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TOPICOS CONSTITUCIONAIS

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TOPICOS CONSTITUCIONAIS
MÓDULO 1 - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O controle de constitucionalidade é a verificação de compatibilidade das leis e atos normativos infraconstitucionais em relação à Constituição. Não podemos conviver com uma lei inconstitucional. É preciso tirá-la do sistema. O controle de constitucionalidade objetiva, pois, retirar do sistema jurídico normas inconstitucionais. É a verificação vertical de compatibilidade entre uma lei ou ato normativo e a Constituição. As leis não podem se chocar com a Constituição. Se forem contrárias à Constituição serão julgadas como inconstitucionais e retiradas, expulsas do sistema.
O controle de constitucionalidade pressupõe a rigidez constitucional. Nossa Constituição é rígida e, portanto, prevê um processo de modificação por quorum mais dificultoso do que o processo de elaboração das leis ordinárias. A rigidez da Constituição revela a necessidade do controle das leis, para que estas não firam a Constituição. Há autores que sustentam que, mesmo nas Constituições flexíveis, como a da Inglaterra, estaria também presente o controle. O Parlamento exerceria tal controle ao não dar prevalência a leis que contrariassem a Constituição costumeira e flexível.
Enfim, prosseguindo, podemos ter as seguintes inconstitucionalidades: a) por ação ou por omissão (nesta última deixa-se de editar o ato necessário a implementar a norma constitucional); b) parcial ou total (pode-se declarar a inconstitucionalidade de apenas uma palavra de um artigo de lei; c) direta ou reflexa (nesta última, não é admitido o controle de constitucionalidade, pois a Constituição não é ferida diretamente por uma lei – ato primário; seria o caso de um ato administrativo, como um Decreto – ato secundário – conter disposição contrária à CF: o ato administrativo é, via de regra, ilegal, e não inconstitucional).
O controle pode ser, ainda, quanto ao aspecto material da norma (conteúdo) ou formal (ou dinâmico = modo de elaboração e formação da norma). Uma norma pode ter conteúdo inconstitucional (inconstitucionalidade material – ex: norma que contenha a previsão de pena de morte para o crime de estupro) ou ter sido elaborada em desacordo com o procedimento previsto (inconstitucionalidade formal – ex: norma que deveria ter sido votada por maioria absoluta, para formação de lei complementar, mas foi votada por maioria simples).
Os vícios formais podem ser por erro na propositura, ou seja, erro quanto ao autor (inconstitucionalidade subjetiva: iniciativa reservada ao Presidente da República –= art. 61, § 1º, CF, não cabendo iniciativa a um Deputado), ou erros objetivos, como erros de quorum, tramitação para as comissões, submissão para sanção ou veto e afins.
CONTROLE PREVENTIVO
O controle preventivo caracteriza-se por ser realizado em etapa anterior à publicação do projeto de lei. Antes da publicação não temos, ainda, uma lei ou ato normativo. O controle, portanto, no caso de leis, será prévio (preventivo) se realizado em etapa anterior à publicação, ou seja, quanto ao projeto de lei.
O controle preventivo atua como barreira. Previne a entrada no ordenamento jurídico de norma inconstitucional. É feito pelos 3 Poderes, mas principalmente pelo Legislativo e Executivo (admite-se mandado de segurança, com controle a ser feito pelo Judiciário, contra projeto de Emenda tendente a abolir direitos fundamentais – entende-se que o parlamentar tem direito de não ver o projeto tramitando, e tal provocaria o Judiciário em sede de controle preventivo).
Como visto (capítulo do Legislativo), o projeto de lei passa, em primeiro lugar, pela fase da iniciativa. Qualquer um dos legitimados do art. 61 é apto a propor um projeto de lei. Inclusive o povo (art. 61, § 2º - Iniciativa Popular). Pois bem, quaisquer destes legitimados, se detectar uma inconstitucionalidade em seu projeto, deve deixar de apresentá-lo.
Porém, caso ultrapassada esta fase, chegamos à fase da discussão, nas Comissões. As Comissões, em seguida (art. 58, CF), discutem o projeto de lei e, se não o aprovarem, por inconstitucionalidade, ele será arquivado. A Constituição expressamente no art. 58 deu poderes às Comissões, a serem definidos no Regimento Interno do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados e Senado Federal, para deliberar sobre o andamento do projeto de lei. Temos as Comissões Permanentes (como a Comissão de Constituição e Justiça – CCJ, por onde passam todos os projetos de lei) e Temporárias (criadas para apreciação de um determinado projeto de lei; ao término da apreciação, são desfeitas). As Comissões podem, em controle preventivo, barrar o andamento de projeto de lei inconstitucional.
A fase seguinte, caso o projeto de lei passe pelas Comissões, é a fase da votação em Plenário. Ocorre quando os Deputados e Senadores votam pela aprovação ou rejeição do projeto de lei. Se considerarem o projeto inconstitucional, barram-no, votando pela inconstitucionalidade e arquivamento.
Mas, se o projeto de lei chegar à 4ª fase (fase da sanção ou veto por parte do Presidente da República – art. 66 e parágrafos), o Presidente poderá vetá-lo por inconstitucionalidade ou falta de interesse público. São estes os 2 únicos motivos do veto. O que nos interessa aqui é justamente a inconstitucionalidade. O Legislativo, a seu turno, por maioria absoluta, pode derrubar o veto, seguindo-se a publicação do projeto de lei. A publicação, e somente ela, transforma o projeto de lei em lei, e é feita no Diário Oficial. Antes da publicação não há lei. O projeto de lei não obriga nem vincula nenhum cidadão. Mas, se for publicado, aí teremos apenas a possibilidade do controle repressivo (abaixo), feito pelo Judiciário.
Não há mais possibilidade de controle preventivo se o projeto de lei for publicado. Após a publicação, temos o ingresso de uma lei no ordenamento jurídico, e somente o Judiciário pode afastá-la. É o chamado controle repressivo.
Existe uma possibilidade de controle jurisdicional (controle feito pelo Poder Judiciário) no controle preventivo, como vimos. Revela-se pela apreciação de mandado de segurança impetrado contra trâmite de projeto de lei cujo conteúdo a Constituição veda a tramitação (ex.: projeto de lei que viole cláusula pétrea). Neste caso, a própria Constituição veda quaisquer espécies normativas sobre o assunto. Entende o STF que o parlamentar tem direito de não ver tramitando projeto de lei contra cláusula pétrea, e permite a intromissão do Judiciário no controle preventivo.
Há argumentos a favor do controle meramente político na fase preventiva, sem intervenção do Judiciário nesta fase preventiva de formação da lei, por ser a fase preventiva discricionária, pertencente unicamente ao Executivo e Legislativo: os juízes seriam insensíveis ou atentariam contra atos típicos do Legislativo e Executivo. Haveria o risco de um “governo de juízes”. Todavia, há argumentos contra: o controle somente pelo Executivo ou Legislativo não é técnico e violaria a separação dos poderes, tirando dos cidadãos o direito subjetivo de ver o Judiciário atuando na defesa dos direitos fundamentais.
Ressaltamos que em países como a França, há Tribunais políticos que cuidam do controle de constitucionalidade, mas somente na fase repressiva, isto é, quando o projeto de lei já está publicado e, portanto, é uma lei. São as Cortes ou Tribunais Constitucionais, geralmente compostos por Conselheiros nomeados pelo Executivo e Legislativo. São Tribunais ou Cortes de controle constitucional político por excelência, distintos dos 3 Poderes. Nosso controle político puro, realmente puro, é apenas exercido pelo Executivo, por meio da sanção ou veto, pelo Presidente da República.
Os atos interna corporis do Legislativo, portanto, via de regra, na fase preventiva, não podem sofrer controle de constitucionalidade pelo Judiciário, quer pela via difusa, quer pela via concentrada. A possibilidade de mandado de segurança (via difusa) na fase preventiva vista acima ainda comporta mais uma possibilidade: a questão das normas constitucionais interpostas. Se o ato parlamentar
decorrer de vinculação de norma constitucional, como uma norma de um Regimento Interno que viole norma constitucional, também cabe mandado de segurança, pois o Regimento Interno, embora não formalmente constitucional, estaria afrontando o processo legislativo hígido a que os parlamentares teriam direito. Em suma, a impetração do mandado de segurança nestes casos, instrumento da via difusa, é para resguardar o processo legislativo. O mandado de segurança serve para resguardar o processamento correto do projeto de lei ou emenda, proibindo apresentação de projetos de lei e emendas ou deliberações sobre matéria flagrantemente inconstitucional. Esta questão sobre o Regimento Interno e normas constitucionais interpostas ainda está pendente de julgamento pelo STF.
CONTROLE REPRESSIVO
O controle repressivo só pode ser realizado pelo Judiciário, por 2 modos: via difusa e via concentrada. Não é mais possível controle preventivo após a publicação da lei. Após o ingresso da lei no mundo jurídico cabe apenas o controle repressivo (via difusa ou via concentrada).
VIA DIFUSA
A via difusa é também conhecida como via de exceção ou de defesa. Ocorre num processo judicial comum, num caso em concreto, em que a parte busca a declaração de inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo. A via difusa permite o controle de leis federais, estaduais, distritais e municipais em face da Constituição Federal e em face das Constituições Estaduais.
