Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
“AS ATIVIDADES DA MANUTENÇÃO COMO FERRAMENTA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA” José Antônio Bento de Andrade (1) Gilson Brito Alves Lima (2) Márcio Zamboti Fortes (3) RESUMO Nos dias atuais a busca por oportunidades de redução de custos operacionais nas indústrias é ponto focal para gestores e administradores. As equipes que trabalham nas áreas de manutenção e operação são solicitadas a apresentar periodicamente oportunidades de melhorias em suas plantas que possam levar com pequeno investimento a identificação de cortes de custos e aumento de eficiências operacionais que gerem um maior retorno para os acionistas. Este artigo apresenta uma metodologia de gestão da manutenção direcionada para a eficiência energética e alguns exemplos de oportunidades que podem ser aplicados na maioria dos parques fabris com pequenas ações de manutenção que podem ser aderentes aos novos planos de manutenção baseados em eficiência energéticas. Estas ações serão desenvolvidas através de um tripé de sustentação: - Treinamento visando o aprimoramento técnico e conscientização para a eficiência energética; - Ação e monitoramento para a confecção de planos de manutenção aderentes a eficiência energética, implantação e acompanhamento dos mesmos; - Controle de gestão objetivando visualização clara dos resultados e se for o caso, melhoria das ações. Palavras-chave: Manutenção, Eficiência energética, Consumo, Custo. (1) Universidade Federal Fluminense, Mestrando em Sistemas de Gestão. (2) Universidade Federal Fluminense, Professor do Depto de Eng. Produção (3) Universidade Federal Fluminense, Professor do Depto de Eng. Elétrica 1 – Introdução A justificativa para termos as atividades da manutenção como ferrramenta de eficiência energética é dada por Stroker (2003) quando ele diz que “O Custo real de um equipamento é definido como o total dos investimentos iniciais mais os custos operacionais, que incluem os custos de energia e de manutenção”. Baseando-se neste conceito, este artigo apresenta exemplos de redução dos custos, através execução de trabalhos de manutenção, tais como limpeza de luminárias, retiradas de vazamentos em tubulações de ar comprimido, modernização de motores elétricos e instalações, substituição de equipamentos menos eficientes por equipamentos energeticamente mais eficientes, como motores e lâmpadas. Seguindo modelos de gestão comprovadamente eficazes como NYC (2010) de “Operações de Eficiência Energética e Manutenção”, que destaca três objetivos chaves: 1°) Reparar, manter e operar os equipamentos existentes tão eficientemente quanto possivel; 2°) Aumentar o treinamento e divulgar ações de eficiência energética as equipes para melhorar performance; 3°) Apresentar transparência e reponsabilidade a supervisão nos processos de gestão energética. Reconhecidamente, o apoio de softwares para a gestão energética é uma importante ferramenta de suporte. Em Bayer (2006) apresentam-se comentários sobre modelos avaliados e os tempos de suporte as solicitações do usuario. É necessario atenção na escolha do software de manutenção e a interface com o usuário seja amigável, que os relatórios apresentem dados realmente avaliados pelo grupo gestor e que o tempo de resposta a solicitações não prejudique a ação operacional, devido ao grande numero de operações que a equipe de planejamento e programação de manutenção atua sobre o software. Outro exemplo de suporte operacional de ferramentas computacionais para apoio a gestão energética e apresentada em Lee (2011), onde uma micro rede é gerenciada por software de gestão energética que monitora entre outros consumos energéticos em resfriadores, acompanha o consumo de energia e o uso correto de lâmpadas, reportando por relatórios dedicados os resultados da gestão. É importante também quando da análise de uma empresa conhecer o seu posicionamento junto ao mercado e quanto à tecnologia. Em Mills (2008), apresentam-se os dados do gráfico I, caracterizando o custo anual de energia por metro quadrado em instalações consideradas de alta tecnologia, neste mesmo trabalho apresentam-se dados comparativos entre uma construção típica e uma de alta tecnologia. 2) Apresentação de oportunidades da manutenção em eficientização energética São definidos nos diversos foruns (revistas, jornais, congressos e etc) exemplos de eficientização energética, mas não necessariamente destacando a ação de gestão de manutenção, como veremos em três areas de alto consumo energético, como ar comprimido, motores e iluminação. 