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Apostila Penal Geral

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DIREITO PENAL I - PARTE GERAL 
I N T R O D U Ç Ã O
Conceito de Direito Penal
A reunião das normas jurídicas, pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de Direito Penal, que é ramo do Direito Público. 
As infrações penais dividem-se em crimes ou delitos e contravenções. Não há diferença no direito brasileiro entre crimes e delitos, que são sinônimos. As contravenções constituem um elenco de infrações penais de menor porte e encontram-se elencadas no Decreto-Lei n. 3.688/41 (Lei de Contravenções Penais). 
Denominação
Modernamente, pretendem alguns autores substituir a denominação dada ao Direito Penal, por outra que julgam mais ampla, e que é a de Direito Criminal.
Entendem que a expressão Direito Criminal é mais abrangente, uma vez que esta abriga, de modo mais racional, não somente a pena, como ainda o estudo de todas as conseqüências jurídicas do crime, notadamente as medidas de segurança. 
Salienta-se que, no Direito pátrio, Direito Penal é denominação acolhida na Lei Fundamental do país, pois que o art. 22,I, da Constituição Federal, faz menção expressa e nominal a esse ramo da ciência jurídica. 
Caracteres do Direito Penal 
O Direito Penal regula as relações do indivíduo com a sociedade. Por isso, não pertence ao Direito Privado, mas sim ao Público.
Quando o sujeito pratica um delito, estabelece-se uma relação jurídica entre ele e o Estado. Surge o jus puniendi, que é o direito que tem o Estado de atuar sobre os delinqüentes na defesa da sociedade contra o crime. 
Assim, os bens tutelados pelo Direito Penal não interessam exclusivamente ao indivíduo, mas toda a coletividade. A relação existente entre o autor de um crime e a vítima é de natureza secundária, já que ela não tem o direito de punir. Mesmo quando exerce a persecutio criminis, não goza daquele direito, pois o que se lhe transfere unicamente é o jus persequendi, cessando qualquer atividade sua com a sentença transitada em julgado. 
O delito é, pois, ofensa à sociedade, e a pena, conseqüentemente, atua em função dos interesses desta. Logo, é o Estado o titular do jus puniendi, que tem caráter público. 
Conteúdo do Direito Penal
O conteúdo do Direito Penal abarca o estudo do crime, da pena e do delinqüente, que são os seus elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva. 
Na parte introdutória são estudadas a propedêutica jurídico-penal e a norma penal. Esta é cuidada quanto à sua aplicação no tempo e no espaço, como também à sua exegese. 
Acrescentam-se partes referentes à ação penal, punibilidade e medidas de segurança. 
Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo
Denomina-se Direito Penal objetivo o conjunto de normas que regulam a ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas sanções. Somente o Estado, em sua função de promover o bem comum e combater a criminalidade, tem o direito de estabelecer e aplicar essas sanções. É, pois, o único e exclusivo titular do “direito de punir” (jus puniendi) que constitui o que se denomina Direito Pena subjetivo. O direito de punir, todavia, não é arbitrário, mas limitado pelo próprio Estado ao elaborar este as normas que constituem o Direito subjetivo de liberdade que é o de não ser punido senão de acordo com a lei ditada pelo Estado. Só a lei pode estabelecer o que é proibido penalmente e quais são as sanções aplicáveis aos autores dos fatos definidos na legislação como infrações penais. 
Caráter Dogmático do Direito Penal 
Como ciência jurídica, o Direito Penal tem caráter dogmático, já que se fundamenta no direito positivo, exigindo-se o cumprimento de todas as suas normas pela sua obrigatoriedade. Por essa razão, seu método de estudo não é experimental, como na Criminologia, por exemplo, mas técnico-jurídico. Desenvolve-se esse método na interpretação das normas, na definição de princípios, na construção de institutos próprios e na sistematização final de normas, princípios e institutos. Deve o estudioso de Direito Penal, contudo, evitar o excesso de dogmatismo, já que a lei e a sua aplicação, pelo íntimo contato com o indivíduo e a sociedade, exigem que se observe a realidade da vida, suas manifestações e exigências sociais e a evolução dos costumes. 
7. Direito Penal Comum e Direito Penal Especial 
Os autores diferenciam o Direito Penal comum do Direito Penal especial. O primeiro se aplica a todos os cidadãos, ao passo que o segundo tem o seu campo de incidência adstrito a uma classe de cidadãos, conforme sua particular qualidade.
Por isso, entende o Profº Damásio que no Brasil, apenas o Direito Penal militar pode ser indicado como Direito Penal especial, pois a sua aplicação se realiza por meio da justiça penal militar. Já com relação ao Direito Eleitoral, seguindo o critério apontado, não é de Direito Penal especial, uma vez que a quase totalidade da justiça eleitoral é constituída por juizes da justiça comum.
No entendimento do Profº Magalhães Noronha, o melhor critério que estrema o direito penal comum dos outros é o da consideração do órgão que os deve aplicar jurisdicionalmente. E, nesse sentido, ensina José Frederico Marques que se a norma penal objetiva somente se aplica através de órgão constitucionalmente previstos, tal norma tem caráter especial; se sua aplicação não demanda jurisdições próprias, mas se realiza através da justiça comum, sua qualificação será a de norma penal comum.
8. Direito Penal Material e Formal
Autores de renome consideram o Direito Penal sob duplo aspecto : Direito Penal substantivo ou material e Direito Penal adjetivo ou formal.
O primeiro é representado pela lei penal, que define as condutas típicas e estabelece sanções. O segundo é o Direito Processual Penal, que determina as regras de aplicação do Direito Penal substantivo.
Nesse sentido, podemos concluir que o Direito Penal é a substância e o Direito Processual Penal é o instrumento que coloca a substância a atuar.
9. Relações do Direito Penal
Como o sistema jurídico de um país é formado de elementos que se completam, sem contradições, o Direito Penal, como uma das partes desse todo, tem íntima correlação com os demais ramos das ciências jurídicas.
9.1. Relações com as ciências jurídicas fundamentais
 Filosofia do Direito – Na elaboração da lei penal são considerados os aspectos filosóficos. Assim, no direito penal, verifica-se fundamentos filosóficos nos conceitos de crime, pena, imputabilidade, dolo, culpa, erro, etc...
Do ponto de vista deontológico, a ela também se subordina, visto que é uma ciência que se refere a valores e elementos éticos definidos e estudados na filosofia jurídica em consonância com a filosofia moral.
Teoria Geral do Estado – Verifica-se clara relação do direito penal na elaboração de conceitos e institutos jurídicos, válidos para todos os ramos do direito.
Sociologia Jurídica - O Direito Penal é sempre dirigido a uma conduta humana ou fato social. Assim, observa-se a relação e colaboração da sociologia jurídica com o Direito Penal, porque aquela estuda o ordenamento jurídico nas causas e na função social. Tem por objeto o estudo do fenômeno jurídico como fato social e resultante de processos sociais, ocupando-se ainda dos efeitos das normas jurídicas na sociedade.
9.2. Relações com outros ramos de Ciências Jurídicas
Direito Constitucional – A constituição Federal é fonte do direito penal (CF, art.22), e este à ela se subordina, já que o Direito Penal não pode fugir à índole da Constituição. Se esta é liberal, liberal também será ele. A propósito, constatamos que o art.5º da nossa Constituição Federal elenca princípios e dispositivos intimamente relacionados com o Direito Penal, tais como :da anterioridade da lei penal......................................(inciso XXXXIX)
da irretroatividade, salvo para beneficiar o réu..........(inciso XL)
do crime de racismo...................................................(inciso XLII)
dos crimes de tortura, tráfico e terrorismo..................(inciso XLIII)
da personalidade da pena..........................................(inciso XLV)
da individualização da pena.......................................(inciso XLVI)
etc...
Direito Administrativo – A função de punir é eminentemente administrativa, já que a observância da lei penal compete a todos e é exigida pelo Estado. Além do mais, a lei penal é aplicada através dos agentes da administração pública como : Juiz, Promotor de Justiça, Delegado de Polícia, etc...)
Direito Processual Penal – Muito íntima é a relação com o processo penal. Enquanto no direito penal se consubstancia o jus puniendi, o processual o realiza com o se ocupar com a atividade necessária para apurar, nos casos concretos, a procedência da pretensão punitiva estatal.
Direito Processual Civil – Há também correlação do Direito Penal com o Direito Processual Civil, pois, não obstante a diferença de procedimento – penal e civil – ambos possuem normas comuns, como o ato processual e a sentença.
Direito Civil – Nas definições de crimes, muitas noções são fornecidas pelo Direito Civil, como as de casamento, erro, ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador etc... O Direito Penal, como direito eminentemente sancionador, a sua contribuição é decisiva para reforçar a tutela jurídica na esfera privada, já que um mesmo fato pode caracterizar um ilícito penal e obrigar a uma reparação civil. Como exemplo, podemos citar o atropelamento culposo, que constitui uma infração à lei civil quanto aos danos pessoais sofridos pela vítima, importando em indenização de caráter econômico, e ao mesmo tempo, é um ilícito penal que acarreta sanção mais grave, no caso de pena privativa de liberdade ou interdição de direito.
