Buscar

Aulas Moderna II ead 2016 2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 104 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 104 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 104 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

U F P I 
 
 
HISTÓRIA MODERNA II 
 
 
História Moderna II 
● Vamos estudar aspectos de algumas sociedades 
● Principalmente as europeias 
● Isso não quer dizer que estudaremos tudo o que aconteceu 
● Discutiremos aspectos que nos parecem mais importantes, de 
acordo com problemáticas de nossa sociedade atual 
● A nossa pretensão é fornecer um painel da era moderna e de 
acontecimentos que foram marcantes para a história mundial 
● Nesse sentido, abordaremos determinados assuntos, como os 
estados nacionais, as revoluções inglesas do século XVII e o 
iluminismo 
Os estados nacionais 
● A centralização do poder 
 
● A centralização não pode ser imputada 
simplesmente às causas econômicas, mas 
também às mentalidades que, são correlatas às 
condições materiais de existência 
 
 
39 
1 A política dinástica 
● O poder nesse período 
● O soberano ungido de Deus 
● Deve se aproximar do exemplo divino: ser justo 
e sábio 
● Sendo a própria Corte um “reflexo” da Corte 
divina, na qual santos, anjos, querubins, etc, 
gozam, de acordo com o seu grau hierárquico, 
das bem aventuranças do Paraíso 
 
● O lugar do rei na sociedade do Antigo Regime 
● Estaria no cume de uma sociedade completamente 
hierarquizada e é por essa razão que ele tem de estar visível o 
tempo todo 
● Ele deve cumprir o que lhe foi designado, uma missão sagrada: 
conduzir as almas à salvação 
● O soberano é o intermediário secular entre a vontade divina e 
os súditos 
● Era o monarca de uma sociedade de ordens 
● Para os contemporâneos, a sociedade do Antigo Regime era 
dividida em três ordens: O clero, a nobreza e o restante do 
povo 
 
 
● Na sociedade do Antigo Regime 
● Ser do povo significava pertencer a alguma 
comunidade, por exemplo, a uma guilda ou a uma 
municipalidade 
● Aqueles que não tinham nenhuma pertença estavam 
excluídos do conceito de povo 
● Logo, o Terceiro Estado tinha limitações à participação 
● Evidentemente, quando os reis convocavam os 
Estados Gerais, os principais representantes de cada 
ordem eram os que seriam enviados 
● O Terceiro Estado ficou caracterizado pela burguesia 
 
● Bases de sustentação do poder real 
● O regime monárquico se valia dessas três ordens 
para completar a sua autoridade 
● Para as teorias políticas da época, era o consenso 
entre os súditos que daria a legitimidade da ação real 
● O poder real tinha duas bases de sustentação: 
● Uma religiosa – o caráter sagrado da instituição 
monárquica 
● E uma laica - a aceitação por parte do “povo” do 
monarca como indivíduo 
 
● Durante o Antigo Regime 
● A introdução da economia mercantil, acelerou o 
enfraquecimento da sociedade de ordens 
● Cada vez mais as sociedades se constituíam em classes e 
não ordens 
● Na Inglaterra, e na França em menor escala, por 
exemplo, desde o século XVII, os nobres se alinhavam 
muito mais com a burguesia do que com o clero 
● Isto é, a nobreza se aproximava dos conceitos de riqueza 
da burguesia, mesmo ainda menosprezando os 
endinheirados sem título de nobreza 
 
● A sociedade de classes 
● Vamos encontrar quatro grupos principais que estão à frente do 
que seria a classe dominante nos séculos XVI e XVIII : 
● A aristocracia de espada; funcionários públicos togados; os 
magistrados de posições mais altas; e os financistas: 
● Esses diversos grupos são aliados uns aos outros: 
● Por casamentos, regulados segundo o princípio (majoritário, 
pelo menos) da hipergamia feminina. (Com dotes substanciais, 
as filhas de financistas desposam filhos de magistrados; e as 
filhas de magistrados se casam com jovens aristocratas, bem 
situados na escala social). (LADURIE, 1994, p.29). 
 
 
● A sociedade de ordens 
● Dessa forma, a sociedade de ordens se manteve, pelo 
menos nominalmente, até a Revolução Francesa, mas 
não possui nada de efetivo, pois apesar de manter 
nomes e posições, ela já não representa o que ocorre 
na própria sociedade. 
● Esse será um traço específico do Antigo Regime, quer 
dizer, a política mercantil e liberal que ele implantou 
serviu para solapar um de seus sustentáculos 
 
● Outro traço dessa sociedade 
● O poder real deixa, ao longo dos anos, de ser 
associado ao sobrenatural 
● A sociedade deseja muito mais ações diretas do 
governo nas questões cotidianas, deixando de 
esperar pela ação divina nos domínios humanos 
● De certa maneira, o poder se humaniza 
● No final do período, exige-se que seja contínuo e 
ativo, no sentido de influenciar a vida das pessoas 
 
 
 
 
 
 
● Poder efetivo 
● Ele nasce das próprias monarquias nacionais 
● Podemos dizer que o modelo mercantil de economia é um 
grande instrumento dessa mudança, mas não o único 
● A necessidade de financiamento da máquina estatal que estava 
se organizando levou os monarcas a procurarem cada vez 
mais o apoio das burguesias 
● A burguesia tinha como contrapartida a possibilidade de 
expandir seus negócios 
● Os banqueiros ganhavam cada vez mais importância social, 
participando ativamente da constituição dos Estados Nacionais 
 
 
 
● Burguesia 
● Muitos burgueses atingem altos postos nesses 
Estados: 
● Por compra de cargos, por favores reais 
● Resulta numa sensível mudança com relação à forma 
de governo 
● Combina-se a capacidade de capitalizar impostos em 
proveito do monopólio da força, adquirida por 
governantes 
 