Diz-se via de exceção porque o cidadão que ingressa com a ação comum, buscando a inconstitucionalidade da norma, quer excepcionar-se do cumprimento desta norma. Quer ser uma exceção na comunidade. Daí a terminologia “via de exceção”. Diz, também, “via de defesa”, pois quem ingressa com ação quer defender-se do cumprimento de lei inconstitucional.
A via difusa está dispersa por todo o Judiciário. Qualquer juiz ou Tribunal pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo em um caso concreto.
A declaração de inconstitucionalidade é incidental (“incidenter tantum”), isto é, não é o objeto principal do processo intentado pela via difusa. O processo busca sempre a devolução de um tributo, o não pagamento de uma multa, etc. Estes são os objetos principais dos processos judiciais que têm o pedido de declaração de inconstitucionalidade. A declaração de inconstitucionalidade será meio para se chegar ao fim (o fim é o mérito – pedido principal). A inconstitucionalidade é questão prejudicial. Para se isentar alguém de uma obrigação imposta por lei, tem-se que a declaração de inconstitucionalidade é incidental, isto é, o juiz primeiro declara a norma inconstitucional e, depois, determina a procedência da ação, com o atendimento do pedido do autor. Para se chegar ao mérito/pedido do autor (procedência da ação), deve-se declarar, primeiramente, a inconstitucionalidade da norma.
Lembremo-nos (art. 97, CF) da existência da Cláusula de Reserva de Plenário, que determina que, nos Tribunais, em grau de recurso, a inconstitucionalidade só pode ser declarada pela maioria absoluta. Mas o STF já decidiu que a Cláusula de Reserva de Plenário não precisa ser observada pelo Tribunal se o próprio STF já tiver declarado a inconstitucionalidade da norma. Todavia, se a questão for nova, os órgãos fracionários (turmas julgadoras, seções, etc) deverão suscitar Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade e submeter a questão ao Plenário. A decisão do Plenário vinculará os órgãos fracionários.
Os legitimados são quaisquer pessoas. Até os menores de idade, desde que representados, podem ingressar com ação pleiteando a declaração de inconstitucionalidade de uma norma.
Os meios para se exercitar a via difusa são quaisquer. O cidadão pode ingressar com uma ação declaratória, uma ação condenatória, um mandado de segurança, um Medida Cautelar, enfim, a declaração de inconstitucionalidade pode ser alcançada utilizando-se qualquer meio. Inclusive, pode-se suscitar a inconstitucionalidade em grau de recurso (agravo, apelação, etc.).
Os efeitos da via difusa são “inter partes”. O resultado do processo vale apenas para aquele que entrou com a ação. Após o trânsito em julgado, os efeitos da decisão de inconstitucionalidade atingem apenas o autor da ação. Os demais interessados devem valer-se da via difusa individualmente, isto é, cada um deve ingressar com a própria ação.
Imaginemos uma pessoa que não queira pagar determinada taxa, por reputá-la inconstitucional. Ingressa na Justiça e obtém decisão favorável, que declara a lei instituidora da taxa inconstitucional. Os efeitos serão apenas para esta pessoa. Os demais continuarão pagando a taxa até que ingressem com suas respectivas ações pela via difusa ou, então, seja suspensa a norma para todos em controle via concentrada.
O processo, na via difusa, pode chegar até o STF via recurso extraordinário. Após o trânsito em julgado no STF não cabe mais nenhum recurso. O efeito da declaração de inconstitucionalidade retroage para o cidadão ao momento da edição da lei (efeitos “ex tunc”).
O STF, após o trânsito em julgado pela via difusa (processo lá julgado via recurso extraordinário), comunica o Senado da decisão de inconstitucionalidade da uma lei ou ato normativo. O Senado, então, com base no art. 52, X, baixa uma Resolução, se quiser, retirando a norma do mundo jurídico. O Senado baixa a Resolução se quiser. É critério discricionário do Senado. Caso opte por não baixar a Resolução, resta apenas a todos os afetados pela norma inconstitucional a via difusa (ou a suspensão da norma pelo controle da via concentrada). Só com a Resolução baixada é que a norma torna-se inconstitucional para todos, não obrigando mais ninguém (efeitos “erga omnes” – para todos). Mas não obrigará mais ninguém dali para frente, ou seja, da edição da Resolução para frente. Daí dizer-se que os efeitos da Resolução são “ex nunc”.
A via difusa, em resumo, tem as seguintes características:
- Foro: qualquer juízo
- Legitimados: quaisquer pessoas
- Meios: quaisquer meios processuais
- Efeitos: “inter partes”
- Com o trânsito em julgado, STF comunica o Senado, que pode baixar uma Resolução suspendendo a execução da norma
VIA CONCENTRADA
Na via concentrada discute-se a lei em tese, a lei em abstrato. Não se discute, portanto, casos em concreto. Não se discute matéria de fato. A lei ou ato normativo precisa ter conteúdo normativo abstrato, isto é, não pode ser lei de efeitos concretos. Exemplos de leis de efeitos concretos: lei que declara certa instituição como filantrópica, lei que preveja a doação de bens públicos a certa entidade privada ou lei que extingue uma autarquia. Estas leis não podem ser controladas na via concentrada porque possuem efeitos concretos. A norma deve ser dotada de generalidade e abstração. É o controle em abstrato. A lei deve ferir diretamente a Constituição (não se admite ofensa reflexa à Constituição). Nada impede, pois, que uma Portaria seja objeto de controle de constitucionalidade pela via concentrada, desde que tenha generalidade e abstração (não pode ter efeitos concretos).
Nosso sistema constitucional também não previu o controle concentrado de leis municipais que firam diretamente a Constituição Federal. Caso uma lei municipal fira a Constituição Federal, há duas saídas: a) qualquer tipo de ação pela via difusa, individualmente, e que pode chegar ao STF via recurso extraordinário; b) ação direta de inconstitucionalidade estadual, aforada pelos legitimados previstos na Constituição Estadual do Estado-membro onde situado o município que publicou a lei inconstitucional, pela via concentrada, perante o Tribunal de Justiça – TJ do Estado-membro. A lei municipal deve ferir, via de regra, a Constituição Estadual, e não a Constituição Federal, pois não se admite, nem via ADIN estadual, o controle de lei municipal x Constituição federal. Há apenas uma ressalva: se a lei municipal ferir, ao mesmo tempo, a Constituição Federal e a Constituição Estadual, aí sim caberá ADIN estadual contra a lei municipal, pois a ofensa à Constituição Federal será reflexa
ou indireta. Isto ocorre comumente quando as Constituições Estaduais contêm preceitos repetidos da Constituição Federal, autorizando o controle concentrado estadual da lei municipal.
O foro para a via concentrada é o STF. Daí possuir, também, a denominação de via direta. O controle de constitucionalidade é feito diretamente no STF. Não se admite, todavia, como visto acima, o controle concentrado feito diretamente no STF de leis municipais que firam a Constituição Federal. Resta apenas a via difusa para tanto, com exceção da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, estudada abaixo.
Os legitimados para propositura de ADIN, por exemplo, estão no artigo 103. São eles: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
Alguns legitimados são neutros ou universais. Não necessitam demonstrar pertinência temática para ingressar com as ações da via concentrada (sobre pertinência temática, vide capítulo próprio, quando do estudo da Súmula Vinculante). A pertinência temática é um especial interesse na proposição da ação. Este especial interesse é a demonstração de que a lei atacada afetará diretamente o proponente da ação. O Presidente da República, por exemplo, é legitimado neutro. Pode ingressar com ação contra qualquer lei, sem demonstrar o especial interesse.
Já um Governador de Estado deve propor ação objetivando a inconstitucionalidade de lei que diga respeito a seu Estado (legitimado interessado, limitado ou especial). Do contrário, não terá legitimidade para propor ação. Uma entidade de classe de âmbito nacional, por exemplo, deve demonstrar que a lei impugnada a afeta diretamente. Deve demonstrar, pois, pertinência temática.
Os legitimados neutros e interessados são os seguintes: I - Presidente da República (neutro); II - Mesa do Senado Federal (neutro); III - a Mesa da Câmara dos Deputados (neutro); IV - Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal (interessado); V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal (interessado); VI - Procurador-Geral da República (neutro); VII - Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (neutro); VIII - partido político com representação no Congresso Nacional (neutro); IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional (interessado).
Os meios são 5: 1) Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN); 2) Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADECON); 3) Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADIN por Omissão); 4) ADIN Interventiva; 5) Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF).
Os efeitos da via concentrada são, via de regra, “erga omnes” e vinculantes. São “erga omnes” porque valem para todos, e vinculantes porque vinculam o próprio Judiciário e a Administração Pública Federal, Estadual, Distrital e Municipal (art. 102, § 2º). A desobediência à decisão proferida em sede de controle concentrado enseja o recurso de Reclamação (vide próprio, quando do estudo da Súmula Vinculante), e aqueles que desafiarem a decisão estarão sujeitos a responder por crime contra a Administração Pública, responsabilidade civil e infração administrativa (esta precedida do regular processo administrativo).
O STF pode declarar a inconstitucionalidade de apenas parte da lei, embora o pedido tenha sido de declaração de inconstitucionalidade total da lei. O STF não está ligado aos fundamentos da petição inicial de ações de inconstitucionalidade, podendo decidir livremente (princípio da parcelaridade).
