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Melhoramento Vegetal, Biotecnologia e Alimentos Transgênicos Universidade Federal de Juiz de Fora Instituto de Ciências Biológicas Departamento de Botânica Aula 02 Disciplina: Recursos Vegetais na Alimentação Humana 2013/2 Profa. Ana Paula Gelli de Faria Há aproximadamente 200 anos, Thomas Malthus previa o risco do crescimento populacional suplantar o da produção de alimentos. POR QUE TAIS PREVISÕES NÃO SE CONCRETIZARAM ATÉ O MOMENTO ? Expansão das fronteiras agrícolas + inclusão de novas técnicas e novos insumos ao sistema produtivo + UTILIZAÇÃO DE ESPÉCIES MELHORADAS GENETICAMENTE. Principais objetivos: aumento da produtividade, resistência a pragas e doenças e melhora da qualidade nutricional dos alimentos. COMO SE ALIMENTARÁ A POPULAÇÃO EM RÁPIDO CRESCIMENTO? Há aproximadamente 200 anos, Thomas Malthus previa o risco do crescimento populacional suplantar o da produção de alimentos. POR QUE TAIS PREVISÕES NÃO SE CONCRETIZARAM ATÉ O MOMENTO ? Expansão das fronteiras agrícolas + inclusão de novas técnicas e novos insumos ao sistema produtivo + UTILIZAÇÃO DE ESPÉCIES MELHORADAS GENETICAMENTE. Principais objetivos: aumento da produtividade, resistência a pragas e doenças e melhora da qualidade nutricional dos alimentos. MELHORAMENTO VEGETAL O melhoramento de plantas nasceu com o início da agricultura; Sementes de plantas com características desejáveis eram armazenadas e utilizadas na produção da safra seguinte: melhoramento de forma subjetiva; Neste processo, o homem passou a ser o agente da seleção (seleção artificial). O melhoramento de plantas nasceu com o início da agricultura; Sementes de plantas com características desejáveis eram armazenadas e utilizadas na produção da safra seguinte: melhoramento de forma subjetiva; Neste processo, o homem passou a ser o agente da seleção (seleção artificial). Milho modernoFonte: Agência Estado / Arquivo CIB Uma das culturas mais modificadas. A mais antiga espiga de milho conhecida data de aproximadamente 7.000 a.C; O teosinto (“alimento dos deuses”) deu origem ao “milho moderno” por meio de um processo de seleção artificial; A partir do teosinto, o homem foi selecionando variações genéticas naturais, que gradativamente deram origem ao milho domesticado. MILHO: UM EXEMPLO TÍPICO DE CULTURA MELHORADA DESDE A MAIS REMOTA ANTIGUIDADE Teosinto Milho modernoFonte: Agência Estado / Arquivo CIB MELHORAMENTO CONVENCIONAL Experimentos de Mendel (1900): forneceram as bases para o entendimento e a manipulação da hereditariedade; Os cruzamentos selecionados passaram a ser obtidos com base científica. Métodos do melhoramento vegetal convencional Explora fontes de variabilidade genética geradas através dos processos de recombinação gênica e mutação; Busca novas combinações genéticas através de cruzamentos sexuais entre plantas que apresentam as características desejadas (auto-cruzamentos; cruzamentos entre variedades diferentes de uma mesma espécie ou cruzamentos entre espécies diferentes gerando híbridos); Independente do método, o estoque de variação genética é determinado pela compatibilidade sexual entre plantas a serem cruzadas. Experimentos de Mendel (1900): forneceram as bases para o entendimento e a manipulação da hereditariedade; Os cruzamentos selecionados passaram a ser obtidos com base científica. Métodos do melhoramento vegetal convencional Explora fontes de variabilidade genética geradas através dos processos de recombinação gênica e mutação; Busca novas combinações genéticas através de cruzamentos sexuais entre plantas que apresentam as características desejadas (auto-cruzamentos; cruzamentos entre variedades diferentes de uma mesma espécie ou cruzamentos entre espécies diferentes gerando híbridos); Independente do método, o estoque de variação genética é determinado pela compatibilidade sexual entre plantas a serem cruzadas. Brassica oleracea L. Exemplo do resultado da seleção artificial para determinados caracteres Hortaliças produzidas a partir de uma única espécie de planta Couve-flor B. oleracea, grupo Botrytis Seleção para inflorescência