Tutela ainda o direito Penal o patrimônio, ao descrever os delitos como furto, roubo, estelionato, etc...; posse no esbulho possessório; família, na bigamia, abandono material, etc..
Direito Penal Internacional – Como ramo do Direito Internacional Público, contém regras jurídicas relativas às infrações internacionais, como no caso dos crimes de guerra, contra a paz, contra a humanidade, terrorismo, pirataria, discriminação racial etc. Com base nestes princípios, o Código Penal consagrou regras como as do art. 7º, incisos I e II e parágrafo 3º). 
Direito Comercial - A lei penal tutela institutos como o cheque, a duplicata, o conhecimento de depósito ou warrant etc. Determina ainda a incriminação de fraude no comércio e tipifica, em lei especial, os crimes falimentares. 
Direito Penitenciário - Embora alguns neguem a existência de um Direito Penitenciário, ganhou ele autonomia na matéria relativa à execução da pena com a Constituição Federal anterior, que desincorporou as normas de regime penitenciário do Direito Penal e do Direito Processual Penal, enquanto a atual Constituição inclui a competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal as leis de direito penitenciário (CF, art. 24, inciso I). Na verdade, enquanto as sanções de outros ramos do Direito são de fácil execução devido ao seu caráter meramente reparador, o cumprimento das penas, principalmente das privativas de liberdade, por suas finalidades diversas (retribuição, prevenção, recuperação), apresenta maior complexidade. A dificuldade da execução levou então a uma exigência de maior desenvolvimento das regras para sua regulamentação. No Brasil, elaborou-se pela primeira vez uma Lei de Execução Penal, dissociando-a do Direito Penal e do Direito Processual Penal. 
Com a criação no Código Penal das penas alternativas de restrição de direitos (prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana), pode-se avançar no sentido de que esse ramo jurídico deve transformar-se em verdadeiro Direito de Execução Penal. 
Direito do Trabalho - O Direito Penal relaciona-se ainda com o Direito do Trabalho, principalmente no que tange aos crimes contra a Organização do Trabalho (CP, Título IV, arts. 197 a 207), bem como nos efeitos trabalhistas a sentença penal. 
Direito Tributário - Finalmente, é inegável o relacionamento do Direito Penal com o Direito Tributário quando contém a repressão aos crimes de sonegação fiscal. 
9.3 - Relações com as Disciplinas Auxiliares 
Medicina Legal - Pode-se definí-la como a aplicação de noções médicas e biológicas às finalidades da justiça e à evolução do direito. Compreende concomitantemente o estudo das questões jurídicas, que podem ser resolvidas exclusivamente com os conhecimentos biológicos e principalmente médicos, e o estudo dos fenômenos biológicos e clínicos que servem à solução dos problemas judiciários.
Valioso é seu concurso no estudo dos crimes contra a vida (exames de lesões corporais, necroscópicos), nos sexuais (exame de conjunção carnal ou atos libidinosos), toxicologia (envenenamento, intoxicação alcoólica e por tóxicos) etc. De sua importância, entre nós, fala bem alto a existência da cadeira de Medicina Legal em nossas Faculdades de Direito. 
Psiquiatria Forense - Originariamente ramo da medicina, é considerada hoje ciência à parte. Seu objetivo é o estudo dos distúrbios mentais em face dos problemas judiciários, tais como os da imputabilidade, da necessidade de tratamento curativo nos autores de crimes chamados “semi-imputáveis” e da presunção de violência por alienação ou debilidade mental da vítima de crimes contra os costumes (art. 224, b, do CP). 
Assim, dupla é a tarefa do psiquiatra, ora colaborando com o legislador, na definição e solução de problemas do direito, ora com o magistrado, na aplicação da lei ao caso concreto. Ainda, deve limitar-se a, pelo estudo e observação do delinqüente psicopata, oferecer elementos seguros e necessários ao juiz, para decidir, e nunca opinar sobre a responsabilidade jurídica, tarefa do legislador. 
Com a adoção das medidas de segurança, mais se ampliou o campo da psiquiatria forense. 
Criminalística - Também chamada de Polícia Científica, é a técnica que resulta da aplicação de várias ciências à investigação criminal, colaborando na descoberta dos crimes e na identificação de seus autores. Seu objetivo é o estudo de provas periciais referentes a pegadas, manchas, impressões digitais, projéteis, locais de crime etc. 
10. Criminologia e Ciências Penais
	Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estuda os fenônemos e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente e a sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo. O crime é considerado como fato humano e social; o criminoso é tido como ser biológico e agente social, influenciados por fatores genéticos e constitucionais, bem como pelas injunções externas que conduzem à prática da infração penal. Em resumo, estuda-se na criminologia a causação do crime, as medidas recomendadas para tentar evitá-lo, a pessoa do delinqüente e os caminhos para sua recuperação. Pode-se dividir a criminologia em dois grandes ramos: o da Biologia Criminal e o da Sociologia Criminal. 
- Biologia Criminal: 
Estuda o crime como fenômeno individual, ocupando-se esta ciência das condições naturais do homem criminoso no seu aspecto físico, fisiológico e psicológico. Inclui-se a ela os estudos da Antropologia, Psicologia e Endrocrinologia criminais. 
Antropologia Criminal - Criada por César Lombroso, estuda o delinqüente no seu aspecto anatômico e físico, considerando os fatores endógenos (raça, genética, hereditariedade etc). Embora já superada a conceituação do criminoso nato de Lombroso, há investigações modernas a respeito dos cromossomos e até das impressões digitais como identificadores deseres humanos geneticamente inclinados à prática de atos anti-sociais. 
Psicologia Criminal - Resultante das idéias pioneiras de Feuerbach e Romagnosi, trata-se do diagnóstico e prognósticos criminais. Ocupa-se com o estudo das condições psicológicas do homem na formação do ato criminoso, do dolo e da culpa, da periculosidade e até do problema objetivo da aplicação da pena e da medida de segurança. 
- Sociologia Criminal
Capítulo importante da criminologia é a sociologia criminal, que tem por objeto o estudo do delito como fenômeno social. Deve-se o nome a Enrico Ferri, que sustentou ser ela a ciência enciclopédica do crime, concepção inaceitável mesmo por ardentes positivistas-naturalistas. 	 	
Enquanto a antropologia estuda o crime atribuído ao indivíduo ou como fato individual, a sociologia ocupa-se com a criminalidade global, atribuída à sociedade em que se verifica. Aquela é a ciência do delinqüente; a outra é a da sociedade.
11. Breve História do Direito Penal
- Tempos Primitivos
A história do direito penal é a história da humanidade. Ele surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou. 
Claro é que não nos referimos ao direito penal como sistema orgânico de princípios, o que é conquista da civilização e data de ontem. 
A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais que compreensível que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida devia ser fatal, não havendo preocupações com a proporção, nem mesmo com sua justiça. 
- Vingança Privada
Como se observa nas espécies inferiores, a reação à agressão devia ser a regra. A princípio, reação do indivíduo contra o indivíduo , depois, não só dele como de seu grupo, para, mais tarde, já o conglomerado social colocar-se ao lado destes. É quando então se pode falar propriamente em vingança privada, pois, até aí, a reação era puramente pessoal, sem intervenção ou auxílio dos estranhos. 
Entretanto, o revide não guardava proporção com a ofensa, sucedendo-se, por isso, lutas acirradas entre grupos e famílias, que, assim, se iam debilitando, enfraquecendo e extinguindo. Surge, então, como primeira conquista no terreno repressivo, o talião. Por ele, delimita-se o castigo; a vingança não será mais arbitrária e desproporcionada. 
Tal pena aparece nas leis mais antigas, como o Código de Hamurabi, lei da Babilônia, século XXIII ªC. Por ele, se alguém tira um olho a outrem, perderá também um olho; se um osso, se lhe quebrará igualmente um osso etc. A preocupação com justa retribuição era tal que, se um construtor construísse uma casa e ela desabasse sobre o proprietário, matando-o, aquele morreria, mas se ruísse sobre o filho do dono do prédio, o filho do construtor perderia a vida.
	Conquista igualmente importante foi a composição, preço em moeda, gado, vestes, armas etc., porque o ofensor comprava do ofendido ou de sua família o direito de represália, assegurando-se a impunidade.
Adotaram-na o Código de Hamurabi, o de Manu e outros, podendo dizer-se que permanece até hoje entre os povos, sob a forma de indenização, multa, dote etc. 
11.3 - Vingança Divina 
Já existe um poder social capaz de impor aos homens normas de conduta e castigo. O princípio que domina a repressão é a satisfação da divindade, ofendida pelo crime. Nesta fase pune-se com rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação com a grandeza do deus ofendido.
