Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Estatuto da Criança e do Adolescente Conselho Tutelar Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Reinaldo Zychan Revisão Textual: Profa. Ms. Magnólia Gonçalves Mangolin 5 • Conselho Tutelar • Acesso à Justiça Nesta unidade conheceremos as estruturas criadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para facilitar o acesso à Justiça, sendo que daremos especial destaque para os Conselhos Tutelares. Assim, leia o material teórico e participe de todas as nossas atividades avaliadas. Havendo alguma dúvida, não deixe de apresentá-la ao tutor da disciplina ou mesmo para os demais colegas. A discussão dessas questões pode ser bastante produtiva e esclarecedora. Nessa unidade iremos conhecer o Conselho Tutelar, importante órgão criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para fazer valer uma série de direitos estabelecidos nessa norma. Além disso, conheceremos outros órgãos que viabilizam o acesso da criança, do adolescente, de seus pais e responsáveis à Justiça. Conselho Tutelar 6 Unidade: Conselho Tutelar Contextualização Uma criança de cinco anos é encontrada vagando nas ruas, durante a madrugada, em situação de abandono. Um adolescente é apreendido pela polícia danificando um bem público, sendo que seus pais ou responsáveis não são localizados para acompanhar os registros dessa ocorrência. Além de eventuais medidas de caráter policial que essas situação ensejam, se faz necessária a adoção de providências previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo que, nessas situações e em outras semelhantes, essa atuação não pode tardar. A importância dos direitos de crianças e adolescentes não se coaduna com longas esperas e a burocracia estatal. Com o objetivo de estabelecer mecanismos mais ágeis e presentes, foi criado o Conselho Tutelar pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Além desse Conselho, estabeleceu o Estatuto a competência de outros órgãos para criar melhores condições de acesso à Justiça de crianças, adolescentes, seus pais e responsáveis. É essa estrutura e suas particularidades que iremos conhecer em nossa aula. 7 1 Conselho Tutelar 1.1 Considerações Iniciais O Conselho Tutelar é um importante órgão criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pois participa ativamente no sistema de proteção integral criado por essa norma. O Estatuto apresenta esse órgão em seu artigo 131, cuja redação é a seguinte: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Dessa definição, precisamos destacar os seguintes elementos: • Órgão permanente: significa que ele deve ser constituído formalmente e deve atuar de forma contínua; • Órgão autônomo: apesar de possuir ligações com o Poder Público Municipal e com a Vara da Infância e Juventude da Comarca, não está subordinado a eles. • Órgão não jurisdicional: significa que ele não está na estrutura do Poder Judiciário e que suas decisões não possuem características de decisões judiciais. Os Conselhos Tutelares são incumbidos, pela sociedade, de zelar pelo efetivo respeito dos direitos das crianças e dos adolescentes. Lei municipal ou distrital deve dispor sobre o local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, bem como sobre a remuneração dos respectivos membros (artigo 134 do ECA). 1.2 Constituição dos Conselhos Tutelares Cada município e cada região administrativa do Distrito Federal deve ter, pelo menos, um Conselho Tutelar. Características desses Conselhos: • São formados por 5 membros; • Seus membros são escolhidos pela população local; • O mandato dos membros dos Conselhos é de 4 anos, sendo permitida uma única recondução, mediante novo processo de escolha. 8 Unidade: Conselho Tutelar Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha. Para que alguém concorra a uma das vagas no Conselho Tutelar deve atender aos seguintes requisitos: • Possuir reconhecida idoneidade moral; • Possuir idade superior a 21 anos; • Residir no município onde pretende atuar. Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: I - reconhecida idoneidade moral; II - idade superior a vinte e um anos; III - residir no município. Além dos requisitos mencionados no artigo 133, o pretendente a uma vaga do Conselho Tutelar não pode incidir em nenhum dos impedimentos apontados no artigo 140 do Estatuto. Esses impedimentos são os seguintes: Não podem servir no mesmo Conselho: • marido e mulher; • ascendentes e descendentes; • sogro e genro ou nora; • irmãos; • cunhados, durante o cunhadio; • tio e sobrinho; • padrasto ou madrasta e enteado. Também não pode o integrante do Conselho Tutelar possuir os tipos de parentesco citados, ou relação conjugal, com: • o Juiz que atua na Vara da Infância e Juventude; • o Promotor de Justiça que atua na Vara da Infância e Juventude. 