● Consolidação do seu poder 
● Os monarcas precisavam cada vez mais de exércitos 
permanentes e estruturas de arrecadação de imposto 
● Obviamente, precisavam também de dinheiro para tal 
empreendimento 
● Financiando os monarcas, os burgueses aumentam 
sua importância 
● Nesse Período, além do território, o poder se mede 
também pela capacidade de um reino gerar riqueza 
 
 
● A questão religiosa 
● Configurou-se num grande problema pelo menos até 
fins do século XVIII, quando a política começa a se 
separar da religião 
● Afinal, se um rei segue determinada Igreja e o súdito 
outra, é legítimo obedecer ao monarca? 
● Questão que gera dúvidas e recusas, perseguições e 
exílios, alianças e guerras durante grande parte do 
período moderno 
● Assim, durante o período, com poucas exceções, os 
reis impunham a sua religião aos seus súditos 
 
● O modelo de governar 
● Sofreu profundas alterações, pois: 
● A introdução da economia no exercício político será o 
papel essencial do governo 
● Governar um Estado significará, portanto, estabelecer 
a economia ao nível geral do Estado 
● Ter em relação aos habitantes, às riquezas, aos 
comportamentos individuais e coletivos, uma forma de 
vigilância, de controle tão atenta quanto a do pai de 
família 
 
● A arte de governar no período moderno 
● Esteve ligada às estratégias de “bom governo”, 
quer dizer, formas de impor uma dominação 
● É importante notar que essa forma de governo, 
essa arte de governar não se desenvolve de forma 
autônoma 
● Ela está ligada às formas de pensar o indivíduo no 
período, ou melhor, às mudanças que a noção de 
individualidade sofre desde finais da Idade Média 
e que se acentuam 
 
● Na época moderna, assiste-se à passagem desse poder a 
outro, que, apesar de nominalmente ainda se referir ao 
monarca como o alto da pirâmide social, torna-se cada vez 
mais difuso. 
● Essas mudanças na concepção do indivíduo que estão 
presentes na arte de governar coincidem também com o 
próprio aparecimento da Economia Política no século XVIII 
● O Estado se afasta-se da questão religiosa e se torna o gestor 
econômico● Nessa configuração, o poder perde, cada vez mais, aos 
poucos, o seu caráter de centralidade para se tornar diluído na 
sociedade 
 
 
 
2 A sociedade moderna 
 
 
● O Absolutismo 
● Na sociedade medieval, o lugar ocupado era por herança ou 
sangue, e o mesmo era válido para camponeses e citadinos 
● O lugar social estava determinado pelo nascimento, por 
exemplo, o título de nobreza era familiar, passando de pai para 
filho, ou por casamentos 
● No período moderno, há grandes mudanças 
● A ascensão social pode ser feita por dinheiro 
● Não depende exclusivamente de herança 
● Podia ocorrer, por conta de bons préstimos 
● Como atender a necessidades financeiras dos reis 
 
● No período moderno 
● Títulos passaram a ser concedidos em maior número para 
pessoas que não tinham origem nobre 
● Era a chamada nobreza togada 
● Em parte, desgostava a antiga nobreza de espada 
● A nobreza togada 
● Era, na sua maioria, de origem burguesa 
● Muitos tinham comprado altos cargos necessários no Estado 
Nacional 
● Outros tinham adquirido notabilidade por conta de casamentos 
 
 
● A venda de cargos tirava, aos poucos, o poder da nobreza 
● Distribuindo-o para não nobres 
● De certa forma, a sociedade de corte instaura a cadeia de 
poder no Antigo Regime 
● O rei controlaria a sociedade a partir da própria corte 
● Ela estabelecia as distinções sociais, ou melhor, a sociedade 
hierárquica 
● O que aparece nesse quadro como característica principal é a 
disputa entre os burgueses em ascensão e a antiga 
aristocracia, especialmente aquela de espada 
 
 
● A desconfiança real com relação à aristocracia levou à 
constituição das cortes 
● Assim, tentava-se domesticar a nobreza 
● Ao mesmo tempo liberava à burguesia o acesso aos altos 
cargos 
● Dessa maneira, o rei diminuía a sua dependência da 
aristocracia (a formação de exércitos nacionais liberou o 
rei da necessidade de contar com o apoio militar dos 
nobres) e contava com o apoio da burguesia 
● Abre-se, assim, uma disputa entre a nobreza e a 
burguesia pela influência na condução do Estado 
 
● O conceito de civilização 
● Tem sua origem nas classes superiores 
● Ela parte da nobreza que vê a burguesia se aproximar 
● A sofisticação dos costumes, a politesse, o modo de 
falar, de se vestir, de se comportar visam a marcar a 
diferença entre aqueles estabelecidos e os recém-
chegados 
● A ascensão burguesa tende a confundir os papéis, 
pois os burgueses endinheirados buscavam títulos de 
nobreza e procuravam agir como nobres 
 
● Esse processo não levou mais poder à aristocracia 
● No entanto, contraditoriamente permitiu que a 
burguesia participasse cada vez mais da 
administração estatal e aumentasse a sua importância 
social em detrimento da nobreza 
● A marca dessa maior participação burguesa 
permitiu a possibilidade dela própria tomar o poder 
● O que de fato aconteceu na Revolução Francesa, ou 
de se imiscuir tanto na condução da política que não 
se diferenciou mais da própria nobreza, como no caso 
inglês 
 
 
● O absolutismo real que se valeu das disputas 
internas entre burguesia e nobreza 
● Acabou sofrendo as consequências de sua 
própria política e, ao longo do século XVIII, 
mostra as fissuras 
● Num caso, culminando na Revolução 
● Noutro caso, num processo de simbiose 
(associação) no qual a própria nobreza 
assume valores burgueses 
 
3 As Revoluções inglesas 
 
● Durante o século XVII , ocorreram profundas 
mudanças socioeconômicas, políticas e 
culturais na Inglaterra 
● Em geral, esse momento é denominado de 
Revolução Inglesa ou, quando subdividido, de 
Revolução Puritana e de Revolução Gloriosa 
● Seus respectivos marcos cronológicos em 1640 
e 1688. 
 