2.1) Vazamento de ar: Nos dias de hoje o ar comprimido é utilizado em quase a totalidade das indústrias, sendo atualmente uma parte vital do seu processo de produção, com o seu uso mais frequente em automação de processos, instrumentação, ferramentas e diversos equipamentos de transporte e movimentação. Segundo Nogueira (2006), uma das vantagens do emprego do ar comprimido é que o mesmo pode ser armazenado e conduzido ao local de utilização sem necessitar de isolamento térmico, como é o caso do vapor. Como principal desvantagem aponta-se o maior consumo de energia elétrica na produção de um determinado trabalho util, o que não impede o seu uso face às vantagens que oferece. Em razão disso, a correta utilização do ar comprimido e a operação eficiente e econômica dos compressores, que é o elemento principal desses sistemas, são de extrema importancia. Conforme afirma Nogueira (2006), a redução da vazão mássica em um sistema de ar comprimido implica diretamente em redução da potência consumida. A redução dessa vazão pode ser alcançada diminuindo-se a vazão perdida pelos vazamentos. Essa medida traz bons resultados e exige, na maioria das vezes, medidas de caratér operacional e pequenos investimentos. As oportunidades de economia de energia, em sistemas de ar comprimido são grandes, pois existem medidas de controle de vazamentos de ar que justifiquem a ação da manutenção, segundo Cavalcanti (2011). I. Um vazamento consome o dobro de potência que uma ferramenta com igual consumo instantâneo; II. Originam quedas de pressão que tendem a ser compensados aumentando-se a geração; III. Seu controle periódico conduz a economias consideráveis; IV. Com facilidade atingem mais de 20% do consumo; V. Separadores de liquidos, conexões de mangueiras, mangueiras, válvulas podem ser as causas mais frequentes. As perdas de energia em vazamentos de ar foram tabeladas, conforme abaixo: Tabela I – Perdas de Energia em vazamentos de ar Diâmetro (mm) Perda em (l/s) a 7 bar man. Consumo correspondente ao ar perdido em uma hora (kWh) 0,5 0,33 0,1 1 1,31 0,4 2 5,19 1,6 3 11,6 3,6 Fonte: Cavalcanti (2011) Analisando apenas um vazamento de cerca de 3 mm, verificamos um consumo de 3,6 KWh, o que multiplicado pelos diversos vazamentos existentes em uma instalação industrial, chega-se aos mais de 20% de consumo citado acima. 2.2) Motores de indução Devido a grande quantidade de motores de indução nas indústrias, cerca de 55% do consumo elétrico é devido a estes equipamentos, portanto deve-se observar a sua instalação, como também a sua operação, pois pode-se ter grandes economias de energia com pequenas ações de manutenção. Como mediadas operativas com custo de implantação praticamente nulas, pode-se citar a verificação das condições dos acoplamentos, ajustando alinhamentos e eliminando possíveis folgas que dão origem a vibrações indesejáveis e elevação de temperatura. O acoplamento direto é o mais eficiente, porém se mal alinhado, não só produz umaumento de perdas, como, também, reduz a vida útil dos mancais. Acoplamentos com reduções tambem são comuns, mas podem introduzir perdas de até 30%. Isto acontece devido, principalmente, ao atrito entre engrenagens, ventilação e pela viscosidade do fluido lubrificante (Bortoni, 2006). Com base neste autor pode-se afirmar que pequenas ações rotineiras da área de manutenção inseridas no plano de manutenção dos equipamentos, tais como verificação dos acoplamentos, alinhamento, folgas, nivel do lubrificante, tipo do lubrificante, limpeza das máquinas e verificação de aquecimentos anormais, podem trazer o consumo de energia dos motores a níveis de referência aceitáveis. A limpeza e lubrificação dos mancais são de suma importância, Neste sentido pôde-se verificar que o acúmulo de poeira e falta de lubrificação podem aumentar as perdas por atrito e ventilação em quase 50%, reduzindo o rendimento de um motor em até dois pontos percentuais (Bortoni, 2006). Portanto, pode-se dizer que um plano de manutenção consistente de motores e sendo executado regularmente, reduz o consumo de energia. 2.3) Iluminação A iluminação artificial é um dos maiores consumidores de energia elétrica, pois esta presente em todos os lugares, desde as nossas casas, todos os tipos de comércio, serviços e indústrias. Porem a sua manutenção se limita na maioria das vezes a simples substituição das lâmpadas e reatores danificados. Entretanto a ação da manutenção vai além, para efeitos de eficiência energética. É importante desenvolver uma manutenção periódica visando à limpeza destes sistemas de iluminação. Com o passar do tempo, a poeira vai se acumulando na luminária e, consequentemente, reduzindo a intensidade de fluxo luminoso, fazendo com que a luz ambiente diminua. Se isto ocorre na instalação, a empresa está utilizando a energia elétrica para aquecer a poeira, não para iluminar. Na prática, pode-se afirmar que com a manutenção inadequada das luminárias perde-se cerca de 20% de luz no ambiente (Yamachita, 2006). Dessa forma, pode-se observar a necessidade