9 Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital. 1.2.1 Processo de escolha – artigo 139 O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar: • É estabelecido em lei municipal; • É realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, sendo fiscalizado pelo Ministério Público; • Esse processo de escolha ocorre a cada 4 anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial1 ; • O dia em que se desencadeia esse processo de escolha é nacionalmente unificado. No processo de escolha, o pretendente a uma vaga no Conselho Tutelar não pode doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. Os conselheiros tomam posse no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao do processo de escolha. 1.3 Atribuições As principais atribuições do Conselho Tutelar estão descritas no artigo 136 do ECA. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III - promover a execução de suas decisões, podendo, para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. 1 Como as eleições para Presidente da República ocorrem a cada quatro anos, temos que elas se darão em 2014, 2018, 2022 e assim por diante. Dessa forma, o processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá no primeiro domingo de outubro dos anos subsequentes a esses, ou seja, em 2015, 2019, 2023 e assim por diante. 10 Unidade: Conselho Tutelar IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa oupenal contra os direitos da criança ou adolescente; V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; VII - expedir notificações; VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário; IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família. Aquele que demonstrar legítimo interesse poderá solicitar ao Juiz da Infância e da Juventude que revise qualquer decisão do Conselho Tutelar. Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse. 2 Acesso à Justiça Dentro do seu foco de proteger as crianças e adolescentes de práticas que possam afetar o exercício de seus direitos, estabelece o Estatuto a garantia de pleno acesso desses destinatários aos seguintes órgãos: • Defensoria Pública; • Ministério Público; • Poder Judiciário. 11 Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. [...] Além desses órgãos públicos, o acesso à Justiça é garantido pela participação dos advogados. Outra forma encontrada pela Estatuto para facilitar esse acesso à Justiça foi a de isentar de custas e emolumentos as ações judiciais de competência da Justiça da Infância e da Juventude, exceto quando ficar caracterizada a chamada litigância de má-fé2 . Art. 141 [...] § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé. O grau de desenvolvimento da criança e do adolescente faz com que seja necessária a participação de outras pessoas (determinados adultos) para que esse acesso à Justiça seja realizado. Para tanto, o Estatuto estabeleceu que: • Menores de 16 anos devem ser representados por seus pais, tutores ou curadores; • Maiores de 16 anos e menores de 18 anos devem ser assistidos por essas mesmas pessoas. A diferença básica é que na representação o menor de 16 anos não participa do ato, assim, por exemplo, na constituição de um advogado, somente os pais é que, em nome do filho, irão assinar a procuração. Já na assistência esse mesmo ato somente é válido se houver a participação do adolescente, ou seja, no mesmo exemplo, a procuração deve ser assinada por ele e pelos pais. 2.1 Curador especial Pode o Juiz da Infância e da Juventude nomear um curador especial para a criança ou adolescente sempre que: • Seus interesses colidirem com os de seus pais ou responsáveis; • Ele necessitar de representação ou assistência, ainda que de forma eventual. Art. 142 [...] Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de representação ou assistência legal ainda que eventual. 2 As situações em que está caracterizada a litigância de má-fé estão descritas no artigo 17 do Código de Processo Civil. São diversas hipóteses que buscam identificar situações em que as partes utilizam o processo para tentar alcançar objetivos ilícitos ou buscam indevidamente turbar o exercício de um direito por meio do processo, particularmente o postergando sem qualquer fundamento. 12 Unidade: Conselho Tutelar 2.2 Vedação de divulgação Uma medida que com frequência observamos em nosso dia a dia, particularmente ao assistirmos o noticiário, se refere à total impossibilidade de se divulgar a autoria de atos infracionais praticados por crianças ou adolescentes. É possível divulgar o ocorrido, contudo, não pode a criança ou adolescente envolvido ser identificado, sendo que, para tanto: • Não pode ser exibida a sua fotografia; • Não pode ser divulgado seu nome, apelido, filiação, parentesco e residência; • Não podem ser divulgados as iniciais de seu nome e sobrenome. Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência ao nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. Como parte dessa vedação de divulgação encontramos a prescrição do artigo 144 do Estatuto sobre as certidões ou cópia de documentos que registram a prática de atos infracionais. Nesse caso, essa expedição somente poderá ocorrer por decisão judicial, desde que demonstrado o interesse e justificada a finalidade. Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a finalidade. 2.3 Justiça da Infância e Juventude Com a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente foi necessária a criação de órgãos judiciais na chamada Justiça Comum, no âmbito estadual e distrital. Art. 145. Os Estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões. As principais competências da Justiça da Infância e Juventude estão dispostas no artigo 148 do Estatuto, sendo que, dentre elas, podemos destacar as seguintes: 13 • Conhecer de causas em que está sendo discutida alguma questão que diretamente esteja afetando os direitos de certa criança ou adolescente, tal como ocorre na colocação em família substituta; • Conhecer de causas em que estejam sendo discutidas questões que afetem todas as crianças ou adolescentes ou um grupo específico delas - são as chamadas ações civis públicas fundadas em interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos; • Conhecer de causas relacionadas à prática de atos infracionais praticados por adolescentes; • Disciplinar, por meio de portaria, a entrada ou participação de crianças e adolescentes em certos eventos – artigo 149 do Estatuto; • Apurar irregularidades em entidades de atendimento; • Apreciar os casos encaminhados pelos Conselhos Tutelares; • Aplicar sanções administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente. Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para: I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis; II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo; III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o dispostono art. 209; V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou guarda; c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao exercício do poder familiar; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais; f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente; g) conhecer de ações de alimentos; h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e óbito. 14 Unidade: Conselho Tutelar Uma diferenciada competência do Juiz da Infância e Juventude é descrita no artigo 149 do Estatuto. Segundo esse dispositivo, o juiz deve disciplinar e autorizar: • A entrada e permanência de crianças e adolescentes desacompanhadas de seus pais e responsáveis em diversos locais, tais como estádios, ginásios, campos desportivos, bailes, boates, etc. • A participação de crianças e adolescentes em espetáculos públicos e seus ensaios, bem como em concursos de beleza. Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em: a) estádio, ginásio e campo desportivo; b) bailes ou promoções dançantes; c) boate ou congêneres; d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. II - a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; b) certames de beleza. § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores: a) os princípios desta Lei; b) as peculiaridades locais; c) a existência de instalações adequadas d) o tipo de frequência habitual ao local; e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes; f) a natureza do espetáculo. § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral. 2.3.1 Juiz Na estrutura das Varas da Infância e Juventude o juiz é uma das mais destacadas figuras. Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de organização judiciária local. 15 Na Justiça Estadual a atuação territorial dos Juízes é circunscrita a uma determinada área territorial, em geral denominada comarca. Em cada comarca há, ao menos, um juiz competente para decidir as questões afetas aos direitos de crianças e adolescentes, exercendo as competências fixadas, em especial, nos artigos 148 e 149 do Estatuto. A comarca onde deve ser proposto o processo obedece a critérios estipulados no artigo 147 do Estatuto, assim: • o processo deve ser proposto na comarca de domicílio dos pais ou responsáveis; • se não se souber o local onde estão os pais ou responsáveis, o processo deve ser proposto na comarca onde se encontra a criança ou o adolescente; • contudo, no caso da prática de atos infracionais3 o processo deve ser proposto onde ocorreu a conduta a ser apurada. Há também na legislação uma regra específica para casos em que uma infração à legislação protetiva tenha sido praticada através de transmissão simultânea de rádio ou televisão que tenha atingido mais de uma comarca. Nesse caso, o processo deve ser proposto na sede estadual da emissora ou rede, sendo que a decisão tem eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras situadas no Estado onde o processo tramitou - §3º do art. 147 do Estatuto. 