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Nome do Aluno Organizadoras e elaboradoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer HistóriaHistóriaHistóriaHistóriaHistória 6 módulo Comemorações GOVERNO DO ESTGOVERNO DO ESTGOVERNO DO ESTGOVERNO DO ESTGOVERNO DO ESTADO DE SÃO PADO DE SÃO PADO DE SÃO PADO DE SÃO PADO DE SÃO PAULOAULOAULOAULOAULO Governador: Geraldo Alckmin Secretaria de Estado da Educação de São PauloSecretaria de Estado da Educação de São PauloSecretaria de Estado da Educação de São PauloSecretaria de Estado da Educação de São PauloSecretaria de Estado da Educação de São Paulo Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENPCoordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENPCoordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENPCoordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENPCoordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP Coordenadora: Sonia Maria Silva UNIVERSIDADE DE SÃO PUNIVERSIDADE DE SÃO PUNIVERSIDADE DE SÃO PUNIVERSIDADE DE SÃO PUNIVERSIDADE DE SÃO PAULOAULOAULOAULOAULO Reitor: Adolpho José Melfi Pró-Reitora de GraduaçãoPró-Reitora de GraduaçãoPró-Reitora de GraduaçãoPró-Reitora de GraduaçãoPró-Reitora de Graduação Sonia Teresinha de Sousa Penin Pró-Reitor de Cultura e Extensão UniversitáriaPró-Reitor de Cultura e Extensão UniversitáriaPró-Reitor de Cultura e Extensão UniversitáriaPró-Reitor de Cultura e Extensão UniversitáriaPró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária Adilson Avansi Abreu FUNDAÇÃO DE APOIO À FFUNDAÇÃO DE APOIO À FFUNDAÇÃO DE APOIO À FFUNDAÇÃO DE APOIO À FFUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFEAFEAFEAFEAFE Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIOPROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIOPROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIOPROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIOPROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian Coordenadores de ÁreaCoordenadores de ÁreaCoordenadores de ÁreaCoordenadores de ÁreaCoordenadores de Área Biologia:Biologia:Biologia:Biologia:Biologia: Paulo Takeo Sano – Lyria Mori Física:Física:Física:Física:Física: Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta Geografia:Geografia:Geografia:Geografia:Geografia: Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins História:História:História:História:História: Kátia Maria Abud – Raquel Glezer Língua Inglesa:Língua Inglesa:Língua Inglesa:Língua Inglesa:Língua Inglesa: Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór Língua Portuguesa:Língua Portuguesa:Língua Portuguesa:Língua Portuguesa:Língua Portuguesa: Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto Matemática:Matemática:Matemática:Matemática:Matemática: Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro Química:Química:Química:Química:Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan Produção EditorialProdução EditorialProdução EditorialProdução EditorialProdução Editorial Dreampix Comunicação Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr. Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro Cartas aoCartas aoCartas aoCartas aoCartas ao AlunoAlunoAlunoAlunoAluno Carta da Pró-Reitoria de Graduação Caro aluno, Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento. Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos de forma sistemática e de se preparar para uma profissão. Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência, muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública. O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer situação de vida e de trabalho. Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia. Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor para o presente desafio. Sonia Teresinha de Sousa Penin. Pró-Reitora de Graduação. Carta da Secretaria de Estado da Educação Caro aluno, Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual, os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório. Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa da educação básica. Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente construído para esse fim. O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes. Prof. Sonia Maria Silva Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas Apresentação da área Fazer a História Durante sua vida escolar, você já estudou História em várias séries. Então, você sabe que essa disciplina estuda as ações humanas ocorridas no tempo, em diferentes lugares. Também você já percebeu que existem muitas referências a fatos históri- cos e momentos significativos em diversas formas de comunicação, como séries de televisão, filmes, músicas, propagandas, livros, roupas etc. Isto é uma característica da sociedade ocidental – ter o passado comoparte formativa e informativa de sua cultura, para que qualquer pessoa que nela viva, em qualquer lugar, possa se localizar no tempo, entender as refe- rências e compreender o momento em que vive. Você deve ter observado que o programa de História solicitado para os exames vestibulares é longo – das origens dos seres humanos até os dias atuais. Nos seis módulos em que a disciplina História vai se apresentar, não há a intenção de percorrer todos momentos históricos, nem a de seguir uma se- qüência no tempo. A intenção é de mostrar como o mundo que nos cerca contém referências históricas e como que estas podem ser lidas e entendidas, por meio da exploração de fontes históricas. Compreender como a nossa sociedade vê a História é importante, porque estamos em uma sociedade histórica, que constantemente se interroga sobre seu passado. Vamos procurar mostrar como o historiador trabalha com o material que seleciona para sua pesquisa, o tipo de conhecimento que resulta dessa pesqui- sa e como você pode fazer alguns exercícios que permitem o entendimento dos textos e das afirmações sobre os momentos históricos. Incluímos indicações de alguns filmes, livros e sítios na internet, para complementação dos itens desenvolvidos, para que você perceba como a His- tória é parte fundamental da cultura na sociedade ocidental, da qual a socieda- de brasileira faz parte e na qual todos nós estamos mergulhados. Apresentação do módulo Neste módulo trabalharemos com uma forma de fonte histórica muito co- mum, mas pouco reconhecida pelas pessoas como tal: a rememoração históri- ca, que aparece nas comemorações, sejam elas cívicas, religiosas, coletivas ou individuais, de alegria ou de tristeza. Existem comemorações anuais, que correspondem ao aniversário do fato. Há também aquelas de “datas redondas”, que assinalam os dez, vinte, trinta, quarenta, cinqüenta, cem, cento e cinqüenta, duzentos e mais anos de concretização do fato. Os noticiários de televisão, rádios e imprensa periódica estão sempre falando delas. Quando se fala em comemoração, a idéia que vem à mente é a de uma comemoração festiva, para elogiar ou lembrar feitos notáveis que aconteceram no passado. Mas as comemorações podem ser também de tristeza (luto) quando se referem a guerras, destacando o heroísmo dos que lutaram. Elas servem tam- bém para que se faça uma reflexão sobre o significado do fato ou da data. Muitas das comemorações são realizadas em lugares especiais, definidos como o local mais significativo para relembrar o fato: são os lugares de memória. Lugares de memória são espaços criados especialmente para relembrar um fato considerado notável pela sociedade, com construções que são monumentos comemorativos do even- to, geralmente abertos ao público para visitação. Podem ter também a forma de esculturas ou marcos. São elementos ma- teriais construídos com a função simbólica de criar identida- de. Alguns dos lugares de memória de São Paulo são: o Pátio do Colégio, o Museu do Ipiranga (Museu Paulista da USP), o Obelisco da Revolução de 1932 e o Marco Zero da cidade. Você já deve ter percebido que vamos conversar sobre a cidade de São Paulo, pois no ano de 2004 comemorou- se o aniversário de quatrocentos e cinqüenta anos de sua fundação. Este é também o nosso último módulo. Esperamos ter ajudado na sua preparação para o exame vestibular da Uni- versidade de São Paulo e desejamos encontrá-lo como ca- louro no próximo ano. Bons estudos e boa sorte! Introdução Quando eu morrer quero ficar, Não contem aos meus inimigos, Sepultado em minha cidade, Saudade Meus pés enterrem na rua Aurora, No Paissandu deixem meu sexo, Na Lopes Chaves a cabeça Esqueçam No Pátio do Colégio afundem O meu coração paulistano: Um coração vivo e um defunto Bem juntos Escondam no Correio o ouvido Direito, o esquerdo nos Telégrafos, Quero saber da vida alheia, Sereia O nariz guardem nos rosais, A língua no alto do Ipiranga Para cantar a liberdade. Saudade... Os olhos lá no Jaraguá Assistirão ao que há-de vir, O joelho na Universidade, Saudade... As mãos atirem por aí, Que desvivam como viveram, As tripas atirem pro Diabo, Que o espírito será de Deus. Adeus.” (ANDRADE, Mário. Lira paulistana) No poema acima, o grande escritor paulista Mário de Andrade (ver box), ao mesmo tempo em que presta uma homenagem à cidade, circunscreve, como se fosse num mapa, alguns locais da cidade que são importantes em sua memória. Organizadoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer Elaboradoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer Você pode notar que alguns dos locais são logradouros como ruas e aveni- das, outros são bairros, acidentes geográficos ou ainda instituições. Mas, to- dos eles, na visão do poeta, são marcos de sua cidade. Realize uma atividade, depois de ler outra vez o poema de Mário de Andrade: 1. Qual a distância em km do local onde você está até a Praça da Sé (mar- co zero da cidade)? Mário Raul de Morais An- drade nasceu em São Pau- lo em 1893 e faleceu em sua cidade natal em 1945. Estu- dou no Grupo Escolar do Triunfo, no Ginásio Nossa Senhora do Carmo e no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, vin- do a lecionar, neste estabe- lecimento de ensino, des- de 1922, História da Música. Dirigiu o Departamento Municipal de Cultura, que ideou, nele promovendo cursos de etnografia e fol- clore. Dotou-o também de Discoteca Pública. Foi Dire- tor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal, aí regendo a cáte- dra de Filosofia e História da Arte. Organizou o Ser- viço do Patrimônio Históri- co e Artístico Nacional, do Ministério da Educação. Teve a iniciativa, em São Paulo, do Primeiro Con- gresso da Língua Nacional Cantada e elaborou, para o Instituto Nacional do Livro, o plano de uma Enciclopé- dia Brasileira. Dedicou-se à poesia, ao conto e ao ro- mance, à crônica, ao ensaio, à crítica literária e de artes plásticas e à estética. (Fonte: www.klickescritores. com.br) 2. Procure explicar as razões pelas quais o poeta escolheu os locais para enterrar as partes de seu corpo: A cidade de São Paulo que Mário de Andrade conheceu e na qual viveu era ainda pequena. Apesar de já ter sido enriquecida pela expansão da cafei- cultura no estado e estar se desenvolvendo o processo de industrialização que a transformaria no maior parque industrial do Brasil, a região metropolitana de São Paulo mal ultrapassava os dois milhões de habitantes na metade do século XX. Entretanto, já tinha recebido as levas de imigrantes que vieram trabalhar nas primeiras indústrias e abriram novos bairros para construir suas casas, próximas ao local do trabalho. O populoso bairro do Brás, onde se localizou grande número de imigrantes italianos, por exemplo, era um local em que se realizavam caçadas no século XIX. Antes deles, tinham se estabele- cido, no Planalto de Piratininga, os colonizadores europeus e os africanos escravizados, que aqui encontraram os habitantes nativos da terra. Os historiadores costumam afirmar que a história de São Paulo pode ser divida em três épocas: a cidade colonial, a cidade do século XIX, quando se criou a Academia de Direito (atual Faculdade de Direito da USP, criada em 1827) e a metrópole do século XX, na qual se instalaram habitantes vindos de todas as partes do mundo e se desenvolveu um grande pólo industrial, fato que ajudou a transformá-la numa cidade global. As cidades já foram cidades capitais, cidades industriais, metrópoles, megalópoles, e hoje em dia algumas delas são denominadas cidades globais. A cidade de São Paulo concentra uma população de alto poder aquisitivo, pois é a segunda cidade brasileira em renda per capita, depois de Brasília. Tem uma infra-estrutura de serviços urbanos atualizada em algumas regiões – centro financeiro e centro de serviços. Nela estão sedes dos grandes bancos nacionaise das filiais dos internacionais, escritórios da maioria das grandes empresas nacionais e internacionais, os equipamentos científicos e culturais mais atuais. Por outro lado, contém níveis de desigualdade chocantes. Se o acesso à água e à eletricidade estão quase universalizados, saneamento básico (esgoto e coleta de lixo), transportes, trabalho, saúde e educação são questões problemáticas. Apesar dos indicadores sociais frágeis, indicativos de subdesenvolvimen- to econômico e social, São Paulo está se transformando em uma cidade global – a da América do Sul, uma cidade de serviços, conectada em tempo real com o restante do mundo. O processo de transformação de São Paulo em uma cidade global foi lento. No século XX, aconteceram nos municípios do Planalto Paulista alguns fenômenos. Um deles foi o de agregação: nos anos trinta, o município de Santo Amaro foi unido ao de São Paulo. Nos anos quarenta ocorreu o oposto, com desmembramento territorial: Santo André foi subdividido em São Caeta- no, São Bernardo e Santo André; Santana do Parnaíba, em Santana do Parnaíba e Barueri; Mairiporã, em Mairiporã e Franco da Rocha; Mogi das Cruzes, em Mogi das Cruzes, Suzano e Poá. Tais divisões assinalam o início do processo de fragmentação de municípios extensos, com a separação de distritos que eram considerados áreas rurais, pelo aumento da densidade demográfica – fenômero que continua ocorrendo em nossos dias. Outro foi o de expansão urbana, denominada de metropolização e depois conurbação, que criou o terceiro maior aglomerado urbano do mundo, com mais de 100 km de extensão, unindo áreas urbanas de municípios diferentes. Na segunda metade do século XX, o parque industrial paulistano expan- diu-se para a região do ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano), pela existência de meios de transporte acessíveis (estrada de ferro e rodovia), pro- ximidade do porto de Santos para receber equipamentos e insumos, e pelo Unidade 1 Organizadoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer Elaboradoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer São Paulo, cidade global Cidade globalCidade globalCidade globalCidade globalCidade global é uma classificação socio- lógica dos fenômenos ur- banos característicos do fi- nal do século XX, decorren- tes da globalização econô- mica e das conexões inter- nacionais de comunicações em tempo real. Cidades globais vivem da prestação de serviços, com infra-es- trutura de comunicações, mercado consumidor local significativo, população com nível educacional su- ficiente para proporcionar mão-de-obra qualificada. Podem manter as desigual- dades socioeconômicas in- ternamente. Refletem o processo de concentração econômica e modernização acelerada da economia de serviços. baixo custo do terreno, necessário para as plantas industriais da nova fase de industrialização. O mercado de trabalho, na construção e nas indústrias, atraiu mais gente. A população da cidade foi crescendo, se instalando nos bairros-dormitórios que se espalharam por outros municípios, criando as cidades-dormitórios. Uma outra parcela dos novos moradores instalou-se nas proximidades do parque industrial, desenvolvendo outras áreas urbanas. Indústria automobilística Em 1891 existia somente um automóvel no Brasil; em 1904, 84 carros eram registrados na Inspetoria de Veículos. Faziam fila na época figuras ilustres da sociedade paulista: Antonio Prado Júnior, Ermelino Matarazzo, Ramos de Azevedo, José Martinelli e muitos outros. De olho nesse mercado, a empresa Ford decidiu, em 1919, trazer a empresa ao Brasil. O próprio Henry Ford sentenciava: “O automóvel está destinado a fazer do Brasil uma grande nação”. A primeira linha de montagem e o escritório da empresa foram montados na rua Florêncio de Abreu, centro da cidade de São Paulo. Em 1925, foi a vez da General Motors do Brazil abrir sua fábrica no bairro paulistano do Ipiranga. Meses depois, circulava o primeiro Chevrolet. Dois anos depois, a companhia iniciou a constru- ção da fábrica de São Caetano do Sul. Nessas alturas, o som das buzinas e o barulho peculiar dos motores já faziam parte do cotidiano do paulista. Estradas foram construídas em todo o Estado de São Paulo. O reflexo dessas iniciativas no aumento da frota de veículos é surpreendente: entre 1920 e 1939, só no Estado de São Paulo, o número de carros de passeio saltou de 5.596 para 43.657 e o de caminhões foi de 222 para 25.858. No ano de 1939, teve início a Segunda Guerra Mundial. As importações foram prejudica- das e a frota de veículos no Brasil ficou ultrapassada. As fábricas só montavam seus automóveis aqui e não produziam suas peças. Era preciso desenvolver o parque automotivo brasileiro. O então presidente da República, Getúlio Vargas, proibiu a impor- tação de veículos montados e criou obstáculos à importação de peças. Foi Juscelino Kubitschek, presidente empossado em 31 de janeiro de 1956, que deu o impulso neces- sário à implantação definitiva da indústria automotiva, ao criar o Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística). Em 28/9/1956, foi inaugurada, em São Bernardo do Cam- po, no ABC Paulista, a primeira fábrica de caminhões com motor nacional da Mercedes- Benz. Juscelino Kubitscheck compareceu à cerimônia. O Brasil chegou ao final de 1960 com uma população de 65.755.000 habitantes e um total de 321.150 veículos produzi- dos desde o início da implantação do parque industrial automotivo. Mais de 90% das indústrias de autopeças foram instaladas na Grande São Paulo. E foi no Estado de São Paulo que ficou instalado o maior parque industrial da América Latina, dando um impor- tante impulso para o rápido crescimento econômico paulista. A revolução automotiva da década de 1950 trouxe ao Estado tecnologia de ponta, empregos, desenvolvimento industrial e uma nova relação de capital-trabalho, com o crescimento e fortalecimento dos sindicatos