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12564 REVISÃO LÍNGUA PORTUGUESA II

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LÍNGUA PORTUGUESA II - REVISÃO
Especificidade do texto literário
“A leitura fantástica e poética é antes de tudo e
indissoluvelmente fonte de maravilhamento e de reflexão
pessoal, fonte de espírito crítico, porque toda descoberta
de beleza nos faz exigentes e, pois, mais críticos diante do
mundo. E porque quebra clichês e estereótipos, porque é
essa recriação que desbloqueia e fertiliza o imaginário
pessoal do leitor, é que é indispensável para a construção
de uma criança que, amanhã, saiba inventar o homem”.
( H e l d , 1 9 8 4 , p . 2 0 7 )
 O texto literário é a arte pela palavra!
É aquele que, além de seu sentido, possui um significado, onde são encontradas diferentes e insuspeitadas interpretações, permitidas por sua linguagem conotativa. Esta sugere sempre outros significados, ligados a novas experiências, a novos acontecimentos, a descobertas e intenções. É a amplitude das conotações que permite saltos temporais e espaciais. Assim, os leitores do século XX de Romeu e Julieta, peça teatral de Shakespeare, escrita no século XVI, apreciam-na e se emocionam ainda com o texto literário. E fazem-no da mesma forma, porque o belo e a emoção estética permanecem, mesmo que sejam outros os tempos, os costumes, os desejos e as experiências, enquanto o homem for essencialmente humano.
Na literatura, ao contrário da linguística, os significantes é que mudam: os significados permanecem os mesmos. A emoção estética é a mesma, em qualquer tempo.
O texto literário é, pois, aquele que se concebe e se relê. E essa releitura sempre será diferente, descortinando novos significados até surpreendentes. É o caráter aberto da obra de arte
literária multiplicando suas leituras e aumentando o prazer estético.
Uma releitura sempre terá diversificadas interpretações porque o leitor não é a mesma pessoa, tem outra história, vivenciou outras experiências. Essa magia deve-se à chamada opacidade do signo que não se desvela totalmente. Mostra algo como sombras, penumbras, vultos, sugestões ambíguas, esparsas como nuvens intocáveis que se esgarçam e se transformam pelas conotações.
Além dessa característica da linguagem conotativa, na literatura, há um outro aspecto importante a considerar: a função poética. A função poética, embora predominante, não se restringe à poesia. Surge, por exemplo, quando escolhemos uma palavra dentre outras com o mesmo significado, ou fazemos frases ou expressões de efeito para slogans, campanhas, propagandas, nomes de lojas, camisetas, jogos de palavras, sempre procurando uma reinterpretação elaborada do texto, colorida de matizes expressivos. O leitor, na busca do significado, vai ter de descobrir esses recursos no uso da função poética pelo autor, perseguindo o encontro da perfeição da forma. Claro que conteúdo e forma não se separam na literatura; são cúmplices, mas o que o autor quer dizer será dito melhor se considerar, na busca da forma artística 
Poesia
A poesia retrata o sonho, o imaginário. Ouvir ou ler poemas é envolver-se com a ludicidade verbal, com a sonoridade musical das palavras; é vivenciar a emoção, o amor, a saudade, a simplicidade, a beleza, o inusitado.
Para Cunha (1997), a criança tem uma tendência natural para a poesia, pois o mundo infantil é cheio de imagens, de fantasia e de sensibilidade.
As atividades envolvendo poemas devem ser desenvolvidas de maneira lúdica, agradável, voltadas para a apreciação, para uma interpretação livre, pessoal e criativa. A poesia é para ser sentida, mais que ser compreendida.
A seleção das poesias pode ser feita pelo professor e também pelas crianças. Devem ser lidas
e apreciadas em momentos programados para essa atividade, num clima de emoção e de pura beleza. O texto poético, o poema, definitivamente, por ser conotativo, não serve para exercitar ou
ensinar gramática.
Cantinho de Aprendizagem
Formar, no Cantinho de Aprendizagem, um cantinho de livros ou biblioteca da classe com livros:
• de todo tipo: de imagens, histórias, poemas, contos, finos, grossos, de formas diferentes, com e sem ilustração;
• de literatura de qualidade – obra ficcional de arte pela palavra. Ficção quer dizer: fantasia, imaginário, fantástico, significação diferente para diferentes pessoas, ou seja, linguagem conotativa;
• fichas informativas organizadas pelos alunos e professor e arquivadas por assunto ou em ordem alfabética;
• outros materiais: revistas em quadrinhos, outras revistas de interesse, jornais, artigos, reportagens, cruzadinhas, passatempos, jornais infantis, livros de receitas e álbuns são materiais que devem fazer parte do acervo de uma biblioteca de classe.
Atividades com os livros na biblioteca da classe ou cantinho dos livros
As atividades devem ser expressivas e criativas, relacionadas com desenhos, pinturas, colagens, música, dança, pantomimas, expressão corporal, dramatizações, leituras expressivas, fantoches etc., sugeridas livre e espontaneamente pelos alunos.
Vamos a alguns exemplos:
• reescrever trechos de histórias;
• consultar o dicionário para buscar os significados de palavras;
• participar de atividades na biblioteca da classe;
• leitura virtual de livros próprios para diferentes fases;
• trabalhar a estrutura textual de história e/ou contos (cenário, trama e finalização);
• situar histórias no tempo;
• substituir ou incluir novos personagens e/ou cenários numa história;
• participar da “hora de histórias”;
• dramatizar histórias lidas ou ouvidas;
• participar de pequenas montagens de teatro;
• confeccionar fantoches ou material para teatro de sombras;
• ler para os colegas, ou escutar a leitura de colegas;
• participar de rodas de leitura;
• comentar livros lidos;
• debater com colegas ideias e fatos encontrados em livros;
• ler o livro sozinho ou com a ajuda do professor;
• reproduzir oralmente histórias lidas;
• narrar fatos interessantes de uma história lida;
• descrever, oralmente, ambientes e personagens de livros;
• apreciar características de personagens e situações de histórias;
• reproduzir cenas de histórias por meio de dramatizações, fantoches, teatro de sombra,
desenhos, pinturas, mímicas e outros códigos;
• ler outros livros: se quiser, levá-los para mostrar aos colegas, comentar, emprestar etc.
• alterar o final de histórias, introduzir novos personagens, adequar o texto a outros
ambientes (presente, passado, futuro);
• debates e interpretações de textos variados: *identificando intenções não explícitas;
Gêneros Literários
Recuperar a leitura literária no espaço escolar é uma tarefa de construção de novas formas de lidar com a literatura e de desconstrução de amarras e regras que a pedagogia teima em prescrever e rotular segundo a classificação das obras em escolas e gêneros literários, sem falar nas fichas de leitura, nos velhos exercícios de interpretação e nos breves comentários sobre o autor, a obra, seu tempo e a escola literária à qual pertence.
Isto termina por interditar o diálogo do leitor com determinado texto literário ou com outros tantos já lidos. A interação texto/leitor é o exercício interpretativo do significado mais profundo da literatura, na medida em que ela revela a forma como cada autor, em sua escrita lacunar e polissêmica, instiga o leitor a adentrar os mistérios da condição humana. Seguir as pistas deixadas pelo texto, experimentando sua virtualidade estética, é uma forma de transgredir o tipo de leitura mediada comumente pela escola.
A tradição da leitura literária na escola tem, historicamente, aprisionado o escritor e o leitor. Aparentemente, é a voz do escritor que impera, na medida em que o leitor se orienta exclusivamente pelo que o texto porta. Esta tem sido ainda a prática em muitas escolas. Isto significa dizer que os silêncios e vazios deixados nos textos para serem preenchidos pelo leitor não são potencializados, frustrando de alguma forma a intenção do autor de provocar esse leitoa interagir com seu texto. Mais uma dica. O texto literário é feito de indeterminações e vazios4. Aí reside a sua riqueza, na medida em que deixa brechas para a entrada do leitor em cena.
Curiosamente, tal procedimento deveria ser produtivo – e de fato o é – para o leitor que, ao dialogar com a obra literária, preenche as lacunas textuais a partir de seus conhecimentos prévios, imaginação e sensibilidade.
Contraditoriamente, o ato da leitura, na escola, silencia também a voz do escritor, ao aprisionar o seu texto em perguntas e respostas fechadas ou em fichas de leituras, por exemplo. Com isso perde o escritor e perde o leitor, enquanto a escola desconsiderar que é na natureza lacunar e polissêmica de um texto literário que consiste a sua riqueza e suas possibilidades de produção de múltiplos sentidos.
Dessa forma, é possível relacionar algumas especificidades de gêneros 
GÊNEROS DISCURSIVOS
Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem oral:
• contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares;
• poemas, canções, quadrinhas, parlendas, adivinhas, trava-línguas, piadas;
• saudações, instruções, relatos;
• entrevistas, notícias, anúncios (via rádio e televisão);
• seminários, palestras.
Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem escrita:
• receitas, instruções de uso, listas;
• textos impressos em embalagens, rótulos, calendários;
• cartas, bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de Natal, etc.), convites, diários (pessoais, da classe, de viagem, etc.);
• quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis: títulos,slides, notícias, classificados, etc.;
• anúncios, slogans, cartazes, folhetos;
• parlendas, canções, poemas, quadrinhas, adivinhas, trava-línguas, piadas;
• contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares, folhetos de cordel, fábulas;
• textos teatrais;
• relatos históricos, textos de enciclopédia, verbetes de dicionário, textos expositivos de diferentes fontes (fascículos, revistas, livros de consulta, didáticos, etc.).