 
 
● As revoluções da era moderna ocorridas na 
Inglaterra foram um processo de “longa duração”, 
o qual, com momentos indefiníveis, avanços (1640 
e 1688) e retrocessos (1660 – restauração do rei) 
● Acaba por estabelecer uma estrutura 
socioeconômica e política que garante a 
dominação, primeiramente, de uma burguesia 
fundiária (gentry) e, posteriormente, se alia ao 
capital comercial e industrial (THOMPSON, 2001, 
p. 203-207). 
 
● Havia diversos grupos socioculturais em 
luta, buscando impor suas concepções 
políticas, religiosas e econômicas 
● Como os levellers, diggers, anabatistas, 
familistas, quacres e muitos outros, além da 
gentry e da alta nobreza inglesa 
● Isto é, o presente era enevoado e o futuro 
incerto (HI LL, 1987, p. 29-35). 
A revolução de 1640 
● Em 1603 morreu Elizabeth I, último representante da Casa 
de Tudor que reinou na Inglaterra desde 1485 
● Tanto o reinado de Elizabeth I quanto o de seu antecessor 
e pai Henrique VII são considerados um período de 
prosperidade econômica 
● Principalmente, de harmonia entre o Parlamento e o poder 
Real 
● Pelo menos é o que pensava a gentry (pequena 
nobreza), às vésperas da Revolução de 1640: 
● [...] a gentry parlamentar sonhava com uma idade de ouro de harmonia 
política entre Coroa e Parlamento, e uma política interna e externa de 
caráter protestante, que ela acreditava ter existido nos velhos bons tempos 
da rainha Elisabeth e aos quais esperava retornar. (STONE , 2000, p. 104). 
 
● Que época de ouro era essa que deveria ressurgir? 
● Os governos Tudor, de certa forma, favoreceram a 
ascensão política, econômica e religiosa desse grupo 
de pessoas 
● Atuou dessa maneira, como forma de reduzir o poder 
que a alta nobreza possuía sobre suas regiões 
● Os primeiros Tudor conferiram cargos administrativos 
nas cidades e nos campos à gentry (pequena 
nobreza). 
 
● Quando Henrique VIII rompeu com a Igreja de Roma e 
confiscou suas terras na Inglaterra, em meio a guerras 
externas e com os cofres vazios 
● Passou a angariar fundos, vendendo essas propriedades 
eclesiásticas, direta ou indiretamente, para gentry 
● Em um primeiro momento a estratégia dos Tudor atingiu seus 
objetivos: redução do poder local da alta nobreza e 
arrecadação de fundos 
● Porém, em longo prazo, fortaleceu imensamente a gentry, cuja 
lealdade dependia do carisma real e sua capacidade de 
articular as necessidades e aspirações de seus súditos com as 
do Estado 
 
 
 
● É nessa “atmosfera” que os Tudors se depararam com 
a Reforma 
● Então, buscaram na Igreja Anglicana articular o 
conteúdo protestante ao católico, isto é, “um papismo 
disfarçado, ou algo que não é carne nem peixe” 
● Por um lado, essa atitude satisfez e manteve sobre 
controle seus súditos católicos e protestantes 
● Por outro lado, a incerteza doutrinária e a referida 
venda do patronato dificultaram a constituição de uma 
Igreja nacional sólida 
 
● A Reforma gerou pelo menos dois conflitos importantes: 
● O primeiro, em relação à interpretação da Bíblia 
● O segundo, em relação ao “direito divino” dos reis 
● Lutero deu especial importância a liberdade de leitura da Bíblia 
● A Igreja de Roma perdeu seu rígido controle sobre a 
interpretação bíblica e, consequentemente, parte de sua 
influência política e religiosa sobre a Europa 
● Dessa forma, muitos ingleses do século XVII, acreditavam 
estar em contato direto com Deus 
● Coisa que as autoridades da Igreja e do Estado rejeitavam 
completamente 
 
 
● A leitura disseminada da Bíblia favoreceu, também, o 
questionamento da doutrina do direito divino dos reis 
● Em linhas gerais, essa doutrina entende que a autoridade régia 
era de “direito divino”, os reis haviam sido eleitos por Deus para 
governar o seu povo 
● ABíblia de Genebra exaltava a submissão pela consciência 
● Isto é, “enquanto se tratar de algo legal nos é permitido: 
● Para tudo aquilo de ilegal que nos for ordenado, devemos 
responder 
● Como ensinou São Pedro, é melhor obedecer a Deus do que 
aos homens” 
 
 
● Em relação a questões econômicas 
● A congregação de Thomas Beard 
● Da qual fazia parte o jovem Oliver Cromwell, 
pregava “’Não é justo nem pela Lei de Deus 
nem pela dos homens’ que os reis taxem 
‘além do possível’” (HI LL, 2003, p. 100) 
● O “possível” era determinado pelo acordo entre 
as “consciências da congregação”. 
 
● Durante o reinado de Elizabeth I 
● Os conflitos religiosos foram contidos 
● Contudo, se difundiu na Inglaterra uma 
interpretação bíblica de caráter protestante 
(presbiteriano e puritano) 
● Não que fosse unânime perante os ingleses ou 
da vontade da Coroa e da Igreja Anglicana 
 
● Em 1603, quando Jaime Stuart assumiu o trono inglês 
● Encontrou algo muito diferente do passado imaginado 
por Carlos I e edificado a partir da doutrina do “direito 
divino” dos reis 
● Os cofres da Coroa estavam vazios 
● Assim, as finanças da Coroa dependiam de uma 
importante função do Parlamento inglês, votar os 
impostos (STONE, 2000, p. 119-121). 
● O rei não tinha a sua disposição um aparato 
administrativo eficiente e subordinado 
 