2.3.2 Serviços auxiliares O trato das questões jurídicas afeta às crianças e aos adolescentes, na maioria dos casos, necessita de um importante apoio de profissionais de outras áreas, pois eles podem contribuir de maneira substancial para que haja uma melhor decisão do juiz. Com esse foco, prevê o Estatuto nos seus artigos 150 e 151 a necessidade de que sejam criadas equipes Interprofissional para assessorar a Justiça da Infância e da Juventude. Essas equipes são compostas, em geral, por psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e outros profissionais que irão, por meio de laudos e pareceres, apresentar elementos nesses processos. 2.4 Ministério Público O Estatuto da Criança e do Adolescente reservou ao Ministério Público (representado pelos Promotores de Justiça em primeira instância) importantes atribuições, sendo que as principais estão descritas em seu artigo 201. Dentre elas devem ser destacadas as seguintes: • Tem o Ministério Público legitimidade para propor uma série de ações que busquem garantir direitos de criança ou adolescente individualmente considerados; • Pode acompanhar ações que digam respeito a direitos de todas as crianças e adolescentes ou um grupo específico delas; 3 Atos infracionais são condutas, praticadas por adolescentes, previstas na legislação penal como crimes ou contravenções penais. É o caso de um adolescente que pratica, mediante violência ou grave ameaça, a subtração de coisa alheia móvel (por exemplo, um relógio) - essa conduta é descrita no Código Penal (art. 157) como sendo o crime de roubo. Como foi praticada por um adolescente, será a questão tratada no Estatuto da Criança e do Adolescente como sendo um ato infracional. Iremos estudar esse assunto nas próximas unidades. 16 Unidade: Conselho Tutelar • Propõe ações para apurar atos infracionais praticados por adolescentes, sendo que nesses casos pode o Ministério Público conceder remissão para a exclusão do processo; • Promover inquérito civil e ações civis públicas para a defesa de interesses difusos, coletivos e individuais de crianças e adolescentes; • Instaurar e presidir procedimentos administrativos para apurar condutas que possam causar, de alguma forma, prejuízo para o pleno respeito dos direitos de crianças e adolescentes. O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre criança ou adolescente - §3º do artigo 201. A falta de participação do Ministério Público nos processos em que deva atuar acarreta a nulidade do feito onde essa omissão se deu. Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. 2.5 Advocacia e Defensoria Pública Estabelece o Estatuto que a criança, adolescente, seus pais ou responsáveis, bem como qualquer pessoa que tenha legítimo interesse, poderão intervir nos processos disciplinados por essa lei, contudo, isso sempre deverá ocorrer por intermédio de um advogado – artigo 206. Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça. Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integrale gratuita àqueles que dela necessitarem. Para aqueles que necessitarem (criança, o adolescente ou suas famílias) deverá o Estado propiciar assistência jurídica gratuita, conforme determina o inciso LXXIV do artigo 5º da Constituição Federal, cuja redação é a seguinte: Constituição Federal Artigo 5º [...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; 17 Essa assistência é realizada por meio de defensores públicos ou advogados nomeados pelo juiz (os chamados advogados dativos) que, em razão do desempenho dessas funções serão remunerados pelo Estado. Assistência do advogado (ou defensor público) é particularmente importante nos casos em que o adolescente é acusado da prática de atos infracionais, razão pela qual o Estatuto estabelece, especificamente, a impossibilidade de que esse tipo de processo ocorra sem que haja essa representação, mesmo que o adolescente esteja foragido. Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado sem defensor. § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência. [...] 18 Unidade: Conselho Tutelar Material Complementar Atuação dos Conselhos Tutelares Observe as duas matérias jornalísticas abaixo que tratam de casos em que o Conselho Tutelar foi acionado para verificar se os direitos de crianças e adolescentes estavam sendo respeitados. Essas situações são extremamente corriqueiras, contudo, grande parte de nossa sociedade desconhece esse trabalho. Conselho Tutelar já recebeu mais de 500 pedidos para vagas em escolas Solicitações são para todas as etapas de ensino, diz conselho em RO. Semed e Seduc afirmam que fazem o possível para atender aos pedidos. 