Utilizando os Gêneros Literários em Sala de Aula
A seguir você encontrará uma lista de situações de sala de aula que possibilitam a aprendizagem da língua escrita por meio de atividades de leitura e escrita com textos de tradição oral. As sugestões que seguem servem para trabalhar com vários textos: adivinhas, cantigas de roda, parlendas, quadrinhas e trava-línguas, por isso é necessário que, ao trabalhar cada um deles, você construa uma sequência de atividades que considere pertinentes para ensinar os seus alunos.
Leitura pelo professor – É importante que o professor faça a leitura de vários textos do mesmo gênero (adivinhas, cantigas de roda, parlendas, quadrinhas ou trava-línguas), de modo que os alunos possam se apropriar de um amplo repertório do texto em questão. Essa atividade de leitura pode ser diária (na hora da chegada, na volta do recreio…), ou semanal. O importante é que os alunos tenham um contato frequente com os textos, para que possam conhecê-los melhor.
Leitura compartilhada (professor e alunos) de textos conhecidos – Em alguns momentos da rotina de sala de aula, o professor pode ler junto com os alunos alguns textos (adivinhas, cantigas de roda, parlendas, quadrinhas ou trava-línguas) que os alunos conheçam bastante, para que possam inferir e antecipar significados durante a leitura. Os textos que serão lidos podem estar afixados na sala em forma de cartaz, escritos na lousa ou impressos no livro do aluno.
Leitura coletiva – Ler, cantar, recitar e brincar com textos conhecidos. É fundamental que os alunos possam vivenciar na escola situações em que a leitura esteja vinculada diretamente ao desfrute pessoal, à descontração e ao prazer.
Leitura dirigida – Propor atividades de leitura em que os alunos tenham de localizar palavras
em um texto conhecido. Por exemplo: o professor lê o texto inteiro e depois pede aos alunos que localizem uma palavra determinada (ex.: “piano”, na parlenda “Lá em cima do piano”). A intenção é que possam utilizar seus conhecimentos sobre a escrita para localizar e ler as palavras selecionadas.
Leitura individual – Quando os alunos conhecem bastante os textos, já podem começar a lê-los individualmente. E nesse caso é importante que tenham objetivos com a atividade de leitura. Por exemplo: ler para escolher a parte de que mais gosta, ler para depois recitar em voz alta para todos etc.
Pesquisa de outros textos – Os alunos podem pesquisar outros textos do mesmo gênero em livros, na família e na comunidade. Podem, por exemplo, entrevistar pais, avós e amigos a respeito de adivinhas, cantigas de roda, parlendas, quadrinhas ou trava-línguas que conhecem; ou procurar textos conhecidos no Livro do aluno. No caso dos poemas, também é possível pesquisar autores da comunidade, autores conhecidos no Brasil inteiro etc.
Rodas de conversa ou de leitura – Sentar em roda é uma boa estratégia para socializar experiências e conhecimentos, pois favorece a troca entre os alunos. A roda de conversa permite identificar o repertório dos alunos a respeito do texto que está sendo trabalhado e também suas preferências. A roda de leitura permite compartilhar momentos de prazer e diversão com a leitura. No caso dos trava-línguas, é interessante propor um concurso de trava-línguas – falar sem tropeçar nas palavras.
Escrita individual – Escrever segundo suas próprias hipóteses é fundamental para refletir sobre a forma de escrever as palavras. Por isso é importante criar momentos na rotina de sala de aula em que os alunos possam escrever sozinhos. Por exemplo: pedir que os alunos escrevam uma parlenda que conhecem de memória, ou que escrevam a cantiga de roda preferida. Vale ressaltar que, quando propomos a escrita de textos que os alunos conhecem de memória, em que não há um destinatário específico, é fundamental aceitar as hipóteses e não interferir diretamente nas produções: não se deve corrigir, escrever embaixo ou coisa do tipo. Nessas atividades de escrita, o aluno que ainda não sabe escrever convencionalmente precisa se esforçar para construir procedimentos de análise e encontrar formas de representar graficamente aquilo que se propõe a escrever. É por isso que esta é uma boa atividade de alfabetização: havendo informação disponível e espaço para reflexão sobre o sistema de escrita, os alunos constroem os procedimentos de análise necessários para que a alfabetização se realize.
Escrita coletiva – O professor escreve na lousa, ou em um cartaz, o texto que os alunos ditam para ele. Nesse caso é absolutamente necessário que todos os alunos conheçam bem a cantiga de roda, a parlenda ou a quadrinha que será ditada. Durante o processo de escrita, é fundamental que o professor discuta com os alunos a forma de escrever as palavras, pois isto favorece a aprendizagem de novos conhecimentos sobre a língua escrita. Quando for possível, liste coletivamente os títulos dos textos de que os alunos mais gostam.
Reflexão sobre a escrita – Sempre que for possível favoreça a reflexão dos alunos sobre a
escrita, propondo comparações entre palavras que começam ou terminam da mesma forma (letras, sílabas ou partes das palavras).
Aprendendo com outros – A interação com bons modelos é fundamental na aprendizagem,
por isso é importante que os alunos possam compartilhar atos de leitura e observar outras pessoas lendo, recitando ou cantando os textos que estão estudando. Desta forma podem aprender a utilizar uma variedade maior de recursos interpretativos: entonação, pausas, expressões faciais, gestos. O professor pode chamar para a sala de aula alguns familiares ou pessoas da comunidade que gostem de ler, recitar ou cantar para os outros. Também é possível levar para a sala de aula gravações de pessoas lendo, cantando ou recitando.
Gravação – Se for possível, grave em fita cassete a leitura ou recitação dos alunos de seus textos preferidos. Esta fita pode compor o acervo da classe, ou serum presente para alguém especial.
Produção de um livro – Seleção dos textos preferidos para a produção de uma coletânea (livro). Cada aluno pode escrever um de seus textos preferidos.
Projetos – As propostas de aprendizagem também podem ser organizadas por meio de projetos que proponham aos alunos situações comunicativas envolvendo a leitura e escrita das adivinhas, cantigas de roda, parlendas, quadrinhas ou trava-línguas. Essas propostas de trabalho podem contemplar todas as séries, cada aluno contribuindo de acordo com suas possibilidades. Exemplos: propor a realização de:
• um mural/painel de textos para colocar na entrada da escola;
• um recital ou coral para pessoas da comunidade;
• um livro de textos, para presentear alguém ou para compor a biblioteca da classe.
Como os textos produzidos nos projetos têm um leitor real, o professor deve torná-lo o mais legível possível, com o mínimo de erros, traduzindo a escrita dos alunos ou revisando as escritas
em que só faltam algumas letras.
*FONTE: COLETÂNEA DE TEXTOS - PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES - M2U5T6
O Texto Oral
O texto oral permaneceu por muito tempo fora do enfoque teórico dos estudos literários, cuja tradição tem privilegiado a escritura como fonte única teorizadora do texto artístico. A partir da década de 70, ampliam-se os espaços de debates sobre literaturas orais e, em 1981 e 1982, durante o Salão do Livro, no Centro George Pompidou, em Paris, esses debates ganham mais consistência. No meio acadêmico e intelectual vem desenvolvendo-se uma nova mentalidade, e um crescente interesse das ciências sociais pela função da voz começa a ser notado. Uma geração de estudiosos do exterior, encabeçada por Paul Zumthor, e do Brasil vem dedicando-se ao estudo da literatura oral, resgatando o seu estatuto de texto artístico, antes privilégio exclusivo da escritura. Dessa forma, esses estudos têm podido ressaltar as especificidades inerentes a sua natureza oral, cuja literariedade, como bem elucida Zumthor (1983, p.39), acentuando a plenitude da função da voz, imprime mais força à sua estrutura moldal, que dá ênfase ao ritmo, que à estrutura textual, legado da escritura.
Conduzindo o imaginário intercultural da memória coletiva de incontáveis gerações, o texto oral mantêm-se virtualmente na memória do transmissor que o ajusta no momento da performance à realidade do grupo a que pertence. Ao discutir a função do interprete e do ouvinte, Zumthor vai conceituar o primeiro como sendo “o indivíduo de que se percebe, na performance, a voz e o gesto, pelo ouvido e pela vista” (1997, p.225) e o segundo como aquele que possui dois papéis: o de receptor e de co-autor (1997, p.242). A relação entre ambos é indissolúvel.
Para Zumthor, o papel do intérprete é mais importante do que o do compositor, pois é a sua performance, o seu desempenho que propiciarão reações auditivas, corporais, emocionais no auditório, ou seja, no ouvinte. A performance do intérprete é, pois, a responsável pela sua força enquanto disseminadora do texto oral. No ato da performance, por vezes, sob a pressão da competência narrativa de uma platéia, introduzem-se signos atualizadores do universo cultural em que se encontra inserindo o transmissor, que vão imprimir-lhe mais funcionalidade e significado narrativo. A qualidade da performance está vinculada à interação entre intérprete, texto e ouvinte.
Com o passar dos tempos, a interpretação, a performance e a própria poesia oral vão assumindo um caráter comercial, e essa transição inicia-se quando o autor passa a exigir seus direitos autorais. Podemos afirmar que a comercialização de sua obra está ligada ao emprego da escrita que, desde seu surgimento, é monopolizada pela classe dominante: enquanto a poesia oral ocupava-se em retratar as angústias dos oprimidos, os poetas eram porta-vozes destes. Esta inversão de valores vai nortear, por muitos séculos, os propósitos e destinos de ambas.
