados com diferentes materiais e técnicas restauradoras. Observaram que dentes restaurado com compósitos e condicionamento ácido, após a fratura normalmente, apresentavam resina junto ao esmalte e necessitavam de uma carga maior para que ocorresse a falha, o que seria clinicamente mais interessante. Os autores ainda afirmam que o esforço apresentado pela resina composta era presente mesmo em preparos cavitários maiores. Nessa pesquisa, os dentes restaurados com amálgama de prata foram os menos resistentes. Após estudarem a resistência à deformação de cúspides de pré- molares debilitados por preparos cavitários sob cargas não destrutivas, Reeh, Douglas e Messer (1989) observaram que os dentes restaurados com amálgama de prata sofreram as maiores deformações, o que poderia equivaler a uma menor resistência, se comparado aos demais grupos dessa pesquisa, isto é, dentes íntegros, dentes despolpados com restauração metálica fundida e proteção de cúspides, resina composta com condicionamento ácido total e resina composta com condicionamento ácido somente em esmalte. Em 1994, Hernandez et al., avaliaram a fratura de dentes humanosatravés de restauração com diferentes materiais em cavidades com paredes remanescentes de espessura padronizada. Os resultados demonstraram que dentes restaurados, com sistema adesivo hidrofílico e resina composta, apresentam uma maior resistência à deflexão quando comparados àqueles sem aplicação do sistema adesivo. Ausiello et al. (1997), estudaram a resistência à fratura de pré-molares superiores, onde foram confeccionadas cavidades MOD e tratamento endodôntico. Para restaurar estes preparos cavitários, foram utilizados: uma 26 marca de amálgama de prata em combinação com sistemas adesivos; três marcas de cimento de Ionômero de Vidro e uma resina composta em combinação; e três grupos com resinas compostas e adesivas. Os resultados demonstraram que as resinas compostas, com seus respectivos sistemas adesivos, forneceram resistência à fratura compatível com a do controle (dente hígido). Steele e Bradford, em 1999, relatam que um dente não pode ser considerado endodonticamente tratado até que tenha sido restaurado. Tendo em vista que as características físicas dos dentes não vitais são muito semelhantes às dos dentes vitais, acreditam esses autores que a maior suscetibilidade à fratura se deve à extensa perda estrutural. Nessa pesquisa in vitro de resistência, os autores confirmaram que o acesso endodôntico custa uma pequena perda de resistência no dente, visto que dentes com cavidades complexas do tipo MOD apresentariam em torno de 50% menos resistência do que os dentes não preparados. Ainda sugerem que qualquer tipo de restauração aumentaria a resistência do dente, porém, nunca aos patamares dos dentes intactos. Os autores acreditam e citam no corpo do trabalho que o ensaio executado poderia ser criticado, pois se baseia em forças fisiológicas, levando em consideração que as forças que fraturam os dentes, algumas vezes, não são as fisiológicas e, sim, as patológicas. O tratamento restaurador em dentes com essas condições de fragilidade tem melhores resultados de resistência, normalmente, quando restaurados sob a forma de procedimentos indiretos com a presença de pinos metálicos e coroas com cobertura total (LOVDAHL, NICHOLLS, 1977; FRAGA et al., 1998). De acordo com os autores que defendem esta técnica, o conjunto pino/coroa tem como objetivos proteger o remanescente dentário contra a fratura, melhorar a retenção da peça, distribuir o estresse gerado pelos esforços mastigatórios, além de possuir longo controle clínico, sendo assim um método tradicional e com sucesso comprovado (SHEETS, 1972; STANDLEE, CAPUTO, HANSON, 1978; SORENSEN, MARTINOFF, 1984; MORGANO, 1996). Pode-se citar o trabalho de Rosen (1961), em que este procurou estabelecer diretrizes para a correta reconstrução de dentes fragilizados. Através de uma revisão da literatura, o autor alerta para o risco de fratura em 27 dentes fragilizados e recomenda procedimentos que os reforcem, indicando a confecção de núcleos metálicos fundidos e coroa protética prevenindo, assim, a fratura e aumentando a longevidade do trabalho. Trabert et al., (1978), afirmam que o alargamento do canal radicular para receber pino deve ser o mais conservador possível, provendo o espaço estritamente necessário para o mesmo, pois, com isso, a possibilidade de fratura radicular ficaria extremamente diminuída. A procura por técnicas mais conservadoras gerou o aparecimento dos chamados pinos pré-fabricados, confeccionados em diferentes materiais, para que sejam utilizados em diferentes tipos de restaurações de dentes tratados endodonticamente. O desenvolvimento das técnicas adesivas, para restaurações e cimentação, fez com que o uso de tais pinos tivesse um impulso muito grande, pois essa associação mostrou-se extremamente vantajosa para o profissional, por sua previsibilidade e facilidade de execução (DURET et al., 1990; SIDOLI et al., 1997). Yettram, Wright e Pickard, em 1976, analisaram a distribuição das tensões em dentes naturais e restaurados com coroas protéticas, sob cargas verticais e oblíquas, através de modelos matemáticos denominados modelos finitos. Os autores concluíram que a remoção do esmalte e a colocação de uma coroa protética resultaram em distribuição de tensões semelhantes às apresentadas pelo próprio esmalte. Com certeza a perda de estrutura dentária é um fator inerente ao tratamento endodôntico. Com o intuito de que o canal fique bem instrumentado, é removida uma grande quantidade de tecido dentário mineralizado, o qual deverá ser reposto com materiais restauradores com propriedades físicas semelhantes as dos tecidos dentários (DURET et al,1990; SORENSEN et al, 1988). Diante da situação econômica que nosso país