O STF, segundo o ilustre Professor Paulo Hamilton Siqueira Jr., pode controlar abstratamente (controle concentrado), também, as Súmulas Vinculantes (vistas anteriormente, quando da análise da estrutura e competências do STF) .
ADIN
Verifica-se que o ato municipal não está no campo de abrangência da ADIN (art. 102, I, “a”), como visto acima. A ADIN volta-se apenas contra lei ou ato normativo federal, ou lei ou ato normativo estadual. Tais atos, repita-se, não podem ter efeitos concretos e devem ferir diretamente a Constituição. Não se aprecia matéria de fato, mas apenas a lei em tese, genérica e abstrata.
Não cabe ADIN de atos políticos – discricionários (por exemplo, veto do Presidente da República). Quanto à lei distrital, embora o Distrito Federal não possua Constituição, mas Lei Orgânica, a Lei nº 11.697/08, em seu art. 8º, I, "n", previu a possibilidade de controle de lei ou ato normativo distrital em face da Lei Orgânica Distrital. Isto porque o DF tem natureza híbrida, de Estado-membro e Município ao mesmo tempo. É um Estado "anômalo", e sua Lei Orgânica ostenta galas de Constituição.
O mesmo, todavia, não ocorre quanto às leis municipais em face de Leis Orgânicas Municipais. Neste caso, o controle é apenas de legalidade, feito meramente pela via difusa.
A ADIN admite liminar (com efeitos “erga omnes” e vinculantes, pelo Ministro Relator – art. 102, I “p”) e é regulamentada pela Lei nº 9.868/99. A CF, no art. 102, I "p", menciona a palavra "cautelar", que em verdade quer dizer "liminar". A não concessão de liminar em ADIN, porém, não significa que a lei é constitucional com efeitos erga omnes e vinculantes, podendo os juízes, na via difusa, decretar a inconstitucionalidade da lei nos processos que estejam julgando.
Não se admite desistência após a propositura de uma ADIN (indisponibilidade), não se admitindo, igualmente, a intervenção de terceiros (o STF, todavia, admite a figura do amicus curiae – amigo da corte, que é o terceiro que demonstra interesse na causa e intervém com seus argumentos jurídicos).
Os legitimados para propositura de ADIN, como visto acima, estão no artigo 103. São eles: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
Como visto no tópico anterior, alguns legitimados precisam demonstrar especial interesse para propositura da ADIN. Este especial interesse é denominado "pertinência temática". Uma entidade de classe de âmbito nacional, por exemplo, deve demonstrar que está impugnando, na via concentrada, lei que lhe afete diretamente. Outros legitimados do art. 103, CF são "legitimados universais", isto é, não precisam demonstrar pertinência temática para ingressar com ADIN.
O STF vem admitindo a figura do amicus curiae no processo objetivo de controle de constitucionalidade, para prestar informações, colaborar, prestar esclarecimentos a "ajudar" a Corte. É o "amigo da Corte". Não se trata de terceiro, pois não é permitida a intervenção de terceiros no controle concentrado de constitucionalidade, mas o amicus curiae pode juntar informações, fazer sustentação oral e o único recurso que pode apresentar é contra sua própria inadmissão. O amicus curiae, em todo caso, deve ser pessoa jurídica, não sendo admitida a pessoa física como amicus curiae.
 O STF também vem admitindo, de forma inédita, audiência públicas. É uma situação inédita na Corte, pois o controle concentrado, que julga apenas a lei em tese, traz para perto de si matéria de fato, com audiências em que se fazem presentes peritos, o povo, técnicos, associações, etc., prestando informações não em tese, mas informações fáticas, técnicas, periciais, etc. É uma inovação do STF que aproxima um pouco o controle abstrato de questões de fato.
O efeito do acórdão do STF que julga a ADIN será contra
todos (“erga omnes”) e vinculante. Mas não vinculará o próprio STF, que pode rever suas decisões. Nem vinculará o Legislativo, que poderá editar nova lei em sentido contrário à decisão do STF, cumprindo sua missão de Poder independente e representante do povo. Se o Judiciário vinculasse o legislador, a democracia política estaria comprometida.
Proposta a ADIN, o Procurador-Geral da República será ouvido, emitindo um Parecer, e, em seguida, o Advogado-Geral da União defenderá o ato impugnado. Tanto o Parecer do Procurador-Geral da República quanto a defesa da lei por parte do Advogado-Geral da União não vinculam a decisão a ser tomada pelo STF.
O efeito da ADIN é, também, “ex tunc” (fulmina a lei desde sua edição). Mas o art. 27, da Lei nº 9.868/99 autorizou o STF a declarar a inconstitucionalidade da lei ou ato a partir de momento diverso daquele da edição da lei ou do ato (ou seja, o STF pode declarar a inconstitucionalidade “ex nunc”). Isto se dá em razão da segurança jurídica ou excepcional interesse social. É a chamada modulação de efeitos da ADIN. A lei poderá, então, ser declarada inconstitucional a partir de uma certa data, e não de sua edição. Ou apenas a partir do julgamento da ADIN. Na modulação de efeitos, o STF pode decidir a partir de qual data devem surgir os efeitos da inconstitucionalidade. A modulação de efeitos só pode ser decretada por 2/3 do STF.
O controle de constitucionalidade via ADIN não deixa de ser um instrumento político. Embora nas mãos apenas de alguns poucos legitimados, faz-se a presença da sociedade na vida estatal, através de poucos representantes, defendendo a Constituição na via concentrada.
Se uma ADIN for proposta por partido político e este vier a perder a representação parlamentar antes do julgamento, a ADIN prossegue até o final. Todavia, se a lei atacada for revogada no curso da ação, tem-se a carência superveniente do interesse de agir, e a ADIN é julgada prejudicada por perda de objeto (não se analisará o mérito). A alteração de paradigma (alteração de norma constitucional por Emenda) também causa prejudicialidade da ADIN.
Quanto à necessidade de advogado para se propor uma ADIN, o STF entende que apenas os partidos políticos, as confederações sindicais e as entidades de classe de âmbito nacional necessitam do referido profissional, mediante instrumento de mandato, decorrendo a capacidade postulatória, quanto aos demais legitimados, da própria Constituição.
A ADIN tem caráter dúplice: se julgada procedente, declara a inconstitucionalidade da lei atacada; se julgada improcedente, julga a constitucionalidade da lei atacada.
Não cabe rescisória de acórdão proferido em ADIN.
A desobediência à decisão proferida em uma ADIN enseja o recurso de Reclamação (art. 102, I "l" e Regimento Interno do STF), e aqueles que desafiarem a decisão estarão sujeitos a responder por crime contra a Administração Pública, responsabilidade civil e infração administrativa (esta precedida do regular processo administrativo). Eventualmente, poder-se-á, também, cogitar-se da ocorrência do crime de desobediência.
ADECON
A ADECON surgiu com a Emenda nº 03/93. Surgiu por necessidade de segurança jurídica. Se uma lei, após devidamente publicada, começa a causar instabilidade jurídica, o Presidente, por exemplo, pode se antecipar a uma eventual ADIN e propor uma ADECON, que objetiva, ao contrário da ADIN, a declaração de constitucionalidade da norma. Deve-se demonstrar a polêmica na petição inicial da ADECON (art. 14, inciso III, da Lei nº 9.868/99).
A ADECON, diferentemente da ADIN, só pode ser proposta contra lei ou ato normativo federal. É, também, em face de leis abstratas e genéricas. Não se aprecia matéria de fato.
Não cabe ADECON de atos políticos – discricionários (por exemplo, veto do Presidente da República).
A ADECON admite liminar (pelo Ministro Relator – art. 102, I “p” ) e também é regulada pela Lei nº 9.868/99.  Tem caráter dúplice, tal qual a ADIN, mas tem apenas a participação do Procurador-Geral da República, emitindo um Parecer (não há necessidade do Advogado-Geral da União defender a constitucionalidade da lei porque tal já virá expresso na petição inicial da ADECON).
Da mesma forma que na ADIN, os efeitos da liminar ou acórdão na ADECON são “erga omnes” e vinculantes. Mas não vinculam o próprio STF, que pode rever suas decisões. Não cabe ação rescisória de decisão em ADECON. Admite-se a figura do amicus curiae (visto acima para a ADIN).
Os legitimados são os mesmos da ADIN (art. 103, CF). Os autores interessados devem demonstrar pertinência temática. Como na ADIN, a desobediência à decisão proferida em uma ADECON enseja o recurso de Reclamação, e aqueles que desafiarem a decisão estarão sujeitos a responder por crime contra a Administração Pública, responsabilidade civil e infração administrativa (esta precedida do regular processo administrativo).
A ADECON tem caráter dúplice: se julgada procedente, declara a constitucionalidade da lei; se julgada improcedente, julga a inconstitucionalidade da lei.
ADIN POR OMISSÃO
A ADIN por omissão (art. 103, § 2º, CF) objetiva suprir a mora do Poder Legislativo ou Executivo em legislar ou produzir o ato administrativo, respectivamente. Quando o Congresso Nacional (Poder Legislativo) não legisla para complementar a Constituição, diz-se que está em mora. Está omisso.
