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934V - CONTROLE E CONSTITUCIONALIDADE 3

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 1. Hermenêutica Constitucional
 
 
 Interpretar é descobrir o significado, conteúdo e alcance dos símbolos linguísticos. Por exemplo: o art. 5º,
XI da CF/88 afirma que “a casa é asilo inviolável da pessoa[...]”. Qual o significado e a extensão da palavra casa?
Casa está relacionada a privacidade. Esta existe somente na residência da pessoa, o lar?
 Já, exegese é o ato de interpretar (vem do grego eksêgésis,eós 'exposição de fatos históricos, interpretação,
comentário, interpretação de um sonho, tradução').
 Hermenêutica, por sua vez, é a ciência que tem por objeto a técnica de interpretar textos, ela estabelece as
regras para se fazer a interpretação de textos.
 Somos obrigados, então, a perguntar: quem pode interpretar a constituição?
 Respondemos que, oficialmente o Supremo Tribunal Federal, por conta do que dispõe o art. 102, I, “a”, da
Constituição Federal de 1988, porém, podemos observar que todas as demais pessoas, de acordo com a teoria
da Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição idealizada por Peter Häberle, pois, deve-se democratizar a
exegese constitucional, de sorte que casos de grande repercussão sejam previamente discutidos com todos
antes de serem decididos pelo Judiciário.
 É o que tem acontecido nos últimos anos no Supremo Tribunal Federal, que em casos polêmicos junto à
sociedade, tem realizado audiências públicas com representantes da sociedade civil para discutir o assunto antes
de decidir, como ocorreu com o caso das pesquisas com células tronco.
 
1.1 Hermenêutica Constitucional
 Entende-se, de maneira não pacífica, que a Constituição por suas características, está a exigir critérios de
interpretação específicos, pois se trata de norma diferente das demais leis, devido ao:
 
a) Seu caráter político-jurídico fundamental: o texto constitucional não é como uma lei, pois a constituição
trata de assuntos específicos que não poderiam ser veiculados por lei, como a organização do Estado,
dos Poderes, princípios fundamentais do estado, etc., questões que não poderiam ser tratadas por lei;
b) Estabelecimento de direitos fundamentais, de caráter extremamente abstrato e que impõem limites à
atuação do Estado;
c) O excessivo caráter ideológico das constituições (aborto é constitucional?) Esse resposta envolve valores
culturais, religiosos e filosóficos não uniformes na sociedade.
 
1.2 Métodos de Interpretação Constitucional
 Sendo a constituição um instrumento técnico jurídico-político, deve-se partir, na sua interpretação, de um
sistema organizado, metódico, científico, para sua interpretação. Deve-se se socorrer à técnica científica para
buscar obter os significados e os sentidos do Texto Máximo.
 Assim, a Hermenêutica e, mais especificamente, a Hermenêutica Constitucional, fornece alguns métodos
de interpretação do texto constitucional, sendo que todos eles podem ser usados, não existindo uma prioridade de
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um sobre o outro ou uma precedência de um sobre o outro.
 Todos tendem a colaborar para se chegar a encontrar o sentido mais adequado do texto constitucional.
 
a) Método jurídico (Ernest Forsthoff) – a Constituição é uma lei e, assim, devem-se utilizar os mesmos
instrumentos de interpretação da lei, tais como o
- sistemático: indica que ao fazermos a interpretação da lei não podemos concluir um absurdo. A lei deve ser
interpretada levando-se em conta que ela não está isolada dentro do ordenamento, ao contrário, ela está
inserida num corpo de leis que se interpenetram. Ela não pode ser contraditória com o ordenamento jurídico,
deve se chegar à interpretação de uma norma fazendo-a harmonizar-se com todo o sistema
- teleológico: devemos aplicar a norma sob a ótica dos fins sociais a que ela se destina e as exigências do
bem comum.[1] A lei visa atingir certos objetivos, finalidades. Devemos buscar encontrar quais os objetivos
que a lei pretende alcançar: é a mens legis;
- gramatical: procura extrair os sentidos das palavras consideradas no seu conjunto. É o estudo do ponto de
vista gramatical e sintático. A palavra deve ter seu sentido isolado interpretado dentro da frase; deve-se
observar a pontuação do texto, a idéia que ele expressa;
- histórico: O Direito está em constante evolução já que a sociedade não é um corpo estático no tempo (o
Direito é um objeto cultural). O tecido social evolui, e, com ele, seus valores, idéias e tudo mais. A norma é
produzida num determinado momento histórico e, muitas vezes, aplicada noutro. Para que ela não se esvazie
de conteúdo, devemos buscar as razões fundamentais que determinaram o seu aparecimento num
determinado momento, para então adequá-la à situação a que se pretende subsumi-la
- autêntica ocorre quando é realizada por quem produziu a norma: é a mens legislatoris.
 
