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Módulo 10

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Módulo X - Elementos da narrativa: o foco narrativo
Elementos da narrativa
 
O Narrador
A narrativa pode ser conduzida por um narrador que não participa dos acontecimentos ou por um personagem que toma parte no narrado. Para melhor compreensão do enredo, convém conhecer de qual ângulo de visão, ponto de vista ou foco narrativo a história é apresentada:
ESTUDO DO FOCO NARRATIVO
 
 
Segundo Norman Friedman
Narrativa direta: cena (showing) - predomina nas narrativas modernas • O narrador mostra os fatos com detalhes, sem a mediação do narrador; • Menos informação e mais precisão; • verbos no presente, futuro do presente e pretérito perfeito.
Narrativa indireta: sumário (telling) ou síntese narrativa – predomina nas narrativas tradicionais • o narrador conta os fatos resumidamente, sem detalhes; • muita informação e pouca precisão; • verbos no pretérito imperfeito e mais-que-perfeito.
Assim, conforme a tipologia de Friedman, temos:
Autor* onisciente intruso (Editorial omniscience): • intromete-se na narrativa, tecendo comentários, julga o comportamento dos personagens; • tendência ao sumário; • liberdade para narrar de qualquer ângulo.
 
"Essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os infelizes, não choraria se lhe dissessem que o pobre moço perdera a honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?!
Chorava, chorava! Assim eu lhe soubesse dizer o doloroso sobressalto que me causaram aquelas linhas, de propósito procuradas, e lidas com amargura e respeito e, ao mesmo tempo, ódio".( Amor de perdição- Camilo Castelo Branco)
Autor onisciente neutro (Neutral omniscience) • sabe tudo sobre as personagens; • pode usar 1ª ou 3ª pessoa; • tende ao sumário; • ausência de comentários; • impessoal, mas sua presença se interpõe entre o leitor e a história.
“Era assim o Major Policarpo Quaresma que acabava de chegar à sua residência, às quatro e quinze da tarde, sem erro de um minuto, como todas as tardes, exceto aos domingos, exatamente, ao jeito da aparição de um astro ou de um eclipse. No mais, era um homem como todos os outros, a não ser aqueles que têm ambições políticas ou de fortuna, porque Quaresma não as tinha no mínimo grau.” (Triste fi m de Policarpo Quaresma, Lima Barreto)
“Eu” como testemunha (“I” as witness) – Narrador em primeira pessoa: • não há mediação de uma voz exterior; • geralmente não é o personagem principal, mas pode ser um personagem importante; narra os acontecimentos dos quais participou;
• seu ângulo é a periferia, está fora dos fatos, mas dentro da narrativa e pode observar os fatos de modo mais direto, verossímil; • não tem acesso aos pensamentos dos personagens, utiliza-se de cartas, documentos secretos, depoimentos... • Pode usar cena ou sumário.
 
" Jacinto e eu , José Fernandes, ambos nos encontramos e acamaradamos em Paris, nas Escolas do Bairro Latino(...)Ora nesse tempo Jacinto concebera uma ideia...Este príncipe concebera a ideia de que" o homrem só é superiormente seliz quando é superiormente civilizado..."( A Cidade e As Serras, Eça de Queirós)
“Eu” como protagonista (“I” as protagonist) - Narrador em primeira pessoa: • toma parte ativa da narrativa; mas perde a onisciência, pois não tem conhecimento de tudo o que se passa na história. • tem centro fixo, limitado a seus pensamentos e sentimentos; • usa cena ou sumário: a distância entre a história e o leitor pode ser próxima ou distante.
“Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.” (Missa do galo – Machado de Assis)
Onisciência seletiva múltipla (Multiple selective omniscience) • perde-se o narrador: a história vem diretamente da mente dos personagens, das impressões que fatos e pessoas deixam neles; • predomínio da cena e do discurso indireto livre; • monólogo interior = pensamentos em sua formação com alguma ordenação lógica, articulados, coerentes; • fluxo de consciência = atividade pré-consciente vem à tona, pensamentos desarticulados, incoerentes; A voz do narrador mistura-se à voz do personagem. Um excelente exemplo é Vidas secas de Graciliano Ramos, em que cada personagem deixa aflorarr seus pensamentos e sentimentos diretamente ao leitor. Nem sempre é fácil distinguir o monólogo interior do fluxo de consciência; este é mais desordenado e parece manifestar os pensamentos diretamente do inconsciente.
Onisciência seletiva (Selective omniscience) Limita-se a um personagem central: seus pensamentos, sentimentos e percepções são mostrados diretamente. Exemplo: “Uma pequena luz iluminou Mocinha: Domingo? Que fazia naquela casa em vésperas de Domingo? Nunca saberia dizer. Mas bem que gostaria de tomar conta daquele menino. Sempre gostara de criança loura: todo menino louro se parecia com o Menino Jesus. O que fazia naquela casa? Mandavam-na à toa de um lado para outro, mas ela contaria tudo, iam ver. Sorriu encabulada: não contaria era nada, pois o que queria mesmo era café. (Viagem a Petrópolis, Clarice Lispector – http:// www.portrasdasletras.com.br )
Modo dramático (The dramatic mode) • Limita-se à informação: o que os personagens falam ou fazem – como no teatro; • Eliminam-se o narrador e os estados mentais; • Sucessão de cenas com breves notações, ligando-as.
Câmera (The camera) • Exclusão do autor; com o se fosse uma reportagem; um mero registro dos acontecimentos; • Dissolve-se toda a psicologia do personagem; • Impressão de neutralidade (mas há alguém atrás da câmera). “Ter haver. Uma sombra no chão... Um silêncio por dentro, que olha e lembra, quando se engarrafam o trânsito, os dias, as pessoas... Um cartão de identidade cinzento e uma assinatura floreada, só ela. Um lugar à mesa. Uma tristeza, um espanto, as cartas do baralho, passado, presente e futuro, onde estão? Uma resposta adiada. Uma vida em rascunho, sem tempo de passar a limpo.” (Circuito Fechado 4) Ricardo Ramos.

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