A ADIN por Omissão, por isso mesmo, tem sentido fiscalizatório.
Assim, os mesmos legitimados da ADIN e ADECON (art. 103, CF) podem ajuizar uma ADIN por Omissão, para que a lei faltante seja elaborada pelo Legislativo. A ADIN por Omissão não comporta liminar e também não admite desistência. É regulada pela mesma Lei nº 9.868/99, que regulamenta a ADIN e ADECON. Desenvolve-se com um Parecer do Procurador-Geral da República, após o protocolo da petição inicial, e pode ter a oitiva do Advogado-Geral da União, se o STF assim entender. Admite a ADIN por Omissão a figura do amicus curiae (como visto acima para a ADIN).
A principal diferença entre a ADIN e ADECON está nos efeitos. Não há, aqui, na ADIN por Omissão, efeitos “erga omnes” e vinculantes. Se o STF declarar a omissão, e, portanto, que realmente está faltando norma regulamentadora, temos 2 efeitos: a) se o ato faltante for de órgão administrativo, o STF dará ciência ao órgão administrativo para fazê-lo em 30 dias, sob pena de ajuizamento de Reclamação e configuração de crime contra a Administração Pública, responsabilidade civil e infração administrativa; b) se o ato faltante for de um Poder, apenas se dará ciência ao Poder para fazer o ato e suprir, assim, a omissão.
O efeito quanto à omissão de um Poder (por exemplo, omissão do Legislativo em legislar), pode ser, na prática, nulo, na medida em que não se pode obrigar o Legislativo a legislar. Não se poderá, igualmente, puni-lo por crime contra a Administração Pública, responsabilidade civil ou infração administrativa. Se o STF obrigasse o Legislativo a legislar, na decisão de omissão, estaria havendo invasão de um Poder no outro, em ferimento ao art. 2º, da Constituição (separação dos Poderes).
Se a lei faltante surgir, todavia, e for publicada no curso da ADIN por Omissão, ocorre a perda de objeto por carência superveniente do interesse de agir. A ADIN por Omissão será arquivada.
Busca-se com a ADIN por Omissão, portanto, a edição de ato normativo, e não de efeitos concretos. Busca-se suprir o dever do legislador em legislar. Mas, diferentemente do que ocorre com a ADIN e ADECON, na ADIN por Omissão poderá o STF analisar matéria de fato.
- Diferenças entre ADIN por Omissão e Mandado de Injunção (art. 5º, LXXI):
a) o objeto do Mandado de Injunção é menor, mais restrito (art. 5º, LXXI, CF)
b) a legitimidade da ADIN por Omissão é menor, mais restrita
c) Mandado de Injunção dá-se objetivando ato concreto, e ADIN por Omissão revela-se instrumento de controle abstrato, para edição de norma abstrata e genérica
d) no Mandado de Injunção permite-se que o Judiciário legisle provisoriamente em concreto, e na ADIN por Omissão não (embora estes dois
temas sejam controversos)
e) Mandado de Injunção pode ser julgado pelo STF e STJ, além da Justiça Militar, Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Estadual (esta última pelo TJ de cada Estado-membro), ao passo que a ADIN por Omissão só pode ser julgada pelo STF
ADIN INTERVENTIVA
A ADIN Interventiva objetiva a expedição de um Decreto de Intervenção por parte do Presidente da República, conforme já estudado, no capítulo da Intervenção.
O único legitimado para propor a ação é o Procurador-Geral da República (art. 36, III, CF), no caso de descumprimento, por parte dos Estados, dos princípios sensíveis (34, VII, CF) ou de recusa à execução de lei federal (34, VI, CF).
Se um Estado ou o Distrito Federal fere a forma republicana, o regime democrático ou a autonomia municipal, por exemplo, o Procurador-Geral da República ajuíza ADIN Interventiva no STF, que, julgando-a procedente, obrigará o Presidente da República a baixar um Decreto de intervenção no Estado. O não atendimento por parte do Presidente importa crime de responsabilidade. A edição do Decreto de Intervenção por parte do Presidente é, pois, vinculada. Trata-se de requisição.
A ADIN Interventiva não admite liminar. O Advogado-Geral da União não participa e não é necessário um novo parecer do Procurador-Geral da República no processo, pois suas razões já constam da petição inicial. A ADIN Interventiva está disciplinada no Regimento Interno do STF. O efeito, portanto, é peculiar: a determinação para que o Executivo expeça um Decreto de intervenção.
A ADIN Interventiva tem dupla finalidade: jurídica e política. Objetiva restabelecer o pacto federativo e a integridade nacional. Neste caso, ao contrário de alguns outros casos de intervenção, fica dispensada a apreciação e aprovação do Decreto de intervenção pelo Congresso Nacional (art. 36, § 3º, CF).
A ADIN Interventiva Estadual será estudada abaixo (intervenção nos Municípios).
ADPF
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental serve para reparar grave lesão à Constituição. Encontra-se prevista no art. 102, § 1º, CF e é regulada pela Lei nº 9.882/99. A ADPF busca a defesa da integridade da Constituição e dos direitos fundamentais.
Muito se discute, na doutrina e jurisprudência, sobre o que seria “preceito fundamental”. Basicamente são os preceitos dos Títulos I e II da Constituição (Princípios Fundamentais e Direitos e Garantias Fundamentais). Mas podem ser encontrados outros preceitos fundamentais dispersos pelo texto constitucional. Preceitos fundamentais são grandes comandos que informam o sistema constitucional, estabelecendo bases imprescindíveis à defesa da Constituição. Preceito é base, alicerce, ordem, mandamento, regra, em suma, um fundamento.
Luiz Alberto David Araujo enumera como preceitos fundamentais : a) preceitos que identificam a forma e estrutura do Estado (federalismo, princípio republicano, etc.); b) sistema de governo (presidencialista); c) divisão e funcionamento dos Poderes; d) princípios fundamentais; e) direitos fundamentais; f) ordem econômica; g) ordem social.
O art. 1º, da Lei nº 9.882/99, assenta que a ADPF pode ser preventiva (para evitar a lesão a preceito fundamental) ou repressiva (para reparar lesão já ocorrida a preceito fundamental).
O art. 1º, parágrafo único, I, da citada lei, traz, também, uma inovação importante, que não ocorre na ADIN e ADECON: a ADPF pode fazer o controle concentrado de atos não normativos (por exemplo, atos em licitações, contratos administrativos ou concursos públicos), atos de agentes privados que agem por delegação do Poder Público, atos inacabados, atos anteriores à Constituição e atos municipais em face da CF (atos federais, estaduais e distritais também).
Não cabe ADPF, assim como não cabe ADIN e ADECON de atos políticos – discricionários (por exemplo, veto do Presidente da República).
Muitos autores entendem que este parágrafo único supra é inconstitucional. Não poderia lei infraconstitucional prever, por exemplo, o controle concentrado diretamente do STF de atos municipais ou de atos anteriores à Constituição.
Os legitimados para a propositura são os mesmos da ADIN, ADECON e ADIN por Omissão (art. 103, CF). O STF, desta feita por maioria absoluta, pode conceder liminar. Admite-se, também, a figura do amicus curiae.
A decisão tem efeitos “erga omnes” e vinculantes para todos os órgãos do Poder Público. Não cabe ação rescisória do julgado, mas o STF pode rever o julgado (os efeitos vinculantes a ele não se aplicam). O STF pode solicitar a oitiva do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República.
Cabe recurso de Reclamação contra aqueles que desafiarem a decisão proferida em ADPF, além de estarem sujeitos a responder por crime contra a Administração Pública, responsabilidade civil e infração administrativa (esta precedida do regular processo administrativo).
 A ADPF não tem natureza dúplice como a ADIN e ADECON. Apenas verifica o descumprimento de preceito fundamental. Segundo o art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99, a ADPF tem caráter subsidiário, isto é, deve ser utilizada somente quando não houver outro meio de se sanar a lesão.
O art. 11, da lei sob comento, autorizou o STF a declarar a inconstitucionalidade da lei ou ato a partir de momento diverso daquele da edição da lei ou do ato (ou seja, o STF pode declarar a inconstitucionalidade “ex nunc”). Isto se dá em razão da segurança jurídica ou excepcional interesse social. É a chamada modulação de efeitos (vista acima quando do estudo da ADIN). A lei poderá, então, ser declarada inconstitucional a partir de uma certa data, e não de sua edição. Ou apenas a partir do julgamento da ADPF. Na modulação de efeitos, o STF pode decidir a partir de qual data devem surgir os efeitos da decisão. A modulação de efeitos só pode ser decretada por 2/3 do STF.
CONTROLE CONCENTRADO NO ÂMBITO ESTADUAL
O controle concentrado no âmbito estadual é feito pelo Tribunal de Justiça – TJ de cada Estado. O art. 125, § 2º, da Constituição, facultou aos Estados instituírem as regras para ADIN Estadual, ADIN por Omissão Estadual e ADIN Interventiva Estadual por meios de suas Constituições Estaduais e leis estaduais. Portanto, as regras podem variar um pouco de Estado para Estado.