b) Método Tópico-problemático (Theodor Viehweg) – salienta o caráter prático da interpretação – parte-se do
caso concreto para a norma. É muito criticado, pois, interpretando-se por caso (topicamente), pode-se
chegar a incongruências, o que fere o caráter sistemático do texto constitucional.
c) Método hermenêutico-concretizador (Konrad Hesse) – é o inverso do método tópico, pois parte da
compreensão do texto normativo para fazê-lo incidir sobre o caso concreto. Pressupõe que o intérprete
tenha uma visão panorâmica do texto e localize por aproximação o fato aos conteúdos normativos e
valores constitucionais.
d) Método científico-espiritual ou Integrativo (Rudolf Smend): A Constituição (corpo e espírito da sociedade)
não deve ser encarada como algo estático, mas dinâmico, que se renova continuadamente, a compasso
das transformações, igualmente constantes, da própria realidade que as suas normas intentam regular.
O Direito, a Constituição e o Estado são fenômenos culturais ou fatos referidos a valores, a cuja
realização, os três servem de instrumento. As normas constitucionais devem ser interpretadas de forma a
integrar texto e fenômenos culturais.
e) Método normativo-estruturante (Friedrich Müller): Faz uma distinção entre norma e texto da norma e uma
vinculação necessária entre programa normativo e âmbito normativo. Interpretar implica aplicar a lei,
concretizá-la. O texto da lei é apenas a ponta do iceberg (interpretação é concretização, é a parte oculta da
norma) No momento de concretizar a norma, deve-se levar em consideração outros elementos externos
ao texto, mas que o integram: a doutrina, a jurisprudência, políticos, sociais.
f) Método da comparação constitucional (Peter Häberle): é a busca de constatação de pontos comuns ou
divergentes entre dois ou mais direitos nacionais.
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1.3 Princípios ou Técnicas de Interpretação Constitucional
 Princípios são vetores que apontam a direção em que se deve buscar entender e compreender uma
determina norma. Servem tanto para direcionar a sua criação, sua interpretação bem como a sua integração, no
caso de lacunas.
 Vejamos os princípios mais importantes utilizados na interpretação constitucional.
 
a) Supremacia da Constituição – a Constituição Federal é o plexo de normas da mais alta hierarquia no
nosso ordenamento jurídico, é ela quem dá estrutura ao sistema jurídico, pois é a partir dela que todas as
demais normas são elaboradas.
Daí decorre que, toda nova norma com ela incompatível é nula, as normas anteriores a ela que a
antagonizam são revogadas e dentre as possíveisinterpretações de uma norma, é válida somente
aquelas compatíveis com o texto constitucional. Esse princípio traz em si a ideia de rigidez constitucional,
pois.
 
b) Força normativa da Constituição – na solução de problemas constitucionais deve se buscar a otimização
de seus preceitos, criar condições mais favoráveis para tirar o melhor partido possível do texto.
 Assim, deve se privilegiar as decisões do Supremo Tribunal Federal, pois é órgão constitucional
responsável pela guarda da constituição (art. 102, caput), aquele que dá a última e definitiva palavra sobre
a interpretação da Carta Federal. Como consequência, os demais Tribunais do país devem se submeter
às decisões do Supremo Tribunal Federal nas questões constitucionais;
 
c) Unidade da Constituição – a Constituição Federal é um sistema, deve ser entendida na sua totalidade e
não fragmentariamente. Deve se evitar conflitos normativos, pois não há uma hierarquia entre normas
constitucionais, gozando, todas, dos mesmos atributos. O texto principal da Constituição Federal não é
maior que o texto do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;
 
d) Concordância prática ou harmonização – diante de situações de conflito ou concorrência o intérprete deve
buscar uma função útil a cada um dos direitos em confronto, a aplicação de um não pode implicar a
supressão de outro. Por exemplo: está garantida a liberdade de atividade profissional e econômica,
todavia, o Estado pode estabelecer taxa pelo exercício do poder de polícia na fiscalização das atividade
profissionais, como ocorre com os Conselhos de Classe. Assim também ocorre com a liberdade de
comércio de medicamento, pois o Estado criou a ANVISA, ente fiscalizador dessa atividade em favor da
sociedade. As normas tanto criam direitos para os cidadãos como estabelecem controle dessas
mesmas liberdades, as duas tem que viver em harmonia, não se podendo afastar uma em detrimento da
outra;
 