Zumthor defende a possibilidade de que, em função do momento histórico, o texto vai depender de uma oralidade que funcione na zona de escritura ou vice-versa. O fato é que o manuscrito mantém a característica tátil-oral e a escrita vai adquirir mais efeito a partir do surgimento da imprensa. W. Ong diz que “o manuscrito é uma continuidade oral” (ZUMTHOR, 1993), a imprensa no entanto cria uma ruptura neste ponto.
A passagem do oral para o escrito é repleta de confrontações, tensões, oposições completivas e muitas vezes contraditórias; é mais do que transcrição, é transcriação. Embora se tenha consciência da impossibilidade de registro de toda a gama significativa dos signos não verbais produzidos durante a performance, isso não impede que o transcritor se empenhe em minimizar ao máximo essa limitação da escrita. É preciso ter sensibilidade para perceber os vários procedimentos utilizados na exploração de elementos prosódicos, próprios da literatura oral, que transformam as imagens verbais, no discurso narrativo, as imagens auditivas expressas através da sequências fônicas imitativas. Por meio de onomatopéias, o narrador das histórias orais consegue passar de forma realista, rigorosa e convincente a carga emotiva que está por trás do gesto da personagem, dando a idéia aproximada da dramaticidade. Dessa forma, o transmissor do texto oral amplia o seu poder de comunicação junto ao seu auditório.
Poetas orais
Ao contrário do texto escrito, o texto literário oral encontra-se raramente isolado, ou produzido como texto, está sempre inserido num discurso como mensagem em situação. Etnotexto designa o discurso que uma coletividade elabora sobre sua própria cultura, na diversidade de seus componentes e, através da qual se reforça ou questiona a sua identidade.
Vivemos num país onde centenas de poetas são marginalizados, devido a classe social, escolaridade, raça, região, produção artística (a poesia oral é considerada ainda menor e híbrida.) Esses poetas jogam contra a massificação que domina e aliena o mundo que os circundam. Eles nos mostram que o povo da periferia / favela / gueto / zona rural tem a sua colocação na história e que não ficarão mais quinhentos anos jogados no limbo cultural de um país que tem aversão à sua própria cultura.
O poeta é um indivíduo sensível ao mundo; consegue percebê-lo intensamente, associando e fazendo circular idéias. Por ser mais sensível que o comum dos homens, o poeta é dominado por um estado emocional involuntário, e tem que expressá-lo de modo fiel e eficaz ao leitor, portanto, a falta da escrita não interfere na criatividade do artista sensível, prova disso é a existência da poesia anterior a sua invenção. A poesia oral é um excelente meio para observação do ‘lugar que o produz’, isto é, a sociedade que a contextualiza, que define a sua própria linguagem possível,  estabelece e delimita os seus fazeres,  instituindo a sua temática. Por isso, qualquer obra literária – seja oral ou escrita – é sempre portadora de retratos, de marcas e de indícios significativos da sociedade que a produziu. Toda a produção literária traz por trás de si ideologias, imaginários, relações de poder e  padrões de cultura.
CONTOS DE FADA, MITOS, LENDAS FÁBULAS
LEITURA PELO PROFESSOR – É importante que o professor faça a leitura de vários textos do mesmo gênero (contos, mitos, lendas e fábulas), de modo que os alunos possam se apropriar de um conhecimento que faz parte do patrimônio cultural da humanidade instrumentalizá-los para desfrutar das narrativas literárias. A atividade de leitura deve ser diária, pois é importante que os alunos tenham contato frequente com os textos. 
O professor necessita ler os textos antes, ler em voz alta tal qual está escrito, imprimindo ritmo à narrativa e dando uma idéia correta do que significa ler.
RECONTO ORAL - Possibilita ao aluno que não é leitor convencional, saber mais sobre o texto apropriando-se oralmente da língua que se escreve. Não é o aluno decorar integralmente o texto, mas recontá-lo a partir do que se apropriou da história.APRENDENDO COM OS OUTROS – É importante que os alunos possam compartilhar atos de leitura e observar outras pessoas lendo ou recontando. Desta forma podem aprender a utilizar uma variedade de recursos interpretativos: entonação, pausas, expressões faciais, gestos e outros.
Projetos de Leitura
As propostas de aprendizagem poderão ser organizadas por meio de projetos que proponham aos alunos situações comunicativa envolvendo a leitura e a escrita dos textos (lendas, fábulas, mitos e contos) . O projeto poderá contemplar todas as séries.
Exemplos: Mural de personagens (personagens mitológicas suas características físicas, poderes, moradia, ilustrações etc.
Seleções do textos preferidos para a produção de uma coletânea (livro), escrever ou selecionar textos para presentear alguém ou a biblioteca da escola;
Reconto Oral de contos conhecidos para um publico especifico (classe, escola, comunidade etc.) Os projetos devem fomentar o gosto pela leitura em todas as etapas de escolaridade, o incentivo do professor e da escola nesse processo é fundamental para a mediação entre o aluno e o livro.
Trabalhar com literatura na escola é promover a aprendizagem que sirva para uma construção de sujeitos questionadores e transformadores de uma sociedade.
O professor precisa ler para que seus alunos possam ser envolvidos no texto.
Ao trabalhar projetos privilegiem a Literatura na escola, estamos–promovendo emancipação do saber, rompendo a idéia que deu origem aos trabalhos com fichamentos, a interpretação com perguntas e respostas, usado tanto pelo educador para avaliar o rendimento do aluno quanto a leitura.
Os debates, a leitura crítica e comparativa de jornais, dramatizações, visitas a biblioteca, conversas com autor de livros, são atividades que devem ser trabalhadas, desenvolvendo no aluno a capacidade de pensar e crescer.
Devemos evitar a avaliação do rendimento da leitura por meio da literatura, será inútil enquanto não tivermos alunos que encontrem o prazer no ato de ler. Os livros não podem servir de pretexto para serem, simplesmente, instrumento de avaliação.
PARA LEMBRAR...
Os CONTOS, MITOS, LENDAS, E FÁBULAS devem fazer parte do cotidiano da sala de aula, ampliando o repertório, descobrindo a magia, conhecendo obras e autores consagrados.
Uma das formas de esses textos entrarem na sala de aula é através da leitura diária realizada pelo professor.
Lembre-se: os que não sabem ler convencionalmente poder “ler” através da leitura do professor.
TEXTOS INFORMATIVOS, INSTRUCIONAIS E BIOGRAFIAS
LEITURA PELO PROFESSOR - é importante que o professor crie situações de leitura de textos de um mesmo gênero, o contato frequente com os textos lhe permite compreender suas característica, usos e funções. A ênfase deve está na leitura e na conversa sobre o que compreenderam e aprenderam com o texto lido.
LEITURA COMPARTILHADA – Textos do livro do aluno, cartazes, a partir da leitura o professor poderá perguntar que informações vocês retiram do textos? O que não sabiam, o que acharam mais curioso etc.
LEITURA DIRIGIDA – localização de palavras no texto, quantas vezes aparece a determinada palavra. A intenção é que os alunos possam utilizar seus conhecimentos sobre a escrita para localizar e ler as palavras indicadas.
LEITURA INDIVIDUAL – Textos pequenos, objetivos da leitura, ex. ler para encontrar uma informação.
PESQUISAS DE OUTROS TEXTOS- pesquisas de textos do mesmo gênero em livros, revistas, jornais, encontrados na escola e/ou em casa.
RODAS DE LEITURA E DE CONVERSA- Socializar experiências e conhecimentos, identificação do repertório dos textos que está sendo trabalhado e lidos, essas situações poderão ser diárias, semanais ou quinzenais. (hora das curiosidades, momentos científicos etc.)
PARA LEMBRAR...
Através de todos os tipos de textos é possível obter informações. É fundamental que, na escola, os alunos tenham oportunidades de aprender sobre esses textos, pois isto lhe confere mais autonomia como estudante.
LISTAS, CARTA E BILHETES
LEITURA PELO PROFESSOR (cartas e bilhetes) – é importante que o professor selecione cartas e bilhetes literários ou recebido e crie momentos de leitura na rotina escolar ( apreciação, diversão, tipos de informações e estilos dos autores).
LEITURA COMPARTILHADA – todos com uma cópia da carta ou bilhete para a leitura coletiva. O professor pode perguntar o local onde foi escrito(a) destinatário, remetente, data, informações ou assunto.
LEITURA DE LISTAS- propor atividades onde o aluno seja o leitor, lista com títulos dos contos lidos ou dos personagens conhecidos, dos aniversariantes, materiais didáticos, compras etc.
PARA LEMBRAR...
Listar, relacionar nomes de pessoas, convidados para festa, lista de compras, compromissos, compromissos do dia-a-dia, atividades da sala de aula.
Ensinar as práticas sociais de leitura e escrita utilizando cartas e bilhetes de acordo com faixa etária de cada série.
Algumas sugestões:
Leitura compartilhada com os alunos de obra referentes aos projetos em execução;
Solicitar que os alunos dêem um novo final ou início à história lida;
Conhecer vida e obra do autor;
Fazer textos coletivos com a descrição dos personagens, considerando características físicas e psicológicas;
Fazer estudos individuais e coletivo dos dados contidos nos livros;
Fazer sessões de explicação dos conteúdos evidenciados na obra;
Fazer releituras conjugando a linguagem (com recitais, sínteses) e a arte (com pinturas e esculturas) como forma de tornar mais concreta a aprendizagem.