É o direito penal religioso, teocrático e sacerdotal. Um dos principais Códigos é o da Índia, de Manu. Tinha por escopo a purificação da alma do criminoso, através do castigo, para que pudesse alcançar a bem-aventurança. 
Revestido de caráter religioso era também o de Hamurabi. Aliás, podemos dizer que esse era o espírito dominante nas leis dos povos do Oriente antigo. Além da Babilônia, Índia e Israel, O Egito, a Pérsia, a China etc. 
Ao lado da severidade do castigo, já apontada, assinalava esse direito penal, dado seu caráter teocrático, o ser interpretado e aplicado pelos sacerdotes. 
11.4. Vingança Pública
Nesta fase, o objetivo é a segurança do príncipe ou soberano, através da pena, também severa e cruel, visando à intimidação.
Na Grécia, a princípio, o crime e a pena inspiravam-se ainda no sentimento religioso. O direito e o poder emanavam de Júpiter, o criador e protetor do universo. Dele provinha o poder dos reis e em seu nome se procedia ao julgamento do litígio e à imposição do castigo. 
Todavia seus filósofos e pensadores haveriam de influir na concepção do crime e da pena. A idéia de culpabilidade, através do livre arbítrio de Aristóteles, deveria apresentar-se no campo jurídico, após firmar-se no terreno filosófico e ético. Já em Platão, nas Leis, se antevê a pena como meio de defesa social, pela intimidação – com seu rigor – aos outros, advertindo-os de não delinqüirem. 
Dividiam os gregos o crime em público e privado, conforme a predominância do interesse do Estado ou do particular. 
Certo é que, ao lado da vingança pública, permaneciam as formas anteriores da vindita privada e da divina, não se podendo, como é óbvio, falar em direito penal. Entretanto, situam, em regra, os historiadores, na Grécia, suas origens remotas.
Roma não fugiu às imposições da vingança, através do talião e da composição, adotadas pelas Leis das XII Tábuas. Teve também caráter religioso seu direito penal, no início, no período da realeza. No entanto, mais tarde separaram direito e religião.
Apesar de não terem os romanos atingido no direito penal as alturas que se atingiram no civil, se avantajaram a outros povos, posto que distinguiram, no crime, o propósito, i ímpeto, o acaso, o erro, a culpa leve, o simples dolo e o dolus malus. Além de tudo, interpretaram a correção da pena sob o fim de emendar o homem. 
Conheceram os germânicos o talião e a composição, variando esta consoante a gravidade da ofensa. 
Pena de caráter severo era a da perda da paz, em que, proscrito o condenado, fora da tutela jurídica do clã ou grupo, podia ser morto não só pelo ofendido e seus familiares como por qualquer pessoa.
O uso da força para resolver questões criminais foi do agrado dos povos germânicos, estando presente até nos meios probatórios. Conseqüências, certamente, do caráter individual desse direito, em contraposição ao princípio social do direito romano. 
Característico ainda das leis bárbaras é o relevo do elemento objetivo do crime. Não há grande preocupação com a culpa, ou com o elemento subjetivo do delinqüente; decide o dano material causado.
Caminho diversos trilharia o direito canônico, quer se opondo à influência da força como prova judiciária, quer salientando o elemento subjetivo do crime.
Contra a vingança privada, criou o direito de asilo e as tréguas de Deus. Combatendo aquela, sem dúvida, fortalecia o poder público. 
Justo é também apontar-se, além do elemento voluntarístico do crime, já mencionado, a finalidade que empresta à pena, objetivando a regeneração ou emenda do criminoso, pelo arrependimento ou purgação da culpa. Punições rudes ou severas tolerou, mas com o fim superior da salvação da alma do condenado. 
Não obstante, ainda não se saíra da fase da vingança pública. A preocupação era a ofensa do soberano e dos favorecidos. Predominavam o arbítrio judicial, a desigualdade de classes perante a punição, a desumanidade das penas, o sigilo do processo, os meios inquisitoriais, tudo isso aliado a leis imprecisas, lacunosas e imperfeitas, favorecendo o absolutismo monárquico e postergando os direitos da criatura humana. 
11.5. Período Humanitário
O período humanitário iniciou-se no fim do século XVIII, no decorrer do iluminismo (movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça penal). 
Em 1764, Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria, fez publicar em Milão,a obra Dei delliti e delle pene (Dos delitos e das penas), um pequeno livro que se tornou o símbolo da reação liberal ao desumano panorama penal então vigente. 
Beccaria, inspirado na concepção do Contrato Social de Rousseau, propõe novo fundamento à justiça penal, um fim utilitário e político que deve, porém, ser sempre limitado pela lei moral. 
11.6. Escola Clássica
As idéias fundamentais do iluminismo, expostas magistralmente por Beccaria, estão nas obras de vários autores que escreveram na primeira metade do século XIX e que são reunidos sob a denominação de Escola Clássica, nome que foi criado pelos positivistas com sentido pejorativo, mas que hoje serve para reunir os doutrinadores dessa época. 
Seu maior expoente foi Francesco Carrara, autor do monumental Programa del corso di diritto criminale (1859). Para ele, o delito é um “ente jurídico” impelido por duas forças: a física, que é o movimento corpóreo e o dano do crime, e a moral, constituída da vontade livre e consciente do criminoso. O livre arbítrio como pressuposto da afirmação da responsabilidade e da aplicação da pena é o eixo do sistema carrariano. 
Para o grande mestre, é o delito “resultante de um ato do homem” porque somente o homem pode delinqüir, e “terno”, por não ser punível a mera intenção ou cogitação criminosa. Ensina que o ato pode ser “positivo” quando se refere a ação (fazer) ou “negativo” quando se relaciona com a omissão (não fazer o devido). 
Para a Escola Clássica, o método que deve ser utilizado no Direito Penal é o dedutivo e não experimental, próprio das ciências naturais. Quanto à pena, é tida como tutela jurídica, ou seja, como proteção aos bens jurídicos tutelados penalmente. A sanção não pode ser arbitrária, regula-se pelo dano sofrido, inclusive, e, embora retributiva, tem também finalidade de defesa social. 
- Período Criminológico e Escola Positivista
O movimento criminológico do Direito Penal desenvolveu-se em três fases distintas, lideradas por Lombroso, Ferri e Garófalo.
Primeira Fase da Escola Positiva - O movimento criminológico do Direito Penal iniciou-se com os estudos do médico italiano e professor em Turim César Lombroso, que publicou em 1876 o famoso livro L’uomo delinquente studiato in papporto, all’antropologia, alla medicina legale e alle discipline carcerarie, expondo suas teorias e abrindo nova etapa na evolução das idéias penais. Considerando o crime como manifestação da personalidade humana e produto de várias causas, Lombroso estuda o delinqüente do ponto de vista biológico. Criou com seus estudos a Antropologia Criminal e, nela, a figura do criminoso nato. 
Dentre as idéias do Lombroso destaca-se a de que o criminoso nato apresenta características físicas e morfológicas específicas, como assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, orelhas em abano, face ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa etc. 
Segundo Lombroso, a causa da criminalidade situar-se-ia na eplepsia, que ataca os centros nervosos, deturpa o desenvolvimento do organismo e produz regressões a caracteres de ascendentes remotos. 
Embora Lombroso tenha sido o pioneiro do estudo da pessoa do delinqüente e, exagerando na classificação do mesmo, sua teoria não resistiu por muito tempo à análise dos doutos. 
Segunda Fase da Escola Positiva - Foi Enrico Ferri, criador da sociologia criminal, que ressaltou a importância de um trinômio causal do delito: os fatores antropológicos, sociais e físicos, pregando a responsabilidade social em substituição à moral. 
Segundo Ferri, o homem só é responsável porque vive em sociedade. Isolado em uma ilha, tal qual um Robinson Crusoé, não tem qualquer responsabilidade. Classificou o criminoso em cinco categorias: nato, louco, habitual, ocasional e passional. 
Terceira Fase da Escola Positiva - É a chamada fase jurídica do positivismo italiano. Seu grande expoente é Rafael Garófalo, em cuja obra denominada Criminologia sistematizou as duas fases anteriores à luz do Direito Penal. O livro examina, de maneira distinta, o delito, o delinqüente e, finalmente, a pena, onde, exatamente, nota-se grande labor jurídico. 
Princípios básicos da escola positiva:
o crime é fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e de múltiplos fatores, exigindo o estudo pelo método experimental. 
a responsabilidade penal é responsabilidade social, por viver o criminoso em sociedade, e tem por base a sua periculosidade. 
a pena é medida de defesa social, visando a recuperação do criminoso ou à sua neutralização. 
o criminoso é sempre, psicologicamente, um anormal, de forma temporária ou permanente. 