Couve-de-bruxelas B. oleracea, grupo Gemmifera Seleção para gemas laterais Couve-de-folhas B. oleracea, grupo Acephala Seleção paras folhas Repolho B. oleracea, grupo Capitata (Seleção para gemas terminais aumentadas) Couve-flor B. oleracea, grupo Botrytis Seleção para inflorescênciaBrócolis B. oleracea, grupo Italica Seleção para flores e caule Melhoramento Biotecnológico Meados do século XX: biologia molecular e técnicas de engenharia genética surgiram como ferramentas promissoras no campo do melhoramento vegetal; Descoberta de enzimas de restrição e desenvolvimento de vários estudos através do uso da tecnologia do DNA recombinante; Permite a obtenção de novos genótipos transferindo genes entre espécies, que de outra maneira, seriam incapazes de cruzarem umas com as outras. Métodos do melhoramento vegetal biotecnológico Obter o DNA de interesse de um organismo doador, recombiná-lo com o DNA de um carregador ou vetor (plasmídio ou vírus) e inserir a nova molécula criada dentro de células do organismo receptor; Assim surgem os transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs): organismos que receberam um ou mais genes de outro organismo e passam a expressar uma nova característica de especial interesse. Meados do século XX: biologia molecular e técnicas de engenharia genética surgiram como ferramentas promissoras no campo do melhoramento vegetal; Descoberta de enzimas de restrição e desenvolvimento de vários estudos através do uso da tecnologia do DNA recombinante; Permite a obtenção de novos genótipos transferindo genes entre espécies, que de outra maneira, seriam incapazes de cruzarem umas com as outras. Métodos do melhoramento vegetal biotecnológico Obter o DNA de interesse de um organismo doador, recombiná-lo com o DNA de um carregador ou vetor (plasmídio ou vírus) e inserir a nova molécula criada dentro de células do organismo receptor; Assim surgem os transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs): organismos que receberam um ou mais genes de outro organismo e passam a expressar uma nova característica de especial interesse. Como isso é feito? Enzimas de restrição: reconhecem sequências específicas (constituídas de um ou vários genes) da dupla fita de DNA e faz a clivagem em vários fragmentos. Plasmídios ou vírus: vetores ou carregadores dos fragmentos de DNA exógenos Plasmídios ou vírus: vetores ou carregadores dos fragmentos de DNA exógenos Plasmídio + molécula de DNA exógeno = DNA recombinante Figura: Spaully (Wikimedia Commons)DNA nuclear Plasmídios Desenvolvimento de plantas resistentes a insetos. Gene da bactéria Bacillus thuringiensis (gene Bt), codifica uma toxina que mata especificamente lagartas de borboletas e mariposas. Este gene foi introduzido em cultivares de milho (milho YieldGard). Desenvolvimento de plantas tolerantes a herbicidas, como o glifosfato. O glifosfato, quando aplicado nas culturas, mata não só as ervas daninhas, como também as próprias espécies cultivadas, pois bloqueia uma enzima essencial usada pelas plantas na produção de alguns aminoácidos. Descoberta forma mutante da bactéria Salmonella, cuja enzima não é bloqueada pelo herbicida. O gene que codifica para essa enzima foi transferido para espécies de soja (soja Roundup). O QUE JÁ ESTÁ SENDO FEITO ? Fo nte : w ww .m on san to. com .br /... /oq ue /im age s/s oja .jp g Desenvolvimento de plantas resistentes a insetos. Gene da bactéria Bacillus thuringiensis (gene Bt), codifica uma toxina que mata especificamente lagartas de borboletas e mariposas.Este gene foi introduzido em cultivares de milho (milho YieldGard). Desenvolvimento de plantas tolerantes a herbicidas, como o glifosfato. O glifosfato, quando aplicado nas culturas, mata não só as ervas daninhas, como também as próprias espécies cultivadas, pois bloqueia uma enzima essencial usada pelas plantas na produção de alguns aminoácidos. Descoberta forma mutante da bactéria Salmonella, cuja enzima não é bloqueada pelo herbicida. O gene que codifica para essa enzima foi transferido para espécies de soja (soja Roundup). Fo nte : w ww .m on san to. com .br /... /oq ue /im age s/s oja .jp