de classes. (Texto extraído e resumido do site http://www.saopaulo.sp.gov.br/saopaulo/historia/ colonia.htm) A industrialização nas décadas de 1950 e 1960 atraiu muita gente para a cidade e para a região metropolitana. Nos anos 60 e 70 foram realizadas gran- - des obras públicas em São Paulo: avenidas, viadutos, metrô, que precisaram de numerosa mão-de-obra, transformando a região no “Sul Maravilha”. A cidade foi duramente atingida pela crise econômica dos anos 80 e 90, levando inicialmente à paralisação das obras de infra-estrutura e, depois, com o processo de abertura de mercado, à introdução de equipamentos que dimi- nuíram a utilização da mão-de-obra. O processo de desindustrialização (pelo qual as indústrias deslocam-se para outras cidades e regiões, em busca de vantagens como isenção de impos- tos, doação de terrenos e mão-de-obra mais barata) também contribuiu para agravar a situação econômica da cidade. As regiões industriais mais próximas da área central foram abandonadas, criando manchas urbanas com vazios, como na Mooca, Brás, Ipiranga e Lapa. Leia os textos acima e a tabela abaixo com muita atenção. Atividades: 1. Complete os dados de percentagem que faltam na tabela. Anos 1940* 1950* 1960* 1970* 1980* 1991* 2000* Brasil 41.236.315 51.944.397 70.119.071 93.139.037 119.070.865 146.155.000 169.799.170 São Paulo 7.189.316 9.134.423 12.823.806 17.771.948 25.040.712 31.192.818 37.032.403 % Aum. 22,86 27,05 40,38 38,58 40,90 24,56 Cidade 1.326.261 2.198.096 3.666.701 5.924.615 8.493.226 9.484.427 10.406.166 % Aum. 25,10 63,99 66,81 61,57 43,35 11,67 Região Metropolitana. 1.568.045 2.662.786 4.739.406 8.139.730 12.199.423 15.199.423 17.800.000 % Aum. 69,81 77,98 71,74 49,87 24,59 Dados estatísticos IBGE (corrigidos).Anuário Estatístico IBGE, 1990. Tabela organizada por Raquel Glezer. 2. Analisando os dados, a que conclusão você chega? 3. Quais os anos de maior crescimento demográfico do Brasil? 4. Quais os anos de maior crescimento demográfico da cidade de São Paulo? 5. Quando começou a diminuição do crescimento demográfico da cidade de São Paulo? A música paulistana Por meio das letras de músicas que têm São Paulo como tema podemos acompanhar o processo de transformação da cidade e da região, além de per- ceber como a memória popular registrou as mudanças da cidade, pela sensibi- lidade dos compositores. SSSSSAMBAMBAMBAMBAMBAAAAA CCCCCONTONTONTONTONTAAAAA AAAAA HISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIA DADADADADA URBURBURBURBURBANIZAÇÃOANIZAÇÃOANIZAÇÃOANIZAÇÃOANIZAÇÃO DEDEDEDEDE S S S S SÃOÃOÃOÃOÃO P P P P PAAAAAULULULULULOOOOO Marcos Virgilio da Silva, aluno da FAU-USP, estudou a produção musical e as mudanças ocor- ridas na cidade entre 1946 e 1957, pelas obras de Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e outros. Analisando a produção musical de Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e outros composito- res paulistanos, Marcos Virgílio da Silva, aluno do último ano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, mostra a transformação da São Paulo regional numa metrópole, e como os paulistanos reagiram às mudanças que ocorreram entre 1946 e 1957, em plena “era do rádio”. “Músicas como Saudosa Maloca e Ronda têm muitas referências à cidade”, afirma. “A comemoração do quarto centenário de São Paulo é considerada por muitos um divisor de águas na história da cidade. Há entre os compositores uma posição contrária aos efeitos do progresso, mas não ao progresso em si. Eles mostram que já existiam os mesmos problemas de hoje, como trânsito, violência, enchente, por exemplo”. Segundo Virgílio, a cidade era um centro regional bem menor do que o Rio de Janeiro, mas na década de 50 se torna a maior cidade do Brasil, maior pólo industrial, com uma vida cultural intensa. “O quarto centenário contribuiu bastante para criar o estereótipo do paulistano trabalhador e de São Paulo como motor do Brasil”. Mas, se por um lado, há o deslumbre com o progresso, por outro há o sentimento de perda das raízes locais. “Adoniran tomava partido das coisas que estavam acontecendo. Ele aceitava o progresso como uma coisa boa, mas criticava seu caráter devastador, as construções que iam passando por cima de tudo, demolindo edifícios que tinham história e valor sentimental para a comunidade, como a Saudosa Maloca, uma casa velha que deu lugar a um edifício”. Virgílio afirma que os compositores da época tentam entender a transformação da cidade mostrando – e não interpretando – o que está acontecendo. Assim, aparece nas músicas o cenário inicial da cidade que existe hoje. “O automóvel começa a ter uma imagem marcante na paisagem e surge a preocupação em como organizar a cidade em função dele”, diz. Na música Iracema, Adoniran adverte a mulher para ter cuidado ao atravessar as ruas, mas como ela “não iscuitava não”, acabou morrendo atropelada. “Mandamentos do chofé, de uma dupla caipira, recomenda como o condutor deve se portar, aconselhando-o, por exemplo, a não ficar olhando uma mulher passando para não provocar um acidente”. As composições também mostram as favelas que começam a aparecer. “É um fato que causa muito estardalhaço, porque era motivo de orgulho do paulistano a cidade não ter favelas como no Rio de Janeiro”, afirma Virgílio. Também se nota o avanço das periferias, quando os loteamentos passam a ser ocupados irregularmente. “Existe uma denúncia das más con- dições de vida na periferia. Tem uma música que relata um atingido pela enchente, que ‘tá que tá dando dó na gente, anda por aí com uma mão atrás e outra na frente’”, conta Virgílio. Mas a música também mostra que as pessoas valorizavam o espaço. “Adoniran conta, em uma de suas músicas, que comprou uma casa em Ermelino Matarazzo, e tem esse tom de satisfação em melhorar de vida, não depender de aluguel nem morar em cortiço ou favela”. Há músicas que falam dos caipiras que chegam à cidade e não conseguem se adaptar, e mostram um dado curioso: “muita gente se suicidava do Viaduto do Chá”, afirma Virgílio, São PSão PSão PSão PSão Pauloauloauloauloaulo,,,,, São P São P São P São P São Pauloauloauloauloaulo Premeditando o breque/Pre- me É sempre lindo andar na ci- dade de São Paulo O clima engana a vida é gra- na em São Paulo A japonesa loira a nordestina moura de São Paulo Gatinhas punks um jeito yankee de São Paulo Na grande cidade me realizar morando num BNH Na periferia, a fábrica escure- ce o dia... Não vá se incomodar com a fauna urbana de São Paulo Pardais, baratas, ratos da rota de São Paulo E pra você crianca, muita di- versão em São Paulicão Tomar um banho no Tietê ou ver TV Na grande cidade me realizar morando num BNH Na periferia, a fábrica escure- ce o dia... Chora menino, Freguesia do Ó, Carandiru, Mandaqui ali Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpi- na, Vila Carrão, Morumbi, Pari O total Utinga, Embu e Imirim, Brás, Brás, Belém Bom Retiro, Barra Funda, Her- melino Matarazzo Mooca, Penha, Lapa, Sé, Jaba- quara, Pirituba Tucuruvi, Tatuapé Pra quebrar a rotina num fim de semana em São Paulo Lavar um carro, comendo um churro é bom pra burro Um ponto de partida pra su- bir na vida em São Paulo Terraço Itália, Jaraguá ou Via- duto do Chá Na grande cidade me realizar morando num BNH Na periferia, a fábrica escure- ce o dia... (Texto extraído do site http:// www.reinodascifras.com/ Sao_Paulo_Sao_Paulo.html) - exemplificando com o Samba do Suicídio, de Vanzolini. Outra música do autor mostra que as ruas da cidade já não eram tão pacíficas. “Conta a noite de um homem que janta, sai e leva um tiro no peito antes da meia-noite. Tanto o Adoniran quanto o Vanzolini falam que muitas das suas músicas foram tiradas de notícias de jornal”, diz Virgílio, expli- cando que Adoniran fala mais da periferia, com um sotaque que mistura a fala do italia- no, do caipira e do negro, que sintetiza a fala das pessoas incultas da cidade, enquanto Vanzolini fala muito da noite paulistana, da boemia, dos bares, como em Ronda, que tem um cenário noturno. “As músicas são crônicas do cotidiano”, conclui. (Extraído da Agência USP, São Paulo, 10 de julho de 2000 n.556/00, site http://www.usp.br/ agen/bols/2000/rede556.htm) Mas há uma música que é quase o hino oficial da cidade. Sampa (Caetano Veloso) Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi da dura poesia concreta de tuas esquinas da deselegância discreta de tuas meninas Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto chamei de mau gosto o que vi de mau gosto, mau gosto é que Narciso acha feio o que não é espelho e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho nada do que não era antes quando não somos mutantes E foste um difícil começo afasto o que não conheço e quem vem de outro sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade porque és o avesso do avesso do avesso do avesso Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas da força da grana que ergue e destrói coisas belas da feia fumaça que sobe apagando as estrelas eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba mas possível novo quilombo de Zumbi e os novos baianos passeiam na tua garoa e novos baianos te podem curtir numa boa. (Extraído do site http://webpdp.gator.com/4/message/612/pip)Compare as letras das músicas e