- Direito Penal no Brasil 
Direito Penal Indígena - Na época que antecedeu à chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, os silvícolas, que aqui viviam em diferentes graus de cultura pré-histórica, solucionavam problemas penais através das regras naturais do Direito Costumeiro. Predominavam, então, o talião, a vingança privada e a coletiva. Dado o seu primarismo, as práticas punitivas das tribos selvagens que habitavam o nosso país em nenhum momento influíram na nossa legislação. 
Ordenações do Reino - Durante o período do Brasil-Colônia vigoraram no país as ordenações do reino. As Afonsinas, até 1512. As Manuelinas, até 1569, que foi substituída pelo Código Sebastiânico até 1603. 
Foram, porém, as Ordenações Filipinas nosso primeiro estatuto, já que os anteriores pouca aplicação aqui poderiam Ter. Dessa forma, as Ordenações Filipinas refletiram o direito penal dos tempos medievais. O crime era confundido com o pecado e com a ofensa moral. As penas eram severas e cruéis (açoites, mutilação, queimaduras etc.), visavam infundir o temor pelo castigo. Era também largamente cominada a pena de morte, executada pela forca, pela tortura, pelo fogo etc. Tiradentes é exemplo típico de acusado em crime de lesa-majestade. 
Código Criminal do Império de 1830 - Com o advento da Independência em 1822, elaborou-se, por força de dispositivo constitucional, o Código Criminal do Império, sancionado em 16 de setembro de 1830 ( o único diploma penal básico que vigorou no Brasil por iniciativa do poder Legislativo e elaborado pelo Parlamento)Individualizou a pena, previu atenuantes e agravantes e deu ênfase à pena de morte como forma de diminuição da criminalidade dos escravos. 
Código Penal Republicano de 1890 - Com a proclamação da República, foi editado à pressas, em 11 de outubro de 1890, o novo estatuto básico, agora com a denominação de Código Penal, contendo falhas gritantes. 
Aboliu-se a pena de morte e instalou-se o regime penitenciário de caráter correcional, o que constituía um avanço na legislação penal. 
Consolidação das Leis Penais de 1932 - A precária sistematização do Código Penal de 1890, e a confusão causada por inúmeros leis penais especiais posteriores, levaram o desembargador Vicente Piragibe, devidamente autorizado pelo chefe do Poder Executivo, a reuní-las na Consolidação das Leis Penais, decretada em 14 de dezembro de 1932, em plena época Vargas. 
Código Penal de 1940 - O atual Código Penal (Decreto-lei n. 2.848, de 07.12.1940), entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1942, após vocatio legis de mais de um ano, a fim de que todos pudussem melhor conhecer seus avanços. 
Originou-se de projeto de autoria do jurista Alcântara Machado, submetido, logo a seguir, ao exame de Comissão Revisora composta por Nelson Hungria, Vieira Braga, Narcélio de Queiroz e Roberto Lyra. 
É uma legislação eclética, adotou inúmeros postulados das escolas Clássica e Positiva, incorporando ao seu texto novidades e avanços dos códigos penais italiano e suíço, promulgados quase è mesma época. 
Em 1969 elaborou-se novo Código Penal que, todavia, não chegou a entrar em vigor, já que após sucessivos adiamentos, foi ao final revogado quase dez anos depois, no ano de 1978. 
11.9. A Reforma do SistemaPenal – (Lei n. 7.209/84) 
Em 1980, O Presidente da República instituiu uma comissão para elaboração de um anteprojeto de lei de reforma da Parte Geral do Código Penal de 1940.
 
Fontes do Direito Penal 
12.1. Conceito de Fonte
Fonte significa origem, princípio, causa. Fonte do direito Penal é de onde provém ou se origina a lei penal. 
As fontes podem ser: materiais (ou de produção), referem-se a quem produziu o direito penal; formais referem-se ao modo pelo qual se exterioriza o direito, pelo qual se dá ele a conhecer.
12.2. Fontes Materiais
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a Constituição Federal que compete privativamente à União legislar sobre direito penal – (CF, art. 22, inciso I). 
A atual Constituição trouxe uma inovação ao prever a possibilidade de lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas no artigo 22 (CF, art. 22, parágrafo único). 
Para que o direito penal não se torne obsoleto, o Estado deve estar sempre atualizando o ordenamento jurídico, tornando-o compatível com a evolução técnica, moral e científica do momento. 
São problemas relativamente atuais, em decorrência da evolução: o transplante de órgãos, a inseminação artificial, o nascimento de bebês de proveta, a cirurgia em transexuais, o devassamento da vida íntima das pessoas por aparelhos sofisticados de gravação, fotografia e escuta telefônica, a poluição nas grandes cidades, nos mares, nos rios e na própria atmosfera. 
- Fontes Formais
As fontes formais que dão “forma” e que exteriorizam o direito, dividem-se em fontes diretas (ou imediatas) e indiretas (ou mediatas ou subsidiárias). 
Fontes diretas - A única fonte direta do Direito Penal, diante do princípio da reserva legal, é a lei. 
Fontes indiretas - Como fontes indiretas ou subsidiárias do Direito Penal temos os costumes e os princípios gerais do direito, referidos na Lei de Introdução do Código Civil – (LICC, art. 4º).
Costumes - o costume é uma regra de conduta praticada de modo geral, que tem sua significante influência na interpretação e na elaboração da lei penal. Somente através do costume se poderá aquilatar o exato significado dos termos: honra, dignidade, decoro (art. 140), mulher honesta (arts. 215 e 219), ato obsceno (art. 233). 
A evolução dos costumes, por sua vez, tem levado ao reclamo da extinção ou modificação de tipos penais como o adultério (art. 240), a sedução (art. 217), o aborto (arts. 124 a 126). 
Princípios gerais do direito - são premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico, que podem suprir lacunas e omissões da lei penal. Como exemplo de aplicação dessa fonte indireta é a não-punição da mãe que fura as orelhas da filha, que praticaria assim um crime de lesões corporais, quando o faz para colocar-lhe brincos. 
Obs.: A eqüidade (correspondência jurídica na norma às circunstâncias do caso concreto), bem como a doutrina e jurisprudência, não são fontes de Direito Penal, mas forma de interpretação da norma. Também não são os tratados e convenções internacionais, que só passam a viger no país após o referendum do Congresso, tornando-se, assim, lei e fonte direta do Direito Penal. 
- Analogia 
A analogia é uma forma de auto-integração da lei. Na lacuna desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica, um dispositivo que disciplina hipótese semelhante – (LICC, art. 4º).
Diante do princípio da legalidade do crime e da pena, pelo qual não se pode impor sanção penal a fato não previsto em lei, é inadmissível o emprego da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. 
É possível, entretanto, aplicação da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação do réu. 
São exemplos de aplicação da analogia: 
A exclusão da pena nos casos de aborto que se pratica em mulher vítima de atentado violento ao pudor, que engravidou pela prática de ato delituoso, diante do que dispõe o artigo 128, inciso II, do CP, que se refere apenas ao crime de estupro.
A não punibilidade do dano de coisa comum fungível cujo valor não exceda a quota a que tem direito o agente, diante do disposto no artigo 156, parágrafo 2º, do CP, referente ao crime de furto. 
13. Lei Penal
13.1. Caracteres
A lei é a única fonte formal direta do Direito Penal e, devido ao valor dos bens que tutela, e ainda pela severidade das sanções que impõe, deve ser precisa e clara. Compõe-se de duas partes:
O comando principal (ou preceito primário); 
A sanção (ou preceito secundário).
Tomando-se o artigo 121, caput, por exemplo, temos: 
“Matar alguém”: (preceito primário) 
“Pena – reclusão, de seis a vinte anos”: (preceito secundário). 
Da conjugação dessas duas partes surge a proibição (norma): “é proibido matar”. 
Características - A lei penal apresenta as seguintes características: é imperativa, geral, impessoal e exclusiva, regulando apenas fatos futuros. 
é imperativa – porque a violação do preceito primário acarreta a pena. 
é geral – por estar destinada a todos, mesmo aos inimputáveis, sujeitos à medida de segurança. 
é impessoal – por não se referir a pessoas determinadas. 
é exclusiva – porque somente ela pode definir crimes e cominar sanções.
aplica-se apenas a fatos futuros, não alcançando os pretéritos, a não ser quando aplicada em benefício do agente criminoso. 
 
13.2. Classificação da Lei Penal
São várias as classificações da lei penal, porém, a mais importante é a que distingue as leis penais incriminadoras (lei penal em sentido estrito) das não incriminadoras (lei penal em sentido amplo)
Leis penais incriminadoras - são aquelas que definem os tipos penais e cominam as respectivas sanções. No Código Penal vigente, figuram a partir do artigo 121.
Leis penais não incriminadoras - podem ser subdivididas em explicativas (ou complementares) e permissivas.
Explicativas - são normas que esclarecem o conteúdo de outras ou fornecem princípios gerais para aplicação das penas. Exemplos: os conceitos de “reincidência” (art. 63), de “casa” (art. 150, parágrafo 4º), de “funcionário público” para os efeitos penais (art. 327), bem como as regras para aplicação da lei penal (art. 1º e seguintes), as referentes à aplicação da pena (arts. 59 e 60) etc. 