enfrenta hoje, para a grande maioria da população, a saúde oral não é prioridade, uma vez que grande parte do salário do brasileiro é gasto com alimentação, moradia, educação e, por último, com a saúde. Logo, é necessário que sejam encontradas alternativas econômicas e acessíveis de tratamentos restauradores, como são as restaurações diretas, pois elas necessitam menos tempo para serem confeccionadas, dispensam a fase de laboratório e seu 28 custo é mais baixo, fazendo com que aquelas pessoas que não possuem recursos para pagar uma restauração indireta ou mesmo uma coroa de porcelana tenham alternativas de tratamentos economicamente mais acessíveis e ainda mantendo a exigência estética e funcional que os pacientes querem em suas restaurações. Nos últimos tempos, a endodontia tem alcançado um alto grau de sucesso, cujo índice situa-se em torno de 90%, apesar disso o que o clínico geral encontra é um pouco desolador, já que os dados disponíveis mostraram que a eficácia do tratamento endodôntico situa- se em um patamar inferior, estabelecido em torno de 46%, quando realizado por profissional não especializado. O tratamento dos canais radiculares e principalmente do grupo de molares requer do profissional que se dedica a esta prática um alto grau de qualificação, habilidade e conhecimento científico. Além disso, o alto custo do equipamento, material e instrumental faz com que, de uma forma geral, somente seja realizado em clínica particular e por profissionais especialistas em endodontia, fazendo com que uma pequena faixa da população seja beneficiada com o tratamento. Segundo De Deus (1992), a execução do tratamento convencional dos canais radiculares tem sido um dos grandes entraves na prática da odontologia comunitária, principalmente quando se tratam de comunidades carentes de recursos. Passada mais de uma década, o quadro pouco mudou, uma vez que grande parte da população brasileira não possui condições de ter acesso ao consultório privado, este estudo pode proporcionar uma facilidade nesse acesso da população ao tratamento endodôntico, pois o material em questão é de baixo custo operacional e de fácil manipulação, reduzindo o tempo operatório e, conseqüentemente, diminuindo o índice de dentes perdidos. Portanto, quase que em sua totalidade, o uso da resorcina como material obturador é voltado para a área social, possibilitando sua utilização em postos de saúde, Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e até mesmo em consultórios particulares. A endodontia consiste em um campo da odontologia responsável pela prevenção, tratamento de agressões ao órgão pulpar, além de suas repercussões nos tecidos periapicais. Em casos de pulpectomia, o preparo do canal radicular visa à remoção do tecido orgânico e à criação de condições 29 morfológicas e dimensionais, a fim de que se possa proceder a uma correta obturação. Já quanto as necropulpectomias, além de remover os restos teciduais, dar forma e dimensões, cabe ainda ao preparo a responsabilidade de eliminar ou reduzir o número de microrganismos presentes no sistemade canais radiculares. O reconhecimento das dificuldades para modelar corretamente o canal radicular tem provocado o aparecimento de um grande número de técnicas que recheiam e avolumam os textos especializados, entre as quais se destacam a tradicional ou clássica, a escalonada e as no sentido coroa-ápice. Qualquer que seja a técnica selecionada para modelar o canal é importante lembrar que o êxito desse procedimento está alicerçado em alguns procedimentos básicos que devem ser cuidadosamente obedecidos. Entre eles, salientam-se a seleção adequada dos instrumentos, a determinação e a manutenção do comprimento de trabalho para modelagem (SOARES; GOLDBERG, 2002). O preparo biomecânico é realizado através da instrumentação dos canais radiculares, complementado pela irrigação e aspiração, com soluções anti-sépticas nos casos de necropulpectomias e, principalmente, com função de limpeza mecânica, nas biopulpectomias. A irrigação e a aspiração consistem em se fazer passar um líquido através das paredes do canal, com a finalidade de remover restos pulpares, raspas de dentina conseqüentes da instrumentação, microrganismos e outros detritos. Essa limpeza permite melhor ação dos medicamentos tópicos, no caso de tratamento de dentes despolpados e infectados, como também um contato perfeito do curativo de demora com o coto pulpar e os tecidos vivos do sistema de canais radiculares, no caso de dentes com vitalidade. Essa fase do tratamento contribuirá, também, para que haja um melhor contato da substância obturadora com as paredes do canal radicular. Em suma, a irrigação e a aspiração buscam: limpeza, desinfecção e lubrificação do conduto radicular (LEONARDO; LEAL, 1998). A obturação do canal radicular consiste no preenchimento do canal, de forma completa e hermética, tanto no seu comprimento, como em largura, a fim de garantir, com mais segurança, a reparação biológica do periápice. É a sagração do tratamento, pois perpetua o estado de desinfecção conseguido durante o preparo químico-mecânico (ALVARES, 1991). 