analise como elas descrevem São Paulo. São São PSão São PSão São PSão São PSão São Pauloauloauloauloaulo,,,,, meu meu meu meu meu amor amor amor amor amor (Tom Zé) São, São Paulo meu amor São, São Paulo quanta dor São oito milhões de habitantes De todo canto em ação Que se agridem cortezmente Morrendo a todo vapor E amando com todo ódio Se odeiam com todo amor São oito milhões de habitantes Aglomerada solidão Por mil chaminés e carros Caseados à prestação Porém com todo defeito Te carrego no meu peito São, São Paulo Meu amor São, São Paulo Quanta dor Salvai-nos por caridade Pecadoras invadiram Todo centro da cidade Armadas de rouge e batom Dando vivas ao bom humor Num atentado contra o pudor A família protegida Um palavrão reprimido Um pregador que condena Uma bomba por quinzena Porém com todo defeito Te carrego no meu peito São, São Paulo Meu amor São, São Paulo Quanta dor Santo Antonio foi demitido Dos Ministros de cupido Armados da eletrônica Casam pela TV Crescem flores de concreto Céu aberto ninguém vê Em Brasília é veraneio No Rio é banho de mar O país todo de férias E aqui é só trabalhar Porém com todo defeito Te carrego no meu peito São, São Paulo Meu amor São, São Paulo Quanta dor (Extraído de http://tom_ze. l e t r a s . h o s t g o l d . c o m . b r / hospedagemsites/musicas_ songs) O município de São Paulo O município de São Paulo possui uma área total de 1.509 km², com densi- dade demográfica de 7.077,4 habitantes por km², com 10.679.760 habitantes em 2004. (Fonte: htpp://seade.gov.br) O executivo da cidade é a Prefeitura, que está organizada em 31 subpre- feituras e 96 distritos. O legislativo é a Câmara dos Vereadores. A sede é a cidade de São Paulo, dividida em regiões: Centro, Zona Norte, Zona Oeste, Zona Sul e Zona Leste. O crescimento populacional levou os gestores da cida- de (Prefeitura e Câmara Municipal) a procurar soluções que facilitassem sua administração. Uma das soluções encon- tradas e que recentemente foi posta em prática foi a divisão da cidade em sub-prefeituras e destas em distritos, que têm como função descentralizar a administração dos problemas da cidade. Veja no quadro abaixo como se distribui a população pelas sub-prefeituras e sua taxa de crescimento desde o iní- cio dos anos 1990. Primeira figura: mapa domapa domapa domapa domapa do município de São Paulo emmunicípio de São Paulo emmunicípio de São Paulo emmunicípio de São Paulo emmunicípio de São Paulo em 20042004200420042004. Fonte: O Estado de S. Paulo, 02 nov. 2004, Metró- pole, C1. Segunda figura: área edifi-área edifi-área edifi-área edifi-área edifi- cada em 1962 e 1972cada em 1962 e 1972cada em 1962 e 1972cada em 1962 e 1972cada em 1962 e 1972. Fonte: Flávio Villaça, em Cibele Taralli. Ambiente construído e legislação: o visível e o imprevisível. São Paulo, 1993. Doutorado na FAU/USP. Subprefeituras eSubprefeituras eSubprefeituras eSubprefeituras eSubprefeituras e DistritosDistritosDistritosDistritosDistritos Município de São Paulo Aricanduva Butantã Campo Limpo Casa Verde/ Cachoeirinha Cidade Ademar Cidade Tiradentes Ermelino Mata- razzo Freguesia/ Brasilândia Guaianases Ipiranga Itaim Paulista Itaquera Jabaquara Lapa M’Boi Mirim Mooca Parelheiros Penha Perus 19911991199119911991 9.610.659 280.750 365.388 394.090 311.518 315.630 95.926 197.581 352.959 193.466 421.609 286.512 429.604 213.559 295.030 381.250 352.169 61.360 473.877 58.493 20042004200420042004 262.155 377.567 538.853 311.652 385.841 229.606 206.072 402.437 274.950 428.173 379.131 502.823 214.074 263.181 514.374 294.892 130.587 475.678 131.713 TTTTTaxa anualaxa anualaxa anualaxa anualaxa anual de cresci-de cresci-de cresci-de cresci-de cresci- mento 1991-mento 1991-mento 1991-mento 1991-mento 1991- 2004 (em %)2004 (em %)2004 (em %)2004 (em %)2004 (em %) 0,8 - 0,5 0,3 2,4 0,0 1,6 6,9 0,3 1,0 2,7 0,1 2,2 1,2 0,0 - 0,9 2,3 - 1,4 6,0 0,0 6,4 - 1 2 3 4 5 6 Atividades: 1. Qual é a população do município? Pinheiros Pirituba Santana/Tucuruvi Santo Amaro São Mateus São Miguel Sé Socorro Tremembé/ Jaçanã Vila Maria/ Vila Guilherme Vila Mariana Vila Prudente/ Sapopemba 338.369 314.711 352.282 234.694 299.342 321.394 456.984 404.276 211.126 339.174 335.513 522.023 253.895 413.120 318.282 212.794 409.478 394.880 349.813 619.644 267.529 292.244 304.858 519.464 - 2,2 2,1 - 0,8 - 0,8 2,4 1,6 - 2,0 3,3 1,8 - 1,1 - 0,7 0,0 Área edificada em 1983Área edificada em 1983Área edificada em 1983Área edificada em 1983Área edificada em 1983. Fonte: Flávio Villaça, em Cibele Taralli. Ambiente construído e legislação: o vi- sível e o imprevisível. São Paulo, 1993. Doutorado na FAU/USP. 2. Qual é a subprefeitura mais populosa? 3. Qual a subprefeitura que perdeu mais população, no quadro acima? 4. Qual a subprefeitura que mais ganhou população, no quadro acima? 5. Relacione, em ordem decrescente, as dez subprefeituras que mais au- mentaram a população: 6. Relacione, em ordem crescente, as subprefeituras que mais perderam população: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 7. Localize a subprefeitura em que está o bairro onde você vive. Relate se teve crescimento positivo ou negativo. Você pode explicar por que esse tipo de crescimento aconteceu? 7 8 9 10 Atualmente, falamos em Grande São Paulo ou Região Metropolitana de São Paulo. Veja abaixo com se formou a Grande São Paulo. A Região Metropolitana de São Paulo A ligação de áreas urbanas de municípios diferentes (conurbação) criou um novo fenômeno urbano: a Região Metropolitana de São Paulo/RMSP, cha- mada também de Grande São Paulo. Conurbação, metrópole, região metropolitana e megalópole são expressões que a cada dia se tornam mais familiares a milhões de pessoas em todo o mundo. Trata-se de aglomerações urbanas, às vezes gigantescas, encontradas principalmente nos países desenvolvidos e decorrentes de uma expansão urbana sem precedentes, provocada sobretudo pelo desenvolvimento industrial e pelo avanço tecnológico dos meios de transporte e das comunicações. O que é conurbação?O que é conurbação?O que é conurbação?O que é conurbação?O que é conurbação? É o encontro de duas ou mais cidades próximas em razão de seu crescimento. Isso ocorre principalmente em regiões mais desenvolvidas, onde geralmente há uma gran- de rodovia que expande continuamente a área física das cidades. Exemplos: Juazeiro e Petrolina, no Rio São Francisco; região do ABCD, em São Paulo; regiões com as de Nova Iorque, da Grande São Paulo, do Grande Rio e outras. O que é metrópole?O que é metrópole?O que é metrópole?O que é metrópole?O que é metrópole? As metrópoles correspondem a centros urbanos de grande porte; é a “cidade-mãe”, ou seja, é a cidade que possui os melhores equipamentos urbanos do país (metrópole nacional) ou de uma grande região do país (metrópole regional). A metrópole lidera a rede urbana à qual está integrada e exerce uma forte influência sobre as cidades de menor porte, podendo transformar-se num pólo regional, nacional ou mundial. Exem- plos de metrópoles nacionais: Nova York, Tóquio, Sidney, São Paulo e Rio de Janeiro; regionais: Lion (sudeste da França), Vancouver (litoral do Pacífico canadense), Seattle (noroeste dos EUA) e Belém (Região Norte do Brasil).A partir da década de 50, o cresci- mento e a multiplicação das metrópoles foi espetacular. Em 1950, por exemplo,só existiam sete cidades com mais de cinco milhões de habitantes, ao passo que em 1990 já existiam dezenas de cidades nessa situação. Muitas delas expandiram tanto seus limites que acabaram se encontrando com os limites de outros municípios vizinhos, formando enormes aglomerações chamadas regiões metropolitanas. - A RMSP possui uma área de mais de 8.000 km², com mais de 18.000.000 habitantes e 95% de taxa de urbanização, inte- grada pelos seguintes muni- cípios: São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Santo André, Diadema, Mauá, Ribei- rão Pires, Rio Grande da Serra, Ferraz de Vasconcelos, Poá, Suzano, Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim, Salesópolis, Itaquaquecetuba, Guararema, Guarulhos, Arujá, Santa Isabel, Mairiporã, Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Cajamar, Osasco, Santana do Parnaíba, Pirapora do Bom Je- sus, Carapicuíba, Jandira, Itapevi, Taboão da Serra, Cotia, Vargem Grande Paulista, Embu, Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra, Embu Guaçu e Juquitiba. Foi criada pela Lei Comple- mentar Federal nº 14, de 8/6/ 73, e pela Lei Complementar Estadual nº 94, de 29/5/74. O que é região metropolitana?O que é região metropolitana?O que é região metropolitana?O que é região metropolitana?O que é região metropolitana? É o “conjunto de municípios contíguos e integrados a uma cidade principal (metrópole), com serviço públicos de infra-estrutura comuns”. As maiores aglomerações ou regiões metropolitanas do mundo em 1990 (conforme estimativas) e suas respectivas popula- ções eram: Tóquio (23,4 milhões), Cidade do México (22,9 milhões), Nova Iorque (21,8 milhões), São Paulo (19,9 milhões), Xangai (17,7 milhões) e Pequim (15,3 milhões). No ano 2000, a maior aglomeração metropolitana do mundo é a Cidade do México, com 32 milhões de habitantes, o equivalente à população da Argentina em 1990. (Texto extraído de As interações urbanas contemporâneas, site