Permissivas - são normas que não consideram como ilícitos ou isentam de pena o autor de fatos que, em tese, são típicos. Exemplos: os casos dos artigos 23, 24 e 25 (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito); do artigo 142 (imunidades nos crimes contra a honra); do artigo 348, parágrafo 2º (imunidades no crime de favorecimento pessoal); dos artigos 20 e 21 (erro sobre o elemento do tipo e sobre a ilicitude do fato); do artigo 26 (inimputabilidade) etc. 
13.3. Norma Penal em Branco 
Norma penal em branco é aquela que tem conteúdo incompleto, vago, exigindo uma complementação, a ser dada por outras normas, de nível igual ou diverso.
Norma penal em branco em sentido estrito - quando a norma é complementada por outra de nível diverso, como na transgressão de tabela oficial de preços, em que a lei penal é suprida por uma portaria ou regulamento de preços
Norma penal em branco em sentido amplo - quando a norma é complementada por outra norma de nível idêntico, como na violação de direitos autorais, em que a lei penal é suprida pela lei civil de direito autoral (Lei n. 5.988/73). 
13.4. Interpretação da Lei Penal 
	Interpretação é o processo lógico que procura estabelecer a vontade contida na norma jurídica, cuja ciência ou método é denominado de hermenêutica. São as seguintes as espécies de interpretação: 
	Quanto ao sujeito (ou quanto à origem) – Ainterpretação pode ser autêntica, doutrinária e jurisprudencial:
Interpretação autêntica: É a dada pela própria lei, a qual no seu texto, num dos seus dispositivos, é explicado como deve ser entendido determinado assunto. Exemplos típicos são os artigos 150, parágrafo 4º e 327, do Código Penal, que definem casa e funcionário público. A interpretação autêntica é obrigatória, uma vez que ditada pela própria lei.
 
Interpretação doutrinária: É aquela fornecida pelos estudiosos, professores e profissionais do direito, por meio da publicação de artigos, conferências, teses e livros. 
Interpretação jurisprudencial: É aquela dada pelos tribunais, por meio de entendimentos reiterados de seus julgamentos, que consolidam a jurisprudência. 
Quanto ao meio empregado - A interpretação pode ser, entre outras, gramatical, lógica e teológica:
Interpretação gramatical (ou literal): Examina-se a função gramatical, quanto ao seu significado no vernáculo. 
Interpretação lógica: É feita através de um confronto lógico entre os seus dispositivos, visando reconstruir o pensamento do legislador. 
Interpretação teleológica: É feita objetivando descobrir a finalidade com que a lei foi editada. 
Quanto aos resultados - A interpretação pode ser declarativa, restritiva e extensiva: 
Interpretação declarativa: Ocorre quando o texto examinado não é ampliado nem restringido. Exemplo: o termo “várias pessoas” - (CP, art. 141, inciso III), significa mais de duas, porque quando a lei se contenta com duas ela é expressa.
Interpretação restritiva - Ocorre quando se conclui que a lei diz mais do que pretendia o legislador, buscando conter ou reduzir o seu alcance. Exemplo: No termo “emoção, paixão e embriaguez” – (art. 28, do CP), verifica-se tratar de embriaguez (não patológica), limitando-se o alcance daquele dispositivo para não haver contradição com o dispositivo no artigo 26 e seu parágrafo único. 
Interpretação extensiva - Ocorre quando é necessário ampliar o sentido ou alcance da lei. Exemplo: No termo “serviço de estrada de ferro” (CP, art. 260), deve ser entendido também como serviço de metrô, que nada mais é do que um trem que corre sobre trilhos em zona urbana.
PARTE GERAL
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
1. Princípio da Legalidade
O artigo 1º do CP dispõe: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
O artigo 5º, inciso XXXIX, da CF, dispõe: não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 
O artigo 5º, inciso XL, da CF, dispõe: a lei não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. 
São os princípios da legalidade (ou reserva legal) e da anterioridade. A palavra crime compreende também as contravenções. E a pena, a medida de segurança. 
O princípio da reserva legal, elaborado no início do século XIX, na Alemanha, por Anselmo Feuerbach, foi consagrado através da fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine praevia lege. 
Considerando que toda conduta proibida deve estar perfeitamente definida na lei penal, isso significa que o legislador, por ocasião do processo legislativo, deve estabelecer taxativamente, no tipo tudo aquilo que for típico ou atípico. 
Desta forma, o princípio da reserva legal gera duas conseqüências: 1) proibição da retroatividade da lei penal incriminadora, através do princípio da irretroatividade; 2) probição da analogia para a criação de novos tipos, através do princípio da taxatividade. 
Conseqüentemente, proíbe-se o uso da analogia maléfica, ou in malam partem, para imposição de penas. Admite-se, porém, a analogia benéfica, ou in bonam partem, para beneficiar o réu, e a interpretação analógica intra legem, quando o próprio texto legal manda aplicar a analogia em relação a alguma circunstância, como por exemplo no artigo 171, do CP, que se refere a artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. 
Logo, de acordo com o princípio da reserva legal, toda conduta que não esteja definida na lei penal incriminadora é lícita. O princípio, todavia, não se aplica em relação às normas penais não incriminadoras da Parte Geral do Código Penal, que, neste caso, pode o intérprete valer-se do auxílio da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito. 
2. A Lei Penal no Tempo
2.2. Fundamento legal e introdução
O artigo 2º, do CP, dispõe: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença declaratória. 
E complementa o parágrafo único: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
Ocorre que, na aplicação da lei penal no tempo, normalmente, surgem conflitos, porque na prática de um delito, por exemplo, a ação pode ter ocorrido durante a vigência de uma lei e a consumação sob a vigência de outra; um crime pode ter ocorrido durante a vigência de uma lei, julgado após a sua revogação e a execução da sentença condenatória proferida durante a vigência de lei anterior revogada etc. 
Para a solução desses conflitos existem princípios que devem ser obedecidos quanto à aplicação da lei penal no tempo. 
2.3. Vigência e Revogação da Lei Penal
Assim como as demais leis, a lei penal também começa a vigorar na data nela indicada, ou na omissão, em 45 dias após a publicação, dentro do País, e em três meses no exterior – (LICC, art. 1º. parágrafo 1º). O espaço de tempo compreendido entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor denomina-se vocatio legis (vacância da lei). 
Não havendo referência à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique – (LICC, art. 2º).
Não há revogação pelo simples desuso da lei. A revogação é expressa quando a lei nova diz quais são os textos revogados. A revogação é tácita quando a lei nova é incompatível com a anterior, ou quando vem regular inteiramente a matéria. 
A revogação total denomina-se abrogatio (ab- rogação). A revogação parcial denomina-se derogatio (derrogação). 
	2.4. Princípios da Lei Penal no Tempo
A lei penal no tempo regula-se por dois princípios: 1) princípio da irretroatividade da lei incriminadora e 2) princípio da retroatividade da lei benéfica. 
Assim, havendo conflito de leis penais com o surgimento de novos preceitos jurídicos após a prática do fato delituoso, será sempre aplicada a lei mais favorável. Isso significa que a lei penal mais benigna tem extratividade (é retroativa e ultrativa) e, a contrario sensu, a lei mais severa não tem extratividade (não é retroativa ou ultrativa) e, dessa forma, verifica-se: 
Novatio legis incriminadora - Ocorre quando a lei nova torna típico fato anteriormente não incriminado. Evidentemente, a lei nova não pode ser aplicada diante do princípio da anterioridade da lei penal – (CF, art. 5º, inciso XXXIX e CP, art. 1º). 
	Abolitio criminis - Ocorre quando a lei nova já não incrimina fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. Trata-se da aplicação do princípio da retroatividade de lei mais benigna - (CP, art. 2º, caput). 
Pela abolitio criminis se fazem desaparecer o delito e todos os efeitos penais da sentença, permanecendo apenas os civis da decisão. 
Novatio legis pejus - Ocorre quando a lei nova é mais severa que a anterior. Vige, neste caso, o princípio da irretroatividade da lei penal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” – (CF, art. 5º, inciso XL). 
Novatio legis in mellius - Ocorre quando a lei nova é mais favorável que a anterior. Trata-se da aplicação do princípio da retroatividade de lei mais benigna - (CP, art. 2º, parágrafo único). 
2.5. Lei processual
A lei processual não segue os princípios referentes à aplicação da lei penal no tempo (retroatividade em benefício do agente). Segundo o Códigode Processo Penal: “a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior” - (CP, art. 2º). 
Não há que se cogitar, no caso, de lei mais benigna ou mais severa. A partir da data de início da vigência, a lei posterior passa a regular os atos processuais, a competência etc. (salvo disposição expressa em contrário), permanecendo válidos os atos já praticados. 