PARLENDAS
 As parlendas são versinhos com temática infantil que são recitados em brincadeiras de crianças. Possuem uma rima fácil e, por isso, são populares entre as crianças. Muitas parlendas são usadas em jogos para melhorar o relacionamento entre os participantes ou apenas por diversão. 
Ao iniciar a atividade de leitura, o professor deve explicar aos alunos que as parlendas são rimas infantis usadas em brincadeiras ou como técnica de memorização. E propor aos alunos que recitem bem alto e da mesma forma que você fizer. Ou seja, quando o professor falar lentamente, eles respondem lentamente; quando o professor falar rápido, eles devem falar rápido, mas sempre todas ao mesmo tempo. Esta é também uma boa oportunidade para trabalhar noções de ritmo e o que são rimas. O professor terá de ensinar as parlendas aos alunos até que eles decorem.
 	Várias parlendas são antigas e, algumas delas, foram criadas, há décadas. Elas fazem parte do folclore brasileiro, pois representam uma importante tradição cultural brasileira.
 Tradição Oral na Prática
O que propor na sala de aula?
As adivinhas, as cantigas de roda, as quadrinhas e os trava-línguas são antigas manifestações da cultura popular, universalmente conhecidas e mantidas vivas através da tradição oral. 
São textos que pertencem a uma longa tradição de uso da linguagem para cantar, recitar e brincar. A maioria deles é de domínio público, ou seja, não se sabe quem os inventou: foram simplesmente passados de boca a boca, das pessoas mais velhas para as pessoas mais novas. 
Os poemas servem para divertir, emocionar, fazer pensar. Geralmente têm rimas e apresentam diferentes diagramações. São textos com autoria, isto é, geralmente sabemos quem os fez. 
Todos nós conhecemos poemas, pois são textos de conhecimento popular. São parecidos com as canções, só que não são musicados. Alguns são feitos especialmente para crianças. Os poemas, assim como as quadrinhas e os trava-línguas, “brincam” com os sons das palavras e com o seu significado. 
Canção de Dominguinhos e Anastácia TENHO SEDE 
Traga-me um copo d’água Tenho sede E esta sede pode me matar Minha garganta pede Um pouco d’água E os meus olhos pedem Teu olhar A planta pede chuva Quando quer brotar O céu logo escurece Quando vai chover Meu coração só pede Teu amor Se não me deres Posso até morrer. 
As cantigas de roda são textosque servem para brincar e divertir. Com bastante frequência se encontram associadas a movimentos corporais em brincadeiras infantis. 
CAI BALÃO Cai, cai balão cai, cai balão aqui na minha mão. Não cai não, não cai não cai na rua do sabão. 
A poesia nada mais é do que uma brincadeira com as palavras. Nessa brincadeira, cada palavra pode e deve significar mais de uma coisa ao mesmo tempo: isso aí é também isso ali. Toda poesia tem que ter uma surpresa. Se não tiver não é poesia: é papo furado! (J. Paulo Paes) 
Poema de José Paulo Paes CONVITE 
Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião 
Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. 
As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. 
Como a água do rio que é água sempre nova. 
Como cada dia que é sempre um novo dia. 
Vamos brincar de poesia? 
Se o mestre mandar! Faremos todos! E se não for? Bolo! 
As quadrinhas são estrofes de quatro versos, também chamadas de quartetos. As rimas são simples, assim como as palavras que fazem parte do seu texto. 
Roseira, dá-me uma rosa; Craveiro, dá-me um botão; Menina, dá-me um abraço, que eu te dou meu coração. 
A presença desses textos na sala de aula favorece a valorização e a apreciação da cultura popular, assim como o estabelecimento de um vínculo prazeroso com a leitura e a escrita. 
Quando os alunos ainda não lêem e escrevem convencionalmente, atividades de leitura e escrita com esses textos, que pertencem à tradição oral e as crianças conhecem de memória, podem possibilitar avanços nas hipóteses dos alunos a respeito da língua escrita. 
A seguir você encontrará uma lista de situações de sala de aula que possibilitam a aprendizagem da língua escrita por meio de atividades de leitura e escrita com textos de tradição oral. 
As sugestões que seguem servem para trabalhar com as adivinhas servem para divertir e provocar curiosidade. São textos curtos, geralmente encontrados na forma de perguntas: O que é, o que é? Quem sou eu? Qual é? Como? Qual a diferença? 
O que é, o que é que cai em pé e corre deitado? Resposta: A chuva. 
Os trava-línguas brincam com o som, a forma gráfica e o significado das palavras. A sonoridade, a cadência e o ritmo dessas composições encantam adultos e crianças. O grande desafio é recitá-los sem tropeços na pronúncia das palavras. 
O RATO E A RITA 
O rato roeu a roupa do rei de Roma, O rato roeu a roupa do rei da Rússia, O rato roeu a roupa do RodovaIho... O rato a roer roía. E a rosa Rita Ramalho do rato a roer se ria. 
Como já sabemos, as parlendas são conjuntos de palavras com arrumação rítmica em forma de verso, que podem rimar ou não. Geralmente envolvem alguma brincadeira, jogo, ou movimento corporal. Boca de forno Forno Tira um bolo Bolo 
Durante o processo de escrita, é fundamental que o professor discuta com os alunos a forma de escrever as palavras, pois isto favorece a aprendizagem de novos conhecimentos sobre a língua escrita. Quando for possível, liste coletivamente os títulos dos textos de que os alunos mais gostam. 
Reflexão sobre a escrita – Sempre que for possível favoreça a reflexão dos alunos sobre a escrita, propondo comparações entre palavras que começam ou terminam da mesma forma (letras, sílabas ou partes das palavras). 
Aprendendo com outros – A interação com bons modelos é fundamental na aprendizagem, por isso é importante que os alunos possam compartilhar atos de leitura e observar outras pessoas lendo, recitando ou cantando os textos que estão estudando. Desta forma podem aprender a utilizar uma variedade maior de recursos interpretativos: entonação, pausas, expressões faciais, gestos.
O professor pode chamar para a sala de aula alguns familiares ou pessoas da comunidade que gostem de ler, recitar ou cantar para os outros. Também é possível levar para a sala de aula gravações de pessoas lendo, cantando ou recitando. 
Gravação – Se for possível, grave em fita cassete a leitura ou recitação dos alunos de seus textos preferidos. Esta fita pode compor o acervo da classe, ou ser um presente para alguém especial. 
Produção de um livro – Seleção dos textos preferidos para a produção de uma coletânea (livro). Cada aluno pode escrever um de seus textos preferidos. 
A roda de leitura permite compartilhar momentos de prazer e diversão com a leitura. No caso dos trava-línguas, é interessante propor um concurso de trava-línguas – falar sem tropeçar nas palavras. 
EXEMPLOS DE ATIVIDADES 
Seguem algumas sugestões de atividades que podem servir como modelo para elaborar outras para os seus alunos: 
EXEMPLO 1 O QUE É O QUE É 
1. O PASSARINHO QUE MAIS VIGIA A GENTE? BEM-TE-VI PAPAGAIO EMA 
2. QUE CRESCE ANTES DE NASCER, E DEPOIS QUE NASCE, PÁRA DE CRESCER? UVA OVO CLARA 
3. QUE SENDO APENAS SEU, É USADO MAIS PELOS OUTROS DO QUE POR VOCÊ? PÉ NARIZ NOME 
4. QUE TEM PÉ DE PORCO, RABO DE PORCO, TEM ORELHA DE PORCO, MAS NÃO É PORCO NEM PORCA? 
5. A AVE QUE QUEREMOS NO QUINTAL E NUNCA QUEREMOS NA CABEÇA?PATOGALOPERIQUITO 
6. DE NOITE APARECEM SEM SER CHAMADAS, DE DIA DESAPARECEM SEM QUE NINGUÉM AS 
PROJETOS 
As propostas de aprendizagem também podem ser organizadas por meio de projetos que proponham aos alunos situações comunicativas envolvendo a leitura e escrita das adivinhas, cantigas de roda, quadrinhas ou trava-línguas. Essas propostas de trabalho podem contemplar todas as séries, cada aluno contribuindo de acordo com suas possibilidades. 
Exemplos: propor a realização de: 
• um mural/painel de textos para colocar na entrada da escola; 
• um recital ou coral para pessoas da comunidade; 
• um livro de textos, para presentear alguém ou para compor a biblioteca da classe. Como os textos produzidos nos projetos têm um leitor real, o professor deve torná-lo o mais legível possível, com o mínimo de erros, traduzindo a escrita dos alunos ou revisando as escritas em que só faltam algumas letras. 