 
● O Parlamento era formado pela: 
● “Câmara dos Lordes, composta pela alta nobreza, 
geralmente realista e católica 
● E pela Câmara dos Comuns, composta pelos proprietários 
rurais, a gentry, geralmente parlamentarista e protestante 
– presbiterianos e puritanos” 
● Era preciso o consenso entre o rei e ambas as Câmaras 
● Todos possuíam idêntico poder de veto 
● Por isto, diversas vezes a vontade do rei era freada ou 
bloqueada pelo Parlamento 
 
 
● Durante a dinastia Tudor, membros do governo 
consideraram a possibilidade de criar um grande 
exército permanente 
● Contudo, condições financeiras não permitiram 
● A Coroa dependia da milícia local – pequena em 
volume, mal treinada e mal armada 
● Em casos extremos, dependia da convocação das 
forças tradicionais da alta nobreza, que há tempos 
vinha se dissociando da função militar e se dedicando 
a atividades comerciais 
● Outra condição era contratar exércitos mercenários 
 
● Homens sem senhor 
● Os vagabundos, mendigos e ladrões 
● Perambulavam pelos campos e pelas cidades – 
especialmente Londres – em busca de ganhos fáceis e, 
segundo o comentário da Bíblia de Genebra, “à disposição 
de quem lhes pagar para cometer qualquer crime 
● Outro tipo de homens sem senhor 
● Eram aqueles que formavam as diferentes seitas 
protestantes – predominantes nas cidades – formadas por 
pequenos artesões, aprendizes, trabalhadores 
temporários, etc. 
 
● Por fim, temos os homens idealizados nas histórias de Robin 
Hood, “os camponeses pobres (cottager) e os ocupantes 
ilegais (squatters) dos terrenos comunais, áreas incultas 
(wastes) e florestas” (HI LL, 1987, p. 59) 
● Eram as populações que viviam “fora da vista, fora da 
escravidão”, livres do controle do pároco e do fidalgo; e seus 
apêndices 
● Como os artesões itinerantes, carroceiros e intermediários 
comerciais em geral: “essa gente vive sem lei, sem ninguém 
para governá-la 
● Essa população não se importa com ninguém, pois não 
depende de ninguém 
 
● As massas móveis 
● Os “esforços” reais, da alta nobreza e mesmo da 
gentry, para controlar as “massas móveis” da 
sociedade inglesa foram infrutíferos 
● Esses homens, em um ambiente espiritual e político 
favorável, se transformavam em elementos 
subversivos da ordem 
● Separatistas religiosos, pregadores itinerantes, 
disseminadores de ideias radicais 
● Podiam até pegar em armas e se oporem igualmente 
a realistas e parlamentaristas 
 
● Stuart 
● É nesse contexto que os Stuart sobem ao trono 
● Aliam-se a países católicos e tradicionalmente 
inimigos da Inglaterra, como a Espanha 
● Expulsam os protestantes da Igreja Anglicana, 
que ganha cada vez mais o feitio da Igreja 
Romana 
● Impõem formas de organização episcopal à 
Igreja presbiteriana escocesa 
 
● Para agradar a alta nobreza, operam gastos 
exorbitantes 
● Para ampliar suas rendas sem o apoio do 
Parlamento, se utilizam de velhas leis e costumes 
● Todas essas atitudes foram extremamente 
impopulares 
● Colocaram vários setores da sociedade, mormente 
a plebe e a gentry, contra a monarquia 
 
● A política Stuart foi praticável em tempo de paz 
● Contudo, em 1640, sem exército e vendo o 
norte da Inglaterra sendo invadido por um 
exército escocês, Carlos I foi obrigado a 
convocar o Parlamento em busca de recursos 
● Logo, o Parlamento exige reformas e 
retribuição pelas vexações 
● Indignado com as exigências, em três semanas 
o rei dissolve o chamado Parlamento Curto 
 
● Início da Revolução Puritana de 1640 
● Em desesperada necessidade 
● O rei reconvoca o Parlamento ainda em 1640 
● Esse é o chamado Longo Parlamento, que dá 
início a Revolução Puritana de 1640 e ordena 
mudanças no Estado e nas leis 
 
 
 
 
 
● Os puritanos estavam interessados no retorno do que 
acreditavam ser o estado primitivo da Igreja cristã 
● Acreditavam que “‘Deus estava deixando a Inglaterra’, 
porque a nação não mais se fazia merecedora de sua 
confiança e ajuda 
● Resultado da inaptidão real e de um complô do 
papado contra a independência da Inglaterra 
● Essa crença levou puritanos e ingleses em geral a 
emigrarem para a Nova Inglaterra, na década de 1620 
 
● Em 1642, Carlos I decide resistir e começa o 
contra-ataque, junto com os realistas do 
Parlamento 
● Após sua retirada para Oxford e organização 
do exército real, tem início a Guerra Civil 
● O conde de Manchester e outros oficiais da 
nobreza lideram o exército do Parlamento, mas 
a inaptidão militar destes fica clara com as 
sucessivas derrotas 
 
● Oliver Cromwell 
● Cidadão com fama de incorruptível, puritano, 
membro da gentry, 
● Eleito para o Parlamento pelo condado de 
Cambridge 
● Tentara ir para a Nova Inglaterra em 1634 
● Fica responsável por organizar o Exército de 
Novo Tipo 
 
● O New Model Army (Exército de Novo Tipo) 
● Revoluciona por excluir do comando a nobreza e instituir como 
principal critério de ascensão na linha de comando o valor e o 
mérito dos soldados (ARRUDA, 1990, p. 73-87) 
● Logo, as forças realistas foram derrotadas 
● A Câmara dos Lordes foi abolida 
● Todos os elementos do Parlamento, favoráveis ao rei – em sua 
maioria presbiterianos – foram expulsos, formando-se assim o 
“Parlamento Toco” (Rump Parliament) 
● Após julgamento, Carlos I foi decapitado por traição ao seu 
povo, em 30 de janeiro de 1649 
 