2,6.Lei excepcional ou temporária
O artigo 3º, do CP, dispõe: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se a fato praticado durante a sua vigência. 
Lei excepcional é aquela promulgada para virger durante determinada circunstância excepcional ou situação de emergência (calamidade pública, epidemia, estado de sitio, guerra, terremoto etc.). 
Lei temporária é aquela promulgada para vigorar até determinada data. 
Tanto a lei excepcional como a temporária são ultra-ativas e auto revogáveis. Devido à ultratividade, essas leis são aplicadas a fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de revogadas pelo decurso do tempo ou pela superação do estado excepcional. 
2.7.Tempo do crime 
O artigo 4º, do CP, dispõe: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 
A determinação do tempo do crime, influi diretamente na aplicação de várias regras penais, como a determinação da lei aplicável ao fato, a menoridade ou não do agente no tempo da ação, a incidência de prescrição etc. 
Três são das teorias a respeito do momento que se considera cometido o delito: teoria da atividade, teoria do resultado e teoria mista. 
Pela teoria da atividade (adotada pelo Código Penal) considera-se cometido o delito no momento da ação ou omissão, aplicando-se ao fato, portanto, a lei vigente ao tempo da ação ou omissão. 
Pela teoria do resultado considera-se cometido o delito no momento da produção do resultado.
Pela teoria mista (ou da ubigüidade) pode-se considerar como tempo do crime tanto o momento da ação ou omissão como o momento do resultado. 
3. Lei Penal no Espaço 
3.1. Fundamento legal e introdução
O artigo 5º, do CP, dispõe: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embargações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. 
Um crime pode violar interesses de dois ou mais países, quer porque a ação tenha sido praticada no território de um e a consumação no território de outro, quer porque o delito atinge bem jurídico de um Estado embora praticado no exterior etc. 
Visando a possibilidade da aplicação da lei nacional em tais casos, o Código Penal dispõe sobre a aplicabilidade da lei penal 
no espaço (lugar do crime) com fundamento em convenções, tratados e regras de direito internacional. 
3.2. Territorialidade 
A lei penal no espaço regula-se pelo princípio da territorialidade (temperada), ou seja, o ordenamento penal brasileiro é aplicável aos crimes cometidos no território nacional, de modo que ninguém, nacional, estrangeiro ou apátrida, residente ou em trânsito pelo Brasil, poderá subtrair-se à lei penal brasileira, por fatos criminosos aqui praticados, salvo quando normas de Direito Internacional dispuserem em sentido contrário. 
3.3. Conceito e componentes do território 
Território nacional - sob o prisma material, compreende o espaço delimitado por fronteiras geográficas. Sob o prisma jurídico, abrange todo o espaço em que o Estado exerce a sua soberania. 
Componentes do território: 
solo ocupado pela corporação política; 
rios, lagos, mares interiores, golfos, baías e portos; 
faixa de mar exterior ao longo da costa, denominado territorial (12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro – (Lei n. 8.617/93, art. 1º).
espaço aéreo; 
navios e aeronaves. 
Lugar do crime 
O artigo 6º, do CP, dispõe: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
Para a aplicação do princípio da territorialidade é necessário que se esclareça qual é o lugar do crime. São três as teorias a respeito desse assunto: 
Teoria da atividade (ou da ação) - Lugar do crime é o da ação ou omissão, sendo irrelevante o lugar da produção do resultado. 
Teoria do resultado (ou do efeito) - Lugar do crime é o lugar em que foi produzido o resultado, sendo irrelevante o local da conduta; 
Teoria mista (ou da ubigüidade) - Lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado. Será, portanto, o lugar onde se deu qualquer dos momentos do inter criminis. 
Teoria adotada - Para determinar o lugar do crime o CP adotou a teoria mista ou da ubigüidade, porém, sobre compet~encia jurisdicional, poderá ser feita uma análise específica, com o estudo do artigo 69 e seguintes do Código de Processo Penal. 
3.5. Extraterritorialidade
O artigo 7º, do CP, prevê a aplicação da lei brasileira a crimes praticados no estrangeiro. É o princípio da extraterritorialidade da lei penal brasileira, que pode ser: 
Incondicionada - A extraterritorialidade é incondicionada quando a lei brasileira é aplicada ao crime cometido no estrangeiro independentemente de qualquer condição - (CP, art. 7º, inciso I). 
Condicionada - A extraterritorialidade é condicionada quando a alei brasileira é aplicada ao crime cometido no estrangeiro se satisfeitas determinadas condições - (CP, art. 7º, inciso II e § 3º). 
3.6.Pena cumprida no estrangeiro
O artigo 8º, do CP, dispõe: A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada quando idênticas.
Assim, a pena cumprida no estrangeiro será descontada na execução pela lei brasileira quando forem idênticas (penas privativas de liberdade, por exemplo), respondendo o sentenciado pelo saldo a cumprir se a pena imposta no Brasil for mais severa. 
Se a pena cumprida no estrangeiro for superior à imposta no País, é evidente que esta não será executada. 
No caso de penas diversas (privativas de liberdade e pecuniárias), por exemplo), aquela cumprida no estrangeiro atenuará a aplicada no Brasil, de acordo com a decisão do juiz no caso concreto, já que não há regras legais a respeito dos critérios de atenuação que devem ser obedecidos. 
4. Lei Penal em Relação às Pessoas
4.1.Imunidades diplomáticas
Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros (embaixadores, diplomatas, ministros, núncios e plenipotenciários) estão excluídos da jurisdição criminal dos países em que estiverem exercendo as suas funções, tendo, portanto, imunidade absoluta em qualquer tipo de delito. Encontra-se convencionada a imunidade diplomática na Convenção de Viena de 18 de abril de 1961 e aprovada pelo Decreto Legislativo nº 103/64.
4.2. Imunidades presidenciais
Goza o Presidente da República de imunidade prevista na Constituição Federal (CF, art.86, par.3º), tendo direito a Foro Especial de Julgamento (Súmula 394 STF).
4.3.Imunidades parlamentares
 
A Constituição Federal outorgaaos membros do Congresso Nacional algumas prerrogativas (incluindo as imunidades), visando assegurar-lhes a mais ampla liberdade de palavra, no exercício de suas funções, protegendo o Poder Legislativo contra abusos e violações por parte do outros poderes (Executivo e Judiciário). São duas as espécies de imunidades absoluta (de natureza material ou substantiva) e relativa (de natureza formal ou processual). 
Imunidade absoluta – No que se refere à crimes de opinião, a impunidade dos parlamentares é absoluta, pois eles são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos (CF, art. 53, caput). Entende-se por crime de opinião (ou crimes da palavra), os delitos contra a honra: calúnia, difamação e injúria (CP, arts. 138 a 140), de incitação ao crime (CP, art. 286), de apologia de crime ou criminoso (CP, art. 287) etc. 
Distinção: Na imunidade parlamentar (absoluta) as referidas condutas não constituem crimes; na imunidade diplomática, os delitos não são excluídos, apenas há um deferimento para que sua apreciação seja feita posteriormente em outro país. 
Segundo entendimento do Prof. Julio Mirabete, a imunidade absoluta é irrenunciável, posto que é inerente ao mandato, não se podendo instaurar inquérito policial ou ação penal mesmo que haja autorização do parlamentar. Trata-se de instituto que visa preservar não a pessoa do parlamentar, mas o próprio regime representativo, possibilitando a ação livre e independente do Parlamento. Entretanto, a imunidade parlamentar não se estende ao co-réu que não tenha esta prerrogativa (STF, Súmula 245). O período coberto pela imunidade absoluta inicia-se com a expedição do diploma do Deputado ou Senador e se encerra com o término do mandato. 
Imunidade relativa – No que se refere aos demais delitos, a imunidade dos parlamentares é relativa, ou seja refere-se à prisão e ao processo. Com a nova redação dada pela Emenda Constitucional n. 35, de 20-12-2001, prevê a Constitucional Federal que desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional (Deputados e Senadores) serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal (CF,art.53, parágrafo 1º), mas não poderão ser presos, salvo em flagrante delito por crime inafiancável (CF, art. 53, parágrafo 2º, primeira parte). 
Assim sendo, o parlamentar jamais pode ser preso em flagrante por crime afiançável. Tratando-se de crime inafiançável (racismo, tortura, tráfico de entorpecentes e os hendiondos traçados na Lei 8.072/90), a autoridade policial deve efetuar a prisão em flagrante, comunicando os fatos à Câmara ou Senado, conforme o caso, que, por voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão, podendo, assim, determinar ou não a soltura do parlamentar (CF, art. 53, parágrafo 2º, Segunda parte). 
Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após diplomação, o respectivo partido político, pelo voto da maioria de seus membros, tem o direito de solicitar a sustação do processo do processo no Supremo Tribunal Federal (CF, art. 53, parágrafo 3º). A referida sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o mandato (CF, art. 53, parágrafo 5º). 