Os projetos são excelentes situações para que os alunos produzam textos de forma contextualizada; além disso, dependendo de como se organizam, exigem leitura, escuta de leituras, produção de textos orais, estudo, pesquisa ou outras atividades. Podem ser de curta ou média duração, envolver ou não outras áreas do conhecimento e resultar em diferentes produtos: uma coletânea de textos de um mesmo gênero (poemas, contos de assombração ou de fadas, lendas etc.), um livro sobre um tema pesquisado, uma revista sobre vários temas estudados, um mural, uma cartilha sobre cuidados com a saúde, um jornal mensal, um folheto informativo, um panfleto, cartazes de divulgação de uma festa na escola, um único cartaz… 
Parâmetros Curriculares Nacionais - Língua Portuguesa/MEC ® 
1. O QUE MUITA GENTE ACABA VIRANDO DEPOIS QUE MORRE. 
2. CAIXINHA DE BOM PARECER QUE NENHUM CARPINTEIRO PODE FAZER. 
3. TEM BICO MAS NÃO BICA; TEM ASA, MAS NÃO VOA. 
4. NASCE VERDE, VIVE PRETO E MORRE VERMELHO. NÃO PODE FALTAR NUM CHURRASCO. 
5. DE DIA TEM 4 PÉS, À NOITE TEM 6 E, ÀS VEZES, 8 PÉS. 
6. TEM COROA, MAS NÃO É REI. TEM ESPINHOS E NÃO É PEIXE. 
7. QUE A GENTE COMPRA PARA COMER, MAS NÃO COME. 
7. QUE É MAIS ALTO SENTADO DO QUE EM PÉ?GATOBOLAPIÃO 
8 QUE TEM NA CASA E ESTÁ NO PALETÓ? FORRO PANO BOTÃO 
9. QUE VAI ATÉ A PORTA DA CASA MAS NÃO ENTRA? CALÇADA CIMENTO PEDRA 
10. QUE SE TEM EM CASA E NÃO SE QUER TER NA CASA? FOGO GÁS TINTA 
EXEMPLO 2 
_ Resposta: OVO 
_ Resposta: BULE 
_ Resposta: SOMBRA 
8. FICA MAIS ALTO QUE UM HOMEM E MAIS BAIXO QUE UMA GALINHA. 
9. NA ÁGUA EU NASCI, NA ÁGUA ME CRIEI, MAS SE NA ÁGUA ME JOGAREM, NA ÁGUA MORREREI. 
10. QUEM ENTRA NÃO VÊ. QUEM VÊ NÃO ENTRA. 
1. O NAVIO TEM EMBAIXO, A TARTARUGA TEM EM CIMA E OS CAVALOS TÊM NAS PATAS. 
 O que são: contos de fadas, mitos, lendas e fábulas?
A narrativa é a arte de contar histórias tão antiga quanto o homem. Não há povo sem narrativa. As histórias narradas sempre acompanharam a vida do homem em sociedade.Através delas foi possível a preservação da cultura e durante muito tempo foram a única fonte de aquisição e transmissão do conhecimento (formas orais). Além disso, as narrativas estimulam a imaginação e povoam a mente de idéias, pessoas, lugares, acontecimentos, desejos, sonhos… A importância da narrativa nas diversas circunstâncias de vida gerou vários modos de se contar uma história, ou seja, vários tipos de narrativas – lendas, contos, mitos, romances, fábulas etc. 
Os contos, mitos, lendas e fábulas são antigas expressões da cultura que se eternizaram graças à tradição oral, passada de uma geração para outra, e do texto impresso. 
Os contos de fadas emocionam, divertem, criam suspense, mexem com os sentimentos mais primitivos do indivíduo. Neles, o bem e o mal aparecem claramente esbo- çados, possibilitando perceber que a luta contra os problemas faz parte da existência humana. Por ter suas origens na tradição oral, muitos contos foram recebendo novos ele- mentos, fazendo surgir muitas variações sobre o mesmo enredo (diferentes versões). São textos que mantêm uma estrutura fixa: partem de um problema (como estado de penúria, carência afetiva, conflito entre mãe e filho), que desequilibra a tranquilidade inicial. O desenvolvimento é uma busca de soluções, no plano da fantasia, com introdução de elementos mágicos 
EXEMPLO 5 
— Dou-lhe o meu colar. O anãozinho pegou o colar, sentou-se diante da roda e — zunzunzum! — girou-a três vezes e a bobina ficou cheia. Então pegou outra, girou a roda três vezes e a segunda bobina ficou cheia também. Varou a noite tra- balhando assim e, quando acabou de fiar toda a palha e as bobinas ficaram cheias de ouro, sumiu. 
No dia seguinte… Irmãos Grimm 
As fábulas são pequenas narrativas que transmitem em linguagem simples mensagens morais relacionadas ao comportamento no cotidiano. Em geral, a moral é acrescida por um pensamento final. 
Algumas fábulas possuem personagens humanas, mas a maior parte delas mostra situações do dia-a-dia vividas por seres personificados – animais com características humanas. O comportamento dos animais representa os defeitos, as qualidades e os vícios dos seres humanos. É muito comum a presença de provérbios populares. 
Os mais famosos fabulistas (autores de fábulas) foram: 
Esopo (Grécia, 600 A.C.) e La Fontaine (França, século XVIII). 
No Brasil, Monteiro Lobato (século X) e nos dias de hoje, Millor Fernandes, que as recriou de forma satírica e engraçada. 
Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra de uma boa árvore. Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou. Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu debaixo da (fadas, bruxas, duendes, gigantes etc.). A restauração da ordem acontece no final da narrativa, quando se volta a uma situação de tranquilidade. 
Era uma vez um moleiro muito pobre que tinha uma filha linda. Um dia, encontrou-se com o rei e, para se dar importância, disse que a filha sabia fiar palha de ouro. — Esta é uma habilidade que me encanta - disse o rei. — Se é verdade o que diz, traga sua filha amanhã cedo ao castelo. Eu quero pô-la à prova. 
No dia seguinte, quando a moça chegou, o rei levou a para um quartinho cheio de palha, entregou-lhe uma roda e uma bobina, dizendo: 
— Agora, ponha-se a trabalhar. Se até amanhã cedo não tiver fiado toda esta palha em ouro, você morrerá! - depois saiu, trancou a porta e deixou a filha do moleiro sozinha. 
A pobre moça sentou-se num canto, e por muito tempo ficou pensando no que fazer. Não tinha a menor idéia de como fiar palha em ouro e não via jeito de escapar da morte. O pavor tomou conta dela, que começou a chorar desesperadamente. De repente, a porta se abriu, e entrou um anãozinho muito esquisito. 
— Boa tarde, minha linda menina — disse ele. — Por que chora tanto? 
— Ah! — respondeu a moça entre soluços — O rei me mandou fiar toda esta palha em ouro. Não sei como fazer isso! — E se eu fiar para você? O que me dará em troca? 
O professor necessita ler os textos antes, para se preparar para a leitura em voz alta, garantindo que os alunos possam ouvir a história tal qual está escrita, imprimindo ritmo à narrativa e dando uma idéia correta do que significa ler. 
Essas situações de leitura não devem estar vinculadas a atividades de interpretação por escrito do texto, pois são momentos em que se privilegia o ouvir. Nas atividades de leitura, é importante comentar previamente o assunto a ser lido: fazer com que os alunos levantem hipóteses sobre o tema a partir do título; oferecer informações que situem a leitura (autor, nome do livro etc.); criar um certo suspense quando for o caso, ou seja, propor situações em que os alunos possam inferir e antecipar significados antes, durante e depois da leitura. Para dar continuidade ao trabalho, o professor deve buscar os livros na biblioteca da escola. 
Reconto oral – Possibilita ao aluno, que não é leitor e escritor convencional, saber mais sobre o texto, apropriando-se oralmente da língua que se escreve. Não é uma situação em que o aluno deve decorar integralmente o texto, mas recontá-lo a partir do que se apropriou da história, não podendo transformar o enredo. Essa situação de aprendizagem deve ser proposta a partir do momento em que os alunos ampliaram o repertório desses tipos de texto.
Os contos, mitos, lendas e fábulas devem fazer parte do cotidiano da sala de aula, para que os alunos possam aprender mais sobre eles, ampliando o repertório, descobrindo a magia, conhecendo obras e autores consagrados, apropriando-se da linguagem e estabelecendo um vínculo prazeroso com a leitura e a escrita. 
Uma das formas de esses textos entrarem na sala de aula é através da leitura diária realizada pelo professor. 
Seguem algumas sugestões de atividades que você pode- rá tomar como modelo para elaborar outras para os seus alunos: 
EXEMPLO 1 
Era uma vez uma menina que ao nascer recebeu um presente de uma bruxa: aos dezesseis anos ela iria morrer. 
Seus pais ficaram muito tristes. Então, a fada madrinha, que ainda não havia presenteado a menina, disse: – Eu não posso desfazer o feitiço, mas a menina não morrerá, “mas dormirá sono profundo durante cem anos”. 
Todos respiraram aliviados. As fadas madrinhas, que eram três, sugeriram ao rei que a menina fosse criada na floresta… 
Uma roda de leitura permite compartilhar momentos de prazer e diversão com a leitura. 
Aprendendo com outros – A interação com bons modelos é fundamental na aprendizagem; por isso, é importante que os alunos possam compartilhar atos de leitura e observar outras pessoas lendo ou recontando. Desta forma podem aprender a utilizar uma variedade maior de recursos interpretativos: entonação, pausas, expressões faciais, gestos… O professor pode chamar para a sala de aula alguns familiares ou pessoas da comunidade, que gostem de contar ou ler para outros. Também é possível levar para a sala de aula gravações de pessoas lendo e contando histórias. 
Projetos – As propostas de aprendizagem também podem ser organizadas por meio de projetos que proponham aos alunos situações comunicativas envolvendo a leitura e a escrita dos textos (lendas, fábulas, mitos e contos). Essas propostas de trabalho podem contemplar todas as séries, cada aluno contribuindo de acordo com suas possibilidades. Exemplos: propor a realização de: 
• Mural de personagens: descrição das personagens mitológicas (características físicas, poderes, moradia etc.) acompanhada de ilustrações que correspondam às descrições. 