 
● Proclamação da República Puritana 
● No dia 7 de fevereiro de 1649, a Câmara dos Comuns 
emitiu o seguinte comunicado: 
● “Ficou provado pela experiência que a função do Rei 
neste país é inútil, onerosa e um perigo para a liberdade, 
a segurança e o bem estar do povo; por isso, de hoje em 
diante, tal função fica abolida” 
● Em maio do mesmo ano foi proclamada a República 
Puritana 
● Entretanto, há muito a “força da multidão” estava em 
curso, tinha sido evocada e paralisá-la era uma árdua 
tarefa 
 
A Revolução de 1688 
● No decorrer da Revolução Puritana 
● A plebe não se voltou apenas contra a Coroa e a alta nobreza; 
o Parlamento e todas as instituições se tornaram alvo da gente 
“mesquinha” 
● Quando o Longo Parlamento se viu frente a um rei que não 
aceitava suas reivindicações, foi obrigadoa apelar para a plebe 
● Os membros do Parlamento, a realeza, os grupos dominantes 
em geral 
● Conheciam os risco de apelar para a “gente mesquinha” 
● Suas falas revelam que essa atitude seria um último e perigoso 
recurso. 
 
 
● Exército de Novo Tipo. 
● Quando começou a Guerra Civil, imediatamente 
eclodiram rebeliões populares em vários condados e a 
preocupação com a “gente mesquinha” se tornou real 
● O que ninguém esperava era o surgimento dos 
“agitadores oficiais” 
● Um agrupamento de homens sem senhores, bem 
armados e treinados, motivados politicamente e 
composto por uma amostra bastante representativa 
da plebe inglesa, denominado de Exército de Novo 
Tipo. 
 
● O Exército havia atravessado o país misturando 
populações 
● Seus membros ascendiam socialmente e 
apreendiam diferentes costumes e pensamentos 
● Tornaram-se pregadores de ideias radicais, tais 
como: 
● “O interesse do povo no reino de Cristo não é apenas um 
interesse de[...] submissão, porém de consulta, de 
discussão, de aconselhamento, profetização e voto” 
 
● Assim, a partir de 1647, os Levellers 
(Niveladores) londrinos, uma espécie de partido 
político formado por pequenos produtores 
● Viram a possibilidade – já iniciada 
espontaneamente – e a necessidade de se 
“unificarem ao exército” para concretizar seus 
“sonhos de futuro”. 
 
● Acordo do Povo (Agreement of the People) 
● Um contrato social leveller, discutido entre os oficiais 
e os soldados do Exército 
● [...] propunha o comércio livre para os pequenos produtores; a extinção dos 
monopólios; a separação entre a Igreja e o Estado; a abolição dos dízimos 
eclesiásticos, com indenização; a proteção à pequena propriedade; a 
reforma da lei dos débitos, proibindo-se o aprisionamento por dívida; o 
sufrágio universal masculino, proposta radical do Coronel Rainborowe, 
amenizado pelo grupo de Lillburne para o voto familial, com exclusão dos 
criados, pedintes e assalariados. Propunham também o fim do cercamento 
[...], dando ao seu projeto político um amplo espectro social e, apesar de 
não se dirigir à classe dos pobres sem propriedades, o projeto dos 
Niveladores [Levellers] ficava bem perto de suas aspirações. (ARR UDA , 
1990, p. 81). 
 
● Contudo, o Acordo do Povo não foi unânime entre os soldados 
rasos, favorecendo ainda mais a desunião destes, que já se 
manifestava havia algum tempo 
● Os Grandes do Exército (oficiais superiores) se aproveitaram 
da situação para restaurar a hierarquia e a disciplina: os 
representantes da soldadesca foram afastados do Conselho do 
Exército, alguns líderes radicais foram executados ou presos 
por motim 
● Os últimos regimentos revoltosos foram massacrados em 1649 
● Desta forma, foi destruído o“sonho leveller”, nas palavras de 
Oliver Cromwell: “gente que não temos por que recear” (apud 
HILL, 1987). 
 
● Os Diggers ou True Levellers (Escavadores ou 
Niveladores Verdadeiros) foi um movimento formado 
principalmente por camponeses expropriados, 
artesões e comerciantes pobres e dissidentes dos 
Levellers 
● Liderados por Gerrard Winstanley, eram pacifistas e 
sonhavam com uma Inglaterra organizada em 
cooperativas agrárias, na qual todos os bens fossem 
comunitários 
● Foram desarticulados pelas tropas governamentais 
ainda em 1649 
 
 
● Contudo, é nas “seitas ou religiões radicais” 
que o conteúdo religioso se manifesta mais 
claramente 
● É o caso dos anabatistas, separatistas e 
familistas, grupos difíceis de definir até para 
seus contemporâneos 
 
● Os anabatistas 
● Caracterizavam-se por rejeitarem o batizado de crianças, 
uma vez que a aceitação do batismo deveria ser um ato 
voluntário de um adulto; propunham a formação de 
congregações religiosas; opunham-se ao pagamento de 
dízimo; e defendiam o igualitarismo, alegando que não 
existiam diferenças entre senhores e servidores 
● Ainda, muitos deles rejeitavam prestar juramentos em 
cerimônias religiosas para fins judiciais ou seculares, se 
opunham à guerra e ao serviço militar e negavam o direito 
à propriedade 
 
 
● Os separatistas 
● Defendiam a eleição dos ministros pelas 
congregações 
● O pagamento voluntário de dízimos, a 
tolerância com todas as seitas protestantes 
● O fim de todas as formas eclesiásticas de 
jurisdição e censura e de outras práticas que 
poderiam levar ao desmoronamento da Igreja 
nacional. 
 