A Constituição Federal prevê também a imunidade do parlamentar como testemunha. Dessa forma, os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações (CF, art. 53, parágrafo 6º). 
Assim, a partir da entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 35/2001, de 21-12-2001, os Deputados e Senadores continuam com a imunidade absoluta em relação aos crimes de opinião, porém, quanto aos demais delitos serão submetidos a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, por crimes cometidos antes da diplomação ou durante o mandato, sem a necessidade anterior de prévia licença da respectiva Casa (Câmara ou Senado). 
Imunidade de deputados estaduais e vereadores – A mesma sistemática de imunidade absoluta para os delitos de opinião e imunidade relativa para os delitos comuns, aplica-se também aos Deputados estaduais (CF, art. 27, parágrafo 1º). Os Vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município (CF. art. 29, inciso VIII). 
Outras imunidades – O Estatuto da Advocacia estabeleceu que os advogados têm imunidade penal, de natureza profissional, quando, no exercício da atividade, em juízo ou fora dele, praticarem atos que podem ser classificados como crimes de difamação, injúria ou desacato, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos cometidos (Lei n. 8.906/94, art. 7º, § 2º). Verifica-se, então, mais uma forma de imunidade penal, exigindo como requisito pessoal o de ser advogado e ter praticado o ato quando atacado no exercício da profissão. 
4.4. A extradição 
Extradição é o ato pelo qual uma nação entrega a outra um autor de crime para ser julgado ou punido. A extradição é ativa, em relação do Estado que a solicita e passiva em relação ao Estado que concede.
Entre nós, a extradição passiva é regulada juntamente com as demais definições jurídicas relativas ao estrangeiro no Brasil – (Leis ns. 6.815/80 e 6.964/81). 
Compete ao Supremo Tribunal Federal o julgamento do pedido de extradição solicitada por Estado estrangeiro – (CF, art. 102, inciso I, alínea g). 
5. Disposições Finais Sobre a Aplicação da Lei Penal
5.1.	Eficácia de sentença estrangeira 
O artigo 9º, do Código Penal, dispõe: A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - 	Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
II - 	sujeitá-lo a medida de segurança. 
Parágrafo único - A homologação depende: 
para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.
Sentenças estramgeiras, em regra, não podem ser executadas no Brasil sob pena de violação da soberania e do princípio da territorialidade. Assim, para que a sentença penal estrangeira produza efeitos no Brasil é necessário a sua homologação pelo STF. 
O artigo 787 e seguintes do Código de Processo Penal dispõe sobre a homologação das sentenças estrangeiras. 
Compete ao Supremo Tribunal Federal a homologação das sentenças estrangeiras – (CF, art. 102, inciso I, alínea h). 
 
5.2. Contagem de prazo 
O artigo 10, do Código Penal, dispõe: O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. 
No Direito Penal o dia do começo é incluído no cômputo do prazo, sendo os dias, meses e anos contados pelo calendário comum. 
Nos prazos processuais, ao contrário, não se computa o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento – (CPP, art. 798, § 1º). 
Se o CP e o CPP tratarem da mesma matéria, como na decadência (arts. 103 do CP e 38 do CPP), conta-se pelo modo mais favorável ao ré, ou seja, no caso, pelo artigo 10 do CP, incluindo o dia do começo. 
5.3. Frações não computáveis na pena 
O artigo 11, do Código Penal, dispõe: Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direito, as frações de dia, e, na pena de multa as frações de cruzeiro. 
De acordo com o dispositivo legal, não se aplica, por exemplo, pena de 20 dias e 8 horas, mas 20 dias. Também são desprezadas nas penas de multa, as frações de real (atual moeda brasileira). 
5.4. Legislação especial 
O artigo 12, do Código Penal, dispõe: As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 
De acordocom o dispositivo legal, as regras gerais do Código Penal, ou seja, aquelas previstas na Parte Geral e em alguns dispositivos da Parte Especial (como por exemplo, artigo 327, que se refere ao conceito de funcionário público), aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 
DIREITO PENAL II - PARTE GERAL 
DO CRIME
 Conceitos de Crime
O ilícito penal pode ser definido sob três aspectos diversos, obtendo-se assim o conceito legal, material e formal?
1.1. Conceito legal
O conceito legal de crime é dado pela lei de Introdução do Código Penal, Decreto-Lei nº 3.914/91 que, in verbis: Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de nulta – (LICP, art. 1º). 
1.2. Conceito material 
O conceito material tem em vista o bem protegido pela lei penal: “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal”. Dessa forma, nada mais é do que a violação de um bem penalmente protegido. 
1.3. Conceito formal 
Sob o aspecto formal, crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade, como veremos, constitui pressuposto da pena. 
1.5. Características do crime sob o aspecto formal 
Pelo aspecto formal, para que exista o crime, basta que haja um fato típico e antijurídico. Porém, para a aplicação da pena é necessário que o fato, além de típico e antijurídico, seja também culpável, isto é, reprovável. 
Fato típico - É o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em regra, um resultado, e é previsto como infração penal. 
Exemplo: A esfaqueia B, que vem a morrer em consequência das lesões. O fato se enquadra na descrição legal simples do artigo 121 do Código Penal: “Matar alguém”. 
Assim, observamos que o fato típico é composto dos seguintes elementos: 
conduta humana dolosa ou culposa; 
resultado (salvo nos casos de crimes de mera conduta); 
nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;
enquadramento do fato material, ou seja, conduta, resultado e nexo, a uma norma penal incriminadora. 
No exemplo, encontramos os três elementos, ou seja, há uma conduta, que é representada pelo ato do sujeito esfaquear a vítima; o resultado morte e, complementando os elementos necessários, observamos o nexo entre a conduta e o resultado, uma vez que a vítima faleceu em decorrência das lesões produzidas pelas facadas. Portanto, o acontecimento enquadra-se no art. 121, do Código Penal. 
Fato antijurídico - É aquele que contraria o ordenamento jurídico. Exemplificando: matar alguém é fato típico se o agente o fez dolosa ou culposamente, mas não será antijurídico (ou não será crime) se o agente pratica a conduta acobertado por causas de exclusão da antijuridicidade, ou seja, em estado de necessidade, em legítima defesa etc. 
A culpabilidade não é característica, aspecto ou elemento do crime, e sim mera condição para se impor a pena pela reprovabilidade da conduta. Ao agente cumpre conformar a sua conduta com o mandamento do ordenamento jurídico, ao violar demonstra que tinha a possibilidade de fazê-lo e não o fez, e, portanto, seu comportamento exprime uma contradição entre a sua vontade e a vontade da norma. 
A punibilidade é apenas a conseqüência jurídica do delito e não uma de suas características. 
Com a violação do preceito penal, surge para o Estado o direito de exercer o jus puniendi ao sujeito. Dessa forma, a punibilidade 
nada mais é do que a aplicabilidade da sanção, representando o efeito jurídico do comportamento típico e ilícito, desde que culpado o sujeito. 
1.6. Ilícito penal e ilícito civil
Basicamente não existe diferença de natureza entre o crime e o ilícito civil, pois ambos ferem o ordenamento jurídico. 
A distinção que se verifica é que o ilícito civil produz uma coação patrimonial, gerando uma obrigação de restituir, ou de indenizar, ou a execução forçada ou, ainda, a declaração da nulidade de um ano. 
O crime além de poder acarretar todas essas conseqüências, vai mais além, determinando uma coação pessoal, através da pena privativa de liberdade ou de uma medida de segurança. 
2. O Fato Típico 
2.1. Elementos do fato típico 
Fato típico é o fato que se enquadra perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal. São elementos do fato típico: 
conduta (ação ou omissão); 
o resultado; 
a relação de causalidade (ou nexo causal); 
a tipicidade.
Caso o fato concreto não apresente um desses elementos, não é fato típico e, portanto, não é crime. Excetua-se, no caso, a tentativa, em que não ocorre o resultado. 
Exemplo de fato típico: “A” mata “B” com tiros de revólver. Existe a conduta (desfechar tiros), o resultado (morte), o nexo causal entre a conduta e o resultado ( a vítima faleceu em edecorrência dos tiros), e a tipicidade (adequação perfeita do fato concreto ao descrito na lei). 
2.2. Teorias sobre a conduta
As teorias mais divulgadas sobre a conduta são: teoria causalista (ou naturalista), teoria finalista e teoria social da ação. 
Teoria Causalista (ou naturalista) - Para essa teoria a conduta é tratada como um simples comportamento humano consistente em fazer ou não fazer, sendo irrelevante a finalidade ou a intenção do agente, para caracterizar a prática do crime. 
Dessa forma, por exemplo, se um sujeito conduzindo seu veículo com absoluta prudência em via pública, quando, sem que pudesse esperar ou prever, atropela e mata um suicida que se jogou debaixo de seu automóvel, de acordo com essa teoria, teria cometido um crime de homicídio, mesmo que não quis matar a vítima, nem teve culpa nessa morte. 