• Seleção dos textos preferidos para a produção de uma coletânea (livro) – podem escrever ou selecionar os textos para presentear alguém ou para compor a biblioteca da classe. 
• Reconto oral de contos conhecidos para um público específico (outra classe, comunidade etc.). 
EXEMPLO 3 
Leia o conto e escreva uma continuação para ele. 
EXEMPLO 2 
Troca-bolas era um menino que trocava tudo: o que falava, o que comia, o que fazia,e até as histórias que contava. Ele foi contar uma história para sua irmãzinha e se saiu com esta: 
Era uma vez uma menina muito bonita, com pele branca como a neve, que vivia no castelo de uma madrasta muito má. 
Um dia, ela colocou um chapeuzinho vermelho e foi levar doces para a vovozinha. 
Aí, ela ia subindo uma escada e perdeu o sapatinho de cristal. 
Por isso, a bruxa prendeu a coitadinha numa torre e os cabelos dela ficaram compridos, e o príncipe subia para papear com ela, agarrando-se nas tranças da menina. 
Mas, de vez em quando, a bruxa mandava ela botar o dedinho para fora para ver se estava gordinho, porque a bruxa só gostava de crianças gordinhas. 
Mas daí a menina fugiu e foi jogando pedrinhas coloridas pelo caminho para não se perder na floresta. 
Foi aí que apareceu o Lobo Mau com uma maçã envenenada e soprou a casa de madeira onde a menina Trocando as bolas, de Pedro Bandeira 
Quais as histórias que Troca-Bolas misturou? 
EXEMPLO 4 
Estes são trechos de histórias que você já conhece. Leia-os e escreva o título de cada uma delas. 
— Nenhuma outra será minha esposa, a não ser aquela em cujo pé couber este sapatinho de ouro. 
Então as duas irmãs ficaram muito contentes, porque tinham pés bonitos. A mais velha entrou no quarto e quis experimentar o sapatinho, e sua mãe ficou junto dela. Mas ela não conseguiu fazer caber nele o dedão do pé. Então a mãe lhe entregou uma faca e disse: 
— Corta fora esse dedão! Quando fores rainha, não precisarás mais andar a pé. 
Agora já era o terceiro dia desde que eles saíram da 
casa do pai. Recomeçaram a caminhada, mas só se aprofundavam cada vez mais na floresta, e se não lhes viesse ajuda logo, morreriam de fome. Quando foi meio-dia, eles viram um lindo passarinho branco como a neve pousado num ramo, o qual cantava tão bem que eles pararam para escutá-lo. E quando terminou, bateu asas e saiu voando na frente deles, e eles o seguiram, até que ele chegou a uma casinha, sobre cujo telhado pousou. E quando chegaram bem perto, viram que a casinha era feita de pão e coberta de bolo, e as janelas eram de açúcar transparente. 
EXEMPLO 6 
Descubra quem é ele. Escreva o nome do personagem e faça uma ilustração bem caprichada. 
	ELE É O
	
EXEMPLO 5 
Descubra quem é ele. Escreva o nome do personagem e faça uma ilustração bem caprichada. 
Os textos biográficos têm uma ampla utilização social e escolar. Socialmente são fontes importantes de informação sobre personagens da história da humanidade, e na escola aparecem com frequência para apresentar a vida de personagens cuja ação é considerada relevante no acontecer histórico. São narrativas sobre a vida de outra pessoa ou sobre a própria vida, articuladas em função de uma linha temporal (cronologia). Os fatos citados e os dados apresentados são fiéis ao que realmente aconteceu na vida do biografado. 
Em 1965, um recém-nascido foi um dos poucos sobreviventes de um ataque a um vilarejo no Quilombo dos Palmares. O bebê foi levado e dado a um padre, Antônio Melo. Padre Antônio batizou a criança como Francisco. Francisco era franzino e pequeno. Aprendeu a rezar e foi coroinha. Aos 15 anos, Francisco fugiu para o quilombo e mudou de nome: Zumbi – “senhor da guerra”, no dialeto banto. Em Palmares, ele cresceu rápido. Aos 24, já era comandante de todo o quilombo. 
Com mão de ferro, Zumbi venceu, mandou matar seus rivais internos e preparou-se para a batalha final. Incorporou todos os homens às milícias. Multiplicou postos de vigilância. Despachou espiões para os povoados. Executou desertores. Por dezesseis anos venceu os ataques à sua terra. 
Nas senzalas, acreditava-se que Zumbi era imortal. 
Em 20 de novembro de 1695, um ano depois da derrota para o bandeirante, o senhor da guerra morreu em uma emboscada. A data marca, 300 anos depois, o Dia Nacional da Consciência Negra. 
Fonte: Revista Nova Escola – Agosto de 1995 
Poética da Linguagem: Um trançado de bilro entre oralidade, literatura e folclore
Publicado em: 05/03/2011 
           Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui.(...) 
         Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. 
  (Manoel de Barros, Memórias inventadas)
 	São aprendizes de tecelãs, muitas trabalhadoras e arteiras desde a infância. É possível aprender com elas a importância das trocas simbólicas que habitam a arte de um conhecimento comum partilhado entre brincadeiras e desafios, entre a alegria e a espera, entre o que há de invenção, de imaginário e o que há de real e concreto no mundo vivido. Como na conhecida cantiga:
Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar
 O Anel que tu me destes
Era vidro e  se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou
   	Entre a brincadeira e a realidade, quantas crianças, nas rodas ou passando anéis em tempos diversos, já cantaram esses versos? Quantas vezes essas mesmas rimas foram repetidas? Inúmeras vezes por certo. Podemos perceber então que resiste na sobrevivência das brincadeiras de roda uma cultura infantil que traz entre seus elementos a literatura oral e a arte folclórica e que é essa a cultura que faz renascer nas brincadeiras infantis, em ambientes rurais e urbanos, antigas cantigas e trocinhas, que mesmo modificadas e por vezes "escolarizadas", são novamente entoadas diante do enfrentamento dos sofrimentos do mundo ou diante da celebração das "bonitezas da vida". Ciranda, cirandinha....Cantar para seus males espantar. Cantar e contar para não morrer, para zelar por toda uma existência humana, para resistir à aculturação. E é a memória a forma mais singular que encontramos para a preservação de uma cultura local. Assim a literatura oral que também pertence à arte do povo é patrimônio cultural de um coletivo e de sua ancestralidade.
 	A memória coletiva que está na fala, nos tecidos, nos bordados, na dança das agulhas, das ferramentas que forjam a possibilidade de um conhecimento comum e que está também nas narrativas orais, na poética da linguagem, na poética da realidade, nas relações sociais. Exemplo dessa poética pode ser encontrada nos poemas de Patativa do Assaré, como aquele sobre: "uma triste partida"
 (...)Agora pensando segui ôtra tria,
Chamando a famia,
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Paulo
Vivê ou morrê.
 (...)
Nós vamo a São Paulo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia,
Nós vamo vagá
Se o nosso destino não fô tão mesquinho
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá (...)
Em riba do crro se junta a famia;
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.
 (...)Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo
Vivê como escravo
Nas terra do su.
 	Literatura oral ou folclore? Qual seria a fronteira ou os limites que delimitariam o que é da cultura literária e o que é da cultura folclórica no poema de Patativa?  A única passagem registrada do "poeta cantador"  por uma escola teria sido aos doze anos de idade, onde ele permaneceu  apenas por um curto período de seis meses. E partindo desse texto peculiar do panorama literário brasileiro, nos propomos a seguinte reflexão: como analisaríamos a "bagagem linguística e cultural" de alguém que poderia vir a ser considerado, pelo prisma da educação formal, analfabeto ou mesmo analfabeto funcional, sem correr o risco de cair num tipo qualquer de estigmatização do que é "popular" na literatura brasileira? E se pensarmos nas salas de aula e na escolarização da literatura, caberiajustificar apenas pelo uso da "licença poética" versos como estes: "Vivê como escravo/ Nas terras do su", sem se levar em conta o contexto do poema? Ou seria o poema de Patativa usado nas aulas de língua portuguesa como pré-texto para correção ortográfica,   exemplo das tantas variações linguísticas no uso da linguagem informal?
    	No poema de Patativa de Assaré encontramos muitos pontos de aproximação com a cultura escrita. Assim demonstrando que o poeta cantador de Assaré não somente reconhecia a valorização dada a "cultura letrada" como a problematizava em muitos dos seus versos. E essa valorização à "cultura letrada" também fica evidente na literatura de cordel, escrita e cantada pelos violeiros. Pois quanto mais o cordelista se aproxima da cultura escrita erudita mais ele é valorizado entre os outros cordelistas.   E o "desafio" para o repentista pode estar muitas vezes na própria tentativa de diálogo com a "cultura letrada".
   	A partir desses questionamentos e, na tentativa de melhor compreender meu objeto de pesquisa: "Por uma poética da linguagem oral na escolarização da literatura infantil", é que me proponho analisar esse ponto de interseção ente literatura e folclore que é a cultura oral popular. Esta que traz em seu cerne uma "cultura literária" própria, uma cultura de "povo", que se fazia e se faz pela "oralidade" através das adivinhas, dos adágios, das trocinhas,  das parlendas, das ladainhas, da contação ou narração de histórias. O termo literatura "popular" se origina também do conceito de "cultura", que etimologicamente, provém do latim colere e que serve para designar as duas ações do cultivo: cultivar e colher.  Quando pensamos em cultura, cultivar já carrega na criação do ato o produto da própria criação em semente: cultivar e colher o fazer para criar o saber.       