Mas a Constituição Federal deixou bem claro que as ações de inconstitucionalidade no âmbito estadual referem-se apenas a leis ou atos normativos estaduais ou municipais que estejam ferindo a Constituição Estadual. Assim, não cabe, também em nível estadual, o controle concentrado de lei municipal que esteja ferindo diretamente a Constituição Federal, com exceção dos casos de norma repetida, vistos logo abaixo.
As leis e atos controlados pelo TJ (concentradamente) são apenas estaduais ou municipais que estejam ferindo a CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. A Constituição Federal vedou a possibilidade da Constituição Estadual atribuir legitimação para agir a apenas um órgão. Assim, os legitimados devem ser, por exemplo, o Governador, o Prefeito, o Procurador-Geral de Justiça (Chefe do Ministério Público Estadual) e assim por diante.
Quanto à ADIN Interventiva Estadual, acima estudada, temos que o TJ a julga nos casos do 35, IV, da CF/1988 (o Procurador-Geral de Justiça ingressa com ADIN Interventiva Estadual em caso de desobediência a princípios da Constituição Estadual, desobediência à lei estadual ou municipal ou desobediência a ordem ou decisão judicial).
A ADIN Interventiva Estadual busca um Decreto de intervenção por parte do Governador, para intervir em um Município. Nos termos do art. 36, § 3º, da CF/1988, fica dispensada a apreciação deste Decreto por parte da Assembléia Legislativa. A decisão na ADIN Interventiva Estadual obriga o Governador a baixar o Decreto, sob pena de crime de responsabilidade.
No mais, a ADIN e ADIN por Omissão estaduais seguem as regras gerais da ADIN federal e ADIN por omissão federal estudadas. Note-se que, em nível estadual, quem faz o papel do Advogado-Geral da União na defesa do ato impugnado é o Procurador-Geral do Estado. Não existe ADECON ou ADPF no âmbito estadual,
embora algumas Constituições Estaduais tentem implementá-las.
Questão relevante é sabermos sobre a norma repetida. Vejamos o caso de uma lei municipal (em controle concentrado perante o TJ) que esteja ferindo uma norma da Constituição Estadual que é repetida da Constituição Federal. A norma ferida, da Constituição Estadual, é mera repetição de uma norma da Constituição Federal. Um dos legitimados ingressa com ADIN Estadual, perante o TJ. Estaria ocorrendo, por via oblíqua, por via transversa, o controle concentrado de lei municipal em face da Constituição Federal, que é proibido? A resposta é não. O STF permite o controle da lei municipal mesmo que norma da Constituição Estadual ferida seja norma repetida da Constituição Federal. Só que, neste caso, fica aberta a possibilidade de Recurso Extraordinário para o STF da decisão final do TJ. 
MÓDULO 2 - AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO
Tivemos até hoje dois documentos firmados por vários países que se constituíram em meros protocolos de intenções, sem a força de Tratados, denominados "Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1789" (França) e "Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948" (ONU) Foram recomendações muito importantes para todos os países. O nome das Declarações pode variar, p. ex., para "Declaração Universal dos Direitos do Homem" ou, simplesmente, "Declaração dos Direitos do Homem".
Segundo estas Declarações, o direito de defesa, com todos os meios a ele inerentes, é "sagrado". O art. XI, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (ONU), diz que: "Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa".
Os arts. 7º e 9º, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1789 (França), diziam: "Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas"; "Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado". De notar-se que esta primeira Declaração dos Direitos Humanos não trouxe, expressamente, o princípio da ampla defesa.
Nossa Constituição atual, de 1988, em seu art. 5º, inc. LV, trouxe expressamente o princípio da ampla defesa: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. No inciso LIV há uma disposição desnecessária, referente ao "devido processo legal". Aliás, o "contraditório", deste inciso, também não precisaria estar no texto constitucional, uma vez que a ampla defesa já engloba, logicamente, "contraditório" e "devido processo legal".
O contraditório e ampla defesa são direitos fundamentais públicos, isto é, se aplicariam apenas a processos públicos, judiciais e administrativos. Contraditório é a bilateralidade dos atos processuais, a possibilidade de contestar um ato processual da outra parte. Portanto, permite-se o acesso a todo tipo de provas e atos tendentes à defesa. Contraditar é responder. Qualquer juntada de documento deve ser mostrada à parte contrária. Qualquer petição deve ser vista pela parte contrária, dando-se-lhe a oportunidade de rebater às alegações. A falta de abertura do contraditório para uma das partes enseja a nulidade total do processo a partir de onde ocorreu.
O STF, contudo, no Recurso Extraordinário nº 201.819 e no Mandado de Segurança nº 24.268, decidiu pela aplicação da ampla defesa e do contraditório também no âmbito do Direito Privado, no caso de expulsão ou exclusão de sócio de sociedade sem fins lucrativos. Ainda, no Recurso Extraordinário nº 158.215/RS, o STF determinou a aplicação da ampla defesa e contraditório no procedimento de expulsão ou exclusão de associado de Cooperativa.
Firmou-se, assim, a expressão "constitucionalização do Direito Privado", isto é, a aplicação de princípios de defesa que antes eram só para processos públicos, previstos na CF, também para processos de entidades privadas. A questão é muito debatida pois, caso um grupo de pessoas forme um pequeno "clube", p. ex., nele poderão entrar e sair quem elas determinarem. Em tese, não se necessitaria de ampla defesa para expulsão de quem não estivesse agindo de acordo com a vontade do clube! Mas o STF tende a determinar o direito de defesa para o particular, face a uma entidade particular. É a "constitucionalização do Direito Privado".
O STF utilizou-se principalmente da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF), além da previsão, em nosso art. 3º e seus incisos, da proibição de discriminação e exigência de fraternidade, solidariedade e outros princípios e direitos fundamentais da Constituição. Os princípios do devido processo legal, contraditório e ampla são princípios públicos, aplicáveis até hoje apenas a processos judiciais que tramitassem no Poder Público.
O movimento atual do STF é no sentido de exigir a aplicação dos princípios públicos de direitos fundamentais (no caso, direitos individuais processuais), antes só aplicáveis a processos judiciais e administrativos, também à esfera privada. A eficácia dos direitos fundamentais seria fortíssima e deveria extrapolar os muros do Direito Público e dos processos meramente públicos, aplicando-se às relações de Direito Privado. Teríamos, então, a novidade da “constitucionalização do Direito Privado”.
MÓDULO 3 - DIGNIDADE DA PESSOA E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental, constante do art. 1º, III, CF. A Constituição é quase toda formada por princípios, isto é, valores que são vetores para a conduta do legislador ordinário e Poder Público e Privado em geral. Princípios não são regras, como as leis, porque não têm sanção. Têm apenas carga valorativa e a função de orientar o rumo do ordenamento jurídico brasileiro e mostrar a intenção do povo que fez a Constituição.
A dignidade da pessoa humana é um princípio que exprime a necessidade de todos terem o direito de experimentar um conforto mínimo material e espiritual. Os valores morais e espirituais que a pessoa cultiva devem ser protegidos, e o Estado deve fornecer os meios necessários para que o ser humano alcance moradia, saúde, educação, lazer, etc. A dignidade da pessoa humana realça a autodeterminação da própria vida e o respeito à vida alheia.
Veja-se o que diz a Declaração dos Direitos do Homem da ONU (1948): "Art. 1º - Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.
A dignidade da pessoa humana aparece no texto constitucional como FUNDAMENTO da República Federativa do Brasil. Caminha, pari passu, com os OBJETIVOS previstos no art. 3º, CF: eliminação do preconceito e da discriminação de qualquer espécie no Brasil (art. 3º, incs. I e IV, e XLV, CF).
Em 2011, o STF julgou inconstitucional o art. 1.723, do Código Civil, o qual permitia apenas a união estável entre homem e mulher. Decidiu o STF, na ADPF 132/RJ, pela possibilidade de união homoafetiva no Brasil, em homenagem ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Vejamos o item 2 da Ementa do julgado: "O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta como fator de desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da Constituição Federal, por colidir frontalmente com o objetivo constitucional de “promover o bem de todos”. Silêncio normativo da Carta Magna a respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da kelseniana “norma geral negativa”, segundo a qual “o que não estiver juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido”. Reconhecimento do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da “dignidade da pessoa humana”: direito a auto-estima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto normativo da proibição do preconceito
para a proclamação do direito à liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz parte da autonomia da vontade das pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade nos planos da intimidade e da privacidade constitucionalmente tuteladas. Autonomia da vontade. Cláusula pétrea".
O mesmo ocorreu com a Lei de Biossegurança – Lei nº 11.105/05, que permite a pesquisa de células-tronco com embriões in vitro (óvulos já fecundados), vivos, e, ao depois, o seu descarte.
O STF decidiu que o embrião concebido fora do útero (in vitro) pode ser descartado após ter células-tronco retiradas para salvar a vida dos que sofrem com paralisias e doenças de toda sorte, por não ter este embrião chances de sobrevida uterina. Novamente em pauta a questão da dignidade da pessoa humana.
Como não será reimplantado no útero, o embrião in vitro não se completará como "pessoa", no sentido que a CF quis proteger. Quando a CF fala em "direitos da pessoa humana", não se refere a embrião, disse o STF.