30 A obturação do canal radicular pode ser realizada na mesma sessão em que se conclui a modelagem. Entende-se, no entanto, que essa conduta não pode ser desempenhada por quem não tem a necessária experiência clínica. A obturação endodôntica deve preencher tridimensionalmente o canal modelado, além de assegurar um ótimo selamento em todas as dimensões, bloqueando as comunicações, sejam apicais ou laterais, do canal com o periodonto (SOARES; GOLDBERG, 2002). Uma das mais importantes finalidades da obturação é selar os canalículos, ramificações e união cemento-dentina-canal, estruturas estas suscetíveis à permanência de microrganismos, com o objetivo de impedir a passagem dos mesmos que, porventura, tenham escapado da terapia endodôntica, proliferando-se e voltando a irritar a região periapical. O que também se almeja das obturações dos canais radiculares é que elas não interfiram e, se possível, até estimulem o processo de reparo apical e periapical, que deve ocorrer após as intervenções endodônticas (LEONARDO; LEAL, 1998). As discrepâncias morfológicas dos instrumentos entre si, entre instrumentos e cones de guta-percha, somadas à variada anatomia dos canais radiculares criam grandes dificuldades para obturação do sistema desses canais com um único material. É assim que a obturação, para atingir o preenchimento tridimensional, necessita da guta-percha complementada pelo cimento endodôntico. A finalidade do cimento é ocupar os espaços entre a guta-percha e as paredes do canal radicular, assim como aqueles entre os próprios cones de guta-percha. Os cimentos endodônticos e os materiais de obturação em geral, devem cumprir uma série de requisitos, entre os quais se destacam: fácil aplicação no canal, boa estabilidade dimensional, impermeabilidade e aderência, bom escoamento, adequada radiopacidade, inalteração da cor do dente, ação antimicrobiana, suscetibilidade de remoção parcial ou totalmente e biocompatibilidade. Assim, até que estudos propiciem o aparecimento ou a confirmação da existência do material ideal, a obturação poderá ser realizada com um material que – por suas propriedades físicas, químicas e biológicas – propicie a obturação, condições para que ela atinja os seus objetivos (SOARES; GOLDBERG, 2002). 31 Além da existência de um grande número de técnicas para preparo do canal, também são muitas as técnicas de obturação, ora adequadas ao material usado, ora de acordo com as condições do canal em tratamento. Todavia, todas têm objetivos comuns: reunir qualidade com praticidade. Dentre todas as técnicas a da Condensação Lateral da Guttapercha, por sua simplicidade, baixo custo, é a mais utilizada universalmente (ALVARES, 1991). Na China, a partir de 1958, os dentistas foram encorajados a propor inovações que pudessem oferecer serviços dentários adequados e que alcançassem um maior número de pessoas, com o objetivo de obter procedimentos simplificados, diminuindo assim o tempo operatório, melhorando a saúde e salvando o maior número possível de dentes. Para atender às finalidades propostas, um grupo de dentistas da Faculdade de Estomatologia do Colégio Médico de Pequim propôs a Técnica da Resinificação, cujos estudos técnicos foram aperfeiçoados mais tarde, durante os anos 60, com o objetivo de alcançar uma técnica de tratamento simples e efetivo, desde então adotada por muitos dentistas na China. Os introdutores da técnica de resinificação explicam que a resina fenólica se apresenta em forma líquida quando introduzida nos canais radiculares, tornando-se sólida após polimerização. Como líquido, pode penetrar nos canalículos dentinários, canais acessórios, assim como nos canais curvos e/ou atresiados. Durante o endurecimento a resina pode preencher e selar tanto os canalículos como o canal principal. Durante esse tempo, o tecido pulpar residual no canal, pode ser “resinificado”, isto é, embebido pela resina, tornando-se assim inofensivo, de modo que os dois juntos (resina + tecido pulpar residual) sirvam como material obturador do canal radicular e permanecendo com propriedades anti-sépticas. A resina fenólica não é simplesmente um material de obturação, mas também um material terapêutico multifuncional (TSAO, TSAI-FANG, 1984). Com esta terapia é desnecessário remover toda a polpa infectada, limpar e alargar o canal, desinfetar o canal ou obturar o canal principal com qualquer outro material, podendo ser os passos incorporados em um único, ganhando tempo, bem como diminuindo o custo operacional, a resina fenólica custa R$ 20.00 reais um frasco com 30ml. Resumindo, é possível evitar muitas complicações comuns da terapia convencional do canal radicular, tais como 32 perfuração acidental, fratura de instrumentos, trauma aos tecidos apicais através da instrumentação e da passagem forçada de bactérias, através do forame, durante a preparação mecânica. O método utilizado para a terapia resinificante é a seguinte: remoção da cárie e abertura da câmara pulpar, remoção do teto e do tecido pulpar coronário e penetração de 2/3 do canal radicular; os resíduos pulpares não necessitam ser removidos do terço apical, preparo até a lima de n° 25, irrigação e aspiração, secagem com cones de papel absorvente, preparo e aplicação do agente resinificante, que é obtido por meio da mistura de três soluções, na proporção 11:5:3 assim distribuídas: 11 gotas da solução 1; 5 gotas da solução 2; 3 gotas da solução 3; após homogeinizada, a solução é introduzida no conduto com uma seringa de 3ml. Essa operação é repetida de duas a três vezes, de forma a garantir o melhor preenchimento do canal; a solidificação da solução dentro do canal deve se processar dentro de seis horas. A fórmula do material utilizado na Terapia Resinificante é a seguinte;solução 1: 62,0ml de formalina (38 – 40%), 12,0ml de tricresol e 6,0ml álcool. solução 2: 45,0g de resorcinol e 55,0ml de água destilada. solução 3: 1,0g de hidróxido de sódio e 2,0ml de água destilada (TSAO, TSAI- FANG, 1984). Basicamente, quatro ingredientes constituem a formulação da resina fenólica: - A solução do Formaldeído (formalina) a 35% contém não menos de 34,5% (p/p) e não mais de 38,0% (p/p) de formaldeído, com quantidades variáveis de metanol, aproximadamente de 9 – 15% (v/v) como estabilizante, para evitar a polimerização para paraformaldeído. Apresenta-se como um líquido límpido, incolor, de odor característico forte e irritante, sabor ardente e com pH entre 2,8 a 4,0. Se exposto ao ar oxida lentamente em ácido fórmico. É solúvel em