A literatura embora nomeada a partir da littera (letra), o que nos remete à escrita, tem seu gérmen na cultura oral, nas primeiras tentativas humanas de registrar através de um código memorialístico de narrativa, de um repetere e religare constantes,  a sua existência e a sua consciência temporal e cultural, repleta de significâncias.  Walter Ong (1998, 21), em seu livro "Oralidade e cultura escrita",  diz que pensar  a tradição oral como "literatura oral" é pensar em cavalos como automóveis sem rodas, é colocar o carro na frente dos bois.  Problematizando a afirmativa de Ong, recorro  À  Canção de Rolando, uma epopéia anônima, que como todas as epopéias, nasce na oralidade (epos), é registrada por uma memória coletiva, para passar depois ao registro da escrita. A Canção de Rolando relata os feitos do Imperador Carlos Magno e seus Doze Pares da França (768-814). Muito lida no nordeste, principalmente nas áreas de sertão, a História do Imperador Carlos Magno retorna à oralidade, através do teatro popular ao estilo vicentino, associando-se à cultura popular nordestina. (Vassalo, 1988) E deste novo movimento de oralidade, a canção "transfigurada" volta à escrita através da literatura de cordel. A canção de Rolando nasce oral e coletiva,  passa à escrita e à erudição, e por fim ainda vive seus dias de manifestação folclórica. 
Quando se fala em "epopéia" se quer identificar, sobretudo a voz coletiva, que vai acabar suprimida no "romance burguês". Diferente do herói coletivo das epopéias, a personagem do romance é sempre um "indivíduo" que se constitui numa sociedade que tem como pacto social o individualismo. E retomando ainda a citação de Walter Ong sobre "carros na frente dos bois" , como ainda é possível no Brasil encontrar o chão barrento por onde passavam "carros de boi", é possível ficar mais à vontade, não para colocar o carro à frente dos bois, mas ao lado, ou melhor, indo com os bois.  Portanto não acredito que haja qualquer desuso ou contradição no termo "literatura oral" para as primeiras histórias que surgem  na oralidade e que permanecem por muito tempo assim – histórias que fizeram e fazem parte de um vasto acervo popular, pois delas trazemos em forma de memória fluída e volumosa o que recebemos do passado de uma coletividade; memória coletiva que, re-significada no presente, persiste através da voz, através de uma herança cultural coletiva, poética e mítica, também pertencida ao folclore, pertencida ao povo que trabalha, se alimenta, canta, brinca, dança e narra seus feitos, suas batalhas, suas tragédias.  E é essa narrativa que é ao mesmo tempo é trabalho e "ciranda", circularidade de fazeres e saberes que nomeamos por "cultura literária oral". Trata-se então de pensar a literatura em sua ampla expressividade, parafraseando aqui Antônio Cândido, procurando "chegar a uma interpretação estética capaz de assimilar a dimensão social como fator de arte", numa perspectiva de entender a obra literária "fundindo texto e contexto, numa interpretação, dialeticamente íntegra"( CÂNDIDO, 1985, p.4-7).     
E na busca por uma compreensão que problematizasse uma possibilidade de entrecruzamento entre literatura e folclore, bem como suas relações com a língua e a linguagem, que me propus, neste texto introdutório, a uma possível aproximação dialógica com o pensamento do sociológico e educador Florestan Fernandes no que concerne ao estudo do folclore infantil, buscando sempre uma interface com a literatura, principalmente a literatura oral.  Havia o interesse de saber a princípio além das convergências encontradas entre as temáticas já citadas, o desejo também de refletir e aprender com Florestan Fernandes sobre uma determinada metodologia de pesquisa, um fazer pesquisa com pequenos grupos sociais, com os grupos infantis, sobretudo.
E dialogando com os escritos de Florestan, a primeira questão sobre a qual me debrucei dizia respeito ao lugar do folclore nas escolas, nas salas de aula e nos textos. Pensando aqui o texto para além do registro, texto em sentido amplo, designando toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano. (FÁVERO & KOCK, 1983, p. 25).
Se nos perguntarmos por qual porta tem entrado o folclore nas escolas brasileiras, poderíamos ousar responder que até hoje, nesse século XXI, certamente ainda não seria pela porta da frente. Talvez entre até pela fresta de uma janela, aqui e acolá nas subversões feitas às normas curriculares. O folclore como tema de relevância cultural e social é tratado ainda de forma insipiente nas reuniões e mesas de debates entre os educadores e na mesma proporção ou desproporção, nas tentativas e possibilidades de problematização dos processos que o fundamentam e dos elementos que o constituem, o folclore que é hoje também parte da cultura contemporânea ou ainda como fruto da cultura de todos os tempos. Como o conhecemos, ou melhor, como o significamos a partir de um mesmo solo já gasto, o folclore seria a manifestação ou expressão das tradições populares, passada de geração em geração.  Requentada, reduzida e às vezes pré-conceituosa definição presente nos livros didáticos.  E parte dessa representação parece até ter saído da fonte das falas de  Emília, quando, por exemplo, a boneca de pano de Monteiro Lobato (1957, p.30) refere-se às Histórias de Tia Nastácia:
Pois cá comigo - disse Emília- só aturo estas histórias como estudos da ignorância e burrice do povo. Prazer não sinto nenhum. Não são engraçadas, não têm humorismo. Parecem-me muito grosseiras e até bárbaras - coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto, não gosto, e não gosto!  
Sabemos que, por sua especificidade social e cultural constitutiva, a temática do folclore mereceria, sem dúvida, maior atenção e envolvimento dos educadores com um fazer pesquisa na e com a escola que, unindo teoria e prática, desvelasse a multivalência desse tema para a compreensão daquilo que passou a se chamar comumente de "bagagem cultural" do aluno, e no caso específico deste texto, da criança.
Entretanto, mesmo com todo reconhecimento atual do folclore como temática de pesquisa de fundamental importância para compreensão do que é a cultura popular provinda da arte e do trabalhodo povo,  bastariam poucas incursões em escolas públicas ou mesmo particulares em datas alternadas durante o ano letivo para nos certificarmos de que a concepção de folclore, na maioria das vezes, ainda se restringe ao calendário das efemérides, ora com tratamento ilustrativo ou figurativo, como mais uma data do calendário escolar, ora como tema interdisciplinar,  mas ainda visto como "obrigação curricular", o que se configurou e se estendeu, a partir do discurso "politicamente correto" retirado dos Parâmetros Curriculares Nacionais, onde o folclore aparece inserido no tema transversal "Pluralidade Cultural".  Para exemplificar essas afirmações, citarei parte de uma observação feita numa escola pública da rede estadual do Rio de janeiro durante um "sábado letivo" destinado à comemoração do dia do folclore:
 Agosto: "festa do folclore". Estamos numa escola pública de grande porte.  No pátio maior da escola, que fica na parte externa, há muitas barracas formando fileiras organizadas por cores, lembrando uma feira livre. As barracas têm nomes de acordo com as turmas e a sequência se inicia pelas turmas de 3º e 2º anos  com "o folclore no mundo", perfilando-se em barracas árabes, portuguesas e italianas. Nessas barracas são vendidas rifas, salgados, doces e refrigerante e os alunos improvisam vestimentas que caracterizariam os países homenageados.  As turmas de 1º ano fecham a última fileira de barracas, vendendo o que seria a "comida típica brasileira": cuscuz branco, cachorro-quente, hambúrgueres e outros. São muitas barracas, pois há mais turmas de 1º ano. Não há nenhum painel nem qualquer tipo de artesanato nas barracas do ensino médio. No segundo pátio, que faz parte do prédio da escola, há uma concentração de cartazes nas paredes, neles encontramos o registro de lendas e personagens, como o curupira, o boto cor-de-rosa, o boi-ta-tá,  a iara etc. Há também no mesmo pátio mesas com maquetes sobre "os índios brasileiros" –  como está escrito no cartaz de entrada. Os trabalhos são das turmas de 5ª a 8ª.  No terceiro e menor pátio, também dentro da escola, estão os trabalhos das turmas de 1ª a 4ª. Neste espaço muitas pipas enfeitando as paredes, mesas decoradas com peças de artesanato em papel reciclado, argila e vários outros materiais. Os alunos estão vestidos com roupas que lembram as usadas no maracatu pernambucano. Eles usam chapéus e fitas nas roupas.
No final da tarde houve uma apresentação dos alunos de 1ª a 4ª: o folguedo do bumba-meu-boi foi encenado num pequeno tablado erguido no centro do pátio maior da escola. As professoras disseram ter trabalhado com livros infantis para motivar as crianças que, segundo elas, desconheciam o folguedo e seus significados. Os livros nos ajudaram na hora de explicar o porquê da festa. Eles ficaram mais animados pras brincadeiras e também pra confeccionar os bois durantes as aulas. Disse uma das professoras. Eu gostei foi de fazer o boi e de saber que ele ia morrer pra depois viver de novo, que nem Jesus.A professora foi que disse. Por isso que eu quis me vestir dele (o boi). Mas eu pareço mais é com o boi que eu sou preto. Fala da criança-brincante que vestiu o boi estrela. 