Teoria finalista - Para a teoria finalista da ação, a conduta realiza-se mediante a manifestação da vontade dirigida a um fim. No crime doloso, a finalidade da conduta é a vontade de concretizar um fato ilícito. No crime culposo, o fim da conduta não está dirigido ao resultado lesivo, porém, o agente é autor de fato típico por não ter empregado em seu comportamento os cuidados necessários para evitar o evento. 
Assim, para os finalistas, na hipótese de ter o agente acionado o gatilho voluntariamente, efetuando disparo e atingindo uma pessoa que vem a morrer, somente terá praticado um fato típico se tinha como fim esse resultado ou se assumiu conscientemente o risco de produzi-lo (homicídio doloso) ou se a arma disparou em conseqüência de não ter sido tomadas as cautelas necessárias ao manejá-la. 
Já não haveria fato típico se o agente, por exemplo, com as cautelas exigíveis, estivesse praticando tiro ao alvo, vindo a atingir uma pessoa que se escondera atrás do alvo por estar sendo perseguida por um desafeto. 
A teoria finalista da ação foi adotada pelo Código Penal Brasileiro. 
Teoria social - Para a teoria social da ação, o Direito Penal só deve cuidar das condutas voluntárias que produzam resultados típicos de relevância social. 
Assim, mesmo o agente praticando fato típico, se tal comportamento não afrontar o sentimento de justiça ou de adequação social do povo, não pode ser considerado relevante para o direito penal. 
Por exemplo, um jogador de futebol que desfere um pontapé por trás para evitar que seu adversário marque um gol. A conduta, embora voluntária e finalista, produziu um resultado que, apesar de típico ofensa à integridade física de outrem - art. 129 do CP), se insere dentro de que um cidadão médio considera socialmente compreensível (uma falta desleal cometida para impedir a marcação do gol) e, portanto, não há mais como considerá-la típica. 
As críticas em relação à teoria social da ação residem na dificuldade de se conceituar adequadamente a relevância social da ação. 
2.3. Conceito, características e elementos da conduta
Conceito - Conduta é a açãoou omissão humana consciente e dirigida a determinada finalidade. 
Características - A conduta é um comportamento humano, não estando incluídos, portanto, os fatos naturais (raio, chuva, terremoto), os do mundo animal e os praticados pelas pessoas jurídicas. 
Caso um cão morda alguém, a mando de uma outra pessoa, a conduta é praticada por esta e não pelo animal. Respondem penalmente pelos atos criminosos ou diretores ou prepostos da pessoa jurídica envolvida em um ilícito penal. 
Não constituem conduta o simples pensamento, a cogitação, o planejamento intelectual da prática de um crime. A conduta exige a necessidade de uma repercussão externa da vontade do agente. 
Elementos - São elementos da conduta: 
vontade; 
finalidade; 
exteriorização (inexiste enquanto enclausurada na mente); 
consciência. 
A falta de um dos elementos essenciais acarreta a ausência de conduta.
A coação moral irresistível não exclui a conduta, uma vez que ainda resta um resíduo de vontade. A vontade é viciada, mas não eliminada. 
Exemplos de ausência de conduta: 
Reflexos não são condutas, são atos desprovidos de qualquer vontade ou finalidade. 
A coação física, que consiste no emprego de força física, exclui a conduta, pela absoluta falta de vontade. Nesse caso, o coacto não pratica crime, pois o fato será atípico. 
O movimento ou abstenção de movimento em casos de sonho, sonambulismo, hipnose, embriaguez completa, desmaio e outros estados de inconsciência, não constituem conduta pela absoluta ausência de vontade. 
2.4. Formas de conduta
Conduta comissiva - É o movimento corpóreo, um fazer, um comportamento ativo (atirar, subtrair, ofender etc.). 
Conduta omissiva - Consiste na inatividade, na abstenção de movimento, é o “não fazer alguma coisa que é devida”. Exemplos: crime de omissão de socorro (art. 135); crime de omissão de notificação de doença (art. 269). 
Conduta comissiva omissiva - Neste caso a conduta descrita no tipo é comissiva de fazer (matar, por exemplo), mas o resultado ocorre por não tê-lo impedido o sujeito ativo. 
Para que este responda pelo crime, porém, é necessário que tenha o dever jurídico de agir, ou seja, o dever de impedir o resultado.
O artigo 13, § 2º, do CP dispõe: A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
Exemplos de dever legal de agir previstas na alínea “a”
o dever dos pais de alimentar e cuidar dos filhos; 
o dever do diretor do presídio e dos carcereiros de zelarem e protegeram os presos; 
o dever dos policiais em serviço para assegurarem a segurança pública e das pessoas em particular. 
Exemplos de dever legal de agir previstos na alínea “b” (garantidor)
o médico que presta serviço de urgência em um pronto-socorro;
o sujeito que se propõe a conduzir um ébrio até sua casa; 
o enfermeiro que é contratado para cuidar do doente; 
o guarda de segurança particular, contratado para vigiar uma residência ou estabelecimento comercial; 
o capataz da fazenda que deve cuidar da colheita. 
Exemplos de dever legal de agir previstos na alínea “c” (criador do risco): 
o causador involuntário de um incêndio; 
o acompanhante de um nadador iniciante induzido a atravessar a nado um rio; 
o empregador que descobre Ter ficado preso um operário no recinto da fábrica;
a posse de animais, de dubstâncias explosivas ou inflamáveis etc. 
2.5. Caso fortuito e força maior
Casos fortuitos são aqueles imprevisíveis, e de força maior são os previsíveis, porém inevitáveis. Exemplo: o relâmpago é um caso fortuito, e o trovão é um caso de força maior. 
O caso fortuito e a força maior excluem o dolo e a culpa e, conseqüentemente, a conduta. Sem conduta não há fato típico, uma vez que a conduta é seu elemento. Assim, portanto, não há crime. 
Não se pode atribuir o resultado lesivo decorrente de um incêndio provocado pelo cigarro que é derrubado do cinzeiro por um golpe de ar inesperado (caso fortuito). Da mesma forma, não há crime se o agente por força física do coator, aciona o gatilho de uma arma, causando a morte de alguém (força maior). 
2.5.O resultado
Para que exista o crime não basta a conduta. O resultado é o segundo elemento do fato típico. 
Resultado é a modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humano voluntário. Essa “modificação” deve ser entendida como uma lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico protegido pela norma penal. 
São exemplos de resultado: a morte da vítima (no homicídio), a conjunção carnal (no estupro), a ofensa à integridade corporal (na lesão corporal), a destruição, inutilização ou deterioração da coisa (no dano), o temor da vítima (na ameaça), o sentimento do ofendido (na injúria) etc. 
2.7.A relação de causalidade (Artigo 13 do CP). 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
A relação de causalidade é o terceiro elemento do fato típico. É o nexo causal entre o comportamento humano (conduta) e a modificação do mundo exterior (resultado). 
O Código Penal adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais, ou da conditio sine qua non, considerando como causa toda a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido – (CP, art. 13, Segunda parte). 
Na realidade, a causalidade é temperada, porque o dispositivo legal não se satisfaz com a simples ocorrência material do resultado. Exige, conforme o caso, o dolo e a culpa. Se assim não fosse, o marceneiro, fabricante de uma cama, poderia também ser condenado por adultério...
O art. 13 trata da ação atribuível ao agente e que é causa do resultado: ao mesmo tempo, nos diz que a causa, absolutamente independente do sujeiro ativo, a ele não pode ser imputada. 
Assim, temos os seguintes exemplos: 
* causa preexistente absolutamente independente da conduta do sujeito: 
A desfecha um tiro de revólver em B, que vem a falecer pouco depois, não em conseqüência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno. 
A não poderá ser responsabilizado por homicídio, mas apenas por tentativa de morte ou lesões corporais. 
* causa concomitante absolutamente independente: 
A fere B (levemente no braço) no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente por força de um colapso cardíaco. 
A não poderá ser responsabilizado pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados antes de sua produção, como no caso anterior. 
* causa superveniente absolutamente independente: 
A ministra veneno na alimentação de B que, quando está tomando a refeição, vem a falecer em conseqüência de um desabamento. 
A não poderá ser responsabilizado pelo resultado morte, mas im pelos atos praticados antes de sua produção, como nos casos anteriores. 
Portanto, a causa preexistente, concomitante ou superveniente que, por si só, produziu o resultado, sendo absolutamente independente, não pode ser imputada ao sujeito, por força do art. 13, caput, do CP. 
Todavia, tratando-se de causa preexistente e concomitante relativamente independente, o resultado é imputável ao agente, conforme dispõe o artigo 13, caput. Vejamos os seguintes exemplos: 
* Causa preexistente relativamente independente em relação à conduta do agente: 
A golpeia B, hemofílico, que vem a falecer em conseqüência dos ferimentos, a par da contribuição de sua particular condição fisiológica. 
* Causa concomitante relativamente independente: 
A desfecha um tiro em B, no exato instante

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