O STF ressaltou que o julgamento não se tratava de discussão sobre o aborto, mas de embrião que não chegará nunca a se formar e ser uma pessoa, no sentido que o ordenamento jurídico concebe o termo "pessoa". A Lei de Biossegurança, disse o STF, protegeu a vida dos que sofrem e podem ter algum conforto com a pesquisa científica.
O STF adotou a corrente "neurológica" sobre o conceito de vida, em que o embrião somente teria "vida" com suas terminações nervosas completas, o que ocorre somente em algumas semanas após a fecundação.
A ADIN nº 3.150/DF julgou, então, plenamente CONSTITUCIONAL a Lei de Biossegurança em 2008. Vejamos uma passagem da Ementa do julgado: "Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade".
Por fim, interessante mencionar a ADPF nº 54, que firmou entendimento no sentido da possibilidade do aborto, pela gestante, do feto anencéfalo, isto é, sem cérebro. Os princípios constitucionais correlatos, os quais foram aplicados em paralelo com a dignidade da pessoa humana, são: liberdade, intimidade e vida privada da gestante – constitucionalidade da mulher decidir sobre o próprio corpo e sofrimento. Neste caso, o STF julgou por analogia aos dois casos já existentes no art. 128, do Código Penal, ali inserindo mais um.
MÓDULO 4 – INTERVENÇÃO
A intervenção é um elemento de estabilização constitucional, destinado a trazer de volta o país ao equilíbrio e normalidade. Assim, a intervenção é exceção, para restabelecimento da paz e do desequilíbrio institucional. Um ente da federação não pode, como regra, intervir no outro. Se a paz social for ameaçada, por exemplo, a União pode intervir nos Estados, afastando o Governador e demais autoridades envolvidas, e fazendo uso do Exército, tudo para restabelecer a harmonia vulnerada.
A intervenção federal se faz por Decreto do Presidente da República. Somente o Executivo pode fazer intervenção. A intervenção federal pode ser espontânea ou provocada, conforme casos previstos nos artigos 34 e 35, CF.
A intervenção federal espontânea consta dos incisos I, II, III e V, do art. 34, CF, como no caso de intervenção para manter a soberania nacional ou pôr termo a grave comprometimento da ordem pública. São hipóteses em que o Presidente age sozinho, de ofício, sem consulta a qualquer Poder ou órgão, dispensados quaisquer requisitos. É critério discricionário do Presidente da República. Ele intervém segundo seu único e exclusivo convencimento.
Todavia, no caso de descumprimento de ordem judicial, previsto no art. 34, inciso VI, CF, é necessária provocação do STF e este requisita (ordena) a intervenção a ser feita pelo Presidente. Neste caso, o Presidente é obrigado a atender a ordem do STF, sob pena de crime de desobediência. Este é um caso de intervenção provocada, conforme previsão, também, no art. 36, II, CF.
O Decreto de intervenção é submetido à apreciação do Congresso Nacional em 24 horas (art. 36, § 1º, e art. 49, IV). No caso do 34 VI, todavia, fica dispensada a apreciação do Congresso Nacional (36, § 3º). Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas podem retornar a seus cargos (36, § 4º).
Um exemplo do que foi dito acima pode ser estudado na Intervenção nº 2.915, requerida por uma detentora de créditos de Precatório contra o Estado de São Paulo. O Governador de SP não lhe pagou o Precatório de acordo com a ordem constitucional (art. 100, CF), e foi pedida ao STF requisição de intervenção por descumprimento de ordem judicial (art. 34, VI, CF).
O STF, contudo, optou por não requisitar a intervenção, sob 3 argumentos: a) autonomia dos Estados no Federalismo; b) mínimo existencial versus reserva do possível; c) princípio da proporcionalidade.
Quanto à autonomia dos Estados, o voto vencedor do Min. Gilmar Mendes asseverou que substituir um Governador por um Interventor é medida drástica que, uma vez promovendo o rompimento da indissolubilidade do pacto federativo, deve ser tomada, embora com autorização constitucional, somente em último caso.
Em segundo lugar, o mínimo existencial, que é o valor do Precatório para subsistência da cidadã prejudicada, deve ceder diante da reserva do possível, isto é, da impossibilidade financeira comprovada pelo Estado, que não poderia pagar aos cidadãos na ordem e tempo previstos na Constituição sem comprometer o orçamento da saúde, educação, segurança, transporte, etc.
Por fim, aplicou-se o princípio da proporcionalidade, que é a ponderação final de valores. A medida (intervenção) era adequada e necessária, porém de nada adiantaria, haja vista que o Interventor continuaria sem poder pagar. Na ponderação final dos direitos em jogo, optou-se por harmonizar entre o possível e real e o impossível. O direito ao valor do Precatório, no caso, cedeu passo ao orçamento do Estado já comprometido com a coletividade.
Não nos esqueçamos, também, que a Adin Interventiva, portanto, é uma modalidade de ação constitucional cujo desfecho objetiva determinar à União que faça uma intervenção num Estado ou determinar que este faça uma intervenção num Município.
A Adin Interventiva (36, III, CF) é proposta pelo Procurador-Geral da República perante o Supremo Tribunal Federal. Caso seja dado provimento a esta ação constitucional, o Presidente da República é obrigado a fazer a intervenção num Estado, sob pena de desobediência e, igualmente, impeachment.
A Adin Interventiva é manejada quando ferido um dos princípios sensíveis e quando há recusa à execução de lei federal. Tudo que aqui se diz vale, também, para o âmbito estadual, quando o Estado intervém num Município.
Os princípios sensíveis são: a) forma republicana; b) sistema representativo; c) regime democrático; d) direitos da pessoa humana; e) autonomia municipal; f) prestação de contas da administração pública direta e indireta; g) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
O Presidente, então, baixa um Decreto interventivo afastando provisoriamente o Governador e todas as autoridades envolvidas na causa da intervenção. O Presidente (e isto também vale para o âmbito estadual) pode tomar todas as medidas necessárias ao restabelecimento da harmonia, hipótese em que as autoridade afastadas voltam a seus cargos.
1 - A intervenção da União nos Estados pode ser:
A - espontânea ou provocada
B - legal ou ilegal
C - requisitada ou particular	
D - federal ou internacional
E - especial ou comum
2 - A intervenção é feita por:
A 	lei
B 	Medida Provisória
C 	Decreto
D 	acórdão do STF
E 	inquérito policial
3 - No caso de intervenção federal por desobediência a ordem judicial:
A é necessária a edição de lei para se decretar a intervenção
em 48 horas
B fica dispensada, pelo Congresso Nacional, a apreciação do Decreto de intervenção
C o ato de intervenção será submetido ao Congresso Nacional em até 30 dias
D o Presidente da República age discricionariamente
E o Presidente deve baixar uma Medida Provisória Interventiva
4 - No pedido de Intervenção 2.915, o STF não requisitou a intervenção:
A por causa do interesse particular específico, que estava preterindo outros interesses particulares
B em razão da preservação do Poder Legislativo
C em função da ineficácia do Poder Executivo
D em razão de pressão política do Congresso Nacional
E em função da ineficácia da medida, uma vez que o Estado de SP não poderia, como comprovado, em razão de seu orçamento, saldar o Precatório no prazo constitucional
5 - "Para não realizar o pedido de Intervenção 2.915, o STF aplicou, dentre outros critérios, o ________________, que é a ponderação final de valores. A medida (intervenção) era adequada e necessária, porém de nada adiantaria, haja vista que o Interventor continuaria sem poder pagar. Na ponderação final dos direitos em jogo, optou-se por harmonizar entre o possível e real e o impossível. O direito ao valor do Precatório, no caso, cedeu passo ao orçamento do Estado já comprometido com a coletividade". Complete o espaço em branco com a alternativa correta:
A princípio da moralidade
B princípio da legalidade
C princípio da eficácia jurídica
D princípio da proporcionalidade
E princípio da eficácia
6 - O princípio da proporcionalidade, por vezes utilizado para aferição da aplicabilidade da intervenção, também é conhecido como princípio da:
A moralidade
B impessoalidade
C razoabilidade
D necessidade
E ultratividade
7 - "As duas Declarações de Direitos do Homem que tivemos até hoje, de _______ e _______, foram _____________". Complete os espaços em branco com a alternativa correta abaixo:
A 1945/1988/Tratados obrigatórios para os países signatários
B 1789/1948/meros documentos de intenções, não obrigando os países signatários
C 1822/1888/leis internacionais obrigatórias para todos os países do mundo
D 1742/1964/protocolo de intenções entre os países ocidentais, obrigando-os ao seu cumprimento
E 1922/1924/decretos internacionais firmados pelos Estados brasileiros
8 - A todos os acusados em geral:
A são asseguradas a ampla defesa e Adin, para defesa de seus interesses em juízo
B é assegurado o contraditório, como possibilidade de não revelar provas indispensáveis à sua soltura
C é assegurada a ampla defesa, com quaisquer meios a ela inerentes
D é assegurado o devido processo legal, que se traduz pela possibilidade dos acusados impetrarem Adin e Adecon no STF para garantia de seus direitos fundamentais
E é devida a prisão domiciliar ou prisão progressiva
9- A expressão "constitucionalização do Direito Privado" significa que:
A o Direito Público e Privado, agora, são um só
B o Direito Público está, aos poucos, abraçando os princípios do Direito Privado
C o Direito Privado prepondera sobre o Direito Público
D o Direito Privado é o mesmo que Direito Constitucional