http://members.tripod.com/ ~netopedia/geogra/intera_urbanas.htm). Região metropolitana de São Paulo – 2000 – Divisão político- administrativa. Fonte: São Paulo metrópole, Regina M. Prosperi Meyer e outros. São Paulo: EDUSP; Imprensa Oficial, 2004, p. 47. Você já deve ter estudado o movimento das bandeiras, expedições que saiam de São Paulo em busca de índios para trabalhar como escravos e em busca de minerais preciosos (ouro, prata e pedras preciosas). Você deve ter notado também que há na capital e em todo o estado muitas ruas, avenidas, escolas e muitos monumentos que homenageiam os bandeirantes. O que se escreveu sobre eles os transformou em um símbolo de São Paulo, a ponto de bandeirante ser sinônimo de paulista e de paulistano. Eles passaram a ter tanta importância para os historiadores porque foram os primeiros colonos a descobrir as riquezas minerais nas possessões portuguesas. No século XVI, por volta de 1530, o governo português iniciou a coloniza- ção de suas possessões na América. Você se lembra que os portugueses chega- ram às terras que depois formariam o Brasil em 1500. No início do século XV, a Europa estava às voltas com uma crise resultante do crescimento do comércio, caracterizada pela escassez de metais preciosos, pela necessidade do aumento do fornecimento de especiarias e pela falta de mercados consumidores. A superação dessa situação deu-se na conquista de novas frentes de co- mércio, fornecedoras de especiarias, de metais preciosos e que pudessem con- sumir as manufaturas européias. No Atlântico desconhecido estava a solução. A expansão marítimo-comercial era, porém, uma atividade de grande por- te, que exigia imensos recursos. As Monarquias Nacionais, centralizadas, que se organizavam como Estados Nacionais Absolutistas, desenvolvidos a partir de lutas dinásticas, podiam arcar com tal empreendimento e também contar com o apoio da burguesia mercantil, uma nova classe social que surgia em decorrência do desenvolvimento comercial do período. As condições geográficas tiveram influência nessa expansão. Sendo o Atlântico o caminho para novas conquistas, as nações da costa Atlântica, como as da Península Ibérica, projetaram-se nos descobrimentos. Portugal foi o primeiro país a procurar na saída pelo Oceano Atlântico a solução para os problemas econômicos com os quais se defrontava. Em 1415, foi tomada a Praça de Ceuta, aos árabes, no norte da África; em 1498, Vasco da Gama chegou às Índias, objetivo do longo processo das navegações portugue- sas, e em 1500, a frota de Cabral chegou ao litoral do atual estado da Bahia. Para conseguir seu intento, Portugal contou com algumas circunstâncias que lhe eram peculiares: centralização do poder real, que a partir de 1385 Unidade 2 Origens de São Paulo: a cidade dos bandeirantes Organizadoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer Elaboradoras Kátia Maria Abud Raquel Glezer - ficou sob o domínio da dinastia de Avis, e a monarquia centralizada, com o apoio da burguesia dos portos, estimulou a expansão. As navegações portuguesas tomaram o rumo do contorno das costas da África (périplo africano) constituindo o ciclo oriental de navegações. A Espanha iniciou sua expan- são marítima em 1492, quando o poder real estava centralizado e os muçulmanos def initivamente ex- pulsos da Península Ibérica. Nesse mesmo ano, o genovês Cristóvão Colombo, a serviço dos reis da Es- panha, chegava ao continente ame- ricano, acreditando ter atingido as Índias. Entre 1519 e 1521 o portu- guês Fernão de Magalhães, também a serviço da Espanha, realizou a 1ª viagem de circunavegação. As na- vegações espanholas tomaram por base o princípio de esfericidade da terra, rumando para o Ocidente para chegar ao Oriente (ciclo ocidental de navegações ou circunavegação). Portugueses e espanhóis desen- volveram grande competição pela posse de terras descobertas. Para tentar resolver essas questões foram assinados tratados: – 1493: a Bula Inter-Coetera determinou o estabelecimento de um meridiano divisório, a 100 lé- guas a oeste das Ilhas de Cabo Ver- de, mas Portugal não aceitou; – 1494: foi firmado o Tratado de Tordesilhas. Estabelecia uma li- nha divisória a 370 léguas de Cabo Verde. As terras a oeste seriam da Espanha, as terras a leste, de Portu- gal (consulte o seu livro didático: é possível que ele tenha um mapa que mostre a divisão das terras en- tre Portugal e Espanha); – 1529: o Tratado de Saragoça regularizava a partilha das terras do Oriente. A expansão marítimo-comercial européia teve importantes conseqüências: 1. O eixo econômico mundial, até então centralizado no Mediterrâneo, deslocou-se para o Atlântico. 2. O mundo descoberto foi colonizado dentro de padrões europeus e cris- tãos, resultando na europeização do mundo. Mapa Expansão marítima portuguesa. Fonte: Sonia Irene do Carmo e Eliane Couto. História do Brasil. 1o. grau. São Paulo: Atual, 1989, p. 33. Mapa Áreas de dominação do comercio português e espanhol no século XVII. Fonte: idem, p. 38. 3. Consolidou-se a burguesia mercantil européia, graças à intensa acumu- lação de capitais gerada pela exploração do mundo colonial. 4. Consolidaram-se as monarquias européias e os Estados Nacionais Ab- solutistas. Como a Espanha tomou posse das terras americanas e iniciou sua coloni- zação antes de Portugal (veja o Módulo 1 – Unidade 3), nas suas possessões foram encontradas riquezas minerais que não eram tão evidentes nas posses- sões portuguesas e, durante trinta anos, Portugal continuou interessado em manter o comércio com o Oriente e com regiões da costa africana, desinteres- sando-se das terras americanas. Foi a entrada de outras companhias de comér- cio européias nas rotas do Oriente que provocou novamente o interesse do governo português pelas terras americanas. O início da colonização Entre 1500 e 1530, alguns europeus,principalmente espanhóis e portu- gueses, passaram pelas terras que futuramente seriam o território brasileiro. Eram principalmente náufragos de embarcações, que se perdiam procurando chegar às ricas possessões espanholas, ou ainda marinheiros que ficavam nas feitorias, onde se guardavam as toras de pau-brasil. Você já estudou o que eram feitorias e o que é escambo. A NA NA NA NA NAUAUAUAUAU B B B B BRETOARETOARETOARETOARETOA Em 22 de fevereiro de 1511, um consórcio de comerciantes, entre eles Fernando de Noronha, fez zarpar do porto de Lisboa, com destino às costas hoje brasileiras, com o objetivo de obter a maior carga de pau-brasil de boa qualidade, o mais rápida e econo- micamente possível. A nau chegou no início do mês de abril e levou para Portugal 5008 toras de madeira, cujo peso ultrapassava cem toneladas. Em 1844, o historiador Francis- co Adolfo de Varnhagen descobriu na Torre do Tombo (arquivo português) o regimento da nau Bretoa, que era muito rígido. A única concessão a todos os tripulantes era a liberdade de levar para Portugal animais silvestres. Assim, levaram mais de sessenta animais, entre papagaios, macacos, sagüis, tuins e felinos de pequeno porte. A nau Bretoa levou também trinta e seis escravos, a maioria mulheres. Quando os portugueses da esquadra de Pedro Álvares Cabral desembarca- ram nas terras que constituiriam mais tarde o Brasil, já sabiam que por força do Tratado de Tordesilhas poderiam explorar aquelas terras, banhadas pelo Oceano Atlântico, de modo que melhor lhes aprouvesse. Mas não podiam imaginar que Vamos recordar: Escreva: 1. O que é feitoria? 2. O que significa escambo? - elas se estenderiam para lugares muito mais distantes do mar que acabavam de atravessar e chegariam quase a alcançar o outro oceano. O Tratado de Tordesilhas foi desrespeitado e vários outros tratados foram assinados por representantes de Portugal e Espanha, aumentando cada vez mais a extensão das possessões por- tuguesas na América do Sul. Essa empreitada, porém, não foi facilmente reali- zada. Houve muita destruição, disputas e guerras de conquista para que se com- pletasse o domínio português nas terras onde o Brasil foi se formando. As dificuldades que os colonos portugueses encontraram foram tão gran- des, que em torno daqueles que se organizaram para penetrar o sertão se cons- truiu uma memória que fez deles “heróis” e a expansão territorial que realiza- ram foi entendida pelos historiadores como um aspecto fundamental para que o Brasil surgisse como um país. Desde o inicio do século XVI, boatos e histórias a respeito da descoberta de metais preciosos, que enriqueciam o tesouro espanhol, corriam pelas cor- tes européias. A mais famosa delas era a do Rei Branco e da Serra da Prata. O Rei Branco era o Inca Huayna Capac e a Serra de Prata era Potosí, no atual Peru. Veja o quadro ao lado. As lendas do “rei branco” e da Serra da Prata trouxeram os portugueses para as regiões mais ao sul da América do Sul. Em 1530, o governo português organizou uma expedição colonizadora e um primeiro grupo de portugueses foi enviado, para aqui se fixar, iniciar a agricultura e promover expedições à procura das riquezas minerais na possessão portuguesa. O chefe da expedição foi Martim Afonso de Sousa, que se fez acompa- nhar por seu irmão Pero Lopes, que escreveu um diário da expedição. Este documento se tornou uma importante fonte para o estudo do início