água, álcool e acetona, sendo insolúvel em clorofórmio e éter e incompatível com amoníaco, fenóis, agentes oxidantes, proteínas e metais pesados; deve ser armazenado em recipientes hermeticamente fechados, protegidos da luz e armazenados a uma temperatura de 15-25 °C, evitando o contato com plástico. Trata-se de um desinfetante ativo frente a bactérias, fungos e vírus, mas muito pouco efetivo contra esporas. - O Tricresol, sendo um produto procedente do petróleo, é constituído essencialmente por uma mistura de o-cresol, m-cresol, p-cresol, com 33 predomínio de m-cresol, contendo também outros fenóis. Apresenta-se de cor amarelada, amarelo pardo, rosado ou incolor, que vai escurecendo aos poucos com o tempo ou se exposto à luz. Possui cheiro característico semelhante ao dos fenóis, é solúvel em 50 p. de água, tornando-se um líquido turvo, muito solúvel em álcool, clorofórmio, éter e soluções de hidróxidos alcalinos. É incompatível com clorpromacina; sua atividade antimicrobiana se reduz na presença de surfactantes não iônicos. Trata-se de um anti-séptico de amplo espectro com propriedades adstringentes ativo, frente a um grande número de bactérias, tanto gram positivas quanto gram negativas, e tricomonas (ALIAGA, 2002). - O Resorcinol (resorcina) pode se apresentar como um pó cristalino, cristais incolores ou de cor cinza rosado-claro, que pode trocar a vermelho quanto exposto ao ar e à luz, de odor característico e sabor doce e depois amargo. É livremente solúvel em éter e glicerina e solúvel em 0,9 p. de água. Incompatível com ácido e éter nitroso, clorofórmio, albuminas; dá lugar a uma massa semilíquida ao misturar-se com cânfora, mentol, fenol e outras substâncias afins. Por ser oxidável e sensível à luz, é indicada a utilização de embalagens escuras. São usados topicamente por suas propriedades anti- sépticas, antifúngicas, antipruríticas e esfoliativas em forma de loções, pomadas e cremes no tratamento de acne, caspa e seborréia (ALIAGA, 2002). - O Hidróxido de Sódio se apresenta como massas brancas de estrutura cristalina em forma de lentilha, cilindros ou placas, que absorvem facilmente a umidade e o dióxido de carbono transformando-se em carbonato sódico. É um cáustico muito potente, fortemente corrosivo em tecidos animais e vegetais e, devido a essa alta causticidade, é muito irritante para a pele e membranas mucosas (ALIAGA, 2002). Devido ao contraste da situação de saúde bucal no Brasil, observa-se um amplo crescimento de oferta de dentistas, sem uma correspondente melhora na condição econômica do povo. Isso acarreta uma situação conflitante e, por sua vez, inusitada, pois de um lado grande parte da população está marginalizada de qualquer tipo de atendimento odontológico e de outro lado há um elevado número de profissionais buscando uma oportunidade de trabalho. Tentando fazer frente a essa dimensão dos problemas de saúde bucal que afeta a população compreende-se que 34 profundas mudanças, na prática, são necessárias para a odontologia brasileira e baseando-se nesse quadro foi que se utilizou um método alternativo de tratamento endodôntico e restauração de resina direta, já que diminui o tempo operatório com procedimentos clínicos mais simplificados e que economicamente sejam menos onerosos. Tudo isso tem o objetivo de colaborar na indicação das mesmas e ao mesmo tempo oferecer um tratamento que esteja ao alcance de todos, com baixo custo e que possa manter com boa função ao maior número de dentes possível. REFERÊNCIAS 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1 Aliaga JLV. Et al Monografías Farmacéuticas.2002 2 reed. Alicante: Gráficas Olmedilla. Alvares S. Endodontia Clinica. 2 ed. São Paulo: Santos, 1991. Ausiello P, De Gee AJ, Rengo S, Davidson CL. Fracture resistance of endodontically treated premolars adhesively restored. Am J Dent 1997 oct; 10(5); 237-41. Bindslev PH, Mjör IA. Dentística Operatória Moderna. 2. ed. São Paulo: Ed. Santos, 1993. Blaser PK, Lund MR, Cochran MA, Potter RH. Effect of design of class2 preparations on resistance of teeth to fracture. Oper Dent, 1983; 8(1); 6-10. Buonocore MG. A simple method of increasing the adhesion of acrylic filing materials to enamel surfaces. J of Dent Res 1955 dec.; 34(6); 849-53. Christensen G. Posts: Necessary or Unnecessary. J Am Dent ASS. 1996 oct; 127; 1522-6. Conceição EN, Dillenburg AL, Eduardo CP, Leite CV, Soares C, Tanji E, et al. Dentística: Saúde e Estética. 1. Ed. São Paulo: Ed. Artes Médicas, 2000. De Deus QD. Endodontia. 5 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1992. Duret, PB; Reynaud M; Duret F. Un nouveau concept de reconstrution corono- radiculaire: Le composiposte (1). Chirurg Dent France. 1990 nov; 60(540); 131- 41 Elderton RJ. Longitudinal study of treatment in the General Dental Service in Scotland. Br Dent J 1983; 155; 91-6. Fischer DW, et al. Photoelastic analysis of inlay and onlay preparations. J Prosthet Dent 1975 jan; 33(1); 47-53. Fraga RC, Chaves BT, Mello GS, Siqueira JFJr. Fracture resistence of endodontically treated roots after restoration J Oral Reh, 1998; 25(11); 809-13. Fusayama T, Maeda T. Effect of pulpectomy on dentin hardness. J Dent Res 1969; 48(3); 452-60. 1 De acordo com o Estilo Vancouver. Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Biomedical Publication, consulta em 10 de julho de 2006. 37 Galán Jr. Contribuição ao estudo das principais dimensões dos dentes permanentes, de leucodermas brasileiros em ambos os sexos. Rev Brás Odont 1970 mai/jun; 27(163); 145 –158. Gutmann JL. The dentin-root complex: Anatomic and biologic considerations in restoring endodontically treated teeth. J Prosthet Dent. 1992 apr.; 67(4); 458- 67. Harris W. A simplified method of treatment for endodontic perforations. J of Endod. 