E alguns princípios de Direito Público, como a ampla defesa, estão gradativamente sendo aplicados a relações privadas
10 - Um dos fundamentos para que o STF aplique o princípio da ampla defesa ao âmbito privado é:
A dignidade da pessoa humana
B direito fundamental de moradia
C direito ao lazer
D direito à segurança pública
E direito à publicidade
11 - A aplicação da ampla defesa aos processos internos de uma empresa ou associação privada fundamenta-se, segundo recentes julgados do STF, nos princípios da:
A publicidade e eficiência
B legalidade e impessoalidade
C moralidade e efetividade
D fraternidade e solidariedade
E publicidade e eficiência
12 - Assinale a alternativa que melhor conceitua o direito ao contraditório:
A a citação deve ser ato realizado por Oficial de Justiça
B nenhuma condenação passará da pessoa do condenado
C o acesso à Justiça é sempre franqueado a quem se sentir ameaçado ou sofrer efetiva lesão
D a juntada de um documento nos autos deve ser comunicada à parte ex adversa
E o sigilo telerônico só pode ser quebrado pelo juiz
13 - Assinale a alternativa correta:
A a dignidade da pessoa humana é objetivo da República Federativa do Brasil
B a dignidade da pessoa humana é fundamento da República Federativa do Brasil
C a dignidade da pessoa humana é lei 
D a dignidade da pessoa humana é norma infraconstitucional
E a dignidade da pessoa humana é um decreto regulamentar
14 - A dignidade da pessoa humana está no Título I da CF - Princípios Fundamentais. Isto significa dizer que:
A os princípios têm carga valorativa e todos possuem direito de experimentar um conforto pessoal mínimo
B os princípios têm carga normativa e todos possuem direito à legalidade
C cada um deve buscar, sem interferência do Estado, meios para sua própria dignidade
D a dignidade da pessoa humana surgiu no mundo, pela primeira vez, com a Declaração dos Direitos do Homem da ONU, em 1948
E os princípios constitucionais são normas infraconstitucionais e dependem de lei
15 - A ADPF nº 132/RJ:
A julgou constitucional a união estável entre homem e mulher
B julgou inconstitucional o casamento homoafetivo
C julgou constitucional a Lei de Biossegurança
D julgou inconstitucional o Código Civil
E julgou inconstitucional o art. 1.723, CC, o qual só permitia a união estável entre homem e mulher
16 - No julgamento da ADIN nº 3.150/DF, o STF julgou:
A inconstitucional o aborto do feto sem cérebro
B constitucional o casamento homoafetivo
C constitucional a pesquisa com células-tronco, descartando-se os embriões já fecundados após a extração das células-tronco
D inconstitucional o aborto do feto sem cérebro
E constitucional o aborto sob todas as suas formas
17 - Na ADPF nº 54, o STF julgou constitucional o aborto do feto sem cérebro. Assinale a alternativa INCORRETA:
A Este julgado incluiu, por analogia, mais uma hipótese de aborto legal ou necessário às hipóteses de aborto permitidas pelo art. 128, CP
B O STF expressamente mencionou que se tratava de um direito da mulher, decorrente da dignidade da pessoa humana
C O STF decidiu, ao autorizar o aborto do feto sem cérebro, que o direito fundamental de liberdade, intimidade e vida privada deveriam preponderavam na análise da questão
D O aborto do feto sem cérebro pode ser negado pelos juízes de primeira instância, pois a ADPF nº 54 não tem efeitos erga omnes nem vinculantes
E O aborto do feto sem cérebro não incrimina mais os médicos, hospital, enfermeiros e todos os envolvidos no processo
18 - Os princípios:
A possuem carga normativa
B não possuem sanção e têm carga valorativa com aplicabilidade imediata
C têm carga normativa e possuem sanções meramente civis
D possuem sanções civis e penais
E possuem sanções penais e prazo de vigência
19 - São princípios constitucionais penais:
A legalidade na Administração Pública
B retroatividade da lei penal, salvo in bonam partem
C individualização da pena
D permissão de juízo de exceção
E impessoalidade e ética
20 - "Art. 5º, XLIII, CF: A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da ___________, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como ____________, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. A liberdade é a regra. Mas a própria Constituição retira a possibilidade de fiança aos que cometerem os delitos descritos acima". Complete os espaços em branco com a alternativa correta:
A homicídio/roubo
B latrocínio/estupro
C estelionato/corrupção
D tortura/crimes hediondos
E furto/fraude
21 - A Lei nº 8.072/90, conhecida como Lei dos Crimes Hediondos, em seu art. 2º, § 1º, impôs o cumprimento de pena em regime integralmente fechado para crimes hediondos. Assinale a alternativa correta:
A No HC nº 82.959-7/SP, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, o STF decidiu que o regime integralmente
fechado do cumprimento de pena para crimes hediondos era inconstitucional por causa da individualização da pena prevista no art. 5º, inciso XLVI, da CF
B No HC nº 82.959-7/SP, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, o STF decidiu que o regime integralmente fechado do cumprimento de pena para crimes hediondos era constitucional, pois a individualização da pena, prevista no art. 5º, inciso XLVI, da CF, recomenda mais dureza contra crimes bárbaros
C No HC nº 82.959-7/SP, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, o STF decidiu que o regime integralmente fechado do cumprimento de pena para crimes hediondos era constitucional, por causa do princípio da legalidade
D No HC nº 82.959-7/SP, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, o STF decidiu que o regime integralmente fechado do cumprimento de pena para crimes hediondos era inconstitucional por causa da isonomia que deveria ser aplicada a todos os apenados
E No HC nº 82.959-7/SP, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, o STF decidiu que o regime integralmente fechado do cumprimento de pena para crimes hediondos era constitucional por causa da ética na relação entre a Polícia e o Judiciário
22 - Assinale a alternativa correta:
A a individualização da pena não permite a utilização do habeas corpus
B o habeas corpus é uma ação prevista apenas na legislação infraconstitucional
C o regime fechado só pode ser aplica a crimes culposos com pena inferior a um ano
D O habeas corpus é uma ação constitucional destinada à proteção de danos morais e patrimoniais e pode ser impetrado pelo próprio coagido, sem necessidade de advogado e um dos argumentos favoráveis à progressão de regime para apenados por crimes hediondos é a ressocialização do preso
23 - Os únicos tipos de penas que podem ser aplicadas no Brasil, previstas na Constituição, são:
A privação ou restrição da liberdade; b) tortura; c) multa; d) confisco; e) interdição de direitos
B extradição; b) perda de bens; c) multa o confisco tributário; d) prestação social alternativa; e) suspensão direitos
C cassação política; b) deportação; c) expulsão; d) prestação comunitária; e) perda dos direitos políticos e nacionalidade
D regime semi-fechado; b) ingestão forçada de medicamentos; c) pena de morte para crimes hediondos; d) trabalhos forçados; e) perda da capacidade penal
E privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos
24 - "Não há crime sem lei anterior que o defina". O princípio em questão trata da:
A anterioridade
B individualização das penas
C legalidade
D moralidade
E
MÓDULO 5 - LIBERDADE ARTÍSTICA E DE EXPRESSÃO
Consoante o inciso IX, do art. 5º, CF, a liberdade de expressão intelectual, artística, científica ou de comunicação é total e irrestrita no Brasil, independentemente de censura, permissão ou licença. Todavia, por evidente, esta liberdade não pode ferir direitos de terceiros, nem invadir a esfera de liberdade de terceiros, sob pena de ocorrência de danos materiais e morais, além do direito de resposta.
Questão interessante, também, encontramos no art. 220, CF: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”.
Portanto, ficou proibida no Brasil a censura, inclusive a ideológica, política e artística (art. 220, § 2º, CF – "É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística"). A liberdade de expressão sofre apenas a restrição prévia da classificação indicativa, prevista na própria CF. Não significa, portanto, que a liberdade de expressão não encontre limites previstos na própria CF.
Os limites à liberdade de comunicação que a própria Constituição traz objetivam a proteção, como o texto constitucional diz, da família, adolescente, criança e outros valores e princípios que o Constituinte Originário fincou. Assim, as restrições à liberdade artística, de expressão e manifestação são fixadas pelo próprio texto constitucional.
O parágrafo 3º, do art. 220 assevera que cabe à União: I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada; II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
Esta é a denominada "classificação indicativa". Ela não se confunde com censura, nem com censura prévia. Ocorre, apenas, que a CF alavanca outros valores constitucionais frente a eventual desequilíbrio experimentado, p. ex., pelo engrandecimento da mídia. A classificação indicativa é, pois, um instrumento de igualação de valores.
No Habeas Corpus nº 83.996, o STF discutiu se houve ou não ato obsceno, em eventual ofensa ao pudor público, quando o ator, em peça de teatro, mostrou as nádegas ao público e reproduziu masturbação em público. O STF decidiu que, diante do contexto em que praticado o ato, não houve extrapolação da liberdade artística. O STF ponderou que não houve dolo, que seria necessário para caracterização do ato obsceno, e que talvez a manifestação tenha sido deseducada ou de mau gosto, mas não um ato criminoso.