da coloni- zação portuguesa na América. Martim Afonso de Souza vi- nha com ordens expressas do rei para organizar incursões pelo interior a fim de encontrar ouro e prata. Como os co- nhecimentos geográficos sobre o continente sul-americano eram poucos, pensavam que as minas de prata, que estavam enriquecendo o tesouro espanhol, poderiam ser encontradas nas terras às quais Portugal se achava com direitos. A ocupação do planalto Ao chegar à região onde hoje se localiza o município de São Vicente, no litoral do estado de São Paulo, Martim Afon- so e seus homens encontram um grupo de europeus, com- posto principalmente por espanhóis, possivelmente náufra- gos de expedições que se dirigiam ao rio da Prata. Esse grupo, que vivia entre os índios há cerca de vinte anos, já estava acostumado a uma vida diferente da que levava na Europa. Os que acabavam de chegar também teriam que se acostumar a essa vida diferente. Uma primeira grande diferen- ça era a da alimentação. Os peixes com os quais os portugue- ses se alimentavam eram peixes de água fria, que não existiam por aqui. Teriam que se contentar com os mariscos e pescados, dos quais havia fartura em toda a costa e que os índios de boa vontade lhes repassavam. Os índios também não domesticavam animais para seu consumo. Não havia galinhas, porcos, cabras Potosí significa, em quí- chua, “montanha que troveja”. Segundo a len- da registrada por Inca Garcilaso de la Veja, o cerro recebera esse no- me porque quando o Inca Huayna Capac man- dou explorá-lo, os emis- sários que lá chegaram ouviram ruídos estron- dosos que julgaram ser a “voz” da montanha. Além de aterrador, o som tinha um significado: “Afastem-se daqui”, teria dito a voz fantasmagó- rica. “As riquezas desta montanha não são para vocês. Estão reservadas para homens que virão do além”. (...) Extraído de Eduardo Bueno. Capitães do Brasil: A saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999, p. 21. Fonte: Eduardo Bueno. Ca- pitães do Brasil. A saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. ou bois nas aldeias indígenas. A carne que consumiam era carne de caça: tatus, pacas, macacos abatidos em incursões pelas matas também passaram a ser ali- mento para os portugueses que conviviam com os indígenas. Contudo, a grande novidade na alimentação era a mandioca, chamada também de aipim ou macaxeira. Entre os índios, a mandioca era muito utiliza- da. Planta nativa, crescia com facilidade, não exigia cuidados e dela se fazia uma farinha fina, que substituiu a de trigo, usada na Europa, no paladar dos portugueses. Com ela, as mulheres indígenas faziam o beiju, que até hoje faz parte da alimentação diária em algumas regiões do Brasil. Dormiam em redes, índios e portugueses, nesse início da conquista das terras. Os homens que viviam na região de São Vicente não tinham suas famílias junto deles. Estavam sós e, se eram casados ou tinham filhos em sua terra natal, tinham perdido todo o contato com eles. Entrosaram-se com os nativos e constituíram novas famílias, seguindo a organização social e familiar dos grupos com os quais conviviam. O grupo indígena predominante na região era o dos tupiniquins. Entre eles e vivendo como um deles havia um português, chamado João Ramalho, que era apontado pelos conterrâneos que o conheceram como alguém que havia deixado de ser europeu e tinha se transformado num índio. O que foi contado sobre João Ramalho pode ajudar a entender como era a vida daque- les primeiros portugueses nas terras que vieram conquistar. João Ramalho vivia no grupo tupiniquim que era liderado por Tibiriçá, cuja aldeia, chamada Piratininga, se localizava no planalto, uns 60 ou 70 km distantes de São Vicente. Ele tinha como esposa principal Bartira, f ilha de Tibiriçá, mas outras mulheres índias também eram suas esposas, pois o casa- mento era uma forma que os índios encontravam para estabelecer o parentes- co e celebrar alianças. Ramalho tinha muitos filhos com suas mulheres. Com eles ia às guerras e participava das festas. Andava sem roupa como os índios, comia a mesma comida e dormia em redes como eles. As ligações com os índios fizeram de João Ramalho um homem muito poderoso e todos os representantes do rei português que vinham para a região o procuravam para obter ajuda. Foi o que fez Martim Afonso, que buscava o caminho para chegar à Serra da Prata, pois logo que elee seus homens chega- ram à América do Sul, pretenderam atingir a região das minas que os espa- nhóis tinham conquistado, subindo o Rio da Prata. Todavia, não conseguiram e desistiram da idéia de alcançá-la por água. Haveriam de encontrar um outro caminho para se chegar até os veios de minério precioso. Falava-se de uma trilha, chamada de “Peabiru”, que chegava até a região onde vivia o Rei Branco. A trilha do Peabiru podia passar por perto da aldeia de Piratininga, onde vivia João Ramalho. Por isso, logo que chegou a Tumiaru (São Vicente), Martim Afonso reuniu seus homens para penetrar nas terras do interior e descobrir o sertão. Foi uma árdua viagem. Saindo de Tumiaru, foram singrando o lagamar de águas salobras até o ancoradouro de Piaçaguera de Baixo; caminharam, en- tão, por uma área alagadiça, onde hoje está instalada a cidade de Cubatão, chegando então à raiz da serra. Dali, seguiram pela Mata Atlântica, até encon- trar as nascentes do rio Tamanduateí e acompanharam seu curso, seguindo por sudoeste até onde o córrego Anhangabaú desagua no Tamanduateí. Nesse local se situava a aldeia de Piratininga, distante cinco quilômetros do rio Tietê. - Esse sítio é ocupado hoje pelas ruas e logradouros do centro da cidade de São Paulo. Dali, podia- se, com dois meses de viagem por terra, alcan- çar o rio Paraguai. Tudo era feito com muita dificuldade e lenti- dão e, é claro, sem as fa- cilidades que o avanço tecnológico vem produ- zindo. Se nos nossos tem- pos, com os aviões e as facilidades de comunica- ção, dois meses parecem uma eternidade para se chegar ao Paraguai, para os colonizadores pareceu que era fácil e o tempo de viagem não significaria muita coisa, se conseguis- sem alcançar as minas. A relativa facilidade para se chegar às terras da Espanha animou Martim Afonso a criar mais uma vila portuguesa, no local em que naquele momento estava a aldeia de Tibiriçá, além da Vila de São Vicente. Para isso contou com o apoio de João Ramalho e do próprio Tibiriçá. Fonte: Eduardo Bueno. Ca- pitães do Brasil. A saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999) A pintura, realizada na segunda década do século XX, re- presenta a chegada de Martim Afonso ao local onde seria criada a Vila de São Vicente, e o pintor faz com que ele seja recebido por Tibiriçá e Caiuibi, que acompanhavam João Ramalho. Piquerobi e seu filho Jaguarunho, que não se aliaram aos portugueses são representados no grupo à direita do quadro, expressando desconfiança em relação aos recém-chegados. TTTTTIBIRIÇÁIBIRIÇÁIBIRIÇÁIBIRIÇÁIBIRIÇÁ, P, P, P, P, PIQUEROBIIQUEROBIIQUEROBIIQUEROBIIQUEROBI EEEEE C C C C CAIUBIAIUBIAIUBIAIUBIAIUBI Eram chefes das maiores aldeias dos tupiniquim, na região da Serra Acima. A aldeia chefi- ada por Tibiriçá (Piratininga), que era a maior delas, abrigou a capela e o precário Colégio de São Paulo de Piratininga. A segunda aldeia mais importante era a de Jerubatuba, sob a chefia de Caiubi. Localizava-se em torno de doze quilômetros de distância da aldeia de Piratininga, na região próxima à nascente do rio do mesmo nome, que conhecemos como rio Pinheiros, no atual bairro de Santo Amaro. A terceira aldeia, a de Ururai, era liderada por Piquerobi. Ficava seis quilômetros a leste da aldeia de Tibiriçá, e mais tarde foi base do aldeamento jesuítico de São Miguel, origem do atual bairro de São Miguel, que guarda ainda a capela construída pelos jesuítas. Tibiriçá foi o primeiro aliado dos portugueses, juntamen- te com Caiuibi. Piquerobi, ao contrário, não se aproxi- mou dos colonizadores e durante três anos ameaçou a sobrevivência dos colonos na vila de São Paulo. “Fundação de São Vicente”, de Benedito Calixto (Acer- vo do Museu Paulista). Criar uma vila portuguesa no planalto significava estender de fato e de direito o poder de Portugal sobre essas terras. Vila era uma expressão jurídica que designava as localidades onde funcionava uma Câmara de Vereança, que organizava os moradores nos moldes da administração portuguesa. Além da Câmara, implantava-se o pelourinho, a igreja e cadeia. O pelou- rinho era um bloco de pedra, onde se marcava a criação da Câmara de Verean- ça. A igreja e a cadeia eram construções muito simples, de barro, com chão de terra e cobertas com palha. A criação das vilas iniciou uma profunda transformação na vida nos habi- tantes da terra, não só dos poucos europeus, mas também dos índios. Isso se deu porque, juntamente com a criação das vilas, iniciou-se também o estabe- lecimento da propriedade privada nessas terras. Os índios exploravam os recursos da terra de modo coletivo. Isto é, não havia divisão das terras entre os indivíduos que formavam o grupo. Os resul- tados da coleta, da pesca, da caça eram distribuídos entre todos. Com a cria- ção das vilas, foram distribuídas porções do território tribal entre os portugue- ses. Assim, João Ramalho, que durante décadas viveu