1976 may; 2(5); 127-34. Heling I, Gorfil C, Slutzky H, Kopolovic K, Zalkind M, Slutzky-Goldeberg I. Endodontic failure caused by inadequate restorative procedures: Review and treatament recommendations. J Prosthet Dent 2002 jun; 87(6); 674-8. Hernandez R, Bader S, Boston D, Trope M. Resistance to fracture of endodontically treated premolars restored with new generation dentin bonding system. Int Endod J. 1994; 27(6); 281-4. Huang TG, Schilder H, Nathanson D. Effects of moisture content and endodontic treatament on some mechanical proprieties of human dentin. J of Endod. 1992; 18(5); 209-15. Leonardo MR, Leal JM. Tratamento de canais radiculares atualidades técnicas. 3 ed. São Paulo: Premier, 1997. Lewestein I, Grajower R. Root dentin hardness of endodontically treated teeth. J of Endod, 1981; 7(9); 421-2. Lovdahl PE, Nichols JI. Pin retained amalgam cores versus cast-golddowel- cores. J Prosthetic Dent. 1977; 38(5); 507-14. Luebke R; Dow, P; Correction of an endodontic root perforation. ORAL SURG, ORAL MED, ORAL PATHOL, v. 18, n. 1, p. 97-113, july 1964 Mjör IA. Placement and Replacement of Restorations. Oper Dent 1981; 6; 49- 54. Mondelli J, Steagall L, Ishikiriama A, Navarro MFL, Soares FB, Fracture strength of human teeth with cavity preparations. J Prosthet Dent. 1980; 43(4): 419-22. Moraes SH. Aplicação clínica do cimento de Portland no tratamento de perfurações de furca. JBC. 2002; 6(33): 223-9. Morgano SM. Restoration of pulpless teeth: application of traditional principles in the present and future contexts. J Prosthet Dent. 1996; 75(4);375-80. 38 Navarro MFL, Franco EB, Ishikiriama A, Pereira JC, Steagall L; Resistência à fratura de dentes extraídos, íntegros e cariados, com preparos e restaurações. Est E Cult 1983 jan/jun; 13(1); 56-60. Oliveira FC, Denehy GE, Boyer DB. Fracture resistance of endodontically prepared teeth using various restorative materials. J Am Dent Ass 1987 jul; 115(7); 57-60. Paiva JG, Antoniazzi JH. Endodontia Bases para a Prática Clínica. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. Papa J, Cain HE, Messer H. Moisture content of vital vs. endodontically treated teeth. Endod Dent Traumatol. 1994; 10, 91-3. Reeh ES, Douglas WH, Messer HH. Stiffness of endodontically treated teeth related to restoration technique. J Dent Res. 1989; 68; 1540-4. Rosen H. Operative procedures on mutilated endodontically treated teeth. J Prosthet Dent,1961; 11; 972-86. Scurria MS, Shugar DA, Hayden WJ, Felton DA. General Dentists’ Patterns of Restoring Endodontically Treated Teeth, J Am Dent Assoc. jun 1995; 126; 775- 9. Sedgley CM, Messer, HH. Are endodontically treated teeth more brittle? J of Endod. 1992; 18(7); 332-5. Sidoli GE; King PA; Setchel DJ. An in vitro evaluation of a carbon fiber basead post and core system. J Prosthet Dent. 1997; 78(5); 262-69. Sheets C. Dowel and Core foundations. J Prosthet Dent. 1972; 28; 405-11. Sinai I. Endodontic performations: their prognosis and treatment. Jada. 1977 july; v. 95. Sirimai S, Riis DN, Morgano SM. An in vitro study of the fracture resistance and the incidence of vertical root fracture of pulpless teeth restored with six post- and-cores system. J Prosthet Dent. 1999 mar 81(3); 262-9. Soares, IJ, Goldberg F. Endodontia: Técnica e fundamentos. São Paulo: Artmed, 2002. Sorensen JA, Martinoff JT. Clinically significant factor in dowel design. J Prosthet Dent. 1984, 52(1); 28-35. Sornkul E, Stannard J. Strenght of roots before and after endodontic treatment and restoration. J Endod. 1992 sept.; 18(9); 440-443. Standlee JP, Caputo AA, Hanson EC. Retention of endodontic dowels: effects of cement, dowel, length, diameter, and design. J Prost Dent. 1978; 39; 400-5. 39 Stelee A, Bradford R. In vitro Fracture Strength of Endodontically Treated Premolars. J of Endod. 1999 jan; 25(1); 6-8. Stock CJR. Atlas Colorido e Texto de Endodontia. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. Tang HM, Torabinejad M, Kettering JD Leakage evaluation of root end filling materials using endotoxin. J Endod. New York, 2002. Tsao, Tsai-Fang. Endodontic treatment in China. Int. Endod j. 1984; 7; 163. Trabert KC, Caputo AA, Abou-Rass M. Tooth fracture – a comparison of endodontic and restorative treatments. J Endod. 1978; 4; 341-5. Vale WA. Cavity preparation and further thoughts on high speed. Brit Dent J. 1959 dec; 107(11); 333-46. VINHOLES JIAM, BUSATO ALS. Tratamento das perfurações na região de furca: estudo comparativo entre materiais. Pelotas, 2000,109p. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Pelotas. Yang S, Rivera EM, Walton RE. Vertical root fracture in non endodontically treated teeth. J of Endod. 1995; 21(6); 337-9. Yettram AL, Wrigth KWJ, Pickard HM. Finite element stress analysis of the crowns of normal and restored teeth. J Dent Res. 1976; 55(6); 1004-11. Watts DC, Wilson NH, Burke FJ. Indirect composite prepartion width and depth and tooth fracture resistance. Am J Dent. 1995 feb; 8(1); 15-19. PROPOSIÇÃO 41 PROPOSIÇÃO Artigo 1: - Conhecer de que forma os cirurgiões dentistas clínicos gerais e os especialistas tratam os dentes submetidos a tratamento endodôntico e portadores de perfurações, - Avaliar, de forma geral, por meio dos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, qual é a situação da saúde bucal da população brasileira. Artigo 2: - Avaliar, in vitro, a resistência à compressão de dentes tratados endodonticamente pela técnica da resinificação com perfuração na região de furca e restaurados com resina composta. Analisar o padrão de fratura resultante em cada grupo, e observar qual apresentou o melhor prognóstico de reparo pós-fratura. ARTIGO 1 43 Restaurar os dentes com tratamento endodôntico ou extraí-los: uma questão de saúde bucal? Visão geral de cirurgiões dentistas Restore the teeth with endodontic treatment or extract them: a