● Os familistas 
● Eram os seguidores das idéias do mercador e 
religioso alemão Henry Niclaes, divulgadas na 
Inglaterra por Christopher Vittels, um 
marceneiro itinerante 
● Defendiam a propriedade coletiva e afirmavam 
que somente o fiel abençoado pelo espírito de 
Deus compreende corretamente as Escrituras 
 
 
 
● Cromwell assume o poder 
● A jovem República inglesa estava ameaçada por todos 
os lados 
● Em 20 de abril de 1653, Cromwell – por necessidade ou 
oportunismo – dissolve o “Parlamento Toco”, criando uma 
Assembleia de seus partidários 
● Esta Assembleia lhe dá o título de Lorde Protetor e 
elabora uma constituição bastante radical para a época 
● Algumas de suas propostas eram: “ensino gratuito, 
liberdade de imprensa, voto secreto, voto feminino, porém 
censitário [200 libras de renda] e um único Parlamento 
para a Irlanda, Escócia e Inglaterra” 
 
● A morte de Cromwell 
● Com a morte de Oliver Cromwell, em 1658, e a 
aparente ineficiência da República em conter 
as ameaças da “multidão mesquinha” 
 
● Surgiu a possibilidade dos setores mais 
conservadores – formado principalmente pela 
gentry presbiteriana – e dos realistas 
restabelecerem a monarquia 
 
 
 
● Destruição da República 
● Assim, o General Monck, ex-realista que 
governava a Escócia, apoiado por esses 
conservadores e com um exército depurado de 
elementos politizados, instaurou em 1660 uma 
monarquia limitada por uma complexa 
legislação, na figura de Carlos II 
● Em um ato simbólico de destruição da República, 
o corpo de Oliver Cromwell foi exumado, 
enforcado e decapitado em praça pública. 
 
● Durante o reinado de Carlos II, a monarquia se 
manteve obediente e estável 
● Durante o reinado do seu sucessor Jaime II, a 
monarquia buscou reeditar o sonho absolutista 
e católico de Carlos I 
● Dessa vez os grupos dominantes estavam 
bem articulados 
 
Revolução Gloriosa de 1688 
 
● Afastamento do rei Jaime II 
● Em uma “manobra cirúrgica”, afastaram o rei, mas 
mantiveram a monarquia na figura de Guilherme 
de Orange – holandês, protestante, casado com 
Maria, filha de Jaime II 
● Evitando assim convulsões sociais, radicalizações 
democratizantes e derramamento de sangue 
● Esse “golpe de Estado” ficou conhecido como 
Revolução Gloriosa de 1688 
 
 
● Foi elaborada a Declaração de Direitos que 
decretava que as leis parlamentares eram 
incontestáveis 
● O Parlamento decidiria o sucessor após a morte do 
rei, haveria reuniões parlamentares e eleições 
regulares 
● O Parlamento votaria o orçamento anual, inspetores 
controlariam as contas reais, era ilegal a manutenção 
de um exército em tempo de paz, entre outras 
medidas que limitavam enormemente os “sonhos 
absolutistas”. 
 
Política e Sociedade 
● Durante a Revolução Inglesa ocorreu uma profunda 
reorganização social, política e cultural 
● Acompanhada por uma enorme atividade mental 
● Entre 1640 e 1661 foram publicados mais de 22.000 
panfletos, discursos, sermões e jornais – e material 
● Durante esses anos uma expressiva e diversificada 
parcela da sociedade inglesa “praticou política” e 
alterou suas instituições (STONE,2000, p. 102-
105). 
 
 
● Para se compreender a Revolução Inglesa 
 
● Parte do problema estava na descontinuidade do 
processo revolucionário inglês, com avanços e 
retrocessos que não ocorrem em outras revoluções 
● Outra parte está na concepção de política presente 
na vertente marxista-leninista, que relega ao segundo 
plano toda a efervescência popular do período, 
atribuindo-lhe o estatuto de práticas espontaneístas, 
pré-políticas, reacionárias ou arcaicas. 
 
● Segundo uma vertente da concepção materialista da 
história, representada em especial por Lênin 
● As classes trabalhadoras – em sua acepção objetiva – 
existem desde as sociedades arcaicas que romperam 
com as relações de parentesco 
● Entretanto, “a consciência de classe é um 
fenômeno da era industrial moderna”, ou seja, 
somente com o desenvolvimento do capitalismo os 
trabalhadores começam a adquirir consciência de si 
próprios e produzem movimentos sociais 
genuinamente políticos e coesos. 
 
 
● Gradativamente, já participando das 
sociedades modernas 
● Essas classes trabalhadoras começam a se 
formar como classe consciente de si própria 
● Apesar de esse ser um momento importante à 
constituição de práticas revolucionárias, é 
também um momento propício à proliferação de 
ideologias e movimentos sociais, pré-políticos 
ou primitivos 
 
● Destarte, levellers, diggers, anabatistas, 
familistas, quacres, a plebe 
● Em geral estavam desde sempre fadados ao 
fracasso político, já que não estavam 
“maduros” para participarem e/ou 
compreenderem a instância político-formal, 
local efetivo de transformação social, 
“cristalização” de práticas socioeconômicas e 
culturais. 
 
● A noção de classe como “categoria histórica” manifesta dois 
sentidos distintos 
● Primeiro refere-se à classe como conteúdo histórico real, 
presente apenas nas sociedades capitalistas, onde as classes 
se reconhecem como classes, com interesses opostos e em 
luta entre si 
● Segundo diz respeito à classe como categoria heurística, capaz 
de organizar evidências históricas que não possuem 
correspondência direta com o termo 
● Isto é, como categoria alternativa de explicação do processo 
histórico universal e manifesto de conflito entre “grupos 
humanos” em sociedades précapitalistas, onde os “grupos 
humanos” não se reconhecem como classe (THOMPSON, 
1989, p. 33-39). 
 