g Soja Roundup Desenvolvimento de plantas com valor nutricional enriquecido. Alteração na via de biossíntese de ácidos graxos foram utilizadas para diminuir a proporção de gorduras saturadas na soja; Batatas com maior teor de amido estão sendo desenvolvidas com objetivo de levar a uma menor absorção de óleo quando fritas; Milho com alto teor de óleo e proteína; Introdução na batata de um gene bacteriano capazes de elevar os teores de aminoácidos, como a lisina, treonina e metionina; Sementes de oleaginosas capazes de produzir gordura sólida ou semi-sólida sem ácidos graxos trans; Introdução de genes que expressam fitoferrina e fitase no arroz branco, visando elevar o conteúdo de ferro nesse alimento Uma linhagem de “arroz dourado” foi desenvolvida, possuindo concentrações significativas de betacaroteno. O mesmo vem sendo testado na canola. O QUE JÁ ESTÁ SENDO FEITO ? Desenvolvimento de plantas com valor nutricional enriquecido. Alteração na via de biossíntese de ácidos graxos foram utilizadas para diminuir a proporção de gorduras saturadas na soja; Batatas com maior teor de amido estão sendo desenvolvidas com objetivo de levar a uma menor absorção de óleo quando fritas; Milho com alto teor de óleo e proteína; Introdução na batata de um gene bacteriano capazes de elevar os teores de aminoácidos, como a lisina, treonina e metionina; Sementes de oleaginosas capazes de produzir gordura sólida ou semi-sólida sem ácidos graxos trans; Introdução de genes que expressam fitoferrina e fitase no arroz branco, visando elevar o conteúdo de ferro nesse alimento Uma linhagem de “arroz dourado” foi desenvolvida, possuindo concentrações significativas de betacaroteno. O mesmo vem sendo testado na canola. Fo nte : w ww .fre ew eb s.c om /tr an sge nic osa p/h ow _sg r2. jpg Exemplos de OGMs Narciso silvestre, cujos genes foram utilizados na transformação do arroz Fo nte : w ww .fre ew eb s.c om /tr an sge nic osa p/h ow _sg r2. jpg Arroz douradoArroz convencional BIOTECNOLOGIA E SEGURANÇA ALIMENTAR Potenciais riscos associados a alimentos geneticamente modificados Genes de resistência a antibióticos são empregados como marcadores no desenvolvimento e na seleção de plantas geneticamente modificadas. Dessa forma, preocupações existem quanto ao risco de transferência desses genes de resistência a microorganismos que vivem em nosso trato intestinal. Potencial alergênico e de toxicidade: o(s) produto(s) do(s) gene(s) introduzido(s) poderiam afetar alguns indivíduos sensíveis ou até mesmo causar alergias e intoxicação generalizada em várias pessoas; Impactos ambientais. Potenciais riscos associados a alimentos geneticamente modificados Genes de resistência a antibióticos são empregados como marcadores no desenvolvimento e na seleção de plantas geneticamente modificadas. Dessa forma, preocupações existem quanto ao risco de transferência desses genes de resistência a microorganismos que vivem em nosso trato intestinal. Potencial alergênico e de toxicidade: o(s) produto(s) do(s) gene(s) introduzido(s) poderiam afetar alguns indivíduos sensíveis ou até mesmo causar alergias e intoxicação generalizada em várias pessoas; Impactos ambientais. A QUESTÃO DOS TRANSGÊNICOS NO BRASIL CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança): responsável pelo estabelecimento de normas técnicas de segurança e pareceres técnicos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGMs e derivados; Lei de Biossegurança nº 11.105/2005: liberou o plantio de transgênicos e regulamentou o procedimento para liberação das sementes modificadas no meio ambiente; O país tem hoje cerca de 11,5 milhões de hectares plantados com soja e algodão transgênico, segundo dados do relatório anual do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), obtidos em 2007. CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança): responsável pelo estabelecimento de normas técnicas de segurança e pareceres técnicos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGMs e derivados; Lei de Biossegurança nº 11.105/2005: liberou o plantio de transgênicos e regulamentou o procedimento para liberação das sementes modificadas no meio ambiente; O país tem hoje cerca de 11,5 milhões de hectares plantados com soja e algodão transgênico, segundo dados do relatório anual do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), obtidos em 2007. ROTULAGEM E COMERCIALIZAÇÃO DOS TRANSGÊNICOS No Brasil, a rotulagem de OGMs e seu produtos tornou-se obrigatória por meio do decreto 4680/2003 (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Art. 2°. Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, com presença acima do limite de um por cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse produto. No Brasil, a rotulagem de OGMs e seu produtos tornou-se obrigatória por meio do decreto 4680/2003 (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Art. 2°. Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, com presença acima do limite de um por cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse produto. A Vigilância Sanitária é o órgão que está a cargo da fiscalização das rotulagens. “Após extensiva análise dos fundamentos prós e contras a produção desses alimentos, sob o enfoque da economia, da proteção ao meio ambiente, da sustentabilidade agrícola e da proteção da saúde humana, o Plenário do CFN decide por manifestar-se contrário à comercialização dos alimentos transgênicos. O acompanhamento das descobertas científicas e das decisões governamentais não só em relação aos alimentos transgênicos, mas sobre o avanço da biotecnologia alimentar é tarefa permanente do Sistema CFN/CRN, vigilante ao respeito da legislação brasileira, em especial ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor. A conclusão dos estudos realizados até o momento, aponta para a existência comprovada de efeitos adversos altamente prejudiciais aos diversos elementos do planeta, principalmente para os seres humanos. Neste sentido, o CFN, mediante a missão de contribuir para a saúde da população, entende que alguns benefícios não podem justificar o uso de produtos potencialmente maléficos, mesmo que para poucos. Neste tempo conclama os nutricionistas a dirigir suas ações para o esclarecimento técnico da sociedade quanto aos riscos potenciais na utilização de alimentos transgênicos, afim de instruí-la em defesa dos abusos cometidos por decisões públicas pautadas em interesses particulares. O papel que o nutricionista poderá desempenhar neste cenário é fundamental para o crescimento de uma sociedade saudável no nosso País.” Conselho Federal de Nutricionistas, 19 de março de 2007 Posicionamento do CFN (Conselho Federal de Nutricionistas) “Após extensiva análise dos fundamentos prós e contras a produção desses alimentos, sob o enfoque da economia, da proteção ao meio ambiente, da sustentabilidade agrícola e da proteção da saúde humana, o Plenário do CFN decide por manifestar-se contrário à comercialização dos alimentos transgênicos. O acompanhamento das descobertas científicas e das decisões governamentais não só em relação aos alimentos transgênicos, mas sobre o avanço da biotecnologia alimentar é tarefa permanente do Sistema CFN/CRN, vigilante ao respeito da legislação brasileira, em especial ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor. A conclusão dos estudos realizados até o momento, aponta para a existência comprovada de efeitos adversos altamente prejudiciais aos diversos elementos do planeta, principalmente para os seres humanos. Neste sentido, o CFN, mediante a missão de contribuir para a saúde da população, entende que alguns benefícios não podem justificar o uso de produtos potencialmente maléficos, mesmo que para poucos. Neste tempo conclama os nutricionistas a dirigir suas ações para o esclarecimento técnico da sociedade quanto aos riscos potenciais na utilização de alimentos transgênicos, a fim de instruí-la em defesa dos abusos cometidos por decisões públicas pautadas em interesses particulares. O papel que o nutricionista poderá desempenhar neste cenário é fundamental para o crescimento de uma sociedade saudável no nosso País.” Conselho Federal de Nutricionistas, 19 de março de 2007
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