question of oral health? Overview of dentists Julia Vinholes1; Airton Pozo de Mattos2; Luis Carlos da Fontoura Frasca3 1. Professora do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil- campus-Torres 2. Professor do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil 3. Professor do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil- Canoas e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Artigo formatado de acordo com as normas da Revista de Saúde Pública, classificação Capes Qualis A Nacional. Julia Itzel Acosta Moreno Vinholes Email: juvinholes@yahoo.com.br Endereço: Rua Gonçalves Chaves 3320/402, Bairro: Centro Telefones: (53) 3227-0825/ (53) 9105-4154 44 RESUMO Este estudo tem por objetivo conhecer de que forma os cirurgiões dentistas clínicos gerais e especialistas tratam os dentes que são submetidos a tratamento endodôntico e que são portadores de perfurações. Concomitantemente analisou-se qual é a situação da saúde bucal da população brasileira. Para isso, foi elaborado um questionário respondido por cirurgiões dentistas especialistas e por clínicos gerais. A abordagem foi qualitativa com perguntas abertas e fechadas. Para se realizar o levantamento da atual situação da saúde bucal da população brasileira, foram utilizados dados fornecidos pelo Ministério da Saúde (Data SUS). As próprias Diretrizes da Política Nacional de Saúde dizem que a assistência pública odontológica no Brasil tem se restringido quase que completamente aos serviços básicos e, ainda assim, com grande demanda reprimida. Os dados mais recentes indicam que no âmbito do SUS, os serviços odontológicos especializados correspondem a não mais que 3,5% do total dos procedimentos clínicos odontológicos. Assim, a formação odontológica tem se revelado insuficiente e inadequada para fazer chegar a saúde bucal à maioria da população, já que infelizmente é muito pequeno o impacto social dos programas públicos. Ainda que a clínica privada possa suprir as necessidades individuais com qualidade técnica reconhecida, há um grande desafio, em termos de abrangência, entre o que é ensinado nos cursos de odontologiae a universalização do atendimento odontológico à realidade brasileira. Unitermos: saúde bucal, promoção de saúde, formação odontológica ABSTRACT The aim of this study was to know how general practitioner dentists and experts attended teeth which were submitted to endodontic treatment presenting perforation and also analyze the position of brazilian people buccal health. For this, it was realized a questionary answered by experts and general practitioners dentists. The approach was qualitative containing opened and closed questions, with the purpose of lifting the real position of brazilian people buccal health using several provided data from Health Ministry ( Data SUS ). The own guidelines of health national politics says that the odontological public attendance has been restricted completely for basic services with great repressed prosecution. In the SUS scope, recent data have showed that experts odontological services do reciprocate to 3,5% of the total odontological services proceedings. Odontological forming has improper and insufficient to give buccal health for people majority. Unfortunately, this had made little impact in public programs. Even private clinic can supply individual needs with recognized technique quality, there is a large challenge between what is taught in Dentistry Courses and the universality of odontological attendance to Brazilian realness. Uniterms: buccal health- health promotion- odontologic forming 45 “... eu sustento que a única finalidade da ciência está em aliviar a miséria da existência humana”. Bertold Brecht INTRODUÇÃO Abordar um tema que possa levar à reflexão e à tomada de atitudes que venham a beneficiar os indivíduos para que tenham melhores condições de saúde bucal não é uma tarefa fácil. Também não se pretende criar parâmetros ou códigos e sim olhar a saúde bucal dentro de um contexto mais universal e mais humanitário, pois a importância da saúde de um ser humano é indiscutível. As doenças bucais mediadas pela ação da placa bacteriana estão entre aquelas que mais flagelam os seres humanos, afetando-lhes severamente o bem estar e a qualidade de vida. As limitações da concepção da prática odontológica que se propõem a tratar dessas doenças e recuperar a saúde bucal das pessoas, dando equivocada ênfase aos procedimentos cirúrgicos e restauradores, têm sido exaustivamente denunciadas no mundo inteiro e, também, entre os profissionais. O cirurgião dentista deve ter uma visão clínica ampla, cuja autonomia e responsabilidade proporcionem saúde e bem estar ao seu paciente. Surpreende que a odontologia tenha passado tantos anos sem se dar conta de que a “extensão para prevenção” que Black propunha era contraditória, pois preconizava a remoção antecipada de tecidos sadios para evitar que estes viessem a sofrer um ataque da doença no futuro e que a limpeza mecânica, praticada pelas próprias pessoas, nunca reuniu um corpo de evidências clínicas aceitáveis para comprovar que tivesse capacidade de interferir de maneira importante com a prevalência da cárie. Segundo Wilkinson (1996) a idéia de promover saúde tem-se tornado uma força vital no novo movimento de saúde pública, no qual a saúde é concebida também como um fenômeno social que diz respeito à qualidade de vida. A promoção de saúde tem sido definida como o processo que capacita a população a exercer e aumentar o controle sobre sua saúde, sendo relativo ao 46 bem estar individual e coletivo (OMS, carta de Otawa, 1986).2 O movimento de promoção de saúde veio, não para se opor, mas para preencher essa lacuna e propor uma abordagem mais estruturalista ao modelo biomédico, em que a prevenção e o tratamento das doenças, bem