da inclusão da limpeza periódica das lâmpadas e luminárias nos planos de manutenção com base no tempo (meses) ou com base em inspeções de verificação do fluxo luminoso, que pode ser medido com um luximetro, até que seja atingido um valor minimo de iluminamento que dispara, através do sistema de manutenção, a ação de limpeza das lâmpadas e luminárias, conforme tabela II: Tabela II – Fatores de manutenção Período de uso sem limpeza (meses) Ambiente limpo Ambiente médio Ambiente sujo 0 1,00 1,00 1,00 2 0,97 0,92 0,85 4 0,95 0,87 0,76 6 0,93 0,85 0,70 8 0,92 0,82 0,66 10 0,91 0,80 0,63 12 0,90 0,78 0,61 14 0,89 0,77 0,59 16 0,88 0,76 0,57 18 0,87 0,75 0,56 20 0,86 0,74 0,54 Fonte: Yamachita, Haddad e Dias (2006) 3) Conclusão Com pequenas ações de manutenção, tais como limpeza, lubrificação, alinhamento de motores e cargas, obtidos através de um plano de manutenção consistente e baseado no rendimento, na eficiência dos equipamentos e instalações, evitamos grandes desperdícios de energia e com isso colaboramos para a redução dos custos operacionais. A partir das ações descritas neste artigo, inicia-se a implantação de um sistema de gestão da manutenção centrada em eficiência energética. Outras ações mais complexas que necessitam de equipamentos e/ou ferramentas de maior custo podem fazer parte de uma segunda etapa de ações de eficientização energética com o apoio da manutenção, como: - Uso de ultra-som para identificação de vazamentos em sistemas de vapor; - Termografia para uso em sistemas diversos como mau contato em equipamentos e avaliação de perdas por efeito joule como apresentado em Fortes e outros (2011); - Uso de qualimetros para identificar características de má qualidade de energia e em sequência adequar soluções para melhoria da qualidade como filtros ativos, etc. Um exemplo desta aplicação é apresentado em Fortes e outros (2011); - Monitoramento de reativos com medições on-line e a inserção automática de banco de capacitores, reduzindo o desperdício de energia com reativos e consequentemente aquecimento de condutores; - Uso de ferramentas de manutenção preditiva, que irão acompanhar as condições operacionais de equipamentos, predizendo o momento de falha de um sistema e evitando custos altos com reparos, e compra de peças de reposição em emergência; - Em sistemas de bombeamento, a utilização de técnicas de identificação de melhores pontos de operação, reduzindo o consumo e garantindo performance operacional. Uma exemplificação desta técnica esta apresentado em Fortes e outros (2012). 4) Referências STROKER, J. J. What’s the real cost of higher efficiency?. IEEE industry appications magazine, 2003. p. 32-37. 2003. NYC. Energy efficiency operations & maintenance plan. 2010, New York, p. 1- 17, august 25. 2010. BAYER, R.: MILEWSKI, A. E. Improving software maintenance efficiency with behavior-based in cognitive models. In IEEE international conference on systens, man and cybernetics. 2008. p. 3353-3358. 2008. LEE, P. K.; LAI, L. L.; CHAN, S.W. A pratical approach of energy efficiency management reporting systems in micro-grid. IEEE, 2011. p. 1-5, 2011. MILLS, E. et al. The business case for energy management in higt-tech industries. Journal of energy efficiency, 2008, p. 5-20, 2008. NOGUEIRA, F. J. H. Compressores e ar comprimido. In: MARQUES, M. C. S.; HADDAD, J.; MARTINS, A. R. S.; (Coord.). CONSERVAÇÃO DE ENERGIA. 3° edição. Itajubá, MG: FUPAI, 2006. p. 439-473. CAVALCANTI, E. S. C. Oportunidades para a redução do consumo de energia em sistemas de ar comprimido industriais. In: 7° Congresso Nacional de Excelência em Gestão, 2011. BORTONI, E. C.; SANTOS, A. H. M. Acionamentos com motores de indução trifásicos. In: MARQUES, M. C. S.; HADDAD, J.; MARTINS, A. R. S.; (Coord.). CONSERVAÇÃO DE ENERGIA. 3° edição. Itajubá, MG: FUPAI, 2006. p. 397- 435. YAMACHITA, R. A.; HADDAD, J.; DIAS, M. V. X. Iluminação. In: MARQUES, M. C. S.; HADDAD, J.; MARTINS, A. R. S.; (Coord.). CONSERVAÇÃO DE ENERGIA. 3° edição. Itajubá, MG: FUPAI, 2006. p. 213-246. Fortes, M.Z.; Albuquerque, C.J.M.; Souza, M.P.; Ações Preditivas na Manutenção – Termografia: Uma vizualização de oportunidades de ganhos energéticos. In: IV CBEE – Congresso Brasileiro de Eficiencia Energética, 2011. Fortes, M.Z.; Santos, T.L.; Entringer, E. S.; Avaliação dos Espectros Harmônicos em Sistemas de Iluminação disponíveis no Mercado. In: IX CBQEE- Conferência Brasileira de Qualidade da Energia Elétrica, 2011 Fortes, M.Z.; Tavares, G.M.; Rigueira, A.S.; Antunes, V.S.F; Pereira, L.F.; Eficiência Energética com ajuste do ponto de operação de bombas centrifugas. In: 27º Congresso Brasileiro de Manutençao TT-015, 2012. All in-text references underlined in blue are linked to publications on ResearchGate, letting you access and read them immediately.
Compartilhar