12/02/2014 13h33 - Atualizado em 12/02/2014 13h33 “Eu preciso trabalhar, mas se não conseguir vaga, não tem como. No entanto, eu preciso sustentá-las”, declara a dona de casa, Danubia Lemos, de 24 anos, que assim como outros pais, aguardavam atendimento no Conselho Tutelar (CT) de Ariquemes (RO) para solicitar vaga para a filha. De acordo com o órgão, mais de 500 solicitações de vagas já foram realizadas nas últimas semanas. A Secretaria Municipal de Educação (Semed), bem como a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) afirmam que estão fazendo o possível para atender aos pedidos do conselho. Danubia conta que dormiu na fila por quatro dias, mas, no entanto, só conseguiu matricular a menina de três anos, a outra de dois anos continua sem vaga. A dona de casa Karina de Brito explica que procurou o conselho para conseguir vagas para os dois filhos; um de três e outro de cinco anos. “Já consegui a vaga para o de cinco anos, mas ainda estou tentando para o de três”, ressalta. A dona de casa Marlene da Silva tenta conseguir vagas para os filhos de 10 e 14 anos. A doméstica Maria de Lourdes Delfino pede uma vaga para o período vespertino, pois a filha de 12 anos está matriculada na Guarda Mirim de manhã. A vendedora Sirlene Coelho, pleiteia vaga para a filha de sete anos. “Está difícil conseguir vagas, e quando consegue é longe de casa, e não temos como levar e buscar a criança”, destaca Sirlene. A conselheira Izabel Felizardo expõe que as solicitações são para todas as etapas de ensino, porém, a mais difícil para angariar vagas é do ensino infantil. Izabel explica que ao procurar o conselho, um ofício é enviado para a secretaria responsável, requerendo a vaga. “Geralmente as secretarias já nos respondem com o local da vaga, visto que a lei determina que toda criança deve estudar”, ressalta. A administração municipal já admitiu que a educação infantil é um problema em Ariquemes, mas afirma que tenta minimizar os problemas. Segundo a secretária municipal de Educação, 19 Débora Raposo, além das novas creches que estão sendo construídas, há um processo em licitação para ampliar salas de aulas nas creches já existentes. “Estamos fazendo o possível para atender aos pedidos do conselho. Quando não tem vaga perto da casa, enviamos para a instituição mais próxima”, enfatiza. A Coordenadora Regional de Ensino da Secretária de Estado da Educação (Seduc) em Ariquemes (RO), Osmarina dos Reis, reitera que está atendendo todas as solicitações do conselho. “Estamos conseguindo encaixar todos os alunos em escolas. Ninguém vai ficar sem estudar”, conclui. Disponível em http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2014/02/conselho-tutelar-ja-recebeu-mais-de-500- pedidos-para-vagas-em-escolas.html. Acesso em 18. Fev. 2014. Conselho Tutelar é acionado para avaliar adolescentes acampados à espera de Bieber SEGUNDA, 23/09/2013, 20:48 Grupo se instalou em frente à Praça da Apoteose 50 dias antes da apresentação. Agentes da Secretaria de Desenvolvimento Social recomendaram que os responsáveis pelos jovens sejam notificados. Conselheiros tutelares vão se reunir nesta terça-feira com promotores da Vara da Infância e da Juventude para avaliar a situação dos adolescentes que estão acampados desde o último dia 16, na Avenida Salvador de Sá, para o show do cantor canadense Justin Bieber. Ele fará uma apresentação na Praça da Apoteose no próximo dia 3 de novembro. Já há 17 barracas montadas no local e cerca de 150 fãs participam do revezamento para guardar lugar na fila. Nesta segunda-feira, agentes da Secretaria municipal de Desenvolvimento Social estiveram no local monitorando a situação dos menores. Os profissionais constataram que crianças e adolescentes estavam passando a noite na região sem os responsáveis. Eles fizeram um relatório sobre as condições de higiene, segurança e infraestrutura do acampamento. Segundo a Secretaria, o texto foi enviado ao Conselho Tutelar, com a recomendação de que os pais sejam notificados, mas o Conselho afirmou que ainda não recebeu o documento. Disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/rio-de-janeiro/2013/09/23/CONSELHO-TUTELAR-E- ACIONADO-PARA-AVALIAR-ADOLESCENTES-ACAMPADOS-A-ESPERA-DE-BIEBER.htm#ixzz2tfcSQfnh. Acesso em 18.fev.2014. 20 Unidade: Conselho Tutelar Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014. TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 21 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
Compartilhar