como a adoção de comportamento e estilo de vida saudável requerem medidas de foro ambiental, econômico, sócio-cultural e legislativo para sua efetivação (OMS, Carta de Ottawa; 1986). A promoção de saúde implica um processo mais abrangente e contínuo, que envolve prevenção, educação e a participação de diferentes setores da sociedade na elaboração de estratégias que permitam a efetividade da educação para a saúde. Dessa forma, a promoção transcende as atividades e as decisões individuais para tornar-se uma atividade coletiva (MC DONALD, 1998). De acordo com os preceitos da Carta de Ottawa, para se alcançar um estado real de saúde são necessários vários pré-requisitos incluindo educação, renda adequada, justiça social e eqüidade. Para que esses requisitos sejam alcançados, o movimento de promoção de saúde tem que tornar a ação intersetorial uma prática mais tangível. No Brasil, assim como em vários países da América Latina, onde prevalecem as desigualdades socioeconômicas, a promoção da saúde ainda tem pequena participação no desenvolvimento social e econômico do país. Em nosso país, devido à política econômica de concentração de renda, somente 4% da população, ou seja, aqueles que ganham acima de 10 salários mínimos, têm acesso à clínica particular. Para o restante da população, a odontologia oferece uma resposta mutilatória, ou seja, a extração apresentada como a prevenção de mal menor. Deve-se ressaltar que esta solução não é dirigida ao problema em si, mas a sua manifestação (dor) é, portanto, uma alternativa que não recupera a saúde e sim a agrava. O projeto SB Brasil (Condições da Saúde Bucal da População Brasileira) publicado pelo Ministério da Saúde (2005) relatou que, em média, uma criança brasileira de 3 anos ou menos já possui, pelo menos um dente com experiência de cárie dentária e que aos 5 anos este número aumenta para 3 dentes atacados, cujo índice aumenta nas regiões Norte e Nordeste. As faixas etárias 2 Organização Mundial da Saúde, Carta de Otawa; 1986 (primeira Conferência Internacional em Promoção de Saúde sediada em Otawa - Canadá que resultou nesta carta). 47 de 12 e 15 a 19 anos apresentam, respectivamente, em média 2,8 e 6,2 dentes com experiência de cárie, sendo que esta media é menor nas regiões Sudeste e Sul e as mais elevadas foram encontradas nas regiões Nordeste e Centro- Oeste. No que se refere aos adultos, a média aumenta para 20,1 dentes. Deste grupo, 30 milhões de pessoas nunca foram ao dentista, sendo que 75% delas têm entre 65 e 74 anos. No Brasil, apenas 55% dos adolescentes têm todos os dentes. Entre os adultos, a falta de dentes afeta 54% da população e 10% dos idosos. Ao todo, são 30 milhões de brasileiros desdentados. Destes, oito milhões precisam de prótese dentária completa. Hoje, no Brasil, 45% da população não têm acesso a escovas de dente e 13% dos adolescentes nunca foram ao dentista. No caso dos adultos, o índice é de 3% e chega a 6% entre os idosos. Na última década, embora nosso país tenha avançado muito na prevenção e no controle da cárie em crianças, a situação dos adolescentes, adultos e idosos está entre as piores do mundo. Mesmo entre as crianças, problemas gengivais e dificuldades para conseguir atendimento odontológico persistem. Todos esses dados são de uma pesquisa sobre saúde bucal, feita pelo Ministério da Saúde nos anos de 2002 e 2003 (Ministério da Saúde, 2005). O trabalho mostrou que é alta a média nacional de dentes cariados, obturados e perdidos, e que a população tem pouco acesso a serviços odontológicos públicos. Para mudar esse quadro, o Governo Federal criou a Política Nacional de Saúde Bucal, Brasil Sorridente3, a qual reúne uma série de ações em saúde bucal, voltadas para cidadãos de todas as idades. Até o lançamento do Brasil Sorridente, em 17 de março de 2004, apenas 3,3% dos atendimentos odontológicos feitos pelo SUS correspondiam a tratamentos especializados. A porcentagem maior era de procedimentos mais simples, como extraçãodentária, restauração, pequenas cirurgias e aplicação de flúor. O Programa Brasil Sorridente está destinado a distribuir dois milhões de kits com escovas de dente e creme dental, para 500 mil alunos da rede pública. Com um investimento governamental orçado em R$1,2 bilhões, o programa prevê a construção de 354 centros odontológicos, com laboratórios, em 3 http://bvsms.saúde.gov.br/bvs/publicações/política_nacional_Brasil_sorridente.Pdf; acesso 5/07/08 48 municípios estratégicos e deve entregar cerca de 560 consultórios para as equipes de saúde bucal do Programa Saúde da Família. Com a implantação do Brasil Sorridente, o número de equipes de saúde bucal deve dobrar. Em 2003 eram seis mil equipes e a meta do programa é ter 16 mil pessoas trabalhando na área. Outro objetivo é levar a fluoretação a todos os municípios que têm estações de tratamento e distribuição de água, mas que ainda não utilizam o flúor. Segundo o Ministério da Saúde, essa medida é simples e barata, uma vez que a adição de flúor na água encanada custa apenas R$ 1 por habitante/ano e é capaz de reduzir em até 60% a incidência de cárie dentária. Atualmente, somente 70 milhões de brasileiros têm acesso a esse benefício. Em 2001, eram extraídos 8,6 milhões de dentes permanentes. Em 2007, o número caiu para 6,44 milhões. Em relação aos dentes de leite, o número reduziu de 4,73 para 3,91 milhões no mesmo período (Data SUS)4. Segundo Gilberto Pucca5, coordenador do programa Brasil Sorridente, desde 2002, cerca de dois milhões de dentes deixaram de ser extraídos. Para ele este é um importante indicador de saúde, que demonstra a melhoria da qualidade na atenção à saúde bucal no país. As Diretrizes da Política Nacional de Saúde, em seu capítulo de “Ampliação e Qualificação da Atenção Secundária e Terciária”, afirmam que a assistência pública odontológica no Brasil tem se restringido quase que completamente aos serviços básicos e, ainda assim, com uma grande demanda reprimida. Os dados mais recentes indicam que no âmbito do SUS, os serviços odontológicos especializados correspondem a não mais que 3,5% do total dos procedimentos clínicos odontológicos. A prática odontológica que tenha como ideologia a promoção e a manutenção de saúde bucal dependerá da nossa capacidade de organizar e levar os novos referenciais ao maior número possível de dentistas. Essa nova modalidade de atenção odontológica deverá ainda ser capaz de oferecer um tratamento restaurador e protético com bases mais científicas e racionais, comprometida, também, com a função e a estética. 