No caso, deu-se prevalência à liberdade, a qual é ampla quando não regulada por lei e, mesmo quando regulada, é necessário se verificar se tal lei não avança demais nos atos do homem livre. Disse o STF que algumas condutas não necessitam de penalização, mas sim de crítica do homem médio da sociedade. A presunção do Estado Democrático de Direito é no sentido da liberdade de expressão, e não ao contrário.
Por fim, no Habeas Corpus nº 82.424 restou decidido pelo STF que a liberdade de expressão não alcança o direito de expressão racista, isto é, a CF não permite, no art. 3º, IV e art. 5º, XLII, ambos da CF, manifestações racistas (manifestações antissemitas). Além, por óbvio, de as manifestações racistas escritas ou sob qualquer outra forma ferirem a dignidade dos judeus. O habeas corpus foi indeferido e o ofensor condenado.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 (ONU) menciona a liberdade de expressão nos seguintes termos: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão”. A censura, pois, não encontra validade no meio social, mas a classificação indicativa é necessária como único meio de se atingir a igualdade. O Poder Público é o único que pode advertir e classificar o conteúdo das manifestações e opiniões.
A manifestação e a opinião são pilares da Justiça. Desde os gregos, busca-se atingir a Justiça, e a manifestação de ideias é um dos modos de se atingir o justo. Assim, a manifestação do pensamento é parte indissolúvel, também, dos direitos políticos. Impossível se torna a participação política do povo sem direito à manifestação do pensamento e opiniões. A democracia subsiste graças à liberdade de expressão.
Em 1937, com a Constituição baixada por Getúlio Vargas (Estado Novo), a liberdade de expressão desapareceu por completo, e foi implementada a censura no país. Em 1951, quando assumiu o poder novamente, Getúlio Vargas fez publicar a Lei de Imprensa, desta vez atacando a Imprensa sob todas as suas formas: jornal, revista, rádio, televisão, etc. A Lei de Imprensa, contudo, foi julgada inconstitucional em 2009.
Na Ditadura Militar (1964 até 1989), a censura voltava-se para atos propalados contra o governo. Havia a censura, inclusive, à música, o que redundou no exílio de Caetano Veloso.
A liberdade de expressão é parte do direito de personalidade e forma o princípio da dignidade da pessoa humana. Na verdade, não protege só o indivíduo, mas toda a sociedade. Se uma pessoa tem seu direito/liberdade de expressão, todos são atingidos. Assim, a liberdade de expressão é um direito intransferível
e consta, hoje, em nosso texto constitucional de 1988, como um direito fundamental – cláusula pétrea.
MÓDULO 6 - LIBERDADE DE IMPRENSA - DIREITO DE MANIFESTAÇÃO JORNALÍSTICA
O art. 5º, inc. IV, CF, dispõe:
"É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato".
É o chamado direito de opinião. O anonimato, entretanto, fica proibido. Desta forma, o Poder Público não pode vedar a expressão do pensamento, nem impor censura prévia nem qualquer outra sorte de embaraço.
Os excessos é que devem ser punidos, a posteriori, com condenação do ofensor em danos morais, materiais e condenação criminal por eventual injúria, difamação ou calúnia.
De outro giro, o art. 5º, inc. IX, CF , preconiza:
"É livre a expressão da atividade intelectual, artística científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".
Este inciso aduz que a liberdade de expressão intelectual, artística, científica ou de comunicação, onde se encaixa a liberdade de imprensa, é livre, independentemente de censura ou licença prévia. Todavia, como visto acima, ficam resguardadas as ações por danos morais, materiais e eventual apuração de crimes.
Em 2009 foi julgada como "não recepcionada" a antiga Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). O julgamento se deu em função da propositura da ADPF nº 130/DF (julgamento de 30/04/09 e publicação em 06/11/09).
A antiga lei de imprensa continha uma série de punições e censuras à livre manifestação do pensamento, inclusive punindo jornalistas, editores, etc por atos "subversivos". Foi uma lei da época da ditadura militar. A lei trazia duras penas de reclusão para jornalistas que manifestassem seu direito de opinião contrariamente à ordem estabelecida.
O voto do Ministro Relator Carlos Ayres Britto na mencionada ADPF destacou que a liberdade de imprensa é extensão das liberdades do pensamento, constituindo-se em um bem superior da personalidade que se liga diretamente à dignidade da pessoa humana.
Disse o Ministro que a liberdade de imprensa estaria até mesmo acima dos direitos de imagem, honra, intimidade e vida privada. A relação entre democracia e liberdade de imprensa foi ressaltada, também, no voto, o qual inclusive menciona o importante papel da imprensa no sentido de controlar e fiscalizar os atos do Estado. A imprensa é formadora de opiniões e faz repercutir no seio social novas ideias e senso crítico. Os direitos relativos à liberdade de imprensa, disse o STF, qualificam-se como "sobredireitos".
Eis um trecho do voto que concluiu pela não recepção da antiga lei de imprensa:
ADPF nº 130/DF (julgamento de 30/04/09 e publicação em 06/11/09).
"3. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DE SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE QUE SÃO A MAIS DIRETA EMANAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: A LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E O DIREITO À INFORMAÇÃO E À EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS PROLONGADOS AO CAPÍTULO CONSTITUCIONAL SOBRE A COMUNICAÇÃO SOCIAL. O art. 220 da Constituição radicaliza e alarga o regime de plena liberdade de atuação da imprensa, porquanto fala: a) que os mencionados direitos de personalidade (liberdade de pensamento, criação, expressão e informação) estão a salvo de qualquer restrição em seu exercício, seja qual for o suporte físico ou tecnológico de sua veiculação; b) que tal exercício não se sujeita a outras disposições que não sejam as figurantes dela própria, Constituição. A liberdade de informação jornalística é versada pela Constituição Federal como expressão sinônima de liberdade de imprensa. Os direitos que dão conteúdo à liberdade de imprensa são bens de personalidade que se qualificam como sobre direitos. Daí que, no limite, as relações de imprensa e as relações de intimidade, vida privada, imagem e honra são de mútua excludência, no sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações de imprensa como superiores bens jurídicos e natural forma de controle social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais relações como eventual responsabilização ou consequência do pleno gozo das primeiras. A expressão constitucional "observado o disposto nesta Constituição" (parte final do art. 220) traduz a incidência dos dispositivos tutelares de outros bens de personalidade, é certo, mas como consequência ou responsabilização pelo desfrute da "plena liberdade de informação jornalística" (§ 1º do mesmo art. 220 da Constituição Federal). Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário, pena de se resvalar para o espaço inconstitucional da prestidigitação jurídica. Silenciando a Constituição quanto ao regime da internet (rede mundial de computadores), não há como se lhe recusar a qualificação de território virtual livremente veiculador de ideias e opiniões, debates, notícias e tudo o mais que signifique plenitude de comunicação.
4. MECANISMO CONSTITUCIONAL DE CALIBRAÇÃO DE PRINCÍPIOS. O art. 220 é de instantânea observância quanto ao desfrute das liberdades de pensamento, criação, expressão e informação que, de alguma forma, se veiculem pelos órgãos de comunicação social. Isto sem prejuízo da aplicabilidade dos seguintes incisos do art. 5º da mesma Constituição Federal: vedação do anonimato (parte final do inciso IV); do direito de resposta (inciso V); direito a indenização por dano material ou moral à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas (inciso X); livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (inciso XIII); direito ao resguardo do sigilo da fonte de informação, quando necessário ao exercício profissional (inciso XIV). Lógica diretamente constitucional de calibração temporal ou cronológica na empírica incidência desses dois blocos de dispositivos constitucionais (o art. 220 e os mencionados incisos do art. 5º). Noutros termos, primeiramente, assegura-se o gozo dos sobredireitos de personalidade em que se traduz a "livre" e "plena" manifestação do pensamento, da criação e da informação. Somente depois é que se passa a cobrar do titular de tais situações jurídicas ativas um eventual desrespeito a direitos constitucionais alheios, ainda que também densificadores da personalidade humana. Determinação constitucional de momentânea paralisia à inviolabilidade de certas categorias de direitos subjetivos fundamentais, porquanto a cabeça do art. 220 da Constituição veda qualquer cerceio ou restrição à concreta manifestação do pensamento (vedado o anonimato), bem assim todo cerceio ou restrição que tenha por objeto a criação, a expressão e a informação, seja qual for a forma, o processo, ou o veículo de comunicação social. Com o que a Lei Fundamental do Brasil veicula o mais democrático e civilizado regime da livre e plena circulação das ideias e opiniões, assim como das notícias e informações, mas sem deixar de prescrever o direito de resposta e todo um regime de responsabilidades civis, penais e administrativas. Direito de resposta e responsabilidades que, mesmo atuando a posteriori, infletem sobre as causas para inibir abusos no desfrute da plenitude de liberdade de imprensa.
 ..........
7. RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. O pensamento crítico é parte integrante da informação plena e fidedigna. O possível conteúdo socialmente útil da obra compensa eventuais excessos de estilo e da própria verve do autor. O exercício concreto da liberdade de imprensa assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero ou contundente, especialmente contra as autoridades e os agentes do Estado. A crítica jornalística, pela sua relação de inerência com o interesse público, não é aprioristicamente suscetível de censura, mesmo que legislativa ou judicialmente intentada.

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