 
● Desse modo, é por meio da noção de classe 
como “categoria histórica e heurística” que se 
torna possível compreender a ação da plebe 
durante a Revolução Inglesa 
● A “gente mesquinha” não necessita de uma 
identidade política formal para mudar o curso 
da política inglesa, basta possuir uma 
identidade cultural e práticas sociais que se 
opõem à dos grupos dominantes 
 
● No século XVII , a religião ou a irreligião era um 
fator significantena constituição da identidade cultural 
dos grupos sociais 
● As “facções” da plebe e os grupos dominantes podiam 
ser definidos por meio de suas concepções religiosas 
● Desta forma, a religião e a política – Igreja e Estado – 
se completam, uma dá significado à outra 
● Como mencionado anteriormente, a Corte real é a 
representação da corte divina 
 
 
● Quando um anabatista defendia a aceitação do batismo, 
subvertia a Igreja nacional e a política oficial; 
● Quando um familista afirmava que só o espírito de Deus 
presente no fiel é capaz de compreender a Escritura 
● Quando um separatista defendia a eleição dos ministros 
pela congregação, eliminavam a necessidade do clero 
oficial e, consequentemente, da estrutura hierárquica do 
Estado 
● Todos, por meio de “instâncias políticas informais”, 
questionavam a própria organização política do Estado 
inglês. 
 
● Algo semelhante pode ter ocorrido a respeito da 
história da classe operária, pois a industrialização 
sintetiza um campo cultural dentro de uma sociedade 
● Assim, a fábrica – como foi a Igreja – é o centro de 
um saber e de uma prática que cria uma organização 
dos corpos, do espaço e do tempo e retira do 
trabalhador – como a Igreja retirou do fiel – o seu 
próprio saber sobre o processo de trabalho, sobre a 
religião 
 
● Enfim, para compreender a relação entre política e 
sociedade 
● Os historiadores devem estar atentos às distintas 
formas como os diferentes grupos socioculturais 
participam da política 
● Seja por meio das instâncias político-formais 
(Parlamento, assembleias, sindicatos e partidos) ou 
informais (seitas radicais, comissões de fábrica, etc.) 
● Estas agem em surdina “pesando sobre a alta política” 
- e às mudanças históricas do campo político. 
 
4 Iluminismo 
● Homens do Iluminismo 
● Indivíduos de mentes esclarecidas, que 
descobriam o mundo “real” e a verdade, 
fundados na razão e nas evidências científicas, 
afastados das visões mágicas e religiosas da 
“Idade das Trevas” 
● Nesse sentido, o Iluminismo é representado 
como o movimento que possibilitou o progresso 
humano rumo à felicidade, à igualdade, à 
justiça e ao desenvolvimento científico. 
 
Ciência e Verdade 
● A verdade 
● Não é algo que está estabelecido desde o início 
dos tempos 
● Ela é, antes de tudo, uma forma de discurso 
sobre algo, sobre determinado objeto, sobre o 
mundo, sobre nós mesmos 
● O que é verdade irrefutável em uma 
determinada época, em outra pode não ser. 
 
● Exemplo: 
● As crenças dos gregos em seus deuses se 
tornaram um grande engano na nossa Era 
● Se temos algum respeito pelas suas crenças, 
não é porque acreditamos que também possam 
ser verdades 
● Mas simplesmente porque é politicamente 
correto aceitar suas crenças. 
 
● O mesmo se passa com o século XVIII 
● O pensamento científico do período estava pleno 
daquilo que hoje chamamos de magia 
● Os regimes de verdade dos séculos XVII e XVIII não 
estavam numa posição hierarquicamente inferior aos 
nossos 
● Simplesmente eram outras formas de acreditar e, por 
isso, não devem ser colocados como parcialmente 
incapazes, mas como outra forma de pensar a 
realidade. 
 
 
● A produção de verdades na Era Clássica 
● Não era simples erro ou uma forma ingênua de 
perceber a realidade. Era outra forma de pensar 
● As bases da ciência não estavam calcadas na pura 
experimentação, conforme os procedimentos 
modernos 
● Os chamados cientistas da Era Clássica acreditavam 
não só nas forças físicas como também nas forças 
metafísicas, aquelas que não vemos e agem sobre a 
matéria, sobre os homens e sobre os destinos 
 
 
 
● A lógica é simples 
● Não existem coisas que os olhos não veem, como os 
germes, e que a todo instante os microscópios nos 
atestam? 
● O mesmo não poderia acontecer com outras forças 
que estão em ação no universo? 
● A gravidade não é uma força invisível e que atua 
sobre a matéria? 
● O mesmo não poderia se passar na astrologia, pois os 
planetas não exerceriam também influência sobre as 
pessoas? 
 
● O projeto Iluminista 
● Opõe-se aquilo que consideram atraso 
● Os segredos dos alquimistas, por exemplo, não 
devem mais imperar na transmissão do 
conhecimento 
● Ele deve ser acessível a todos 
● É dessa percepção que nasce a Enciclopédia, 
quer dizer, a possibilidade de trazer à luz todos 
os conhecimentos 
 
 
● Para os Iluministas a sua posição era clara: 
levar conhecimento e ciência para a 
humanidade 
● Talvez seja a este aspecto que grande parte da 
historiografia mais se apega, esquecendo as 
diferenças entre as práticas sociais do período 
e colocando-o como imediatamente anterior à 
nossaprópria sociedade 
● Assim, havia uma intensa vontade de 
transformar o mundo pelo conhecimento 
 
 
● A Ideia de Progresso 
● A ciência anterior ao período Iluminista não 
conseguira grandes ganhos, pois, antes de 
tudo, ela se pautava na ciência da Antiguidade 
Clássica 
● Os próprios homens da ciência retomaram os 
escritos antigos e acreditavam que, por 
estarem no começo da humanidade, gregos e 
romanos tinham um saber superior 
 
 
● Essa crença implica um problema crucial para 
a ciência 
● Qualquer experiência era retomada do ponto de 
vista dos gregos, assim como qualquer 
explicação 
● Por exemplo, um médico sempre faria um 
diagnóstico baseado nas ideias de Hipócrates, 
e, se alguma coisa não desse certo 
● Ele retornaria à teoria antiga procurando algum 
erro que teria cometido ao interpretá-la 
 
● Até o século XVI a consciência de que a 
ciência avançava graças ao acúmulo de 
experiências ainda era fraca 
● Algumas descobertas técnicas puderam 
mostrar que os homens dos séculos XVI e XVII 
estavam mais avançados do que os gregos 
● É interessante observar que a questão do 
acúmulo do conhecimento foi objeto de longas 
discussões que culminaram na chamada 
disputa dos Antigos e Modernos 
 
● Um dos lugares em que mais se sentia o 
avanço das ciências era “as chamadas ‘armes 
savantes’, artilharia e engenharia” 
● Isso quer dizer que os avanços promovidos na 
arte da guerra e de problemas gerados na 
gestão de obras públicas puderam aclarar, pelo 
menos do ponto de vista técnico, a questão do 
acúmulo de saber. 
 