e) Máxima efetividade – é o princípio da eficiência que tem por escopo imprimir a maior eficácia social às
normas constitucionais, extraindo-lhes o maior conteúdo possível, principalmente em matéria de direitos
fundamentais (subprincípio da força normativa). No caso de normas programáticas e especialmente de
direitos fundamentais, deve-se buscar, mesmo quando carecedoras de complementação, o máximo
possível de aplicabilidade. Na solução dos problemas de transição de um para outro modelo
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constitucional (constituição anterior para constituição nova), deve prevalecer, sempre que possível a
interpretação que viabilize a implementação mais rápida do novo ordenamento;
f) Correção funcional – o órgão encarregado da interpretação não poderá, como resultado desta, imprimir
alteração da repartição de competência constitucionalmente erigida. O princípio da correção funcional
consiste em estabelecer a estrita obediência, do intérprete constitucional, da repartição de funções entre
os poderes estatais, prevista constitucionalmente;
 
g) Interpretação intrínseca – as conexões de sentido devem ser buscadas dentro do próprio texto
constitucional (a Constituição Federal se auto explica) deve-se evitar buscar sentidos fora do texto
constitucional;
 
h) Proporcionalidade – significa adequar meios aos fins; evitar-se sacrifício desnecessário de direitos. Uma
hermenêutica do razoável. Menor ônus para se chegar ao resultado. Ilustra esse princípio um adágio
popular que diz que não se deve usar uma bomba para matar uma formiga, pois seria desproporcional;
[1] Art. 5.º da LICC.
Exercício 1:
Sobre os métodos e princípios hermenêuticos aplicáveis na seara constitucional
é correto afirmar que:
A - Os métodos clássicos de interpretação (literal ou gramatical, histórico, sistêmico e teleológico),
segundo a doutrina majoritária, não são aplicáveis na interpretação do texto constitucional. 
B - Segundo o método tópico-problemático, o intérprete parte de uma pré-compreensão da norma
para aplicar ao problema, pois considera que o texto constitucional é um limite intransponível para
o intérprete. 
C - De acordo com o princípio da correção funcional, o intérprete não pode subverter o esquema
organizatório-funcional estabelecido na Constituição, pois, caso contrário, haveria permissão para
que um poder invada a competência de outro. 
D - Pelo princípio da eficácia integradora, o intérprete, ao concretizar a Constituição, deve
harmonizar os bens jurídicos envolvidos no conflito, de modo que não seja necessário sacrificar
totalmente nenhum deles. 
E - Segundo o princípio da unidade da Constituição, para que não se instaure a total insegurança
jurídica, é preciso aceitar o dogma de que existe apenas uma interpretação possível das normas
constitucionais. 
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Exercício 2:
De acordo com a consagrada teoria da interpretação das normas
constitucionais, qual é o princípio que estabelece que a interpretação
constitucional deve ser realizada de maneira a evitar contradição entre suas
normas?
A - Da máxima efetividade. 
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B - Da unidade da constituição. 
C - Do efeito integrador. 
D - Da justeza ou da conformidade funcional. 
E - Da concordância prática ou da harmonização. 
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Exercício 3:
O modo de pensar que foi retomado por Theodor Viehweg, em sua obra Topik
und Jurisprudenz, tem por principal característica o caráter prático da
interpretação constitucional, que busca resolver o problema constitucional a
partir do próprio problema, após a identificação ou o estabelecimento de certos
pontos de partida. É um método aberto, fragmentário ou indeterminado, que dá
preferência à discussão do problema em virtude da abertura textual das normas
constitucionais.
O método de interpretação constitucional indicado no texto acima é
denominado
A - tópico-problemático. 
B - hermenêutico-concretizador. 
C - científico-espiritual. 
D - normativo-estruturante. 
E - sistêmico. 
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Exercício 4:
Acerca das espécies e métodos clássicos de interpretação adotados pela
hermenêutica jurídica, assinale a opção INcorreta.
A - A interpretação autêntica pressupõe que o sentido da norma é o fixado pelos operadores do
direito, por meio da doutrina e jurisprudência. 
B - A interpretação lógica se caracteriza por pressupor que a ordem das palavras e o modo como
elas estão conectadas são essenciais para se alcançar a significação da norma. 
C - A interpretação sistemática se caracteriza por pressupor que qualquer preceito normativo
deverá ser interpretado em harmonia com as diretrizes gerais do sistema, preservando-se a
coerência do ordenamento. 
D - A interpretação histórica se caracteriza pelo fato de que o significado da norma deve atender
às características sociais do período histórico em que é aplicada. 
E - A interpretação axiológica pressupõe uma unidade objetiva de fins determinados por valores
que coordenam o ordenamento, assim legitimando a aplicação da norma. 
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