de acordo com os cos- tumes tribais, tornou-se proprietário de uma extensa sesmaria, que era o nome dado a essas grandes extensões de terras cultivadas e exploradas pelos portu- gueses. Ao lado do interesse pelas riquezas minerais, a doação das sesmarias foi um dos grandes instrumentos de ocupação e conquista das terras indíge- nas pelos portugueses. A Vila de Piratininga foi criada no planalto, porque sua localização facili- tava a entrada para o sertão. Ela era, na verdade, sua porta de entrada. Dos cento e cinqüenta homens que tinham vindo com Martim Afonso, cinqüenta foram enviados para Piratininga. No entanto, pouco tempo depois, a Vila desaparecia e seus homens se espalharam pela região, mesclando-se novamente aos índios da terra. Na metade do século XVI, outra riqueza, provinda da lavoura, começava a despontar. Era a cana-de-açúcar que iniciava sua expansão. A expansão da cana na região de São Vicente não foi suficiente para atrair muitos portugue- ses para a região, ao contrário do que aconteceu no Nordeste, onde a lavoura canavieira se expandiu (veja no box abaixo). Porém, em algum lugar, onde nenhum europeu tinha pisado, o ouro e a prata permaneciam escondidos. Apareciam nos sonhos de riqueza daqueles homens que atravessavam o Oceano Atlântico e vinham enfrentar dificulda- des em terras desconhecidas. Responda a questão abaixo: Fuvest 2002 – Os portugueses chegaram ao território, depois denominado Brasil, em 1500, mas a administração da terra só foi organizada em 1549. Isso ocorreu porque, até então, a) os indíos ferozes trucidavam os portugueses que se aventurassem a de- sembarcar no litoral, impedindo assim a criação de núcleos de povoamento. b) a Espanha, com base no Tratado de Tordesilhas, impedia a presença portuguesa nas Américas, policiando a costa com expedições bélicas. c) as forças e atenções dos portugueses convergiam para o Oriente, onde vitórias militares garantiam relações comerciais lucrativas. d) os franceses, aliados dos espanhóis, controlavam as tribos indígenas ao longo do litoral bem como as feitorias da costa sul-atlântica. Vilas, cidades e fregue-Vilas, cidades e fregue-Vilas, cidades e fregue-Vilas, cidades e fregue-Vilas, cidades e fregue- siassiassiassiassias No Brasil colonial as vilas eram os agrupamentos popula- cionais nos quais podiam fun- cionar as Câmaras de Verean- ça, cujos cargos (vereadores, almotacéis, juizes) eram ocupa- dos pelos “homens bons”: bran- cos, proprietários de terras. As vilas foram um instrumento utilizado pelo governo por- tuguês para efetivar a ocupa- ção da terra. Suas funções, en- tre outras, eram de administrar o núcleo urbano, cuidar da lim- peza, fiscalizar preços. Deram origem aos atuais municípios. A Vila podia ser alçada à con- dição de Cidade, quando nela vivia um representante da Me- trópole. São Paulo, que teve ori- gem num colégio jesuítico, foi elevada aVila em 1560 e a Cida- de em 1711. Freguesia é uma divisão religio- sa, que corresponde em nossos dias a uma paróquia. Em Portu- gal e nas áreas de ocupação portuguesa, a Igreja exercia ati- vidades cartorárias. Nas fregue- sias se faziam os registros de nas- cimento, batismo, casamento e morte, além do de propriedades imobiliárias e compra e venda de bens móveis e imóveis. - e) a população de Portugal era pouco numerosa, impossibilitando o recru- tamento de funcionários administrativos. São Paulo Colonial Depois que as conquistas espanholas comprovaram que as lendas da Serra da Prata e o Rei Branco tinham fundamento, o governo português continuou interessado em encontrar os ricos veios de ouro e prata. Para isso, era necessário ter um posto avançado da colonização portuguesa, uma porta aberta para o sertão. Para os jesuítas, a porta aberta para o sertão poderia ser a passagem para a salvação das almas dos indígenas, salvação esta que, segundo a Igreja Católica, somente se conseguiria com a sua conversão ao cristianismo. As duas vontades, a do enriquecimento e a da fé, se aliaram e no Planalto de Piratininga os padres da Companhia de Jesus fundaram o Colégio de São Paulo, em 25 de janeiro de 1554. O Colégio atraiu os portugueses que viviam no planalto, esparsos desde o desaparecimento da Vila de Piratininga, outros europeus da Vila de Santo André da Borda do Campo e os indígenas da região. Seis anos depois da fundação do Colégio, em 1560, o agrupamento, que havia se formado em torno do Colégio de São Paulo, foi elevado à condição de Vila: Vila de São Paulo de Piratininga. Os jesuítas tinham escolhido o local para instalarem o colégio, pensando no maior número de crianças indígenas que podiam atrair. Seu objetivo era conquistar os adultos por meio da conversão das crianças. Acreditavam que a conversão das crianças seria duradoura, ao contrário dos adultos, que já ti- nham suas crenças formadas e muitas vezes faziam os padres acreditarem que tinham se cristianizado para continuar seguindo as crenças de seu povo. Produção AçucareiraProdução AçucareiraProdução AçucareiraProdução AçucareiraProdução Açucareira A escolha do açúcar para viabilizar a ocupação da pos- sessão portuguesa esteve li- gada a vários fatores: · aumento do mercado consu- midor desse produto na Eu- ropa · elevação dos preços · experiência anterior portu- guesa nas ilhas do Atlântico · apoio comercial e financeiro dos flamengos · condições climáticas e de solo favoráveis, no Nordeste A produção açucareira, volta- da para mercado externo, con- solidou uma estrutura carac- terizada por monocultura, la- tifúndio e escravismo. Embo- ra a produção dominante fos- se a de açúcar, paralelamente a ela desenvolveram-se ativi- dades subsidiárias: a pecuária (que incentivou a ocupação do sertão nordestino) e a lavoura de subsistência (mandioca, hortaliças), voltadas para o mercado interno. A criação de gado objetivava, predominan- temente, suprir as necessida- des de transporte (carro de boi), força motriz (mover en- genhos) e alimentação. A A A A A ADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃO COLONIALCOLONIALCOLONIALCOLONIALCOLONIAL Chamamos de pré-colonial o período que vai de 1500 a 1530, entre a chegada da frota comandada por Pedro Álvares Cabral às terras que seriam o Brasil e a vinda da expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa, que deu início à ocupação portuguesa. Em 1534, como o tesouro português estava depauperado, o rei D. João III passou a responsabilidade da colonização para alguns homens que teriam condições de desenvolvê-la. Dividiu as terras, limitadas a leste pelo Oceano Atlântico e a oeste pela linha do tratado de Tordesilhas em quinze grande lotes, de 350 km de largura entre doze capitães donatários, em geral militares ligados à conquista da Índia e da África e altos burocratas da corte, vinculados à administração dos territórios do Oriente. Muitas foram as dificuldades encontradas (falta de dinheiro para implantar o projeto, hostilidade dos indígenas, distância de Portugal) e poucas capitanias hereditárias conseguiram prosperar, como a de São Vicente e Pernambuco. Diante do fracasso das capitanias, o governo português decidiu pela instauração de um governo centralizado que ajudasse o estabelecimento dos portugueses em suas possessões. Para isso criou, em 1549, o Governo Geral. O quadro foi pintado no início do século XX e o artista fez uma representação alegórica da primeira missa realizada no colégio dos jesuítas. Alguns índios do quadro apre- sentam-se com peças de vestuário que não usavam e com adereços de arte plumária que não era própria dos grupos indígenas que viviam no planalto de Piratininga. Fundação de São Paulo, pintura a óleo de Oscar Pe- reira da Silva (acervo de Museu Paulista). Atividades 1. (Fuvest-2004) "A fundação de uma cidade não era problema novo para os portugueses; eles viram nascer cidades nas ilhas e na África, ao redor de fortes ou ao pé das feitorias; aqui na América, dar-se-ia o mesmo e as cidades surgiriam..." João Ribeiro, História do Brasil Baseando-se no texto, é correto afirmar que as cidades e as vilas, durante o período colonial brasileiro, a) foram uma adaptação dos portugueses ao modelo africano de aldeias junto aos fortes para proteção contra ataques das tribos inimigas. b) surgiram a partir de missões indígenas, de feiras do sertão, de pousos de passagem, de travessia dos grandes rios e próximas aos fortes do litoral. c) foram planejadas segundo o padrão africano para servir como sede administrativa das capitais das províncias. d) situavam-se nas áreas de fronteiras para facilitar a demarcação dos ter- ritórios também disputados por espanhóis e holandeses. e) foram núcleos originários de engenhos construídos perto dos grandes rios para facilitar as comunicações e o transporte do açúcar. 2. (UFSM-2000) “Esta terra, Senhor, é muito chã e muito formosa. Nela não podemos saber se haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal; porém, a terra em si é de muitos bons ares (...) querendo aproveitar dar-se-á nela tudo (...)”