   Partindo dessa "observação" como exemplo, injusto seria negar certa contribuição do discurso promovido pelos parâmetros curriculares nacionais, mas ainda assim se faz necessário lançar um olhar mais atento e crítico ao "uso" do folclore nas escolas, ou ainda ao seu "mau uso" ou ao seu "não uso disfarçado de uso". Pois a fragmentação que decorre das práticas discursivas se reflete diretamente nas práticas escolares, essas que muitas vezes não condizem com a própria teoria anunciada nos parâmetros. E torna-se ainda mais grave quando se privilegia uma teoria fragmentada, desvinculada ou mesmo apartada da prática, num arremedo de imperativos prescritos em textos fechados, centralizadores e aplicados de forma verticalizada, como se nesse baixo estivessem os educadores e os educandos.
Dito isto, no que diz respeito ao âmbito escolar e à cultura infantil, poderíamos num olhar aligeirado e um tanto generalista, dimensionar o folclore a um campo inesgotável de manifestações banalizadas e mal traduzidas em quinquilharias feitas de macarrão colorido, fitilho e papel crepom em cartazes pendurados indiscriminadamente nos murais ou corredores das escolas brasileiras ou ainda em apresentações performáticas que ao buscar uma certa verossimilhança com o "folclore antigo" ficam longe, mas muito longe do que seria a "cultura de folk", a que se reinventa com matizes outras pelas novas práticas culturais. Criam-se assim questionamentos importantes. É preciso tomar distância para expressar o que fala próximo a uma cultura que ainda se faz presente em muitas das brincadeiras infantis? Ou o folclore se diluiu tanto nos elementos culturais, sobretudo nos urbanos, que já não se torna possível o diálogo entre o que é da cultura de massa e o que é da cultura tradicional?
 O folclore pode até correr o risco de tornar-se um lugar distante num passado longínquo sem conexão com o presente e o brincar das crianças. Mas se da própria voz infantil surge uma fala como esta:eu pareço mais é com o boi que eu sou preto, podemos compreender que o folclore não está somente na "busca por um tempo perdido", ele reinventado está nas expressões culturais e nas representações sociais do nosso cotidiano presente. Ainda que nos centros urbanos e embora já se distanciando de seu caráter primitivo, o folclore faz parte das mudanças sociais quando surge resignificado pelas novas manifestações culturais.   Florestan Fernandes (1979) nos diz que:
 (...) as manifestações folclóricas podem ser sobrevivências de um passado mais ou menos remoto. Nem por isso elas devem ser concebidas como algo universalmente vazio de interesses ou de utilidades para os seres humanos. Reciprocamente, as manifestações folclóricas podem inserir-se entre os elementos mais persistentes e visíveis de certas formas de atuação social.
 	Dessa maneira, Florestan Fernandes acreditava na possibilidade de se pensar o folclore a partir de sua significância cultural, como parte viva da memória de uma comunidade, de uma cidade, de um país. Essa parte da tradição cultural que, séculos depois, diante da massificação de uma cultura agora civilizada, ainda sobrevive frente às tantas mudanças urbanas. E o que interessa na análise sociológica de Florestan Fernandes é que essa tradição não apenas sobrevive, mas ela também toma parte nessa mudança social. Ela também se transmuta  Segundo o sociológo não bastaria ao pesquisador do folclore apenas buscar fósseis de culturas já adormecidas e catalogá-las em coletâneas ou antologias. Mais que isso, precisaria ele estar atento às dinâmicas dos elementos culturais encontrados nos diferentes grupos sociais que vivenciam, reinventando e re-significando o folclore a cada novo contexto.
As décadas de 20 e 30 foram de extrema importância no que concernia ao estudo e inserção de temas folclóricos na literatura brasileira. Muitos foram os que se aproximaram  dessa temática, como o escritor de histórias infantis Monteiro Lobato e os modernistas de 22, e entre eles, sem dúvida, com maior ênfase, o literato, musicista e folclorista Mário Andrade. E tanto Monteiro Lobato quanto Mário de Andrade, salvaguardando as diferenças intelectuais, mantiveram intensa correspondência sobre a questão do folclore com o etnógrafo e o folclorista  Luís da Câmara Cascudo, um dos grandes defensores do conceito de "literatura oral".
Podemos lembrar que ainda nos anos trinta tivemos trabalhos de grande expressão na literatura com "os romances políticos contemporâneos" de José Américo de Almeida (A bagaceira – 1928), Rachel de Queiroz (O quinze - 1930), José Lins do Rego (Menino de engenho - 1932), Jorge Amado (Cacau - 1933)  e Graciliano Ramos (Caetés - 1933).  Cada qual, à sua escrita e maneira, a busca por compor um retrato do povo brasileiro através de suas obras literárias ou personagens literários.   Nessas obras podemos também destacara importância dos aspectos culturais que trazem à tona a formação da sociedade brasileira, do povo brasileiro. 
Mas coube à primeira geração modernista maior ênfase no tratamento dos estudos folclóricos, poetas e pintores, incluindo Oswald de Andrade, Tarcila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia e outros, mantiveram por anos a preocupação de uma relação proximal entre cultura erudita e cultura popular. Da arte feita "pelo povo e para o povo", poderíamos dizer que numa atitude intrínseca antropofágica elementos do folclore nacional foram sendo literalmente apropriados e integrados às obras artísticas de então. 
Entre os modernistas vale ressaltar a importância de Mário de Andrade ao propor essa confluência entre o popular e o erudito. O Macunaíma de Mário é tão fortemente constituído por  elementos folclóricos, que num dado momento, salta o herói do personagem literário se personificando na imagem carnavalizada e representativa de uma forma de "ser brasileiro" através de um "herói coletivo", um herói às avessas. Macunaíma vira a ursa Maior. Nesse sentido, sua conduta desconhece os padrões de comportamento habituais – por ser herói mítico, mas principalmente por ser brasileiro e culturalmente híbrido.  (FERNANDES, 2003, p.177) Nosso herói que não tem "nenhum caráter" e que desmistifica a identificação pela cultura elitizada dos heróis oficias - para ser num fato lúdico e transgressor Macunaíma na vida.  (...)  Para Florestan:
 Mário de Andrade vai compondo lentamente o seu herói e ao mesmo tempo um compêndio de folclore – Macunaíma é uma introdução ao folclore brasileiro, a mais agradável que se poderia imaginar. Nele pode-se estudar a contribuição folclórica do branco, do negro, do índio, a função modificadora e criadora dos mestiços e dos imigrantes, as lentas, os contos, a paremiologia, as pegas, os acalantos, a escatologia, as práticas mágicas – da magia branca e da magia negra -, todo o folclore brasileiro, enfim, num corte horizontal de mestre. É um mosaico, uma síntese viva e uma biografia humanizada do folclore de nossa terra.  (Idem, p.178)
 Atuante foi a presença humanizada de Mário de Andrade junto às análises das questões históricas e sociais brasileiras, enfatizando sempre a busca por dialogar com a temática da identidade nacional e da arte popular, arte que habita e hospeda  formas de fazer literatura, de fazer cultura, de fazer música, de fazer história etc.  Pegando de empréstimo as palavras de Cecília Meirelles (1976, p.90-92):
      	 Foi essa riqueza humana (essa capacidade de compreender e sentir) que fez de Mário um poeta, um músico, um folclorista. Esse desejo de participação, esse entusiasmo de viver não uma, não a sua, mas inúmeras vidas, levaram-no até esse desdobramento do Macunaíma, tão misturadas ao Bem e ao Mal, tão entregue à experiência terrena e sem fim: "Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta...." Basta ler os seus livros para se sentir o gosto com que ele os escrevia: gosto bem diferente do de um simples escritor; gosto do homem interessado pelo que viveu, ou sentiu em redor de si, e desejou fixar com palavras. (...) Na sua coleta de folclore, não é apenas um especialista que vemos prestar ouvido à melodia, captar a cantiga de texto ingênuo: é Mário mergulhando na música, impregnando-se de música, transformando-se em música e transmitindo-se com aquela voz, prisioneiro daquele encantamento de caçador deslumbrado que, por um momento esquecido de seu ofício, põe-se a correr também ao ritmo das vidas que palpitam na floresta, e ele mesmo é toda a floresta.
 E é pela capacidade humana de pensar e sentir que a arte, a ciência, a cultura, a política, a linguagem, a literatura – todo o conhecimento "controlado" e restrito a esfera da dominação, deveria estar "de fato" e não "de fala"  ao alcance de todos.  Pois os "grupos subalternos" podem transformar o que chamam de realidade através da prática e da reflexão de um conhecimento comunitário.  E são esses saberes democratizados que provêm de uma determinada concepção de mundo que podem tirá-los do isolamento, podem mobilizá-los, uni-los e  confortá-los nas angústias frente às incertezas e algures do mundo.   Não seria, neste caso, a linguagem entrecruzada por outros tantos conhecimentos, como os da literatura e do folclore, fundamental via de acesso à produção do conhecimento crítico?    
Creio que tanto Mário de Andrade quanto Florestan Fernandes buscaram compreender a arte folclórica como um elemento efetivo nos processos de mudança social na cidade de São Paulo e no Brasil. E isso aparece tanto nas análises sociológicas propostas por Florestan quanto nas contribuições não apenas literárias, mas de caráter curioso, investigativo desenvolvido por Mário de Andrade em vários de seus estudos sobre a arte folclórica.  E se pensarmos em paixão pelo saber e fazer, o folclore certamente esteve para Mario de Andrade assim como a sociologia esteve para Florestan Fernandes

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