4 DATASUS.GOV.BR 5 Saúde.gov.br 49 Atualmente sabe-se que a endodontia vem sofrendo constantes evoluções técnicas e científicas, o que faz com que a taxa de sucesso no tratamento venha aumentando. Porém, sabe-se que a terapia é fundamentalmente biológica, mas depende, também, de fatores técnicos. Para Mezzomo (1999) a natureza dinâmica da ciência modifica conceitos, posturas e hábitos do ser humano, à luz de novas descobertas. Isso também acontece na odontologia, onde o conceito científico e a tecnologia disponível determinam o modelo sobre o qual se alicerça a prática odontológica. Já para Omais e Yassumoto, (2001, p.499) “a odontologia deve estar direcionada para as atuais necessidades do indivíduo”. Quando se fala em odontologia integrada numa equipe multidisciplinar, trata-se o paciente como um todo e não apenas a cavidade bucal. As ações de saúde, tanto educativas quanto curativas, visam propiciar ao indivíduo o mais alto grau de saúde, bem como permitir uma melhor qualidade de vida (KRIGER et al., 1999). Mesmo quando a saúde não pode ser alcançada e mantida, a predisposição ao progresso da doença deve ser o objetivo do atendimento odontológico moderno. As capacidades de cooperação do paciente no tratamento global determinam o conteúdo do tratamento corretivo, além de melhorar a estética e a função. Para cada paciente o sistema de acompanhamento deve ser planejado individualmente, além disso, esse tratamento envolve o controle regular de promoção de saúde feita durante a fase da terapia curativa (LINDHE et al.,1999). Weine (2000) professa que, à medida que os dentistas se conscientizarem de que o dente natural funciona mais satisfatoriamente do que qualquer substituição descobrirão que vale a pena fazer esforços adicionais para manter os dentes com problemas endodônticos. Na prática da odontologia, o papel da endodontia alcançou, durante a década passada, uma esfera maior, apesar de vários fatores terem contribuído para isso, tendo-se como fundamento principal o alto índice de sucesso que o tratamento endodôntico tem alcançado. A endodontia é extremamente positiva porque a porcentagem de sucesso adquirida provavelmente é uma das melhores encontrada em qualquer uma das especialidades da odontologia. Tal porcentagem tem sido responsável pela aceitação do tratamento pelos clínicos gerais, conscientes do importante 50 papel que o dente tratado endodonticamente tem para o desempenho da suas funções dentro da cavidade oral. Segundo Glickman (1997), a experiência e a pesquisa em evolução levam ao avanço de materiais, técnicas e tecnologias que possibilitam melhores tratamentos e serviços, favorecendo o sucesso em longo prazo. A confiança integral nas técnicas tradicionais e a resistência às mudanças restringem ou impedem que as mentes se espacem, o que é essencial para que o profissional compreenda novos conceitos, novos produtos e novas terapias. Independente disso, o clínico deve reconhecer que, apesar de toda essa tecnologia que chega ao mercado odontológico, nada deve tirar sua atenção aos detalhes, nada deve superar os princípios biológicos básicos. Portanto, nada substitui o conhecimento e a habilidade do profissional. Hoje, todos os procedimentos, em suas variações, têm tirado a odontologia da “era da amputação”, introduzindo-a na “era do acréscimo”, na qual a prática clínica envolve as disciplinas tradicionais de saúde e função. As cavidades são preparadas lançando mão de conceitos mais conservadores, removendo-se apenas o tecido irreversivelmente comprometido, a fim de conseguir sua geometria e mecânica, considerando as características físicas, químicas, mecânicas e biológicas do material a ser utilizado. Este estudo tem por objetivo conhecer de que forma os cirurgiões dentistas clínicos gerais e os especialistas tratam os dentes que são submetidos a tratamento endodôntico e que são portadores de perfurações. Ao mesmo tempo, procura saber qual é a situação da saúde bucal da população brasileira. METODOLOGIA Neste estudo foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, que é empregado quando se procura entender o contexto sobre um fenômeno. Tal método propicia um conhecimento aprofundado de um evento e possibilita a explicação de comportamentos, possibilitando o uso de outras técnicas de coleta que complementem ou evidenciem novos fatos que possam emergir. 51 Para o levantamento de dados, utilizou-se um questionário, enviado por correio eletrônico. Junto ao questionário estava o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em que o entrevistado era informado dos objetivos da pesquisa e de sua participação, sendo-lhes asseguradas a privacidade e a confidencialidade de suas identidades. O instrumento de coleta de dados era constituído por perguntas abertas e fechadas, as quais procuravam saber de que forma são tratados os dentes que sofreram perfuração na região de furca. A população de estudo foi constituída, no total, de 15 especialistas em endodontia do Estado do Rio Grande do Sul e 15 clínicos gerais, cujas informações foram obtidas através
Compartilhar