. Esse trecho é parte da carta que Pero Vaz de Caminha escreveu, em 1500, ao rei de Portugal, com informações sobre o Brasil. Com base no texto, é correto afirmar: a) Havia a intenção de colonizar imediatamente a terra, retirando os bens exportáveis para atender o mercado internacional. b) Iniciava-se o processo de ocupação da terra, circunscrito aos limites do mercantilismo industrial e colonial. c) Desde o princípio, os portugueses procuraram escravizar os povos indí- genas a fim de encontrarem os metais preciosos. d) Estava evidente o interesse em explorar a terra nos moldes do mercantilismo. e) Era preponderante a intenção de estabelecer a agricultura com o traba- lho livre e familiar no Brasil. 3. (Fuvest-2003) "Eu, el-rei D. João III, faço saber a vós, Tomé de Sousa, fidalgo da minha casa que ordenei mandar fazer nas terras do Brasil uma fortaleza e povoação grande e forte na Baía de Todos-os-Santos. (..) Tenho por bem enviar-vos por governador das ditas terras do Brasil." Regimento de Tomé de Sousa, 1549 As determinações do rei de Portugal estavam relacionadas a) à necessidade de colonizar e povoar o Brasil para compensar a perda das demais colônias agrícolas portuguesas do Oriente e da África. b) aos planos de defesa militar do império português para garantir as rotas comerciais para a Índia, Indonésia, Timor, Japão e China. c) a um projeto que abranjia conjuntamente a exploração agrícola, a colo- nização e a defesa do território. Companhia de JesusCompanhia de JesusCompanhia de JesusCompanhia de JesusCompanhia de Jesus Sociedade missionária funda- da em 1534 por Santo Inácio de Loyola e outros seis estu- dantes daUniversidade de Paris, com o objetivo de de- fender o catolicismo da Refor- ma Protestante e difundi-lo nas novas terras do Ocidente e do Oriente. Teve rápido cres- cimento e alcançou grande prestígio e poder, tornando-se a instituição religiosa mais in- fluente em Portugal e em suas colônias. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, juntamente com Mem de Sá, o primeiro governador-geral, comandados pelo padre Ma- nuel da Nóbrega, e dedicaram- se à catequese indígena e à educação dos colonos. Nos séculos iniciais da colonização portuguesa no Brasil, foram responsáveis pela construção de igrejas e colégios. Organi- zaram a estrutura de ensino, baseada em currículos e graus acadêmicos, e estabeleceram as primeiras “reduções” ou “missões”: aldeamentos onde os nativos eram aculturados e cristianizados. - d) aos projetos administrativos da nobreza palaciana visando à criação de fortes e feitorias para atrair missionários e militares ao Brasil. e) ao plano de inserir o Brasil no processo de coloniação escravista seme- lhante ao desenvolvido na África e no Oriente. A vida na vila colonial Embora a vocação da vila fosse de ser a de “porta de entrada para o sertão”, a sobrevivência era um problema grave que seus moradores deviam solucionar. Para isso, surgiram as primeiras lavouras e aproveitando o clima e o solo do planalto, desenvolveram-se as plantações de trigo. A mandioca e o milho conti- nuaram também a ser produzidos e consumidos. Cana de açúcar, porém, que geraria riquezas na possessão portuguesa, não se produzia em Piratininga. As plantações dos paulistas formaram fazendas ao redor do pequeno nú- cleo urbano. Nunca tiveram uma produção que justificasse a inclusão de São Paulo no grupo das regiões que exportavam para a Europa. Mas fizeram com que fosse um local de produção de alimentos enviados a outras regiões da colônia portuguesa. Era um meio de ajudar a aumentar a produção de cana, que poderia assim se estender por grandes propriedades, aproveitando toda a extensão das fazendas do Nordeste. São Paulo de Piratininga tornou-se um centro produtor de alimentos porque podia contar com a mão-de-obra indígena, que inicialmente era abundante no planalto. O clima temperado do planalto também explica a possibilidade de plantar trigo, além de mandioca, hortaliças, arroz, algodão. Milho, carne e legu- mes eram exportados, dando uma certa autonomia a essa área, onde se faiscava também algum ouro de aluvião, o que justificava a existência na vila de dois ou três ourives e joalheiros. Na região planaltina, concentrava-se uma população indígena maior do que a existente na região litorânea de São Vicente, onde algumas grandes fazendas tinham se instalado para produzir a cana e transformá- la em açúcar. Nos engenhos de São Vicente, a mão-de-obra também era consti- tuída pelos índios, muitas vezes apresados nas terras de serra acima. Como o pequeno núcleo era um posto avançado de entrada para o sertão, atraía também alguns europeus, que continuavam sonhando com as riquezas escondidas nas terras desconhecidas. O núcleo urbano que se formou era muito simples. Os prédios eram cons- truídos com barro e taquara, cobertos com galhos e palmas extraídas das plantas nativas. O chão era de terra batida. As ruas não tinham traçado. As casas não eram alinhadas e em volta do colégio jesuítico, as construções foram, aos pou- cos, dando formato a ruas e largos, onde se construíram as igrejas de outras ordens, que chegaram depois dos padres da Companhia de Jesus. As casas eram muito mal equipadas. Móveis eram raros. Dormia-se em redes ou esteiras estendidas no chão. Havia uma ou outra mesa, tosca, feita pelo próprio morador. O fogão era feito da junção de duas ou três pedras grandes, entre as quais se colocava o fogo. Sobre ele, as panelas, em geral de barro, cozia-se os alimentos, feitos a partir das coisas da terra. Foi-se criando, assim, um núcleo urbano que alguns historiadores defini- ram como “autarquia paulista”, com espírito bastante diferente da metrópole portuguesa ou do Nordeste; os nomes das aldeias, rios, acidentes geográficos dão conta do caráter localista, fortemente marcado pela cultura indígena. Nada que se pudesse comparar às grandes cidades portuárias como Salvador, Olinda e Rio, ou com a intensa vida comercial nas cidades do México ou de Lima, na América Espanhola. No início da colonização, quando era muito pequeno o número de mulhe- res européias, as índias ocuparam seu lugar, preparando a mandioca e socan- do o milho. Eram elas também que trançavam as fibras para fazer as esteiras e redes, preparavam e moldavam o barro para fazer objetos de uso doméstico, como panelas, tigelas, potes para se guardar os mantimentos. Os utensílios que exigiam material e mão-de-obra mais sofisticada vinham do reino. Havia poucos talheres, em geral comia-se com a mão ou com colheres de madeira, grosseiramente entalhadas. Os índios não usavam vestimentas, mas as roupas dos moradores brancos eram feitas de panos rústicos de algodão, tecidos em rocas e teares manuais, pelas mulheres, que tinham a seu encargo também esse trabalho. As roupas mais finas, de seda ou veludo, vinham prontas de Portugal e eram muito valiosas. Mesmo no século XVII, quando a vida em São Paulo já estava mais organizada, o valor de um vestido de seda, roupa de festa, era mais alto que o valor da casa onde residia a família. A higiene, pública ou pessoal, era mal cuidada. Embora o banho cotidia- no não fosse um hábito dos colonizadores, esse foi um dos costumes indíge- nas logo incorporado por eles. Entretanto, a precariedade das casas não propi- ciava privacidade para tanto e não havia entre os europeus o hábito de se jogar nos rios para se refrescar ou para apanhar o pescado para as refeições. Havia muitos insetos. Nuvens de pernilongos, que surgiam à margem dos rios, que eram muitos em São Paulo, não cessavam de picar, dia e noite. Piolhos, carrapatos, nuvens de marimbondos eram os pequenos inimigos dos primeiros conquistadores europeus. Isso sem falar no bicho-de-pé, que provocava pequenos tumores dolorosos nos pés dos colonos, que freqüentemente andavam descalços. Formigas que atacavam os alimentos chegavam a destruir pequenas peças de roupa, como meias e lenços. A higiene pública praticamente não existia, o lixo era jogado nas ruas e por ele circulavam os animais domésticos, cuja criação os por- tugueses tinham introduzido. Assim, as doenças infecciosas eram freqüentes. As plantas e animais forneciam remédio para as doenças. A banha de ani- mais como anta e capivara tratava o reumatismo, casca de jabuticaba evitava hemorragias e curava sangramentos, ossos torrados da capivara curavam disenteria. Havia infusão de diversas ervas que ajudavam a recuperar os doen- tes: tinguerrilho terrestre e caiapiá do campo eram remédios dos paulistas para combater as febres que os atacavam. Limões azedos ajudavam a tratar a fra- queza e a falta de vitaminas, decorrente da pobreza da alimentação; angu e batata eram usados para curar desmaios; aguardente com sal para picadas de cobra. Jacus e jacutingas, aves consideradas saudáveis, eram cozidas em cal- dos e sopas para dieta dos enfermos. Índios e colonizadores A população indígena do planalto era maior que a do litoral. A maioria dos habitantes do interior era constituída pelos tupiniquins, enquanto no litoral predo- minavam os tupinambás. Os tupiniquins, por meio da atuação de João Ramalho, foram aliados de primeira hora dos portugueses. O mesmo não ocorreu com os tupinambás do litoral (aliados dos franceses, que na metade do século XVI se - estabeleceram na Baía de Guanabara) e com outros grupos habitantes do planal- to. Os povos não aliados eram ameaças aos estabelecimentos coloniais dos portu- gueses e chegaram a inviabilizar algumas povoações portuguesas.
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