 
 
● No século XVII despertava uma consciência de que os 
homens modernos estavam acima dos homens da 
antiguidade clássica 
● Na Inglaterra, por exemplo, “o milenarismo que 
animava o protestantismo inglês captou facilmente a 
dimensão utilitarista do novo saber 
● Bacon e muitos pensadores puritanos depois dele 
atribuíam à ciência a tarefa de produzir riqueza, 
melhorar a saúde, desenvolver o comércio, cria na 
terra a ‘Grande Instauração’, o regresso ao Éden 
originário” 
 
● Esse orgulho e essa certeza do conhecimento levam 
muitos iluministas a pensarem em projetos políticos 
para a Humanidade 
● Afinal o homem de letras não é apenas cientista, mas 
também um filósofo 
● Aliás, é este termo o mais utilizado por esses homens 
para se designarem 
● Assim, dos movimentos dos corpos celestes à ordenação 
política da sociedade não há distância a ser percorrida; 
muito pelo contrário, uma coisa levava à outra 
● Se o universo é perfeição, a humanidade pode almejá-la 
também. 
 
● Essa percepção não deixa de ter 
consequências para nós 
● Mesmo estando apartados no tempo, mesmo 
estabelecendo todas as diferenças e distâncias 
entre nós e os homens da Era Clássica 
● A primeira consequência é a “descoberta” da 
noção de progresso 
● A segunda é a “descoberta” da história. 
 
 
● A noção de progresso que aos poucos vinha 
se impondo 
● Somente atingiu o espírito humano no século 
XVIII, isto é, da consciência de que a 
humanidade havia progredido materialmente 
● Para a conclusão de que a humanidade havia 
progredido filosoficamente, moralmente e 
socialmente foi um passo 
 
● Isso quer dizer que a melhoria da sociedade pode e 
deve ser obra dos próprios homens 
● Diferente das crenças comuns de que os homens 
somente usufruiriam da felicidade no outro mundo 
● Iluministas acreditam que a felicidade poderia ser 
construída neste mundo e deveria ser obra dos 
homens 
● Daí, muitos homens de letras, como Condorcet, 
produziram textos que tratam da política e da 
sociedade 
 
 
 
O Homem do Iluminismo 
● Os homens de letras gozavam da proteção de 
aristocratas 
● Estendia-se uma longa teia de proteção e 
pagamento de pensões para muitos letrados, 
criando-se o chamado Grand Monde 
● De certa forma, era um circuito fechado ao qual 
somente alguns “filósofos” tinham acesso 
 
 
 
● O principal eram as qualidades para se 
adentrar nessa “república”: “boa aparência, 
boas maneiras e um tio parisiense” 
(DARNTON, 1989, p. 15) 
● Era necessário um “protetor” ou um “agente”, 
como se diz hoje 
● Muitos nobres colocavam filósofos sob sua 
“proteção”, somente para se exibirem diante de 
seus pares. 
 
 
 
● Tal prática nos leva a verificar que o Iluminismo 
foi possível, em grande parte, graças à 
proteção da aristocracia 
● Ao contrário do que os manuais de história 
apregoam, o Iluminismo foi uma ideologia da 
nobreza 
● A questão, para nós, é a seguinte: de que 
forma a nobreza pode adotar pensamentos 
filosóficos que puseram fim ao Antigo Regime? 
 
 
● O Iluminismo em si não era revolucionário 
● Ele não deseja extinguir o Antigo Regime, mas 
reformá-lo, o que era completamente 
compatível com as crenças de parte da 
nobreza 
● A nobreza, por sua vez, buscava na ciência da 
época um meio de se “iluminar”, tornar-se mais 
esclarecida. 
 
● Os nobres buscavam adquirir mais conhecimentos 
para se distinguirem socialmente da burguesia que 
lutava para galgar a escala social 
● Assim, as boas maneiras no Antigo Regime “vão ser 
usadas para se conquistar uma posição destacada 
● O resultado é que, da pequena burguesia para cima, 
começa a haver desesperada tentativa de enobrecer-
se, entre outras estratégias, pela dos gestos 
● A apropriação da etiqueta pela burguesia é uma 
forma, dentre várias, que adquire a luta pela ascensão 
social 
 
 
● Como o Iluminismo se tornou uma ideologia 
burguesa? 
● Os revolucionários se apropriaram das Luzes como 
forma de legitimar a sua ação e ancorá-la no social. 
● Essa apropriação tornava os filósofos “precursores” 
dos revolucionários que pautaram a sua ação na 
razão, nas Luzes 
● Essa apropriação do Iluminismo foi tomada como fato 
pela historiografia do século XX, o que completa a 
obra iniciada pelos revolucionários. 
 
 
● Os homens do Iluminismo não anteviram a 
Revolução 
● Muito menos a prepararam de modo 
consciente 
● Somente desejavam modificar o mundo pelo 
uso da razão, torná-lo mais justo melhorando 
os governantes, transformando os reis em 
monarcas esclarecidos 
 
 
 
● Também participaram da corte instruindo a 
aristocracia 
● A alta burguesia, que desejava profundamente 
ingressar nos quadros da nobreza, procurava 
por todos os meios adquirir tudo aquilo que os 
nobres adquiriam, inclusive a ilustração 
● Assim, sem o desejar, os homens de letras 
tornaram possível o conjunto ideológico da 
Revolução, antecipando os homens do século 
XIX.

Outros materiais